[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ HISTÓRIA & ESPORTE]
Ano 4, n° 4 | 2014, vol.2
ISSN [2236-4846]
TURNVEREIN ESTRELA: GINÁSTICA E ESPORTES (1907-1930)
Cecília Elisa Kilpp 1
Alice Beatriz Assmann 2
Janice Zarpellon Mazo 3
Resumo
O objetivo do estudo é interpretar o processo de constituição da Turnverein Estrela
(Sociedade Ginástica Estrela), fundada em 1907, no município de Estrela/Rio Grande
do Sul, até a década de 1930, quando ocorrem mudanças significativas, advindas da
campanha de nacionalização. Por meio desta pesquisa histórica identificou-se que a
organização da associação buscava a reunião de teuto-brasileiros para a prática da
ginástica e de esportes, bem como, a preservação de sua identidade etno-cultural. A
análise documental das fontes impressas revelou que a Turnverein Estrela teve papel
basilar na manutenção do germanismo e na implantação de uma cultura esportiva em
Estrela. Devido às ações de nacionalização, a associação sofreu reconfigurações,
alterou estatutos e introduziu novos esportes, como o basquetebol, e em meados dos
anos de 1930, o futebol começou a ser praticado.
Palavras-chave: História do Esporte. Ginástica. Clubes.
Abstract
This
study
aims
to
interpret
the
process
of
the
creation
of
the Turnverein Estrela (gymnastic association), founded in 1907, and its development
until the 1930 decade, when it passes by significant changes. This historic research
identified that, in the city of Estrela, the sport associations had as purpose the meeting
of German-Brazilians for the practice of gymnastic and sports, as well as the
preservation of ethnic and cultural identity. The documentary analysis of printed
1
Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH) da
Escola de Educação Física da UFRGS; bolsista CNPq.
3
Professora Doutora do PPGCMH da ESEF/UFRGS.
1
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sources revealed that the Turnverein Estrela had a fundamental role on the
maintenance of the Germanism and on the implantation of a culture of sports in
Estrela.
Because
the
actions
of
nationalization,
the
association
suffered
reconfigurations, modifying statutes and introducing new sports, like basketball. In
mid-1930, football began to be practiced.
Key-words: History of sport. Gymnastic. Clubs.
INTRODUÇÃO
A cidade de Estrela, localizada no estado do Rio Grande do Sul, ainda hoje é
marcada pela forte presença de teuto-brasileiros 4 , tendo preservado ao longo do
tempo seus costumes, a língua materna e suas práticas culturais e esportivas,
especialmente nas associações fundadas pelos imigrantes alemães. As associações são
apontadas como lugares para a prática do germanismo 5, de sociabilidade e, ainda, de
contatos comerciais e formação de lideranças (LANDO; BARROS, 1980; MAZO,
2003; SILVA, 2006). Esses espaços, juntamente com outros tipos de associações,
desempenharam contribuição significativa na construção de identidades étnicas e
nacionais.
Para este estudo, a identidade étnica é entendida como uma identidade cultural
construída historicamente, inserida no contexto social de determinado momento e
que, no decorrer das transformações do tempo e do espaço, é modificada, negociada,
reconstruída. Como criação cultural e social, fica claro que a identidade cultural não é
inerente ao sujeito, não nasce com ele. Ela é produzida em uma relação de
interdependência com o diferente (CUCHE, 1999; WEBER, 2006; SILVA, 2000).
4
O termo hifenizado teuto-brasileiros referia-se aos imigrantes alemães que se naturalizaram
brasileiros, sendo usado o jargão jurídico jus sanguinis para definir sua naturalidade, ou seja, pertencia
ao “povo alemão” todo aquele que possuia “sangue alemão”, mesmo tendo nascido em outro país. No
Brasil predominava o jus soli, ou seja, brasileiro é todo aquele que nasce em solo brasileiro (GERTZ,
1994, p. 30).
5
Segundo Gertz (1980), a palavra germanismo, do alemão Deutschtum, se refere ao modo de ser
alemão, à ideologia difundida entre os teuto-brasileiros, destinada a preservar sua identidade étnica, sua
cultura, sua língua, a lealdade ao país de origem. Para além dos elementos citados pelo autor, a religião
e as associações também são apontadas como elementos constituintes deste conjunto de representações
de uma identidade teuto-brasileira (NEUMANN, 2006).
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Conforme Neumann (2006, p.35) as associações foram “recursos pedagógicos
fortes” utilizados pelos grupos sociais. A pesquisa de Mazo e Gaya (2006, p. 206),
apresenta indícios de práticas e representações culturais que se tornaram recursos
pedagógicos empregados pelos teuto-brasileiros em um determinado período
histórico. Os referidos autores (2006) evidenciaram que “num processo histórico de
colonização, o associativismo se constituiu enquanto expressão de consciência
coletiva dos teuto-brasileiros e como estratégia de preservação de sua identidade”.
Dentre as associações, que visavam a manutenção do sentimento de
pertencimento dos teuto-brasileiros, destacou-se a Turnverein Estrela
6
, uma
sociedade de ginástica que promovia o Turnen. De acordo com Krüger (2011), o
Turnen foi criado como forma específica de exercícios e jogos físicos, na Alemanha
do século XIX, em um contexto de formação e consolidação do Estado nacional
alemão. Englobava práticas corporais, como corridas, saltos, equitação, lançamento,
lutas, esgrima, exercício de escalar, natação, pois também visava a preparação militar.
No Brasil, no final do século XIX, o Turnen foi transformado em instrumento
pedagógico de preservação da identidade étnica teuto-brasileira. É incluído como
disciplina regular nas escolas alemãs por iniciativa dos imigrantes que chegaram ao
sul do país no período (KRÜGER, 2011). Tanto nas escolas quanto nas sociedades
esportivas teuto-brasileiras, o Turnen constituiu-se num fator basilar da construção de
identidades dos teuto-brasileiros ao vincular corpo, disciplina, convívio social,
nacionalismo e germanismo. No caso da Turnverein Estrela, identificou-se a prática
do Turnen, traduzido por Tesche (1996) como método ginástico alemão, desde a
fundação em 1907, tornando-se um dos símbolos da cultura física dos alemães.
O presente estudo tem como objetivo interpretar como ocorreu o processo de
constituição da Turnverein Estrela, desde sua fundação em 1907, no município de
Estrela/Rio Grande do Sul, até a década de 1930, quando ocorrem mudanças
significativas
nesta
associação,
advindas
da
campanha
de
nacionalização
desencadeada pelo governo brasileiro.
6
Atualmente, esta sociedade é denominada Sociedade Ginástica Estrela (SOGES).
3
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A fim de contemplar o objetivo deste estudo optamos pela coleta e tratamento
de fontes documentais e impressas, as quais foram submetidas à análise documental
(BACELLAR, 2010). As fontes históricas contemplam edições comemorativas de
aniversários do município de Estrela e da Turnverein Estrela, livros editados e
impressos por autores locais, exemplares dos jornais “O Paladino” e “O
Taquaryense”, além de estatutos, atas e demais documentos do acervo de clubes.
Também foram consultados artigos, dissertações, teses e livros que contribuíram
fundamentalmente para a revisão bibliográfica do estudo.
Justifica-se a realização da pesquisa por considerarmos a importância das
associações esportivas para o estudo de uma sociedade, pois são espaços de produção
e afirmação de práticas e representações culturais que identificam o indivíduo ao
grupo e o diferenciam do todo. Tendo em vista que nestes espaços ocorriam reuniões
sociais, culturais e políticas, pondera-se que exerceram o encargo da educação moral
da elite urbana 7 (média ou alta), detentora do capital econômico e cultural da
sociedade (RAMOS, 2000). Além disso, é inegável a contribuição das sociedades de
ginástica na introdução e difusão de várias práticas corporais e esportivas no Rio
Grande do Sul (MAZO, 2003).
A TURNVEREIN ESTRELA
Os imigrantes alemães para além das escolas e igrejas organizaram
associações esportivas, nas quais preservaram seus costumes e suas tradições por
meio de práticas e representações que simbolizavam as identidades étnicas teutobrasileiras. As associações se constituíram em espaços de sociabilidade, formação de
lideranças, estabelecimento de contatos comerciais e de atualização de informações
sobre a terra de origem, a Alemanha (SEYFERTH, 1999; SILVA, 2006). Na maioria
das associações não era permitida a filiação de pessoas de diferentes etnias,
admitindo-se somente teuto-brasileiros. Esta situação favoreceu o distanciamento dos
demais grupos étnicos que também imigraram para o Brasil.
7
Esta elite era formada por empresários, donos de indústrias, comerciantes prósperos, pastores, padres
e professores/instrutores que atuavam em escolas e associações esportivas.
4
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No princípio do século XX, jovens da elite teuto-brasileira de Estrela 8 e dois
caixeiros viajantes luso-brasileiros 9 , fundaram a primeira sociedade ginástica 10
denominada Turnverein Estrela, no ano de 1907. Os primeiros sócios eram pequenos
burgueses industriais, funcionários mais graduados, bancários, hoteleiros, religiosos,
professores, enfim, a elite social e cultural de Estrela, que se reunia na sede da
sociedade instalada no Hotel Bentz. As práticas eram as mais diversas, como Bolão 11
e teatro, sendo o Turnen o pilar principal desta sociedade, cujo primeiro instrutor foi
Arthur Preussler (HESSEL, 2004; SCHIERHOLT, 2002).
A Turnverein Estrela, assim como as demais sociedades de ginástica do Rio
Grande do Sul, desde o princípio e durante muitos anos adotou o idioma alemão
(FLORES, 2004; SILVA, 2006). Este também era o idioma oficial da Turnerschaft
(Federação de Ginástica do Rio Grande do Sul), fundada em 1895, com a finalidade
de congregar as sociedades e estabelecer diretrizes de funcionamento. Esta entidade
promovia a reunião anual das sociedades de ginástica de várias regiões do Estado por
meio da realização dos festivais de ginástica, exceto nos períodos de guerras
(TESCHE, 1996). Logo após sua criação, a Turnverein Estrela vinculou-se a
Turnerschaft e começou a participar das comemorações de datas cívicas relacionadas
à Alemanha: homenagens a personalidades alemãs como Wilhelm II, Otto von
Bismarck e Friedrich Ludwig Christoph Jahn. As festividades cumpriam a função de
afirmar, comunicar e catalisar a identidade etno-cultural dos imigrantes e
descendentes fortalecendo o sentimento de pertencimento a um grupo.
Entretanto, nesse período, fomentava-se um movimento nacionalista, que visava
a formação de uma nação brasileira homogênea, com um discurso voltado à
assimilação dos estrangeiros aos parâmetros luso-brasileiros (SEYFERTH, 2011).
8
Alberto Dexheimer, Artur Francisco Preussler, Clemente Ruschel, Conrado Hemb, Cristiano Oscar
Doedtel, Filipe LeopoldoDexheimer, Rodolfo Bernhardt e Walter Bernhardt.
9
Adolfo Gonçalves e Alfredo Goulart.
10
A palavra ginástica foi utilizada para substituir o termo Turnen, embora não fosse o mais adequado
para englobar todas as atividades desenvolvidas na prática do Turnen. Porém, com a obrigatoriedade do
idioma português no Estado Novo, este foi o termo utilizado pelas sociedades na tradução de seus
nomes.
11
O bolão, praticado na Alemanha desde 1768, consiste em derrubar o maior número de pinos jogando
cinco bolas. Este esporte está presente na cidade desde o último quarto do século XIX, sendo uma
prática de lazer encontrada nos armazéns (casas comerciais).
5
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Esta concepção refletiu na comunidade de Estrela quanto às suas representações de
identidade
cultural
étnica
teuto-brasileira.
O
nacionalismo
brasileiro
e,
consequentemente, a repressão às representações entendidas como “estrangeiras”,
vinham em uma crescente desde a Primeira República, foram acirrados com a
deflagração do conflito da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), persistiram nas
décadas seguintes e foram exacerbados durante a Campanha de Nacionalização no
Estado Novo (1937-1945), instituída pelo governo de Getúlio Vargas e a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) (SEYFERTH, 1999).
As estratégias de assimilação cultural cunhadas pelo governo brasileiro,
especialmente quanto à educação, provocaram tensões e dividiram opiniões nos
grupos étnicos estabelecidos no Rio Grande do Sul. Uma das estratégias foi a criação
de escolas públicas de ensino da língua portuguesa nas localidades de imigrantes
europeus. A matrícula nas escolas públicas e o consequente abandono do idioma
alemão, inclusive no cotidiano familiar, consistiram em um problema para o
germanismo que pretendia preservar a cultura (MEYER, 2000). O Turnen também é
marcado pelo protestantismo, visualizado através do valor fromm (devoto) indicado
no lema ginástico dos quatro efes: frisch, fromm, froh, frei (vigoroso, devoto, alegre e
livre) (KRÜGER, 2011, p. 25). Esta prática estava presente também em escolas
católicas e judaicas, mas em menor escala.
Diferentemente de várias sociedades teuto-brasileiras do Rio Grande do Sul
que foram incorporadas ou fecharam durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
a Turnverein Estrela manteve-se em atividade e com o nome original, em alemão.
Esta evidência foi encontrada nos documentos internos e em divulgações nos jornais
locais. Entretanto, alterou o idioma do seu regimento, nas atas e estatuto. De acordo
com Müssnich (1921), as mudanças ocorreram de forma “madura” e “espontânea”,
que o “meio e o convívio” exigiram. Também foram realizados eventos em datas
nacionais brasileiras, como o sete de setembro (TOTH; DINIZ, 1926, p. 87-8). Dentre
os documentos da sociedade consultados, o livro de registro de sócios mudou do
idioma alemão para a língua portuguesa no ano de 1918.
6
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Os estatutos desta sociedade somente foram registrados em três de junho de
1911, no idioma alemão, e já em 1917 foram redigidos na língua portuguesa 12. De
acordo com o relatório da diretoria, datado de 1928, sobre a história da sociedade, “a
maioria esmagadora” dos sócios desta associação resolveu transcrever os estatutos
para o português a fim de “despi-lo do seu caráter germânico” e “salvaguardar a
sobrevivência do clube”. Em outro fragmento do relatório percebe-se uma
justificativa para a posição adotada pela Turnverein Estrela na época:
Mas quem conhece as condições políticas e sociais de Estrela,
sabendo com quantos sacrifícios e dedicação ímpar a sede fora
construída, haverá de concordar e dar razão aos dirigentes de 1917,
porque - embora a língua protocolar e oficial sendo atualmente a
portuguesa – a vida e o caráter da sociedade conservam suas
características fiéis à etnia alemã em modos e costumes, e assim
continuará (SOCIEDADE DE GINÁSTICA..., 1928).
Este relato, provavelmente, foi feito durante uma assembleia realizada na
cidade de São Leopoldo, em 1921, contra a retirada da Turnverein Estrela da relação
de sociedades da Turnerschaft, presidida por Aloys Friedrichs. A Turnerschaft
“insistiu em confirmar os princípios originais de seus Estatutos 13”, conforme relato do
emissário da Turnerveiren Estrela, Affonso Maria Müssnich 14 , e não aceitou a
vinculação da Turnverein Estrela a entidade. Este conflito entre a Turnverein Estrela e
a Turnerschaft, gerado pelas mudanças que a sociedade fez em razão da forte pressão
pela nacionalização no período da Primeira Guerra Mundial, é possível de perceber
nas entrelinhas do relatório da diretoria de 1928. Neste está registrado que “algumas
pessoas” não aceitaram as alterações sem ressalvas, evidenciando a importância do
idioma utilizado pela associação. Provavelmente, a referência a “algumas pessoas”
deve estar relacionada aos dirigentes da Turnerschaft e aos presentes na assembleia
12
Relatório sucinto da Turneverein Estrela, no idioma alemão, elaborado pela diretoria da sociedade
em sete de agosto de 1928, assinado por Alberto Dexheimer, fundador e primeiro presidente da
sociedade. O relatório foi publicado em um jornal de São Leopoldo.
13
Os estatutos admitiam o ingresso na Turnerschaft somente das sociedades ginásticas que usavam em
suas expressões técnicas (comandos) e nos protocolos o idioma alemão.
14
Relato da Assembleia da Turnerschaft, realizada em São Leopoldo no dia seis de dezembro de 1921,
na qual Affonso Maria Müssnich era “delegado” da Turnverein Estrela.
7
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que vetaram a adesão da Turnerveiren Estrela a entidade. Mesmo não fazendo parte
da Turnerschaft,, a Turnerveiren Estrela permaneceu com o convite de participação
nos campeonatos e nas reuniões como convidada, sem direito de voto (SCHINKE,
2007; MÜSSNICH, 1921).
Além das ações quanto à preservação das sociedades de Turnen, alguns atos de
grupos nacionalistas também foram descritos no relatório de 1928. De acordo com
este documento, ocorreu em Estrela um episódio de investida contra a estrutura física
da Turnverein Estrela. A sua sede social, que foi inaugurada somente em 11 de
novembro de 1916 (HESSEL, 2004), poderia ter sido queimada, se não fosse “um
punhado de homens decididos e conscientes da grave situação e que estavam
determinados a salvar o patrimônio da sociedade e a sua sobrevivência em si”. De
acordo com Gertz (1991, p. 21) poucos arriscariam a vida pela “decantada
germanidade”.
A Turnverein Estrela passou por momentos difíceis durante a Primeira Guerra
Mundial. Além do abalo na sua germanidade, ocasionado pela mudança de idioma na
sociedade, a medida preventiva não foi aceita pelas demais sociedades da
Turnerschaft. A sociedade passava por uma crise identitária. A origem alemã
permanecia, mas não foi aceita nem pela Turnerschaft e nem pelo Estado. Porém,
estas dificuldades iriam se atenuar com o fim deste período belicoso.
Com o apoio de seus dirigentes e sócios, a Turnverein Estrela se manteve fiel
ao Turnen no período entre guerras, porém ainda sem a filiação à Turnerschaft. Tal
situação era desfavorável tanto pelo não reconhecimento, quanto pela dificuldade de
renovação da prática, realizada através de instrutores alemães e revistas que vinham
direto da Alemanha, regalias das sociedades que eram filiadas. Por este motivo,
participava intensamente das reuniões da Turnerschaft e dos eventos de ginástica
como convidada, sendo assim considerada uma sociedade co-irmã da entidade. O
instrutor geral da Turnerschaft, professor George Black, auxiliou a Turnverein Estrela
na contratação de um professor formado em cultura física na Alemanha, Leo Joas. A
vinda deste instrutor de ginástica mudou as perspectivas da sociedade, pois os
8
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comandos nas aulas, por exemplo, retornaram a ser proferidos no idioma alemão
(SCHINKE, 2007).
A presença do novo instrutor conferiu ao movimento ginástico de Estrela um
desenvolvimento técnico aferido nos bons resultados dos festivais de ginástica do ano
de 1926. Neste mesmo ano, a Sociedade de Ginástica de Cruz Alta convidou a
Turnverein Estrela para ser paraninfa na festividade de consagração de sua bandeira.
Esses fatos reafirmam a condição de sociedade co-irmã, mesmo não sendo filiada à
Turnerschaft (SCHINKE, 2007).
O bom desempenho dos jovens ginastas de Estrela nas competições pode ter
sua motivação na disciplina imposta por Leo Joas. Nos relatórios manuscritos pelo
instrutor, encontrados na Turnverein Estrela, além das correspondências para a
Turnerschaft vemos o quão sério era Joas na educação da juventude de Estrela, tarefa
consignada ao Turnen nos princípios de Jahn. Esta postura provavelmente influenciou
a indicação da Turnverein Estrela pela Turnerschaft para sediar o 1º Gau-Turnfest da
Região III (Região Cahy – Taquari) em 1927 (SCHINKE, 2007).
O início da década de 1930 marcou uma nova caminhada em prol do
germanismo realizada pela Turnverein Estrela, que ensaiou a reconciliação com a
Turnerschaft e implantou novos esportes em Estrela. Provavelmente foi George Black
que, por meio de uma carta enviada em 25 de julho de 1931 15 ao Turnverein Estrela,
propôs a retomada do idioma alemão “no salão de ginástica, no campo de esporte e na
correspondência com a Federação” a fim de aderir novamente a Turnerschaft. A
diretoria, presidida por Alberto Dexheimer, decidiu acatar a sugestão e filiar-se a
entidade.
Nos dias 24 e 25 de outubro de 1936 ocorreu o maior evento esportivo da
cidade, no âmbito da ginástica: o 1º Gau-Turnfest (1º Campeonato de Ginástica
Regional) da Região II Jacuí – Taquari. De acordo com o noticiado no jornal “O
Paladino” de 10 de outubro de 1936: “Estrela será o centro das atenções de todos
quantos se interessam pelas competições de ginástica em nosso Estado”
15
Carta escrita por George Black, em idioma alemão, para a Turnverein Estrela em 25 de julho de
1931 e traduzida por Werner Schinke (2007).
9
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(SOCIEDADE GINÁSTICA, 10 out 1936, p. 2). Ainda na mesma reportagem, o
jornal afirma a participação de ginastas, de ambos os sexos, das cidades de Santa Cruz
do Sul, Cachoeira do Sul e da vizinha Lajeado. Compareceram atletas e membros da
Turnerschaft, dentre eles o mestre George Black, “o grande animador da ginástica no
nosso estado” (SOCIEDADE GINÁSTICA, 10 out 1936, p. 2). Este evento foi
noticiado em todas as edições seguintes do jornal até o dia de realização.
Assim como a Turnverein Estrela, as demais associações esportivas de Estrela
procuravam afirmar sua identidade étnica constantemente. Tal afirmação despertou
um olhar de desconfiança do governo do Estado e do país para o chamado “perigo
alemão” 16 . Diante de um cenário de construção e valorização da cultura nacional
brasileira, desencadeou-se um forte movimento de nacionalização, o qual repercutiu
nas associações esportivas.
A TURNVEREIN E OUTRAS PRÁTICAS ESPORTIVAS EM ESTRELA
Antes mesmo da criação da Turnverein Estrela já existia a Kriegerverein
(Sociedade de Guerreiros), fundada no ano de 1874, em Linha Clara (atual cidade de
Teutônia), localidade que na época pertencia a Estrela. Esta sociedade era constituída
por ex-combatentes alemães, conhecidos como brummer, oriundos das guerras da
Prússia contra a Dinamarca, que migraram para o Brasil (KILPP; MAZO; LYRA,
2010). Os legionários da Kriegerverein atuaram na proteção das colônias, dos bens
materiais e famílias dos imigrantes, principalmente durante a Revolução Federalista;
além disso, cultivavam o germanismo na região. Há registros da atuação dos
associados da Kriegerverein nas revoltas federalistas do final do século XIX, quando
as tropas federalistas atacaram as casas comerciais (ROCHE, 1969; SOMMER, 1984;
RAMBO, 1999; LANG, 2005). Ressalta-se, que os documentos desta sociedade
foram queimados na década de 1930, em decorrência das ações do Estado Novo.
Durante muitos anos, a Kriegerverein foi a única associação da região. Em
1910 houve a mudança de nome, passando a denominar-se Schützenverein (Sociedade
dos Atiradores), mas mesmo com a alteração na denominação, manteve o idioma
16
A tese do perigo alemão referia-se a uma conspiração alemã, que estaria enviando imigrantes para
ocupar o sul do Brasil e dominar as terras colonizadas e o país. Mais detalhes no livro de Gertz (1991).
10
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alemão nos documentos (LANG, 1995). Tal mudança implicou também na perda do
caráter militar de treinamento para defesa fomentada até então na sociedade, que
passou a oferecer atividades voltadas para o lazer. Neste caminho, a Schützenverein
proporcionou a prática do tiro ao alvo juntamente com o bolão, que até então era
apenas praticado nas canchas construídas para este jogo em dois estabelecimentos
comerciais da cidade 17.
Segundo Schierholt (2002), o primeiro clube de bolão fundado na região foi o
Club Unicum no ano de 1921. Provavelmente este clube foi estabelecido
exclusivamente para a prática do bolão, diferentemente dos demais. Outro clube de
bolão foi citado pelo jornal “O Paladino” (02/10/1921), quando houve uma reunião de
constituição da “nova” diretoria do Club Gut-Holz. O jornal ainda registra os nomes
de Clemente Ruschel e Alberto Dexheimer, os quais eram vinculados a Turnverein
Estrela, local onde era praticado o bolão pelos associados do Club Gut-Holz. De
acordo com uma nota comemorativa do aniversário desta associação, o Club Gut-Holz
foi fundado em 1908, logo após a organização da Turnverein Estrela. Tais
informações sugerem que a prática do bolão passou a ser oferecida pela Turnverein
Estrela, juntamente com outras práticas, mas tendo um nome próprio para a
associação. O Club Gut-Holz é considerado o mais antigo clube de bolão de Estrela
(CLUB GUT-HOLZ, 15 out 1922, p. 1).
A prática do bolão, apesar de ser hoje conhecida como tradicional dos grupos
étnicos alemães, sempre teve associada a sua nomenclatura a palavra club que era
característica norte americana. Apesar disto, poucos clubes dedicavam-se apenas a
prática do bolão, sendo, a maioria, vinculados a uma sociedade esportiva. No caso da
região de Estrela, o bolão foi impulsionado, principalmente, pela Turnverein Estrela, a
qual foi responsável pela formação de oito grupos, porém sua prática principal era o
Turnen.
17
Outra prática que se instalou na região foi o turfe, em 24 de dezembro de 1887, com a criação do
Prado da Vila de Estrela na fazenda de Felisberto Fagundes Mena Barreto, um dos fundadores de
Estrela. Neste prado ocorriam “corridas de cavalo e de velocípedes” (bicicletas) (HESSEL, 2004, p.
76). Os velocípedes apareceram pela primeira vez em Estrela no ano de 1888, mas tiveram vida
efêmera, talvez por ser uma cidade rural. O turfe perdurou por mais tempo, mas o prado acabou
encerrando suas atividades.
11
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Além destas práticas, o futebol era outro esporte que começava a ganhar mais
expressividade na região no começo da década de 1920. Havia os clubes Grêmio
Esportivo Estrelense e Sport Club Oriental (SCHIERHOLT, 2002, p. 319). O futebol
na região teve sua organização a partir de associações fundadas pela iniciativa de
moradores de bairros com maior desenvolvimento na época, grupos ou empresas.
Seguindo o exemplo desses, outros clubes, representando bairros menores, foram
criados e para estes foi transferida toda a carga cultural dos teuto-brasileiros, do
germanismo. Através dos torneios de futebol de final de semana, continuaram
realizando kerb (festas), reuniões, cantorias de músicas e outras práticas alusivas às
tradições germânicas. Assim, preservaram seus costumes ao cultivarem a brasilidade
junto com a germanidade por meio do esporte, construído como “nacional” de
maneira que não fosse completamente visível aos olhos das autoridades (KILPP;
MAZO; LYRA, 2010).
Na década de 1930, foi fundada a Liga de Futebol do Alto Taquari,
envolvendo as cidades de Estrela, Lajeado Corvo, Teutônia, Roca Sales, Muçum,
Encantado e Arroio do Meio (HESSEL, 2004, p. 98). Esta Liga congregou
associações de cidades colonizadas por diferentes etnias, o que demonstra que o
futebol se difundiu como um esporte “nacional”, praticado por diferentes grupos.
Dentre os 10 clubes fundados entre as décadas de 1930 e 1940 (MAZO e col., 2012),
em Estrela, dois clubes tiveram maior popularidade: o Estrela Futebol Clube, fundado
em 17 de novembro de 1931 (DIEL, 1951, p. 16), e o Grêmio Esportivo e Recreativo
Canabarrense, fundado em 24 de junho de 1931 com o nome de Sport Club Teutônia
em Teutônia.
Além do esporte que se coligou à identidade nacional brasileira, o futebol, os
clubes começaram a incluir a prática de esportes anglo-saxões como o basquetebol e o
voleibol. A Turnverein Estrela, no dia sete de outubro de 1931, fundou o
Departamento de Basquetebol. O jornal “O Paladino” de 1932 (BASQUETE, 15 out
1932), registrou que o introdutor do basquetebol em Estrela e encarregado do
departamento deste esporte foi Rudolfo Maria Rath, mestre de ginástica da
Turnverein Estrela. A quadra foi instalada nos fundos da sociedade, sendo
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posteriormente melhorada com iluminação e arquibancadas, a partir dos fundos
arrecadados no “festival em benefício das melhorias da quadra” no ano de seu
aniversário (SCHINKE, 2007).
A equipe Basketball Estrela da Turnverein Estrela foi um grupo criado para
prática recreativa, porém os amistosos logo tiveram lugar na sua sede. Schierholt
(2002) cita uma partida contra o time de basquetebol da Sociedade Ginástica de Santa
Cruz do Sul, em janeiro de 1933. Neste mesmo ano, a equipe de basquetebol também
enfrentou a SOGIPA, que veio com a finalidade de paraninfar a nova equipe formada
em Estrela e inaugurar o espaço destinado a primeira quadra deste esporte da região
do Vale do Taquari. De fato, a quadra foi construída posteriormente, visto que a
compra de terras para esta quadra, junto com um campo de atletismo, se deu em maio
de 1933 (TESCHE, 1996; SCHINKE, 2007).
A quadra de esportes coletivos ficava na sede central da Turnverein Estrela e
na sede campestre tinha duas quadras de tênis. Os esportes individuais também foram
surgindo e oportunizando um maior número de práticas esportivas na região, porém
foram bem menos expressivos. A fundação do Tênis Clube Estrela se deu em 21 de
abril de 1933, como departamento da Turnverein Estrela, porém antes da fundação
deste departamento, já se praticava o tênis na cidade sem vínculo associativo
(SCHINKE, 2007; SCHIERHOLT, 2002).
A Turnverein Estrela foi responsável pela introdução de outro esporte coletivo
na região: o Punhobol. A Turnerschaft por meio de uma circular do dia cinco de
outubro de 1931 sugeriu que desenvolvesse a prática do “popular” esporte chamado
Punhobol, pois juntamente com o campeonato anual de ginástica, aconteceria uma
competição de punhobol entre as sociedades. Mesmo com o empenho da Turnverein
Estrela, este esporte foi efêmero (SCHINKE, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O associativismo esportivo em Estrela foi uma iniciativa dos imigrantes
alemães que se instalaram na região. Nos primórdios da fundação das associações, os
esportes oferecidos eram, principalmente, o tiro ao alvo, o bolão e a ginástica. Para
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além das práticas esportivas, nas associações ocorriam reuniões para discutir
atividades sociais, questões políticas e econômicas. Portanto, nas associações e por
meio delas, os teuto-brasileiros preservaram sua identidade etno-cultural exaltando o
germanismo e disseminando suas tradições, costumes, idioma e práticas esportivas.
Neste cenário, a Turnverein Estrela destacou-se no município.
Através da introdução de diversas práticas a Turnverein Estrela proporcionou
o incremento esportivo na localidade. Além disso, tal desenvolvimento propiciou um
crescimento urbano através das quadras e campos esportivos construídos. Tais
equipamentos esportivos também representavam a chegada da modernização na
cidade.
Para a Turnverein Estrela e as demais associações sul-rio-grandenses
distinguidas pela identidade etno-cultural teuto-brasileira, o período de coerção mais
crítico foi o Estado Novo, quando houve a radicalização das ações sobre as
associações teuto-brasileiras. Devido à relevante função da Turnverein Estrela na
preservação da identidade etno-cultural teuto-brasileira, este espaço foi alvo das ações
nacionalizadoras no Estado passando por um processo de modificação. Nessa
conjuntura emerge uma reconfiguração da identidade etno-cultural esportiva dos
teuto-brasileiros por meio da incorporação de esportes, que não faziam parte da
tradição germânica. Os esportes coletivos de origem anglo-saxônica passam a integrar
as práticas da Turnverein, também produzindo representações de modernização ao
incorporar as novidades esportivas.
A prática do futebol favoreceu a organização de novas associações na década
de 1930, mas não significou uma ruptura com os tradicionais esportes, que
continuaram sendo oferecidos aos associados. Os campeonatos de futebol, assim
como as disputas de tiro ao alvo, bolão e ginástica se constituíram em uma forma de
cultuar o germanismo, porém agregando novos elementos culturais. Além disso, as
funções culturais foram salvaguardadas com o foco assumido sobre as práticas
esportivas. As associações esportivas desempenharam um papel fundamental neste
processo de perpetuação das práticas esportivas e de produção de outras
representações culturais.
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Este estudo privilegia a história local/regional com a intenção de assinalar o
papel do associativismo esportivo como um dos fenômenos culturais a ser
considerado nos estudos sobre a construção das identidades germânicas no Brasil. Por
outro lado sugere, como no caso pesquisado, que o esporte não ocupa um lugar único
na construção da identidade nacional brasileira, mas sim devemos considerar os
diferentes tempos históricos e contextos sociais.
No período de fundação da Turverein Estrela, em particular a prática da
ginástica, ocupou um papel central para congregar indivíduos e promover a lealdade à
matriz cultural da comunidade teuto-brasileira. Contudo, a lealdade de alguns
membros da comunidade teuto-brasileira foi abalada pela pressão e ações do governo,
especialmente, no período da Primeira Guerra Mundial e nas décadas seguintes,
quando foram hostilizados e vistos como estrangeiros. Nestes momentos, a ginástica e
outras práticas esportivas identificadas com este grupo étnico são motivos de
acirramento de disputas entre grupos, pois podiam comprometer a formação e
consolidação da integridade nacional brasileira. Ao ser potencializado pelo governo
brasileiro como esporte nacional, o futebol foi um instrumento político de pressão no
campo esportivo. Ao promover a prática do futebol, a sociedade de ginástica teutobrasileira passava a produzir representações de abrasileiramento, portanto, de
integração nacional.
Por fim, consideramos que o esporte teve uma importância significativa diante
das demais atividades sociais e culturais conduzidas pelas associações. Inclusive
tornando-se uma estratégia de resistência diante das ações opressoras do estado. A
incorporação de esportes alheios a tradição germânica pode ser vista como uma
estratégia, visando a preservação de alguns costumes, mas ao mesmo tempo
produzindo representações de brasilidade. Diante desta “luta de representações”
caberia mais estudos em busca de como houve a recepção de tais conflitos identitários
e o processo de hibridização cultural.
Talvez possa parecer que a prática esportiva foi apenas um pretexto para
encontro dos indivíduos discutirem veladamente assuntos diversos nos momentos de
forte pressão e tensão política. Contudo, o estudo do caso da Turverein Estrela
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reforça, somando-se a outros estudos desenvolvidos pelas autoras, que o esporte tinha
um papel constitutivo central da identidade dos teuto-brasileiros. No que diz respeito
a incorporação do futebol no caso do Rio Grande do Sul teve forte influência dos
imigrantes alemães que organizaram as primeiras associações em muitas cidades do
estado.
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Turnverein Estrela: Ginástica e esportes (1907-1930)