Tempo do Natal
29|Dezembro
Lectio
Primeira leitura: 1João 2, 3-11
Caríssimos:3*Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus
4*
mandamentos. Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um
mentiroso, e a verdade não está nele; 5*ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que
o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6*Quem
diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. 7*Caríssimos, não
vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o
princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8*É, contudo, um mandamento
novo o que vos escrevo o que é verdade nele e em vós pois as trevas passaram e a luz
verdadeira já brilha. 9*Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas
trevas. 10Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas
quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai,
porque as trevas lhe cegaram os olhos.
O caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf 1
Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do amor a Deus ( vv. 3-6)
e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus comporta, pois, exigências de vida, ao contrário
da gnose, filosofia religiosa popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo
visível. Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer moral, João
afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado pela observância dos
mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5) experimenta o amor de Deus e
mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem dentro de si uma realidade interior que o impele a
imitar a Cristo, cujo exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).
Este mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve
sempre redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio cristão. O
verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor fraterno, porque ninguém pode
estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.
Evangelho: Lucas 2, 22-35
22*Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a
Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23*conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo o
primogénito varão será consagrado ao Senhor 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz
na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25*Ora, vivia em Jerusalém um homem
chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo
estava nele. 26*Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto
o Messias do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo e, quando os pais trouxeram o
menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, 28Simeão tomou-o nos
braços e bendisse a Deus, dizendo: 29*«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir
em paz o vosso servo, 30*porque meus olhos viram a Salvação 31que oferecestes a todos os
povos, 32*Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.» 33Seu pai e sua mãe
estavam admirados com o que se dizia dele. 34*Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua
mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal
de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os
pensamentos de muitos corações.»
A apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga
aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o Messias
sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de referências bíblicas (cf. Ml
3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes: a apresentação da cena (vv. 22-24) e a
profecia de Simeão (vv. 25-35).
Maria e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e
pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para purificação da mãe
(cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam confiança e abandono em Deus,
antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai, que se realizará no Calvário. O centro da
cena é a profecia de Simeão, homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf.
v. 25). Guiado pelo Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado,
saúda-o festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele viu o
Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas essa luz terá o reflexo do
sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de contradição» (v. 34) e a própria Mãe será
envolvida o destino de sofrimento do Filho (v. 35).
Meditatio
A contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a
alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o povo. Simeão
contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz consolação, salvação, luz
e glória a Israel.
As palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para a
nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a alegria de
encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem justo e temente a Deus,
observava, não os mandamentos, mas também as inspirações de Deus. Estava atento à voz
do Espírito para, em todas as circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na
luz, para conhecer a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus
aquele menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava ainda
longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto. Escreve o Pe. Dehon: «Enquanto
que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do sacerdote senão o Coração do
seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração animado de uma generosidade infinita,
este Coração tão grande pelo amor, que é pequeno fisicamente. O santo ancião não
compreende toda a excelência deste dom que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o
um pouco, entrevê-o profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta
oferenda, é ao mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).
Cristo entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar
a exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar os
interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude evangélica de quem se
coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos irmãos. A vida cristã é amor que se dá a
todos com generosidade.
O fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.
Isto faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em que
cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em plenitude entre
os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com quanto maior profundidade se
viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos ao testemunho. Onde reinar esse amor
recíproco, os discípulos tornam-se sinal histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.
Oratio
Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós
um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo, quiseste
ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer
como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos
simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.
Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos
darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te
reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.
Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas
promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que
toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te
ofereceste. Amen.
Contemplatio
Simeão, homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito
Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Ele
esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.
Mas será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem
coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da Providência,
e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida cristã.
É um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos realizam-se.
Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O vidente compreendeuo.
E quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas:
«Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para ele. Os seus olhos
já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá esperá-lo no silêncio dos limbos.
Oh! Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam
recompensar-me e encorajar-me.
Como Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus
trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o Senhor, é ter
vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor, deixar ir em paz o vosso servo...
O túmulo não me assusta, certo como estou de já não estar muito tempo separado de vós...
Permiti que vá anunciar aos vossos santos que já não têm muito tempo que esperar por vós,
porque os meus olhos viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve
iluminar as nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem ama o seu irmão permanece na luz» (1 Jo 2, 10).
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