FUNDAMENTOS DE UMA IDEOLOGIA NACIONAL
"Ideias Gerais"
A recuperação política, social e económica do nosso país passa por um acto de fé nas
potencialidades do regresso às virtudes portuguesas e na adesão consciente a princípios
e ideais que mergulham as suas raízes no sentimento histórico nacional.
Um país pobre, como hoje somos, sem grandes recursos naturais, sem capitais e sem
uma tecnologia que o distinga entre qualquer dos outros países ocidentais em vias de
desenvolvimento, só pode voltar-se para as virtudes do povo e só nelas pode assentar as
bases da sua recuperação económica.
Os povos vivem, lutam, sofrem, produzem e consomem como um todo. Formam
comunidades de destino universal em que a miséria ou o bem-estar, por força de leis
naturais que estão acima da vontade dos homens, se encontram inexoravelmente ligados
à grandeza ou pequenez dos recursos do país. Como pretendia Barrès, nascemos
franceses, belgas, judeus, espanhóis ou portugueses. Não nos podemos recusar à
formação histórica e ao clima económico do povo a que pertencemos.
Sem dúvida dentro dessa formação e desse clima há contrastes gritantes. Nas leis dos
grandes números as zonas periféricas parecem estranhas em relação ao todo. A ricos e
pobres falta, por vezes, denominador comum; como falta, também, a sãos e doentes ou a
novos e velhos. Mas, por maiores que selam os diferenças individuais, a língua, a
cultura, a terra e a história constituem, física e espiritualmente — nos momentos de
glória, nos longos anos de paz ou nos dias sombrios de desastre nacional, como aqueles
em que hoje nos encontramos — a fonte de um sentimento de unidade que nos liga pelo
sangue, pelo passado e pelo destino que nos aguarda.
A concepção marxista das nações divididas em classes que, por princípio, se devem
odiar e combater, lutando entre si até à completa eliminação de uma delas, destrói a
consciência de comum nacionalidade que faz a força dos países e lhes dá coragem para
resistir aos vendavais da história.
Que as classes trabalhadoras lutem por melhores condições de vida é legítimo. um
direito que lhes pertence e do qual se não pensa que devam abdicar. Mas a sua
promoção social não as pode levar a negar a nacionalidade, dessolidarizando-as do
destino da terra em que nasceram e em que, ao longo de todas as vicissitudes, se
consumará a sua própria vida e a de todos aqueles que lhes são queridos.
A luta de classes, como base de uma estrutura política, por força dos seus próprios
objectivos e dos meios de que se serve para os alcançar, é um factor negativo na vida
dos povos; divide a nação em duas meias nações, fomentando antagonismos que, as
mais das vezes, são mais violentos do que os existentes em relação a inimigos externos.
Ao invés, o sentimento nacional, sobrepondo-se às divisões religiosas, económicas e
políticas, tem sido sempre, através da história, o elemento criador de coesão que está na
base da grandeza dos povos que o defendem.
Em nome dos trabalhadores e da luta de classes que se entende ter de ser por eles
travada, os partidos marxistas destruíram o Portugal histórico e as estruturas em que
este assentava. Dessa luta e dessa destruição resultou o país pobre, arruinado, cheio de
dívidas e carências que hoje mendiga, de capital em capital, umas dezenas de milhões
de dólares para se assegurar dos alimentos, dos combustíveis e das matérias-primas de
que carece para sobreviver.
O que hoje está em causa não são as «justas lutas» sindicais que vão de um aumento de
vinte ou trinta por cento nos salários, à redução de uma ou duas horas de trabalho
semanal. a vida das gerações futuros que, pela força inelutável das coisas, vão receber
das nossas mãos muito menos do que nós recebemos das gerações que nos precederam.
t, ao fim e ao cabo, o futuro da Pátria.
Nacionalismo, se assim se quiser designar o amor pela terra que nos viu nascer, onde
estão enterrados os nossos mortos e em que os nossos filhos vão viver, não implica em
condições algumas, nem sequer transitoriamente, a subalternização das classes
trabalhadoras e, menos ainda, o seu sacrifício. A sobrevivência política de Portugal,
levada a cabo através de uma ideia nacional, só pode ser uma realidade com a defesa
intransigente das classes mais numerosos e mais pobres que constituem — e
constituíram através dos tempos — a base do nosso país, a sua força, e a sua esperança.
Nos países ricos os pobres são apenas pobres, mas nos países que a luta de classes levou
à pobreza, os pobres são miseráveis. Vivem no desemprego crónico, à volta com
constantes carências, por mais que seja fácil a formação de uma nova classe dirigente
que, à custa da pobreza do povo e em nome dos seus direitos, viva na opulência. A
sujeição ao patrão único tira-lhes toda a liberdade e nega-lhes o exercício dos mais
comezinhos direitos humanos em nome de uma democracia que se não pratica.
A grandeza da nação, e no caso português não se trata de grandeza mas, apenas, de
assegurar as condições de sobrevivência do país, não pode ser prosseguida sem que a
dignidade e bem-estar das classes que hoje, para fins demagógicos, se denominam de
«economicamente desprotegidas», mas que, na vida quotidiana correspondem a um
sector da população a que se não atende, seja levada a cabo de forma efectiva.
Quem tem menos do que necessita para viver que receba mais do que aquilo a que teria
direito pelo jogo das leis económicas, e quem é rico, por essa razão e pelos deveres de
solidariedade para com a população do seu país, pague mais do que seria justo.
*Pontos de vista do Partido da Democracia Cristã.
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