Em nome dos companheiros que hoje assumem a direção do nosso sindicato,
agradeço a todos vocês, que nos prestigiam com a sua presença, reforçando a nossa
disposição de lutar em defesa dos jornalistas, do jornalismo ético e pela livre
manifestação do pensamento e de opinião, uma conquista do povo brasileiro.
Na pessoa da Eneida, cumprimento toda a diretoria que conclui hoje o seu mandato. E
dedico aos companheiros que fizeram parte da chapa adversária um abraço fraterno e
um convite para somar forças e lutarmos juntos por objetivos e causas que nos unam.
A posse desta nova diretoria do Sindicato dos Jornalistas acontece em momento muito
importante para nosso país. Ontem, para alegria de todos nós, inauguramos a Copa do
Mundo com uma vitória do Brasil. Vitória difícil, como são todas as vitórias.
A Copa é o maior evento de massa já realizado no Brasil. Uma possibilidade de
revelar o melhor do Brasil aos povos de todos os cantos do planeta. Compartilhar com
o mundo os fundamentos da nossa cultura, a riqueza das nossas possibilidades, o valor
da nossa experiência de cordialidade e tolerância. Mostrar a visão que temos de um
futuro de crescimento, de paz, de liberdade e de harmonia entre os povos. Divulgar o
nosso maior patrimônio: a garra, a resistência e a capacidade do nosso povo. Um povo
alegre, criativo e amante de paz.
Apenas em Belo Horizonte, durante a Copa, receberemos cerca de 5 mil jornalistas de
dezenas de países. E temos a obrigação de recebe-los com a hospitalidade mineira.
Somos movidos, em Minas, por um forte sentimento de universalidade. Sentimento
que vem dos tempos da Colônia, quando cidadãos de todos os cantos do planeta se
reuniram em Minas e nos ajudaram a construir a cultura e o amor à liberdade que hoje
faz parte do nosso modo de ser e de estar no mundo.
Coerente com essa História, nosso Sindicato vai assumir a sua parcela de
responsabilidade na recepção aos profissionais de imprensa que nos visitam, vindos
do mundo inteiro. A partir do próximo jogo do Brasil, a Casa do Jornalista abrirá as
portas para receber esses companheiros que estão entre nós, vindos de todos os países,
para a cobertura da Copa do Mundo.
A Casa do Jornalista será, durante a Copa, um espaço de debate, de intercâmbio de
informações, de atividades culturais e de convivência da imprensa mundial com os
profissionais brasileiros e o conjunto da sociedade.
Nunca se fez aqui algo semelhante, mas aceitamos esse desafio – em nossa primeira
semana à frente do Sindicato – por confiarmos na sensibilidade, inteligência e ânimo
forte de todos os nossos companheiros de profissão.
Amigos e companheiros,
O universo da comunicação jornalística vive hoje mudanças vertiginosas, que
significam novos desafios e novas oportunidades. De um lado, percebemos que há
uma crise da imprensa tradicional, que ainda busca respostas para as inovações do
nosso tempo. De outro, surgem a cada dia, oportunidades inteiramente novas, para os
profissionais que têm coragem, disposição e capacidade de formular respostas
criativas, novos modelos de atuação, reinventar o nosso ofício e a nossa paixão.
Um mundo novo está se abrindo para a nossa profissão, mas é necessário que
tenhamos a consciência exata do que representam, para todos nós, essas promessas e
esses desafios e exigências da inovação. Os postos de trabalho se diversificaram,
surgem novos meios de comunicação e há um mundo em construção, nas telas, nos
smartphones, nos tablets, nos Facebooks da Vida.
As plataformas de comunicação se inventam, se diversificam, mas os princípios e os
fundamentos do nosso ofício continuam sendo os mesmos. Temos um compromisso
essencial com a liberdade, a verdade, a ética e a democracia. Em todos os espaços nos
quais atuarmos, o compromisso, a independência, a verdade e a ética continuarão
sendo os fundamentos básicos da nossa profissão.
E queremos reafirmar, diante de todos os profissionais e diante do conjunto da
sociedade, a convicção de que o jornalismo autêntico é uma atividade dos jornalistas.
Por essa razão, uma das prioridades desta nova Diretoria é lutar, sem trégua e sem
descanso, para que o diploma universitário de jornalista seja um requisito legalmente
indispensável de acesso à profissão.
Vamos demonstrar à sociedade que só profissionais conscientes das responsabilidades
e dos fundamentos do nosso ofício estão em condições de exercer um trabalho com
qualidade jornalística, isenção e ética. Só com informação isenta e de qualidade
poderemos contribuir para a evolução da sociedade e do país.
Não há democracia sem jornalismo e sem jornalistas capazes de defender e expressar,
com plena liberdade de informação, o interesse público, a verdade dos fatos e a visão
da maioria do povo sobre os caminhos que o país deve escolher a cada instante.
Minas Gerais sempre foi um celeiro de bons jornalistas e compartilhou com o Brasil e
com o mundo alguns dos melhores profissionais formados aqui - profissionais
combativos, exigentes e mestres na qualidade da informação. Hoje, são enormes os
obstáculos que se opõem a um jornalismo de qualidade.
O poder econômico e o poder político somam forças que constituem um poderoso
impedimento ao livre exercício da profissão e um controle invisível, mas
progressivamente letal, da nossa atividade. Trata-se de uma censura disfarçada e
silenciosa, mas presente diuturnamente, destrutivo e venenoso, que impõe limites à
divulgação correta dos fatos.
Mas ainda existe também a censura direta, que mata e agride. O Brasil integra a lista
de países onde mais jornalistas são assassinados. Como aconteceu com nosso
companheiro Rodrigo Neto, assassinado em março do ano passado em Ipatinga, por
causa de sua atuação como repórter combativo e questionador de arbitrariedades que
vinham acontecendo no Vale do Aço.
Não vamos aceitar que jornalistas sejam calados a bala, presos arbitrariamente ou
agredidos por quem quer que seja durante o exercício da profissão. Essas atitudes
ameaçam o estado democrático de direito e é uma ameaça `a liberdade de expressão,
um dos bens maiores da democracia. Ontem lamentavelmente assistimos mais uma
vez, não somente em Minas, mas em todo o Brasil, ataques e prisões contra jornalistas
desferidos pelas polícias e por vândalos covardes e mascarados, o que nada mais é do
que uma tentativa de censura imposta pela violência.
E é contra essas forças da escuridão que precisamos lutar, ao longo dos próximos
anos, para que o nosso papel e o nosso lugar na sociedade não sejam definitivamente
desvirtuados e eliminados.
Meus amigos, meus companheiros,
Nosso Sindicato completa, no ano que vem, 70 anos de lutas. Setenta anos de uma
história que se confunde com a melhor prática libertária e democrática de Minas.
Uma história construída, dia após dia, com a inteligência, o trabalho e o compromisso
de sucessivas gerações. Quero lembrar e homenagear, neste momento, profissionais
que construíram a história do jornalismo mineiro, começando por um nome que
representa uma geração inteira: o nosso Dídimo Paiva, um dos combatentes mais
lúcidos e destemidos que tivemos, em Minas e no País, nessa luta sem tréguas pela
democracia, pela liberdade de imprensa e pela livre manifestação do pensamento e da
opinião.
Dídimo assumiu a presidência deste Sindicato no momento em que a ditadura militar
atingira o nível mais abusivo de repressão e violência contra a imprensa e contra o
povo brasileiro. E, dia após dia, fez deste Sindicato uma trincheira da liberdade, uma
casa da democracia, dando acolhida a dirigentes e militantes sindicais de outros
setores da vida mineira e nacional.
Formou-se aqui, sob a liderança de Dídimo Paiva, o embrião de um novo
sindicalismo, aberto a todas as categorias profissionais e disposto a enfrentar as
ameaças, os limites e os constrangimentos próprios do regime militar.
Essa é uma história que não temos o direito de esquecer, porque é também a nossa
História e uma sólida referência para o futuro, qualquer seja ele.
Permitam-me lembrar, ainda, um querido amigo, que nos deixou há pouco tempo: o
companheiro Délio Rocha, que me incentivou a participar ativamente deste Sindicato
e a compreender o papel mobilizador do sindicalismo. Reproduzo aqui um trecho de
uma mensagem enviada pelo Délio:
“É preciso trazer os jornalistas de volta para o nosso Sindicato. Não importa se eles
são críticos, a favor, contra, velhos, novos, empregados, desempregados ou
aposentados. Esta é a nossa Casa, a nossa bandeira está aqui e não podemos perder
aquilo que já conquistamos até hoje”.
Délio propunha que essa bandeira fosse erguida bem alto e carregada mesmo que o
porta-bandeira caísse.
É com esse espírito e essa dedicação que vamos viver e trabalhar ao longo dos
próximos anos, porque Minas Gerais reclama a nossa presença, a nossa participação e
o nosso exemplo.
Este é o momento certo para retomarmos a caminhada rumo ao futuro. É o momento
perfeito para retomarmos a luta, deixando também um legado e um caminho para os
que vierem no futuro. É o momento de construirmos, juntos, uma sociedade melhor,
mais justa, mais criativa e mais humana para o nosso povo, resgatando a lição que
recebemos daqueles que fizeram do nosso Sindicato um exemplo para Minas e para o
Brasil.
Não é uma jornada fácil, mas é essa a nossa tarefa e é esse o nosso compromisso com
o presente e com o futuro. Obrigado a todos, por terem vindo compartilhar conosco
esse momento.
De hoje em diante, e pelos próximos três anos, somos a diretoria deste Sindicato, mas
este Sindicato é de todos nós, todos nós! Boa noite!
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