Mito
Vera Mónica dos Santos Silva∗
FBAUL, 2006
Sumário
Resumo………………………………………………………………………………………..2
Introdução…………………………………………………………………………………… .2
Desenvolvimento……………………………………………………………………………...2
Conclusão……………………………………………………………………………………..6
Referências……………………………………………………………………………………8
Resumo
Apresento o estudo de um conceito, o mito, através de uma Introdução, onde explico o fundamento do
trabalho; um desenvolvimento, onde apresento um resumo de um dos textos de Barthes e um outro de
Saussure; e uma conclusão, que detém as ideias fundamentais que foram apreendidas.
Introdução
Mediante a leitura dos textos de apoio e dos próprios apontamentos das aulas, escolhi
como conceito a ser abordado, o “mito”, por ser aquele que mais interesse me suscitou. O
meu objectivo principal não será mais do que tentar perceber o próprio texto, já que é um tipo
de leitura a que não estou habituada, e, por consequência, não é tão acessível.
Desenvolvimento
Segundo Barthes, o mito é uma fala, mas não uma fala qualquer, já que existem várias
condições para que a linguagem se torne mito. Regra geral, quando pensamos em linguagem
apenas pensamos num discurso, numa fala (parole), em que, com a junção de vários signos
formamos uma “cadeia”, uma “linha” através da qual transmitimos a nossa ideia.
Resumidamente, quando se fala em parole fala-se no resultado de uma acção, a manifestação
da língua, por exemplo, quando um falante está a falar está a fazer parole. Pode-se então
dizer que o mito é uma mensagem, ‘é um modo de significação, uma forma’
(Barthes,1957/1988: 181), em que a sociedade tem um papel activo, assim como a própria
História.
Partindo do início de que o mito é uma fala, estamos perante um conceito muito vasto
e, em certa medida, vago, já que tudo o que permite um discurso pode ser considerado mito.
[email protected]. O trabalho responde à disciplina semestral Cultura Visual II do primeiro ano da
Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, leccionada em 2006 por João Paulo Queiroz.
∗
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É importante salientar que, quando se fala em mito não se está a referir determinado objecto,
já que toda a matéria pode, arbitrariamente, ser dotada de significação, mas sim a forma
como este é apresentado.
Como já foi dito anteriormente, a história humana tem um papel activo quando se
trata de um mito, já que é ela que “faz passar o real ao estado de fala, é ela e só ela que regula
a vida e a morte da linguagem mítica” (Barthes,1957/1988: 182), não existem mitos eternos,
pois o mito é uma fala escolhida pela História e esta, está em constante mudança.
Sendo o mito uma mensagem, este pode ter diversas abordagens, nem sempre de
forma oral; a escrita, a fotografia, a representação em teatro ou mesmo no cinema, o
desporto,
os
espectáculos
musicais,
a
publicidade,
o
desenho,
a
pintura,
a
escultura…enfim…tudo pode ser um suporte da fala mítica, pois tudo pode transmitir uma
mensagem, uma ideia.
Independentemente da sua matéria, independentemente de serem representativos ou
gráficos, todos os materiais do mito requerem uma “consciência significante”
(Barthes,1957/1988: 182) . Como é óbvio, a matéria não é indiferente, uma imagem impõe a
significação de forma rápida, automática, pois não necessita de análise.
Quando estamos no campo do mito entende-se, então, por linguagem, tudo o tem e
produz um significado, quer seja verbal ou visual. Esta não é, de forma alguma, uma ideia
recente, mesmo antes da invenção do alfabeto que conhecemos, os desenhos eram uma forma
de escrita.
O mito pode ser observado de vários pontos de vista, conforme os interesses de cada
um; enquanto estudo da fala, a mitologia é apenas um fragmento da semiologia, “ciência das
formas, dado que estuda as significações independentemente do seu conteúdo”
(Barthes,1957/1988: 183), postulada por Saussure, ainda não constituída. Uma grande parte
da investigação contemporânea como a psicanálise, o estruturalismo, a psicologia eidética,
alguma crítica literária, dedica-se ao problema da significação.
A semiologia é uma ciência que, embora necessária, não é suficiente. Segundo
Engels, a unidade de uma explicação deve-se à coordenação das várias ciências que nela
estão intrínsecas. O mesmo acontece com a mitologia, que, como disse anteriormente, pode
ser vista de várias perspectivas, ela faz parte da semiologia como ciência formal e da
ideologia como ciência histórica, ‘ela estuda ideias-em-forma’ (Barthes,1957/1988: 184).
2
Toda a semiologia relaciona dois termos, o significante e o significado, que nos
confronta então com um terceiro termo, o signo, o total associativo dos dois termos
anteriores.
Para Saussure, o significado é o conceito, o significante é a imagem acústica, e a
relação entre eles é o signo. Para Freud, um termo é constituído pelo sentido manifesto do
comportamento, um outro pelo seu sentido latente ou sentido próprio, e um terceiro termo,
que é também uma correlação dos primeiros. Como se vê, a semiologia só pode ter unidade
ao nível das formas, ela incide sobre uma linguagem em que apenas existe uma operação, a
leitura ou a decifração.
No mito pode-se encontrar este ‘esquema tridimensional’ (Barthes,1957/1988: 186),
embora seja um sistema particular pois edifica-se a partir de uma série semiológica já
existente antes dele. O signo do primeiro sistema passa a significante no segundo sistema.
‘Quer se trate de grafia literal ou de grafia pictoral’ (Barthes, 1957/1988: 186), o mito apenas
vê um signo global, ‘o termo final de uma primeira série semiológica’ (Barthes,1957/1988:
186), esse termo passa a primeiro ou a termo parcial do sistema alargado que ele constrói.
Há então no mito dois sistemas semiológicos, um sistema linguístico, a que também
se chama linguagem-objecto, e o mito ele mesmo, a meta-linguagem; reflectindo sobre esta,
o semiólogo não necessita de interrogar-se sobre a composição da linguagem-objecto, nem
tem de prestar atenção ao esquema linguístico, daí que a semiologia trate da mesma forma a
escrita e a imagem.
No mito, o significante pode ser visto de dois lados, adquirindo por isso um nome
diferente para que haja uma distinção, ‘como termo final do sistema linguístico ou como
termo inicial do sistema mítico’(Barthes,1957/1988: 188) continua como significante, mas,
no plano do mito, passa a chamar-se forma. Quanto ao significado não há alteração, mantémse o nome de conceito.
No mito, o significante é, ao mesmo tempo, sentido e forma. Como sentido tem uma
leitura puramente sensorial, tem um valor próprio, faz parte de uma história em que existe
um passado, uma memória. ‘Ao tornar-se forma, o sentido afasta a sua contingência’
(Barthes,1957/1988: 188), a história desaparece. De qualquer maneira, a forma não suprime o
sentido, apenas o empobrece, mantendo-o sempre à sua disposição.
O conceito do mito é, simultaneamente, histórico e intencional, estabelece relações de
causas e efeitos, motivações e intenções, inerentes a determinadas situações. O saber contido
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no conceito mítico é confuso, precisamente devido ao carácter aberto deste conceito, que
apenas tem como característica fundamental a de se adequar a uma determinada função. O
conceito mítico tem então à sua disposição uma vasta lista de significantes, assim como o
significado linguístico e o significado psicanalítico.
No mito, em vez de se utilizar o termo signo, chama-se significação, que representa
exactamente a mesma coisa que o signo, ou seja, a relação entre o significante e o
significado, no entanto, ao contrário do que acontece em outros sistemas semiológicos, no
mito, esses dois primeiros termos são evidentes, nenhum está escondido atrás do outro. O
mito não esconde nada, apenas deforma, e é essa deformação que une o conceito do mito ao
seu sentido. “Da mesma forma que, para Freud, o sentido latente do comportamento deforma
o seu sentido manifesto, também no mito o conceito deforma o sentido” (Barthes,1957/1988:
192).
No conceito que está a ser abordado não há lugar para contradições, conflitos, o
sentido e a forma nunca se cruzam no mesmo lugar. Da mesma forma, no significante mítico,
a forma é vazia mas está presente, o sentido está ausente mas é pleno. É a duplicidade do
significante no mito que determina as características da significação. O mito é pois uma
linguagem muito mais definida pela sua ideia do que pela sua letra, embora a sua ideia, ou
intenção, esteja ausente. Esta ambiguidade da palavra mítica tem duas consequências para a
significação, é tanto notificação como constatação.
O mito parte de um conceito histórico e dirige-se a cada individuo de forma diferente,
já que as experiências de cada pessoa influenciam de forma decisiva a recepção do mesmo.
Se no meio de objectos de culturas diferentes houver um da minha cultura eu reconheço-o
automaticamente, e ele tem para mim um determinado significado, naquele determinado
momento, naquele determinado local onde me encontro, aquele objecto interpela-me de
forma automática.
A significação tem ainda um outro elemento, a motivação. Ao contrário do signo, a
significação mítica não é completamente arbitrária, é sempre motivada por algo, em alguma
parte. Essa motivação é imprescindível à duplicidade do mito já que este joga com a
comparação do sentido e da forma.
A motivação empobrece o mito, fragmenta-o, pois vai buscar as suas analogias à
história, que pode facilmente fazê-lo até desaparecer. A analogia entre o sentido e o conceito
é parcial, a forma retém apenas algumas analogias.
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No geral, o mito interessa-se mais por imagens incompletas, pobres, mais fáceis de
atribuir uma significação.
Dependendo do meu ponto de vista, posso receber o mito de três formas diferentes,
havendo por consequência, três formas de leitura distintas:
1-
2-
3-
Se acomodar a vista a um significante vazio, deixo o conceito preencher a forma do
mito sem ambiguidade, e volto a encontrar-me perante um sistema simples, em que a
significação se torna de novo literal […]. Esta forma de acomodação é, por
exemplo, a do produtor de mitos, do redactor de imprensa que parte de um conceito
e busca para ele uma forma.
Se acomodar a vista a um significante cheio, no qual distingo claramente o sentido e
a forma e, por conseguinte, a deformação que um faz sofrer ao outro, destruo a
significação do mito, recebo-o como uma impostura […]. Este tipo de acomodação é
o do mitólogo: ele decifra o mito, compreende uma deformação.
Enfim, se acomodar a vista ao significante do mito como a um todo inextrincável de
sentido e de forma, recebo uma significação ambígua: respondo ao mecanismo
constitutivo do mito, à sua dinâmica própria, torno-me leitor do mito
(Barthes,1957/1988: 197).
Como foi já dito, o mito não esconde nada, apenas deforma, é uma inflexão. Esse facto
trás-lhe vários problemas a que a elaboração de um segundo sistema semiológico foi a solução,
aqui, o mito transforma a história em natureza. Este facto faz com que o leitor do mito o
consuma de forma inocente, na medida em que não vê nele um sistema semiológico, mas sim
um sistema indutivo.
Conclusão
O mito é uma mensagem, em que a sociedade e a história têm um papel activo e
decisivo.
Se quando falamos em mito, falamos numa linguagem, ou numa fala, tudo o que
permite um discurso pode ser considerado mito, este pode ter diversas abordagens, nem
sempre de forma oral como acontece quando falamos de parole. Uma imagem impõe a
significação de uma forma impetuosa pois não necessita de análise, ao contrário do que
acontece com um texto.
O mito tem vários pontos de vista; enquanto estudo da fala, a mitologia é apenas um
excerto da semiologia postulada por Saussure.
Toda a semiologia relaciona dois termos, o significante e o significado, que nos leva a
um terceiro termo, o signo, o total associativo dos dois termos anteriores. Esta só pode ter
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unidade ao nível das formas, ela incide sobre uma linguagem em que apenas existe uma
operação, a leitura ou a decifração.
No mito pode-se encontrar este mesmo esquema, embora com diferenças, pois edificase a partir de uma série semiológica já existente antes dele.
Há no mito dois sistemas semiológicos, um sistema linguístico, e o mito ele mesmo.
Reflectindo sobre este último, o semiólogo não carece de interrogar-se sobre a composição
da linguagem-objecto, nem tem de prestar atenção ao esquema linguístico, daí que a
semiologia trate da mesma forma a escrita e a imagem.
No plano do mito o significante passa a ser chamado de forma. Este conceito
(significante) é, ao mesmo tempo, sentido e forma. É importante salientar que a forma não
suprime o sentido, apenas o empobrece.
O conceito do mito é histórico e intencional, estabelece relações de causas e efeitos
ligadas a situações. A sua característica principal é a de se adequar a uma função. O conceito
tem uma imensidão de significantes, um exemplo disso é um livro, todas aquelas páginas, no
final, têm um único conceito.
No mito, usa-se o termo significação, que representa a mesma coisa que o signo.
O mito não esconde coisa alguma, apenas deforma, é essa deformação que une o
conceito do mito ao seu sentido.
No conceito que está a ser abordado, o sentido e a forma nunca se cruzam no mesmo
ponto, não havendo por isso confusões ou contradições.
O mito é um discurso muito mais definido pelo seu objectivo do que pelo seu
grafismo, embora a sua intenção esteja ausente. Há então uma consequência para a
significação, é tanto notificação como constatação.
A significação contém a motivação. A significação mítica é sempre motivada em
alguma parte. Algo imprescindível à duplicidade do mito.
O mito interessa-se mais por imagens incompletas.
Pode-se ler-se o mito de três formas diferentes.
O mito é uma inflexão, algo problemático que apenas foi resolvido com a elaboração
de um segundo sistema semiológico, em que transforma a história em natureza e faz com que
o leitor veja o sistema semiológico como sistema indutivo.
6
Referências
Roland Barthes (1957/1988) “Mito Hoje” in Mitologias. Lisboa: Edições 70.
Ferdinand De Saussure (1916/1999) Curso de Linguística Geral.
<http://ciberduvidas.sapo.pt> acedido em 2006-06-03.
Lisboa:
Dom
Quixote.
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