Jornalista e agitador cultural, mostra porque é feliz
Um homem “sem rosto”, odiado por pessoas que aparecem ou temem aparecer nas
denúncias em suas matérias, é sempre recebido com honras pelo público telespectador
e ouvinte. Este contraste é uma das marcas da trajetória profissional e pessoal de
Giovani Grizzotti, Repórter Farroupilha da Rádio Gaúcha de Porto Alegre e repórter
especial da RBS
Em um contexto onde o sonho é expor a imagem nas mídias, ele busca a discrição. Evita fotos
e o foco das câmeras de televisão. É o instinto de preservação da vida... Na pequena Capão da
Canoa, à beira mar do litoral gaúcho, onde iniciou a vida como repórter, nas horas vagas era
vendedor de milho verde na praia e pintor de móveis em uma pequena marcenaria da família.
O contato com o público consumidor serviu para nortear o rumo do profissional da
comunicação. Já em Porto Alegre, passou a dedicar-se em tempo integral ao jornalismo e à
cidadania. Por sua “onipresença” na mídia e no cotidiano da população, há quem duvide da
hipótese de ele sair de férias. Mesmo sem interromper o ritmo da atividade, este homem sem
o rosto exposto na mídia é um expressivo agitador cultural.
Antes de ganhar o mundo, é necessário conhecer onde vivemos
Não há quem não conheça seu trabalho nos mais de 1.500 CTGs (Centros de Tradição Gaúcha)
instalados no Rio Grande do Sul e nos quase três mil em funcionamento em vários estados
brasileiros. Artistas gaúchos, por sua influência, têm conquistado fama nacional e ganham
estímulo para a consolidação da carreira, indo até além dos limites do mercado interno.
Giovani diz que para sermos do mundo, primeiro, temos que ser regionais, parafraseando o
pensador russo Tolstoi, para quem só é possível ser universal aquele que conhece bem a sua
aldeia. Em plena era da globalização, rebate críticas de que o nativismo gaúcho seja um
movimento puramente local.
Quando está pilchado (usando botas, chapéu, esporas, lenço no pescoço, bombacha e outros
acessórios típicos da vestimenta tradicional gaúcha), o visual mostra o cidadão militante da
causa nativista. Ele é o gaúcho que se agiganta na defesa da cultura do seu Estado, na difusão
da Revolução Farroupilha e no registro dos desdobramentos desta atitude libertária, que
considera como um fato histórico fundamental para ajudar a incutir em todo o País o desejo
de independência em relação ao domínio estrangeiro.
Famoso por reportagens especiais e de grande repercussão em programas como o Fantástico,
da Rede Globo, poucos conhecem sua imagem. Em compensação, as matérias com a
assinatura de Giovanni Grizzotti fazem a diferença no velho e bom feedback, pois a opinião
pública reage e a maioria das irregularidades que aponta no rádio e na televisão se transforma
em ações do Ministério Público. Em boa parte isso resulta na necessidade de que seja
testemunha nos tribunais e também já lhe rendeu processo.
Prudente, Giovani sabe dos riscos inerentes ao seu trabalho. Tanta vivência justifica o máximo
de cuidado na apuração do farto material com potencial para ser noticiado. Nada o surpreende
e, em igual proporção, tudo sugere desconfiança diante dos fatos.
A desconfiança, aliás, é característica da reportagem investigativa. No seu caso, porém, o
rótulo não cabe. Giovanni Grizzotti nunca se classifica como investigativo, porque acha
obrigatório para todo jornalista ir fundo na análise das informações, principalmente quando
sem esse esforço não seria possível divulgar com credibilidade determinado fato de relevante
interesse público.
Imagine uma redação atual de qualquer meio de comunicação. As pessoas estão sentadas,
enquanto a matéria-prima das notícias flui via internet, telefone ou outros recursos que
proporcionam praticidade e “fixam” os jornalistas nas cadeiras. Por razões assim não há mais o
tête-à-tête com entrevistados e Grizzotti se nega a integrar esse cenário, defendendo a
curiosidade e a disposição em não reproduzir, apenas, os dados oficiais que chegam até os
veículos.
Nativista apaixonado pelo jornalismo
Ainda que a fonte seja velha conhecida – e há casos em que a informação vem de pessoas com
quem trabalhou, tem ou teve amizade, não importa... –, o curioso repórter checa, confere,
desconfia... Foi como ocorreu sua iniciação na reportagem policial e até hoje ele mantém o
mesmo comportamento. Trânsito livre entre as autoridades e outras fontes de informação não
o dispensa de evitar interferências capazes de causar prejuízos à veracidade na apuração dos
fatos.
O currículo profissional de Grizzotti registra 25 prêmios. O primeiro foi em 1978, quando
recebeu o MP-RS na categoria Rádio. A partir daí sua galeria tem-se enriquecido com prêmios
como ARI de Radiojornalismo, CNT de Jornalismo-Rádio, SETCERGS de Jornalismo Rádio e
Televisão, Cláudio Abramo de Radiojornalismo, Press de Repórter de Rádio, Vladimir Herzog de
Rádio, Embratel de Jornalismo Investigativo e Prêmio Esso Especial de Telejornalismo.
Mesmo longe dos prêmios e das pautas, nos acampamentos, ouvindo vanerões ou
churrasqueando com amigos do gauchismo, Giovanni não se desliga do espírito jornalístico. Há
momentos em que o repórter é tentado a ser o artista. Enfim, é enorme sua intimidade com o
palco e o mundo da arte e espetáculos musicais. Admite que sabe cantar, porém faz questão
de falar de suas habilidades como profissional da comunicação e utiliza a experiência para
atuar no papel de cidadão. Observa, analisa, aproveita o contato com a realidade das ruas e do
campo no interior do Rio Grande do Sul e demais Estados onde há preocupação com a
preservação da cultura.
De vez em quando pode ocorrer algum “estranhamento”, se alguém percebe que ali está um
repórter potencialmente em busca de informação para matérias motivadas por denúncias
graves. Quando a missão não é uma reportagem, imediatamente ele procura desfazer
equívocos. Esclarece seu papel de difusor das manifestações culturais sem, entretanto, deixar
de demonstrar a grande paixão pelo jornalismo e por mudanças positivas na sociedade.
As tradições gaúchas lhe proporcionam satisfação, complementada pelo fato de ser um
comunicador com características especiais. ”Sou curioso, desconfiado, apaixonado e
satisfeito”, se autodefine. “Não sou jornalista apenas porque desejo mudar o mundo. Sou
jornalista porque assim eu sou feliz”, diz, com o orgulho de um profissional apaixonado pelo
que faz.
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