A Licenciatura em Ecoturismo na Universidade dos Açores
A indústria turística gera, actualmente, 1 em cada 15 postos de trabalho, sendo
considerada como a indústria com maior crescimento a nível mundial. No entanto, esta
actividade, se desenvolvida de forma desregrada, pode contribuir para uma degradação
ambiental e cultural dos destinos turísticos.
Assim, o conceito de ecoturismo, um dos conceitos de turismo sustentável, em conjunto
com o turismo de natureza e o turismo rural, tem vindo a ganhar importância. O
ecoturismo é uma alternativa a uma gestão extractiva dos recursos naturais,
incentivando as entidades gestoras (governos, comunidades locais, sector privado) a
preservar os recursos naturais, em vez de os consumir.
O ecoturismo é uma forma de turismo que promove a conservação da natureza e
encoraja um desenvolvimento sustentável, originando um impacte reduzido no
ambiente. Esta forma de turismo envolve a realização de viagens para zonas mais ou
menos remotas, com o objectivo de observar a fauna e a flora no seu habitat natural,
possibilitando, igualmente, o contacto com os habitantes locais, com o seu modo de
vida e o seu trabalho. Por natureza, o ecoturismo deve beneficiar directamente as
populações que habitam nas zonas onde se desenvolve a actividade turística, aos níveis
económico, social e ambiental. A nível mundial, o ecoturismo é o sector com um
crescimento mais rápido ao nível da indústria turística.
Os Açores são a zona turística que apresenta o maior crescimento turístico do país,
tendo-se verificado um aumento de 16,9%, no primeiro trimestre do corrente ano,
segundo informações da Secretaria Regional da Economia. No entanto, notícias recentes
indicam que se trata de um sector com um dinamismo considerável, no que respeita à
importância dos vários mercados. De facto, mesmo em mercados bem trabalhados,
podem ocorrer oscilações. Assim, verificou-se, muito recentemente, que o número de
turistas dinamarqueses é já superior ao de suecos, surgindo a possibilidade de reduzir o
número de voos a partir da Suécia. Por outro lado, o número de turista nórdicos a
hospedar-se nos estabelecimentos de turismo rural nos Açores é inferior ao dos alemães
e encontra-se muito abaixo do número de turistas portugueses. Ou seja, continua a
existir a necessidade de desenvolver ofertas turísticas complementares e inovadoras.
Por outro lado, atravessamos uma época de construção de novas unidades hoteleiras, e
em que também se observa o surgimento de pequenas empresas ligadas ao turismo de
natureza e aventura, e à observação de cetáceos. Há até alguns casos em que se
disponibiliza um acompanhamento personalizado ao turista.
Para além do aspecto paisagístico, as riquezas existentes no Arquipélago dos Açores, ao
nível da biodiversidade e da geodiversidade, poderão ser ainda mais valorizadas, sendo
importante que essa valorização, em termos turísticos, se realize de um modo
sustentável, garantindo a qualidade dos serviços e a conservação dos recursos. Em
particular, é essencial que tal aconteça respeitando os regulamentos em vigor, ao nível
das diferentes áreas protegidas existentes no Arquipélago. Nesta situação, surge a
necessidade de formar técnicos na área do turismo, com uma orientação e uma
sensibilidade próprias, de modo a garantir uma valorização económica do património
natural, mantendo elevados padrões, ao nível do cumprimento das boas práticas
turísticas, quando estão em jogo elementos patrimoniais únicos. Parece ir neste sentido
a recente criação do Gabinete de Apoio à Natureza, no âmbito da Direcção Regional do
Turismo.
O elemento cultural é outro aspecto que deve ser valorizado, nomeadamente ao nível
dos produtos agrícolas regionais, o que implica uma ligação do turismo ao agricultor, no
sentido de, se possível, aumentar o rendimento proporcionado pela produção de
variedades agrícolas locais. Esta aposta poderá ser importante, ao nível de um maior
desenvolvimento do turismo rural. Tão interessante para o turista que nos visita, será o
facto de existir nos Açores uma espécie única de morcego, que pode ser facilmente
observada durante o dia, como o facto de existirem ainda variedades regionais de milho,
ou o facto da cultura do inhame na zona das Furnas ter peculiaridades diferentes da
mesma cultura praticada nas Sete-Cidades. Ou seja, para além de colocar o inhame no
prato do turista, poderá ter interesse levar o turista à plantação de inhame, à semelhança
do que se faz com as culturas do chá e do ananás. Além disso, estes aspectos fazem a
ligação entre o património natural e agrícola e o património cultural e histórico,
resultante da relação entre os povoadores e o ambiente insular.
A passagem de um turismo de paisagem para algo mais profundo, que implique dar a
conhecer ao turista, as riquezas ao nível da flora e da fauna dos Açores, quer ao nível
terrestre, quer marinho, mas também ao nível do património agrícola e rural, implica a
existência de técnicos com uma formação especializada. Não basta, nesse caso, mostrar
a beleza da paisagem, sendo necessário transmitir algo acerca da génese da própria
paisagem vulcânica, e do modo como as comunidades vegetais e animais se adaptaram e
evoluíram neste ambiente insular.
Neste contexto, foi estruturada, no Departamento de Biologia da Universidade dos
Açores,
uma
Licenciatura
em
Ecoturismo.
Esta
licenciatura,
de
natureza
multidisciplinar, tem em vista proporcionar uma formação que permita o
desenvolvimento de actividades turísticas, que promovam a conservação da natureza e a
valorização das culturas locais. Deste modo, os estudantes serão orientados no sentido
de analisar os impactes negativos e positivos do turismo local e internacional.
A licenciatura proporcionará uma formação geral em turismo, atribuindo, em
simultâneo, uma primeira especialização nas áreas do turismo vocacionado para a
natureza, para o mundo rural e para o património.
Seguindo a filosofia geral do Processo de Bolonha, o curso de Licenciatura em
Ecoturismo visa criar uma base científica sólida nas várias áreas de suporte, bem como
desenvolver as capacidades fundamentais para a obtenção do diploma. Esta licenciatura
combina as capacidades técnicas resultantes de uma formação sólida ao nível das várias
ciências de base (Geologia, Zoologia, Botânica, Ecologia, Geografia, Economia,
Gestão, Línguas, Património Natrual, Património Histórico e Cultural), complementada
por um conjunto amplo de disciplinas com diferentes graus de especialização na área do
turismo (Introdução ao Turismo, Ecoturismo, Turismo Rural, Turismo Costeiro e
Marinho, Interpretação Turística e Ambiental) e por uma importante componente de
natureza operacional (Relações Públicas, Contabilidade, Tecnologias da Informação,
Recursos Humanos).
A licenciatura deverá enfatizar uma aprendizagem pela prática, incluindo visitas de
campo e contacto directo com operadores e gestores turísticos, através da realização de
seminários e de um estágio profissional. Assim, para além de incentivar a reflexão
profunda sobre as ligações entre o turismo e o ambiente, a Licenciatura em Ecoturismo
pretende desenvolver no aluno as competências necessárias para a entrada no mercado
de trabalho, exigindo a realização de um estágio profissional que lhe aumentará as
opções de empregablidade. Assumidamente orientado para o trabalho, o presente curso
abre caminho para uma futura especialização em gestão e investigação ao nível do
turismo e do ecoturismo. Deste modo, o aluno terá uma formação que lhe permitirá
ingressar no mundo do trabalho como operador turístico, ou prosseguir a sua formação
nos termos que vigorarem no futuro, na sequência da implementação do processo de
Bolonha.
Temos sido contactados por alguns jovens que nos levantam questões acerca das saídas
profissionais dos licenciados nesta área. O que lhes temos transmitido é a ideia de que
se trata de um sector com muitas potencialidades nos Açores e no exterior. Os
licenciados estarão habilitados a trabalhar na área do ecoturismo ao nível dos sectores
empresarial, governamental ou não governamental. Poderão ser recrutados por várias
entidades: autarquias; entidades gestoras de áreas protegidas, monumentos nacionais ou
parques recreativos; entidades ligadas ao ordenamento do território e da floresta;
entidades de natureza educativa/formativa. Poderão igualmente inserir-se em empresas
de turismo/ecoturismo/turismo de natureza/turismo de aventura, ou instalar-se como
empresários em nome individual. Poderão ainda trabalhar como animadores culturais,
consultores em prospecções ecológicas, na elaboração de itinerários turísticos e trilhos
ambientais e em estudos de impacte ambiental. Os licenciados em Ecoturismo poderão
ainda ingressar em vários dos cursos de Mestrado leccionados na Universidade dos
Açores (Ordenamento do Território, Ambiente Saúde e Segurança, Conservação da
Natureza, Ecologia Vegetal) e noutras Universidades.
Com raras excepções, na actualidade, uma licenciatura não garante um emprego de
imediato. Será, por isso, através da sua própria iniciativa, e com base nas competências
que irão adquirir com a frequência deste curso, que os futuros Licenciados em
Ecoturismo poderão encontrar uma actividade profissional, seja na área do ecoturismo
em geral, seja na área do turismo rural ou de natureza, seja em projectos ligados à
gestão do património ou à qualificação ambiental. Deste modo, este curso dirige-se,
claramente, a estudantes com dinamismo e espírito de iniciativa, e com gosto especial
em analisar o ambiente à sua volta e em comunicar com o público. Indiscutivelmente, a
abertura desta licenciatura é uma aposta da Universidade dos Açores, na valorização dos
recursos humanos da Região, ao nível do turismo.
Luís Silva
Director do Curso de Licenciatura em Ecoturismo
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