CONCLUSÕES
O Rio de Janeiro é o Estado brasileiro que apresenta as maiores taxas de
densidade demográfica e de urbanização do País, além da maior concentração
populacional no município da capital e na Região Metropolitana em relação ao
total estadual.
Embora o Rio de Janeiro tenha crescido nos últimos 20 anos a taxas
inferiores às brasileiras – 1,15% a.a. entre 1980 e 1991 e 0,93% a.a. entre
1991 e 1996, contra 1,93% a.a. e 1,36% a.a. do Brasil, nos dois períodos,
respectivamente – a evolução da distribuição dos municípios fluminenses,
segundo classes de tamanho, mostra que a concentração da população
estadual nas cidades de maior porte é crescente e a maior entre os Estados
brasileiros. Em 1996, eram 21 municípios com mais de 100 mil habitantes,
quatro deles com mais de 500 mil, e localizados na Região Metropolitana do
Rio de Janeiro (RMRJ). Essa região abrigava mais de 75% da população do
Estado numa concentração sem similar no país. Dentre os nove municípios
fluminenses com população superior a 250 mil habitantes, apenas dois não
pertenciam à metrópole, Campos dos Goytacazes e Petrópolis. O município do
Rio de Janeiro sozinho abrangia, em 1996, 54% da população da Região
Metropolitana e 41% da população estadual.
Os dez maiores municípios em população eram também os dez mais
importantes na formação do PIB estadual. A economia fluminense sempre
apresentou pouca articulação espacial e uma frágil integração produtiva. Com
forte presença do setor terciário, graças à condição de capital federal até 1960,
o crescimento econômico se ressentiu da separação entre a capital
metropolitana e o interior.
A produção estadual, historicamente, concentrava-se na cidade do Rio de
Janeiro e em alguns municípios da Baixada Fluminense, estimando-se que,
ainda hoje, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro seja responsável por
cerca de 80% do PIB estadual. A dinâmica do desenvolvimento econômico do
Estado do Rio de Janeiro continua marcada pela concentração das atividades
industriais e terciárias no núcleo metropolitano. Essa tendência, entretanto,
pode ser alterada em função da localização dos novos investimentos
SEADE
207
anunciados para o Estado, pois quase metade dos novos investimentos
industriais aprovados estão localizados fora do Grande Rio.
Em 1998, de acordo com o IPEA, o Rio de Janeiro, segunda maior
economia
do
País,
registrava
um
Produto
Interno
Bruto
(PIB)
de,
aproximadamente, R$85,7 bilhões, representando 11,1% do PIB total da
Região Sudeste e 18,6% do PIB total do País (IPEA), atrás apenas do Estado
de São Paulo. Essas participações apresentaram ligeira redução desde 1985
quando eram, respectivamente, 11,7% e 19,8%.
A estrutura de produção fluminense está centrada principalmente no setor
de serviços, responsável por 73,4% do PIB do Estado, 12,8% do total nacional
e 21,5% do total da Região Sudeste. A análise da evolução dos setores na
composição do PIB do Rio de Janeiro entre 1985 e 1998 mostra que a
participação do setor de serviços cresceu aproximadamente 10%, em
contraposição à redução de quase 10% da participação da indústria, que
representa 10% do total brasileiro e 15,1% da Região Sudeste. A agricultura,
que já tinha um pequeno peso na composição do PIB carioca em 1985 (1,8%),
também perdeu espaço, caindo para 1,2% em 1998. A participação da
agropecuária no Produto Interno Bruto está muito abaixo dos demais setores:
1,5% no total do Brasil e 4,2% no da Região Sudeste.
A evolução do emprego formal no Estado do Rio de Janeiro, de 1986 a
1997, sofreu diminuição de aproximadamente 230 mil postos de trabalho,
mesmo sendo criados 41.365 novos estabelecimentos. Em 1986, a média por
estabelecimentos era de 19,1 ocupados, caindo para 13,8 em 1997, portanto
um crescimento de estabelecimentos muito maior que o de postos de trabalho,
que pode ser decorrência de três fatores: criação de micro empresas, mudança
de gestão e emprego maior de tecnologia.
Na indústria de transformação, pelo menos quatro segmentos (indústria
metalúrgica, indústria do material de transporte, indústria do papel, papelão,
editorial
e
gráfica,
e
indústria
química
de
produtos
farmacêuticos)
apresentaram crescimento do número de estabelecimentos, no período de
1986 a 1997, sem aumento do pessoal ocupado. Isso pode ser conseqüência
do maior uso de tecnologia e das alterações na forma de gestão, para a
SEADE
208
redução de custos. Os ramos de serviços industriais de utilidade pública e
construção civil também cresceram em número de estabelecimentos mas
diminuíram o número de pessoal ocupado.
Os setores de serviços e comércio tiveram crescimento tanto de
estabelecimentos como de postos de trabalho, embora com redução na média
de pessoal ocupado por estabelecimento. Os segmentos de administração
pública direta e autárquica, serviços de alojamento, alimentação, reparo,
manutenção,
etc.
e
instituições
de
crédito,
seguros
e
capitalização
apresentaram redução no número de pessoal ocupado, entre 1986 e 1997,
mas apenas o de administração pública apresentou queda em número de
estabelecimentos nesse período.
O exame dos dados de evolução das ocupações e do emprego, segundo
informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), no
período entre 1992 e 1999, mostra que o aumento da população ocupada no
Estado do Rio de Janeiro ocorreu, principalmente, pelas atividades
relacionadas a serviços, as quais apresentaram as maiores taxas de
crescimento no período entre 1992 e 1999. Os segmentos de serviços
auxiliares e serviços sociais, embora não estejam entre os que mais
empregam, apresentaram as maiores taxas anuais de crescimento no período
analisado.
O pessoal ocupado (PO) em atividades não-agrícolas nas áreas urbanas
cresceu tanto na Região Metropolitana quanto fora dela. Todos os segmentos
que obtiveram taxas de crescimento anual do PO positivas, no período de 1992
a 1999, estão ligados ao setor de serviços. Entretanto, fora da Região
Metropolitana,
não
apenas
as
atividades
de
serviços
apresentaram
crescimento, como também os ramos da indústria da construção e outras
atividades industriais. Apenas os ramos da indústria de transformação e da
administração pública apresentaram taxas de crescimento negativas entre
1992 e 1999.
A análise da dinâmica da população do Estado do Rio de Janeiro determina
a necessidade de se concentrar os equipamentos fixos de educação
profissional sobretudo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Isso não
SEADE
209
significa, contudo, que as demais regiões do Estado devam permanecer
desassistidas na oferta dessa modalidade de educação. No entanto, nesses
casos, a instalação de novos equipamentos de educação profissional ou até a
ampliação da capacidade de atendimento daqueles já existentes devem levar
em conta, ao mesmo tempo, o grau de concentração urbana da localidade ou
região a ser atendida, bem como a vocação econômica específica de cada
uma delas. No caso particular das instalações de educação profissional fixas
destinadas exclusivamente à atividade industrial, vale considerar que boa parte
dos novos investimentos previstos para o setor deve ser direcionada para fora
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Dadas as características peculiares da distribuição da população pelo
território do Estado do Rio de Janeiro e levando-se em conta sua pequena
dimensão física, deveria haver a possibilidade de se oferecer educação
profissional de nível básico ou mesmo cursos de qualificação profissional que
integrassem planos de curso de habilitações profissionais para a população do
interior do Estado a partir de estruturas móveis ou, então,
instalações e
equipamentos já existentes nas comunidades, em articulação com instituições
educacionais ou assistenciais interessadas na promoção social da população.
A análise da atividade econômica no Estado do Rio de Janeiro registra de
forma inequívoca a preponderância da participação da prestação de serviços
na composição do PIB estadual, pois a atividade agropecuária é pouco
expressiva e a atividade industrial encontra-se, hoje, fortemente concentrada
na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, como foi visto anteriormente.
Ao se imaginar as áreas profissionais a serem atendidas por programas de
educação profissional no Estado do Rio de Janeiro para os setores industrial e
de prestação de serviços, deve-se levar em conta a diversidade das atividades
econômicas desenvolvidas e simultaneamente as características regionais
bastante particulares da economia fluminense.
Como foi mostrado, o Rio de Janeiro é um dos Estados onde a agricultura
tem baixíssima participação no total do PIB. Com exceção da olericultura e da
fruticultura na região Serrana, predomina uma agricultura de baixo padrão
tecnológico no Estado: em 1995, somente 11% dos estabelecimentos
SEADE
210
possuíam tratores, 51% usavam fertilizantes e 32% realizavam controle de
pragas e doenças em suas lavouras. Apenas 31% dos estabelecimentos
tinham assistência técnica e quase 24% do total de estabelecimentos usavam
técnicas de irrigação. O Estado do Rio de Janeiro é um dos menores em
superfície (0,5% do território nacional), tem uma topografia bastante
acidentada e áreas agricultáveis relativamente menores que as dos demais
Estados. Essa topografia acidentada, com poucas áreas contíguas, limita o
cultivo intensivo e a mecanização da produção agrícola.
As principais culturas empregadoras de mão-de-obra na agricultura
fluminense são a banana e a cana-de-açúcar (quase 70% do total). A
agricultura pouco modernizada é caracterizada pela grande presença de
culturas alimentares, muitas de subsistência, como arroz, feijão, mandioca e
milho, que respondem por 15% da demanda de mão-de-obra e da área total
cultivada. Das demais atividades, o café e a laranja são importantes na
ocupação
de
mão-de-obra
agrícola,
porque
juntas
demandam,
aproximadamente, 18% do total de EHA, embora tenham participação de
apenas 7,0% na área total cultivada.
O Estado apresenta uma produção agropecuária diversificada, com cultivos
tradicionais de baixo dinamismo, como a cana-de-açúcar, cereais (milho, arroz
e feijão) e alguns segmentos da produção animal (pecuária de leite e pescado)
ao lado de uma produção dinâmica em expansão, como a olericultura, a
fruticultura e a criação de pequenos animais (avicultura de corte, suinocultura,
entre outras).
A
heterogeneidade
das
formas
de
produção
está
associada
aos
desequilíbrios regionais, pois há regiões que concentram a produção mais
dinâmica e tecnicamente modernizada, como os hortifrutigranjeiros da região
Serrana; regiões que são alvos de intensa especulação imobiliária e
conseqüentes conflitos agrários, como as da Baía de Ilha Grande, dos Lagos e
da Baixada Fluminense; outras que combinam ociosidade da terra e
decadência rural, como o Noroeste; e regiões com predomínio da pecuária
extensiva, como o Vale do Paraíba e a região de Campos, onde a atividade
açucareira praticamente faliu. As regiões Noroeste e do Vale do Paraíba já
tiveram grande importância econômica, com o auge da produção cafeeira no
SEADE
211
século passado, e a região de Campos, com a cana-de-açúcar neste século.
Essas regiões fizeram investimentos significativos em infra-estrutura e malha
urbana, que foram se desmantelando à medida que a cafeicultura se deslocava
para São Paulo e a produção da cana perdia dinamismo, provocando um rastro
de devastação ambiental e esvaziamento econômico e populacional do interior
do Estado.
Uma outra característica da agricultura fluminense é o baixo grau de
integração do setor agroindustrial com a produção agropecuária, voltada
fundamentalmente para o abastecimento do mercado de produtos in natura na
Região Metropolitana. As empresas da indústria agroalimentar se abastecem
em grande parte por importações de outras unidades da federação.
Na região Serrana, as habitações de lazer e veraneio vêm ocupando
progressivamente áreas agrícolas, conferindo-lhes um alto valor de mercado.
Em decorrência da expansão do turismo rural, houve a ampliação do mercado
de trabalho, temporário ou permanente, advinda do crescimento do setor de
serviços e da proliferação de novas atividades produtivas, como pousadas,
pesque-pagues, artesanatos, industrialização caseira, etc. A especulação
imobiliária tem levado pequenos produtores a se desfazer de suas terras para
se tornarem prestadores de serviços de segmentos das classes média e alta
urbanas.
A população residente nas áreas rurais, engajadas em atividades nãoagrícolas, está superando a população empregada nas atividades agrícolas
desde 1993. Enquanto a PEA rural agrícola do Estado apresentou uma
retração de 3,7% ao ano, no período de 1992-1999, as atividades nãoagrícolas apresentaram uma tendência de crescimento anual positiva de 2,7%.
Em termos relativos, no ano de 1999, as atividades não-agrícolas já eram
responsáveis por cerca de 61% da PEA total rural ocupada, enquanto as
atividades agrícolas representavam aproximadamente 39%. Os principais
ramos de atividades das ocupações rurais não-agrícolas no Estado do Rio de
Janeiro são os de prestação de serviços, indústria da construção civil, indústria
de transformação, comércio de mercadorias e serviços sociais.
SEADE
212
O setor do emprego doméstico, que pertence ao ramo de prestação de
serviços, destacou-se como o líder na absorção de postos de trabalhos nãoagrícolas no meio rural fluminense. Outro setor também importante foi o da
construção civil, com 17% da PEA não-agrícola do Estado. Em suma, os
setores que mais utilizaram mão-de-obra no meio rural no período analisado
requisitam baixos níveis de qualificação profissional e de escolaridade. É
preciso salientar, no entanto, a existência de alguns setores mais
especializados
que
requisitam
mão-de-obra
qualificada,
como
estabelecimentos de ensino público, restaurantes, indústria de transformação
(indústria de alimentos incluída) e administração municipal.
Num contexto estadual em que o meio rural apresenta-se cada vez mais
urbanizado e as atividades não-agrícolas associadas ao turismo e ao lazer
encontram-se em franco desenvolvimento, a grande expectativa dos jovens da
zona rural é a possibilidade de acesso a um bom ensino médio que lhes dê
uma base satisfatória de conhecimentos para futura colocação profissional nas
regiões de origem ou mesmo fora delas. As atividades não-agrícolas presentes
no meio rural fluminense abrem perspectivas para o emprego de mão-de-obra
qualificada, ainda que em quantidade limitada, especialmente para o
atendimento de demandas do setor turístico e das atividades associadas ao
lazer. Na agricultura, o principal empregador de mão-de-obra qualificada é o
setor de produção de olerícolas e frutíferas, além da criação de pequenos
animais na região Serrana.
Para suprir as necessidades de educação profissional específicas da
atividade agropecuária o mais adequado seria a utilização de infra-estrutura de
instalações e equipamentos já existentes nas comunidades, a exemplo do que
já faz o Serviço Nacional de Formação Profissional Rural - Senar.
As informações provenientes da Pesquisa da Atividade Econômica Regional
– Paer para a indústria do Estado do Rio de Janeiro, sobre 2.077 unidades
locais que ocupam 214.717 trabalhadores, confirmam análises e estudos já
realizados que ressaltam o principal aspecto da indústria fluminense: a sua
desarticulação.
SEADE
213
Com 90% de sua estrutura baseada nas categorias de uso de bens
intermediários e bens de consumo não-duráveis (50% só de bens
intermediários), ela não consegue se subtrair à dependência de seus dois
pilares: a extração e refino de petróleo e a siderurgia.
Atualmente, a indústria naval procura se reerguer com a reativação dos
estaleiros da Verolme, o que pode trazer novos investimentos para a indústria
do Estado, assim como criar a necessidade de serviços e indústrias
complementares a essa atividade. Mais relevante, contudo, é a implantação do
pólo automotivo em Resende e Porto Real (com a localização das plantas da
Volkswagen e da PSA – Peugeot/Citroën), que pode desencadear um grande
número de atividades complementares, embora deva se relativizar a
importância desse pólo quanto a uma grande geração de empregos, pois tratase de uma atividade altamente automatizada, que emprega mão-de-obra com
alta qualificação e inexistente na própria região.
Na distribuição regional da atividade industrial, nota-se a extrema
importância da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com 70% do número
de unidades locais industriais e 66% do emprego do Estado. A estrutura de
cada região considerada apresenta diferenças importantes: na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, a indústria farmacêutica faz o setor de
química e combustíveis atingir um total de 15% do pessoal ocupado da região,
em seguida o setor de alimentos e bebidas, com 14%, e o de edição e
impressão, 11%. Esse último tem grande peso porque a atividade editorial está
concentrada no município (caso das gráficas e das editoras dos grandes
jornais), e há ainda com a Casa da Moeda, classificada nesse setor, que tem
relevante peso no total de pessoal ocupado.
A região do Vale do Paraíba e Litoral Sul é praticamente dominada pelo
complexo metalúrgico da região de Volta Redonda: a categoria de bens
intermediários (na qual se encontra este complexo) concentra 83% de todo o
pessoal ocupado na indústria da região, na metalurgia ou no setor de produtos
de metal, exclusive máquinas e equipamentos. Essa participação é muito
superior até à do setor de alimentos, tradicionalmente o maior empregador,
que representa apenas 7% dos empregos industriais nessa região. Até o
momento da realização da pesquisa, a categoria de uso de bens de capital e
SEADE
214
de consumo duráveis nessa região (788 empregados, de acordo com os
questionários recebidos) era praticamente inexistente, ainda que se considere
a recusa da principal montadora da região e de uma sua subcontratada, que
totalizavam 350 pessoas ocupadas segundo o cadastro da Paer, em responder
à pesquisa.
Nas demais regiões do Estado as categorias de uso de bens de consumo
não-duráveis e bens intermediários se apresentam como as mais importantes
(45% e 47% do pessoal ocupado da região, respectivamente). Em termos de
pessoal ocupado, é marcante a presença da indústria extrativa (22% de todo o
pessoal ocupado da indústria da região), em virtude, sem dúvida, da presença
da Petrobras em Macaé. Também importantes, em número de pessoal
ocupado, são as indústrias de alimentos (17%, com a presença ainda forte da
região canavieira de Campos, apesar de sua já citada decadência) e de
vestuário (15%, a maior parte nas unidades da região serrana). Em número de
unidades, destacam-se os setores de vestuário, de alimentos e de minerais
não- metálicos, que concentram 20%, 19% e 17% do total de unidades
industriais da região, respectivamente.
Analisando-se o período de início da operação das unidades industriais do
Estado, verifica-se que, apesar da maioria das unidades do Rio de Janeiro
terem iniciado suas operações nos anos 90 (33%), grande parte dos
trabalhadores está ocupada em unidades instaladas antes de 1970 (44%). As
unidades de inserção mais antiga se encontram principalmente na categoria de
bens intermediários (47% do pessoal ocupado trabalha em unidades
implantadas anteriormente a 1970), mostrando a importância das empresas da
fase desenvolvimentista do país (Petrobras e CSN), para a economia do Rio de
Janeiro.
O destino geográfico das vendas das unidades industriais do Rio de Janeiro
indica que o seu principal mercado é o próprio Estado: 71% da receita das
unidades industriais provem de vendas para a própria região em que se situa a
unidade ou outras regiões do Estado. Em seguida aparece o mercado
nacional, que responde por 26% das receitas de vendas e, muito abaixo, o
mercado externo, com 3% das receitas de vendas, aí incluído o Mercosul, cuja
participação é de apenas metade dessa receita e demonstra sua pouca
SEADE
215
importância para as unidades industriais do Rio de Janeiro, ao contrário de
outros Estados das Regiões Sul e Sudeste do país.
Os indicadores de tecnologia da indústria do Estado do Rio de Janeiro
refletem, de forma geral, o desempenho decrescente que o setor vem
apresentando ao longo dos últimos anos. Os resultados da Paer mostram uma
indústria ainda incipiente na adoção de novos programas de qualidade e
produtividade. Os mais difundidos são aqueles de melhoria da qualidade do
produto e dos serviços – inspeção final, indicadores de qualidade, gestão e
auditoria da qualidade, e sua adoção está fortemente atrelada às novas
exigências do mercado, não apenas de preço mas de diferenciais de qualidade
do produto, uma vez que requerem, certamente, menores esforços de
reorganização da produção e do trabalho e custos mais reduzidos que os de
novos métodos de gestão da produção e aumento da produtividade, como justin-time e kaizen.
As maiores taxas de difusão da inspeção final nas unidades industriais
(27%), comparadas a outros métodos mais sofisticados de controle de
qualidade do produto – como gestão da qualidade total e auditoria da
qualidade – sugerem que, mesmo na adoção de estratégias para a melhoria da
qualidade, ainda não há níveis significativos de modernização.
A indústria do Rio de Janeiro conta com um dos menores níveis de
automação industrial dos Estados até agora investigados pela Paer: ao todo,
apenas 30% das suas plantas informaram ter utilizado, no ano de 99, ao
menos um equipamento de automação de manufatura ou de controle de
processos, contra um percentual médio de 40% nos demais Estados.
Quanto aos recursos humanos ocupados ou demandados para o pessoal
semiqualificado ligado à produção, os requisitos variam de nenhuma
escolaridade (22% das unidades) ao ensino médio completo (6% das
unidades), mas a maior parte (42% das unidades, que empregam 46% do
pessoal ocupado nessa categoria) exige a 4a série do ensino fundamental.
Os requisitos de escolaridade aumentam de acordo com a qualificação da
categoria ocupacional. Para o pessoal qualificado ligado à produção, a
exigência também varia bastante entre as empresas: 9% das unidades não
SEADE
216
exigem escolaridade para a contratação, 22% delas exigem a quarta série do
primeiro grau, 42%, o ensino fundamental completo e 26%, o ensino médio.
Para o pessoal administrativo básico, os requisitos de escolaridade são bem
superiores aos do pessoal ligado à produção. O principal nível de escolaridade
exigido para contratação é o ensino médio completo em quase três quartos das
unidades industriais, que empregam 80% destes profissionais, seguido pelo
ensino fundamental completo (19% das unidades), com pequena participação
de unidades que exigem a quarta série do ensino fundamental ou menos.
Para os profissionais semiqualificados a exigência de cursos é uma prática
pouco difundida e os de nível básico são os mais exigidos (15% das unidades).
Para a categoria de qualificados, a exigência é um pouco maior,
permanecendo o curso de nível básico como o mais importante (28%), seguido
pelos de curta duração e de nível médio. Para os profissionais de nível superior
o perfil se altera e os mais exigidos são cursos de curta duração (46% das
unidades).
As carências que mais prejudicam o desempenho dos empregados ligados à
produção são a falta de conhecimentos específicos da ocupação; dificuldade
de comunicação e expressão verbais, dificuldade de trabalho em equipe e falta
de capacidade de aprender novas habilidades e funções. São carências de
falha tanto na formação básica quanto na formação específica, maiores para o
pessoal semiqualificado e qualificado, mas que diminuem conforme cresce a
hierarquia, com exceção da dificuldade de comunicação e expressão verbal. A
falta de conhecimento de informática, falta de conhecimento de matemática
básica, falta de habilidade para lidar com clientes, falta de capacidade de
comunicação por escrito e falta de noções básicas de língua estrangeira, são
menos prejudiciais aos profissionais qualificados e semiqualificados, todavia
mais danosas para o desempenho dos técnicos de nível médio e dos
profissionais de nível superior.
A análise das carências do pessoal administrativo também indica que, na
maioria dos casos, o prejuízo é maior para o desempenho do administrativo
básico e dos técnicos de nível médio e menor para a categoria de profissionais
SEADE
217
de nível superior, exceto a falta de noções básicas de língua estrangeira para
os profissionais de nível superior.
Para
o
desempenho
profissional,
em
todas
as
categorias,
são
imprescindíveis os conhecimentos de informática e o trabalho em equipe, pois
a alta utilização de computadores e a necessidade de se trabalhar em grupo
estão presentes na rotina do pessoal administrativo de qualquer posto.
As ocupações com dificuldade de contratação no segmento de bens de
consumo não-duráveis mais
assinaladas pelas unidades foram as do
segmento de vestuário (como alfaiates, costureiros e modistas, cortadores e
modelistas de roupas), e de outras como mecânicos de manutenção de
máquinas, impressores de off-set e marceneiros.
No segmento de bens intermediários as dificuldades mais assinaladas foram
as contratação de mecânicos de manutenção de máquinas, operadores de
máquinas
fixas,
gerentes
de
produção,
chapeadores
e
caldeireiros,
trabalhadores de fabricação de produtos de plástico e técnicos de mecânica.
As unidades do segmento de bens de capital e de consumo duráveis
encontram dificuldade principalmente na contratação de técnicos eletrônicos,
mecânicos de manutenção de máquinas (destacando-se mecânicos de
manutenção de aparelhos de levantamento), soldadores e oxicortadores,
torneiros,
fresadores,
retificadores
e
trabalhadores
assemelhados
(essencialmente torneiros mecânicos), técnicos de mecânica e desenhistas
técnicos.
Quando se compara a oferta de cursos para o pessoal administrativo e para
o pessoal ligado à produção, repete-se o comportamento observado em outros
Estados, pois os cursos de métodos e técnicas gerenciais, de relações
humanas e de informática são mais oferecidos para o primeiro grupo, enquanto
os de operação e manuseio de máquinas e equipamentos e de operação de
processos, para o segundo.
A Paer pesquisou, nas unidades industriais do Estado do Rio de Janeiro, os
tipos de relacionamento mantidos com as escolas técnicas, e com quais
escolas. Os tipos de relacionamento mais comuns são os tradicionais, como o
recrutamento de profissionais (26% das unidades que empregam 47% do
SEADE
218
pessoal ocupado) e de estagiários nas unidades industriais (22% das unidades
que empregam 50% do pessoal ocupado). Em seguida, em índices menores, o
treinamento de funcionários nas escolas técnicas (13% das unidades), as
unidades que contratam serviços técnicos especializados nas escolas (7,5%),
auxílio financeiro para as escolas (3,5%), fornecimento de equipamentos e
insumos para as escolas (3,1%) e participação da unidade na definição do
currículo das escolas (3,0%). O padrão das respostas encontrado no Estado do
Rio de Janeiro é semelhante ao encontrado em outras regiões do País.
Com relação às categorias de uso, houve maior relacionamento das
empresas do segmento de bens de capital e de consumo duráveis, depois das
empresas de bens intermediários e, por último, as que menos se relacionam,
do segmento de bens de consumo não-duráveis. Outra característica
importante é as unidades de porte médio ou grande manterem mais
relacionamentos com as escolas técnicas que as unidades de pequeno porte.
As unidades industriais do Rio de Janeiro mantêm relacionamento com
várias escolas, mas o comum é com as escolas do “sistema S” e do Sebrae.
Em seguida, em menor proporção, vêm as escolas técnicas federais, estaduais
e municipais, bem como outras escolas. Chama a atenção a elevada
proporção de unidades que não mantêm relacionamento com as escolas
técnicas, um potencial de expansão que existe para redirecionar os cursos e
atender aos interesses e ás demandas das unidades.
O relacionamento das unidades com as escolas técnicas federais, estaduais
e municipais é do tipo tradicional, restringindo-se ao fornecimento de mão-deobra de funcionários ou de estagiários. Já o relacionamento com as escolas do
Sistema S e Sebrae, além das formas tradicionais, também inclui
outras
modalidades, como treinamento de funcionários nas escolas e, em menor grau,
a contratação de serviços técnicos especializados, auxílio financeiro,
fornecimento de equipamentos e insumos e participação na definição do
currículo das escolas.
Os dados mostram que o pessoal ocupado e os assalariados na indústria do
Estado do Rio de Janeiro são, em sua maior parte homens (72%), com
participação menor da força de trabalho feminina (28%), semelhante à
SEADE
219
encontrada em outras regiões do País. A maioria de mão-de-obra masculina
ainda prevalece para os assalariados ligados à produção, com 75% dos postos
de trabalho. Entre os assalariados não-ligados à produção a participação
masculina cai, mas continua predominante, com 61% dos profissionais. A
participação da mão-de-obra feminina indica que, na indústria, as mulheres
possuem maior inserção nas atividades administrativas, principalmente no
administrativo básico, no qual elas representam metade dos postos de
trabalho.
A pesquisa da Paer do setor serviços foi realizada buscando informações de
diversas naturezas sobre as unidades locais com mais de 20 empregados que
atuavam no Estado em 1999. Esse levantamento resultou na consolidação de
informações para 3.574 unidades, que empregavam 398.828 pessoas nos
segmentos de serviços técnicos prestados às empresas, comunicação,
atividades de informática e conexas, alojamento e alimentação, transporte,
manutenção e reparação, saúde, eletricidade, gás e água e telecomunicações.
Em primeiro lugar, é importante destacar o peso dos segmentos mais
tradicionais no emprego, como transportes, alojamento e alimentação e saúde,
que somados, empregam 69% de todo o pessoal ocupado dentro das
atividades pesquisadas pela Paer. As atividades mais modernas e de alto grau
de encadeamento com os setores produtivos, como os serviços de informática,
os serviços técnicos prestados às empresas e telecomunicações, a par de sua
importância
estratégica
para
a
atração
de
investimentos
e
para
o
desenvolvimento regional, representam pouco mais de 17% do pessoal
ocupado. O segmento de infra-estrutura, composto pelas unidades das
empresas de eletricidade, gás e água agregam 11% do emprego e o segmento
de comunicação tem peso relativamente reduzido no âmbito da Paer (2,5% do
pessoal
ocupado),
ainda
que
o
Estado
do
Rio
de
Janeiro
seja
reconhecidamente um centro cultural e pólo de distribuição de informações de
nível internacional. O segmento de manutenção e reparação, pela expressiva
quantidade de pequenas unidades, aparece de forma residual
(0,5% do
pessoal ocupado).
As características dessa estrutura causam fortes impactos sobre os setores
na absorção dos empregados segundo as várias categorias ocupacionais. Em
SEADE
220
primeiro lugar, nota-se que o segmento de alojamento e alimentação é
responsável pela maior parte do emprego dos trabalhadores braçais (43%),
proporção ainda maior dos trabalhadores semiqualificados (48%). O segmento
de transporte emprega pouco mais da metade de todo o pessoal qualificado
(53%) nos serviços pesquisados. Os técnicos de nível médio, por sua vez,
estão menos concentrados, distribuindo-se principalmente nos segmentos de
saúde, eletricidade, gás e água, transporte e serviços técnicos prestados às
empresas; já o pessoal de nível de superior aparece em maior proporção no
segmento de saúde (32%) e nos serviços técnicos prestados às empresas
(29,5%). O segmento de saúde absorve a maior parte dos empregados
alocados em atividades administrativas (24%).
O peso das atividades mais tradicionais, sobretudo aquelas vinculadas ao
turismo, como alojamento e alimentação, é determinante para apontar as
ocupações mais demandadas: cerca de 200 unidades apontaram dificuldades
para a contratação de cozinheiros e
garçons, 126 para a contratação de
recepcionistas, 70 para auxiliares de enfermagem e cozinheiro-chefe, 60 para
camareiro de hotel, etc. Interessante notar que, a despeito das altas taxas de
crescimento dos serviços tipicamente classificados como modernos, sobretudo
na área de telecomunicações (telefonia fixa, celular, transmissão de dados
etc.), não houve citações expressivas de dificuldades de contratação para
ocupações específicas nesse segmento.
Na
maioria
dos
segmentos
de
serviços,
verificou-se
uma
ampla
disseminação de recursos de informática (89% das unidades faziam uso de
computadores), e uma significativa proporção de unidades com acesso à
Internet (66%). Uma exceção foi o segmento de alojamento e alimentação,
para o qual a utilização das novas tecnologias de informação não alcançou o
mesmo nível de disseminação encontrada para os serviços em geral,
possivelmente em função da expressiva presença de estabelecimentos de
serviços de alimentação (lanchonetes, cantinas, restaurantes, etc.) sem
recursos de automação, acabando por encobrir os avanços do complexo
hoteleiro.
Ainda que em menor proporção, o processo de informatização tem sido
acompanhado do esforço das unidades em introduzir programas de qualidade
SEADE
221
e produtividade: 30% das unidades que empregam 47,4% do pessoal ocupado
realizaram esse esforço. No que diz respeito o ISO 9000, 11% das unidades
buscaram a obtenção de certificação, a tendência mais forte entre as unidades
dos
serviços
técnicos
prestados
às
empresas
e
do
segmento
de
telecomunicações.
Esse esforço de modernização está em sintonia com a intenção das
empresas em investir. A aquisição de equipamentos de informática e
telecomunicações é o tipo de investimento mais declarado pelas unidades,
seguido pelo treinamento de mão-de-obra, enquanto a melhoria da eficiência e
qualidade dos serviços é o objetivo mais visado.
Do ponto de vista da distribuição espacial das atividades de serviços,
sobressai o peso expressivo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro em
todos os segmentos, mas sobretudo naqueles que são complementos para as
atividades empresariais: 94% das unidades dos serviços técnicos prestados às
empresas e dos serviços de informática encontram-se nessa área.
A alta
densidade de serviços avançados na RMRJ contribui para a um nível de
informatização superior ao das demais regiões: quando analisado o número de
pessoas por computador, verifica-se que a média da região é de quatro
pessoas por máquina, enquanto na região do Vale do Paraíba é de seis e, nas
demais regiões do Estado, 13.
Quanto aos requisitos de escolaridade no setor serviços, verifica-se que
14% das unidades, que empregam 17% dos semiqualificados, não exigem
nenhum grau de escolaridade; 41% exigem até a quarta série do ensino
fundamental; e 34%, o ensino fundamental completo. Apenas 10% das
unidades requerem ensino médio completo para contratação.
Apesar de ser expressiva a proporção de unidades no segmento de
comunicações que não exigem nenhuma escolaridade (28% das unidades),
elas empregam uma parcela restrita dos ocupados no segmento (apenas 8%).
No segmento de eletricidade, gás e água, por sua vez, a situação se inverte –
ainda que 19% das unidades aceitem trabalhadores semiqualificados sem
escolaridade, deve-se considerar que elas empregam relativamente mais
(pouco mais de um terço do pessoal ocupado no segmento).
SEADE
222
A proporção de empresas que não exige nenhuma escolaridade para o
pessoal qualificado é relativamente menor (4%) e a exigência de ensino médio
completo entre as unidades (37%) aumenta significativamente, sobretudo nos
segmentos de comunicação, serviços técnicos prestados às empresas,
informática e conexas, telecomunicações e saúde.
Para o pessoal administrativo, não há aceitação de indivíduos sem
escolaridade e 72% das unidades exigem pelo menos o ensino médio
completo.
Em relação aos cursos profissionalizantes, são importantes os de curta
duração para o pessoal técnico de nível médio e superior. Para os ocupados
semiqualificados e qualificados, predomina a necessidade de cursos de nível
básico e para os empregados qualificados nos segmentos de informática e
telecomunicações, contrariamente à tendência geral verificada para o setor, a
exigência de cursos de curta duração aparece em maior proporção que o
cursos de nível básico.
As características individuais (inatas ou decorrentes do processo de
formação escolar) são fundamentais para o exercício das atividades do setor
de serviços além do trabalho em grupo e contato com clientes, da
comunicação e da matemática básica, que fazem parte da rotina de trabalho
em todos os segmentos. Novos fatores, entretanto, vêm influenciar essas
rotinas,
principalmente
aquelas
ligadas
à
informática:
o
uso
de
microcomputador, exceto nas atividades do pessoal semiqualificado, têm peso
significativo na rotina dos trabalhadores de todas as categorias ocupacionais,
mais presente quanto mais elevado for a qualificação dos empregados. Essa
última tendência também pode ser verificada no uso de língua estrangeira, mas
em proporção menor em todas as categorias ocupacionais e quase inexistente
entre os semiqualificados, para os quais, a rotina de trabalho incorpora com
maior destaque conhecimentos técnicos atualizados e técnicas de qualidade.
Quando se analisam os fatores que prejudicam o desempenho do pessoal
ocupado, a falta de noções de língua estrangeira é, novamente, o fator menos
problemático entre aqueles de menor qualificação, e o mesmo se dá com a
falta
de
conhecimento
de
informática,
ainda
que,
SEADE
entre
o
pessoal
223
administrativo, o conjunto de unidades que emprega cerca de 50% desses
ocupados aponte deficiências nesse aspecto.
As maiores carências no desempenho profissional em todas as categorias,
todavia, estão nas áreas sensíveis ao processo de socialização (trabalho em
equipe, comunicação verbal, habilidade para lidar com os clientes), formação
escolar (funções e capacidade de expressão por escrito e matemática básica)
e estoque de conhecimento e aquisição de habilitações (conhecimento
específico da ocupação e aprendizado de novas habilidades).
No Estado do Rio de Janeiro, há uma fraca interação entre as empresas do
setor de serviços e as escolas técnicas, e o relacionamento limita-se aos
aspectos mais tradicionais escola-empresa (estágio de alunos e recrutamento).
O processo de inter-relação em contratação de serviços técnicos das escolas,
participação das empresas na definição dos currículos, fornecimento de
equipamentos ou treinamento de professores nas unidades ou auxílio
financeiro, é extremamente raro, limitando-se, no máximo, a 10% das unidades
conforme a atividade observada.
Quanto à distribuição geográfica das unidades de educação profissional
voltadas à qualificação de trabalhadores para a indústria, há uma relativa
especialização regional do parque industrial fluminense, e, mais uma vez, o
alto grau de concentração dessa atividade na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro sugere que a maior parte da oferta de educação profissional deve estar
localizada nessa região.
Como seria de se esperar, há grande concentração de atividades do setor
de prestação de serviços na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e a maior
parte da oferta de educação profissional para este setor deve se concentrar
nessa região.
A análise feita pela Paer da escolaridade exigidas pelas empresas
fluminenses dos candidatos a emprego mostra que, no caso da indústria, os
requisitos são menos elevados do que os exigidos pelo setor de serviços,
especificamente do pessoal ligado à atividade principal; essas exigências só
são semelhantes, e sempre mais elevadas, concentrando-se no ensino médio,
SEADE
224
quando
comparadas
aos
requisitos
dos
candidatos
a
empregos
administrativos, em qualquer um dos dois setores.
O comportamento dessa variável determina duas situações distintas e, por
sua vez, formas diferenciadas de conduzir a oferta de educação profissional
para cada um desses setores e cada uma de suas atividades (atividade
principal e apoio administrativo).
A prestação de serviços, uma atividade que coloca o profissional em contato
direto e pessoal com o cliente, requer de maneira mais evidente as
competências atitudinais e os atributos pessoais supostamente desenvolvidos
no ensino médio, o que justifica a existência de níveis mais elevados de
escolaridade dos candidatos à atividade principal, que os exigidos pelas
indústrias para o mesmo tipo de vaga.
Já com relação aos requisitos de escolaridade dos candidatos aos cargos de
apoio administrativo, são relativamente elevados e semelhantes nos dois
setores examinados, pois as competências profissionais exigidas são
justamente aquelas consolidadas na etapa final da educação básica, ou seja, o
ensino médio.
Assim, os responsáveis em definir os pré-requisitos de escolaridade dos
candidatos aos cursos de educação profissional ofertados devem considerar os
próprios pré-requisitos de admissão de trabalhadores colocados em cada um
dos vários segmentos do setor produtivo para tornar mais eficiente o ensino
oferecido e evitar eventuais descompassos entre os pré-requisitos das
instituições de educação profissional e os praticados pelas empresas, o que
poderia se tornar um obstáculo à admissão de egressos de cursos de
educação profissional, mesmo qualificados.
Ao investigar as rotinas de trabalho e as carências que prejudicam o
desempenho dos trabalhadores, a Paer acabou por levantar importantes
indicadores para aqueles que têm sob sua responsabilidade a elaboração de
currículos e a definição de métodos de ensino de educação profissional.
Constatou-se, por exemplo, que as dificuldades de comunicação e
expressão verbais, de trabalho em equipe e de aprender novas habilidades e
funções afetam de maneira considerável boa parte dos trabalhadores ligados à
SEADE
225
atividade principal, em qualquer um dos dois setores examinados, sobretudo
no caso dos trabalhadores que das categorias de qualificação ocupacional
mais baixas.
Tais carências, diretamente relacionadas às competências atitudinais que
deveriam ser desenvolvidas pela educação básica, são consideradas
estratégicas pelas empresas para que seus funcionários possam adaptar-se à
introdução de novas tecnologias e de novas formas de organização do
trabalho; adicionalmente, na prestação de serviços a falta de habilidade para
lidar com os clientes também foi identificada pelas empresas pesquisadas
como uma carência relevante, o que se justifica plenamente, pois uma das
características essenciais da prestação de serviços é o relacionamento direto
do profissional com o cliente.
Uma das providências que poderiam ser adotadas pelas instituições de
educação profissional para diminuir o efeito de tais carências entre os egressos
de seus cursos, quaisquer que tenham sido seus antecedentes escolares, seria
a valorização de métodos de ensino ativos que incluíssem deliberadamente o
trabalho em equipe como uma de suas estratégias mais importantes.
Sintomaticamente,
tais
carências
são
trabalhadores ligados à atividade principal
mais
relevantes
dentre
os
que dentre seus colegas que
oferecem apoio administrativo, em qualquer um dos dois setores examinados,
diretamente relacionado aos níveis de escolaridade distintos exigidos pelos
empregadores para cada uma dessas duas categorias de funcionários.
Outras carências, igualmente importante, são as de capacidade de
comunicação por escrito e de conhecimento de matemática básica, ambas
também de responsabilidade da educação básica.
Competências fundamentais para a formação de um alicerce sólido para a
construção de qualquer proposta de educação profissional, bem como para o
exercício de toda ocupação no contexto produtivo atual, até mesmo para as
categorias de qualificação ocupacional mais baixas, as habilidades de redação
e certa desenvoltura para efetuar cálculos matemáticos simples são
consideradas
pelos
empregadores
requisitos
essenciais
a
todos
os
funcionários.
SEADE
226
Ainda no âmbito da educação profissional, caso os alunos dos cursos
oferecidos apresentem tais deficiências, a melhor maneira de saná-las seria
desenvolver competências de forma estritamente instrumental, buscando
introduzi-las no perfil profissional a ser alcançado, um objetivo adicional que os
cursos propostos deveriam atingir.
Finalmente, a carência de conhecimento de informática merece ser
destacada quando se examina o seu peso na rotina de ambientes de trabalho,
dos dois setores examinados; é verdade que a informática encontra-se
bastante disseminada na área administrativa das organizações, quaisquer que
sejam os seus portes, o que leva a maior parte dos empregadores a coloca o
seu conhecimento como um dos pré-requisitos exigidos dos candidatos aos
cargos oferecidos e ao mesmo tempo o apontarem como uma carência
importante, mas a informatização da atividade principal ainda não alcançou os
níveis que deverá atingir a curto prazo.
Assim, além de desenvolver nos alunos dos cursos de educação profissional
as competências de informática relacionadas ao conhecimento dos sistemas
operacionais, dos softwares de produtividade (como os softwares integrados,
que incluem processador de texto, planilha eletrônica, programa de
apresentação e banco de dados) e dos softwares de acesso à Internet, as
instituições de educação profissional devem cogitar também a inclusão em
seus cursos de componentes curriculares que prevejam o desenvolvimento de
competências de informática específicas, relacionadas ao uso de softwares de
uso exclusivo de determinados segmentos de atividades, como os concebidos
para reservas de passagens aéreas, controle de estoques, gerenciamento de
máquinas-ferramenta
de
Computer Aided Design
Controle
Numérico
Computadorizado
(CNC),
(CAD), edição de textos, tratamento de imagens,
processamento de imagens para diagnósticos clínicos, dentre muitos outros.
Por último, a Paer investigou o grau de interação existente entre as escolas
de educação profissional e as empresas pesquisadas e constatou que a
relação entre elas se restringe, na maior parte dos casos, à contratação, pelas
empresas, de alunos egressos dos cursos oferecidos pelas escolas, ou então à
aceitação dos alunos como estagiários em suas dependências.
SEADE
227
Pode-se concluir, então, que as instituições de educação profissional são
pouco proativas na busca de integração com o setor produtivo e quando
tomam iniciativas nessa direção os resultados se resumem às formas clássicas
de parceria.
Para que as instituições de educação profissional possam estar mais
sintonizadas com as práticas do setor produtivo para o qual elas qualificam a
mão-de-obra, é fundamental que escolas e empresas procurem se aproximar
cada vez mais a fim de tentar, inclusive, outras formas de colaboração que
interessem a ambas as partes e possam resultar em benefícios não apenas
para as empresas e para os alunos, mas também para as próprias escolas no
aprimoramento continuo do ensino oferecido.
Dentre outras, uma estratégia particularmente interessante, porque pode
criar vínculos permanentes entre empresas e a escola, é a instituição de
conselhos consultivos por área profissional, que funcionariam como órgãos
assessores da direção da escola e contariam com representantes do setor
produtivo.
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207 CONCLUSÕES O Rio de Janeiro é o Estado brasileiro que