Para uma redefinição de Letramento Crítico
MENEZES DE SOUZA, Lynn Mario T. Para uma redefinição de Letramento Crítico:
conflito e produção de Significação. In: MACIEL, Ruberval Franco; ARAUJO, Vanessa
de Assis (Orgs.) Formação de professores de línguas: ampliando perspectivas. Jundiaí:
Paco editorial, 2011.
Menezes de Souza (2011) inicia suas reflexões lembrando nos dos conflitos e
justaposição entre culturas causadas pelo mundo globalizado contemporâneo. Com isso,
torna-se importante que a escola prepare os alunos a lidar com os conflitos causados
pelas diferenças, através do letramento crítico. No entanto, ressalta o autor, é
imprescindível compreendermos qual o real sentido de letramento crítico, sendo seu
objeto no presente texto redefinir o conceito de crítico, como enfoque e ênfase em seu
aspecto temporal e histórico, político e ético.
Por crítico, Menezes e Souza (2011 p. 130) nos remete aos pressupostos de Paulo Freire
(2005:242), principalmente no que concerne ao significado de conscientização trazido
por esse autor:
[...] a conscientização não era outra coisa senão o esforço da compreensão do mundo
histórico-social sobre que se está intervindo ou se pretende intervir politicamente. O
mesmo ocorre com a compreensão de um texto de cuja invenção os leitores não podem
escapar, embora respeitando o trabalho realizado, neste sentido, por seu autor. Não há
realmente, prática educativa que não seja um ato de conhecimento e não de
transferência de conhecimento. Um ato de que o educando seja um dos sujeitos críticos.
O ato de compreender um objeto (ou situação) para Freire pode acontecer de forma
ingênua ou rigorosa. Assim, o autor difere as duas formas de analisar um mesmo objeto:
“uma coisa é exercer minha curiosidade diante [de um objeto] de uma forma ingênua e
outra coisa é exercer essa curiosidade diante do mesmo [ob-jeto] de uma forma mais
rigorosa, criticamente” (FREIRE, 2005:151).
Mediante observação rigorosa o sujeito leitor é capaz de diferenciar o senso comum e
aprender a ouvir o que o texto quer dizer. É nesse interim que a ação pedagógica tornase primordial, no sentido de “promover o afastamento das leituras ingênuas do mundo
para desenvolver leituras mais críticas” (MENEZES DE SOUZA, 2011 p. 132),
lembrando que “não é falando que eu aprendo a falar, mas escutando que eu aprendo a
falar” (FREIRE, 2005, p. 157).
A fim de aprender a escutar para aprender a falar, que nos desenvolvemos como pessoas
críticas, enfatiza o autor. Mais uma vez Menezes de Souza (2011, p. 132) se remete a
Freire para explicar o “eu” e o “não eu” na constituição identitária de uma sociedade.
Precisamos nos compreender como único e parte de um todo, pois “foi exatamente o
mundo, como contrário de mim, que disse a mim você é você” (FREIRE 2005, p. 252).
São as diferenças que nos faz ser individual, em outras palavras Freire (2005, p. 149)
explica que “não é a partir de mim que eu conheço você... é o contrário. A partir da
descoberta de você como não-eu meu, que eu me volto sobre mim e me percebo como
eu e, ao mesmo tempo, enquanto eu de mim, eu vivo o tu de você”.
Em retomada ao conceito de Letramento Crítico, Menezes de Souza (2011, p. 133)
pontua que é papel da escola ensinar o sujeito a escutar/ouvir, para que perceba que seu
mundo, suas palavras (valores e significados) “se originam na coletividade sóciohistórica na qual nasceu e a qual pertence. A tarefa de letramento crítico seria então a de
desenvolver essa percepção e entendimento”.
O sentido de Letramento Crítico defendido por Menezes de Souza (2011, p. 133) nos
alerta de que o
[...] o processo de ler criticamente envolve aprender a escutar não apenas o texto e as
palavras que o leitor estiver lendo mas também - e talvez mais crucialmente no mundo
de conflitos e diferenças de hoje - aprender a escutar as próprias leituras de textos e
palavras. Isso quer dizer que ao mesmo tempo em que se aprender a escutar, é preciso
aprender a se ouvir escutando.
Nesse sentido, o autor chama a nossa atenção para procurar perceber não apenas como o
autor produziu determinados significados que tem origem em seu contexto e seu
pertencimento sócio-histórico, mas ao mesmo tempo, (2) perceber como, enquanto
leitores, a nossa percepção desses significados e de seu contexto sócio-histórico está
inseparável de nosso próprio contexto sócio-histórico e os significados que dele
adquirimos.
Cabe ao Letramento Crítico instigar o leitor/autor na compreensão de que a história não
é coisa do passado, ela “constitui e afeta a percepção do presente” (p. 137). Ao se
conscientizar de que o passado influencia na produção de significados de ações
presentes, somos capazes de transformar atitudes negativas para a atualidade em
atitudes mais desejáveis diante do contexto sócio-histórico atual e para o futuro. Trata
do ato de reconhecer o hoje à luz do ontem para projetar o amanhã.
Menezes e Souza (2011, p. 138) esclarece como ocorre a produção de significado.
Como enfatizado ao longo do texto, essa produção ocorre em “contextos sóciohistóricos específicos produto de determinadas comunidades e suas histórias, cada
produção de significação de cada comunidade adquire então sua validade apenas em
dado momento histórico dessa comunidade”. Sendo assim, a produção de significado
defende diretamente do contexto sócio-histórico que é produzido e do tempo em que tal
produção ocorre.
O autor traça sugestões de como ensinar/aprender a lidar com conflito e confronto
diante de diferenças. Primeiramente, temos que ter claro que as verdades e valores do
outro tem uma origem na comunidade e realidade social, que são igualmente
fundamentados como os nossos valores e verdades. Ou seja, devemos ter consciência do
“não eu” e conscientizar o aluno de que o eu se constitui do não eu, que devemos
respeitar. Diante de situações de conflito devemos saber escutar o outro e a nós mesmo
escutando. O que para Menezes de Souza (2011, p.141),
[...] a escuta cuidadosa e crítica nos levará a perceber que nada disso eliminará a
diferença entre nós mesmos e o outro, e nos levará a procurar outras formas de interação
e convivência pacífica com as diferenças que não resultem nem no confronto direto e
nem na busca de uma harmoniosa eliminação das diferenças.
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