INCUBAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS POPULARES INTEGRANTES
DA REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES-RJ
Paulo Roberto Nagipe da Silva1; Nilza Franco Portela2; Jaílse Vasconcellos
Tougeiro2; Elton Moisés Bernardo de Oliveira2; Rogério Ribeiro de Castro2;
Rachel Fiuza Batista2; Eduardo Machado Mothé2; Gabriel Riso Oliveira 2; Larissa
Nogueira Santos 2
1
Coordenador do Projeto, [email protected]
Equipe da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares -ITEP/UENF,
[email protected]
2
Resumo
Esta ação de extensão da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares (ITEP)
da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) está direcionada a
incubação de empreendimentos populares com potencial econômico e cooperativo, com
perfil de empreendimentos autogestionário da economia solidária, objetivando aumentar a
capacidade de autogestão, organização formal, melhoria do processo produtivo e de
comercialização. Estas ações estão ligadas a dois grupos incubados formalmente na ITEP:
Associação de Mulheres Empreendedoras de Campos dos Goytacazes (AME) e a
Cooperativa de Costureiras de Rio Preto (CCRP). A meta para 12 meses é incubar mais
dois grupos a ser selecionado dentre os participantes da Rede de Economia Solidária de
Campos dos Goytacazes. O trabalho de incubação envolve apoio na formação e
capacitação integrantes de cada grupo, assessoria técnica e de gestão e melhoria da
infraestrutura de produção para, assim, diversificar e ampliar o processo de comercialização.
A metodologia (pesquisa-ação) busca se adaptar as condições locais de educação e cultura,
para que a tecnologia seja realmente entendida, absorvida e utilizada. Outro aspecto
metodológico é o da incubação propriamente dita que está baseada em experiências de
outras incubadoras universitárias e em metodologia própria da ITEP.
Palavras-chave: Economia solidária; inovação social; metodologia de incubação.
Introdução
A Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares ITEP/UENF atua com
incubação desde 2009 e tem como meta apoiar a criação de grupos cooperativos
autogestionários através da disponibilização de assessoria técnica de gestão e formação.
Busca ainda difundir e transferir novas tecnologias e metodologias para os
empreendimentos e a política pública de economia solidária. A proposta de incubação
consiste na produção, e aplicação conjunta por parte da incubadora e dos membros da
cooperativa, do conhecimento necessário para o desenvolvimento da cooperativa e do
empreendimento. Essa atividade demanda a realização de reuniões semanais com os
grupos, preparação de cursos específicos segundo natureza do empreendimento incubado,
articulação com outras políticas públicas de inserção social, e fortalecimento da cidadania
participativa dos grupos, mas tem dificuldades de se inserir no modelo tradicional de
produção capitalista. A Economia Solidária pode ser um caminho para ajudar estas pessoas
a saírem da condição de pobreza e falta de trabalho.
A Economia Solidária, segundo Singer (2002), foi “inventada” como uma reação aos
efeitos negativos do início da Revolução Industrial na Europa. Com a utilização em larga
escala das máquinas a vapor e mecanização de processos, muitas pessoas não se
inseriram neste novo modelo e acabaram desempregados e na miséria. Segundo conceito
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do Ministério do Trabalho e Emprego (2012), economia solidária é entendida como “um jeito
diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver”.
Segundo Singer (2002) o cooperativismo popular seria a principal forma de
expressão da economia solidária e é também uma reação dos trabalhadores contra a
massificação do desemprego e o alargamento das fronteiras de exclusão social, decorrentes
da ampliação das fronteiras tecnológicas ou das depressões econômicas.
Para Gandolfi, Palafox, Martins, Ferrari & Britto (2009), a economia solidária tem
fortes vínculos entre movimentos sociais e empreendimentos econômicos solidários que,
com uma nova concepção dos meios de produção – comercialização – consumo -,
possibilitou a criação de novos empregos e combate a exclusão social. Também foi de
grande importância a criação no ano de 2003 da Secretaria Nacional de Economia Solidária
(SENAES) que está na esfera do Ministério do Trabalho e Emprego, com a publicação da
Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída pelo Decreto n° 4.764, de 24 de junho de
2003 (MTE, 2012).
Uma das experiências pioneiras de Incubadora Universitária é a Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de PósGraduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). A ITCP/COPPE/UFRJ é um programa de extensão da Universidade que reúne
professores, técnicos administrativos da universidade, técnicos externos contratados
(normalmente alunos recém formados) e estudante bolsistas das mais diversas áreas tendo
como missão a capacitação e assessoria às cooperativas populares situadas, no Rio de
Janeiro, como em outras áreas pobres do Brasil. Atualmente, a ITCP/COPPE/UFRJ tem
trabalhado no que vem chamando de transferência de tecnologia a demais instituições
públicas, ou seja, construindo novas incubadores dentro de prefeituras ou secretarias de
governo. A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) participou do
referido processo de transferência de tecnologia, implantando o Programa de Extensão
Universitária Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares (ITEP), no ano de
2008.
Neste contexto a ITEP tem buscado criar seu modelo de incubação direcionada para
grupos ligados a economia solidária. Tem aliado a metodologia de incubação desenvolvida
pela ITCP/COPPE/UFRJ (ITCP, 2007) que analisa a viabilidade econômica e viabilidade
cooperativa do grupo e uma metodologia própria que inclui assessoria e gestão direta,
formação com linguagem e intercâmbios com outros grupos cooperados considerados como
modelo de sucesso. Entre outras coisas, o processo de incubação prevê a formulação, de
forma participativa, de um plano de negócios, cursos de capacitação, produção de material
didático e acompanhamento técnico. Os temas a serem abordados serão: metodologia de
incubação; capital social; planejamento e controle da produção; controle e melhoria da
qualidade; gestão administrativa.
Metodologia
A base das ações é orientada pelos princípios da pesquisa-ação, onde concepção e
organização do trabalho apresentam fases que não são rigorosamente sequenciais, sendo
seu planejamento flexível e passível de adequação às necessidades do pesquisador e dos
participantes (THIOLLENT, 1992).
A incubação compreende a realização de encontros, cursos, e atividades de gestão
dos empreendimentos e de fortalecimento do cooperativismo entre os grupos. As atividades
são realizadas com a participação de alunos graduação da UENF e de bolsistas da
Universidade Aberta. Utilizamos estratégias de educação popular onde os recursos didáticos
são construídos pela equipe envolvida, utilizando, quando possível, reaproveitamento de
material, bem como recursos de multimídia. Os cursos e reuniões são realizados nas
dependências dos grupos incubados e nas dependências da UENF.
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O processo de incubação da ITEP se inicia com a pré-incubação, fase em que a
equipe da incubadora se aproxima do grupo tentando quebrar as barreiras e desconfianças
que por ventura possam existir, bem como coletar informações sobre as características e
atividades do grupo, suas necessidades atuais e seus interesses futuros.
A segunda etapa, ou incubação propriamente dita, inicia-se com a concordância do
grupo em se tornar parceira da incubadora e ser incubada. Essa aceitação é representada
com a assinatura do contrato de incubação por doze meses (prorrogáveis por mais 12
meses). Parte-se então para a elaboração do Plano de Desenvolvimento do Grupo (PDG),
que também pode ser entendido como um “plano de negócios”. O processo compreende na
realização entre três a cinco encontros para elaboração do Plano de Desenvolvimento do
Grupo (PDG). Esta atividade já foi feita com a AME e está em processo na Cooperativa de
Costureiras de Rio Preto. De acordo com o andamento dos trabalhos se insere a fase de
cursos e capacitação para fortalecer o grupo e o empreendimento. Esse processo deve ser
acordado com a comunidade, respeitando suas limitações educacionais, de recursos e de
tempo.
Nesta etapa também se insere o acompanhamento técnico, de formação e
orientação durante o processo produtivo. É feita uma etapa de preparação do grupo, de
comum acordo com o mesmo, respeitando suas limitações educacionais, de recursos e de
tempo, por meio de um ciclo de capacitação baseado num tripé: Fortalecimento do Grupo,
Fortalecimento do Empreendimento, Fortalecimento da Cidadania – Educação – Informação:
a) Fortalecimento do Grupo: oficinas sobre cooperação e capital social, associativismo,
cooperativismo, fatores de sucesso na formação e manutenção de grupos produtivos. b)
Fortalecimento do Empreendimento: oficinas sobre legalização do negócio, legislação,
organização de cooperativa; cursos sobre empreendedorismo, planejamento do negócio,
custo de produção, controle financeiro, controle da produção, mercado e comercialização. c)
Fortalecimento da Cidadania – Educação - Informação: noções básicas de informática e
internet, letramento, noções de matemática; palestras, seminários e debates.
A terceira etapa é o acompanhamento pós-incubação, mantendo-se uma relação
com a ITEP pela Rede Solidária Norte Fluminense.
Resultados e Discussões
Desafio deste projeto que estimula a equipe da incubadora é de como superar
algumas das principais deficiências encontradas nos grupos incubados: carência
tecnológica, carência educacional e carência de capital social. Além do conhecimento
científico disponível, o grupo de incubação produtiva utiliza-se da experiência diária com os
grupos, do conhecimento trocado, das características particulares, para traçar suas
estratégias e aperfeiçoar sua metodologia de incubação. Ocorreram diálogos de saberes em
cada encontro, a fim de aperfeiçoar o processo produtivo, buscando a compreensão coletiva
sobre a apresentação e comercialização dos produtos, além de contribuir significativamente
para um aprendizado que surge entre as adversidades de conhecimentos. Este
conhecimento científico e a tecnologia estão sendo adequados a uma linguagem acessível
os grupos assistidos. A necessidade de tornar o linguajar acadêmico mais acessível é um
desafio que estimula e realimenta a busca pelo aprimoramento na própria metodologia de
incubação.
Além de apoiar os demais projetos da ITEP, o grupo de incubação produtiva trabalha
atualmente com dois grupos incubados, a Associação de Mulheres Empreendedoras de
Campos dos Goytacazes (AME) e a Cooperativa de Costureiras e Artesãs de Rio Preto
(CCARP).
A AME, o primeiro grupo incubado pela ITEP, foi criado em 2008, a partir de cursos
de capacitação organizados pelo programa Rio Trabalho e Empreendedorismo e também
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pelo SEBRAE. Nestes cursos as artesãs se conheceram e descobriram que tinham sonhos
semelhantes, partindo daí a ideia de se organizarem por meio de uma associação. A AME
foi incubada com 19 artesãs. Atualmente é formado por doze mulheres que desenvolvem
artesanato com bagaço de cana para fabricação de peças de decoração, utilidades
domésticas, embalagens e moda. Suas instalações estão localizadas em uma sala no
campus da universidade. O aperfeiçoamento das peças e do processo produtivo é evidente
e vigoroso. Mesmo com estes resultados o grupo se fechou para novos membros e não
cogita a formalização do empreendimento. A ITEP irá apresentar as novas regras de
formação de cooperativas aprovadas recentemente no Congresso Nacional.
O outro grupo, a CCAPR, é constituído por quarenta pessoas que desenvolvem
atividades ligadas à costura. Esse grupo foi fundado em 2009, na localidade de Rio Preto,
distrito de Morangaba, no município de Campos dos Goytacazes, como parte de das ações
desenvolvidas por uma ONG local. Este grupo iniciou o processo de incubação no ano de
2011 com oito mulheres que mantinham afinidades e sonho de fortalecer uma iniciativa
econômica no território de Rio Preto. A cooperativa iniciou suas atividades com a produção
artesanal de bolsas feitas com material reciclado (banners) e no ano de 2012 fez parceria
com uma empresa de confecção de uniformes industriais (facção), que transferiu parte da
sua produção para as instalações da cooperativa. Este período inicial de costura por facção
houve uma procura por espaço de trabalho no território de Rio elevando o número de
cooperadas para 59, estabilizando em 40 e atuantes em postos de trabalho na planta
industrial estão 26 cooperadas.
Para o grupo da CCARP não há uma boa perspectiva de estabilização econômica
por vários fatores, entre eles está a necessidade de um conjunto de máquinas de costura
(terceiros) e de uma planta industrial própria. Este é o maior desafio deste grupo até o mês
de dezembro de 2012.
Além de reforçar o cooperativismo entre os membros dos grupos, o corpo técnico da
ITEP auxilia a AME e a CCARP nas questões da gestão administrativa e gestão da
produção. Em 2011 e 2012 os dois grupos participaram de feiras de economia solidária, e a
CCARP de visita técnica a cooperativas de facção no município de Rio das Flôres/RJ.
Ainda não foram identificados grupos ligados a Rede Solidária Norte
Fluminense com potencial para a incubação.
Conclusões
O projeto tem oportunizado para que estudantes de cursos da UENF e dos bolsistas
do Programa Universidade Aberta vivenciarem a articulação do saber da academia com
uma realidade concreta. Além de experimentarem o desenvolvimento de um trabalho em
equipe e da discussão de temas transversais como ética, solidariedade, cooperação,
cidadania, cultura, diversidade dentre outros, os alunos serão desafiados a observarem a
realidade dos grupos na perspectiva de suas áreas de conhecimento.
Para os grupos incubados ficou evidenciado que todo o conjunto de intervenções
realizadas contribuiu para o fortalecimento dos grupos uma vez que, mesmo havendo a
redução do número de participantes estes coletivo conseguiram alcançar uma organização e
afinidade entre ele, tal relação é percebida nas falas dessas pessoas e instrumentos de
pesquisa.
Os grupos de artesãos organizados de nossa região carecem de atenção para suas
demandas nos aspectos de organização coletiva e gestão do negócio, que precisam ser
entendidas pelas agências de fomento e desenvolvimento além das universidades
existentes no tocante a microcrédito e transferência de tecnologias sociais.
Formular uma metodologia de incubação que incorpore uma linguagem técnica
acessível é um desafio à pesquisa universitária, para resolver as necessidades reais e
imediatas dos grupos autogestionários.
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A ITEP cumpre o papel de integrar a Universidade com a comunidade, observando e
analisando as carências e demandas da parcela da sociedade com perfil de economia
solidária, trocando experiências e conhecimento, fazendo com que os grupos organizados
possam ter independência e sustentabilidade.
Referências
GANDOLFI, E. Empreendimentos solidários como alternativa para a geração de trabalho e
renda: a experiência da ines / ufu. Em Extensão, Uberlândia, v. 8, n. 1, p. 159 – 173, 2009.
ITEP. Relatório de Atividades 2011. PROEX/ ITEP - Incubadora Tecnológica de
Empreendimentos Populares, 2012.
ITCP (2007). Programa de Incubação. Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares.
ITCP-COPPE-UFRJ.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Disponível: <http://www3.mte.gov.br/
ecosolidaria/ecosolidaria_oque.asp> .Acesso em: 3 Jun. 2012.
SINGER, P. Introdução à Economia solidária. 1. ed. São Paulo: Perseu Abramo, 2002.
____________. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil, B.S. Santos (org),
Produzir para viver. Os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002. Disponível em: < http://www.ceeja.ufscar.br/a-recente-ressurreicao-singer
>. Acesso em 15 jun. 2012.
THIOLLENT, M. Pesquisa-Ação nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1997.
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