UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA – ANOS INICIAIS
THAISE ROCHA DE OLIVEIRA
A IMAGEM DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA UTILIZADO PELA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SALVADOR – BA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
Salvador
2009
THAISE ROCHA DE OLIVEIRA
A IMAGEM DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA UTILIZADO PELA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SALVADOR – BA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção da graduação do Curso de Pedagogia com
Habilitação em Anos Iniciais do Departamento de
Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob
orientação do Prof.º Dr. Raphael Rodrigues Vieira
Filho.
Salvador
2009
THAISE ROCHA DE OLIVEIRA
A IMAGEM DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA UTILIZADO PELA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SALVADOR – BA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção da graduação em Pedagogia com
Habilitação em Anos Iniciais do Departamento de
Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob
orientação do Prof.º Dr. Raphael Rodrigues Vieira
Filho.
Aprovada em ___/___/___
Banca examinadora:
Prof.º Dr.º Raphael Rodrigues Vieira Filho – Orientador
Dedico este trabalho a todos que de alguma
forma lutam contra o racismo, o preconceito e as
desigualdades que afligem principalmente a
população majoritária do país: o povo negro. A
vocês, minha estima especial!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e pela força que me move e
impulsiona, a cada dia, a lutar pelos meus sonhos e ideais.
Aos meus pais, Edilene e Ózeas Oliveira, pela dedicação em todos estes anos. À
minha mãe, agradeço os esforços dispensados em prol da minha graduação e ao
meu pai pela compreensão e contribuição nos momentos de labuta.
Agradeço a minha irmã, Milena Oliveira, pela paciência e escuta nos momentos de
grande tensão.
Ao meu namorado André Frutuôso, pelo apoio, carinho e incentivo ofertado
principalmente nos momentos mais difíceis.
À Nevesnária Costa, minha sogra, e à minha avó Tereza Barbosa, pelas orações.
Agradeço a todas as minhas companheiras do Curso de Pedagogia, em especial
Jaciara Pereira, Jaíze Santos, Denise Leal, Ana Patrícia Vieira e Natalli Soeiro por
colaborar com minha formação acadêmica e pessoal.
A Diretora da Escola Municipal de Bom Juá, Srª Marisa Braga, que gentilmente
cedeu os livros que fazem parte da amostra dessa pesquisa.
A Anaildes Jesus, André Frutuôso, Jaciara Pereira, Deanes Reis e Iracema de
Jesus, que também viabilizaram a aquisição de livros didáticos de história utilizados
pela Rede Municipal de Ensino no ano de 2008.
Ao orientador Prof.º Dr. Raphael Rodrigues Vieira Filho pela dedicação durante a
realização deste trabalho.
A todos, o meu muito obrigada!
Este trabalho visa desconstruir as antigas imagens
negativas de fragilidade e de fraqueza da população
negra, deixadas pela historiografia oficial da época
escravista e colonial, substituindo-as pelas novas
imagens positivas que destacam as contribuições
significativas e participação ativa do negro na
construção do Brasil de todos os tempos, graças a
uma resistência contínua e sem trégua.
Kabengele Munanga (2004, p.08)
RESUMO
O presente trabalho visa analisar a imagem do negro nas ilustrações e textos
contidos nos livros didáticos da Coleção Conhecer e Crescer de História adotado no
ano de 2008 pela Escola Municipal de Bom Juá pertencente a rede municipal de
ensino da cidade de Salvador. Os pressupostos teórico-metodológicos consistem na
abordagem qualitativa e técnica de análise de conteúdo para analisar as ilustrações
e os textos. A primeira etapa da pesquisa consistiu na escolha da amostra a ser
analisada. De um universo de quatro coleções de livros de História utilizados pela
Rede Municipal de Salvador, foi escolhida a coleção que apresentava uma maior
freqüência de textos e ilustrações com menção ao negro. Foi realizada uma
pequena revisão bibliográfica. Em seguida, foram elencadas algumas categorias
para análise fundamentadas nos estudos da Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva e
acrescentei outras de meu interesse. Nos livros constatei a presença de
personagens negros assim como a história de escravidão, luta e resistência do povo
negro contra o regime escravista. Por fim, os dados foram analisados e interpretados
como sugeridos pelas bases teóricas.
Palavras-chave: Livro didático; personagens negros; luta e resistência do povo
negro; regime escravista.
ABSTRACT
This study aims to analyze the image of the black in the illustrations and texts
contained in the textbooks and Meet Growing Collection of History in the year 2008
adopted by the Municipal School of Bom Jua belonging to the municipal system of
education in the city of Salvador. The assumptions are the theoretical and
methodological approach and technical quality of content analysis to examine the
illustrations and texts. The first stage of the research consisted in choosing the
sample to be analyzed. From a universe of four collections of the history books used
by the Network City of Salvador, was chosen collection that had a higher frequency
of texts and illustrations with reference to black. We performed a short review. Next,
we listed some categories for analysis based on studies of Prof.. Dr ª Ana Célia da
Silva and others added to my interest. Books found the presence of black characters
and the story of slavery, struggle and resistance of black people against the slave
system. Finally, data were analyzed and interpreted as suggested by the theoretical
bases.
Keywords: Textbooks; black characters, struggle and resistance of black people,
slave regime.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Crianças no parque .............................................................................20
Figura 2 – Telefone sem fio ..................................................................................20
Figura 3 – Passeio no cinema ..............................................................................21
Figura 4 – O pai e seus filhos ...............................................................................21
Figura 5 – Sala de aula ..........................................................................................21
Figura 6 – Pesquisando na biblioteca .................................................................21
Figura 7 – Bebê negro ...........................................................................................21
Figura 8 – Interior de uma casa brasileira no período 1814-1816 .....................22
Figura 9 e 10 – Senzalas ........................................................................................22
Figura 11 – Montando uma exposição .................................................................23
Figura 12 – Janaína e sua boneca ........................................................................24
Figura 13 – Carlos e seu cachorro .......................................................................24
Figura 14 – Localização no espaço ......................................................................25
Figura 15 – Amas e babás .....................................................................................25
Figura 16 – O jantar, Jean Debret, 1834-1839 ......................................................26
Figura 17 – Loja de barbeiro, Jean-Baptiste Debret, sem data ..........................26
Figura 18 – Meninos brincando no Quilombo Pascoval, Pará, 1995 .................27
Figura 19 – Escrava de ganho e seu filho ............................................................28
Figura 20 – A professora e seus alunos ..............................................................28
Figura 21 – Personagens negros em 1º lugar nas ilustrações ..........................29
Figura 22 – Uma família brasileira, Henry Chamberlain, 1819 ...........................29
Figura 23 – Uma senhora brasileira em seu lar ...................................................30
Figura 24 – Negris novos, Johann Moritz Rugendas ..........................................30
Figura 25 – Escravos de ganho ............................................................................31
Figura 26 – Desembarque de escravos, Johann Moritz Rugendas ...................31
Figura 27 – Mercado de escravos, Johann Moritz Rugendas ............................32
Figura 28 – Loja da rua do Valongo, Jean Baptiste Debret ................................32
Figura 29 – Escravos chicoteados por ordem de seus senhores, Jacques
Arago, s/d ...........................................................................................32
Figura 30 – Castigo de escravos, Jacques Arago, 1839 .....................................33
Figura 31 – Ilustração da capa ..............................................................................34
Figura 32 – Reflexo no espelho ............................................................................34
Figura 33 – Analisando pinturas rupestres .........................................................35
Figura 34 – Cantando e dançando juntos ............................................................35
Figura 35 – Maquete sobre o “Descobrimento do Brasil” ..................................35
Figura 36 – Da Terra Brasilis aos Engenhos Coloniais: uma história de luta e
resistência ...........................................................................................36
Figura 37 – Interpretação do texto por parte da garota branca .........................37
Figura 38 – Interpretação do texto por parte da garota negra ...........................37
Figura 39 – Gravuras: J. M. Rugendas. Viagem pitoresca através do Brasil....38
Figura 40 – O continente africano ........................................................................39
Figura 41 – Negros no fundo do porão, Johann Moritz Rugendas,1835 ..........40
Figura 42 – Mercado de negros, Johann Rugendas, 1835 .................................40
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ............................................................................ 12
2
A IMAGEM DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE
HISTÓRIA UTILIZADO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI ................ 14
2.1
A construção das categorias de análise ................................ 15
2.1.1 A descrição e freqüência das categorias de análise dos textos e
ilustrações ............................................................................................. 15
3
A ANÁLISE DOS DADOS: A IMAGEM DO NEGRO NOS
LIVROS ANALISADOS .............................................................. 19
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 42
REFERÊNCIAS .......................................................................... 48
APÊNDICE A – Relação dos livros analisados durante a pesquisa .. 51
APÊNDICE B – Freqüência e distribuição das categorias e subcategorias de análise ................................................................................ 52
APÊNDICE C – Localização das categorias e subcategorias nos
livros analisados por página .......................................................... 55
12
1 INTRODUÇÃO
O interesse em pesquisar a imagem do negro no livro didático de História utilizado
pela Rede de Ensino Municipal de Salvador provém de uma inquietação: Porque
muitos brasileiros negam a sua identidade?
A escola como representação da sociedade, não nos permite conhecer a história de
nossos antepassados contribuindo, muitas vezes, para a disseminação de
estereótipos negativos e alimentando a força da política de embranquecimento. A
historiografia oficial, além de reduzir a contribuição do negro na sociedade como
mero coadjuvante no processo de enriquecimento do país e apresentar a Cultura
Africana e Afro-brasileira de forma estereotipada e folclorizada, ainda apresenta uma
África homogênea.
O livro didático se constitui, ainda hoje, como o principal instrumento pedagógico nas
mãos dos professores e muitas vezes é a única fonte de leitura de crianças oriundas
de classes populares. Sendo o livro um veículo de comunicação e expressão, este
pode se tornar um aliado ou um vilão na formação da identidade e auto-estima de
crianças negras ou até mesmo disseminar o racismo e a rejeição étnico-raciais
através dos estereótipos e do reducionismo histórico da cultura em questão.
A Lei 10639/03, que entrou em vigor em 09 de janeiro de 2003, tornou obrigatório o
ensino da História da África e dos Afro-brasileiros nos níveis de ensino fundamental
e médio; o que torna inevitável para a escola e para a sociedade negar a
importância dos povos africanos na formação do povo brasileiro, principalmente na
construção de nossa cultura e identidade ainda tão desqualificada na historiografia
oficial.
Acredito que ao valorizar a verdadeira história do negro, poderemos combater o
racismo, a auto-rejeição e a rejeição do outro que lhe assemelha com as mesmas
características
étnico-raciais.
Afinal,
“resgatar
a
nossa
memória
significa
resgatarmos a nós mesmos da armadilha da negação e do esquecimento, significa
13
estarmos reafirmando a nossa presença ativa na história pan-africana e na realidade
universal dos seres humanos [...]” (NASCIMENTO apud BENTO, 2005, p.42).
Fazer da história de luta e resistência do povo negro bandeira contra o mito da
democracia racial, é imprescindível para desmistificar as ideologias que favorecem
ainda hoje as classes burguesas.
Sendo assim, tive por objetivo analisar a imagem do negro nas ilustrações e textos
contidos nos livros didáticos de História; Estabelecer uma relação com as pesquisas
realizadas pela Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva em relação a representação do negro
nos livros de Língua Portuguesa e identificar como a historiografia oficial conta a
história dos negros trazidos ao Brasil.
Para a realização deste trabalho foi utilizada a abordagem qualitativa a partir da
técnica de análise de conteúdo e pesquisa bibliográfica.
A análise de conteúdo ou documental “busca identificar informações factuais nos
documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse” (CAULLEY, apud
LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38). Assim como, apresentam uma série de vantagens: é
uma fonte estável e rica; pode ser consultado inúmeras vezes; pode servir de base
para diferentes estudos e servem de evidência para afirmações e declarações do
pesquisador (GUBA; LINCOLN, apud LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.39).
A pesquisa também fez um levantamento da bibliografia publicada e que tem relação
com o tema em estudo. Sua finalidade foi colocar o pesquisador em contato direto
com aquilo que foi escrito sobre os assuntos relacionados à pesquisa. A pesquisa foi
fundamentada nos seguintes autores: Silva (1989), (2001), (2004); Munanga (2004),
Gomes (2004), Luz (1989), (2000), (2002), (2004),(2005), Luz (1989), (2001), Bento
(2002), entre outros que influenciaram a confecção deste trabalho.
O corpo deste trabalho está organizado da seguinte maneira: na parte que se segue,
traço o panorama das pesquisas realizadas pela Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva e a
ênfase deste trabalho.
14
Depois segue um texto que se constitui da análise e interpretação dos dados obtidos
com a pesquisa e na última parte são tecidas as considerações finais, seguidas
pelas referências e apêndice.
15
2 A IMAGEM DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA
UTILIZADO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
Como parâmetro norteador deste trabalho foi utilizado para a pesquisa e análise, os
trabalhos da Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva com o intuito de estabelecer uma
comparação entre a análise do livro didático de língua portuguesa e o livro didático
de história utilizado no Ensino Fundamental.
A primeira pesquisa realizada pela Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva intitulada “O
estereótipo e o preconceito em relação ao negro no livro de Comunicação e
Expressão de 1º grau, nível I” elaborada como crédito parcial para obtenção do grau
de Mestre em educação da UFBA em 1988, resultou no livro “A discriminação do
negro no livro didático” o qual traça um diagnóstico acerca da discriminação, racismo
e da ideologia do branqueamento nele veiculado através dos estereótipos
relacionados ao negro. (SILVA, 2001)
Já a segunda pesquisa que tem por título “Se eles fazem, eu desfaço: uma proposta
de correção dos estereótipos no livro didático”, Ana Célia da Silva visava
desconstruir os estereótipos negativos em relação ao negro levando os docentes a
uma análise crítica em torno dos livros didáticos adotados na amostra da pesquisa
anterior. Essa pesquisa também resultou em um livro publicado em 2001 com o
título “Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático”. (SILVA, 2001)
Durante o doutoramento, a Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva investigou as mudanças na
representação do negro no livro didático e os determinantes dessas transformações,
o que resultou na tese “As transformações da representação social do negro no livro
didático e seus determinantes”. (SILVA, 2001)
Diferentemente da primeira pesquisa realizada pela pesquisadora citada, os livros
por mim analisados ilustram uma quantidade significativa de personagens negros
sem caricatura e sem associação a animais.
16
Nos livros que analisei, os personagens negros são ilustrados com uma fisionomia
similar aos personagens brancos. A maioria das ilustrações apresentou personagens
negros e brancos com status de classe média.
As ilustrações apresentam crianças negras em integração com crianças de outras
etnias desfrutando o mesmo espaço: na escola, em momentos de lazer, estudo e na
família.
O negro ainda aparece em minoria nas ilustrações com três ou mais personagens.
No entanto, constatou-se crianças no centro, em primeiro ou segundo lugar nas
ilustrações.
O regime escravista adotado no Brasil aparece nos quatro livros que compõem a
amostra dessa pesquisa. As ilustrações são compostas por escravos exercendo
variadas funções. Pouco se retrata os quilombos e as demais formas de resistência
negra ao regime escravista.
2.1 A construção das categorias de análise
Para a realização deste trabalho tive acesso a 5 (cinco) Coleções de Livros
Didáticos de História utilizados pela Rede Municipal de Ensino da Cidade de
Salvador- BA. Por se tratar de um trabalho monográfico, optei em trabalhar com uma
única coleção: a “Coleção conhecer e crescer” da Editora Escala, por ilustrar com
mais freqüência o negro. (VENÂNCIO; ZENUN; MARKUNAS, 2005)
2.1.1 A descrição e freqüência das categorias de análise dos textos e
ilustrações
Segue abaixo, as categorias e subcategorias construídas a partir das pesquisas da
Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva e outras por mim acrescidas:
1. “Sem caricatura”, com 49 freqüências nas ilustrações. Nelas as crianças, jovens e
adultos são apresentados sem traços exagerados e sem deformações.
17
2. “Menção positiva à criança negra”, com 1 freqüência ilustrativa. Ilustração positiva
de um bebê negro sorridente.
3. “Criança negra com nome próprio”, com 7 freqüências nos textos e 3 freqüências
nas ilustrações, sem caráter pejorativo ou menção a cor da pele.
4. “Com constelação familiar”, com 5 freqüências nos textos e 2 freqüências nas
ilustrações,representadas por crianças negras com família constituída por pai,mãe e
irmãos.
5. “Assimilação”, com 47 freqüências nas ilustrações, caracterizada por personagens
negros ilustrados com traços fisionômicos não característicos da sua raça/etnia.
6. “Em interação com outros povos/etnias”, com 2 freqüências nos textos e 29
freqüências nas ilustrações. Nessa categoria, os personagens negros são
apresentados interagindo, em situações diversas, com brancos, amarelos e
orientais.
7. “Práticas de atividades de lazer”, com 1 freqüência no texto e 7 freqüências nas
ilustrações. Os personagens negros aparecem tocando flauta, brincando com
carrinhos, brincando de boneca e passeando com o cachorro.
8. “Em minoria nas ilustrações com 3 e mais de 3 personagens”, com 32 freqüências
caracterizadas pela ilustração de personagens negros ilustrados em minoria nos
grupos com 3 e mais de 3 personagens.
9. “Localização no espaço em primeiro, segundo lugar e no centro das ilustrações”,
com 3 freqüências nos textos e 26 freqüências nas ilustrações. Nessa categoria
crianças, jovens e adultos negros são situados nas ilustrações de grupo em primeiro,
segundo lugar e no centro.
10. “Freqüência à escola”, com 17 freqüências nas ilustrações as quais crianças
negras aparecem indo à escola, na escola, na sala de aula ou estudando.
18
11. “Escravos(as) domésticos”, com 3 freqüências nos textos e 6 freqüências nas
ilustrações, representados por mulheres e homens negros exercendo trabalhos
domésticos na casa-grande.
12. “Trabalho manual”, com 2 freqüências nos textos e 3 freqüências nas ilustrações,
caracterizado por mulher negra tecendo e uma criança com uma enxada.
13. “Senzala”, com 2 freqüências nos textos e 2 freqüências nas ilustrações,
categoria constituída pela representação de homens, mulheres e crianças ilustradas
habitando o mesmo espaço nas terras dos engenhos.
14. “Amas-de-leite”, com 1 freqüência no texto e 4 freqüências nas ilustrações,
mulheres negras amamentando os filhos das mulheres brancas.
15. “Trabalho escravo no engenho”, com 8 freqüências nos textos e 6 freqüências
nas ilustrações, categoria caracterizada por escravos trabalhando na plantação e
produção de açúcar.
16. “Escravas livres/ Escravas de ganho”, com 5 freqüências nos textos e 10
freqüências nas ilustrações, representadas por escravas libertas que trabalhavam
por conta própria, geralmente eram vendedoras de comida e/ou lavadeiras.
17. “Trabalho escravo na mineração”, com 1 freqüência no texto e 1 freqüência
ilustrativa, caracterizado pela extração de ouro e pedras preciosas.
18. “A escravidão na África”, com 4 freqüências no texto, caracterizada pelas
relações de sujeição quanto aos estranhos cativos das guerras e penhorados pelas
próprias famílias.
19. “Quilombos”, com 9 freqüências no texto e 3 freqüências nas ilustrações,
representados por homens, mulheres e crianças ilustradas em um povoado
quilombola.
19
20. “Povos africanos”, com 2 freqüências no texto e 2 freqüências nas ilustrações,
representados por grupos africanos que vieram a o Brasil.
21. “O Continente Africano”, com 3 freqüências no texto e 1 freqüência ilustrativa,
sem homogeneização apresentado como um continente de diferentes paisagens e
povos.
22. “O mercado de escravos”, com 4 freqüências no texto e 6 freqüências nas
ilustrações, caracterizado pelo local em que se vendia e comprava escravos.
Das categorias acima descritas, foram por mim acrescidas: “Escravos(as)
domésticos”, “Trabalho manual”, “Senzala”, “Amas-de-leite”, “Trabalho escravo no
engenho”, “Escravas livres/ Escravas de ganho”, “Trabalho escravo na mineração”,
“A escravidão na África”, “Quilombos”, “Povos africanos”, “O Continente Africano” e
“O mercado de escravos” por ser de meu interesse analisar a maneira que a História
Africana e Afro-Brasileira e as relações étnico-raciais são difundidas no livro didático
de História utilizado no Ensino Fundamental. Sendo assim, as demais categorias
foram extraídas de pesquisas realizadas pela Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva.
20
3 A ANÁLISE DOS DADOS: A IMAGEM DO NEGRO NOS LIVROS
ANALISADOS
3.1 O livro da 1ª. Série
A amostra da pesquisa é constituída pela Coleção Conhecer e Crescer de História
da Editora Escala Educacional composta por 4 livros de 1ª a 4ª série. Segue abaixo,
a análise de cada livro.
Livro: Coleção Conhecer e Crescer, História, 1ª série, São Paulo, 1.ed., 2005.
Autoras: Adriana Venâncio, Katsue Zenun e Mônica Markunas.
Responsabilidade Editorial: Vicente Paz Fernandez
Gerência Editorial: Duda Alburqueque
Gerência Comercial: Fabyana Desidério
Projeto Editorial: Studio Escala
Capa: Ullôa Cintra Comunicação Visual e Arquitetura
Ilustração: Alberto Llinares Martin
Este livro é constituído por textos curtos e longos e suas ilustrações são coloridas. O
livro aborda temas relacionados ao dia-a-dia da criança: sua história de vida, sua
família, o lugar onde mora e a escola onde estuda. Os exercícios fazem menção aos
textos que os antecedem.
Os textos, em sua maioria, são descritos e/ou ilustrados com 12 personagens
denominados: Jorge, de origem oriental é ilustrado com uma muleta, Janaína e
Carlos, negros, Luísa, Ana, Andréa, Lucas, Mariana, Vítor, Marcela, Pedro e Gabriel,
brancos. Os personagens brancos foram apresentados 100 vezes, os negros 69
vezes, os orientas 11 e os índios 5 vezes.
Os únicos adultos negros que aparecem no texto são no papel de pai ao lado de
seus filhos com uma bola na mão (p.33), o outro levando a filha ao cinema (p.34) ou
escravizados (p.67, 69 e 70) e a mulher negra só aparece nas ilustrações que
remontam ao período colonial.
21
A criança negra é ilustrada com nome próprio, apresenta traços fisionômicos
equivalentes ao dos personagens brancos e são ilustrados com cabelos crespos. As
crianças negras aparecem em interação com crianças de outras etnias/raças, vão à
escola e praticam atividades de lazer. A família negra é apresentada neste livro por
um casal de filhos e seu pai. Os personagens negros constituem a minoria das
ilustrações, mas são localizados, na maioria das vezes, em primeiro, segundo lugar
ou no centro das ilustrações.
As crianças negras são ilustradas praticando atividades de lazer no texto intitulado
“Você e as outras crianças” o qual apresenta a ilustração de crianças brincando em
um parque. Nele estão Carlos, Janaína e as outras crianças. Cada criança é
ilustrada com nome próprio. E também, brincando de telefone sem fio com uma
criança de outra etnia/raça.
Figura 1 – Crianças no parque (p.6)
Figura 2 – Telefone sem fio (p.55)
O adulto negro é ilustrado indo ao cinema ao lado de uma criança branca e uma
criança negra é ilustrada nesta cena ao lado de uma mulher e uma criança branca.
Esta ilustração acompanha um texto que fala dos grupos familiares diferentes. A
diferença apresentada no texto é decorrente de uniões de famílias oriundas de um
segundo casamento e ao lado de seus filhos com uma bola na mão. Esta ilustração
surge após o seguinte texto: “Também existem famílias fornadas só pela mãe e seus
filhos ou só pelo pai e seus filhos”.
22
Figura 3 – Passeio no cinema (p.34)
Figura 4 – O pai e seus filhos (p.33)
Janaína e Carlos, personagens negros, aparecem em várias ilustrações realizando
atividades escolares ao lado de crianças brancas.
Figura 5 – Sala de aula (p.86) Figura 6 – Pesquisando na biblioteca (p.106)
A criança negra é apresentada de forma positiva na ilustrada por um bebê
sorridente.
Figura 7- Bebê negro (p.92)
23
O período escravista é ilustrado pela reprodução de estampa de Joaquim Cândido
Guillobel. Fiel retrato do interior de uma casa brasileira, 1814-1816 e pelas
reproduções de Johann Moritz Rugendas: Lundu e Negris novos.
Figura 8 – Interior de uma casa brasileira no período 1814-1816
Figura 9 e 10 – Senzalas
Essas ilustrações surgem no capítulo que fala do lugar onde moramos. Nele é feita
uma retrospectiva das primeiras habitações do Brasil levando o aluno a perceber as
diferenças e mudanças das moradias. No entanto, as ilustrações aqui mencionadas
não são utilizadas como fonte de discussão do período escravista. Nesse sentido,
cabe ao docente mediar uma análise crítica das ilustrações levando os discentes a
analisar o período escravocrata e as relações étnicas no período em questão e na
atualidade.
24
3.2 O livro da 2ª. Série
Livro: Coleção Conhecer e Crescer, História, 2ª série, São Paulo, 1.ed., 2005.
Autoras: Adriana Venâncio, Katsue Zenun e Mônica Markunas.
Responsabilidade Editorial: Vicente Paz Fernandez
Gerência Editorial: Duda Alburqueque
Gerência Comercial: Fabyana Desidério
Projeto Editorial: Studio Escala
Capa: Ullôa Cintra Comunicação Visual e Arquitetura
Ilustração: Alberto Llinares Martin
Este livro é constituído, em sua maioria, por textos longos e muitas ilustrações
coloridas. Nele, os personagens brancos foram apresentados 55 vezes, os negros
35, os índios 2 vezes e os orientais uma vez.
Os personagens negros foram apresentados sem caricatura, com nome próprio e
não pejorativo, estudam, freqüentam escola e interagem com crianças de outras
etnias/raças. Os traços fisionômicos ainda são ilustrados de forma assemelhada ao
das crianças brancas, porém o cabelo é ilustrado crespo.
No texto “Histórias de crianças, famílias e escolas” (p.6) o personagem negro é
apresentado em primeiro lugar segurando um álbum. Na ilustração o personagem
negro está montando uma exposição em interação com um oriental e uma criança
branca, entre os documentos coletados estão três fotografias de famílias brancas e
nenhuma família negra foi ilustrada no livro.
Figura 11 – Montando uma exposição p. 6
25
No entanto, a personagem negra denominada Janaína é ilustrada segurando uma
boneca negra e aponta para uma mesa repleta de roupinhas de boneca feitas pela
sua avó. Apenas nesta ilustração faz-se uma menção de elo familiar.
Figura 12 – Janaína e sua boneca p.8
O personagem negro denominado Carlos foi ilustrado brincando com o seu
cachorro.
Figura 13 – Carlos e seu cachorro
Todas as vezes que os personagens negros são ilustrados, eles são apresentados
em primeiro, segundo lugar ou no centro das ilustrações.
26
Figura 14 – Localização no espaço p. 19 e 47
No texto intitulado “Criança de pessoas livres” (p.34) ilustra três amas cuidando de
crianças brancas. As amas eram responsáveis pela amamentação das crianças
brancas, pois esta atividade está associada a um trabalho exaustivo o qual deveria
ser desempenhado por uma escrava, enfatiza o texto.
Figura 15 – Amas e babás p. 34
Em contrapartida, o texto “Crianças filhas de escravos” (p.35) é ilustrado pela
reprodução do quadro O jantar de Jean-Baptiste Debret:
27
Figura 16 – O jantar, Jean Debret, 1834-1839 p.35
O texto “Tem gente que não vai à escola” (p.43) aborda o trabalho infantil na época
escravista em que as crianças, filhas de escravos, trabalhavam e não recebiam nada
em troca. O texto compara o trabalho infantil durante a escravidão com o dos dias
atuais e menciona que as crianças negras já foram proibidas de estudar. Hoje, como
sabemos, a escola tornou-se obrigatória para todas as crianças brasileiras em 1934.
Figura 17 – Loja de barbeiro, Jean-Baptiste Debret, sem data.
No texto “A história destes lugares” (p.63) apresenta no corpo do texto um pouco da
história dos quilombos. O texto cita que os quilombolas são descendentes de antigos
escravos negros que vieram trabalhar como escravos que ao meu ver é um
tremendo erro. Os africanos foram arrancados de suas nações e fizeram-lhe de tudo
para destituí-los de sua identidade e cultura justificada pela teoria de que estes
povos eram primitivos e precisavam ser civilizados apresentando-lhes uma nova
cultura e uma nova religião.
28
Figura 18 – Meninos brincando no Quilombo Pascoval, Alenquer, Pará, 1995.
p.65
O referido texto retrata o quilombo como foco de luta e resistência do povo negro ao
regime escravista. No entanto, houve outras estratégias de luta e organização para
banir a escravidão, as quais o livro não mencionou, como por exemplo, as
explanadas por Munanga e Gomes (2004, p.69):
Insubmissão às regras do trabalho nas roças ou plantações onde
trabalhavam – os movimentos espontâneos de ocupação das terras
disponíveis, revoltas, fugas, abandono das fazendas pelos escravos,
assassinatos de senhores e de suas famílias, abortos, quilombos,
organizações religiosas, entre outras, foram algumas estratégias
utilizadas pelos negros na sua luta contra a escravidão. (MUNANGA;
GOMES, 2004, p.69)
Dessa forma, podemos perceber que os negros escravizados no Brasil construíram uma
história de luta e organização, e não de passividade e apatia como a historiografia oficial
insiste em perpetuar.
3.3 O livro da 3ª. Série
Livro: Coleção Conhecer e Crescer, História, 3ª série, São Paulo, 1.ed., 2005.
Autoras: Adriana Venâncio, Katsue Zenun e Mônica Markunas.
Responsabilidade Editorial: Vicente Paz Fernandez
Gerência Editorial: Duda Alburqueque
Gerência Comercial: Fabyana Desidério
Projeto Editorial: Studio Escala
Capa: Ullôa Cintra Comunicação Visual e Arquitetura
29
Ilustração: Alberto Llinares Martin
O terceiro livro da amostra é muito rico em ilustrações possui textos curtos e longos.
Os personagens foram ilustrados brancos 53 vezes, negros 43 vezes, destas 27
ilustrações na condição de escravo, orientais 7 vezes e índios 11 vezes.
Os personagens negros foram apresentados em algumas ilustrações ainda com a
fisionomia similar aos dos personagens branco. No entanto, surgiram algumas
ilustrações em que o negro foi ilustrado tal qual ele é de fato, sem caricatura e com
traços típicos de sua raça:
Figura 19 – Escrava de ganho e seu filho p.6
No livro, os personagens negros são ilustrados em interação com personagens de
outras etnias/raças:
Figura 20 – A professora e seus alunos p.66
30
Na ilustração acima, o terceiro personagem negro, da esquerda para a direita, é
ilustrado entre dois personagens brancos e um deles está com a mão no ombro da
criança negra demonstrando uma relação mais íntima entre eles. Os personagens
negros continuam sendo minoria nas ilustrações com 3 ou mais de 3 personagens.
Nesta ilustração há 9 personagens destes, apenas 3 são negros.
Em algumas ilustrações deste livro os personagens negros são apresentados em
primeiro lugar nas ilustrações e freqüentam a escola.
Figura 21 – Personagens negros em 1º lugar nas ilustrações p.44 e 45
O período escravista é representado em várias ilustrações:
Os escravos domésticos são reproduzidos segundo o padrão europeu.
Figura 22 – Uma família brasileira, Henry Chamberlain, 1819 p.32
31
Figura 23 – Uma senhora brasileira em seu lar p.59
Na imagem acima, as escravas estão bordando e costurando, um hábito das
mulheres brancas da época. Às vezes, as mulheres brancas pobres também faziam
suas escravas bordarem para venderem os produtos prontos.
Os personagens negros também foram ilustrados em uma senzala.
Figura 24 – Negris novos, Johann Moritz Rugendas p.33
Escravos livres e escravos de ganho são ilustrados vendendo alguns produtos para
o seu sustento ou para dar lucro ao seu senhor.
32
Figura 25 – Escravos de ganho p. 21 e 60
O mercado de escravos também é ilustrado no livro.
Figura 26 – Desembarque de escravos, Johann Moritz Rugendas p. 37
33
Figura 27 – Mercado de escravos, Johann Moritz Rugendas p.63
Figura 28 – Loja da rua do Valongo, Jean Baptiste Debret p.67
O castigo aos negros era a resposta da sociedade onde predominavam os valores e
os direitos das pessoas brancas.
Figura 29 – Escravos chicoteados por ordem de seus senhores, Jacques
Arago, s/d. p.65
34
Figura 30 – Castigo de escravos, Jacques Arago, 1839. p.66
3.4 O livro da 4ª. Série
Livro: Coleção Conhecer e Crescer, História, 4ª série, São Paulo, 1.ed., 2005.
Autoras: Adriana Venâncio, Katsue Zenun e Mônica Markunas.
Responsabilidade Editorial: Vicente Paz Fernandez
Gerência Editorial: Duda Alburqueque
Gerência Comercial: Fabyana Desidério
Projeto Editorial: Studio Escala
Capa: Ullôa Cintra Comunicação Visual e Arquitetura
Ilustração: Alberto Llinares Martin
O último livro da amostra ilustra o branco 31 vezes, o negro 44 vezes, como no livro
anterior, grande parte das ilustrações referem-se à escravidão, os orientais 2 vezes
e os índios 7 vezes.
A capa deste livro é ilustrada por uma personagem negra com traços fisionômicos
similares aos personagens brancos e cabelos crespos segurando um colar de penas
parecido com os colares confeccionados pelos índigenas.
35
Figura 31 – Ilustração da capa
No primeiro texto que compõe este livro intitulado “Diferentes, mas todos brasileiros”
(p.6) ilustra 3 personagens, sendo um deles negro, segurando um espelho. Nesta
ilustração as crianças estão observando o reflexo da própria face no espelho.
Figura 32 – Reflexo no espelho p. 6
Na ilustração acima, apesar do negro ser minoria, ele é ilustrado em primeiro lugar.
No texto “De onde vieram os primeiros povos que habitaram nosso território?” (p.20)
é mencionada a teoria de que os primeiros habitantes da terra surgiram no
continente africano, de onde os grupos humanos espalharam-se para os outros
continentes. Fato que muitas vezes não é mencionado pela historiografia oficial.
36
As crianças negras também foram ilustradas em interação com crianças de outras
etnias/raças.
Figura 33 – Analisando pinturas rupestres p.30
Figura 34 – Cantando e dançando juntos p.31
Figura 35 – Maquete sobre o “Descobrimento do Brasil” p.48
O texto “Da Terra Brasilis aos Engenhos Coloniais: uma história de luta e
resistência” de autoria de Marilda Castanha (p.52 -54) fala da cidade de Zanzibar
37
(Cidade que pertencia a um dos reinos africanos antes da chegada dos europeus,
no século XVI) seus habitantes, línguas e dialetos; e memória.
Figura 36 - Da Terra Brasilis aos Engenhos Coloniais: uma história de luta e
resistência
Ao falar da África, a autora menciona que muitas nações eram inimigas e quando
guerreavam, escravizavam os prisioneiros, como fizeram povos de outras épocas e
lugares. Crianças, homens e mulheres escravizados eram obrigados ao trabalho
forçado e, na maioria das vezes, paradoxalmente, os escravos africanos acabavam
se tornando membros daquela família.
Logo após esta explanação a autora inicia um parágrafo que remete à escravidão de
negros africanos no século XVI pelos espanhóis, franceses, holandeses, ingleses e
portugueses finalizando com as condições precárias as quais os negros eram
submetidos durante a travessia assim como, lhes eram imposto o trabalho forçado,
outra língua, outra religião, outra história. No entanto, conclui a autora, dentro dos
navios negreiros, acorrentados e destituídos de tudo, ou quase tudo, que lhes
pertencia, levavam lembranças e crenças.
O texto é seguido por uma série de exercícios, os quais destacarei duas ilustrações
que os compõem para uma rápida reflexão.
38
Figura 37 – Interpretação do texto por parte da garota branca
Por muitas vezes a historiografia oficial justificou a escravidão no Brasil com o
argumento de que na África a escravidão era praticada com regularidade. No
entanto, a escravidão que ocorria na África em nada se assemelha com a
escravidão no Brasil como bem explana Munanga e Gomes:
Na África tradicional, o conceito de escravo designa todos aqueles
que estão ou estiveram em uma relação de sujeição ou
subalternidade leiga ou religiosa com um parente mais velho, um
soberano, um protetor, um líder, etc. Geralmente estes termos
significam estar subjugado, submetido, dependente, servo. (...) Eles
podem ser espancados, alienados, eventualmente mortos. A
obrigação de trabalho passa sobre todos aqueles, francos ou cativos,
que dependem de um senhor, de um ‘patriarca’, de um soberano. Ao
contrário, ao lado deles, alguns na mesma relação de sujeição
podem gozar de privilégios que os colocam em uma situação
aparentemente superior.(...) Além dessas relações de sujeição que
existem em todas as sociedades africanas tradicionais, existiam
também relações de sujeição quanto aos estranhos cativos das
guerras e penhorados pelas próprias famílias. (2004, p.25)
Estas relações de sujeição não pode ser comparada ou denominada de sistema
escravista visto que, a exploração existente na África tradicional não era um regime
sistemático e institucional que possibilitava uma relação permanente de dominador e
dominados como o que ocorreu no Brasil.
Figura 38 – Interpretação do texto por parte da garota negra
39
A venda de escravos também foi justificada sob outros argumentos: Seres sem
alma, força animal de trabalho, coisas, mercadorias que podiam ser negociadas
como qualquer outra.
Irei transcrever abaixo o texto “Da África para o Brasil” (p.56) na integra para melhor
apresentar a minha análise.
Na África existiam inúmeros reinos e povos. Diferenças de tradições
e costumes originavam, e ainda originam, violentas rivalidades e até
terríveis guerras entre esses povos, o que costumava resultar na
conquista de terras e na escravização de seus habitantes. (p.56)
As mais variadas diferenças existentes entre eles foram totalmente
ignoradas pelos exploradores europeus. (p.56)
Figura 39 – Gravuras: J. M. Rugendas. Viagem pitoresca através do Brasil.p.56
Os grandes grupos eram constituídos por sudaneses iorubas e
minas, entre outros, bantos (ambundos de Angola, congos,
benguelas, moçambiques) e povos que praticavam o islamismo
(mandigas e haussas, entre outros). Os bantos eram considerados
bons agricultores e os minas tinham bons conhecimentos para
trabalhar com metais. Os iorubás, que compuseram as ultimas levas
de escravos trazidos para o Brasil (século XIX), vinham de povoados
mais distantes e mais primitivos, ou seja, faziam parte de uma
sociedade que não conhecia técnicas mais aprimoradas e que vivia
do cultivo da terra voltado para a própria sobrevivência. Essas
sociedades desconheciam a escrita e, por esse motivo, transmitiam
seus valores oralmente. (p.57)
40
Esses grupos, especialmente aqueles que viviam no litoral africano já
praticavam a escravidão. (p.58)
Quando algum agricultor enfrentava uma colheita ruim, era forçado a
pedir empréstimos. Quando não conseguia saldar a dívida,
geralmente por ter perdido seus bens e sua terra, ele era obrigado a
trabalhar para quem havia lhe emprestado o dinheiro. (p.58)
Eram também comuns casos de escravidão em conseqüência de
guerra entre as tribos. Quando uma tribo era derrotada, todo o seu
povo tornava-se escravo dos vencedores. Havia ainda casos em que
as pessoas eram caçadas para serem vendidas em troca de
mercadorias. (p.58)
A chegada dos europeus ao continente africano trouxe modificações
para o modo de vida das pessoas. Os europeus intensificaram o
comércio de escravos, aproveitando que a escravidão já era um fato
comum entre os próprios nativos africanos. (p.58)
O tráfico negreiro instalou-se na África através da intervenção árabe e ocidental que
ultrapassou o próprio continente. Por isso, a tese de um sistema escravista africano
é inaceitável, pois o regime de sujeição existente na África em nada justifica ou
legitima as formas de escravidão e deportações de africanos historicamente
conhecidas por nós brasileiros.
No texto “Pesquisando a África hoje” (p.60) cita a África como um continente de
contrastes e diferentes paisagens.
Figura 40 – O continente africano p.60
41
O texto “O início da escravidão negra no Brasil” traça o contexto em que os escravos
negros foram trazidos ao Brasil: Viajavam cerca de dois meses em navios sem
nenhuma condição de higiene, onde eram mal-alimentados e maltratados.
Figura 41 – Negros no fundo do porão, Johann Moritz Rugendas,1835. P.62
A travessia foi o primeiro momento de resistência, no qual foi preciso sobreviver
apesar das terríveis condições de viagem. Os tumbeiros, como eram chamadas
essas embarcações, representavam o primeiro desafio para a luta que só estava
começando e que ainda era calada e sufocada pelo medo do desconhecido.
Esse texto ainda é ilustrado por mais essa gravura:
Figura 42 – Mercado de negros, Johann Rugendas, 1835. P.63
Essa ilustração antecede o seguinte trecho:
42
Os grandes compradores tomavam cuidado para não adquirir
escravos vindos da mesma região da África. Assim, os escravos não
poderiam comunicar-se em sua língua de origem e teriam menos
chances de combinar fugas e rebeliões. (p.63)
Essa posição pode ser também traduzida como uma afronta ao povo africano visto
que, não era respeitado e nem levado em consideração as diferenças culturais e
políticas de cada tribo.
O texto “A conquista a liberdade” (p.82) é muito rico em informações sobre a
resistência negra contra o regime escravista adotado no Brasil. Nele estão contidas
informações
sobre
as
diferentes
formas
de
resistência:
fugas;
suicídios;
assassinatos de senhores e de feitores; relaxamento do trabalho; sabotagens;
manobras para manter sua religião, seus costumes e suas crenças; além das
revoltas como o Levante dos Malês, em 1835, em Salvador, e participando de
movimentos mais gerais, como a Balaiada, em 1838, no Maranhão. Dando uma
ênfase especial à resistência quilombola falando mais detalhadamente do Quilombo
dos Palmares e seu líder Zumbi.
O conhecimento das revoltas permite visualizar a abolição da escravatura em um
processo de longa duração, no qual ela não aparece como uma ação redentora da
princesa Isabel, mas sim de modo mais complexo, evidenciando as pressões
internas e externas que o Estado brasileiro vivenciava. Tal abordagem permite
debater com os alunos as temáticas que foram por muito tempo silenciadas nos
materiais didáticos, e auxilia na construção contínua do sentido da verdadeira
liberdade enquanto espaço respeitado para ser e estar no mundo.
No texto “A comunidade negra hoje” o leitor é levado a refletir como vivem os
descendentes dos africanos no Brasil com o seguinte questionamento: “Atualmente,
quantos negros ocupam cargos públicos, os bancos das universidades ou cargos de
chefia nas empresas?” (p. 90)
A abolição não colocou um ponto final nas problemáticas que afligem o negro em
nosso país. Muito se lutou e muito se precisa lutar para que possamos atingir uma
verdadeira igualdade e respeito à pluralidade cultural.
43
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa pesquisa intencionei analisar a maneira que o negro é ilustrado e descrito no
Livro Didático de História utilizado no Ensino Fundamental, estabelecendo relações
com as pesquisa realizadas pela Prof.ª Dr.ª Ana Célia da Silva em relação a
representação do negro nos livros de Língua Portuguesa.
A pesquisa realizada por Ana Célia que resultou no livro “A discriminação do negro
no livro didático” diagnosticou a presença de estereótipos e folclorização dos
personagens negros. Assim como, a alusão de uma desumanização, incapacidade e
uma reduzida atuação do negro na sociedade. Os negros foram ilustrados e
descritos como irracionais e dissociados do contexto escolar, familiar e econômico.
Os mesmos só foram representados em um contexto familiar e de trabalho em
moradias de famílias brancas. Além de serem ilustrados como escravos trabalhando
em fazendas ou na casa grande. (SILVA, 2004)
Na Coleção Conhecer e Crescer – História (VENÂNCIO; ZENUN; MARKUNAS,
2005), por mim analisada, os personagens negros foram ilustrados sem caricatura e
com traços típicos aos de sua origem étnica. Alguns personagens foram descritos
com nomes próprios sem cunho depreciativo. O negro foi ilustrado em vários
contextos: familiar, escolar, em práticas de lazer e em interação com outros
povos/etnias.
Os negros também foram descritos e ilustrados como minoria e situados em último
lugar. A civilização africana foi omitida dos livros e seus aspectos culturais foram
representados de maneira miniminizada e folclorizada. Os estereótipos de feio, sujo
e incapaz sugiram com grande freqüência na pesquisa da professora Ana Célia
Silva. (SILVA, 2004)
Na minha pesquisa também diagnostiquei a presença minoritária de personagens
negros. Estes foram ilustrados em companhia de personagens brancos e com
condição econômica similares, porém em minoria. Observei que em algumas
ilustrações o negro foi ilustrado em primeiro lugar ou em uma situação mais
44
favorável como por exemplo, na capa do livro da 4ª série, em atuação na sala de
aula ou em evidência na execução de trabalhos escolares. Detectei ausência de
estereótipos negativos como, feio, sujo, preguiçoso ou desprovido de inteligência.
A baixa auto-estima de crianças negras e a não aceitação da sua negritude são
resultados de ações que tem como objetivo convencer ao negro de que sua imagem
e valores têm um sentido negativo e/ou inferior em relação aos do branco. A rejeição
do negro é a maneira de se distanciar de tudo aquilo que não é branco, considerado
como bom. A escola contribui na medida em que reproduz essa repressão aos
valores identitários da civilização africana.
A imagem do negro ensinada nas escolas e transmitida pelos livros didáticos como
ser escravizado, desumanizado, feio, sujo, grato pela piedade do branco que o
libertou, distorce os valores culturais dessa civilização milenar e impede uma
identificação por parte das crianças com a sua verdadeira “arkhé”, ou seja, com os
princípios inaugurais milenares envolvidos na dinâmica das comunalidades africanobrasileiras, ocultando a beleza e riqueza dos povos dessa civilização.
Sendo assim, a escola como espaço de representação da estrutura social vigente,
reafirma continuamente os valores eurocêntricos uma vez que “[...] o universo
escolar parece estranho e alheio aos valores negros, porque repete, reforça,
prolonga e valoriza as condições de existência do mundo branco [...]” (LUZ, 1989, p.
44). Mas a escola é também um espaço de luta e emancipação para todos que
resistem aos mecanismos opressores do sistema vigente, através da promoção de
uma consciência histórica e política.
Os personagens negros foram situados em um passado distante, como no tempo da
escravidão, sugerindo um presente sem a participação destes. Quando a presença
dos negros foi representada na sociedade atual, esta se deu num contexto amplo e
familiar, restrito aos trabalhos domésticos, biscates e vadiagem na rua, no trabalho
da professora Dra. Ana Célia Silva. (SILVA, 2004)
Na minha análise, percebi uma massiva ilustração de negros escravizados. Porém, o
livro didático ocultou como era o continente africano antes e depois de sua
45
população ser saqueada e seqüestrada, como se organizavam, como viviam e como
vieram e ainda como eram as culturas de seus países e como estas influenciam o
nosso modo de pensar, falar, vestir, dançar, viver.
Na história oficial a escravidão aparece de forma suave, representada por imagens
de escravos dóceis e passivos. Toda a violência escravocrata e a luta negra foram
apagadas. A destruição histórica e social que determinado grupo faz de outro é uma
das principais conseqüências negativas do preconceito e da discriminação racial no
sistema escolar.
A constituição da história brasileira traz em seu bojo elementos culturais diversos,
provenientes dos diferentes povos que a construíram ao longo dos anos. Nesse
processo, as tradições culturais dos povos africanos que foram trazidos para o Brasil
tiveram importantes contribuições sociais, políticas, científicas e culturais na
formação da nação brasileira.
Apesar disso, as origens comunais africanas e suas tradições milenares foram
categoricamente desqualificadas, reprimidas e reservadas às concepções redutoras
e folclóricas a serviço dos colonizadores. Mesmo desprovida de seu espaço de ser e
acontecer, a cultura negra resistiu às inúmeras investidas de desculturação,
prevalecendo às duras penas, mediante as dificuldades de apropriação de
identidades, enquanto modo de viver particular de um povo.
A forma que negros e negras, africanos ou africanas nascidos ou trazidos para o
Brasil utilizaram para enfrentar a escravidão quase foi ocultada dos livros
analisados. Salvo a menção ao quilombo e ao honroso Zumbi dos Palmares. O que
podemos inferir mais uma vez, que a história oficial muitas vezes omitiu ou silenciou
as várias histórias de luta e organização dos africanos e dos seus descendentes
além de passar uma imagem de que os negros escravizados adotaram uma atitude
passiva e omissa em relação ao regime escravista, a qual eram submetidos,
oportunizando anos de escravidão.
46
A presença positiva do negro em alguns livros analisados se deu como resultado de
denúncias realizadas por integrantes e simpatizantes do movimento negro e de
pesquisas realizadas e publicadas no país, nas pesquisas de Silva (2004).
Muitas mudanças ocorreram em relação à representação do negro no livro didático.
Podemos atribuir essa conquista ao Movimento Negro e aos pesquisadores que
realizam e divulgam trabalhos com a temática em questão. Não posso deixar de
mencionar uma grande conquista do Movimento Negro e por que não da Sociedade
Brasileira: A Lei 10.639/03. Esta tem suscitado muitas discussões e debates no
âmbito educacional e social. Conhecer a própria história e a história dos outros é
uma oportunidade de entender mais a nós e aos outros e também o nosso país
recuperando, através da história coletiva, o orgulho de ser brasileiro.
Durante
muitos
anos
a
sociedade
brasileira
vivenciou
uma
política
de
embranquecimento em que os negros eram tratados como seres inferiores. A noção
ideológica de raça inferiorizada e maltratada criou um bloqueio que impossibilitou a
percepção de que não existem raças e sim a raça humana e que o continente
africano é formado por civilizações milenares que alimentaram as culturas da AfroAmérica, merecendo respeito.
Em um contexto que alimentou por vários anos, inúmeras formas de supressão das
expressões culturais africano-brasileiras em nosso país, muitos dos que dominam o
poder têm por intuito atacar as fontes dos processos civilizatórios que asseguram
orgulho e identidade dessa cultura, especialmente os valores sagrados e
existenciais africano-brasileiros.
O mito de uma democracia racial no Brasil tenciona ocultar o racismo, a
discriminação, a opressão e o abandono aos quais foram e são submetidos o povo
negro. Embora defenda a igualdade entre brancos e negros, na realidade esconde e
promove o contrário. Entre as suas estratégias está a naturalização da
desigualdade, que aparece nos discursos como resultado, não das facetas do
sistema, mas como produto da atuação individual dos sujeitos.
47
Aos poucos, vozes distantes começaram a se aproximar dos ouvidos daqueles que
achavam que as causas de seus fracassos eram absolutamente naturais. Militantes
da causa negra e educadores de várias partes do país começaram a apontar
aspectos problemáticos da situação dos afro-brasileiros, outrora ocultados pela
aparência de sociedade livre e igualitária proporcionada pelo mito da democracia
racial.
Embora a escola seja um espaço reprodutor dessas ideologias não podemos
esquecer que ela também contribui com a sua superação. Através do acesso à
cultura, à informação e ao conhecimento elaborado pelos povos milenares africanos
é possível subverter essa realidade. Nesse sentido, é preciso garantir que a sala de
aula possa se constituir num espaço de luta pela afirmação do negro, a partir da
reconstituição da sua verdadeira história e das reais intenções dos conteúdos
estudados.
A promoção da igualdade racial e a desconstrução dos estereótipos e estigmas
disseminados pela sociedade brasileira exigem iniciativas direcionadas para a
afirmação e construção da identidade cultural dos afros-descendentes, pois:
A discriminação vivenciada cotidianamente compromete a
socialização e interação tanto das crianças negras quanto das
brancas, mas produz desigualdades para as crianças negras, à
medida que interfere nos seus processos de constituição de
identidade, de socialização e de aprendizagem. (SANTANA 2006, p.
36)
A criança negra brasileira, como qualquer criança, constrói sua identidade através
das experiências com seus pares, buscando uma relação de pertencimento com
alguma cultura. Porém, ela ainda vive em uma sociedade que, em muitos
momentos, utiliza tentativas sutis de desqualificação de suas origens étnicas.
É preciso valorizar as formas de expressão caladas pela escola dando voz a essas
crianças; oportunizando o conhecimento da sua real história e a conscientização da
sua verdadeira origem promovendo a uma identificação e orgulho de ser negro. Por
entender que, somente conhecendo a história africana, negada pela historiografia
48
oficial e pela sociedade, é possível reconstruir nossa identidade tão fragmentada
pela política de embranquecimento.
A conscientização e preparação dos professores é uma questão fundamental para
que essa proposta possa se concretizar, devido à importância que tem a prática
pedagógica na sociedade. Dessa forma, as relações educativas precisam de ações
efetivas de integração, reconhecimento e respeito às comunalidades africanobrasileiras, bem como de educadores preocupados com tais questões. É difícil
imaginar um professor responsável e comprometido que não se mobilize com as
questões político-sociais e étnico-raciais presentes em seu trabalho e na vida de
seus alunos. Para tanto, é preciso atribuir novos sentidos aos currículos dos cursos
de formação de professores, para que estes possam proporcionar a criação de uma
prática pedagógica comprometida com propostas educativas que promovam a
valorização da pluralidade cultural em todas as suas dimensões.
49
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Identidade Negra e Educação. Salvador, Ianamá, 1989.
SILVA, Ana Célia da. As transformações da representação social do negro no
livro didático e seus determinantes. Salvador: Tese (Doutorado) - Universidade
Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2001.
52
APÊNDICE A
Relação dos livros analisados durante a pesquisa
EDITORA ESCALA
VANÂNCIO, Adriana; ZENUN, Katsue; MARKUNAS,Mônica. Ilustrador Alberto
Llinares Martin. História, 1ª série, São Paulo, 1.ed., 2005. – (Coleção Conhecer e
Crescer)
VANÂNCIO, Adriana; ZENUN, Katsue; MARKUNAS,Mônica. Ilustrador Alberto
Llinares Martin. História, 2ª série, São Paulo, 1.ed., 2005. – (Coleção Conhecer e
Crescer)
VANÂNCIO, Adriana; ZENUN, Katsue; MARKUNAS,Mônica. Ilustrador Alberto
Llinares Martin. História, 3ª série, São Paulo, 1.ed., 2005. – (Coleção Conhecer e
Crescer)
VANÂNCIO, Adriana; ZENUN, Katsue; MARKUNAS,Mônica. Ilustrador Alberto
Llinares Martin. História, 4ª série, São Paulo, 1.ed., 2005. – (Coleção Conhecer e
Crescer)
53
APÊNDICE B
Freqüência e distribuição das categorias e sub-categorias de análise.
Categorias /
Subcategorias
Descrição das
categorias e
subcategorias de
análise
Freqüência
Texto
Ilustração
1. Humanização:
1.1 Sem caricatura
Crianças, jovens e adultos
negros com traços sem
exageros ou deformações
49
1.2 Menção positiva à
criança negra
Bebê negro ilustrado de
forma positiva
1
1.3 Criança negra com
nome próprio
Crianças com pré-nome.
Não denominados pela
cor da pele e por
adjetivação pejorativa
1.4 Com constelação
familiar
Criança negra com família
constituída por pai,mãe e
irmão
7
3
5
2
2.Assimilação
Personagens negros
ilustrados com traços
fisionômicos não
característicos da sua
raça/etnia
47
3. Em interação com
outros povos/etnias
Crianças,jovens e adultos
negros, interagindo, em
situações diversas, com
brancos e amarelos
2
29
4. Práticas de atividades
de lazer
Tocando flauta, brincando
de carrinho, brincando de
boneca, brincando com o
cachorro
1
7
54
5. Em minoria nas
ilustrações com 3 e mais
de 3 personagens
Personagens negros
ilustrados em minoria nos
grupos ilustrados com 3 e
mais de 3 personagens
22
6. Localização no espaço
em primeiro, segundo
lugar e no centro das
ilustrações
Crianças, jovens e adultos 3
negros, situados nas
ilustrações de grupo em
primeiro, segundo lugar e
no centro
26
7. Freqüência à escola
Crianças negras indo para
a escola, na escola, na
sala de aula e estudando
17
8. Escravidão
8.1 Escravos(as)
domésticos
Mulheres e homens
negros exercendo
trabalho doméstico na
casa-grande
3
6
8.2 Trabalho manual
Mulher negra tecendo,
criança com uma enxada
2
3
8.3 Senzala
Homens, mulheres e
crianças ilustradas
habitando o mesmo
espaço nas terras dos
engenhos
2
2
8.4 Amas-de-leite
Mulheres negras
amamentando os filhos
das mulheres brancas
1
4
8.5 Trabalho escravo no
engenho
Escravos trabalhando na
plantação e produção de
açúcar
8
6
8.6 Escravas livres/
Escravas de ganho
Escravas libertas que
trabalhavam por conta
própria/ Vendedoras de
comida e lavadeiras
5
10
55
8.8 Trabalho escravo na
mineração
Extração de ouro e pedras 1
preciosas
1
9. A escravidão na
África
Relações de sujeição
quanto aos estranhos
cativos das guerras e
penhorados pelas
próprias famílias
4
10. Quilombos
Homens, mulheres e
crianças ilustradas em um
povoado quilombola
9
3
11. Povos africanos
Grupos africanos que
vieram a o Brasil
2
2
12. O Continente
Africano
Apresentado como um
continente de diferentes
paisagens e povos
3
1
13. O mercado de
escravos
Chegada e venda de
escravos no Brasil
4
6
56
APÊNDICE C
Localização das categorias e subcategorias nos livros analisados por página
Livros e
Páginas
Categorias
e
subcategorias
Coleção
conhecer e
crescer,
História, 1ª
série
4,4,4,6,6,9,20,
20,28,28,33,33,
Humanização: 33,34,39,55,56,
Sem caricatura 60,72,72,86,86,
106,109
Coleção
conhecer e
crescer,
História, 2ª
série
6,8,9,19,32,47 4,7,8,44,45,
47,49,70,
Menção
positiva à
criança negra
92
Criança negra
com nome
próprio
6,6,9,39,56,57,58 8,9
Com
constelação
familiar
Assimilação
Em interação
com outros
povos/etnias
Coleção
conhecer e
crescer,
História, 3ª
série
Coleção
conhecer e
crescer,
História, 4ª
série
Capa,4,6,7,30
31,33,48,53,
55,89
28,33,34
8
47
96
4,4,4,6,6,9,20,
20,28,28,33,33,
33,34,39,55,56,
60,72,72,86,86,
106,109
9,20,28,28,39,
55,60,72,72,86,
86,106
6,8,9,19,47
4,7,8,44,45,
47,49,70
Capa,4,6,7,30
31,33,48,53,55
6,19,47
4,7,8,44,45,70 4,6,7,30,31,33,
48,53
6,6,9,34,55
8,9
6,6,20,28,28,
35,60,86386,
106,109
6,47
Práticas de
atividades de
lazer
Em minoria
nas
ilustrações
4,7,8,44,45
4,6,31,48
57
com 3 e mais
de 3
personagens
Localização 4,4,4,6,9,20,
no espaço em 33,39,55,56,
57,58,86,106
primeiro,
segundo
lugar e no
centro das
Ilustrações
28,28,39,86,
Freqüência à 86,106,109
escola
67,69
Escravidão:
Escravos(as)
domésticos
67
Trabalho
manual
69
Senzala
47
4,7,8,44,45,70 Capa,6,7,30,48
53,89
37,37
4,7,8,44,45,70 31,53
35
32,59,61
32
59
93
33
34,34,34
32
93
37
64,65,66,67,68,
70
43
4,6,21,21,33,
60,63,64
78,80
69
Amas-de-leite
69
Trabalho
escravo no
engenho
Escravas
livres/
Escravas de
ganho
Trabalho
escravo na
mineração
A escravidão
na África
74
53,55,056,58
69
64,65,66
82,83,84,91,
93,94
Quilombos
Povos
africanos
O Continente
Africano
O mercado de
escravos
56,57,61
20,60,61
35
33,37,63,67
62,63
Download

thaise rocha de oliveira