VALORES, EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA: reflexões para o Desenvolvimento Humano no
Brasil
Mônica Yukie Kuwahara
Antes de apresentar o prof. Flávio Comim, gostaria de dizer algumas palavras sobre a história
desta parceria do Mackenzie com o PNUD.
A parceria existe porque compartilhamos um sonho: um sonho de um mundo melhor. Não um
sonho restrito ao plano do onírico, mas com profundas raízes na experiência da prática cotidiana
de docência, emanado da observação da vida e alimentado pela inquietação da juventude.
Assim, um grupo de professores do curso de economia se propôs, com todo o apoio da
instituição, a criar um Núcleo de Pesquisas em Qualidade de Vida, buscando o sonho de
contribuir para a construção de um mundo melhor. Começamos tentando entender o que somos,
para poder identificar o que seria possível ser. Esta inquietação levou os pesquisadores do
NPQV a buscar elementos teóricos e empíricos para a qualidade de vida.
Nosso caminho foi árduo e chegamos a estabelecer duas classes de indicadores de qualidade de
vida. O IEQV – 2005 – que se mostrou como um índice multidimensional da qualidade de vida
para as subprefeituras do Município de São Paulo. O Índice, porém, foi construído apenas com
dados oficiais, resultado de pesquisas secundarias, e a inquietação persistiu. Depois de várias
reflexões, incluindo tentativas de estender o cálculo para os municípios, verificamos que o
índice era insuficiente, pois não era capaz de expressar as influências da desigualdade na
qualidade de vida.
A segunda classe de indicadores procurou sanar esta lacuna. Criamos um Índice
Multidimensional de Qualidade de Vida que fosse sensível à desigualdade e que pudesse ser
reproduzido nos vários municípios brasileiros. Foi uma conquista, mas de novo, não ficamos
satisfeitos, pois este índice não expressa um conjunto grande de variáveis e condições que
podem afetar a qualidade de vida: valores subjetivos de bem estar.
No entanto, nossas pesquisas conseguiram levar a parte de resposta para a pergunta nada
simples “o que podemos ser” (parafraseando aqui o Prof. Giannetti). Nossa contribuição foi no
sentido de mostrar que podemos ser um país com menor desigualdade, sendo esta uma das
condições para uma melhoria da qualidade de vida. Mas ainda assim, não nos contentamos.
Precisávamos de outras formas de diagnóstico, pois o sonho permanece vívido, inspirando
pesquisas que só tem sentido se estendidas à comunidade: integrando ensino, pesquisa e
extensão.
Quando em 2008 o Flavio nos convidou para participar das primeiras audiências públicas para
definição do tema do novo relatório de desenvolvimento humano, vimos uma possibilidade de
integrar nossas pesquisas aos esforços do PNUD, retornando à comunidade os resultados que já
obtivéramos. Havia ali a possibilidade concreta de identificar os contornos do mundo que
sonhamos. Não o mundo das estatísticas, mas o mundo sonhado.
Por isso, dizer como a imprensa tem divulgado “pela primeira vez” o PNUD realizou uma
ampla campanha para perguntar “o que tem que melhorar no Brasil para sua vida melhorar de
verdade”, não é apenas uma pergunta, é A pergunta, pois implicou em envolvimento,
compromisso, respeito e mais, nos dá indícios sobre qual é o Brasil que nos sonhamos ser.
Este desejo de sonhar nos aproxima do Flavio Comim:
Economista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989) , mestrado em Economia
pela Universidade de São Paulo (1993) , mestrado em Mphil In Economics pela University of
Cambridge (1994) , doutorado em PhD in Economics pela University of Cambridge (1999) e
pós-doutorado pela University of Cambridge (2001) . Atualmente é Professor Adjunto da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do Relatório de Desenvolvimento
Humano do PNUD.
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