MARINA E O PLANALTO
Antônio Álvares da Silva - Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG
A relação entre eleitores e partidos políticos tem dois aspectos: há os que seguem partidos,
sem qualquer programa (ou programas apenas formais), visando à obtenção de vantagens e
algum tipo de benefício. Mas também há outro tipo, que se centra em primeiro lugar no
candidato, procurando ver se ele tem realmente condições e méritos para o alto posto de
presidente da República ou para o exercício de outros cargos políticos.
Esta segunda categoria cresce a cada dia. À medida que sobe o índice de alfabetização e de
cultura coletiva, o cidadão se torna mais consciente do seu papel na sociedade e se serve do
voto para esta participação. Escolher representantes do povo nas funções públicas é um ato de
sabedoria e demanda análise e julgamento que só podem ser empregados por quem tem
discernimento e visão dos fatos sociais.
Com a súbita morte de Eduardo Campos, o Data Folha apresentou a candidatura de Marina já
empatada com Aécio Neves e apenas quinze pontos atrás de Dilma Rousseff. Qual seria a razão
desta surpreendente ascensão? A resposta que se pode dar é a justificativa de que o
eleitorado, descrente da política partidária, viu em Marina o perfil de uma candidatura
independente, fora dos conchavos partidários, firmando-se numa visão do mundo como um
ideal que deseja tornar realidade pela ação política.
Ecologia e progresso com sustentabilidade são temas universais. Não há uma nação que não
tenha, mais ou menos, partidos, grupos, governos que não se interessem pelo tema. Hoje
todos sabemos que o progresso destruidorda natureza é regresso. O remédio se transforma
em veneno e, em nome de um avanço, caímos no abismo.
Este fator, aliado a uma vida cheia de dificuldades, sempre guiada para o alto e para o bem
comum marcaram a trajetória de Marina Silva como vereadora, deputada, senadora, ministra
e agora candidata. Tem, sem dúvida, uma grande lição de vida e vem apresentando ao longo
de sua carreira projetos sérios em relação à ecologia e sustentabilidade, todos com amplo
reconhecimento internacional.
Quando se aproximou do PSB, muitos acharam que ela deveria encabeçar a chapa. Mas
predominou, por interesses pragmáticos, o nome de Eduardo Campos que, embora possuidor
de experiência e de integridade pessoal por todos reconhecida, não tinha um plano de
governo ajustado aos ideais de hoje.
O destino trocou Marina de lugar. Assumiu a cabeça da chapa e, de um só golpe, saiu na frente
dos demais candidatos, ficando apenas 15 pontosatrás da atual presidente.
A eleição torna-se assim emocionante e motivada. Foi como um empurrão na sonolenta
disputa, mais política do que programática. Vamos ver agora o desdobramento dos fatos e
aguardar o que vem por aí.
Tudo isto nos traz regozijo com o Brasil e temos razão para nos orgulhar da plenitude da
democracia que vivemos. Hoje temos a certeza de que, bem ou mal, o povo escolhe melhor do
os salvadores autoritários, de esquerda ou de direita, que se apresentam para escolher em seu
nome.
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