Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Curso de Especialização em Educação Infantil
Trabalho de Conclusão de Curso
A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
QUAL O PAPEL DO PROFESSOR/ MEDIADOR?
Autor (a): MARILENE ROMA SOUZA ARAUJO
Orientador (a): Msc. JUAREZ MOREIRA DA SILVA JUNIOR
Brasília - DF
MARILENE ROMA SOUZA ARAUJO
A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: QUAL O PAPEL DO
PROFESSOR MEDIADOR?
Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação
em Especialização em Educação Infantil da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do Título de
Especialista em Educação Infantil.
Orientador (a):MSc. JUAREZ MOREIRA DA
SILVA JUNIOR
Brasília
2010
Artigo de autoria de .MARILENE ROMA SOUZA ARAUJO, intitulado “A ARTE
DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: QUAL O PAPEL DO
PROFESSOR MEDIADOR? ”, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de
Especialista em Educação Infantil da Universidade Católica de Brasília, em ...... /06/2010,
defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada:
Prof.MSc. . Juarez Moreira da Silva Junior
Profª.
Orientador (a)
Especialização em Educação Infantil – UCB
Prof. Drª. Lêda Gonçalves de Freitas
Profª.
Examinador- UCB
Brasília
2010
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A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: QUAL O PAPEL
DO PROFESSOR MEDIADOR?
MARILENE ROMA SOUZA ARAUJO
JUAREZ MOREIRA DA SILVA JUNIOR
RESUMO
Na Educação Infantil as histórias fazem parte essencial no desenvolvimento físico,
psicológico e social das crianças. São momentos únicos de reflexão e encantamento que
estabelece relações com a imaginação e o mundo em que vive, construindo assim saberes e
experiências. E para entrar em contato com essas histórias, a criança necessitará da mediação
de um profissional consciente da arte de contar histórias e que na maioria das vezes é o
professor de sala de aula que faz esse papel, e que será na realidade a chave para esse mundo
encantador de ouvir e contar histórias. Diante disso, o presente artigo traz como objetivos
identificar o papel desse Professor/mediador e a importância das ilustrações no ato da
narrativa. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica entre escritores renomados
como: Jonas Ribeiro, Maria Alice Faria, e Marta Morais da Costa, e em documentos
norteadores que fundamentam a prática da leitura na educação numa perspectiva reflexiva e
qualitativa . Durante a pesquisa, foram observados alguns pontos de reflexões que levaram a
perceber como resultado que o papel do mediador não é só mediar as histórias mas, estar
envolvido nela a ponto de estabelecer relações significativas para quem as ouve, mantendo
um compromisso com a leitura de forma a prepará-la antecipadamente para depois contá-las
demostrando assim, um certo entrosamento com a leitura e além disso, consolidou a
importância das ilustrações no momento de narrar as histórias no sentido de estabelecer para
os ouvintes várias possibilidades de interpretações.
Palavras chave: EDUCAÇÃO INFANTIL, HISTÓRIAS,PROFESSOR/MEDIADOR
SUMMARY
In Childhood Education stories are an essential part in the physical, psychological and social
development of children. Are moments of reflection and wonder who connects with the
imagination and the world they live in, thereby building knowledge and experiences. And to
get in touch with these stories, the child need the mediation of a professional awareness of the
art of storytelling and that most often is the classroom teacher does that role, and that will
actually be the key to this charming world to hear and tell stories. Thus, the present article
aims to identify the role of teacher / facilitator and the importance of illustrations in the act of
narration. For that, we performed a literature search from renowned writers such as Jonas
Ribeiro, Maria Alice Faria, and Marta Morais DA Costa, and in guiding documents that
underlie the practice of reading in education and reflective qualitative perspective. During the
study, we observed some points of considerations which led to perceive the result that the role
of the mediator is not only mediate the stories more, being involved in it enough to establish
meaningful relationships for those who hear them, maintaining a commitment to reading
order to prepare it beforehand and then tell them demonstrating so, a certain rapport with
reading and further consolidated the importance of the illustrations at the time of narrating
their stories in order to be setting for listeners to various possibilities of interpretation.
Keywords: EARLY CHILDHOOD EDUCATION, HISTORY, PROFESSOR / MEDIATO
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INTRODUÇÃO
As histórias na educação infantil estão sempre relacionadas as práticas pedagógicas que
entre conteúdos programados ao longo do ano age como complementos para introduzir ou
explorar novos assuntos em sala de aula assim, esses momentos se tornam rotineiros no
cotidiano das crianças deixando passar nas entre linhas dos textos vários aspectos que
poderiam ser explorados, como por exemplo, as ilustrações, onde se perde oportunidades
únicas de interpretações singulares das crianças em contato com as histórias. E para isso, a
criança necessita da mediação do professor mais preparado para exercer essa função de contar
histórias na educação infantil. Essa mediação favorecerá uma relação mais profunda entre as
histórias e o ouvinte de forma prazerosa, significativa e diferenciada, estabelecendo uma
relação entre o real e o imaginário.
Para tanto, esta pesquisa trará como objetivos, identificar a importância do papel que o
professor exerce ao ser mediador das histórias na educação infantil e demonstrar a
importância das ilustrações em articulação com o texto escrito e a oralidade da palavra.
Essa maneira do professor trabalhar as histórias na educação infantil levando-as somente
as práticas pedagógicas muitas vezes se dá , ao achar dispensável esse tipo de recurso ou ao
ler as histórias, não dando ênfase ao que se lê. Com isso, deixa de dar a devida importância
que as histórias tem na formação do intelecto da criança, que está construindo uma
sensibilidade para perceber e entender o mundo em sua volta, e assim, descobrir várias
formas de lidar com suas inquietações. O máximo que se explora das histórias são pequenas
conversas sobre o tema do livro, os personagens principais, a ação de cada um, as vezes
comenta do autor do livro, editora, quem fez a capa etc. Não que essas explorações do livro
não sejam importantes mais levamos em consideração, de como estas histórias estão sendo
preparadas pelo professor/ mediador.
Diante dessas inquietações , a questão é : Qual o papel do professor como mediador das
histórias na educação infantil? Ou seja, a maneira mais adequada para se contar essas
histórias.
Ao escolher a arte de contar histórias na educação infantil para ser analisado dentro de
uma pesquisa reflexiva esse trabalho se justifica duplamente. Primeiro, uma justificativa
pessoal e a segunda acadêmica. Na pessoal, foi a forma que o professor contava as
histórias na minha infância. No momento em que narrava não proporcionava a seus alunos a
visão das ilustrações contidas nos textos e que só eram mostradas no fim da história. Tudo
bem, se a intenção da professora era fazermos imaginar utilizando no primeiro momento
somente a oralidade. Mas, ela estava com o livro nas mãos. E por alguns instantes deixava
aparecer o colorido das páginas . Isso nos intrigava e nos deixávamos curiosos. E acabava por
tirar a atenção na história. E naqueles momentos em que escondia as ilustrações, poderíamos
estar imaginando e relacionando as ilustrações com o texto, e quando mostrava-os no fim da
história já não tinha a mesma significância. Assim, privava aos seus ouvintes outras formas
de ver as histórias de acordo com suas particularidades.
Na justificativa acadêmica, está relacionada com a parte pedagógica. A importância de
se fazer uma análise reflexiva em relação de como essas histórias estão sendo preparadas pelo
professor mediador é essencial. Dependendo de sua atuação, pode gerar aos alunos uma
aversão as histórias a falta do gosto pela leitura. E no futuro, vir a prejudicá-los como leitores
e principalmente no momento de redigir os seus próprios textos.
Para uma reflexão acerca desses assuntos, o presente artigo discorrerá por meio dos
seguintes aspectos: Em primeira instância faz-se necessário um resgate histórico da literatura
voltada para crianças. Como eram contadas as histórias da oralidade a escrita. No segundo
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momento, a utilização da literatura infantil em sala de aula. Conceito de literatura e sua
importância. Em terceiro, o papel do professor como mediador das histórias na educação
infantil. Uma análise crítica e principalmente reflexiva sobre o papel do professor como
mediador na arte de contar histórias.
Pra isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica entre escritores renomados como: Jonas
Ribeiro, Maria Alice Faria e Marta Morais da Costa, e em documentos norteadores que
fundamentam a prática da leitura na educação numa perspectiva reflexiva e qualitativa
contribuindo para o aperfeiçoamento e formação desses profissionais .
UM MERGULHO NA HISTÓRIA: da oralidade a literatura infantil.
Este tópico tem como objetivo traçar um resgate histórico de como surgiu as primeiras
histórias tidas como contos populares passando da oralidade para o texto escrito e as primeiras
idéias de se fazer algo para as crianças ao longo da história da literatura infantil.
A arte de contar histórias é muito antiga permeando de geração em geração vindo a se
concretizar no papel por volta do século XVII a XIX com Charles Perrault, com os irmãos
Grimm entre outros. (Brasil,2006, p. 85 ). Para um melhor entendimento dessa trajetória
vale a pena ouvir as autoras Eleonora Abílio e Margareth Mattos (2006)
“As narrativas da tradição são citações populares – feitas por autores anônimos
– que sobreviveram e se espalharam devido à memória e à habilidade de seus
narradores que, de geração em geração, incumbiam-se de manter viva a
tradição...homens, mulheres e crianças – que não sabia ler e que se reunia, à
noite em redor de fogueiras e lareiras...para escutar o que viria a se tornar mais
tarde , material registrado por estudiosos e folcloristas como Charles Perrault,
no século XVII, e os irmãos Grimm, no século XIX.” (apud MEC,2006,p.85)
Mesmo fazendo parte de uma sociedade ágrafa, guardavam consigo as histórias contadas
por seus familiares e gostavam de manter viva essa tradição. Era um passa tempo prazeroso
para aquela sociedade simples, e cada um tinha sua maneira de contá-las.
O encantamento pelas palavras contadas deu origem a uma grande corrente que se
estendeu pelo mundo a fora. Vários pesquisadores se engajavam nessa arte de ouvir e
transcrever as histórias para depois contá-las. No Brasil, também a partir do século XIX
vários escritores como Sílvio Romero, Mario de Andrade, Afrânio Peixoto, entre outros se
destacavam com suas coletâneas . Entre os contemporâneos temos como exemplo,Ricardo
Azevedo, Ana Maria Machado que passou a incluir as ilustrações para transcrever as
histórias (Faria,2008,p. 23).
A idéia de se fazer algo para o universo infantil deu-se a partir do século XVIII e XIX em
decorrência do crescimento econômico da sociedade da época, até então a criança era tida
como um ser incompleto e a sua educação era dever da família. Com a Revolução Industrial
houve uma exigência intelectual dos operários, começaram a exigir mais dos trabalhadores
com relação aos saberes fazendo com que a questão educacional fosse revista, enfatizando a
importância da educação das crianças para um futuro promissor atendendo as necessidades da
sociedade capitalista que crescia naquela época. Nas palavras da autora Oliveira (2008): “
...Nos séculos XVIII e XIX, enfatizou a importância da educação para o desenvolvimento
social. Nesse momento a criança passou a ser o centro do interesse educativo dos adultos”(
Oliveira,2008,p.62).
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Com esse pensamento, a história da educação infantil, foi marcada com grandes idéias e
concepções em torno da criança e principalmente em engaja-las na sociedade. Com a
escolaridade obrigatória e a importância da educação para o desenvolvimento social, a
preparação da criança passou a ser considerada importante para atender os interesses dos
adultos.
Os livros voltados para as crianças eram na sua maioria escritos por professores, mas
totalmente engajados nas práticas pedagógicas sociais e ao ensino de bons hábitos e eram
considerados livros literários de baixo valor (Alves, 2002 – 2009).
Esses livros eram escritos em várias línguas geralmente vindos de escritores Europeus.
Com o passar do tempo os professores perceberam a importância de se escrever uma literatura
brasileira, com cara e valores nacionais, não bastava que o tradutor dos livros estrangeiros
fosse brasileiro mas que essa literatura tivesse sentimentos próprios de seu povo. Dentro dessa
perspectiva destacavam-se vários escritores como: José Veríssimo e Olavo Bilac, como um
dos “maiores exemplos da literatura escolar do Brasil”(SANDRONI, 1987,p.42)
Em decorrência disso, os contos populares passaram a relatar o folclore brasileiro, o
cotidiano e o imaginário dos povos africanos e indígenas. E as narrativas começaram a se
transformar de acordo com o contador, as escritas e as orais passaram a ser também
interpretada por meio de versos. ( Brasil,2006,p.48 )
Assim, as histórias para crianças tem origem nos contos populares. Segundo
Faria(2008), hoje são encontrados vários tipos de contos relacionados entre contos
tradicionais e modernos. Os contos tradicionais seriam aqueles tidos como contos de fada os
maravilhosos que encantam as crianças por seu aspecto imaginário e simbólico. A exemplo
disso cita as idéias de uma especialista francesa R. Léon, que diz que os contos populares
tradicionais:
“Tocam aspectos muito importantes de nossa natureza e de nossa história [pois]
o conto constrói/estabelece o ser humano como um ser de linguagem e de
cultura, para o qual todas as atividades de sobrevivência (alimentos, roupas,
relacionamento com animais e plantas) adquirem dimensões imaginárias e
simbólicas”(Apud Faria 2008,p.24)
Portanto, as histórias são elementos fundamentais para um bom desenvolvimento
psíquico, cultural e intelectual da criança, assim como objeto de saberes entre o real e o
imaginário, formulando maneiras de se interpretar as instâncias da vida e um execício
constante de aprender a ouvir, internalizar e depois expressar o que foi compreendido. Assim,
as crianças na educação Infantil, ao adquirir hábitos de ouvir histórias estará disposta a
aprender com elas. E esse contato com a literatura será analisada a seguir onde serão traçadas
algumas formas de
se utilizar estas histórias em sala de aula com o objetivo de
proporcionar um melhor aproveito nos trabalhos pedagógicos.
A LITERATURA INFANTIL EM SALA DE AULA
Para algumas idéias de como utilizar a literatura infantil em sala de aula este tópico
aborda uma reflexão do que seria a literatura infantil e especificamente a importância das
ilustrações contidas nessa literatura em articulação com o texto escrito na arte da oralidade da
palavra e imaginação.
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O que é a literatura infantil? Para ajudar-nos nesta reflexão recorremos a Zilberman
(2005), onde diz que “a literatura infantil são livros que lidos na infância até chegar a idade
adulta permanecem guardados em nossa memória bibliográficas e que ao longo do tempo são
relembrados porque foram tidos como bom e prazeroso e que fez parte da nossa formação de
leitor”. (2005,p. 10 – 11). Costa (2007) enfatiza também outro pensamento de Zilberman com
relação a literatura infantil que se torna diferenciada da pedagogia a partir do momento que
essas obras traz um valor artístico para as crianças, pois:
“...atinge o estatuto de arte literária e se distância de sua origem comprometida
com a pedagogia, quando apresenta textos de valor artístico a seus pequenos
leitores; e não é porque estes ainda não alcançaram o status de adultos que
merecem uma produção literária inferior (...) Em vista disto, a grande carência (
da criança) é o conhecimento de si mesma e do ambiente no qual vive, que é
primordialmente o da família, depois o espaço circulante e por fim, a História e
a vida social. O que a ficção lhe concede é visão de mundo que ocupa as lacunas
resultantes de sua restrita experiência existencial, através de sua linguagem
simbólica.” (apud Costa, 2007,p. 30).
Portanto, uma literatura vista como arte literária voltada para o mundo infantil,
caracteriza uma renovação no modo de escrever histórias para as crianças transformando-as
em prazerosas e significativas, pois encontrará nas leituras algo concreto com a sua realidade
de mundo, auxiliando na sua formação ou seja: “ A literatura infantil (...) é levada a realizar
sua função formadora, que não se confunde com uma missão pedagógica (... ) ela se apresenta
como elemento propulsor que levará a escola a ruptura com a educação contraditória e
tradicional” (Costa,2007,p.21)
Assim, a literatura vai além das práticas pedagógicas e de um simples recurso em
sala de aula. Ela é ferramenta a proporcionar o conhecimento e a realizar a formação de
pensamentos críticos e reflexivos nos alunos. Cada leitor apesar de ler ou ouvir a leitura de
um mesmo texto, terá uma visão diferenciada dos acontecimentos. Porque cada um tem sua
capacidade de interpretação
Ao escollher uma história para ser contada, o mediador precisa fazer um convívio com
a ahistória ou seja: “Conviver com a historia significa passear por seus cenários e em
companhia de suas imagens” ( Ribeiro 2001,p75) e assim, terá a oportunidade de conhecer a
história e imaginar livremente os enredos e seus personagens antes de contar afim de instigar
e contribuir para o desenvolvimento da imaginação e oralidade da criança.
Os textos que contém ilustrações vão contribuir para um papel importante no processo
de visão diferenciada dos alunos com relação as histórias. Pois nos livros infantis as
narrativas seguem juntas com as ilustrações, mas não são a mesma coisa, por terem elementos
singulares descritivos que dizem muito sobre o enredo da história e tem como característica
dar um ar de descanso nos textos mais longos. De modo que Faria (2008) exemplifica esse
momento citando Poslaniec (2002) onde diz que:
“A seqüência de imagens propostas no livro ilustrado conta frequentemente
uma história cheia de “brancos” entre cada imagem e que o texto de um lado e o
leitor cooperando, de outro, vão preencher...Mas a história que as imagens contam
não é exatamente aquela que conta o texto. Tudo se passa como se existissem dois
narradores, um responsável pelo texto, outros pelas imagens”.(...) Nos livros em
que o texto é o elemento principal da narrativa, e portanto longo, a imagem leva ao
arejamento da página, a um descanso do texto, que sempre obriga a um esforço
maior de leitura, auxiliando o leitor a continuá-la pelos caminhos mais suaves da
imagem. (apud Faria 2008, p. 39-42)
Ao mesmo tempo em que a criança ouve a história os seus olhos passeiam pelas
ilustrações que imediatamente vão lhe dar outros significados para aquele momento narrado
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surgindo então a criatividade em imaginar e entender melhor os acontecimentos. Cada criança
elaborará suas imagens no seu interior e isto lhe proporcionará um prazer em ouvir aquela
história e fará uma leitura pessoal, uma relação com o seu universo sem qualquer regra, onde
a imaginação flui naturalmente. A articulação das palavras ou seja a oralidade do professor
mediador com o texto escrito e as ilustrações das cenas, levará a observação das crianças e o
professor estará num momento de fazer essa releitura das imagens usufruindo das
peculiaridades das crianças em cada ilustração decorrente dos textos, mantendo um diálogo
constante entre o ouvinte e o leitor, causando na turma desembaraços e interação com a
história. Dentro desse pensamento, Faria (2008) registra uma técnica que os ilustradores
fazem para explorar uma cena ilustrativa colocando o leitor hora dentro de uma casa outra
fora a observar os acontecimentos de uma janela. Nas palavras do autor:
“A janela é pois uma técnica dos ilustradores para ampliar o espaço da
narrativa, mostrando cenas diferenciadas e expressivas, ou fazendo o leitor “
ver de fora” o que se passa dentro do cômodo em que acontece a história. E dá
ao educador a oportunidade de conversar com as crianças sobre o que dizem
esses dois espaços, ampliando a competência em leitura de imagem . ( Faria
2008,p.50).
Com espontaneidade a criança vai destrinchando as ilustrações fazendo um ligação
com a oralidade do professor que é o mediador da história e as imagens, construindo uma
ponte entre eles. Costa enfatiza a importância do trabalho do professor mediador quando diz
que: “Para que a literatura cumpra seu papel no imaginário do leitor, é fundamental a
mediação do professor na condução dos trabalhos em sala de aula e no exemplo que ele dá a
seus alunos lendo e demostrando, sempre o intelecto e a sensibilidade”. (Costa ,2007:21)
No entanto, não é só ler uma história que “encacha” no conteúdo que será estudado em
sala de aula. Não é só um recurso utilizado para se obter os objetivos traçados. O professor
precisa sentir o momento daquela leitura deixando transmitir o prazer de ler uma boa história,
porque se o professor mediador ao longo de sua vida não adquiriu o gosto pelas histórias,
como ele vai conseguir transmitir a seus alunos os sentimentos o encantamento das palavras e
a imaginação das cenas com espontaneidade e naturalidade? O professor mediador das
histórias na educação infantil precisa sentir-se parte integrante, envolvido no enredo, para que
aquela leitura atinja o ouvinte de maneira que ele também possa sentir- se parte e fazer com
quê cresça a sementinha do prazer de se fazer uma boa leitura.
Com a arte da oralidade das palavras nas mãos, o contador de histórias Jonas Ribeiro
apresenta um certo “manifesto” no seu livro Ouvidos Dourados onde deixa em evidência sua
indignação a respeito das histórias tidas como pretexto para uma proposta pedagógica sem
deixar fluir as emoções dizendo: “Abaixo as histórias utilitárias!(...) nós não contamos
histórias para a interiorização de regras gramaticais (...) Contamos histórias porque amamos
contá-las,(...) porque temos a necessidade de tornar nossas vidas significativas”.( Ribeiro
2001,p.12).
Portanto, ao escolher uma história para utilizar em sala de aula, o professor mediador,
poderá usufruir não só como instrumento de introdução aos conteúdos, mais trazer algo a
mais com as leituras, destrinchando com seus alunos o máximo que puder as entre linhas do
texto, proporcionando várias formas de se interpretar e viver os temas abordados com prazer e
significância.
Na arte de contar histórias exige do mediador uma certa postura diante das histórias,
atitudes essas que poderá proporcionar aos seus ouvintes um crescimento pessoal em relação
as histórias e o gosto pela leitura ou tornar mais difícil o caminho pelas palavras causando no
futuro dos seus alunos as dificuldades em lidar com a construção dos seus próprios textos
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pela falta da leitura. Assim, dentro desta perspectiva, o papel do professor mediador é
analisado a seguir de modo a sugeri um crescimento pessoal e profissional desse educador.
O PAPEL DO PROFESSOR COMO MEDIADOR DAS HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Este capítulo faz uma reflexão do papel do profesor como mediador das histórias na
educação infantil, afim de contribuir para um melhor aproveitamento das histórias nas
práticas pedagógicas.
Para que seja realizada a arte de contar histórias na educação infantil, de princípio a
criança precisa da mediação de um contador, ou seja de uma pessoa que ajudará a abrir os
horizontes do conhecimento por meio das leituras . Geralmente, esse papel é exercido pela
professora ou professor que está em sala de aula, o mesmo que está em contato com outras
matérias como a matemática , estudos sociais, em fim, o professor tido como “ tio” ou “tia”
pelas crianças. São poucas as escolas que tem um professor bibliotecário exclusivo para as
histórias, e esse, elabora as práticas de leituras para as crianças, sem relação com o conteúdo
em sala de aula, somente pelo prazer de contar uma bela história. Ou contrata-se contadores
de histórias que também enfatizam essa arte de contar histórias simplesmente pela graça e
beleza. Mas é na sala de aula junto com o professor que as crianças tem maior contato com
as histórias.
Para termos uma visão mais ampla sobre o papel desse profissional tido como mediador
das histórias contadas na educação infantil, faz necessário uma reflexão sobre o que seria um
mediador? Com o objetivo de mostrar a importância de seu papel na arte de contar histórias
na educação infantil.
Segundo Feuerstein1, “um mediador é uma pessoa que trabalha interagindo com o
aprendiz estimulando suas funções cognitivas, organizando o pensamento e melhorando
processos de aprendizagem”. Durante uma história, o professor mediador interage
positivamente elaborando formas e jeitos de articular as palavras dando vida aos personagens,
seduzindo-os no intuito de prender a atenção do aluno, pois cada história contada se fará
diferente não pelo texto, mas pela pessoa que está intermediando essa história, onde cada
contador tem suas peculiaridades ao narrar um texto assim, comenta Ribeiro(2001) quando
diz: “ Teremos narrações totalmente diferentes com enfoques, recursos e ritmos também
diferentes; porém, partindo da mesma história” ( Ribeiro,(2001)p. 98). Dessa forma, estimulase o desenvolvimento das habilidades na construção da imaginação.
O professor precisa estabelecer um compromisso com a leitura, com as crianças e
principalmente consigo mesmo, de forma a aperfeiçoar-se com novos saberes para transmitilos com segurança a seus alunos.
As diretrizes implantadas no Plano Nacional de Educação - PNE aprovado no ano de
2000 trata da formação dos professores onde estabelece a importância desse profissional
1
REUVEN FEUERSTEIN, Psicólogo judeu-israelense, seguidor de Vigotsky é criador das teorias:
Modificabilidade Cognitiva Estrutural, Experiência da Aprendizagem Mediada, e o programa de Enriquecimento
Instrumental. Depois de desenvolver suas teorias e de aplicar uma série intervenções práticas para mediação com
crianças sobreviventes do holocausto. Feuerstein respondeu à demanda de professores por métodos que
pudessem solidificar seu trabalho no formato curricular. Acesso 13/06/2010. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org
11
quando diz que : “A formação dos profissionais da educação infantil merecerá uma atenção
especial dada a relevância de sua atuação como mediadores no processo de desenvolvimento e
aprendizagem”(2001, p. 41).
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil foi elaborado em 1996, com o
objetivo de auxiliar os profissionais que atuam na educação infantil como um guia nas
atividades pedagógicas. De acordo com esse documento, o papel do professor mediador é
definido da seguinte maneira:
“O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento,
organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem
os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada
criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos
diferentes campos de conhecimento.” (1998, p. 30).
É fundamental essa mediação do professor entre os objetos de conhecimentos e seus
alunos na educação infantil. E as histórias fazem parte desse campo de conhecimento,
portanto, a criança desde pequena precisa ouvir estórias para se socializar, sentir emoções e
sentimentos como medo, alegria, segurança, descobrir outras culturas e lugares imaginários e
distantes de sua realidade. Assim, o professor mediador estará exercendo um papel essencial
no processo de construção do hábito e o gosto pela leitura na educação infantil porque é nesta
fase que se constrói a curiosidade pelo livro e pelas histórias que nas séries seguintes
ajudará os alunos a ter uma boa leitura e um melhor envolvimento na elaboração dos próprios
textos.
O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores2 ( PROFA, 2001 ), aponta a
dificuldade dos jovens na hora de redigir os textos. Pelo fato de não terem tido um contato
maior com as leituras desde a infância, onde diz que: “ A aprendizagem de praticamente
todos os conteúdos curriculares de 5ª- a 8ª- séries depende fortemente da capacidade de
aprender a partir dos textos”.( Profa, 2001, p. 13).
Essas iniciativas do MEC em oferecer cursos que oferecem aos professores condições
de aprimorar suas práticas de leituras e auxiliar na mediação desses conhecimentos favorece
não só ao professor mais principalmente as crianças que estarão envolvidas nesse processo de
conhecer o mundo por meio das letras, porque o prazer pelas leituras se constrói no decorrer
da vida dos alunos, e o profissional que exerce essa função de mediar as histórias que tem
início na educação infantil, precisa ver a sua importância, como educador das práticas
pedagógicas e como peça importante no processo de construção de futuros leitores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo, revela que a arte de contar histórias no passado , reflete de instância,
o prazer do contador em narrar esses contos exercitando suas habilidades no ato de interpretar
com o intuito de satisfazer os ouvintes e lhes proporcionarem bons momentos de
descontração. No âmbito educacional as leituras em sala de aula eram voltadas para as
práticas pedagógicas e que hoje ainda as são, mas contudo, cabe ao professor mediador das
histórias rever essas concepções e transformar esses momentos em algo a mais, que as
2
PROFA. “programa de formação de professores é um curso de aprofundamento criado pelo MEC,
destinados a professores e formadores, que se orienta pelo o objetivo de desenvolver as competências
profissionais necessárias a todo o professor que ensina a ler e a escrever”.
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palavras possam ecoar em sua sala de aula como prazerosas e significativas tanto para si
como para as quem a ouve estabelecendo assim, uma relação entre o que se está ensinando e
a beleza de uma boa história.
Contudo, o PNE, RCNEIe o PROFA3 mencionados, se posicionam como norteadores da
função de educar, intensificando a importância do professor mediador, no processo de
desenvolvimento da aprendizagem, no aspecto físico, cognitivo, psicológico e cultural das
crianças, assim como, apoiar na formação do professor como condição básica para um bom
aproveitamento das práticas pedagógicas. Norteando e abrindo horizontes a novos saberes e
proporcionando ao professor uma nova visão de mundo, podendo ele refletir sobre sua
maneira de educar e de formar cidadãos conscientes, na escolha de bons livros, que possam
auxiliá-lo na construção de uma boa prática de leitura .
Cabe ressaltar que para se ter um bom aproveitamento da história, o professor mediador
deverá fazer uma leitura antecipada, para não correr o risco de tropeçar em palavras ou
demostrar aos ouvintes a total falta de entrosamento com o texto. Assim, a leitura se fará de
forma natural e instigante, possibilitando a observação das sutilezas das palavras que estão
nas entrelinhas do texto.
Durante a pesquisa, o objetivo de demonstrar a importância das ilustrações no ato da
narrativa se consolidou pelo fato da imagem levar ao “arejamento da página, e a um descanso
do texto, que sempre obriga a um esforço maior de leitura, auxiliando o leitor a continuá-la
pelos caminhos mais suaves da imagem”(apud Faria 2008, p. 39-42).
Assim, concluímos que, os apontamentos levantados por meio da pesquisa
bibliográfica em torno da questão: Qual o papel do professor mediador das histórias na
educação infantil? Teve como resolução argumentos essenciais que possibilitou a resposta
de como é importante para a criança a função do professor mediador. Pois essa mediação
favorecerá uma relação mais profunda entre as histórias e o ouvinte de forma prazerosa e
significativa. Cabe ressaltar que para se ter um bom aproveitamento da história, o professor
mediador deverá fazer uma leitura antecipada, para não correr o risco de tropeçar em palavras
ou demostrar aos ouvintes a total falta de entrosamento com o texto. Assim, a leitura se fará
de forma natural e instigante, possibilitando a observação das sutilezas das palavras que estão
nas entrelinhas do texto. Estabelecendo assim uma relação entre o real e o imaginário onde
possibilitará a criança a ter uma melhor compreensão de mundo, de situações e conflitos e a
formular maneiras de se lidar com as inquietações.
E para que isso aconteça, o professor mediador terá que ter como compromisso preparar
a leitura antecipadamente, envolver-se no enredo , nos personagens que inspiram a
imaginação na história, nas sutilezas das palavras, no cuidado ao manusear o livro na hora de
ler, porque todos os pequenos detalhes são observados pelas crianças que estarão aprendendo
com as ações do professor. Assim, o mediador, poderá desenvolver nos pequenos ouvintes
da educação infantil a motivação necessária nas práticas de ler e escrever que se constatou
por meio do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores mencionado no tópico
que fala sobre o papel do professor mediador das histórias na educação infantil, que ao faltar
3
PNE. O Plano Nacional da Educação, foi sancionado pela Lei nº 10.172, em 9 de janeiro de
2001.Trata-se de um plano nacional, Estadual e global, de toda a educação e está em consonância com a
Constituição Federal, com a LDB e com os compromissos internacionais firmados pelo Brasil.( Brasília, 2001, p.
9–1
RCNEI.O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL, foi
concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e
orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando
seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira.(Brasil, 1998, p. 7)
PROFA. PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, foi elaborado pelo MEC e oferece aos
professores brasileiros o conhecimento didático de alfabetização que vem sendo construído nos últimos vinte
anos ( Brasil, 2001, p. 5)
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esse contato com a leitura desde a infância a criança encontrará uma dificuldade nas séries
seguintes onde precisarão escrever seus próprios textos.
Nesse sentido, as histórias precisam ser vistas não só como subsídio para uma boa
prática de leitura, ou um recurso pedagógico, mais sim um instrumento para o professor
mediador desenvolver em seus alunos o prazer pela leitura e o hábito de ouvir histórias tendo
em visto que esse exercício, se perpetua como indispensável ao longo da vida do educando.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES,Valéria de oliveira. Entendendo a literatura infantil. Disponível
http://www.sitedeliteratura.com/infantil.htm . 2002 – 2009. Acessado em 19/03/2010
em:
Brasil, Secretaria de educação Fundamental. Programa de Formação de Professores
Alfabetizadores ( Profa ). Janeiro – Ministério da Educação, 2001.
BRASIL, Secretaria de educação a distância. Práticas de leitura e escrita/ Maria Angélica
Freire de Carvalho, Rosa Helena Mendonça ( orgs.). Brasília: Ministério da Educação, 2006
COSTA, Marta Morais da. Metodologia do ensino da literatura infantil. Curitiba: Ibpex,
2007.
FEUERSTEIN, Reuven - Professor mediador. Disponível em: http://www.wikipedia.org
Acessado em:15/05/2010
FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2008.
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. São Paulo:
Cortez,2008.
Plano Nacional de Educação – PNE, Ministério da Educação – Brasília: Inep, 2001
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do
Desporto/ Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998
RIBEIRO, Jonas. Ouvidos Dourados: a arte de ouvir as histórias (...Para depois contá-las...).
São Paulo: 2001.
SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga: as reinações renovadas. Rio de janeiro:
Agri,1987
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2005.
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Marilene Roma Souza Araujo - Universidade Católica de Brasília