FOTO ALEXANDRE BORDALO
GERIR
Plano de trabalho Nesta foto da final nacional do Global Management Challenge 2014, uma equipa discute os resultados obtidos pela sua empresa e prepara-se
para tomar decisões de gestão
( COMPETIÇÃO )
Pôr desempregados
na montra
Pelo segundo ano consecutivo a Randstad e o IEFP deram a oportunidade a desempregados
de enriquecerem o seu currículo através da participação no Global Management Challenge
Texto Maribela Freitas
112/Exame/agosto 2015
c O Instituto do Emprego e Formação Pro-
fissional (IEFP) e a multinacional de recrutamento Randstad convidaram novamente
este ano desempregados com licenciaturas
inscritos no IEFP a formarem equipas para
participarem no Global Management Challenge. Ao todo, apoiaram a consti­tuição de
19 equipas, no total de 85 pessoas, depois
de na edição de 2014 terem apoiado 13 (o
equivalente a 61 participantes). O objetivo é promover a empregabilidade desta
população, proporcionando-lhe a participação numa competição de estratégia
e gestão. Para os elementos das equipas,
integrar esta iniciativa portuguesa, criada
pelo Expresso e pela SDG – Simuladores
e Modelos de Gestão, é uma forma de se
manterem ativos, de saírem da sua zona
de conforto, de obterem uma nova valência curricular, aumentarem ou treinarem
competências e tornarem-se mais visíveis
para o mercado de trabalho.
A primeira edição do Global Management Challenge realizou-se em 1980, e este
ano, em maio, começou a sua 36.ª edição.
Durante cinco semanas, naquela que foi a
primeira volta da prova, 416 equipas tiveram de tomar decisões de gestão, e deste
total apenas 64 se qualificaram para a segunda volta, agendada para setembro, onde
terão de tomar mais cinco decisões. Na próxima etapa serão selecionadas apenas oito
equipas, que disputarão a final nacional,
em novembro, de onde sairá o vencedor nacional, que irá representar Portugal na final
internacional, em Macau, em abril de 2016.
Nesta competição, as equipas são convidadas a gerir uma empresa e assumem o
papel de um conselho de administração,
sendo que durante um determinado período tomam decisões de topo sobre diversas áreas da vida de uma organização
empresarial (ver caixa “Aprender a gerir
uma empresa”).
Formação técnica
Para José Miguel Leonardo, diretor-geral
da Randstad Portugal, “o Global Management Challenge é uma ferramenta de desenvolvimento de competências técnicas
e comportamentais. No ano passado, e
tendo em conta a nossa taxa de desemprego, considerámos que faria sentido dar
a oportunidade a desempregados de nos
representarem, e desta forma valorizámos
as competências de pessoas em transição,
JORGE GASPAR
O presidente do conselho diretivo
do IEFP está convicto de que
ao integrarem esta prova os
desempregados desenvolvem
conhecimentos e competências,
podendo tornar-se mais
compatíveis com aquilo que o
mercado de trabalho procura e
valoriza na altura de contratar
JOSÉ MIGUEL LEONARDO
O diretor-geral da Randstad
Portugal explica que com
este apoio a equipas de
desempregados na competição
a empresa de recursos humanos
que dirige está a contribuir para
potenciar a empregabilidade
desta população
indo ao encontro da nossa estratégia de
empregabilidade”. Uma ação que assenta
numa parceria com o IEFP e que estão a
repetir na atual edição.
Os elementos que integram as equipas
foram convidados pelo IEFP por e-mail a
participarem. Tinham de estar inscritos
nos serviços de emprego, possuir uma
licenciatura e apresentarem uma carta
de motivação. “Procurámos fazer equipas
transversais em termos de licenciatura e
experiência profissional, para reforçar as
mesmas e aumentar a partilha de conhecimento. Da mesma forma, tivemos em
atenção o local de residência, para que os
membros tivessem a possibilidade de se
conhecer e reunir”, explica José Miguel
Leonardo. Acrescenta que, na sua opi­nião,
“todas as experiências que fortalecem e
desenvolvem competências promovem a
empregabilidade e, mais do que isso, têm
impacto na motivação de quem está em
fase de transição”.
Uma opinião corroborada por Jorge
Gaspar, presidente do conselho diretivo
do IEFP. Acredita que os participantes
adquirem na prova novos conhecimentos,
melhoram as suas competências técnicas,
aumentam a sua rede de relações e enriquecem o currículo. Podem ainda tomar
consciência da necessidade de adquirirem
ou atualizarem conhecimentos pela via da
formação, para um eventual projeto de negócio futuro ou trabalharem por conta de
outrem. “O próprio trabalho em equipa e
o confronto de diferentes pontos de vista
pode abrir-lhes perspetivas para a resolução da situação de desemprego que ante­
riormente não possuíam”, salienta.
Atualmente o mercado de trabalho
requer aos trabalhadores a realização de
tarefas complexas com elevados padrões de
qualidade, a resolução de problemas imprevistos e a adaptação a novas situações.
Jorge Gaspar conta que quando se trata de
contratar trabalhadores, os empregadores
valorizam e pretendem que estes possuam
as competências que lhes permitam responder às exigências do trabalho. “Isto está
bem patente nos anúncios de emprego. Vemos cada vez mais anúncios que, além de
requererem uma determinada formação
de base, eventual experiência profissio­
nal, competências numa ou mais línguas
estrangeiras, domínio de tecnologias de
informação e comunicação específicas, explicitam claramente competências transversais diversas”, acrescenta. Entre essas
conta-se o trabalho em equipa, gestão do
tempo, adaptabilidade, entre outras.
Para o presidente do IEFP, a empregabilidade resulta de uma combinação
de fatores, e alguns deles remetem para
o próprio indivíduo – são os seus conhecimentos e competências. “Esta iniciativa
atua ao nível da maioria destes fatores.
Constitui uma oportunidade de os indivíduos que nela participam, e muito em
particular os desempregados, desenvolverem conhecimentos e competências, permitindo-lhes tornar mais compatíveis esses conhecimentos e competências
Z
agosto 2015
/Exame/113
GERIR
DESAFIO
Em cada uma das etapas do Global
Management Challenge, seja na primeira
ou na segunda volta ou mesmo na final
nacional, as equipas, que por norma têm
entre dois a cinco elementos, gerem uma
empresa durante um ano e três meses
de atividade. Como administradores,
têm de tomar decisões em áreas como o
marketing, recursos humanos, finanças
e produção, num mercado competitivo,
com o objetivo de obter os melhores
resultados.
Quantos produtos a empresa irá produzir
e em que mercados os irá distribuir,
quanto deverá investir em publicidade,
qual será o melhor preço para os
produtos, dever-se-á comprar matéria-prima para trimestres futuros ou não,
dever-se-á aumentar os salários ou
não, será necessário recrutar ou formar
operários, será necessário recorrer
a empréstimos, dever-se-á emitir
ou recomprar ações, será necessário
aumentar o tempo de montagem dos
produtos para melhorar a qualidade
dos mesmos, qual será o melhor
plano de seguros para a empresa, será
conveniente recrutar mais agentes e
distribuidores para os vários mercados
(União Europeia, Nafta e Internet) são
algumas das decisões que as equipas
têm de tomar ao longo de todo este
processo.
Segundo a SDG, neste desafio
os participantes desenvolvem
competências de estratégia e gestão,
adquirem uma visão global do
funcionamento de uma empresa,
passam a compreender o impacto que
uma decisão pode ter no todo, verificam
a interação que existe entre os diversos
departamentos de uma organização,
entre outros aspetos. Melhoram também
as chamadas soft skills (competências
comportamentais), como, por exemplo,
o trabalho em equipa, a tomada de
decisão, a negociação, a comunicação e
a liderança.
Criada há 36 anos, esta iniciativa
portuguesa já envolveu mais de meio
milhão de estudantes e quadros em todo
o mundo e está presente em mais de 30
países.
FOTO NUNO BOTELHO
Aprender a gerir
uma empresa
Z com os que o mercado valoriza”, finaliza o presidente do IEFP.
Voltar a estar ativo
Estar ocupado enquanto procura emprego,
fazer parte de um grupo de pessoas e ter
novas perspetivas são, para Pedro Figueiredo, de 44 anos, licenciado em Gestão,
as vantagens de estar envolvido no Global
Management Challenge. Integra a equipa
Randstad-IEFP/5forone, de que fazem
parte João Condesso, de 45 anos, também
licenciado em Gestão, e Celeste Lucas,
com 57 anos, licenciada em Economia.
Estes três elementos não se conheciam,
mas trabalharam tão bem em equipa que
continuam em prova na segunda volta.
Para Celeste Lucas, foi interessante voltar
ao mundo da gestão na competição, área
onde sempre trabalhou. “Aprendemos
sempre alguma coisa e mantemo-nos ativos, não só na procura de emprego mas
também no acompanhamento e evolução
da realidade, o que é muito importante,
porque na situação de desemprego por
vezes as pessoas ficam acomodadas”, refere. Já para João Condesso, “neste desafio
são colocadas à prova as competências de
gestão dos participantes”. Teve ainda a
oportunidade de utilizar conceitos e ferramentas com que nunca tinha trabalhado
e dá como exemplo o outsourcing.
Novas oportunidades
Pedro Ribeiro, de 47 anos, licenciado em
Economia, é o chefe de equipa da Rands-
114/Exame/agosto 2015
Equipa Randstad-IEFP/5forone Formada por
Celeste Lucas, Pedro Figueiredo e João Condesso,
com idades entre os 44 e os 57 anos e formados
nas áreas de Economia e Gestão de Empresas
tad-IEFP/North, da qual fazem parte Ana
Veva, 34 anos, licenciada em Engenharia
Alimentar, Maria José Martins, 53 anos,
licenciada em Economia, e Rui Sousa, 40
anos, licenciado em Relações Públicas.
Contam que foi a vontade de consolidar,
desenvolver e adquirir competências individuais e de relacionamento interpessoal e
a possibilidade de este desafio os conduzir
à obtenção de um novo projeto profissional o que os motivou a participar. Para
já, continuam em prova na segunda volta.
Em jeito de balanço, Pedro Ribeiro revela que “em ambientes de constante mudança e necessidade de adaptação, como
é este caso, é fundamental que o relacionamento entre as pessoas, a inteligência
emocional e a argumentação façam parte
do universo dos indivíduos para favorecer a conquista de objetivos. Foi a nossa
grande conquista”. No campo da gestão,
constataram a importância que tem na
vida de uma empresa uma estratégia
bem delineada, envolvendo todos os sectores que a constituem, nomeadamente o
marketing, produção, recursos humanos e
finanças, sabendo que todos se inter-relacionam com o objetivo de criar o máximo
valor tendo em conta os recursos disponíveis. O líder da Randstad-IEFP/North
acredita que “para empregadores atentos
FOTO LUCÍLIA MONTEIRO
GERIR
Sair da zona de conforto
Catarina Simões tem 38 anos e é formada
em Marketing. Participou numa equipa
de desempregados na edição de 2014 e
conta que “não me ajudou diretamente a
conseguir um novo emprego, mas serviu
para me motivar e acreditar que tenho
capacidades para agarrar novos desafios
no mercado de trabalho em constante
mudança”. Neste momento está a terminar o trabalho que iniciou em janeiro na
Staples Portugal, a substituir uma licença
de maternidade na área do marketing, e
vai estar novamente à procura de emprego. Do que já vivenciou acredita que
é importante aproveitar o momento de
desemprego para investir em formação e
desenvolver competências. No seu caso, o
Global Management Challenge melhorou
as suas capacidades de liderança, pensamento crítico e estratégico e trabalho em
equipa. Mostrou-lhe ainda que numa
empresa todas as áreas estão interligadas
e as decisões têm impacto no todo. Mas
acima de tudo, confessa, “desafiou-me a
sair da minha zona de conforto. Quando
passamos por uma fase de desemprego,
116/Exame/agosto 2015
FOTO TIAGO MIRANDA
à competição esta experiência dá-lhes um
indicador muito útil relativamente ao tipo
de capital humano que poderão recrutar.
Este é um dos motivos pelo qual estamos
convictos de que os futuros empregadores
não são indiferentes a este tipo de iniciativa, principalmente tendo esta uma projeção a nível mundial”.
Participantes Ana Veva, Pedro Ribeiro, Maria José
Martins e Rui Sousa, da equipa Randstad-IEFP/
North, na foto em cima, e Rute Martins e Catarina
Simões, da edição de 2014, na foto em baixo
ficamos mais fragilizados, a nossa confiança e a autoestima baixam, e com este
tipo de iniciativa voltamos a fazer parte de uma equipa que tem de competir
com concorrentes, como no mundo real.
O sangue volta a correr nas veias e temos
mais força para agarrar novos desafios”.
Motivação e vontade de dar a volta por
cima foi o que Rute Martins, de 37 anos e
licenciada em Gestão, sentiu quando, no
ano passado, integrou uma destas equipas. Desde fevereiro que é diretora financeira na empresa Casa do Marquês. Na
sua equipa motivavam-se todos a tentar
encontrar um novo posto de trabalho e,
quanto à competição em si, pensou que
“seria uma forma de contactar com o mercado de trabalho, principalmente com a
parceria com a Randstad, pois, sendo esta
uma empresa de recrutamento e seleção,
só tinha vantagens em fazê-lo e estar inserida neste meio”, frisa.
História de sucesso
Das 61 pessoas que integraram as equipas
de desempregados em 2014 nem todas encontraram já um novo posto de trabalho.
Muitas continuam desempregadas e outras optaram por criar um negócio. Mas
há histórias felizes. Violeta Marques tem
51 anos e participou na prova em 2014. Licenciada em Economia, tem um MBA em
Gestão e outro em Finanças e Fiscalidade
e é, desde abril deste ano, a responsável
administrativa e financeira da Eurocast
Portugal, uma empresa que produz componentes para o sector automóvel. Conta
que “a competição pela visibilidade que
tem e mais-valia curricular que representa
pareceu-me na altura benéfica para aumentar a minha empregabilidade”.
Desenvolveu a capacidade de controlo, análise e reação por forma a adaptar
as estratégias à realidade em tempo útil e
aprendeu que perante um grande número de variáveis e interesses em conflito o
importante é definir objetivos estratégicos
globais e assumir compromissos para os
alcançar. Na opinião de Violeta Marques,
associados a períodos de desemprego mais
longos surgem sentimentos de insegurança e dúvida. “Estas iniciativas permitem
utilizar as competências adquiridas e testá-las em contextos muito próximo dos
reais e logo contrariar estes sentimentos”,
finaliza. E
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Pôr desempregados na montra