ENSINO MÉDIO – 1ª Série
FILOSOFIA
___/___/2012
ALUNO: _____________________________________ N.º__________ TURMA ______
AULA 08
Tema: O método socrático
Introdução
A QUESTÃO SOCRÁTICA: O QUE É A VIRTUDE?
Virtuoso é o homem que dedica sua vida na importante tarefa de encontrar a natureza da virtude, ou seja, todo
o empenho do sujeito será devotado na incansável busca, mas para isso precisamos examinar em que consiste a
natureza das virtudes particulares. Então, para Sócrates, devemos partir do particular em direção ao geral, confiando
somente nos argumentos derivados da razão.
Sócrates estabelece um método que o auxilia nessa tarefa, e esse método é a dialética que consiste em mostrar,
mediante o diálogo, um debate racional sobre qualquer tema, onde os interlocutores assumem uma posição de igualdade
e com honestidade vão construir conjuntamente um conhecimento preciso acerca do tema da discussão.
No método socrático não está em destaque o espetáculo que o sofista proporciona, mas sim uma investigação que
busca tão somente o conhecimento da natureza da virtude. Para Sócrates é um dever moral dialogar com qualquer cidadão
para exercitar a reflexão e o raciocínio para o que realmente importa: a vida em conformidade com os princípios éticos.
1.
O método socrático
O método dialético tem como objetivo a libertação da alma do caminho da ignorância, mas antes que alguém
levante dúvidas sobre o conceito de alma, é preciso que se esclareça que a alma na visão de Sócrates é entendida
como intelecto e não como espírito. Cuidar da alma significa cuidar da vida.
Então, o método socrático é para despertar todos os homens, sem distinção alguma, para a importante tarefa de
examinar sua vida e suas ideias. Esses homens devem se modificar para viver bem. Mas como fazer isso? Como esses
homens vão fazer um autoexame?
O ponto de partida do método é tornar-se um aprendiz, ou seja, no debate, diante do interlocutor, o aprendiz afirma
desconhecer o que está sendo debatido. A expressão “sei que nada sei” é o reconhecimento de ignorância diante dos
principais temas humanos e, ao mesmo tempo, é uma possibilidade de se estabelecer um diálogo. A afirmação da frase é
uma recusa socrática de se estabelecer uma tese para o debate, esse fato levará o interlocutor então, a criar a tese sobre o
tema. Fazendo tudo isso, tem inicio então o debate racional que visa, sobretudo, trazer uma definição que ilumine o tema.
As questões obscuras serão esclarecidas pela luz do conhecimento. Dois momentos são importantes aqui:
2.
a)
O protréptico ou exortação.
b)
O élenkhos ou indagação.
A exortação ou protréptico
O interlocutor diante do não saber de Sócrates, sente-se seguro para iniciar o diálogo, posto que quem nada sabe
não poderá rejeitar a tese exposta. O interlocutor cria coragem e estabelece uma tese, e aí, ele cai em uma armadilha.
Vejamos um exemplo.
Sócrates lança a questão: O que é a beleza? E mais, se ela existe, pode ser encontrada somente no homem ou
ela pode estar presente em outros objetos?
A escolha de quem pensa!
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ENSINO MÉDIO – 1ª Série
O interlocutor responde: Em minha opinião, a beleza existe e pode ser encontrada em muitas coisas e objetos. Um
homem não erra quando afirma que seu escudo é belo, seu sapato é belo e sua mulher, bela.
Para o interlocutor a questão parece ter encerrada, uma vez que ele respondeu com clareza o questionamento de
Sócrates, no entanto, o nosso filósofo não se contenta com a resposta dada e lança um novo desafio: Como é possível
que coisas tão diferentes possam ser agrupadas sob o nome de belas?
Sócrates não fez nenhuma afirmação, mas não aceita a opinião de seu interlocutor e exige uma explicação mais
plausível. O interlocutor aceita o novo desafio e, estimulado continua o diálogo: Ora, o que permite agrupar coisas tão
distintas é que todas são feitas e cumprem satisfatoriamente suas funções. Em outras palavras, todas as coisas são
bem constituídas para servir nossas necessidades.
A resposta do interlocutor parece ter sepultado todas as dúvidas, uma vez que ele definiu algo que a maioria das
pessoas não conhecia a beleza.
3.
A indagação (élenkhos), a ironia e a refutação
Será que o interlocutor venceu o debate? Antes de dar os parabéns ao interlocutor, Sócrates lança outra pergunta:
Você sabe qual a razão de termos olhos?
O que poderia ser algo fora de contexto conduzirá o interlocutor a sérias dificuldades para sustentar sua posição,
mas ainda assim ele afirma: Claro que sei. Foram projetados para ver.
Sócrates tem agora o que precisa para pressionar o interlocutor com uma longa série de perguntas e o processo
agora vai ser a ironia (eironeia), que do grego, significa dissimulação. Aqui começa um amplo leque de disfarces e
fingimentos para conduzir o interlocutor a reconhecer os limites de sua definição.
Diante da resposta do interlocutor, o que segue é a afirmação socrática: Bem, sendo os olhos projetados para ver,
e aceitando que o belo para você, consiste em ser bem-feito para cumprir determinada função, só me resta concluir que
os meus olhos são melhores do que os seus.
Como assim? Responde o interlocutor.
Meus olhos são mais belos e melhores do que os seus pela seguinte razão: os seus só veem o que está à frente,
os meus, como são esbugalhados veem também o que está dos lados.
A ironia de Sócrates está no fato para afirmar que é “belo” os seus olhos esbugalhados. E a partir da ironia,
podemos concluir que Sócrates vai então afirmar que a tese inicial do seu interlocutor não passa de opinião (doxa) e
não merece ser elevada à categoria de conhecimento (episteme).
Sócrates, então, através da ironia já fragilizou os argumentos do interlocutor, resta agora refutar, definitivamente,
as ideias errôneas ou falsas que até então estiveram presentes no diálogo.
Claro que este é um exemplo simplista, mas os diálogos são fundamentais para entendermos e chegarmos a
alguma conclusão, e o importante aqui é nos livrarmos do falso ensino ou do falso saber.
Os diálogos certamente provocam crises, e a crise (do grego krisis) significa colocar sob avaliação, parar para
considerar outras opções. Da crise, decorrente da refutação de uma tese, pode nascer o pensamento crítico fundamental
para nos tornar sujeitos autônomos.
4.
Parte final do método: a maiêutica
O momento em que Sócrates e seu interlocutor se lançam em busca do verdadeiro saber é chamado de maiêutica
ou a proposta de gerar novas ideias. Sócrates age como um verdadeiro parteiro de almas e pretende a ajudar seu
interlocutor a encontrar por si mesmo a verdade, uma vez que ele, Sócrates, não pode ensinar, pois nada conhece
nada sabe.
É no texto de Platão Teeteto que se encontra a ideia de maiêutica, onde Sócrates interpreta a aflição de Teeteto
que sente dores semelhantes a um parto. Sócrates pode ajuda-lo a gerar novas ideias porque tem a arte, a habilidade
para tanto.
O diálogo prossegue expondo varias situações envolvidas no processo da maiêutica e mostra que nem todos
estão dispostos a se livrar de antigas opiniões. Para parir ideias é preciso antes de mais nada, estar apto para gerar
novas ideias e, ideias novas são geradas quando as velhas são deixadas de lado.
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A escolha de quem pensa!
ENSINO MÉDIO – 1ª Série
Conclusão
Por que Sócrates levanta tanta paixão? Por que muitos jovens atenienses se entregaram a essa busca em Sócrates?
O que convenceu jovens aristocratas a perambular em Atenas atrás de um homem descalço e muito malvestido? Platão
responde isso no diálogo Mênon:
Ó Sócrates, tinha ouvido, antes mesmo de encontrar-me contigo, que tu não fazes senão duvidar e fazes com que
os outros também comecem a duvidar. Ora, tu me fascinas, me encantas, me enredas completamente, de modo
que me tornei cheio de dúvidas. E parece-me, se me permites usar uma brincadeira, que te assemelhas muito,
pelo aspecto e por tudo o mais, à raia marinha que também entorpece quem a toca. Pois me parece que produziste sobre mim um efeito semelhante. Com efeito, tenho a alma e a boca entorpecidas e não sei mais o que te
responder. Contudo, muitas vezes discorri sobre a virtude, pelo menos segundo me parecia. Agora, ao contrário,
não sei nem mesmo dizer o que ela é.
Platão, Mênon. In: Diálogos. Bauru: Edipro, 2007.
Em Sócrates, os filósofos subsequentes encontraram um exemplo de vida dedicada ao saber e à verdade. Vida
que foi muitas vezes retratada como adequado exemplo de coragem, dignidade e coerência com que enfrentou as
dificuldades da vida e a sentença de morte. Acusado de corromper a juventude e desacreditar os deuses da cidade,
Sócrates foi levado ao tribunal de Atenas, aos setenta anos. Ele não precisa comparecer ao tribunal, mas foi e acatou
a decisão que o levou à morte.
Ao afirmar no tribunal, em sua defesa, que uma vida privada da investigação não seria digna de ser vivida, Sócrates
praticamente assinou sua sentença de morte. Se o fato foi político ou não, não importa, mas o que é importante destacar
é que ele viveu uma vida em conformidade com a virtude. Eis, portanto, diante de cada um de nós, o mártir da filosofia,
o que ajudou a perpetuar definitivamente seu nome na história cultural do Ocidente.
A escolha de quem pensa!
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