Desenvolvimento de ligadores eléctricos efectuando simulações computacionais baseadas no Método dos Elementos Finitos 1. INTRODUÇÃO O objectivo deste trabal ho consiste em tentar prever, a carga de rotura para um conjunto de l igadores eléctricos a partir do software Autodesk Inventor que possui recursos de anál ise por elementos finitos. Para este efeito seleccionamos um grupo dist into de l igadores eléctricos que foram sujeitos a ensaios práticos de tracção até à rotura. Nos ensaios real izados foram recolhidas as diferentes cargas de rotura obtidas. Após a real ização dos ensaios mecânicos reproduzimos as mesmas condições dos ensaios no software Autodesk Inventor e real izamos várias simulações, com aplicação de diferentes cargas. A amplitude dos valores de carga apl icada nos ensaios compreende valores inferiores à carga de rotura, encontrada no ensaio prático, e um conjunto de valores superiores. Com estas múltiplas simulações pretendemos encontrar um padrão comparativo comum, nas d iferentes anál ises executadas no software, de forma que se possa estabelecer uma relação entre os resultados obtidos nas simulações real izadas em computador e nos ensaios experimentais. Definida com rigor esta relação podemos prever, em análises futuras, a carga de rotura de um determinado componente para que só seja necessário recorrer a ensaios práticos para a val idação dos resultados finais. Figura 2. Resultado dos ensaios Para a execução das simulações em computador procuramos reproduzir, o mais fielmente possível, as condições reais dos ensaios práticos. A Figura 3 mostra o esquema de montagem util izado na real ização dos ensaios mecânicos. 2. ENSAIOS 2.1. Modelo C14D41103-1 O primeiro modelo a ser anal isado apresenta a referência C14D41103-1 e representa Meia Forquilha "R" DOMEX 460 P/Galvaniz. L=305x70 Ch.8 (ver Figura 1). Figura 1. Modelo C14D4103-1 O modelo C14D41103-1 foi ensaiado três vezes. O resultado destes ensaios são apresentados na Figura 2. Figura 3. Dispositivo de montagem para a real ização dos ensaios mecânicos No modelo numérico a montagem representada na Figura 3 foi reproduzida de forma simpl ificada como representamos na Figura 4. Figura 4. Representação esquemática do modelo numérico Para além do modelo a ser anal isado foi adicionado um elemento cilíndrico, que será designado neste estudo por calço, para a apl icação da carga. Na face plana do calço foi apl icada uma pressão constante, sendo a carga resultante o produto da área (140.4mm2) pela pressão apl icada (ver a Figura 5). Figura 5. Elemento para apl icação de pressão 1 No lado oposto, o conjunto foi rigidamente fixado pela face do furo. A malha de elementos finitos gerada em cada um dos componentes (Figura 6) foi definida de forma mais f ina possível (de acordo com a capacidade de processamento do hardware disponível) para que cada uma das anál ises pudesse reflectir de forma mais rigorosa os resultados pretendidos. 145000 N Pressão (MPa) x Área (mm2) = 1032.8x140.4=145000 N 150000 N 155000 N Figura 6. Malha de elementos f initos util izada na real ização das simulações 160000 N O material util izado na construção do modelo numérico foi o aço DOMEX 460, cujas características mecânicas são apresentadas na Tabela 1: Yield strength Tensile strength ReH N/mm2 min Rm N/mm2 min - max 460 573 165000 N 166000 N Tabela 1. Características mecânicas do aço Domex 460 Nos ensaios experimentais efectuados foram obtidos os seguintes resultados em termos de carga de rotura (ver Tabela 2). Estado Lote MP Certif icado fornecedor Nº Rm (N/ mm2) Nº Bruto 2010LC110012 2010000369 573 Relatórios nº (*) 163000 N 167000 N Resultado dos ensaios de rotura (em daN) 1 2 3 Média 168000 N 47, 48, 49 16.938 17.076 16.889 16.968 169000 N Tabela 2. Resultados dos ensaios experimentais do componente C14D41103-1 170000 N 2.1.1. Anál ise em software Analisando os resul tados dos ensaios experimentais apresentados na Tabela 2, verificamos que a rotura ocorre por volta dos 170000N. No seguimento destes ensaios foram executados um conjunto de anál ises em computador, aplicando um conjunto variado de cargas tal como consta na Tabela 3. A amplitude das cargas varia entre um mínimo de 145000 N e um máximo de 175000 N. Dentro deste intervalo encontram-se os três valores obtidos nos ensaios experimentais, 169380N, 170760 N e 168890 N. Na coluna mais à direita são apresentadas as anál ises tensoriais para cada uma das cargas. O valor da Rm do material (certif icado do fornecedor) é de 573 MPa, por isso vamos incidir o estudo num intervalo de tensões compreendido entre os 563 MPa e 588 MPa. Carga (N) 2 Rm (Certificado do fornecedor) = 573 MPa 175000 N Tabela 3. Anál ise em computador do modelo C14D41103-1 2.1.2. Anál ise dos resultados Com valores de carga compreendidos entre os 145000 N e os 163000 N é visível, nas anál ises apresentadas, que as tensões calculadas nas secções críticas do componente não at ingem na sua total idade o intervalo de tensões anal isado (563 MPa - 583 MPa). Na Figura 7 é visível uma faixa central de cor azul cujas tensões são inferiores à Resistência Máxima do material. 2.2. ModeloC1L27524-1 O segundo modelo a ser anal isado foi o C1L27524-1 designado por Balancim Triangular "Aço S355JO" - 400x70; E=20 - com 3 Parafusos M22 Classe 12.9 e representado naFigura 10. Figura 7. Valores da tensão na faixa central para uma carga de 163000 N Nesta anál ise também é visível que no intervalo de cargas compreendido entre os 145000 N e os 163000 N, não é visível uma grande alteração no aspecto da anál ise tensorial apresentado, apesar de podermos considerar um intervalo de cargas de grande ampl itude. Pela análise tensorial podemos deduzir que o componente neste intervalo apresenta uma certa estabil idade. Com valores de carga compreendidos entre os 163000 N e os 169000 N, valores próximos da carga de rotura dos ensaios experimentais, optámos por fazer uma anál ise mais fina, incrementando o valor da carga de ensaio para 1000 N. Este incremento, mais fino, visa anal isar as zonas mais críticas de forma a podermos compreender melhor como o modelo se comporta com valores de carga próximos do seu ponto de rotura (valor médio dos ensaios 169680 N). À medida que a carga se aproxima do valor da carga de rotura, verificamos nas imagens apresentadas, que as tensões calculadas se encontram dentro do intervalo anal isado (563 MPa 588 MPa). Ou seja, as secções críticas encontram-se na sua total idade muito próximas ou acima da resistência máxima do material, 573 MPa (ver a Figura 8). Podemos então concluir, que neste intervalo de cargas será perfeitamente previsível que a rotura acontecerá irremediavelmente. Figura 10. Modelo C1L27524-1 (2 chapas) O modelo C1L27524-1 foi ensaiado três vezes. O resultado destes ensaios estão representados na Figura 11. Figura 11. Resultado dos ensaios do modelo C1L27524-1 Figura 8. Comparação das análises para uma carga de 163000 N e 175000 N No intervalo de cargas entre os 169000 N e os 175000 verificámos que existe uma alteração significat iva do aspecto na anál ise tensorial (ver a Figura 9). O material util izado no modelo ensaiado foi o Aço S355JO, cujas características mecânicas são apresentadas na Tabela 4. Yield strength Tensile strength ReH N/mm2 min Rm N/mm2 min - max 355 576 Tabela 4. Características mecânicas do Aço S355JO Figura 9. Comparação das análises para uma carga de 169000 N e 175000 N 3 Nos ensaios experimentais efectuados foram obtidos os resultados, em termos de carga de rotura, representados naTabela 5. calço foi apl icada uma pressão constante, sendo a carga resultante o produto da área (140.4mm2) pela pressão apl icada (ver a Figura 5). 2.2.1. Anál ise em software Certif icado fornecedor Nº Resultado dos ensaios de rotura (em daN) Pelos resultados dos ensaios experimentais apresentados na Tabela 5, verificamos que a rotura aconteceu por volta dos 230000 3 1 2 Nº Média N. Em computador foram executadas várias anál ises, apl icando um 576 56, 57, 58 21.555 23.151 23.278 22.661 conjunto variado de cargas, tal como consta na Tabela 6. A Bruto 2010LC100010 2010000287 ampl itude das cargas aplicadas varia entre um mínimo de 200000 N Tabela 5. Resultados dos ensaios experimentais do e um máximo de 240000 N. Dentro deste intervalo encontram-se os componente C1L27524-1 três valores obtidos nos ensaios prát icos, 215550 N, 231510 N e 232780 N. O valor da Rm do material (certificado do fornecedor) é Os ensaios experimentais foram executados de acordo com a de 576 MPa, por isso vamos incidir o estudo num intervalo de Figura 12. tensões compreendido entre os 586 MPa e 551 MPa. Estado Lote MP Rm (N/ mm2) Relatórios nº (*) Carga (N) Rm (Certificado do fornecedor) = 576 MPa 200000 N Pressão (MPa) x Área (mm2) 712.3x140.4x2=200000 N 205000 N Figura 12. Dispositivo para ensaio prát ico do componente C1L27524-1 No trabalho numérico a montagem acima foi reproduzida de forma simpl ificada de acordo com a Figura 13. Para a execução da anál ise a montagem foi rigidamente fixada pelas faces dos furos de diâmetro de 24 mm (secção representada a vermelho). 210000 N 215550 N (Carga mínima obtida nos ensaios experimentais) 220000 N 225000 N 230000 N 232760 N (Carga máxima obtida nos ensaios experimentais) 240000 N Figura 13. Esquema da geometria util izada nas simulações em computador Tabela 6. Análise em computador do modelo C1L27524-1 Para a execução das simulações deste componente foi usado o mesmo elemento do ensaio anterior para apl icação da carga (neste caso particular foram usados dois elementos). Na face plana do 4 2.2.2. Anál ise dos resultados Aval iando as anál ises do modelo C1L27524-1 podemos concluir que até a uma carga de 210000 N as secções críticas do componente não estão na sua total idade dentro do intervalo definido para anál ise (551 MPa - 586 MPa). Podemos então concluir, com algum real ismo, que o modelo suportará esta carga à rotura. No intervalo dos 215000 N até aos 232760 N as secções críticas começam a ter diversos sectores totalmente atravessados por tensões compreendidas no intervalo de anál ise, por esse motivo, podemos concluir que irá ocorrer neste intervalo a cedência completa do modelo. A análise efectuada com uma carga de 240000 N visa exibir de forma clara a total idade da secção crítica do componente dentro ou acima do intervalo de tensões anal isado. O material do modelo ensaiado foi o aço S275JR, cujas características mecânicas são apresentadas na Tabela 7. O terceiro modelo a ser anal isado foi o B7419103-1, representado na Figura 14 e identif icado, Ligador Direito "Aço S275JR" - L=100 - 2 Furos 24 mm. Tensile strength ReH N/mm2 min Rm N/mm2 min - max 275 456 Tabela 7. Características mecânicas do Aço S275JR Nos ensaios práticos efectuados foram obt idos os seguintes resultados em termos de carga de rotura (ver Tabela 8). Estado 2.3. Modelo B7419103-1 Yield strength Lote MP Certif icado fornecedor Nº Nº Bruto 2010LC130007 2010000427 Rm (N/ mm2) 456 Relatórios nº (*) Resultado dos ensaios de rotura (em daN) 1 2 3 Média 53, 54, 55 19.873 20.202 18.374 19.483 Tabela 8. Resultados dos ensaios práticas do componente C1L27805 Em computador a montagem foi executada de acordo com a Figura 16. Para a execução da anál ise a montagem foi rigidamente fixada pela face do furo de d iâmetro de 24 mm (a vermelho). Figura 16. Esquema de simulação em computador Figura 14. Modelo B7419103-1 O modelo B7419103-1 foi ensaiado três vezes. O resultado destes ensaios estão representados na Figura 15. Para execução deste ensaio foi usado um elemento idêntico ao dos ensaios anteriores para apl icação da carga (neste caso particular l igeiramente maior devido à espessura de 15 mm da chapa). Na face plana do calço foi apl icada uma pressão constante, sendo a carga resultante o produto da área (228.2 mm2) pela pressão apl icada (ver a Figura 5). 2.3.1. Anál ise em software Pelos resultados dos ensaios experimentais apresentados na Tabela 8, verificamos que a rotura aconteceu dentro do intervalo compreendido entre uma carga de 183740 N e uma carga de 202020 N. Em computador foram executados um conjunto de anál ises, apl icando um conjunto variado de cargas como representamos na Tabela 9. A amplitude das cargas apl icadas varia entre um mínimo de 180000 N e um máximo de 205000 N. Dentro deste intervalo encontram-se os três valores obtidos nos ensaios prát icos, 183740 N, 198730 N e 202020 N. O valor da Rm do material (certif icado do fornecedor) é de 456 MPa, por isso vamos incidir o estudo num intervalo de tensões compreendido entre os 461 MPa e 436 MPa. Figura 15. Resultado dos ensaios do modelo B7419103-1 5 Carga (N) Rm (Certificado do fornecedor) = 456 MPa 180000 N Pressão (MPa) x Área (mm2) 788.9x228.2=180000 N 183740 N (Carga mínima obtida nos ensaios experimentais) 185000 N 190000 N 195000 N 198730 N 202020 N (Carga máxima obtida nos ensaios experimentais) 205000 N Tabela 9. Análise em computador do modelo C1L27805 2.3.2. Anál ise dos resultados Na aval iação das anál ises do modelo B7419103-1 podemos concluir que os dois ensaios experimentais onde foram obtidos os resultados mais elevados se enquadram naquilo que temos vindo a defender neste trabalho, isto é, a rotura acontece quando toda uma secção crítica se encontra dentro de uma tensão próxima da tensão máxima admissível. O ensaio experimental com um valor carga de 183740 N cai um pouco fora desta análise. Esta d ivergência poderá ter a ver, por exemplo, com alguma fissura existente no modelo, ou que a tensão máxima admissível do material se aproxime mais da sua tensão mínima que para este material é de 410 MPa (ver a Figura 17). Neste pressuposto era previsível que a cedência total do modelo acontecesse. Figura 17. Análise para um intervalo de 405 a 410 MPa 6 3. CONCLUSõES Pelos ensaios e resultados apresentados pensamos que com uma anál ise qual itativa e quant itativa criteriosa será possível prever com alguma margem de segurança, a rotura de um determinado componente. Será também decisivo para esta análise def inir correctamente as propriedades mecânicas de cada um dos materiais dos componentes envolvidos. Em relação à anál ise podemos ainda concluir que se a total idade das tensões calculadas em cada uma das secções estiver compreendida ou acima do intervalo de tensões a anal isar (intervalo definido próximo da resistência máxima do material) podemos afirmar com grande margem de segurança que a rotura acontecerá. Américo Costa - Licenciado em Eng.ª Mecânica pela Universidade do Porto - Técnico de Formação do CENFIM - Núcleo de Ermesinde