Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Estado da Educação
CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS (CEEJA)
“Max Dadá Gallizzi” – Praia Grande/SP
Área: Ciências Humanas e suas Tecnologias
Curso: Ensino Médio
Disciplina: Sociologia
Professor: Bruno Joaquim
Unidade de Estudo: 04
SOCIOLOGIA - 04
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Conteúdo
 Desigualdade de classe;
 Desigualdade racial;
 Gênero e desigualdade.
Habilidades
 Reconhecer e analisar formas de manifestação da desigualdade
social;
 Compreender a desigualdade na construção social do gênero;
 Compreender criticamente a idéia de raça e etnia;
 Distinguir as diferentes abordagens sociológicas do conceito de
classe social;
 Identificar fatores que expressam a desigualdade social no Brasil.
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Sociedade
A definição mais geral do conceito de sociedade pode ser resumida
como um sistema de interações humanas culturalmente padronizadas.
Assim, sociedade é um sistema de símbolos, valores e normas, como
também é um sistema de posições e papéis.
Uma sociedade é uma rede de relacionamentos sociais, podendo ser
ainda um sistema institucional, por exemplo, sociedade anônima, sociedade
civil, sociedade artística etc. A origem da palavra sociedade vem do latim
societas, que significa associação amistosa com outros.
O termo sociedade é comumente usado para o coletivo de cidadãos
de um país, governados por instituições nacionais que aspiram ao bem-estar
dessa coletividade. Todavia, a sociedade não é um mero conjunto de
indivíduos vivendo juntos em um determinado lugar, é também a existência
de uma organização social, de instituições e leis que regem a vida dos
indivíduos e suas relações mútuas. Há também alguns pensadores cujo
debate insiste em reforçar a oposição entre indivíduo e sociedade,
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reduzindo, com frequência, ao conflito entre o genético e o social ou
cultural.
Durkheim, Marx e Weber conceituaram de maneiras diferentes a
definição de sociedade. Cada um definiu a constituição da sociedade a
partir do papel político, social ou econômico do indivíduo.
Para Émile Durkheim, o homem é coagido a seguir determinadas
regras em cada sociedade, o qual chamou de fatos sociais, que são regras
exteriores e anteriores ao indivíduo e que controlam sua ação perante aos
outros membros da sociedade. Fato social é a coerção do indivíduo,
constrangido a seguir normas sociais que lhe são impostas desde seu
nascimento e que não tem poder para modificar.
Em outras palavras, a sociedade é que controla as ações individuais,
o individuo aprende a seguir normas que lhe são exteriores (não foram
criadas por ele), apesar de ser autônomo em suas escolhas; porém essas
escolhas estão dentro dos limites que a sociedade impõe, pois caso o
indivíduo ultrapasse as fronteiras impostas será punido socialmente.
Para Karl Marx, a sociedade sendo heterogênea, é constituída por
classes sociais que se mantêm por meio de ideologias dos que possuem o
controle dos meios de produção, ou seja, as elites. Numa sociedade
capitalista, o acúmulo de bens materiais é valorizado, enquanto que o bemestar coletivo é secundário.
Numa sociedade dividida em classes, o trabalhador troca sua força de
trabalho pelo salário, que é suficiente apenas para ele e sua família se
manterem vivos, enquanto que o capitalista acumula capital (lucro), que é o
símbolo maior de poder, de prestígio e status social.
A exploração do trabalhador se dá pela mais-valia, a produção é
superior ao que recebe de salário, sendo o excedente da produção o lucro
do capitalista, que é o proprietário dos meios de produção. Assim se
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concretiza a ideologia do capitalista: a dominação e a exploração do
operário/trabalhador para obtenção do lucro.
Para Marx, falta ao trabalhador a consciência de classe para superar a
ideologia dominante do capitalista e assim finalmente realizar a revolução,
para se chegar ao socialismo.
Max Weber não tem uma teoria geral da sociedade concebida, sendo
que está mais preocupado com o estudo das situações sociais concretas
quanto à suas singularidades. Além da ação social, que é a expressão do
comportamento externo do indivíduo, trabalha também o conceito de
poder. A sociedade, para Weber, constitui um sistema de poder, que
perpassa todos os níveis da sociedade, desde as relações de classe a
governados e governantes, como nas relações cotidianas na família ou na
empresa. O poder não decorre somente da riqueza e do prestígio, mas
também de outras fontes, tais como: a tradição, o carisma ou o
conhecimento técnico-racional.
O poder por meio da dominação tradicional se dá através do
costume, quando já está naturalizada em uma cultura e, portanto,
legitimada. Por exemplo, uma fonte de dominação tradicional é o poder dos
pais sobre os filhos, do professor sobre o aluno etc.
O domínio do poder carismático ocorre quando um indivíduo
submete os outros à sua vontade, por meio da admiração/fascinação e sem
uso da violência. O líder carismático controla os demais pela sensação de
proteção, que atrai as pessoas ao seu redor.
A ação racional com relação aos fins ocorre na burocracia, visando
organizar as transações tanto comerciais como estatais, para que funcionem
de forma eficiente. Por conta dessa organização, os indivíduos são
submetidos às normas e diretrizes da empresa ou do Estado, para que o
funcionamento dessas organizações seja eficiente e eficaz.
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Orson Camargo/Colaborador Brasil Escola
Graduado em Sociologia FESPSP
Mestre em Sociologia pela UNICAMP
Desigualdade social
A desigualdade social e a pobreza são problemas sociais que afetam
a maioria dos países na atualidade. A pobreza existe em todos os países,
pobres ou ricos, mas a desigualdade social é um fenômeno que ocorre
principalmente em países não desenvolvidos.
O conceito de desigualdade social é um guarda-chuva que
compreende diversos tipos de desigualdades, desde desigualdade de
oportunidade, resultado, etc., até desigualdade de escolaridade, de renda, de
gênero, etc. De modo geral, a desigualdade econômica – a mais conhecida
– é chamada imprecisamente de desigualdade social, dada pela distribuição
desigual de renda. No Brasil, a desigualdade social tem sido um cartão de
visita para o mundo, pois é um dos países mais desiguais. Segundo dados
da ONU, em 2005 o Brasil era a 8º nação mais desigual do mundo. O
índice Gini, que mede a desigualdade de renda, divulgou em 2009 que a do
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Brasil caiu de 0,58 para 0,52 (quanto mais próximo de 1, maior a
desigualdade), porém esta ainda é gritante.
Alguns dos pesquisadores que estudam a desigualdade social
brasileira atribuem, em parte, a persistente desigualdade brasileira a fatores
que remontam ao Brasil colônia, pré-1930 – a máquina midiática, em
especial a televisiva, produz e reproduz a ideia da desigualdade, creditando
o “pecado original” como fator primordial desse flagelo social e, assim, por
extensão, o senso comum “compra” essa ideia já formatada –, ao afirmar
que são três os “pilares coloniais” que apoiam a desigualdade: a influência
ibérica, os padrões de títulos de posse de latifúndios e a escravidão.
Distribuição de Renda no Brasil – 2010
Renda do trabalhador brasileira
É evidente que essas variáveis contribuíram intensamente para que a
desigualdade
brasileira
permanecesse
por
séculos
em
patamares
inaceitáveis. Todavia, a desigualdade social no Brasil tem sido percebida
nas últimas décadas, não como herança pré-moderna, mas sim como
decorrência do efetivo processo de modernização que tomou o país a partir
do início do século XIX.
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Junto com o próprio desenvolvimento econômico, cresceu também a
miséria, as disparidades sociais – educação, renda, saúde, etc. – a flagrante
concentração de renda, o desemprego, a fome que atinge milhões de
brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a baixa escolaridade, a
violência. Essas são expressões do grau a que chegaram as desigualdades
sociais no Brasil.
Segundo Rousseau, a desigualdade tende a se acumular. Os que vêm
de família modesta têm, em média, menos probabilidade de obter um nível
alto de instrução. Os que possuem baixo nível de escolaridade têm menos
probabilidade de chegar a um status social elevado, de exercer profissão de
prestígio e ser bem remunerado. É verdade que as desigualdades sociais são
em grande parte geradas pelo jogo do mercado e do capital, assim como é
também verdade que o sistema político intervém de diversas maneiras, às
vezes mais, às vezes menos, para regular, regulamentar e corrigir o
funcionamento dos mercados em que se formam as remunerações materiais
e simbólicas.
Observa-se que o combate à desigualdade deixou de ser
responsabilidade nacional e sofre a regulação de instituições multilaterais,
como o Banco Mundial. Conforme argumenta a socióloga Amélia Cohn, a
partir dessa ideia “se inventou a teoria do capital humano, pela qual se
investe nas pessoas para que elas possam competir no mercado”. De acordo
com a socióloga, a saúde perdeu seu status de direito, tornando-se um
investimento na qualificação do indivíduo.
Ou, como afirma Hélio Jaguaribe em seu artigo No limiar do século
21: “Num país com 190 milhões de habitantes, um terço da população
dispõe de condições de educação e vida comparáveis às de um país
europeu. Outro terço, entretanto, se situa num nível extremamente modesto,
comparável aos mais pobres padrões afro-asiáticos. O terço intermediário
se aproxima mais do inferior que do superior”.
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A sociedade brasileira deve perceber que sem um efetivo Estado
democrático, não há como combater ou mesmo reduzir significativamente a
desigualdade social no Brasil.
Orson Camargo/Colaborador Brasil Escola
Graduado em Sociologia FESPSP
Mestre em Sociologia UNICAMP
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Segregação Racial
Claramente, a palavra segregação não deixa dúvida quanto ao seu
significado mais geral, quando pesquisamos no dicionário: separação;
divisão a fim de evitar contato; isolamento. Ao trazermos essa palavra para
uma discussão de cunho sociológico, é inevitável pensarmos nos
desdobramentos negativos para a vida social, principalmente do ponto de
vista das hostilidades e conflitos sociais gerados pela segregação em si.
Podemos observar vários tipos de segregação ao longo da história, os quais
foram (e ainda são em alguns casos) motivados pelos mais variados fatores.
Segundo Ely Chinoy, embora sejam muitas as circunstâncias que
possam influenciar na estrutura das relações entre indivíduos de grupos
raciais e étnicos diferentes, pelo menos três merecem destaque. O primeiro
diz respeito ao tamanho e ao número dos grupos, o que é fundamental para
pensarmos em minorias ou maiorias; o segundo ponto diz respeito às
diferenças entre esses indivíduos no aspecto físico e também cultural;
finalmente, o terceiro aspecto diz respeito à disputa por recursos e por
melhores condições de sobrevivência entre tais grupos, sendo que as
maiorias almejam, dentro da estrutura social, submeterem as minorias, para
delas tirarem vantagem.
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Se considerarmos o segundo aspecto apontado por Chinoy, nele se
enquadra a segregação racial, a qual diz respeito às diferenças físicas e,
até certo ponto, também culturais. Obviamente, os demais fatores como ser
uma minoria e estar em constante competição por recursos também devem
ser considerados. A segregação racial está embasada na intolerância gerada,
muitas vezes, por uma visão etnocêntrica de uma maioria em detrimento de
uma minoria em um mesmo território. O etnocentrismo vilipendia as
formas de organização que se diferem daquela que se tem por referência,
gerando os mais diversos preconceitos. Assim, a construção pelo senso
comum de alguns estereótipos, isto é, da rotulação de determinados grupos,
é, em certa medida, um meio no qual o preconceito consegue se
sedimentar.
A segregação racial não é um fenômeno social novo, estando
presente já dentre as primeiras civilizações, as quais lançavam mão de
organizações sociais regidas por castas. Porém, em sociedades como a
Índia esse tipo de estratificação social ainda é uma realidade. No século
XX, o mundo assistiu um dos maiores genocídios já vistos, fruto da
segregação racial e do preconceito oriundos do regime nazista de Hitler, o
qual foi responsável pela morte de milhões de judeus em campos de
extermínio. Para além da Ásia e Europa, podemos pensar em um exemplo
do continente africano. Embora a segregação nesse continente tenha origem
no processo de colonização, na África do Sul, ao longo de décadas,
prevaleceu o chamado regime de Apartheid, através do qual a segregação
racial entre brancos (europeus) e negros (africanos) encontrava amparo até
mesmo na lei. Uma fatia expressiva da população africana de cor negra era
excluída de vários direitos civis, sociais e políticos, ou seja, alienados de
sua cidadania. Porém, a transformação dessa realidade (que perdurou ao
longo de boa parte do século XX) se daria mais tarde pela luta política de
Nelson Mandela. Da mesma forma, é válido citar outros conflitos, mesmo
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que gerados menos por questões de raça do que por diferenças étnicas,
como os que ocorrem entre palestinos e judeus, as lutas pela emancipação
do povo basco no continente europeu, a luta entre católicos e protestantes
na Irlanda, o preconceito de franceses contra imigrantes, além, é claro,
daquele cultivado por norte-americanos em relação a latinos, árabes e
imigrantes em geral.
Banheiro Público na África do Sul – “Apenas Brancos”
Ainda sobre a segregação racial, é fundamental discorrer sobre a
forma como os Estados Unidos lidaram e ainda lidam com o preconceito
contra o negro. Para que pudessem ter um presidente afro-descendente,
muitas lutas foram necessárias, como a de Martin Luther King, do próprio
movimento contracultural, do grupo político dos “panteras negras”, entre
outros. Ainda assim, o preconceito e a segregação, em maior ou menor
grau, persistem naquela sociedade.
Se tomarmos o Brasil como exemplo, a segregação racial contra
negros e índios promovida por brancos desde os tempos de colônia foi
decisiva na formação da sociedade brasileira. O mito das três raças como
explicação do nascimento do homem brasileiro não foi suficiente para
acabar com o racismo, o qual agora existe de maneira velada, escondido
atrás de uma falsa democracia racial como já apontava Florestan
Fernandes. Contudo, vale a pena observar que, embora o racismo não esteja
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extinto e ainda existam desigualdades sociais alarmantes, não existe uma
segregação racial, étnica ou religiosa tão destacada na sociedade brasileira
como a que se viu nos exemplos citados anteriormente, ao redor do mundo.
Obviamente, não podemos desconsiderar os recentes ataques pela internet
aos nordestinos (tema do enredo de uma escola de samba em 2011), as
agressões a jovens homossexuais, e este preconceito racial velado, todos
indícios da existência de grupos intolerantes e preconceituosos contra
minorias (isso sem falar do preconceito contra as mulheres). Porém, daí a
comparar a sociedade brasileira com a África do Sul do Apartheid não seria
coerente com a realidade nacional.
Para termos uma ideia da importância dessa temática, bem como do
aceno positivo do Brasil para lutar contra qualquer tipo de segregação, a
ONU (Organização das Nações Unidas) e o governo brasileiro criaram um
site específico sobre gênero, raça e etnia em março de 2011. O site do
PNUD, o Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero,
Raça e Etnia foi feito em parceria com outros órgãos vinculados à ONU,
como a OIT e UNICEF, tendo como objetivo defender e propagar a
incorporação da equidade de gênero e de cor/raça na gestão pública.
Obviamente, esse assunto é mais complexo do que pode parecer,
principalmente quando traz em sua esteira outras questões como a
construção de uma identidade nacional e a ideia de pertencimento à nação,
apenas para citar alguns exemplos.
Por isso, a promoção de fóruns de discussão por toda a sociedade,
para além das escolas e universidades, é uma importante ferramenta na
compreensão e formulação de alternativas mais justas e tolerantes para que
possamos conviver com a diferença em um mundo que se diz “global”.
Paulo Silvino Ribeiro/Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP
Mestre em Sociologia pela UNESP
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP
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O papel da mulher na sociedade
Muito recentemente, a propaganda de televisão de uma grande marca
mundial de automóveis tentava vender seu produto ilustrando a mudança
do papel social da mulher. Uma jovem com trajes de executiva chegava em
casa após um dia de trabalho e cumprimentava seu marido, o qual estava
ocupado preparando a refeição da família. Para surpresa desse homem, que
“comandava” a cozinha e cuidava de suas filhas, sua esposa o presentearia
com um carro novo. A partir dessa cena, rapidamente aqui descrita, pode
surgir a seguinte pergunta: esse comercial faria sentido décadas atrás?
Certamente que não. Contudo, essa resposta carece de uma explicação
menos simplista, e requer uma maior compreensão do que se chama de
questões de gênero e papéis sociais.
Mulheres e homens ao longo de boa parte da história da humanidade
desempenhavam papéis sociais muito diferentes. Mas do que se trata o
papel social? Segundo a Sociologia, trata-se das funções e atividades
exercidas pelo indivíduo em sociedade, principalmente ao desempenhar
suas relações sociais ao viver em grupo. A vida social pressupõe
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expectativas de comportamentos entre os indivíduos, e dos indivíduos
consigo mesmos. Essas funções e esses padrões comportamentais variam
conforme diversos fatores, como classe social, posição na divisão social do
trabalho, grau de instrução, credo religioso e, principalmente, segundo o
sexo. Dessa forma, as questões de gênero dizem respeito às relações sociais
e aos papéis sociais desempenhados conforme o sexo do indivíduo, sendo o
papel da mulher o mais estudado e discutido dentro dessa temática, haja
vista a desigualdade sexual existente com prejuízo para a figura feminina.
Assim, enquanto o sexo da pessoa está ligado ao aspecto biológico, o
gênero
(ou
seja,
a
feminilidade
ou
masculinidade
enquanto
comportamentos e identidade) trata-se de uma construção cultural, fruto da
vida em sociedade. Em outras palavras, as coisas de menino e de menina,
de homem e de mulher, podem variar temporal e historicamente, de cultura
em cultura, conforme convenções elaboradas socialmente.
As diferenças sexuais sempre foram valorizadas ao longo dos séculos
pelos mais diferentes povos em todo o mundo. Algumas culturas – como a
ocidental – associaram a figura feminina ao pecado e à corrupção do
homem, como pode ser visto na tradição judaico-cristã. Da mesma forma, a
figura feminina foi também associada à ideia de uma fragilidade maior que
a colocasse em uma situação de total dependência da figura masculina, seja
do pai, do irmão, ou do marido, dando origem aos moldes de uma cultura
patriarcalista e machista. Assim, esse modelo sugeria a tutela constante das
mulheres ao longo de suas vidas pelos homens, antes e depois do
matrimônio.
Aliás, o casamento enquanto ritual marcaria a origem de uma nova
família na qual a mulher assumira o papel de mãe, passando das “mãos” de
seu pai para as de seu noivo, como se vê no ato da cerimônia.
Mas como aqui já se abordou, se as noções de feminilidade e
masculinidade podem mudar ao longo da história conforme as
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transformações sociais ocorridas, isto foi o que aconteceu na cultura
ocidental, berço do modo capitalista de produção. Com o surgimento da
sociedade industrial, a mulher assume uma posição como operária nas
fábricas e indústrias, deixando o espaço doméstico como único locus de seu
trabalho diário. Se outrora a mulher deveria apenas servir ao marido e aos
filhos nos afazeres domésticos, ou apenas se limitando às tarefas no campo
– no caso das camponesas europeias, a Revolução Industrial traria uma
nova realidade econômica que a levaria ao trabalho junto às máquinas de
tear. Obviamente, não foram poucos os problemas enfrentados pelas
mulheres, principalmente ao se considerar o contexto hostil de um regime
de trabalho exaustivo no início do processo de industrialização e formação
dos grandes centros urbanos.
Após um longo período de opressão e discriminação, a passagem do
século XIX para o XX ficou marcada pelo recrudescimento do movimento
feminista, o qual ganharia voz e representatividade política mais tarde em
todo o mundo na luta pelos direitos das mulheres, dentre eles o direito ao
voto. Essa luta pela cidadania não seria fácil, arrastando-se por anos. Prova
disso está no fato de que a participação do voto feminino é um fenômeno
também recente para a história do Brasil. Embora a proclamação da
República tenha ocorrido em 1889, foi apenas em 1932 que as mulheres
brasileiras puderam votar efetivamente. Esta restrição ao voto e à
participação feminina no Brasil seriam consequência do predomínio de
uma organização social patriarcal, na qual a figura feminina estava em
segundo plano. Mesmo com alguns avanços, ainda no início da segunda
metade do século XX, as mulheres sofriam as consequências do
preconceito e do status de inferioridade. Aquele modelo de família norteamericana estava em seu auge, em que a figura feminina era imaginada de
avental e com bobs nos cabelos, no meio da cozinha, envolta por
liquidificador, batedeira, fogão, entre outros utensílios domésticos. Seria
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apenas no transcorrer das décadas de 50, 60 e 70 que o mundo assistiria
mudanças fundamentais no papel social da mulher, mudanças estas
significativas para os dias de hoje. O movimento contracultural encabeçado
por jovens (a exemplo do movimento Hippie) transgressores dos padrões
culturais ocidentais outrora predominantes defendiam uma revolução e
liberação sexual, quebrando tabus para o sexo feminino, não apenas em
relação à sexualidade, mas também no que dizia respeito ao divórcio.
Como se sabe, o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção
requer cada vez menos o trabalho braçal, necessitando-se cada vez mais de
trabalho intelectual. Consequentemente, criam-se condições cada vez mais
favoráveis para a inserção do trabalho da mulher nos mais diferentes ramos
de atividade. Ao estudar cada vez mais, as mulheres se preparam para
assumir não apenas outras funções no mercado de trabalho, mas sim para
assumir
aquelas
de
comando,
liderança,
cargos
em
que
antes
predominavam o terno e a gravata. Essa guinada em seu papel social reflete
não apenas nas relações de trabalhos em si, mas fundamentalmente nas
relações sociais com os homens de maneira em geral. Isto significa que
mudanças no papel da mulher requerem mudanças no papel do homem, o
qual passa por uma crise de identidade ao ter de dividir um espaço no qual
outrora reinava absoluto.
Mulheres com maior grau de escolaridade diminuem as taxas de
natalidade (têm menos filhos), casam-se com idades mais avançadas,
possuem maior expectativa de vida e podem assumir o comando da família
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como no exemplo da propaganda de automóvel citada. Obviamente, vale
dizer que as aspirações femininas variam conforme seu nível de
esclarecimento, mas também conforme a cultura em que a mulher está
inserida.
Contudo, é preciso se pensar que mesmo com todas essas mudanças
no papel da mulher, ainda não há igualdade de salários, mesmo que
desempenhem as mesmas funções profissionais, ainda havendo o que se
chama de preconceito de gênero. Além disso, a mulher ainda acaba por
acumular algumas funções domésticas assimiladas culturalmente como se
fossem sua obrigação e não do homem – funções de dona de casa. Da
mesma forma, infelizmente a questão da violência contra a mulher ainda é
um dos problemas a serem superados, embora a “Lei Maria da Penha”
signifique um avanço na luta pela defesa da integridade da mulher
brasileira.
Mas a pergunta principal vem à tona: qual o papel da mulher na
sociedade atual? Pode-se afirmar que a mulher de hoje tem uma maior
autonomia, liberdade de expressão, bem como emancipou seu corpo, suas
ideias e posicionamentos outrora sufocados. Em outras palavras, a mulher
do século XXI deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente
na sociedade, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades,
dando voz ativa a seu senso crítico. Deixou-se de acreditar numa
inferioridade natural da mulher diante da figura masculina nos mais
diferentes âmbitos da vida social, inferioridade esta aceita e assumida
muitas vezes mesmo por algumas mulheres.
Hoje as mulheres não ficam apenas restritas ao lar (como donas de
casa), mas comandam escolas, universidades, empresas, cidades e, até
mesmo, países, a exemplo da presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher a
assumir o cargo mais importante da República. Dessa forma, se por um
lado a inversão dos papéis sociais ilustrada pela campanha publicitária
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(citada no início do texto) de um automóvel está em dissonância com um
passado não tão distante, por outro lado mostra os sinais de um novo tempo
que já se iniciou. Contudo, avanços à parte, é preciso que se diga que as
questões de gênero no Brasil e no mundo devem sempre estar na pauta das
discussões da sociedade civil e do Estado, dada a importância da defesa dos
direitos e da igualdade entre os indivíduos na construção de um mundo
mais justo.
Paulo Silvino Ribeiro/Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP
Mestre em Sociologia pela UNESP
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP
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Questionário
1. A partir das definições do texto, escreva com suas palavras o que é
sociedade.
2. Segundo Durkheim, o que é fato social?
3. O que é desigualdade? Cite três exemplos.
4. Explique como as desigualdades ocorrem no Brasil.
5. O que é segregação racial? Em que ela se baseia?
6. O que foi o Apartheid na África do Sul? Por que foi uma forma
segregação?
7. Em sua opinião, há segregação ou discriminação racial no Brasil?
8. Faça uma comparação entre o que era o papel da mulher no passado e
o papel da mulher hoje.
9. Apesar da mulher ter conquistado os mesmos direitos do homem e
estar cada vez mais inserida no mercado de trabalho, ainda sofrem
algum tipo de preconceito ou discriminação?
10.Você conhece a Lei Maria da Penha? Por que ela é importante para as
mulheres?
** Procure responder às questões em seu caderno antes de realizar a avaliação.
Qualquer dúvida, procure sempre o Professor. **
Apostila elaborada pelo Prof.
André Rocha, 2012, e revisada
pelo Prof. Bruno Joaquim,
2013.
20
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UE 04. EM-SOC-EJA-Bruno (Revisada) - CEEJA