inovação
Em busca do
Santo Graal da inovação
A
palavra inovação tem sido utilizada de forma equivocada por muitas
empresas e setores, sendo mitificada como um Santo Graal, a famosa
lenda medieval. Na maior parte das vezes, é vista como a solução de todos
os problemas de uma organização, sem, contudo, ser avaliado se a mesma
está disposta a correr riscos para inovar.
Uma parte desse mito reside na crença de que qualquer ideia pode gerar
um maior faturamento e salvar determinadas empresas do marasmo em
que se encontram. Algumas, em busca de algum tipo de diferenciação,
criam estruturas híbridas, separadas e específicas, como se apenas isso
fosse vital para sua sobrevivência. E criam um paradoxo infeliz, fabricando
muitas boas ideias, mas com dificuldades em adotá-las na prática porque
não existe a cultura da inovação, somente a vontade de inovar por parte de
alguns profissionais. Por vezes, implementam algumas práticas inovadoras
por um curto período de tempo e as abandonam tempo depois, por acharem que já inovaram o suficiente.
Segundo Gary Hamel, um dos maiores pensadores de negócios no mundo,
inovação é um processo estratégico de reinvenção contínua do próprio negócio e de criação de novos conceitos de negócios. Ou seja, o resultado
de um planejamento estratégico que gera alguma vantagem competitiva,
a qual pode trazer novas experiências de uma marca, novos processos ou
modelos de negócios.
Ótima definição para derrubar mitos de que inovação é predominantemente
invenção tecnológica. Trata-se aqui da forma mentis, aquilo que determina
uma forma de pensar pré-concebida que orienta a ação.
Para implementar a inovação mercadológica, deve-se considerar a percepção de valor que o consumidor tem de determinado serviço ou marca oferecidos. Mas o que se vê na indústria é uma profusão enorme de novidades,
sem garantia de agregação para o consumidor final ou para a empresa e seus
clientes. Elas estão por toda parte: em novas embalagens, cores, sabores,
alguns processos, alguns reposicionamentos de marca irrelevantes, e não
percebidos pelos consumidores, etc. E isso não é inovar.
Uma nova ideia deve ter um processo de construção de valor quando aplicada ao mercado, com um impacto relevante, estabelecendo um novo parâmetro de comparação entre consumidores, clientes e concorrentes.
Por que algumas empresas ainda insistem em falar de inovação, quando
só geram algumas poucas e medianas novidades? Por que elas não têm co-
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Revista Linha Direta
Martha Terenzzo*
ragem de implementar a cultura
de inovação? Em primeiro lugar,
porque, para que isso aconteça, a
organização precisa sair da zona
de conforto empresarial em que
se encontra, e isso só acontece
quando ela ocupa alguma posição
favorável, seja financeira ou de
participação.
Em segundo lugar, porque é preciso coragem para dirigir-se à
zona do limite, justamente o espaço para maior aprendizagem e,
consequentemente, maior risco.
Isso incomoda e, muitas vezes,
causa sérias rupturas estruturais
nas organizações.
É necessário que as escolas e
universidades auxiliem os alunos
a pensar de maneira diferente,
levando-os a enxergar os problemas e as oportunidades de forma
inovadora e empreendedora. Também é preciso que as empresas
deixem de verbalizar e pratiquem
mais o ato de inovar verdadeiramente.
Um exemplo interessante de organização são as abelhas, que
são bastante sociais e trabalham
a polinização. Se uma abelha encontra uma flor ou outra fonte farta de alimento, quando retorna à
colmeia, faz uma pequena dança
para mostrar às outras onde encontrar a flor. Existem algumas na
categoria “eusocial”, um termo
usado para classificar o mais elevado nível da organização.
Elas auxiliam as mais jovens, organizam-se na divisão de trabalho e
se comunicam o tempo todo. Toda
flor com cores fortes e aroma doce
pode receber a visita de uma abe-
lha, mas ela dançará apenas para
aquelas cujo néctar for bom o suficiente para receber outras visitas, tendo sua experiência como
garantia. As mais experientes ensinam, orientam e estimulam as
mais novas a fazer sua primeira
viagem. Isso acontece continuamente para que elas possam passar para outras gerações.
Essa é uma visão holística de organização. Não se trata apenas
de método ou processo, mas de
um aprendizado contínuo para
pensar e agir de forma diferente. A reflexão trará mais conhecimento, gerando novas atitudes
individuais, mais empreendedoras e inovadoras.
Cai o mito do Santo Graal, e entra a inovação empreendedora de
sucesso. ¢
*Consultora em Inovação e Marketing, sócia-diretora da Inova 360º,
mestranda em Comunicação e Práticas de Consumo e vice-presidente de Informações do Retail Marketing Association-POPAI
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