Goiânia, segunda-feira 10 de março de 2014
Elas estão em todos os lugares
Empresa goiana emprega apenas mulheres por reconhecer nelas capacidades diferenciadas
O ambiente é totalmente feminino, não apenas pela presença das mulheres, que cada vez mais
adentram em setores atípicos, mas também pelos detalhes, como um incrementado estojo de
maquiagem em meio a ferramentas. Exceto pelo empresário Francisco Luciano Alves de Jesus,
dono do negócio, elas são o todo numa fábrica de materiais e equipamentos para a indústria
instalada em Trindade (GO). Ali, elas moldam, soldam, apertam, cortam e, literalmente, pegam no
pesado sem se intimidarem com as funções e sem perder a vaidade.
Mesmo que encobertas pelos equipamentos de proteção individual, elas mantêm as unhas pintadas,
os cabelos presos em ordem – longos em unanimidade –, delicados brincos nas orelhas e o batom
bem passado, em tom de rosa. Se a função é rústica, a preocupação com a aparência faz o
contrapeso na medida. O grupo é a prova de que, neste Dia Internacional, a mulher chegou onde
nem se imaginava, sem, contudo, perder o foco de que novas conquistas sempre estarão por vir. E
elas fazem questão de falar sobre isso: aplicação mais eficiente das leis, o fim da violência, a
paridade salarial com os homens, a divisão democrática das tarefas em casa etc.
Mulheres trabalham melhor em equipe, são mais produtivas, organizadas, criativas e também mais
pontuais, qualidades constatadas pelo dono do negócio. Óbvio que a toda regra há exceção, mas
especificamente neste local, Simone, Andrielle, Mônyky, Joice, Ludmila, Ana Flávia, Mikaela,
Eliete, Renata, Yohana, Larissa, Maryanna, Larissa Mendanha, Arianne, Lohrainy, Isabela e
Losláiny, não são algo fora do contexto. Se elas são mais temperamentais, também são mais fiéis; se
conversam muito, também sabem ouvir mais.
Entre as mulheres, a hierarquia funciona bem já que, na linha de produção, o trabalho de uma
depende do da outra, como atesta Joice Iolene da Silva, gerente de produção. A jovem tem 26 anos,
e trabalha na indústria há mais de três. “Na hora de aceitar o emprego, o ambiente feminino pesou”,
conta. Segundo Joice, a união do grupo é muito interessante. “Existe um vínculo entre todas nós,
inclusive fora daqui. Nos visitamos e passeamos também, principalmente porque a maioria ainda é
solteira”, conta. O companheirismo, segundo Joice, faz com que elas entendam a TPM uma da outra
e partilhem dificuldades ombro a ombro.
Mas há também as casadas, como Andrielle Ferreira Costa Carvalho, 19 anos. Encarregada de solda
na fábrica, ela se gava do que faz há mais de dois anos. “Quando vi que era capaz, passei a gostar
mais ainda”, destaca ela, que tem fama de ser perfeccionista. A moça tem o apoio do marido e
admiração por atuar numa função mais comum entre os homens. “Atuar aqui é um avanço para nós,
demonstra nossa capacidade e também nossa força física; ajuda a elevar nossa auto-estima e é um
estímulo para a nossa vida”, resume Andrielle, que se programa para conquistar, em breve, a casa
própria.
A mais novata da turma, secretária Renata de Lourdes da Silva, 29 anos, garante que se sente mais à
vontade do que em qualquer outro trabalho anterior, onde dividia a rotina com os rapazes. “Sintome mais segura”, ressalta. Outra característica que, de acordo com Renata, é muito comum entre os
homens, mas ela não percebe entre as meninas é o excesso de competitividade. “Cada um realiza
seu trabalho e se empenha em fazer cada vez melhor”, completa.
A opção por contratar apenas mulheres ocorreu no ano de 2009 quando o empresário precisou de
apoio na produção e obteve a ajuda de sua secretária à época. Tanto ele quanto a moça, que não atua
mais na empresa, gostaram do resultado. Ela pediu para mudar de função, e ele ganhou um produto
mais detalhado feito com agilidade. Conforme a empresa crescia mais mulheres eram contratadas.
Desde então, aumentou o faturamento e aposta num futuro promissor. O empresário garante que não
troca mais as mulheres pelos homens. Há plano de levar o galpão para uma área maior, ampliar a
produção e o quadro de funcionárias.
Essa mão de obra será aproveitada com gosto, já que entre elas há engenheiras mecânicas, elétricas,
advogadas, estudantes de História e Biomedicina, e todas são qualificadas para as respectivas
funções. Uma das exigências antes do contrato é estar na escola. As redes sociais também não foram
esquecidas e ajudam a disseminar o setor, além do diferencial dessa fábrica. Uma das meninas
mantém um site e o Facebook atualizados. A iniciativa rompeu divisas. No fim do ano passado, uma
matéria sobre o assunto foi exibida em rede nacional pela Record. Nas cenas, exemplos
personificados de desafios, lutas, perseveranças e sonhos que devem ser admirados e, sobretudo,
seguidos.
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Elas estão em todos os lugares