FAMÍLIAS NUCLEARES E MONOPARENTAIS: A
DEMANDA NO ENCAMINHAMENTO DE CRIANÇAS E AS
DIFERENÇAS DE SUAS QUEIXAS
III Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
Luciane Maria Kruse, Maria Lúcia Tiellet Nunes (orientador)
Mestrado em Psicologia Clínica, Faculdade de Psicologia, PUCRS,
Resumo
A estrutura e a dinâmica familiar têm sofrido transformações através do tempo. A
partir da década de 70, com a legislação do divórcio, novas composições familiares passaram
a ser mais comuns, modificando talvez a demanda clínica. Este projeto se propõe a investigar
possíveis relações entre composições da família e as queixas com as quais as crianças chegam
à clínica-escola. Neste estudo foram analisados 1.636 prontuários de crianças de 1 a 12 anos,
de famílias nucleares e monoparentais, que estiveram em atendimento psicológico em duas
clínicas-escola de Porto Alegre.
Introdução
Atualmente, ao se pensar em família, deve-se considerar as transformações que
ocorrem em nossa sociedade, nas relações interpessoais e as mudanças na composição do
sistema familiar.
Nas últimas décadas, inúmeros estudos têm sido realizados com o objetivo de definir e
redefinir conceitos de família (Wagner, Halperin e Bornholdt, 1999). Para Osório (2002), a
família é uma expressão possível de descrições, porém de difícil definição conceitual por
assumir diferentes estruturas de agrupamento humano através do tempo.
Szymansky (2002), sugere que as transformações históricas observadas no contexto da
vida familiar, através da diminuição do número de filhos, o aumento do número de divórcios e
o recasamento, manifesta-se pelo aumento da monoparentalidade. Segundo Souza (1997), os
estudos realizados a partir do ano de 1970 referem que o aumento dos divórcios e das famílias
produto de segundas, terceiras uniões dos pais, não tem sido fonte de dificuldades infantis.
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Entretanto, para Ferreira, Silva, Farias e Silvares (2004), a literatura indica as crianças
provenientes de famílias monoparentais como grupo de risco para o desenvolvimento de
psicopatologias.
Paralelamente, alguns autores reforçam o entendimento de que em muitos casos a
etiologia da doença mental do paciente que busca atendimento pode ter origem nas relações
interpessoais perturbadas e que uma compreensão mais profunda do indivíduo inclui a família
como um contexto interacional (Féres-Carneiro, 1996).
Torna-se importante comparar e analisar se existem diferenças entre as queixas que
levam crianças de famílias monoparentais e de famílias nucleares para atendimento
psicoterápico nas clínicas-escola e verificar qual tipo de família possui uma maior demanda
de encaminhamentos.
Respostas a estas questões são relevantes para uma melhor compreensão de como as
representações a respeito das novas famílias tem aparecido através das queixas das crianças
que chegam para atendimento nas clínicas-escola e comparar se existe diferença nestas
demandas, oriundas de uma cultura que assiste a des-construção ou a re-construção de tantos
modelos que pareciam ser imutáveis no passado (Cervey e Berthoud, 2002). A verificação
quanto à quantidade de encaminhamentos relacionados às famílias monoparentais e nucleares
possibilita que os profissionais obtenham mais informações referentes à dinâmica das
famílias, como apontam estudos recentes, nos quais se observa que o número de famílias
nucleares encaminhadas para atendimento psicológico é maior do que as de famílias
monoparentais. A literatura aponta que em algumas famílias monoparentais, o horário de
atendimento das instituições coincide com o horário de trabalho do único responsável por
trazer a criança para atendimento, impossibilitando que este traga o paciente para atendimento
por falta de condições.
Este projeto se propõe a investigar possíveis relações entre composições da família e
as queixas com as quais as crianças chegam à clínica-escola, em duas clínicas – escola de
Porto Alegre, o Centro de Estudos Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência
(CEAPIA) e o Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade – Contemporâneo.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva (levantamento e correlação),
documental, retrospectiva. Os sujeitos deste estudo serão constituídos a partir da coleta dos
protocolos de crianças de 1 a 12 anos que estiveram em atendimento psicoterápico nas
clínicas de atendimento psicológico do CEAPIA e do Instituto Contemporâneo, no período de
1987 a 2007, constituindo um total de 1.637 sujeitos. As duas instituições funcionam em nível
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de pós-graduação, formando especialistas em psicoterapia e prestam serviços financeiramente
acessíveis à comunidade.
Este projeto tem como instrumento um formulário elaborado a partir de um projeto
mais amplo de estudos no qual está inserido. Para este estudo, os dados sócio-demográficos e
clínicos de interesse são: idade, sexo, forma de encaminhamento, com quem reside a criança e
queixas do responsável sobre a criança.
Os dados com as variáveis de interesse para esta pesquisa serão colhidos através dos
protocolos, de forma não-estruturada, passados para um formulário e deste para um banco de
dados no programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS for Windows, versão
11.0.
As variáveis de interesse da amostra serão analisadas em termos de levantamento
(freqüência e porcentagem) e as queixas serão codificadas por categorias de respostas através
da análise de conteúdo. Para examinar as relações entre as variáveis discretas será utilizado o
teste do qui-quadrado, adotando-se o nível de significância de p< 0,01.
Referências
Cerveny, C. M. de O. & Berthoud, C. M. E., Pensando a família sistemicamente. In: Cerveny, C. M. de O. &
Berthoud, C. M. E. Visitando a família ao longo do ciclo vital. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2002.
Féres-Carneiro, T. Terapia Familiar. In: Féres-Carneiro, T. Família: diagnóstico e terapia Petrópolis, RJ:
Vozes. 1996.
Ferreira, T. H. S. Silva, D. A. Farias, M. A. & Silvares, E. F. de M. Perfil e principais queixas dos clientes
encaminhados ao centro de atendimento e apoio psicológico ao adolescente (CAAA). Psicologia em Estudo,
Vol 7 Nº 2, (2002). pp. 73-82.
Osório, L. C. O que é família, afinal? In: Osório, L. C. Casais e famílias: uma visão contemporânea). Porto
Alegre: Artmed. 2002.
Souza, R. M. de. A criança na família em transformação: um pouco de reflexão e um convite à investigação.
Psicologia Revista, Vol. 5, (1997). pp. 33-51
Szymansky, H. Viver em família como experiência de cuidado mútuo. Serviço social e sociedade, Vol. 71,
(2002). São Paulo: Cortez editora. pp. 9-25.
Wagner, A. Halperin, S. C. & Bornholdt, E. A. Configuração e estrutura familiar: um estudo comparativo entre
famílias originais e reconstituídas. Psico. Vol. 30, Nº2 (1999),.
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LUCIANE MARIA KRUSE