Abastecimento de água
Gerenciamento de perdas
de água e de energia
elétrica em sistemas de
abastecimento de água
Guia do profissional em treinamento
Nível 2
Promoção Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - ReCESA
Realização Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - Nucase
Instituições integrantes do Nucase Universidade Federal de Minas Gerais (líder) | Universidade Federal do Espírito Santo |
Universidade Federal do Rio de Janeiro | Universidade Estadual de Campinas
Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia | Fundação Nacional de Saúde do Ministério
da Saúde | Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades
Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor Saneamento-PMSS
Patrocínio FEAM/Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Comitê gestor da ReCESA
Comitê consultivo da ReCESA
· Ministério das Cidades
· Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC
· Ministério da Ciência e Tecnologia
· Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES
· Ministério do Meio Ambiente
· Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH
· Ministério da Educação
· Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP
· Ministério da Integração Nacional
· Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE
· Ministério da Saúde
· Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE
· Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico Social (BNDES)
· Caixa Econômica Federal (CAIXA)
· Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – Concefet
· Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA
· Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE
· Federação Nacional dos Urbanitários – FNU
· Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – Fncbhs
· Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras
– Forproex
· Fórum Nacional Lixo e Cidadania – L&C
· Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA
· Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
· Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS
· Programa Nacional de Conservação de Energia – Procel
· Rede Brasileira de Capacitação em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil
Parceiros do Nucase
· Cedae/RJ - Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro
· Cesan/ES - Companhia Espírito Santense de Saneamento
· Comlurb/RJ - Companhia Municipal de Limpeza Urbana
· Copasa – Companhia de Saneamento de Minas Gerais
· DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo
· DLU/Campinas - Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal de Campinas
· Fundação Rio-Águas
· Incaper/ES - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
· IPT/SP - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
· PCJ - Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
· SAAE/Itabira - Sistema Autônomo de Água e Esgoto de Itabira – MG
· SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
· SANASA/Campinas - Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.
· SLU/PBH - Serviço de Limpeza Urbana da prefeitura de Belo Horizonte
· Sudecap/PBH - Superintendência de Desenvolvimento da Capital da Prefeitura de Belo Horizonte
· UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
· UFSCar - Universidade Federal de São Carlos
· UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
Abastecimento de água
Construção, operação e
manutenção de redes de
distribuição de água
Guia do profissional em treinamento
Nível 2
A118
Abastecimento de água : gerenciamento de perdas de água e de
energia elétrica em sistemas de abastecimento de água : guia do
profissional em treinamento : nível 2 / Ministério das Cidades.
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (org.). – Brasília :
Ministério das Cidades, 2009.
83 p.
Nota: Realização do NUCASE – Núcleo Sudeste de Capacitação
e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental (Conselho
Editorial Temático: Valter Lúcio de Pádua; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira; Edumar Coelho e Iene Christie Figueiredo).
1. Abastecimento de água – Aspectos econômicos. 2.
Saneamento ambiental – Administração financeira. 3. Abastecimento
de água – Consumo. 4. Energia elétrica – consumo. I. Brasil. Ministério
das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. II.
Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em
Saneamento Ambiental.
CDD – 628.1
Catalogação da Fonte : Ricardo Miranda – CRB/6-1598
Conselho Editorial Temático
Valter Lúcio de Pádua – UFMG
Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira – UFSCAR
Edumar Coelho – UFES
Iene Christie Figueiredo – UFRJ
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UFC – Universidade Federal do Ceará
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
Profissionais que participaram da elaboração deste guia
Professor Milton Tomoyuki Tsutiya (conteudista)
Consultores
Thiago Borges Gomes Moreira / Izabel Chiodi Freitas (validadora)
Bolsistas
Luiza Clemente Cardoso
Créditos
José Antônio França Marques | José Reinolds Cardoso de Melo | Patrícia Campos Borja
Consultoria pedagógica Cátedra da Unesco de Educação a Distância – FaE/UFMG
Juliane Corrêa | Sara Shirley Belo Lança
Projeto Gráfico e Diagramação Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi
Impressão Sigma
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
Apresentação da ReCESA
A criação do Ministério das Cidades no
de estruturação da Rede de Capacitação
Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
e Extensão Tecnológica em Saneamento
2003, permitiu que os imensos desafios urbanos
Ambiental – ReCESA constitui importante
passassem a ser encarados como política de
iniciativa nesta direção.
Estado. Nesse contexto, a Secretaria Nacional
de Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou
A ReCESA tem o propósito de reunir um conjunto
um paradigma que inscreve o saneamento
de instituições e entidades com o objetivo de
como política pública, com dimensão urbana
coordenar o desenvolvimento de propostas
e ambiental, promotora de desenvolvimento
pedagógicas e de material didático, bem como
e da redução das desigualdades sociais. Uma
promover ações de intercâmbio e de extensão
concepção de saneamento em que a técnica e
tecnológica que levem em consideração as
a tecnologia são colocadas a favor da prestação
peculiaridades regionais e as diferentes políticas,
de um serviço público e essencial.
técnicas e tecnologias visando capacitar
profissionais para a operação, manutenção
A missão da SNSA ganhou maior relevância e
e gestão dos sistemas de saneamento. Para
efetividade com a agenda do saneamento para
a estruturação da ReCESA foram formados
o quadriênio 2007-2010, haja vista a decisão
Núcleos Regionais e um Comitê Gestor, em nível
do Governo Federal de destinar, dos recursos
nacional.
reservados ao Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC, 40 bilhões de reais para
Por fim, cabe destacar que este projeto ReCESA
investimentos em saneamento.
tem sido bastante desafiador para todos nós.
Um grupo, predominantemente formado
Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações
por profissionais da engenharia, mas, que
em capacitação como um dos instrumentos
compreendeu a necessidade de agregar outros
estratégicos para a modificação de paradigmas,
olhares e saberes, ainda que para isso tenha sido
o alcance de melhorias de desempenho e
necessário “contornar todos os meandros do rio,
da qualidade na prestação dos serviços e a
antes de chegar ao seu curso principal”.
integração de políticas setoriais. O projeto
Comitê gestor da ReCESA
Nucase
Nurene
O Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão
O Núcleo Regional Nordeste – Nurene tem
Tecnológica em Saneamento Ambiental
por objetivo o desenvolvimento de atividades
– Nucase tem por objetivo o desenvolvimento
de capacitação de profissionais da área de
de atividades de capacitação de profissionais
da área de saneamento, nos quatro estados da
saneamento, em quatro estados da Rregião
Nordeste do Brasil: Bahia, Ceará, Paraíba e
região sudeste do Brasil.
Pernambuco.
O Nucase é coordenado pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA), tendo como
Federal de Minas Gerais – UFMG, tendo como
instituições co-executoras a Universidade
Federal do Espírito Santo – UFES, a Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e a Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP. Atendendo
aos requisitos de abrangência temática e de
capilaridade regional, as universidades que
integram o Nucase têm como parceiros, em seus
estados, prestadores de serviços de saneamento
O Nurene é coordenado pela Universidade
instituições co-executoras a Universidade
Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal
da Paraíba (UFPB) e a Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
O Nurene espera que suas atividades possam
contribuir para a alteração do quadro sanitário
do Nordeste e, consequentemente, para a
melhoria da qualidade de vida da população
dessa região marcada pela desigualdade social.
e entidades específicas do setor.
Coordenadores institucionais do Nucase
Coordenadores Institucionais do Nurene
Os guias
Apresentação da
área temática:
Abastecimento de água
A coletânea de materiais didáticos produzidos
A série de guias relacionada ao abastecimento
pelo Nucase é composta de 42 guias que
de água resultou do trabalho coletivo que envol-
serão utilizados em oficinas de capacitação
veu a participação de dezenas de profissionais.
para profissionais que atuam na área do
Os temas que compõem esta série foram defi-
saneamento. São seis guias que versam sobre
nidos por meio de uma consulta a companhias
o manejo de águas pluviais urbanas, doze
de saneamento, prefeituras, serviços autôno-
relacionados aos sistemas de abastecimento
mos de água e esgoto, instituições de ensino e
de água, doze sobre sistemas de esgotamento
pesquisa e profissionais da área, com o objetivo
sanitário, nove que contemplam os resíduos
de se definir os temas que a comunidade técni-
sólidos urbanos e três terão por objeto temas
ca e científica da região Sudeste considera, no
que perpassam todas as dimensões do
momento, os mais relevantes para o desenvol-
saneamento, denominados temas transversais.
vimento do projeto NUCASE.
Dentre as diversas metas estabelecidas pelo
Os temas abordados nesta série dedicada ao
Nucase, merece destaque a produção dos
abastecimento de água incluem: Qualidade de
Guias dos profissionais em treinamento,
água e padrão de potabilidade; Construção,
que servirão de apoio às oficinas de
operação e manutenção de redes de distribuição
capacitação de operadores em saneamento
de água; Operação e manutenção de estações
que possuem grau de escolaridade variando
elevatórias de água; Operação e manutenção de
do semi-alfabetizado ao terceiro grau. Os
estações de tratamento de água; Gerenciamento
guias têm uma identidade visual e uma
de perdas de água e de energia elétrica em siste-
abordagem pedagógica que visa estabelecer
mas de abastecimento de água; Amostragem,
um diálogo e a troca de conhecimentos
preservação e caracterização físico-química
entre os profissionais em treinamento e os
e microbiológica de águas de abastecimento;
instrutores. Para isso, foram tomados cuidados
Gerenciamento, tratamento e disposição final de
especiais com a forma de abordagem dos
lodos gerados em ETAs. Certamente há muitos
conteúdos, tipos de linguagem e recursos de
outros temas importantes a serem aborda-
interatividade.
dos, mas considera-se que este é um primeiro
Equipe da central de produção de material didático – CPMD
e importante passo para que se tenha material didático, produzido no Brasil, destinado
a profissionais da área de saneamento que
raramente têm oportunidade de receber treinamento e atualização profissional.
Coordenadores da área temática de abastecimento de água
Sumário
Introdução ..................................................................................10
Eficiência energética e saneamento ambiental .............................14
Desafios da eficiência hidráulica e energética para
o saneamento ambiental ....................................................16
Consumo e demanda de água e energia no Brasil .............. 28
Importância e origem das perdas de água e
energia nos sistemas de abastecimento de água ............... 35
Uso eficiente de energia e água.................................................. 48
Procedimentos técnicos para o combate às perdas
de água ............................................................................ 50
Ações administrativas para a redução de custo
de energia elétrica ............................................................ 60
Ações operacionais para a redução de custo de
energia elétrica ................................................................. 64
Educação para economia de água e energia ...................... 67
Detecção, controle e indicadores de perdas ............................... 70
Planos de ação de combate às perdas de água e energia ... 70
Para saber mais ......................................................................... 80
Introdução
Caro profissional,
Planejar, desenvolver, controlar e avaliar
Neste guia do Profissional em treinamento
programas de combate a perdas de água e
estão os textos, atividades e outras infor-
energia elétrica, abordando alternativas e
mações que usaremos durante esta oficina.
procedimentos para financiamento sustentado dessas ações, são necessidades iminentes
Esperamos que sua participação nessa
dos prestadores dos serviços de saneamento.
atividade estimule a troca de experiências,
desperte a consciência sobre o papel social
As perdas de água em sistemas de abaste-
do seu trabalho e acrescente algo mais nos
cimento de água no Brasil são muito altas e
seus conhecimentos sobre a importância da
necessitam de redução por sobrecarregarem
redução de perdas de água e energia no seu
o sistema e onerarem o custo e para que,
trabalho. E que esses conhecimentos sejam
efetivamente, possamos construir serviços
úteis para você como profissional, respon-
sustentáveis.
sável pela água distribuída em sua cidade,
e como cidadão, preocupado com a preser-
Os benefícios do combate ao desperdício de
vação do meio ambiente e com o bem-estar
energia elétrica já são conhecidos, principal-
da população.
mente pelo setor industrial. Os prestadores de
serviço de saneamento, responsáveis por cerca
Antes de seguirmos adiante, sugerimos que
de 3% do consumo total de energia elétrica do
você faça a próxima atividade, refletindo um
Brasil, devem também dispor esforços para
pouco sobre a eficiência hidráulica e energé-
implantação de medidas de combate às perdas.
tica no serviço de abastecimento de água no
qual você trabalha.
Nos próximos dias, vamos discutir os seguintes conceitos-chave:
1. Eficiência energética e saneamento
ambiental;
2. Uso eficiente de energia e água;
3. Detecção, controle e indicadores de perdas.
10
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Para ler e refletir
Você já parou para pensar na quantidade de água e energia elétrica
que desperdiçamos durante o dia? Várias atividades que realizamos
estão diretamente relacionadas com esse desperdício, como lavar
calçadas com mangueiras, deixar lâmpadas acesas sem necessidade, manter o chuveiro ligado enquanto estamos nos ensaboando,
torneiras abertas por muito tempo, entre outras.
Não apenas nós, mas também os serviços de saneamento são responsáveis por desperdícios que poderiam ser evitados. Tais prejuízos
podem ser de várias naturezas, entre elas: vazamento nos reservatórios e redes de distribuição, tubulações assentadas de maneira
irregular, falta de manutenção nas redes, etc.
Os sistemas de abastecimento de água operam, normalmente, com
uma perda elevada, que é incompatível com uma gestão racional e
eficiente de um serviço público e essencial, porém o desconhecimento das causas, dos componentes e da quantificação das perdas é o
principal problema para definir ações eficientes de redução.
Questões para discussão em grupo
Vamos elaborar, de forma simples, um projeto de redução de perdas
de água e de desperdício de energia elétrica em um sistema de abastecimento de água em Ararajuba, uma cidade fictícia. Ao terminarmos
nossa oficina, vamos reelaborar esse projeto.
O sistema de abastecimento de Ararajuba apresenta perdas de água na
ordem de 353 L/Lig.dia (Litros por ligação em um dia), sem a adoção de
nenhuma ação sistemática de redução de perdas ao longo do tempo.
Características do sistema de abastecimento de água:
∙ Elevadas taxas de perdas de água em razão das
condições precárias dos equipamentos hidrossanitários
residenciais;
∙ Atendimento a 100% da população urbana;
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
11
∙ As perdas de faturamento chegam a 69%, em virtude
de vazamentos, ausência de medição, equipamentos
obsoletos e deficiências na rede distribuidora;
∙ Estação de tratamento do tipo convencional;
∙ Conjuntos de elevatórias trabalhando fora da previsão
de projeto; há necessidade de controle de vazão com
estrangulamento de registro.
Ararajuba é uma das cidades da Bacia Hidrográfica Virtual BHV. A BHV é um software
desenvolvido para nossas oficinas. A função desse recurso pedagógico é trabalhar o
saneamento de forma integrada dentro de uma bacia hidrográfica.
Definam três objetivos para a implantação de um projeto que combata
as perdas.
Esquematizem um plano de ação para a redução das perdas reais
em Ararajuba.
Esquematizem um plano de ação para a redução de perdas aparentes
em Ararajuba.
12
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Perdas reais: compreendem os volumes decorrentes de vazamentos e extravasamentos
nas unidades do sistema, desde a captação até a distribuição, mais os volumes utilizados de forma inadequada na operação de tais unidades (ex.: descarga para limpeza de
redes de distribuição e lavagem de filtros nas estações de tratamento de água);
Perdas aparentes: compreendem os volumes decorrentes do uso por ligações clandestinas mais os volumes não contabilizados devido a hidrômetros parados ou com
submedição, fraudes em hidrômetros, erros de leitura e outros similares.
Questões para discussão em grupo
Quais as dificuldades enfrentadas durante a implantação de um
programa de gerenciamento de perdas de água e energia na prestadora de serviço de saneamento onde você trabalha?
Relatem dificuldades já vencidas, nas prestadoras que já gerenciam
perdas, ou as dificuldades que possivelmente serão enfrentadas, nas
prestadoras que ainda não implantaram programa de gerenciamento
de perdas.
Que cuidados devem ser tomados para o sucesso de um plano de
ação de combate a perdas de água e uso eficiente de energia?
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
13
OBJETIVOS:
Eficiência energética e
- Identificar a
relação que existe
entre as perdas de
água e o consumo
de energia.
saneamento ambiental
- Relembrar como
a água e os recursos energéticos
são utilizados em
nosso planeta.
A água, essencial ao surgimento e à manutenção da vida em nosso
planeta, é indispensável para o desenvolvimento das diversas atividades humanas, e apresenta, por essa razão, valores econômicos,
culturais e sociais. Além de dar suporte à vida, a água pode ser
utilizada para o transporte de pessoas e mercadorias, geração de
energia elétrica, produção e processamento de alimentos, diversos
- Discutir a
problemática das
perdas de água e
de energia elétrica
em sistemas de
abastecimento de
água.
- Comentar a
importância do
conhecimento
da demanda
e dos tipos de
usuários para o
gerenciamento
dos sistemas de
abastecimento de
água.
- Identificar os
tipos de perdas
em um sistema de
abastecimento de
água.
processos industriais, recreação e paisagismo, entre outros.
As perdas de água têm relação direta com o consumo de energia,
pois é necessário aproximadamente 0,6 kWh para produzir 1m³ de
água potável. Isso mostra que a eficiência hidráulica e a eficiência
energética são fundamentais para o bom gerenciamento dos sistemas
de abastecimento de água.
O Watt-hora (Wh) é a unidade normalmente utilizada para
medição de energia elétrica.
O metro cúbico (m³) é a unidade utilizada para medição de
volume. Em 1m³ cabem 1000 Litros de água.
Você sabia que...
... a unidade do watt recebeu o nome de James Watt por suas
contribuições para o desenvolvimento do motor a vapor, e foi
adaptada pelo segundo congresso da associação britânica para
o avanço da ciência em 1889?
... o aparelho de som gasta 1 kWh em 6 horas e 40 minutos,
enquanto um banho no chuveiro elétrico na posição INVERNO
gasta 1 kWh em 6 minutos?
(http://www.rjnet.com.br/peqeconomia.php).
14
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Questões para discussão em grupo
A seguir, são apresentados alguns fatores que proporcionam a escassez de água em uma determinada região:
∙ falta de manutenção e controle dos sistemas de
abastecimento de água;
∙ desperdício;
∙ clima;
∙ poluição;
∙ falta de planejamento na utilização dos recursos
hídricos.
Determinem, dentre os fatores apresentados, quais apresentam maior
relevância. Listem que medidas devem ser adotadas para evitar a
escassez de água em uma bacia hidrográfica.
Fonte: http://www.ma.gov.br/Fotos/MA.4327.AF.jpg
Bacia hidrográfica é uma área natural cujos
limites são definidos pelos pontos mais
altos do relevo. Esses pontos são chamados de divisores de água ou espigões dos
montes ou montanhas.
Dentro da bacia, a água da chuva é drenada
superficialmente por um curso de água
principal até sua saída, no local mais baixo
do relevo. Esse local é chamado foz do
curso de água.
Bacia Hidrográfica
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
15
Agora, será feita uma exposição oral sobre o panorama energético brasileiro e os desafios
da eficiência hidráulica e energética para o saneamento ambiental. Procure participar da
exposição: relate suas experiências, faça perguntas, tire dúvidas e procure identificar o
que completa as respostas do exercício que acabamos de resolver.
Desafios da eficiência hidráulica e energética para o saneamento ambiental
As elevadas perdas de água tornaram-se um dos maiores problemas dos sistemas de abastecimento de água brasileiros. Contribuem para tal situação, entre outros motivos, a baixa
capacidade institucional e de gestão dos sistemas; a pouca disponibilidade de recursos para
investimentos, sobretudo em ações de desenvolvimento tecnológico na rede de distribuição
e na operação dos sistemas; a cultura do aumento da oferta e do consumo individual, sem
preocupações com a conservação e o uso racional; e as decisões pragmáticas de ampliação da carga hidráulica e extensão das redes até áreas mais periféricas dos sistemas, para
atendimento aos novos usuários, sem os devidos estudos de engenharia.
Dados de 2005 do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) indicam que
o Brasil perde 44,81% da água distribuída em relação à água captada.
As perdas de água nesses sistemas são correspondentes aos volumes não contabilizados,
incluindo as perdas físicas, que representam a parcela não consumida, e as perdas não
físicas, que correspondem à água consumida e não registrada.
Perdas físicas originam-se de vazamentos no sistema, desde a captação até o ponto
de utilização;
Perdas não físicas originam-se de ligações irregulares ou não cadastradas.
Segundo a Eletrobrás/Procel, mais de 2% do consumo total de energia elétrica do Brasil
deve-se aos prestadores de serviços de saneamento em todo o país. Esse consumo engloba
os diversos usos nos processos de abastecimento de água e esgotamento sanitário, com
destaque para os conjuntos motobomba, que são responsáveis por 90% do consumo nessas
instalações. As despesas com energia elétrica atingem, em média, 12,2% do gasto total das
prestadoras dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário.
16
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Você conhece a Eletrobrás e o Procel?
A criação das Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) foi proposta em 1954, pelo presidente Getúlio Vargas. O projeto enfrentou grande oposição e só foi aprovado após sete
anos de tramitação no Congresso Nacional. A instalação da empresa ocorreu, oficialmente, no dia 11 de junho de 1962.
O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL foi criado em 1985
pelos Ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio, e gerido por uma Secretaria Executiva subordinada à Eletrobrás. Em 1991, o Procel foi transformado em Programa
de Governo, tendo abrangência e responsabilidade ampliadas.
A missão do Procel é promover a eficiência energética, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população e eficiência dos bens e serviços, reduzindo os impactos ambientais.
Para saber mais, acesse: http://www.eletrobras.com
Tornar os usos de água e energia elétrica em sistemas de abastecimento eficientes é necessidade e um desafio. E o sucesso de qualquer programa de redução de perdas de água e
energia depende de um sistema de gestão permanente e eficaz que compreenda ações de
base operacional, institucional, educacional e legal. Esses programas, além da redução de
perdas de água e redução do consumo de energia elétrica, devem visar também aos seguintes objetivos:
∙ reduzir os custos de produção;
∙ reduzir as despesas com energia elétrica;
∙ agilizar a realização dos investimentos necessários;
∙ satisfazer os usuários;
∙ promover a sustentabilidade do sistema;
∙ ampliar o acesso aos serviços de saneamento.
É importante, no entanto, que, no controle das perdas, sejam considerados os aspectos
econômicos, ecológicos e de segurança envolvidos.
Para discutir
O que você considera de fundamental importância para que um
programa de combate às perdas seja eficiente? Exponha as suas
idéias para que possamos discuti-las.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
17
Vimos que os serviços de saneamento ambiental são responsáveis por boa parte da água e
energia elétrica desperdiçadas. Além dos benefícios econômicos de conter o desperdício, não
podemos esquecer que os recursos naturais são finitos. Nosso próximo assunto discutirá a
importância de preservarmos nossos recursos naturais.
A água no Planeta
A água que nós captamos, tratamos e distribuímos aos usuários dos serviços de saneamento é
um elemento indispensável para a vida, para a qualidade de vida e um insumo necessário para
todas as atividades produtivas, estando o desenvolvimento das civilizações associado a sua
disponibilidade como recurso estratégico para o desenvolvimento de diversas atividades, como
abastecimento humano, agricultura, pecuária, lazer, pesca, geração de energia elétrica, etc. Ela
encontra-se disponível sob várias formas na natureza e cobre cerca de 70% da superfície da Terra.
A figura a seguir mostra a distribuição das águas e a porcentagem de água salgada e doce.
Adaptado de: http://e-atlantico.org/seccaoa/img/agua2.jpg
Distribuição da água na Terra
No Brasil, o problema com a água não diz respeito à sua quantidade, mas sim à sua distribuição
e à poluição hídrica que está inutilizando as águas dos rios e lagos para o consumo humano.
18
Fonte: http://farm4.static.flickr.
com/3004/2358519942_
fdbe278f75_o.jpg
Fonte: http://l.yimg.com/g/
images/spaceball.gif
Seca
Poluição
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Considera-se que a quantidade de água na Terra tenha permanecido aproximadamente
constante durante os últimos 500 milhões de anos. Essas águas circulam no planeta através
do ciclo hidrológico.
Fonte: Rebouças (2006).
Volume de água em circulação na Terra (km³/ano)
Po = precipitação nos oceanos;
Eo = evaporação dos oceanos;
Pc = precipitação nos continentes;
Ec = evaporação dos continentes;
Rr = descarga total dos rios;
Rs = contribuição dos fluxos subterrâneos às descargas dos rios.
Para discutir
De que forma a água doce pode ser encontrada em nosso planeta?
Que fatores podem contribuir para uma possível escassez de água
doce? Vamos expor as nossas idéias para que possamos fazer uma
reflexão sobre o assunto.
Antes de continuarmos a nossa oficina, utilizaremos a BHV para simularmos o processo do
ciclo hidrológico.
A oferta da água ocorre de forma heterogênea no meio ambiente, variando quanto à qualidade e quantidade. Sua crescente demanda e a diversidade de seus usos tem provocado a
escassez. Em certas ocasiões, esta escassez causa estagnação econômica e conflitos mundiais.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
19
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), dos mais de seis bilhões de habitantes do planeta, pelo menos 1,3 bilhão não dispõe de água potável. Essa população se
concentra nos países pobres e em desenvolvimento. Em 1986, a água insalubre causava a
morte de 27 mil pessoas, diariamente, no mundo.
No Brasil, devido à quantidade de recursos hídricos disponíveis, entre eles as bacias hidrográficas do Rio Amazonas, dos Rios Tocantins/Araguaia, do Rio São Francisco, dos Rios Paraná/
Paraguai e do Rio Uruguai, aliados aos indicadores de disponibilidades hídricas, costuma-se
alimentar a ilusão de que as medidas destinadas a racionalizar o uso da água não merecem
ser tratadas como prioridades.
O maior consumo de água no país ocorre na agricultura, atingindo aproximadamente 60% do
total, e as técnicas adotadas são pouco eficientes e implicam grandes desperdícios, mesmo
nas regiões semiáridas do Nordeste (ABRÃO e SCHIO, 2000).
Outra questão que merece a nossa atenção é a poluição dos cursos d’água, que se constitui
em um sério problema ambiental e em uma ameaça à saúde humana, além de promover a
inviabilização do uso da água para diversas finalidades.
Atividade
Agora que sabemos que a poluição está relacionada com a escassez
de água, vamos discutir com os nossos colegas quais são as formas
de poluição hídrica. Veremos que, com pequenos gestos, poderíamos
evitar algumas delas.
Liste algumas atividades já realizadas ou que podem ser inseridas
para combater a escassez e o desperdício de água no seu local de
trabalho. Depois, iremos discuti-las com os outros participantes.
20
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
A seguir, são apresentadas algumas causas e medidas para o combate à escassez de água. No quadro seguinte, faça a associação das
alternativas apresentadas com as colunas do quadro.
1.
Tratamento de esgotos;
2.
Crescimento da população e rápida urbanização;
3.
Aumento da poluição e da contaminação das águas;
4.
Interação contínua entre setores públicos e consumidores e a
educação ambiental;
5.
Degradação do solo, aumentando a erosão e a sedimentação de
rios, lagos e represas;
6.
Diversificação dos usos da água;
7.
Uso ineficiente em irrigação de culturas agrícolas;
8.
Contaminação de águas subterrâneas;
9.
Desperdício e perdas de água em sistemas de abastecimento;
10. Boas práticas agrícolas, como controle de erosão, diminuição
do uso de pesticidas e herbicidas, uso racional de fertilizantes;
11. Economia no consumo da água;
12. Recomposição de matas ciliares.
Causas da escassez
Técnicas de combate à escassez
Tais ações só surtirão efeito na medida em que a sociedade se engajar no processo, sendo
imprescindível a intensificação das ações em educação ambiental para transformar os dados
em informações, propiciar a reflexão e, mais ainda, a mudança de postura frente à demanda
dos recursos hídricos.
Usos da água
Além de dar suporte à vida, a água pode ser utilizada para o transporte de pessoas e mercadorias, para a geração de energia elétrica, na produção e no processamento de alimentos, em
processos industriais diversos, na recreação e no paisagismo. No entanto, a água pode assimilar poluentes – essa é, talvez, uma das aplicações menos nobres desse recurso tão essencial.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
21
Podemos identificar os seguintes usos para a água:
Fonte: http://l.yimg.com/g/images/spaceball.gif
∙ consumo humano;
∙ uso industrial;
∙ irrigação;
∙ geração de energia;
∙ transporte;
∙ aquicultura;
∙ preservação da fauna e da flora;
∙ paisagismo;
Usos da água
∙ assimilação e transporte de efluentes.
De acordo com cada tipo de uso, a água deve apresentar características físicas, químicas e
biológicas que garantam a segurança dos usuários, a qualidade do produto final e a integridade dos componentes com os quais entrará em contato.
Fonte: ANA (2002).
Distribuição do consumo de água por atividade no Brasil
A demanda de água é influenciada pelo desenvolvimento de cada região. É importante
observar que cada atividade gera efluentes líquidos que atingem os corpos d’água direta
ou indiretamente, podendo comprometer sua qualidade e, assim, restringir seu uso como
fonte de abastecimento.
Fonte: http://farm1.static.flickr.com
/51/143597060_8db7793f97_b.jpg
A escassez de água atinge muitas regiões do planeta e, atualmente, um terço da população mundial habita áreas com carência de
água; 1,3 bilhões de pessoas não tem acesso à água potável e 2
bilhões não têm acesso ao esgotamento sanitário. Estima-se que,
em 2025, dois terços da população humana estarão vivendo em
áreas com pouca água, o que afetará o crescimento, a economia
Desperdício
22
local e regional e a saúde da população.
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Para ler e discutir
Segundo a estimativa de população do IBGE, em 2004, mais de 43
milhões de pessoas moravam nas capitais brasileiras e no Distrito
Federal, o que equivale a quase um quarto da população total do
país. Para abastecer essa população, a produção de água era de,
aproximadamente, 13,4 bilhões de litros de água por dia (equivalentes
a 13,4 milhões de caixas d’água).
Em 2004, seis das 27 capitais brasileiras atendiam à totalidade de sua
população em termos de abastecimento de água. A média de cobertura
nas capitais era de 90%, considerando a população rural e urbana residente
nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. As cidades de Porto Velho,
Rio Branco e Macapá apresentavam as menores coberturas de abastecimento de água, respectivamente, 30,6%, 56,2% e 58,5% da população.
Para você, que fatores são condicionantes para a desigualdade na
cobertura de abastecimento de água nas regiões brasileiras?
Discutimos o uso da água e a importância de utilizarmos esse recurso, assim como os demais
recursos naturais, de forma racional, buscando um crescimento sustentável.
É importante lembrar que a água pode provocar alterações na saúde, caso não esteja adequada ao consumo humano, podendo ocorrer intoxicação se a água utilizada contiver algum
produto tóxico, por exemplo, o arsênico.
Para evitar os males que podem ser veiculados pela água destinada ao consumo, é necessário
que ela seja sempre convenientemente tratada.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
23
Saneamento é o conjunto de medidas que visam a preservar ou modificar as condições
do ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde.
A oferta do saneamento associa sistemas constituídos por uma infra-estrutura física
e uma estrutura educacional, legal e institucional, que abrange os seguintes serviços:
∙ abastecimento de água às populações, com a qualidade compatível com
a proteção de sua saúde e em quantidade suficiente para a garantia de
condições básicas de conforto;
∙ coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente
segura de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais
e agrícolas);
∙ acondicionamento, coleta, transporte e/ou destino final dos resíduos sólidos
(incluindo os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e
de serviços, industrial e pública);
∙ coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inundações;
∙ controle de vetores de doenças transmissíveis (insetos, roedores, moluscos, etc.).
Antes de continuarmos a oficina, vamos pensar um pouco sobre as conseqüências da degradação ambiental para a saúde das pessoas.
Que doenças relacionadas com a falta de saneamento você conhece? Vamos relacioná-las no quadro a seguir e, depois, conferir as
respostas com os colegas e o instrutor.
Doenças de
veiculação hídrica
24
Doenças causadas
por falta de higiene
Doenças causadas por
falta de saneamento
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
A seguir, falaremos um pouco sobre a utilização de recursos naturais na obtenção de
energia elétrica.
Energia elétrica
A energia é o grande motor do sistema Terra. Os seres humanos aprenderam, ao longo dos
séculos, a utilizar diversas formas de energia que são encontradas na Terra, sendo este um
fator de extrema importância no desenvolvimento da civilização. Os recursos energéticos
utilizados, atualmente, pelas nações industrializadas são os combustíveis fósseis (carvão
mineral, petróleo e gás natural), hidroeletricidade, energia nuclear e outras formas de energia
menos difundidas, como geotérmica, solar, eólica, proveniente da biomassa, de marés e,
mais recentemente, de ondas.
Por isso, a gestão dos recursos naturais é importante para o desenvolvimento sustentável, ou
seja, garantir que esse desenvolvimento atenda às necessidades humanas do presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas necessidades.
Fonte: http://l.yimg.com/g/images/spaceball.gif
Energia
A matriz energética brasileira se diferencia da matriz
energética mundial. A principal fonte de geração de
energia elétrica brasileira é a hídrica. Um aspecto dessa
característica do sistema elétrico nacional é capacidade
de armazenamento dos reservatórios das usinas hidroelétricas e também do risco hidrológico associado, pois,
apesar de ter capacidade instalada, o sistema fica à
mercê dessa capacidade, que pode conduzir a crises de
abastecimento, como aconteceu em 2001.
Fonte: http://farm1.static.flickr.com/152/375850445_
9171f91fb3_b.jpg
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
25
Após a crise de energia elétrica de 2001, percebemos um avanço no desenvolvimento de
políticas energéticas, com planejamento e execução bem-intencionados, de modo a utilizar
o mais racionalmente possível o potencial energético do país.
Agora, nos dividiremos em três grandes grupos para discutirmos as
seguintes situações:
∙ Um grupo será responsável por levantar os pontos negativos
da matriz energética do Brasil;
∙ Outro grupo será responsável por levantar os pontos positivos
da matriz energética do Brasil;
∙ O terceiro grupo observará a discussão e fará propostas,
baseado nos pontos levantados pelos outros grupos, de
maneira que se tenha uma matriz energética sustentável.
Fonte: http://farm3.static.flickr.
com/2222/2360237600_
873b9c67c3.jpg?v=0
O uso eficiente da energia elétrica já é uma preocupação
nos setores industrial e comercial, pois, na maioria dos
casos, representa grande redução de custos. Apesar de
gerar também significativa economia doméstica, o hábito de economizar energia não é comumente adotado
pelas pessoas em suas residências.
Conversamos sobre a importância do uso da água e de energia de forma eficiente para a
preservação dos nossos recursos naturais. Comentamos, também, que as ações para evitar o
desperdício geram benefícios econômicos tanto para empresas quanto para as pessoas. Vamos
discutir, agora, as perdas de água e energia elétrica em sistemas de abastecimento de água.
Perdas de água e energia elétrica em sistemas de abastecimento de água
Agora, será feita uma exposição oral sobre a questão de perdas de água e energia dentro do
sistema de abastecimento de água. Procure participar da exposição: relate suas experiências,
faça perguntas, tire dúvidas e procure identificar o que completa as respostas do exercício
que você acabou de resolver.
26
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Para discutir
As elevadas perdas de água tornaram-se um dos maiores problemas dos sistemas de abastecimento de água brasileiro. Quais são os
motivos de elevadas perdas nos sistemas de abastecimento de água?
Como vocês podem contribuir para a identificação e o controle das
perdas de água e energia na empresa em que trabalham?
Vocês sabem qual o gasto médio mensal, da prestadora de serviço de
abastecimento de água do local em que você trabalha, com energia
elétrica?
Além dos benefícios econômicos, economizar energia elétrica traz
benefícios para o meio ambiente. Quais são esses benefícios?
Combater e controlar a perda de água são, sempre, questões fundamentais. Em cenários
em que há, por exemplo, escassez de água, conflitos devidos a seu uso ou elevados volumes de água não faturados, é ainda mais importante um ambiente de regulação, em que
os indicadores que retratam as perdas de água estejam entre os mais valorizados para a
avaliação de desempenho.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
27
Identificar e quantificar as perdas constitui-se em ferramenta essencial e indispensável
para a implantação de ações de combate.
Assim como as perdas de água, a ineficiência na utilização da energia elétrica é um grande
problema dos sistemas de abastecimento de água brasileiros.
No setor de Saneamento Ambiental, os conjuntos motobomba representam 90% do
consumo total de energia elétrica dos prestadores de serviços, sendo a energia elétrica,
para a maioria destes, o segundo item das despesas, visto que o primeiro é, normalmente, despesas com pessoal. Em 2004, os sistemas de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário consumiram perto de 9,7 bilhões de kWh ou cerca de 3% do
consumo total do Brasil (PROCEL, 2006).
Parte do gasto com energia elétrica poderia ser investida, por exemplo, em melhorias do sistema ou redução do custo da água tratada pago por nós, usuários do serviço de abastecimento.
A água pode ser utilizada para diversos fins, entre eles a geração de energia elétrica. A seguir,
discutiremos o consumo e a demanda de água e energia elétrica no Brasil.
Consumo e demanda de água e energia no Brasil
A grande variação na disponibilidade hídrica das regiões brasileiras deve-se à influência
das condições climáticas e da intensidade de ocupação do solo em cada local. É importante
lembrar que a quantidade de água existente em uma região é constante, mas não a população, que normalmente tem crescido. Outros agravantes para essa condição são a poluição
e a contaminação das águas, que também têm aumentado ao longo dos anos.
Poluição é uma alteração ecológica, ou seja, uma alteração na relação entre os seres
vivos, provocada pelo ser humano, que prejudica, direta ou indiretamente, nossa vida
ou nosso bem-estar, como danos aos recursos naturais, por exemplo, à água e ao solo,
e impedimentos a atividades econômicas, como à pesca e à agricultura.
Contaminação é a presença, num ambiente, de seres patogênicos que provocam doenças, ou de substâncias em concentração nociva ao ser humano. Se essas substâncias não
alterarem as relações ecológicas ali existentes ao longo do tempo, essa contaminação
será uma forma de poluição.
28
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
A ocupação desordenada do solo e o seu uso inadequado são fatores que podem ocasionar
a escassez de água disponível para o consumo humano. Se a bacia hidrográfica for utilizada
desordenadamente para a construção de casas, implantação de indústrias, plantações, então
a água receberá outras substâncias, diferentes daquelas que fazem parte dos seus ciclos
naturais. Por exemplo: o esgoto das casas, os resíduos sólidos urbanos (lixo), os resíduos
tóxicos das indústrias e as substâncias químicas aplicadas nas plantações.
Veja na Bacia Hidrográfica Virtual os jogos sobre uso e ocupação
do solo!
Demanda de água
Como comentamos no início desta unidade, a água pode ser utilizada para várias atividades
humanas e, de acordo com cada tipo de uso, a água deve apresentar características físicas,
químicas e biológicas que garantam a segurança dos usuários. Muitas vezes, a água pode
ter vários usos e, nesses casos, pode haver conflitos entre diversos segmentos da sociedade.
A água para consumo humano deve ser priorizada, pois ela é essencial em todas as atividades
metabólicas do ser humano, no preparo de alimentos, na higiene pessoal e na limpeza de
roupas e utensílios domésticos, por exemplo. Essa água deve estar dentro de padrões de
potabilidade que estão definidas na Portaria n.º 518, de 25 de março de 2004, do Ministério
da Saúde. Em média, cada indivíduo necessita de 2,5 litros de água por dia para satisfazer
as suas necessidades vitais.
Metabolismo é o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem
no interior dos organismos vivos. Essas reações permitem que uma célula ou um sistema transforme os alimentos em energia, que será utilizada pelas células para que as
mesmas se multipliquem, cresçam, movimentem-se, etc.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
29
Para Saber mais...
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente:
http://www.mma.gov.br/conama
Ministério da Saúde – Portaria n.°518:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portaria_518_2004.pdf
Política Nacional de Recursos Hídricos - Lei 9.433 de 08/01/1997:
http://www.lei.adv.br/9433-97.htm
Crimes Ambientais – Lei 9.605, de 12/02/1998:
http://br.geocities.com/ambientche/lei_9605.htm
Para o planejamento e o gerenciamento de sistemas de abastecimento de água, a previsão
do consumo de água é um dos fatores de fundamental importância. A operação dos sistemas
e as suas ampliações e/ou melhorias estão diretamente relacionadas à demanda de água,
como veremos a seguir.
Consumo de água em sistemas de abastecimento
Um sistema de abastecimento de água é uma solução coletiva para atender à necessidade
das pessoas de dispor de água potável para satisfazer suas necessidades. A previsão do
consumo de água é um dos fatores de fundamental importância para o planejamento e
gerenciamento de sistemas de abastecimento de água.
Os usuários dos serviços de abastecimento de água são classificados em quatro categorias
de consumo pelas prestadoras de serviços de saneamento:
∙ Doméstico: utilização residencial, tanto na área interna como na área externa
da habitação (lavagem de roupa, utensílios e limpeza em geral);
∙ Comercial: utilização em padarias, bares, restaurantes clubes, lanchonetes, etc.;
∙ Industrial: o uso da água em uma instalação industrial pode ser classificado em
cinco categorias – uso humano, uso doméstico, água incorporada ao produto,
água utilizada no processo de produção e água perdida ou para usos não
rotineiros. De modo semelhante ao uso comercial, o consumo de água para
uso industrial deve ser estabelecido caso a caso.
∙ Público: parcela de água utilizada na irrigação de parques e jardins, lavagem
de ruas e passeios, edifícios e sanitários de uso público, fontes ornamentais,
piscinas públicas, etc.
30
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
A divisão dos usuários nessas categorias baseia-se no fato de que essas categorias são
claramente identificáveis e também na necessidade de estabelecimento de políticas tarifárias
e de cobranças diferenciadas. A categoria de economias residenciais (uso doméstico) é a mais
homogênea, apresentando uma variabilidade de consumo relativamente pequena, quando
comparada à variabilidade das outras categorias. As categorias comercial e industrial são
mais heterogêneas.
Geralmente, elevações no preço da água podem acarretar diminuição no consumo, o que
não pode inibir seu consumo além de um limite correspondente ao essencial.
Produção e consumo de energia elétrica no Brasil
As matrizes energéticas são fundamentais para as atividades desenvolvidas pelas sociedades
contemporâneas.
A matriz energética brasileira, em 2005, foi equivalente a 218,6x10³ toneladas de petróleo,
sendo 47,7% provenientes de fontes renováveis (hidroeletricidade e biomassa). A energia
proveniente da biomassa consistiu de lenha (13,1%), cana-de-açúcar (13,9%) e outras biomassas
(2,7%). A seguir, estão as fontes de produção de energia elétrica em porcentagem, em 2005.
Produção de energia elétrica no Brasil (2005)
Fonte
Hidráulica
Porcentagem (%)
85,4
Gás natural
4,1
Biomassa
3,9
Petróleo e derivados
2,8
Nuclear
2,2
Carvão
1,6
Fonte: Rondeau (2006).
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
31
Para discutir
Agora que já sabemos de onde vem a energia elétrica utilizada na
matriz energética do Brasil, vamos relacionar as seguintes fontes
com suas respectivas características.
Fonte para a geração
Vantagem competitiva do país, recurso renovável.
de energia elétrica:
1. Carvão mineral
Potencial expressivo para geração de energia elétrica,
2. Gás
recurso renovável.
3. Hídrica
4. Biomassa
Importantes reservas minerais.
5. Nuclear
Sexta maior reserva de urânio do planeta, alto potencial
na geração de energia elétrica.
Reservas de 306 bilhões de m³, produção de 48 milhões
de m³/dia (2005), 50% do mercado deste produto são
atendidos com produção nacional (2005).
Fizemos as relações entre as fontes de geração de energia elétrica e suas características.
Agora, vamos expor oralmente quais são os principais problemas causados pela utilização
de cada uma dessas fontes.
As fontes alternativas de energia vêm, através dos tempos, ganhando mais força em seu
desenvolvimento e em sua aplicação. Porém, a utilização dessas fontes gera uma grande
degradação ambiental, que é incontestável do ponto de vista social, econômico e humano.
A seguir, discutiremos a importância da conservação de água e energia.
32
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Conservação de água e energia
Conservação de água
Para discutir
A conservação de água pode ser definida como as práticas, técnicas
e tecnologias que propiciam a melhoria da eficiência do uso da água.
Liste cinco conseqüências positivas da conservação de água.
Então, por que controlar as perdas de água?
Com o controle das perdas, melhora o desempenho econômico do prestador do serviço de
abastecimento de água. As conseqüências são tarifas mais baixas para os usuários; postergação de novos investimentos na ampliação dos sistemas de produção, adução e reservação
de água, além de melhoria do desempenho gerencial e operacional, especialmente na
geração de energia elétrica.
Ampliar a eficiência do uso da água representa, de forma direta, aumento da disponibilidade para os demais usuários, flexibilizando os suprimentos existentes para outros fins,
bem como atendendo ao crescimento populacional, à implantação de novas indústrias e
à preservação e conservação do meio ambiente.
Um programa de conservação de água é composto por um conjunto de ações e, para a sua
viabilidade, é fundamental a participação de todos, incluindo a alta direção da empresa, a
qual deverá estar comprometida com o programa, direcionando e apoiando a implementação
das ações necessárias.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
33
Liste cinco ações para o sucesso de um programa de conservação
de água.
Conservar água significa atuar de maneira sistemática na demanda e na oferta de água.
A manutenção dos resultados obtidos com o programa de conservação depende de um
sistema de gestão permanente e eficaz que compreenda ações de base operacional, institucional, educacional e legal. O sistema de gestão atua principalmente sobre duas áreas:
Técnica: engloba as ações de avaliação, medições, aplicações de tecnologias e
procedimentos para o uso da água;
Humana: envolve comportamento e expectativas sobre o uso da água e procedimentos para realização de atividades usuárias.
Essas áreas necessitam de atualização constante para que seja possível reconhecer os
progressos obtidos e o cumprimento de metas, bem como o planejamento das ações futuras
dentro de um plano de melhoria contínua.
Nosso próximo assunto abordará a conservação de energia elétrica. Fique atento ao que será
falado e procure participar da exposição: relate suas experiências, faça perguntas, tire dúvidas
e procure identificar o que completa as respostas do exercício que você acabou de resolver.
Conservação de Energia
A conservação de energia é um conceito abrangente que engloba todas as ações que são
desenvolvidas para reduzir o consumo de energia. Interessa-nos discutir a conservação de
energia que não cause prejuízo à qualidade de vida. Você sabe a que medida para conservação de energia estamos nos referindo? Acertou se pensou no combate ao desperdício!
O combate ao desperdício, do qual estamos falando desde o início da oficina, permite a
redução dos investimentos no setor elétrico, sem comprometer o fornecimento de energia
e a qualidade de vida da população.
34
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Para conservar a energia elétrica há dois caminhos:
Vertente humana: o cidadão recebe informações compatíveis, que o auxiliam
a se inserir no contexto da nova situação, induzindo-o à mudança de hábitos,
atitudes e futura mudança de comportamento.
Vertente tecnológica: através de treinamento específico, o técnico é inserido
nas questões da eficiência energética, entrosando-se com novas tecnologias,
tanto de equipamentos como de processos, o que reduz significativamente o
consumo de energia de uma instalação, sem comprometer o produto final.
Agora que já nos inteiramos da importância da água e dos recursos energéticos para nós,
seres humanos, e também da importância de utilizar racionalmente nossos recursos naturais,
é hora de identificar e esclarecer melhor a importância das perdas de água e energia no seu
trabalho. Vamos falar, especificamente, das perdas nos sistemas de abastecimento de água.
Importância e origem das perdas de água e energia nos sistemas de abastecimento de água
A concepção dos sistemas de abastecimento de água varia em função do porte da cidade,
sua topografia e posição em relação aos mananciais, etc. Com o aumento da demanda de
água, torna-se cada vez mais urgente a otimização desses sistemas, particularmente em
seu projeto, sua operação e manutenção. Medidas preventivas de controle de perdas nas
fases de projeto e construção do sistema envolvem a necessidade de passos iniciais de
organização anteriores à operação.
Questões para discussão em grupo
No sistema de abastecimento de água em que você atua que tipos
de perdas podem ser identificados? Quais as origens dessas perdas?
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
35
Quais métodos vocês utilizam para a avaliação de perdas?
Agora, será feita uma exposição oral sobre a origem das perdas de água e energia
em sistemas de abastecimento de água. Procure participar da exposição: relate suas
experiências, faça perguntas, tire dúvidas e procure identificar o que completa as
respostas do exercício que você acabou de resolver.
Para falar das perdas em um sistema de abastecimento de água, vamos relembrar
as partes que constituem esse sistema.
Sistemas de abastecimento de água
De um modo geral, os sistemas convencionais de abastecimento de água são
constituídos das seguintes partes:
∙ manancial;
∙ captação;
∙ estação elevatória;
∙ adutora;
∙ estação de tratamento de água;
∙ reservatório;
∙ rede de distribuição.
Fonte: Orsini (1996).
Sistema de Abastecimento de água com captação superficial e subterrânea
36
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Em alguns sistemas, há necessidade da utilização de estações elevatórias para que a água
bruta do manancial possa ser transportada até a estação de tratamento, onde é tratada e,
posteriormente, distribuída à população.
Há uma relação direta entre as perdas e o consumo de energia: aumentando as perdas de
água, aumenta-se o consumo de energia elétrica.
Perdas de água em sistemas de abastecimento de água
A perda de água é considerada um dos principais indicadores de desempenho operacional das
prestadoras de serviços de saneamento em todo o mundo. As perdas ocorrem em todos os
componentes de um sistema de abastecimento de água, desde a captação até a distribuição;
entretanto, a magnitude dessas perdas depende de cada componente.
As perdas podem ser avaliadas pela diferença de volume de entrada e de saída de um
componente do sistema de abastecimento. O caso mais comum é a determinação de perdas
a partir da estação de tratamento de água (ETA). Nesse caso, mede-se o volume que sai da
ETA em um determinado período, comparando-o com a soma de todos os volumes medidos
(ou estimados) na rede de distribuição de água, no período considerado.
Fonte: Zaniboni e Sarzedas (2007).
Definição de perdas
Considere:
VP = volume de água que entra no sistema;
Vm = volume micromedido;
u = usos operacionais, emergenciais e sociais.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
37
Questões para discussão em grupo
A vazão de captação de uma estação de tratamento de água de uma
cidade é de 150 L/s. Após o tratamento da água, foi verificado que
apenas 147L/s são disponibilizados para a população, dos quais,
devido a problemas de manutenção, 17L/s são perdidos até a rede
de distribuição. A empresa responsável verificou, durante a medição,
que, do total produzido, apenas 110 L/s eram realmente consumidos
pelos habitantes. Calcule qual o percentual de perda durante uma
hora: na estação de tratamento, na adutora e dentro da cidade.
Como já citamos neste guia, em um sistema de abastecimento de água podem ser
identificados dois tipos de perdas:
Perda real ou perda física: corresponde ao volume de água produzido que
não chega ao usuário final devido à ocorrência de vazamentos nas adutoras,
redes de distribuição e reservatórios, bem como de extravasamentos em
reservatórios.
Perda aparente ou perda não física: corresponde ao volume de água consumido, porém não contabilizado pela prestadora de serviços de saneamento,
decorrente de erros de medição, fraudes, ligações clandestinas e falhas do
cadastro comercial.
Existem dois métodos para a avaliação de perdas:
Balanço de águas: consiste em avaliar as perdas pelo volume que entra no sistema menos o volume de água consumido, de modo que, neste método, as perdas
calculadas são as perdas totais resultantes das várias partes da infraestrutura.
Pesquisa em campo: as perdas são determinadas através de pesquisas, testes
e inspeções em campo de cada componente de perda real ou aparente. Com a
somatória das parcelas de volumes perdidos, calcula-se o volume total de perdas.
38
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Vamos discutir como as ações listadas a seguir atuam no combate às perdas. Procure participar da discussão expondo experiências vividas no seu dia-a-dia, em que alguma das ações
mencionadas ajudaram ou ajudam na redução de perdas.
∙ Mudanças de comportamento;
∙ Busca de soluções alternativas;
∙ Treinamento e capacitação da mão-de-obra;
∙ Macro e micromedição;
∙ Medição e controle dos consumos autorizados e não faturados;
∙ Setorização da rede e controle de pressão.
Indicadores de perdas
Para quantificar as perdas reais e aparentes, são utilizados os indicadores de perdas. Esses
indicadores, além de retratar a situação das perdas, permitem gerenciar a evolução dos
volumes perdidos, redirecionar ações de controle e comparar sistemas de abastecimento de
água distintos. A seguir são apresentados os principais indicadores de perdas:
Indicador percentual: relaciona o volume total perdido (perdas reais + perdas aparentes) com
o volume total produzido ou disponibilizado (volume fornecido) ao sistema, em bases anuais.
Esse indicador pode retratar as perdas do sistema como um todo, ou apenas parte do sistema
de abastecimento. A equação a seguir apresenta o indicador para a rede de distribuição de água.
IP (%) =
Volume Perdido
Volume Produzido
X 100
Deve-se ressaltar que, apesar de ser o mais utilizado e o mais fácil de ser compreendido, esse
indicador imprime uma característica de homogeneidade aos sistemas, que não ocorre na prática,
pois fatores chaves principais, com impacto sobre as perdas, são diferentes de sistema para sistema, tais como a pressão de operação, a extensão de rede e a quantidade de ligações atendidas.
Atividade
O indicador percentual de perdas (IP) de um sistema de abastecimento
de água é de 20%. Sabendo-se que o volume de água potável é de
120000 m³, qual será o volume perdido?
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
39
Índice de perdas por ramal: relaciona o volume perdido total anual com o número médio
de ramais existente na rede de distribuição de água. Esse indicador é recomendável quando a densidade de ramais for superior a 20 ramais/km, valor que ocorre praticamente em
todas as áreas urbanas. É comum a apresentação desse indicador rateado em perdas reais
e perdas aparentes.
IPL =
Volume Perdido Anual
Extensão da Rede X 365
(m3 / Km.dia)
Atividade
No início da nossa oficina, vimos que o índice de perdas de Ararajuba
era de 353 L/Lig.dia. Sabendo que Ararajuba tem 50.000 ligações
prediais, vamos calcular a volume perdido anual da cidade.
Índice de perdas por extensão de rede: relaciona o volume perdido total anual com o
comprimento da rede de distribuição de água existente. Pode ser utilizado em áreas cuja
densidade de ramais é inferior a 20 ramais/km, o que geralmente representa subúrbios com
características próximas às de ocupação rural. Também pode ser calculado considerando-se
as perdas reais e aparentes.
Atividade
No início da nossa oficina, vimos que o índice de perdas de Ararajuba
era de 353 L/Lig.dia. Sabendo que Ararajuba tem 50.000 ligações
prediais, vamos calcular a volume perdido anual da cidade.
40
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Índice infra-estrutura de perdas (adimensional): relação entre o volume perdido total
anual e o volume perdido total inevitável anual. Esse é um novo indicador proposto pela
IWA, sigla inglesa que se traduz como Associação Internacional da Água, para determinação
de perdas reais e aparentes, e permite a comparação entre sistemas distintos. Entretanto,
esse indicador não é adequado para setor com menos de 5.000 ligações, pressão menor
que 20mca e baixa densidade de ligações (menor que 10 ligações/km).
É muito comum confundirmos pressão com força. A pressão, no entanto, leva em conta
não só a força como também a área em que ela atua. Pressão é a força dividida pela
área. Considere um reservatório com base de área 1,0 m² e altura de 4,0 m. Seu volume
(área x altura) é 4,0 m³. Considerando que o peso específico da água é 1.000 kgf/m³, a
força (peso específico x volume) é igual a 4000,0 kgf. Logo, a pressão será 4.000 kgf/
m². A unidade mca está relacionada com a altura do líquido, pois a pressão não depende
da área, mas somente da altura do reservatório, ou seja, a pressão é proporcional aos
METROS DE COLUNA DE ÁGUA (mca).
Origem das perdas de água
Perdas reais
As perdas reais compreendem os vazamentos de água existentes no sistema até o medidor
do usuário. A figura a seguir apresenta a classificação dos vazamentos.
Fonte: Tardelli Filho (2004).
Classificação dos vazamentos
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
41
Veja, a seguir, as características dos vazamentos.
Tipo de vazamento
Características
Vazamento não visível, não detectável, baixas vazões, longa duração
Inerente
Não visível detectável, vazões moderadas, duração dependente da
freqüência da pesquisa de vazamentos
Visível
Aflorante, altas vazões, curta duração
Fonte: Lambert et al. (2000).
Os vazamentos ocorrem em diversas partes do sistema de abastecimento de água, tais como:
∙ nas captações de água;
∙ nas adutoras de água bruta e tratada;
∙ nas estações de tratamento de água;
∙ nas estações elevatórias de água bruta e tratada;
∙ nos reservatórios;
∙ nas redes de distribuição de água;
∙ nos ramais prediais e cavaletes.
Agora que vimos onde os vazamentos podem ocorrer nos sistemas de abastecimento de
água, indique quais os locais onde ocorrem mais vazamentos da rede de distribuição do
sistema em que você trabalha.
Em função da sua extensão e condições de implantação, as redes de distribuição e os
ramais prediais são as partes do sistema onde ocorrem o maior número de vazamentos e
o maior volume perdido.
Fonte: http://farm4.static.flickr. com/3029
/2434036136_1f2aab6764.jpg?v=0
Então, dentre as várias causas de vazamentos, as mais
importantes são: má qualidade dos materiais utilizados na
implantação e manutenção do sistema; má qualidade dos
serviços executados; pressões elevadas nas tubulações;
oscilações de pressão, ocasionando fraturas ou rupturas
em tubulações devido ao deslocamento de blocos de
ancoragem, flexão de tubos, entre outros; deterioração
das tubulações, causada pela corrosão de tubos metálicos;
Vazamento
efeitos do tráfego, podendo ocasionar movimentação do
solo e possíveis rupturas em tubulações.
42
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
A boa operação e a manutenção permitem que o sistema de abastecimento atenda satisfatoriamente ao usuário. Por outro lado, caso não seja realizado um trabalho bem feito, os efeitos
são preocupantes. Tubulação com problemas de vazamento está propícia às contaminações
através de infiltração, na maioria das vezes, por esgotos que são jogados diretamente no
solo, colocando em risco a saúde da população.
A má qualidade dos materiais e dos serviços provoca gotejamentos nas juntas dos tubos.
Estes vazamentos, geralmente, são pequenos. No entanto, devido à grande quantidade
dessas juntas e ao longo tempo de duração desses vazamentos indetectáveis, o volume
total torna-se bastante significativo.
Perdas aparentes
As perdas aparentes compreendem as perdas não físicas de água do sistema de abastecimento de água. Contabiliza todos os tipos de imprecisões associadas às medições da água
produzida e da água consumida, e ainda o consumo não autorizado por furto ou uso ilícito.
As perdas aparentes podem ser influenciadas por fatores sociais e culturais, influências
políticas, financeiras, institucionais e organizacionais.
As perdas aparentes ocorrem em um sistema de abastecimento de água na gestão comercial
ou em fraudes e falhas de cadastro.
As principais causas das perdas aparentes são apresentadas a seguir.
Fonte: http://paginasamarillas.
com.pe/dbimages/727173/
IMG21193.JPG
Erros devido aos macromedidores: os macromedidores referemse ao conjunto de medições de vazão, pressão e nível de reservatório,
efetuadas nos sistemas de abastecimento de água, desde a captação
no manancial até imediatamente antes do ponto final de entrega
para o consumo. Um medidor bem instalado apresenta uma faixa
de variação da precisão entre 0,5 e 2%, para mais ou para menos.
Macromedidor
Para discutir
Relate os principais fatores que geram a imprecisão nos macromedidores.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
43
Fonte: http://www.gomezpalacio.
gob.mx/images/Not_20Abr08_2.gif
Erros devido aos micromedidores: os micromedidores referem-se
à medição do volume consumido pelos usuários das prestadoras de
serviços de saneamento cujo valor será objeto da emissão da conta
a ser paga pelo usuário.
Micromedidor
Para discutir
Relate os principais fatores que geram a imprecisão nos micromedidores.
Erros de estimativa: quando não existe micromedição, os consumos faturáveis são obtidos
por estimativa. Nesse processo, pode-se afirmar que as causas básicas de erros são inerentes
ao próprio processo de estimativas devido às falhas de cadastro, à aplicação de critérios
baseados em analogia com ligações micromedidas, que acompanham as disposições da
micromedição, e às falhas nos critérios baseados em características físicas dos domicílios.
Gestão comercial: algumas causas das perdas de água estão relacionadas com o gerenciamento global dos usuários e as ligações domiciliares, englobando os aspectos físicos e
comerciais, como:
∙ confiabilidade da micromedição (aferição e manutenção);
∙ confiabilidade das estimativas de consumo;
∙ estado das ligações ativas ou inativas;
∙ ligações clandestinas.
Fraudes: os consumos clandestinos são caracterizados por alguma atitude fraudulenta, como:
∙ emprego de tubulação lateral ao medidor, onde parte da água passa sem ser
medida;
∙ ligação clandestina conectada diretamente na rede distribuidora;
∙ violação de hidrômetros;
∙ ativação de ligações inativas sem permissão da prestadora de serviços de
saneamento.
44
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Agora que já sabemos quais são as causas das perdas aparentes, podemos nos conscientizar delas, refletindo sobre uma única questão: Quem paga esta conta? Resposta:
Todos nós!
Pontuamos as origens das perdas. Nosso próximo passo será discutir métodos para avaliação das perdas de água.
Métodos para avaliação de perdas de água
Perdas reais
Os principais métodos para a avaliação de perdas reais são:
Método de balanço hídrico: Com base nos valores de macromedição e de micromedição,
são feitas hipóteses para determinar as perdas aparentes e, por diferença, determinam-se
as perdas reais.
Método das vazões mínimas noturnas: através de medições noturnas, determina-se o
consumo mínimo, denominado vazão mínima noturna, pois, no momento de sua ocorrência,
normalmente entre 3h a 4h, há pouco consumo, e parcela significativa do seu valor referese às vazões dos vazamentos. Seus componentes são:
∙ consumo noturno residencial;
∙ consumo noturno não residencial;
∙ consumo noturno excepcional;
∙ perdas noturnas após hidrômetro e
∙ perdas reais na rede de distribuição de água.
O valor dos vazamentos é altamente influenciado pela pressão que, durante a noite, é
mais elevada que durante o dia, ocasionando vazamentos maiores naquele período. Para
compensar, utiliza-se o fator noite/dia, número dado em horas por dia, que, multiplicado
pela vazão dos vazamentos (extraída da vazão mínima noturna), resulta no volume médio
diário de vazamentos.
Perdas aparentes
As perdas aparentes podem ser obtidas subtraindo-se as perdas reais do valor da perda
total. As principais formas de se obterem as perdas aparentes são:
Método do balanço hídrico: é utilizada a matriz do balanço de água. Neste caso, admitese que são conhecidas as perdas reais para se obterem as perdas aparentes.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
45
Estudos e pesquisas específicas: a avaliação dos volumes perdidos devido à gestão comercial, fraudes e falhas de cadastro baseia-se no histórico do sistema comercial da prestadora
de serviço, se as tiver; caso contrário, poderão ser utilizados dados de outras empresas.
Atividade
Baseando-se na “Matriz do Balanço Hídrico”, calcule o valor da água
faturada na cidade de Ararajuba, considerando que o volume disponibilizado à distribuição é 304.000 m³ e que 36% são registrados como
perdas. Sabe-se, ainda, que, 9,5% do volume são não faturados.
Fonte:htp://www.abae.org/arquivos/dezembro2004/ Combatea
PerdasABAE.pps#259, 19,MATRIZ DO BALANÇO HÍDRICO
Matriz de Balanço Hídrico
Já vimos que, diminuindo as perdas de água, estaremos combatendo também as perdas de
energia elétrica. Entretanto, existem outras formas de diminuir as despesas com energia
elétrica em um sistema de abastecimento de água. Esse é o nosso próximo assunto.
Para discutir
O que podemos fazer para reduzir o consumo de energia elétrica em
um sistema de abastecimento de água?
46
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Perdas de energia elétrica em sistemas de abastecimento água
Em instalações de sistemas de abastecimento de água com equipamentos eletromecânicos,
haverá consumo de energia elétrica. As partes constituintes do sistema de abastecimento,
munidas desses equipamentos, são:
Estação elevatória de água bruta: esta instalação geralmente é responsável pelo maior
consumo de energia elétrica do sistema de água, pois os mananciais estão distantes da área de
consumo; as alturas de recalque são grandes e as bombas recalcam as maiores vazões do sistema.
Atividade para discussão
Você já se perguntou o que pode estar causando esta dificuldade
para captação da águas em mananciais, uma vez que estes estão cada
vez mais escassos e distantes? Para você, o que poderia ser feito nas
outras dimensões do saneamento (resíduos sólidos, esgotamento
sanitário e drenagem de águas pluviais) para que essa distância entre
os mananciais e os sistemas de captação fosse diminuída?
Estação de tratamento de água (ETA): embora existam diversos equipamentos que
consomem energia em uma ETA, seu consumo nessas estações, geralmente, não é tão
significativo em comparação com os demais usos em outras instalações.
Estação elevatória de água tratada: é utilizada em centros de reservação para o bombeamento de água do reservatório enterrado, semi-enterrado ou apoiado para o reservatório
elevado. As estações elevatórias também são utilizadas para o reforço de vazão ou de pressão.
Discutimos, nesta unidade, a importância do uso racional da água e da energia elétrica.
Falamos, também, dos problemas com perdas de água e energia nas prestadoras de serviço
de abastecimento de água.
Agora, vamos começar a discutir práticas de combate às perdas de água e energia em sistemas de abastecimento.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
47
OBJETIVOS:
- Discutir técnicas
utilizadas para
redução de perdas
de água.
- Comentar ações
empregadas
para a redução
dos gastos com
energia elétrica.
Uso eficiente de
energia e água
No módulo anterior, discutimos a importância do uso racional da água
e da energia elétrica. Falamos, também, dos problemas com perdas de
água e energia nas prestadoras de serviço de abastecimento de água.
Agora, vamos começar a discutir práticas de combate às perdas de
água e energia em sistemas de abastecimento.
Questões para discussão em grupo
Fonte: Adaptadoi de Thorton (2002).
Ações para o controle de perdas
A figura apresentada indica que devem ser adotadas ações para que
o “Nível existente de perdas reais” seja reduzido a um “Nível econômico” de perdas, e que as ações devem ser melhoradas até que só
existam “Perdas reais inevitáveis”.
Na prestadora de serviço de abastecimento de água em que você atua,
quais são as principais ações adotadas para o controle de perdas reais?
48
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
E para o controle de perdas aparentes?
Que ações vocês adotam para economizar energia elétrica no sistema
de abastecimento de água?
Qual o índice de hidrometração nos serviços em que você atua?
Agora, será feita uma exposição oral sobre procedimentos técnicos para o combate às
perdas de água e energia. Procure participar da exposição: relate suas experiências, faça
perguntas, tire dúvidas e procure identificar o que completa as respostas do exercício que
você acabou de resolver.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
49
Procedimentos técnicos para o combate às perdas de água
Ações para a redução de perdas reais
As perdas reais podem ser reduzidas por meio de quatro ações principais.
1. Controle de pressão
O controle de pressão é fundamental para a redução de perdas reais em um sistema de
abastecimento de água, sendo esse o principal fator que influencia o número e a magnitude
dos vazamentos, cuja solução é o zoneamento piezométrico, ou seja, a divisão de um setor
de abastecimento em zonas com comportamento homogêneo dos planos de pressão.
Setorização
A setorização de um sistema de abastecimento é definida a partir de um reservatório apoiado
ou enterrado abastecendo a zona baixa, e o reservatório elevado abastecendo a zona alta.
Dessa forma, ficam estabelecidas as chamadas zonas de pressão, sendo que as pressões
dentro da zona oscilam com os níveis de água dos reservatórios.
A setorização é uma das principais formas de controle de pressão. Ela proporciona a divisão
da área de abastecimento em áreas menores, denominadas subsetores, através de delimitação
natural do sistema, ou por meio do fechamento de válvulas de manobra.
A figura a seguir apresenta um desenho esquemático que mostra a setorização através de
reservatório, torre, estações elevatórias e válvula redutora de pressão.
Fonte: Tsutiya (2004).
Setorização de um sistema de abastecimento de água
50
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Válvulas redutoras de pressão (VRP)
É um dispositivo mecânico que permite reduzir, automaticamente, uma pressão variável
de montante a uma pressão estável de jusante, podendo o seu mecanismo de controle ser
mecânico, quando garante uma pressão de jusante preestabelecida, independentemente das
condições de vazão e pressão de montante, ou um controle eletrônico, que permite monitorar
e controlar as vazões e as pressões, garantindo as condições adequadas de abastecimento
ao longo das 24 horas do dia.
Fonte: http://www.hidrosado.pt/imagens
/produtos/redutora_ozv.jpg
A correta escolha do tipo de válvula e do tipo de controle depende
de alguns fatores:
∙ tamanho e complexidade do sistema de distribuição;
∙ conseqüências da redução de pressão;
∙ custo de instalação e manutenção; previsão da economia de
água; condição mínima de serviço.
Válvula redutora de pressão
A válvula redutora de pressão pode ser configurada para atuar com pressão de saída fixa,
ou seja, deverá restringir e manter a pressão a jusante a uma proporção fixa da pressão de
montante. Nela pode-se acoplar um controlador eletrônico, combinado com uma adaptação
à válvula piloto, de forma a funcionar como VRP com pressão de saída variável, modulada
pela vazão ou pelo tempo.
As VRPs, normalmente, são instaladas em um bypass (expressão inglesa que se traduz como
desvio) da tubulação principal, guarnecidas por registro de bloqueio a montante e a jusante
para as manutenções.
Booster
O booster (palavra do inglês que se traduz como
impulsionador) tem sido utilizado para abastecer áreas
que não podem ser atendidas pelos reservatórios,
devido à insuficiência de pressões. Entretanto, com
o uso de inversor de freqüência, o booster é utilizado
para controle de pressão, por permitir que se mantenha constante a pressão de saída, qualquer que seja a
vazão de jusante e pressão a montante. A regulagem
da pressão de saída do booster é fator importante
na operação desse equipamento, pois a perda real
aumenta com o aumento da pressão.
Booster: dispositivo para intensificar a força eletromotriz com
circuito de corrente alternada;
Inversor de freqüência:
equipamento para o controle
da velocidade de motores de
indução trifásicos, o que gera
uma economia de energia sem
prejudicar a qualidade final do
sistema.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
51
http://www.hdic.pi.gov.br/noticias/
fotos/200507/CCOM01_72fc856ebb.jpg
Fonte: Tardelli Filho (2004).
Esquema geral de
implantação de
booster na rede
Booster
2. Controle ativo de vazamentos
A metodologia mais utilizada para o controle ativo de vazamentos é a pesquisa de vazamentos não visíveis, realizada através de métodos acústicos de detecção de vazamentos.
Observa-se que o controle ativo se opõe ao controle passivo, que consiste na atividade de
reparar os vazamentos apenas quanto se tornam visíveis. O princípio básico da detecção
acústica é ouvir o ruído do vazamento. Para isso são utilizados os seguintes equipamentos:
Haste de escuta
Equipamento composto de um amplificador mecânico ou eletrônico, acoplado a uma barra
metálica, destinada a captar ruídos de vazamentos em acessórios da rede de distribuição
de água (cavaletes, registros, hidrantes, etc.).
Fonte: Zaniboni e Sarzedas (2007)
Haste de escuta
52
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Geofone
Detector acústico de vazamentos composto de sensor, amplificador, fones de ouvido e filtros
de ruídos, destinado a identificar os ruídos de vazamentos a partir da superfície do solo
ou em contato com acessórios da rede. A técnica consiste em percorrer o caminhamento
da tubulação de água com o geofone e observar variações sonoras próximas à posição do
vazamento, de modo que o local onde o ruído apresentar maior intensidade é o ponto abaixo
do qual se encontra o vazamento nãovisível.
Zaniboni e Sarzedas (2007).
Geofone mecânico, eletrônico e aplicação
É um equipamento acústico, composto de uma unidade processadora, de um pré-amplificador
e de sensores. Serve para identificar a posição do vazamento entre dois pontos determinados de uma tubulação. Esse equipamento é mais sofisticado, sendo normalmente utilizado
para encontrar vazamentos em trechos onde o uso do geofone é difícil ou para confirmar
algum apontamento do geofone.
Zaniboni e Sarzedas (2007).
Correlacionador de ruídos
O princípio de funcionamento desse equipamento se baseia no ruído característico gerado
por vazamento, que é captado por meio de sensores sonoros instalados em pontos de acesso
à tubulação, como registros, hidrantes, ramais prediais, ventosas e outros. A correlação é
baseada na diferença de tempo que o ruído do vazamento leva para atingir cada um dos
sensores. Essa diferença de tempo é denominada tempo de retardo. Assim sendo, a partir
do comprimento da tubulação entre os sensores, da velocidade de propagação da onda e
do tempo de retardo, é possível determinar a localização do vazamento.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
53
3. Rapidez e qualidade de reparo
Conhecido o local, os vazamentos visíveis e não visíveis devem ser reparados rapidamente. O tempo de reparo é um dos itens do gerenciamento de perdas que as prestadoras de
serviços de saneamento mais controlam, pois quanto mais rápido o reparo, menor a perda
real e, conseqüentemente, menores as perdas totais.
As condições de infra-estrutura e de logística, requeridas a uma boa gestão para o reparo
de vazamentos, envolvem os seguintes aspectos:
∙ Existência de linhas telefônicas diretas entre os usuários e a prestadora de
serviços de saneamento para comunicação da ocorrência de vazamentos ou
de problemas operacionais;
∙ Controle ativo de vazamentos;
∙ Equipes próprias ou contratadas, bem treinadas e equipadas, que utilizem,
obrigatoriamente, EPCs e EPIs;
∙ Existência de um sistema de programação e controle dos reparos de vazamentos;
∙ Emprego de materiais de qualidade;
∙ Sistema de gerenciamento e controle de resultados, contemplando a redução de
perdas reais conseguida, o levantamento de retrabalhos e demais indicadores
pertinentes.
Equipamentos de Proteção Coletiva, ou EPCs, são equipamentos utilizados para
proteção, enquanto um grupo de pessoas realiza determinada atividade, ou exercício.
Exaustores, kit de primeiros socorros e extintores de incêndio são alguns exemplos.
Equipamentos de Proteção Individual, ou EPIs, são quaisquer meios ou dispositivos
utilizados por uma pessoa contra possíveis riscos para sua saúde ou segurança durante
o exercício de uma determinada atividade. Luvas, botas e óculos são alguns exemplos.
4. Gerenciamento da infra-estrutura
Como as tubulações são os principais componentes do sistema de abastecimento de água,
responsáveis pelos vazamentos, o gerenciamento de infra-estrutura está diretamente relacionado ao conhecimento dessas tubulações, sendo importante conhecer a idade delas, o
tipo de material usado em sua fabricação, manutenção emergencial e preventiva dessas
tubulações, procedimento de trabalho, treinamento, etc.
Os programas de manutenção empregados mais freqüentemente no combate às perdas
são o controle da corrosão e a substituição de tubulações. Assim, como qualquer outro
componente que causa perda em sistema de abastecimento, as razões para a existência da
54
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
corrosão são variadas e complexas, por isso devem ser estudadas individualmente. Quanto
aos outros métodos utilizados para melhoria da infra-estrutura do sistema, a manutenção
periódica, a substituição e a reabilitação de tubulações podem efetivamente aumentar a vida
útil da tubulação, em maior ou menor grau, dependendo do processo utilizado.
Fonte: Adaptado de: Tardelli Filho (2004).
Síntese das ações para o controle e a redução de perdas reais
Atividade para discussão
É comum, em sistemas de abastecimento de água, o processo de
corrosão e incrustação das tubulações, que ocorrem devido a pH
muito baixo (corrosão) ou muito alto (incrustação).
Quando a tubulação sofre corrosão, formam-se buracos em sua
superfície, o que causa vazamentos e torna a rede vulnerável à
contaminação externa. A incrustação, formação de crostas, diminui
o diâmetro da tubulação, causando risco de rompimento ou perda
de carga.
Isso pode fazer com que a água não chegue a todos os pontos de
distribuição.
Cite as conseqüências sanitárias e econômicas que são geradas
devido a esses fenômenos.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
55
Ações para a redução de perdas aparentes
A seguir, serão apresentadas, resumidamente, algumas considerações a respeito das quatro
principais ações para o controle e redução de perdas aparentes.
Redução de erros de medidores: tem como ações principais a especificação e o dimensionamento corretos dos medidores instalados no sistema adutor, assim como os medidores do
sistema distribuidor e dos usuários; a instalação adequada dos medidores; a manutenção
preventiva e corretiva dos hidrômetros; a leitura correta dos hidrômetros.
Qualificação da mão-de-obra: envolve a seleção e o treinamento especializado dos profissionais que fazem a leitura dos hidrômetros, a gestão comercial e a instalação, calibração
e manutenção dos medidores.
Redução de fraudes: envolve as ações de inspeção de ligações suspeitas de haver interferência
na contabilização do consumo de água e as medidas de coibição dessa prática.
Melhorias no sistema comercial: a gestão comercial de uma prestadora de serviços de
saneamento compreende todo o aparato de processos, sistemas informatizados e recursos
humanos que permite a contabilização dos consumos de água tratada e seu faturamento.
Atividade
Indique, na figura a seguir, as principais medidas preventivas e corretivas, utilizadas pelas prestadoras de serviços de saneamento, para o
controle e a redução de perdas aparentes.
Fonte: Tardelli Filho (2004).
Síntese das ações para o controle e a redução de perdas aparentes
56
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Os aparelhos utilizados para macromedição e micromedição do volume de água que passa
pelo sistema de abastecimento de água e o volume consumido pelos usuários do sistema
têm fundamental importância no controle e na redução das perdas de água.
Macromedição
Conjunto de medições de vazão, pressão e nível de reservatório que se realizam nos sistemas de abastecimento de água, desde a captação no manancial até imediatamente antes
do ponto final de entrega para o consumo. Os pontos de medição podem ser permanentes
ou temporários, monitorados a distância ou localmente.
A macromedição gera os números que serão referenciais de todas as análises de perdas
no sistema de abastecimento de água e, geralmente, são instalados nos seguintes locais:
∙ captação de água bruta;
∙ tratamento de água ou de poços produtores;
∙ centros de reservação e distribuição ou estações elevatórias de água;
∙ derivações de adutoras ou subadutoras.
Fonte: Niida
Tardelli
(1998).
Filho (2004).
Locais para instalação de macromedidores em um sistema de abastecimento de água
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
57
Os serviços de saneamento enfrentam três problemas graves nas redes de abastecimento
de água:
• índices elevados de perdas;
• desperdício de energia elétrica devido às perdas e
• desconhecimento de erros e incertezas das medições realizadas nos sistemas produtores (ETAs e poços) e nas redes de abastecimento de água.
As medições de vazão realizadas em dutos de grandes dimensões (de até 4000 mm de
diâmetro) apresentam grandes dificuldades técnicas. Os níveis de incerteza são normalmente
superiores a 5%, freqüentemente maiores que 12%.
A situação atual do sistema de saneamento é crítica no Brasil com relação à qualidade dos
dados disponíveis sobre os macromedidores das ETAs e dos sistemas de distribuição. Esse
problema deve-se, principalmente, à dificuldade de retirada dos medidores de suas instalações
para calibração em laboratório, dado o custo operacional envolvido no bloqueio da rede.
A escolha do tipo de medidor depende das condições locais, operacionais e da importância
do ponto a medir. Para todos é fundamental a calibração do medidor, feita em bancada ou
no próprio local da instalação em campo. Devem-se levantar os fatores apresentados a
seguir, para a correta decisão na seleção de um medidor:
∙ Exigências e necessidades da medição;
∙ Condições externas ao conduto;
∙ Condições internas ao conduto;
∙ Local da calibração;
∙ Fatores econômicos;
∙ Busca do medidor ideal.
Micromedição
A micromedição refere-se à medição do volume consumido pelos usuários das prestadoras de
serviços de saneamento, cujo valor será objeto da emissão da conta a ser paga pelo usuário.
Com o passar dos anos, o micromedidor (hidrômetro) tornou-se uma ferramenta imprescindível para as prestadoras, pois, além de possibilitar uma cobrança mais justa do serviço
prestado, ele inibe o consumo, estimulando a economia e fornecendo dados operacionais
importantes sobre o volume fornecido ao usuário e vazamentos potenciais.
A micromedição está associada fortemente à precisão da medição, que depende da classe
metrológica do medidor, do tempo de instalação, da forma como o medidor está instalado
e do perfil de consumo. Medidores parados ou com indicações inferiores às reais, além da
58
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
evidente perda de faturamento, elevam erroneamente os indicadores de perdas do sistema, pois, apesar de a água estar sendo fornecida ao usuário, parte dela não está sendo
contabilizada.
Hidrômetros
Fonte: http://user.img.todaoferta.uol.
com.br/U/4/V4/XZ4ZIU/bigPhoto_0.jpg
São aparelhos destinados a medir e indicar a quantidade de água
fornecida pela rede distribuidora a uma instalação predial. Suas
principais vantagens são baixo custo e fácil manutenção, enquanto
as desvantagens são altas perdas de carga e desgaste de peças.
Em algumas cidades do Brasil, estão sendo utilizados os sistemas de
medição individual em condomínios e edifícios. Esse sistema de medição
contribui para a utilização racional da água, diminuindo o desperdício.
Hidrômetro
Atividade para discussão em grupo
A prestadora de serviço de abastecimento de água em que vocês
trabalham utiliza outros tipos de medidores de vazão? Exponha-os
para os outros participantes para que possamos discutir as suas
vantagens e desvantagens.
Para a seleção do hidrômetro, devem ser levadas em consideração as condições reais de
operação do medidor, qualidade, temperatura e pressão da água, condições de instalação
e vazões de consumo.
Os hidrômetros apresentam um decaimento do nível de precisão ao longo do tempo. Avaliase, de forma geral, e sem contar com a influência de diversos fatores, que ocorra uma queda
de precisão dos hidrômetros de 1% ao ano.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
59
Atividade para discussão em grupo
Aponte os principais fatores que provocam a submedição e a supermedição nos hidrômetros.
A seguir, discutiremos as ações para a redução dos gastos com energia elétrica em um
sistema de abastecimento de água.
Ações administrativas para a redução de custo de energia
elétrica
Para reduzir o custo de energia elétrica em um sistema de abastecimento de água, há necessidade de se implementarem várias ações. O início é um diagnóstico do sistema existente,
principalmente com a identificação dos pontos de uso excessivo de energia.
Atividade: Painel Síntese
Então, vamos expor algumas idéias de uma maneira diferente? Para
isso, nossa próxima atividade será elaborada com a ajuda do “Painel
Síntese”. Nós nos dividiremos em três grandes grupos. Cada grupo
será responsável por um dos seguintes temas:
∙ Principais atividades para o diagnóstico do uso de energia
elétrica;
∙ Principais ações para redução do gasto com energia elétrica;
∙ Alternativas para redução do custo com energia elétrica.
Agora que já fizemos os nossos painéis, vamos apresentá-los para
os outros participantes, para que possamos discutir as alternativas.
Você conhece o sistema tarifário de energia elétrica?
60
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Principais ações para a redução do custo de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água
Ações administrativas
Regularização da demanda contratada
Consiste na adequação da demanda contratada e registrada, a fim de se evitar pagamento de uma
demanda não utilizada, ou ainda, no caso de tarifação horo-sazonal, da demanda de ultrapassagem.
Alteração da estrutura tarifária
Existem vários tipos de estrutura tarifária, o que permite, em alguns casos, a opção do
próprio usuário por aquela que lhe proporciona maior economia. A escolha da tarifa de
uma determinada instalação é normalmente definida através de simulações em programas
computacionais específicos, utilizando-se várias modalidades tarifárias. Também, são utilizados programas computacionais quando há necessidade de aumento de carga da instalação.
Estrutura tarifária
A estrutura tarifária é um conjunto de tarifas aplicáveis às componentes de consumo
de energia elétrica ou demanda de potência ativa, de acordo com a modalidade de
fornecimento, que pode ser em baixa tensão ou alta tensão.
Os usuários do Grupo B (baixa tensão) têm tarifa monômia, isto é, são cobrados apenas
pela energia que consomem. Os usuários do Grupo A (alta tensão) têm tarifa binômia,
isto é, são cobrados pela demanda e pela energia que consomem. Estes usuários podem
enquadrar-se em uma das alternativas tarifárias:
Estrutura tarifária convencional: caracteriza-se pela aplicação de tarifas de consumo de energia elétrica ou demanda de potência, independentemente das horas
de utilização do dia e dos períodos do ano.
Estrutura tarifária horo-sazonal: caracteriza-se pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência de acordo com as
horas de utilização no dia e nos períodos do ano, conforme especificação a seguir:
∙ Tarifa Azul: modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas
de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização no
dia e os períodos do ano, bem como de tarifas diferenciadas de demanda
de potência de acordo com as horas de utilização no dia;
∙ Tarifa Verde: modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas
de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização no dia e
os períodos do ano, bem como de uma única tarifa de demanda de potência.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
61
Nessa estrutura, são definidas diferentes tarifas para o horário de ponta – composto
por três horas diárias consecutivas, exceção feita aos sábados, domingos e feriados
nacionais – e fora de ponta; período úmido – período de cinco meses, de dezembro
de um ano a abril do ano seguinte – e período seco – período de sete meses, de maio
a novembro. A relação entre a maior tarifa (horário de ponta; período seco) e a menor
(horário de ponta; período úmido) pode aproximar-se de 2,5, dependendo da concessionária e da classe de tensão.
Desativação: trata-se do corte de ligação, uma vez que não esteja sendo utilizada, ou
permaneça desativada por período superior a seis meses. Apesar de não haver consumo
de energia ativa, paga-se o consumo mínimo em baixa tensão e, no caso de alta tensão, a
demanda contratada.
Erro de leitura: é detectado a partir da conferência dos dados da conta de energia elétrica
com os dados de campo das instalações. Os erros de leitura são comuns nas leituras de
demanda, energia ativa, energia reativa e data de leitura. Em qualquer desses casos, o erro
poderá representar prejuízos irrecuperáveis.
Negociação com as companhias energéticas para a redução de tarifas e operações emergenciais: como as prestadoras de serviços de saneamento são grandes usuárias de energia
elétrica, é possível estabelecer negociações com elas para a redução das tarifas.
Contrato de fornecimento de energia elétrica
As condições gerais de fornecimento de energia elétrica, inclusive o contrato de fornecimento entre a concessionária e o usuário, são estabelecidas através da Resolução
ANEEL n.° 456, de 29 de novembro de 2000.
O prazo de vigência do contrato de fornecimento deverá ser estabelecido considerando as
necessidades e os requisitos das partes, e será de 12 meses, exceto quando houver acordo
diferente entre as partes. Esse contrato poderá ser prorrogado automaticamente por igual
período e assim sucessivamente, desde que o usuário não expresse manifestação em
contrário, com antecedência mínima de 180 dias em relação ao término de cada vigência.
A concessionária deverá renegociar o contrato de fornecimento, a qualquer tempo, sempre
que solicitado pelo usuário que, ao implementar medidas de conservação, incremento à
eficiência e ao uso racional da energia elétrica, comprováveis pela concessionária, tenha
como resultado a redução da demanda de potência ou de consumo de energia elétrica ativa.
62
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Operações emergenciais: compreendem as negociações mantidas com a empresa de energia
elétrica, quando da necessidade de se efetuarem operações emergenciais para recuperação
de sistemas de abastecimento de água prejudicadas por irregularidades ou paradas imprevistas, bem como por faltas prolongadas de energia elétrica.
Tarifas de energia elétrica:
Algumas definições básicas são importantes para melhor compreensão das tarifas de
energia elétrica.
Demanda contratada: demanda de potência ativa obrigatória e continuamente disponibilizada pela concessionária, no ponto de entrega, conforme valor e período de vigência
fixados no contrato de fornecimento e que deverá ser integralmente paga, sendo ou
não utilizada durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW).
Demanda de ultrapassagem: parcela da demanda medida que excede o valor da demanda
contratada, expressa em quilowatts (kW).
Demanda medida: maior demanda de potência ativa, verificada por medição, integralizada no intervalo de 15 minutos durante o período de faturamento, expressa em
quilowatts (kW).
Energia elétrica ativa: energia elétrica que pode ser convertida em outra forma de
energia, expressa em quilowatts-hora (kWh).
Energia elétrica reativa: energia elétrica que circula continuamente entre os diversos
campos elétricos e magnéticos de um sistema de corrente alternada, sem produzir
trabalho, expressa em quilovolt-ampère-reativo-hora (kVArh);
Fator de potência: razão entre a energia elétrica ativa e a raiz quadrada da soma dos
quadrados das energias elétricas ativa e reativa, consumidas num mesmo período
especificado.
Gerenciamento de Contas de Energia Elétrica
Para o gerenciamento das contas de energia elétrica, geralmente são utilizados programas
computacionais específicos. Nos casos mais simples, como a simulação para a escolha da
modalidade tarifária para uma determinada instalação, poderá ser feita através de uma
planilha eletrônica ou até mesmo sem o uso do computador.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
63
Algumas prestadoras do serviço de abastecimento utilizam-se de programas sofisticados
de computador para a gestão energética, nos quais o sistema contempla o gerenciamento
de todas as contas de energia da empresa e dos principais indicadores de desempenho
energético, de forma descentralizada e corporativa.
A prestadora de serviço de abastecimento de água em que você trabalha utiliza algum programa computacional para a gestão energética?
A Eletrobrás/Procel oferece gratuitamente, em sua página na Internet: www.eletrobras.
com/procel, o programa para avaliação energética Mark IV, desenvolvido pelo Windows.
Esse programa permite a análise de dados de consumo de eletricidade em diferentes
configurações de instalações e equipamentos, verificando a viabilidade de implantação de
medidas para o uso eficiente de energia.
Ações operacionais para a redução de custo de energia
elétrica
As ações operacionais para a redução de custos de energia elétrica podem ser classificadas em:
∙ Ajuste de equipamentos;
∙ Correção do fator de potência;
∙ Alteração da tensão de alimentação;
∙ Diminuição da potência dos equipamentos;
∙ Melhoria no rendimento do conjunto motobomba;
∙ Redução na altura manométrica;
∙ Redução no volume de água;
∙ Controle operacional;
∙ Utilização do inversor de freqüência;
∙ Alteração nos procedimentos operacionais de ETAs.
64
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Correção do fator de potência
O fator de potência não influi diretamente na energia elétrica paga nas contas mensais,
porque os medidores de energia medem apenas a potência absorvida e não a potência
aparente. Entretanto, nos motores em que o fator de potência é baixo, as correntes são
maiores, o que provoca o aumento das perdas na instalação. Em conseqüência, as concessionárias cobram uma sobretaxa pela energia elétrica para fator de potência abaixo de
0,92, resultando em aumento das contas mensais.
Você conhece as causas do baixo fator de potência?
As causas mais comuns da ocorrência de baixo fator de potência são:
∙ motores e transformadores operando em “vazio” ou com pequenas cargas;
∙ motores e transformadores superdimensionados;
∙ grande quantidade de motores de pequena potência;
∙ máquinas de solda;
∙ excesso de energia reativa capacitiva.
Alteração da tensão de alimentação
A alteração da tensão de alimentação consiste na modificação do padrão de entrada de
energia elétrica de baixa para alta tensão. O consumo com tarifa em alta tensão geralmente
é mais econômico que em baixa tensão. No entanto, essa alteração só se torna possível
se for construída entrada de energia elétrica para alimentação em alta tensão, ou seja,
se o usuário tiver transformador próprio para alimentar seus equipamentos.
Altura manométrica: carga total de elevação em que o conjunto motobomba irá trabalhar.
As pressões indicadas por manômetros são pressões manométricas, que indicam valores
relativos, ou seja, referidos à pressão atmosférica do lugar onde são utilizados.
Inversores de freqüência são equipamentos utilizados para o controle da velocidade
de motores de indução trifásicos, o que gera uma economia de energia sem prejudicar
a qualidade final do sistema.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
65
Os principais pontos de consumo de energia elétrica em uma ETA, na fase líquida, são:
∙ Bombas dosadoras e produtos químicos
∙ Equipamentos de mistura rápida
∙ Equipamentos de floculação
∙ Bombas para lavagem de filtros
∙ Bombas para remoção de lodo
∙ Bombas para a recuperação da água de lavagem dos filtros
Agora que você conhece os principais pontos de consumo de energia elétrica em uma ETA, elabore algumas medidas de combate ao
desperdício de energia na ETA do sistema de abastecimento em que
você trabalha. igura a seguir, as principais medidas preventivas e
corretivas, utilizadas pelas prestadoras de serviços de saneamento,
para o controle e a redução de perdas aparentes.
O custo do consumo de energia é o produto da energia consumida em kWh pela tarifa do
kWh. Para diminuírem os custos de energia, seriam necessários:
∙ Redução das perdas de carga
∙ Controle de perdas de água
∙ Aumento no rendimento do motor e da bomba
∙ Redução do custo pela alteração do sistema operacional
Que ações reduzem a perda de carga?
66
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
As principais alterações operacionais dos sistemas de abastecimento de
água que possam reduzir substancialmente os custos energia elétrica são:
∙ Alteração do sistema bombeamento-reservação
∙ Utilização de inversores de freqüência em conjuntos
motobomba
∙ Redução do custo pela automação de sistemas de
abastecimento de água
∙ Redução do custo pela geração de energia elétrica
Deve ser analisado o sistema
e estudada a possibilidade de
o volume de água excedente
na reservação possa permitir
a parada das bombas durante algumas horas no horário
de ponta.
As principais alternativas para geração de energia elétrica a serem aplicadas em sistemas
de abastecimento de água são:
∙ Aproveitamento de potenciais energéticos
∙ Desenvolvimento de pequenas centrais de energia elétrica com aproveitamento do
potencial hidráulico proporcionado pelo desnível de barragens construídas para
reservatório de acumulação do excesso de água no período chuvoso
∙ Uso de geradores no horário de ponta
∙ Uso de energia alternativa
∙ Utilização de inversores de freqüência em sistemas de bombeamento para a
diminuição do consumo de energia elétrica
Educação para economia de água e energia
Questão para discussão
Quais ações, no serviço em que você atua, incentivam a economia de
água e energia?
Os programas para educação em economia de água e energia exigem mudanças culturais
e classificam-se em:
Educação pública: com enfoque para o público em geral;
Educação para técnicos: dirigido para profissionais com formação técnica.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
67
O sucesso desses programas depende da participação dos governos federal, estadual e municipal, bem como dos prestadores de serviços de saneamento e dos usuários, fundamentalmente.
Como o saneamento básico é sinônimo de conservação ambiental e garantia de saúde, esses
programas vinculam-se diretamente à responsabilidade social dessas instituições.
Educação pública
A sensibilização do público em relação à importância da economia de água e energia pode
ser realizada de várias formas, tais como:
∙ Privilegiar a discussão em conferências e fóruns, como conselhos de saneamento,
cidades ou meio ambiente:
- Campanhas educativas com oferecimento de cursos e palestras à população
em geral;
-Capacitação de educadores da rede pública, envolvendo diretores de escolas,
supervisores de ensino, coordenadores pedagógicos, professores e alunos;
-Capacitação de lideranças comunitárias, abrangendo lideranças e representantes dos órgãos estaduais e municipais, bem como a sociedade civil organizada.
∙ Veiculação na mídia: televisão, rádio, jornais, etc.
∙ Divulgação na Internet através de sites de governos federal, estadual, municipal
e de prestadores de serviços de saneamento.
Você sabia que...
... várias instituições já estão envolvidas com esse tema, destacando-se, entre outras,
a Eletrobrás, por meio do Procel (Programa Nacional de Conservação Energia Elétrica)?
... as Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás constituem uma empresa subordinada
ao Ministério de Minas e Energia e que atua como agente do governo, com as funções
de coordenação e de integração do setor elétrico brasileiro?
...em 2003, a Eletrobrás/Procel instituiu o PROCEL SANEAR – Programa de Eficiência
Energética em Saneamento Ambiental, que atua de forma conjunta com o Programa
Nacional de Combate ao Desperdício de Água – PNCDA e o Programa de Modernização
do Setor de Saneamento – PMSS?
...a ReCESA, assim como os núcleos regionais que a compõem (Nucase, Nurere, Nureco
e NucasuL), fazem parte da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA?
68
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Você sabia que...
...o PROCEL SANEAR tem como principais objetivos:
∙ promover ações que visem ao uso eficiente de energia elétrica e água em
sistemas de saneamento ambiental, incluindo os usuários finais;
∙ incentivar o uso eficiente dos recursos hídricos, como estratégia de
prevenção à escassez de água destinada à geração hidroelétrica;
∙ contribuir para a universalização dos serviços de saneamento ambiental,
com menores custos para a sociedade.
Informações sobre o Procel no site: http://www.eletrobras.com/pci/main.asp
Nosso Cotidiano
Em casa, quais ações você utiliza para promover e incentivar a economia de água e energia?
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
69
OBJETIVOS:
- Comentar
algumas ações
adotadas nos
programas de controle e redução de
perdas de água.
- Discutir pontos
importantes na
elaboração de
planos de ação
para o combate
às perdas de água
e energia.
Detecção, controle e
indicadores de perdas
Iniciamos nossa oficina comentando a importância da eficiência
energética e do controle de perdas de água nos sistemas de abastecimento de água. Depois, trocamos experiências sobre ações práticas
de economia de energia e controle de perdas de água.
Vamos terminá-la trabalhando as etapas de um programa de combate
às perdas de água e energia e elaborando planos de ação de combate
às perdas de água e energia. Antes, vamos lembrar o que já conhecemos sobre esses assuntos em uma discussão em grupo.
Planos de ação de combate às perdas de
água e energia
A elaboração de um plano de ação envolve as seguintes atividades:
∙ Caracterização do problema
∙ Diagnóstico
∙ Ações: custos e benefícios
∙ Plano de ação
∙ Acompanhamento e controle
Para o desenvolvimento de ações integrantes de um plano de ação,
poderão ser utilizadas as seguintes instruções:
∙ O que será feito? (Título da proposta de ação)
∙ Por que será feito? (Qual o intuito da proposta de ação ou o
que a motivou.)
∙ Quem a fará ou quem contribuirá para a proposta de ação?
(Parceiros)
∙ Quais serão os responsáveis pela coordenação da ação?
∙ A quem essa proposta de ação afetará?
(Usuários
intervenientes de cada meta estabelecida)
∙ Como ela será feita (etapas, fases, etc.)? (Principais passos
e ações para a realização da ação)
70
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
∙ Quando será feita (cronograma)? (Marcos críticos no desenvolvimento da ação)
∙ Quanto custará?
∙ Quais os indicadores de desempenho?
Estudo de Caso
A seguir, será mostrado um estudo para a redução de perdas de água e energia elétrica na cidade
de Rio Pardo, Rio Grande do Sul, que foi apresentado durante o “Seminário Ibero-Americano sobre
Sistemas de Abastecimento Urbano de Água”, realizado nos dias 5 a 7 de junho de 2006, na cidade
de João Pessoa. Os autores do estudo são José Vilmar Viegas, Joaquim Stuck e João Ferreira Almeida.
O estudo completo pode ser encontrado no site: http://www.lenhs.ct.ufpb.br/html/downloads/serea/6serea/TRABALHOS/trabalhoP%20(5).pdf
Projeto piloto de redução de perdas de água e de energia elétrica
no sistema de Rio Pardo
O sistema de abastecimento de Rio Pardo apresentava perdas de água na ordem de 353L/Lig/
dia sem a adoção de nenhuma ação sistemática
de redução de perdas ao longo do tempo, sendo somente implantados projetos isolados para
combate às perdas aparentes (revisão de cadastro comercial e de ligações inativas). Nesse projeto, foi utilizada a metodologia adotada na estimativa de perdas de acordo com o proposto a seguir:
• A estimativa das perdas reais obtidas com a
utilização do método FND (Fator Noite-Dia)
que relaciona a vazão mínima noturna com a
vazão média através de um fator horário;
• Os consumos noturnos foram estimados
através dos ensaios de campo obtidos estatisticamente;
• A perda física inerente foi estimada conforme determina a metodologia desenvolvida
pela IWA (Associação Internacional da Água)
(2000) que representa a parcela inerente das
perdas e serve para indicar as condições da
infra-estrutura existente.
O estudo teve o objetivo de adotar uma metodologia na elaboração de diagnóstico para estimativa de perdas de água e de seus componentes;
dos métodos de gestão de combate às perdas;
da aplicação de indicadores, de acordo com a
metodologia proposta pela IWA; e do modelo
de gestão MASPP para garantir a sustentabilidade dos resultados, que visam a:
• reduzir o volume de água produzido conforme um plano de metas;
• otimizar o funcionamento de cada uma das
unidades operacionais;
• gerenciar a qualidade do atendimento às
solicitações dos usuários conforme padrão
estabelecido pela CORSAN (Companhia Rio
Grandense de Saneamento);
• reduzir os custos da produção e distribuição
de água;
• incrementar o volume faturado de acordo
com o plano de metas estabelecido neste
programa.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
71
Nesse estudo, o método adotado para elaboração do diagnóstico de perdas de água, com
a estimativa de seus principais componentes
através de um balanço de volumes analisados,
foi o Balanço Hídrico Anual de Água, conforme
demonstra o quadro a seguir:
Balanço Hídrico Anual de Água
Foram adotados “Planos de Ação de Redução
de Perdas Reais”, abrangendo:
• Qualidade e rapidez na manutenção;
• Gerenciamento da infraestrutura: reabilitação
de unidades operacionais;
• Controle de vazamentos;
• Gerenciamento e controle de pressões.
Para o “Plano de Ação de Redução de Perdas
Aparentes”, foram elaboradas as seguintes metodologias:
• melhoria da medição: gerenciamento de hidrômetros;
• gerenciamento de cadastro de consumidores;
• combate às fraudes.
72
Os resultados obtidos com esse plano de
combate a perdas foram satisfatórios em termos de melhoria do desempenho operacional,
expresso sob a forma de redução das perdas
de água e do consumo de energia elétrica no
sistema de Rio Pardo.
A redução de volume produzido estava diretamente vinculada ao projeto de redução de vazamentos que foi executado com uma varredura
em toda a rede de distribuição e nos ramais domiciliares, apresentando um índice elevado de
vazamentos na rede.
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Diagnóstico
A seguir, são apresentadas as principais diretrizes de um aplicativo – desenvolvido pela ABES/
Eletrobrás-Procel –, para autodiagnóstico da gestão de combate a perdas de água e uso
eficiente de energia, que poderá ser utilizado pelas prestadoras de serviços de saneamento.
ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental;
ELETROBRÁS – Centrais Elétricas Brasileiras S.A;
PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica.
Para cada ação foram detalhadas as atividades a serem pontuadas, considerando-se:
∙ 5 = ótimo
∙ 4 = bom
∙ 3 = regular
∙ 2 = fraco
∙ 1 = inexistente
∙ 0 = não sabe
Atividades
Pontuação
Sistema de gerenciamento de contas de energia elétrica
Cadastro técnico de equipamentos de instalações
Conferência e análise das faturas de energia elétrica
Negociação com concessionárias para alteração de tensão
de alimentação em unidades abaixo de 75 kW
Ações
administrativas
Opção pela melhor estrutura tarifária e correção de classe
de faturamento
Encerramento de contratos de unidades desativadas
Ajustes para melhoria do fator de carga sem investimentos
Adequação de demandas contratadas
Estudos para controlar e ajustar fator de potência
Habilitação a financiamentos das concessionárias via
resolução Aneel
Total da pontuação
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
73
Atividades das ações
Pontuação
Identificação de oportunidades de uso eficiente e projetos
de intervenção
Estudos para melhoria do fator de carga das instalações
Estudos para alteração da tensão de alimentação de
instalações
Estudos, testes ou análises para melhoria de instalações
Estudos,
diagnósticos e
projetos
Estudos para alteração da tensão de alimentação de
instalações
Estudos, testes ou análises para melhoria no rendimento
do conjunto motobomba
Estudos e projetos para redução das perdas de carga nas
tubulações
Projetos para limpar, revestir, substituir ou reforçar adutoras, redes primárias, etc.
Estudos e identificação das causas de acúmulo de ar em
pontos críticos
Alternativas para evitar o fechamento parcial de válvulas
nas adutoras e redes
Estudos ou análises para redução de volumes bombeados
e setorização
Identificação e projetos para evitar o extravasamento de
reservatórios
Total da pontuação
74
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Atividades das ações
Pontuação
Atualização do cadastro de redes e unidades operacionais
em base gráfica integrada e georreferenciada
Macromedição do sistema e subsistema
Modelagem hidráulica do sistema
Diagnóstico de oportunidades de uso eficiente da energia
e projetos de intervenção
Controle
operacional e
automação
Alteração no sistema bombeamento e reservação para
evitar ou minimizar operação no horário de ponta
Utilização de VRPs – Válvulas redutoras de pressão
Aplicação de controle de velocidade de motores para controle de vazões e pressões
Setorização física na rede distribuidora para limitar pressões
Setorização física na rede de distribuição para limitar pressões
Adequação operacional de ETAs (horário de ponta e
reaproveitamento de água de lavagem de filtros)
Automação do funcionamento das unidades operacionais
Total da pontuação
Atividades das ações
Pontuação
Atualização do cadastro de redes e unidades operacionais
Macromedição do sistema
Modelagem hidráulica do sistema
Combate a perdas
reais (físicas)
Diagnóstico de oportunidades de uso eficiente e projetos
de intervenção
Setorização do sistema para limitação de pressões
Determinação de vazões mínimas noturnas
Pesquisa e combate de vazamentos
Substituição de redes e ramais comprometidos
Adequação de redes primárias
Instalação de descargas e ventosas
Total da pontuação
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
75
Atividades das ações
Pontuação
Diagnóstico do parque de hidrômetros
Política de micromedição
Instalação de micromedidores
Combate a
perdas aparentes
(comerciais)
Diagnóstico e cadastro de usuários
Atualização e complementação cadastral
Revisão das políticas de comercialização
Adequação de tarifas de água
Regulamento de serviços
Combate a fraudes
Política de corte e religações
Total da pontuação
Atividades das ações
Pontuação
Atuação da comissão interna de gestão energética
Atuação da comissão de combate a perdas de água
Monitoramento
e avaliação
Participação da alta direção nos programas de combate a
perdas de água e energia
Participação do corpo de funcionários em programas de
combate a perdas de água e energia
Eventos de capacitação e sensibilização do quadro
funcional
Total da pontuação
O objetivo de um plano de ação de combate a perdas de água e energia é que cada item
tenha tratamento sistematizado da questão, envolvendo controle, planejamento e melhorias.
A metodologia de trabalho deve estar difundida e conhecida por toda a equipe, e todas as
áreas da empresa devem estar envolvidas e alinhadas com os propósitos buscados.
O plano de ação de combate a perdas de água e energia visa à existência de resultados
significativos e motivadores.
76
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Gerenciamento de projetos
Os planos de ação que são integrantes de um programa de combate às perdas de água
e energia constituem-se de projetos que precisam ser desenvolvidos.
Para o gerenciamento de projetos, a norma da ABNT – NBR ISO 10006 estabelece as
diretrizes para a qualidade no gerenciamento de projetos, independentemente de serem
pequenos ou de grande vulto, simples ou complexos, de pequena ou longa duração.
Para ler e refletir
Vamos terminar nossa oficina sobre gerenciamento de perdas de água
e energia elétrica em sistemas de abastecimento de água, repensando
a atividade proposta no início.
O sistema de abastecimento de Ararajuba apresenta perdas de água na
ordem de 353 L/Lig.dia (Litros por ligação em um dia), sem a adoção de
nenhuma ação sistemática de redução de perdas ao longo do tempo.
Características do sistema de abastecimento de água:
∙ Elevadas taxas de perdas de água em razão das condições
precárias dos equipamentos hidrossanitários residenciais;
∙ Atendimento a 100% da população urbana;
∙ As perdas de faturamento chegam a 69%, em virtude
de vazamentos, ausência de medição, equipamentos
obsoletos e deficiências na rede distribuidora;
∙ Estação de tratamento do tipo convencional;
∙ Conjuntos de elevatórias trabalhando fora da previsão
de projeto, com necessidade de controle de vazão com
estrangulamento de registro.
Definam três objetivos para implantação de um projeto que combata
as perdas.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
77
Esquematizem um plano de ação para redução das perdas reais em
Ararajuba.
Esquematizem um plano de ação para redução de perdas aparentes
em Ararajuba.
Vocês identificaram mais algum problema que ocasiona perdas de
água e energia na prestadora de serviço de abastecimento em que
você trabalha?
78
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Algo mudou em sua avaliação do uso da energia elétrica no sistema
de abastecimento em que você trabalha?
Para você, qual a importância do uso racional de água e energia
elétrica em sua casa e no seu trabalho?
Pense um pouco: sua opinião sobre a importância do uso racional de
água e energia mudou após sua participação nesta oficina?
Chegamos ao fim da oficina.
Esperamos que os temas abordados tenham acrescentado informações úteis a você, como
trabalhador e como cidadão, lembrando a importância do uso racional desses recursos.
A seguir, estão as fontes consultadas na elaboração deste guia e que você poderá consultar
caso queira aprofundar seus conhecimentos sobre “Gerenciamento de perdas de água e
energia elétrica em sistemas de abastecimento de água”. Consulte sempre este material que
você está recebendo, busque informações em outras fontes e procure atualizar-se sempre,
estudando, trocando informações com outros profissionais e ampliando seus conhecimentos.
Afinal, o seu trabalho é muito importante para todos os moradores da sua cidade e região,
pois, como vimos, a saúde pública e os bens naturais também dependem do seu trabalho.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
79
Para saber mais...
ABRÃO A. L. e SCHIO, R. Planejamento Ambiental. Campo Grande: Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul | Centro de Ciências Exatas e Tecnologia | Mestrado em Tecnologias
Ambientais, 2000.
ANA (Agência Nacional de Água). A Evolução da Gestão de Recursos Hídricos no Brasil.
Brasília: ANA, 2002.
ARIKAWA, K. C. O. Perdas reais em sistemas de distribuição de água – Proposta de metodologia
para avaliação de perdas reais e definição das ações de controle. Dissertação de Mestrado.
Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2005.
COPASA – Programa de redução de perda de água no sistema de distrubuição. Belo Horizonte, setembro de 2003, 60 p.
ELETROBRÁS/Procel – Plano de ação Procel Sanear 2006/2007, setembro de 2005.
Léo Heller e Valter Lúcio de Pádua (Organizadores). Abastecimento de Água para Consumo
Humano. Belo Horizonte: UFMG, 2006. 859 p.
NIDA, O. I. Perdas em sistemas de abastecimento de água. Relatório interno. Sabesp, 1998.
OLIVEIRA, R. M. Gerenciamento de energia elétrica no setor de saneamento ambiental. XI
Encontro Técnico da AESABESP. Anais. São Paulo, 2000.
PERETO, A. S. Revisão no dimensionamento dos motores elétricos instalados na SABESP
(Economia nos Gastos com Energia Elétrica). Revista Saneas n.° 09. IX Encontro Técnico da
AESABESP. São Paulo, setembro de 1998.
RECESA – Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas de abastecimento de água. Diretrizes do curso. Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em
Saneamento Ambiental, 2007.
80
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
RONDEAU, S. Política nacional de Minas e Energia. Ministério de Minas e Energia. Escola
Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 2006b.
SABESP – Programa de redução de perdas da Diretoria Metropolitana – Plano 2004-2008.
Superintendência de Planejamento e Apoio da Metropolitana. São Paulo, 77p, 2004.
SARON, A. Gerenciamento de energia na ETA Guará – Redução de Custos para a Empresa, Economia de Energia Elétrica para o País. Revista Saneas, n.° 09. AESABESP. São Paulo,
setembro de 1998.
SNIS – Serviços de água e esgotos. Parte 1 – Texto. Visão Geral de Prestação de Serviços.
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Ministério das Cidades, Brasília, 2005.
TAIRA, N. M. Equipamentos de monitoramento e controle de redes. Capítulo 5. In: Abastecimento de Água: o estado da arte e técnicas avançadas. Heber Pimentel Gomes, Rafael
Pérez Garcia, Pedro L. Iglesias Rey (Org.). Editora Universitária – UFPB. João Pessoa, 2007.
TARDELLI FILHO, J. Controle e redução de perdas. Capítulo 10. In: Abastecimento de Água.
Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2004.
TSUTIYA, M. T. Abastecimento de água. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2004.
TSUTIYA, M. T. Redução de energia elétrica em sistemas de abastecimento de água. ABES,
1.ª Edição, São Paulo, 2001.
TSUTIYA, M. T. Redução do custo de energia elétrica em estações elevatórias de sistemas
de abastecimento de água de pequeno e médio portes. Tese (Doutorado em Engenharia
Hidráulica). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1989.
TSUTIYA, M. T. Redução do custo de energia elétrica em sistemas de abastecimento de água.
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. 1ª Edição. São Paulo, 2001.
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
81
Anotações
82
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Guia do profissional em treinamento - ReCESA
83
84
Abastecimento de água - Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica em sistemas
de abastecimento de água - Nível 2
Download

Gerenciamento de perdas de água e de energia elétrica