Novo programa de Matemática só se justifica se
houver problemas legais com as metas, diz SPM
GRAÇA BARBOSA RIBEIRO (HTTP://WWW.PUBLICO.PT/AUTOR/GRACA-BARBOSA-RIBEIRO)
17/04/2013 - 18:41
(actualizado às 21:45)
MEC admite que subsistem algumas dificuldades na articulação entre as novas metas e o
programa ainda em vigor, que será substituído no próximo ano lectivo
(http://imagens2.publico.pt/imagens.aspx/764822?tp=UH&db=IMAGENS)
Presidente da SPM alega que novo programa vai criar uma "agitação completamente desnecessária" NELSON GARRIDO
TÓPICOS (/TOPICOS)
O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), Miguel
Abreu, afirmou nesta quarta-feira que só compreende “a revogação do
Educação
programa
(http://www.publico.pt/educacao)
de Matemática para o ensino básico e a sua substituição por
outro, “nesta altura, se tiver sido detectada alguma impossibilidade legal de
aplicar as metas curriculares no próximo ano lectivo”.
Matemática
(http://www.publico.pt/matematica)
MAIS
Miguel Abreu reagiu, assim, ao despacho de Nuno Crato, que ontem
surpreendeu todas as organizações de professores ao revogar o programa
homologado em 2007 e que só este ano foi generalizado a todos os alunos
do 9º ano. Aquele que o vai substituir — e que será aplicado de forma
gradual já a partir do próximo ano lectivo — será colocado em consulta
Professores contra
novo programa de
pública na próxima semana, adiantou o Ministério da Educação e Ciência.
Matemática no Ensino
Segundo o MEC, o novo programa “complementa as metas curriculares de
Básico
(http://www.publico.pt/1591531)forma a criar um documento orientador único”.
Em declarações ao PÚBLICO, Miguel Abreu disse ter tido conhecimento de
que a Associação dos Professores de Matemática (APM) prometera, em
Março, interpor uma providência cautelar para travar a aplicação das
metas curriculares da disciplina que, no próximo ano lectivo, será
obrigatória para os alunos do 1.º, 3.º, 5.º e 7.º anos. Alega a APM que as
metas — em que são destacados os conhecimentos e capacidades essenciais
que os alunos devem ter adquirido — contrariam o programa que está em
vigor nas escolas.“Terá sido esse o problema? Não sei. Não vejo o que é que
pode justificar uma medida que vai causar nas escolas uma agitação
completamente desnecessária”, disse Miguel Abreu. Na sua perspectiva, “a
conciliação do programa com as metas obrigava apenas a alguns ajustes”,
“nada”, sublinhou, “que não pudesse ser feito pelos professores em sala de
aula”.
No despacho, o MEC refere, precisamente, que “apesar de os conteúdos
das Metas e do Programa não serem absolutamente coincidentes apenas
em aspectos muito particulares, verificou-se pela experiência deste ano
lectivo que subsistem algumas dúvidas quanto à implementação conjunta
destes dois documentos”.
Num momento em que o novo programa não é ainda conhecido, a polémica
mantém-se centrada nas metas. A presidente da APM, Lurdes Figueiral, e
o autor do programa que actualmente é leccionado nas escolas, João Pedro
da Ponte, consideram que aquelas representam um retrocesso de décadas
no ensino da disciplina.
“O MEC recupera uma matemática muito abstracta e muito formalizada
que não serve a escola e os alunos de hoje. Um exemplo: no primeiro ciclo
retira-se a estatística para colocar a teoria dos conjuntos, que era ensinada
nos anos 60 e 70, com crianças mais velhas e com maus resultados. Outro:
o algoritmo da adição, ou ‘a conta em pé’, como dizem os miúdos, passa do
3º para o 1º ano, o que é perfeitamente desadequado — o aluno deve
perceber o que é a adição, interiorizar a noção, antes de aprender o
algoritmo”, aponta João da Ponte.
“É certo que a teoria dos conjuntos nem sequer se dava no primeiro ciclo.
Mas se, forem ler o caderno de apoio às metas, os professores percebem
que se está a falar de algo muito rudimentar, que as crianças já vêm
aprendendo desde o jardim-de-infância”, contrapõe o presidente da SPM.
Os dois especialistas estão igualmente em desacordo em relação ao espaço
de liberdade e autonomia concedido aos professores. O presidente da SPM,
como a equipa do MEC, alega que o programa homologado em 2007 “é
excessivamente dirigista” no que respeita às metodologias a usar pelos
professores, quando, por exemplo, “indica que devem ser usados exemplos
da vida quotidiana dos alunos para explicar os conceitos. “Dirigista?! O que
dizer dos cadernos de apoio às metas que até indicam o que os professores
devem dizer a cada momento?”, contrapõe João da Ponte.
Há outros pontos de desacordo. A direcção da APM rejeita que seja
verdade que, como se lê no despacho de Nuno Crato, a implementação das
metas curriculares tenha obtido “resultados muito positivos nas escolas e
nas turmas” que avançaram antes de ela ser obrigatória. “Não sei por onde
andam as equipas do ministro: nas escolas onde vamos as metas ou não
estão a ser aplicadas ou estão a causar uma enorme confusão e
estupefacção, por representarem o retrocesso ao ensino dos anos 70”, disse
Elsa Barbosa, ex-presidente da APM e especialista em Educação
Matemática.
Miguel Abreu afirma que, “como sempre, as alterações são mais bem
recebidas por uns”, mas desvaloriza a questão, afirmando que “o
importante era o MEC já estar no terreno com acções de formação para
professores que permitissem, precisamente, ultrapassar todas as
dificuldades e fazer os ajustes necessários entre metas e programa”.
Filipe Oliveira, um dos autores das metas que, à semelhança do próprio
Nuno Crato, foi dirigente da SPM, assegura que o novo programa resulta
de “pequenos ajustes” ao que está ainda em vigor nas escolas. Em resposta
dada por escrito a perguntas do PÚBLICO, especifica que “os conteúdos
são exactamente os elencados nos descritores das metas curriculares” e
que estes, “com escassas excepções, são os conteúdos do Programa de
2007”, mas “sequencializados e estruturados de forma coerente e
rigorosa”. “Apesar de as metas curriculares serem totalmente compatíveis
com o Programa de 2007, começaram a aparecer no terreno algumas
dúvidas relativas à sua implementação conjunta, que se vêm agora
resolver”, justifica, adiantando que serão retiradas “ as indicações
metodológicas” que, na sua perspectiva, “eram demasiado restritivas da
acção dos professores”.
Notícia actualizada às 21h46 Acrescenta reacção de Filipe Oliveira
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Afirmar que a reformulação do programa não vem alterar nada é uma falácia e uma mentira descarada, no
seguimento de outra mentira que brada aos céus, de que as metas apenas alteraram um ou outro ponto do
programa. De mentira em mentira se vai fazendo legislação sem qualquer pudor, sem respeito pelos
18/04/2013 15:24 profissionais. As metas curriculares alteraram substancialmente o programa. Anteciparam conteúdos de
uma forma radical, são de uma extensão absurda, e pela maneira como estão escritas obrigam a uma
mudança enorme na metodologia que tem vindo a ser desenvolvida pela investigação em psicologia da
aprendizagem.
Responder
Luis Silva
(/utilizador/perfil/49ad7f61-d50f-49d9-ab68-86d4c889cd2b)
Este cometário é fora de tópico ... Logo no início do texto lê-se " ... O presidente da Sociedade Portuguesa
de Matemática (SPM), Miguel Abreu, afirmou nesta quarta-feira que só compreende “a revogação do
18/04/2013 13:15 programa de Matemática para o ensino básico e a sua substituição por outro, “nesta altura, se tiver sido
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