IV Encontro Nacional da Anppas
4,5 e 6 de junho de 2008
Brasília - DF – Brasil
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Nanotecnologia e Riscos Ambientais: uma Reflexão
sobre a “Ingerência” das Ciências Humanas e Sociais
na Construção de um Debate Crítico
Jorge Luiz dos Santos Junior (UFRRJ)
Mestre em Economia, Professor do Departamento de História e Economia – IM/UFRRJ
Doutorando em Ciências Sociais CPDA-UFRRJ
[email protected]
Wander Luiz Pereira dos Santos
Sociólogo, Mestre em Cognição e Linguagem
[email protected]
Resumo
Objetivamos neste paper analisar em que medida algumas contribuições teóricas, no âmbito das
ciências humanas e sociais, analisam de forma crítica as transformações societais a partir das
nanotecnologias, entendida aqui como uma revolução tecnológica, capaz de estabelecer rupturas,
seja na forma de combater doenças, produzir bens, fazer política ou, até mesmo, transformar
profundamente os processos sociais. Assim, identificamos como possibilidades interpretativas a
Sociologia do Risco e a Economia da Inovação, por terem como objeto de análise a atividade
científica e tecnológica. Concluímos, constatando a necessidade de formação de uma tríplice
aliança, envolvendo Estado, Empresa e Sociedade (cientistas e não cientistas) a fim de garantir as
pesquisas - que certamente podem contribuir para o bem estar social - concomitantemente com a
segurança da sociedade. Além disso, percebemos que a convergência de tecnologias demanda
das ciências uma maior interação e interdisciplinaridade, elemento essencial na politização das
novas tecnologias.
Palavras-chave
Nanotecnologia, Riscos, Sociedade
1
1. Considerações Iniciais
Desde a pré-história, o homem vem criando ferramentas que ampliam sua capacidade de interferir
sobre o meio ambiente natural. Foram essas intervenções que permitiram que a sociedade
passasse por diversos momentos em seu desenvolvimento, cunhados por grandes revoluções
tecnológicas que transformaram e, ainda transformam, a vida social e material na terra. Esses
mesmos homens domesticaram plantas e animais permitindo a maior reprodução da espécie
humana.
Porém, em toda a história, e especialmente no século XX, a criação (entendida em sentido amplo
como nova técnica, processo ou instrumento) aparece como uma faca de dois gumes que, por um
lado transforma a sociedade de forma positiva, atendendo aos anseios humanos ao proporcionar
produtos e serviços inconcebíveis para muitos1. Por outro, enseja um conjunto de incertezas,
riscos e desajustes na medida em que destrói o paradigma de desenvolvimento vigente, criando
um novo ambiente, repleto do desconhecido. Acrescenta-se que junto às novas tecnologias,
surgem transformações/distorções culturais, sociais, ideológicas, econômicas e políticas.
Mas é no final do século XX, e início do século XXI, que muitos cientistas e pesquisadores
reconheceram a emergência e a ascensão de um novo paradigma de desenvolvimento com
capacidade transformadora sem precedentes, baseado na Nanociência e tendo como ferramenta
a Nanotecnologia. A literatura especializada tem convencionalmente chamado de paradigma de
convergência das NBICs (Nanotecnologias, Biotecnologias, Informática e Ciências Cognitivas).
Acredita-se que a nanotecnologia seja capaz de transformar a economia e a sociedade como um
todo e que terá um impacto talvez maior que o da Tecnologia da Informação ou o da Genética e
da Biologia Celular e Molecular2. Ela tem chamado a atenção de cientistas das mais diversas
áreas do conhecimento, seja pelas desmesuradas descobertas e invenções em escala
nanométrica, seja devido à suas possíveis implicações econômicas, sociais e, sobretudo,
ambientais.
A nanotecnologia é vista como uma tecnologia emergente, que vai alterar radicalmente outras
tecnologias em muitas áreas como a informática, a saúde3, a militar, a agricultura e a energia;
gerando novos conflitos e embates ideológicos, proporcionando acesso a novos produtos e
processos. Para alguns, a nanotecnologia pode trazer riscos incomensuráveis para os seres do
planeta terra, para outros ela será tão fundamental que poderá acabar com a escassez de
matérias-primas, com a fome e com muitas doenças, proporcionando as bases para o almejado
desenvolvimento sustentável.
1
Lembramos que a atividade científica inicia-se no imaginário do cientista, o que o faz notável por conceber e materializar o
inconcebível.
2
Para um detalhamento das aplicações nanotecnológicas, ver Roco et.al. (1999).
3
Incluem-se aqui medicamentos dermatológicos e cosméticos.
2
Não se sabe para onde a Nanociência e Nanotecnologia (N&N) levarão a sociedade, sabe-se,
porém, que a atividade científica é incessante, mesmo diante de incertezas acerca do futuro, pois
a ciência se caracteriza justamente pela posição de vanguarda. As previsões são de que os
avanços das nanotecnologias impactarão diversas áreas científicas (biologia, química, física) e
tecnológicas devido ao seu conteúdo paradigmático, e que criarão novas tecnologias que hoje
existem somente nos mais futuristas romances de ficção científica.
Cientistas naturais (ciência hard) especulam que a regulação nessa área, ao contar com uma
legislação específica, pode causar atrasos/desânimos às pesquisas e aos pesquisadores. Porém,
tem-se como questão prática o fato de ser necessário regulamentar em busca da manutenção da
segurança (alimentar, física, militar, ambiental, etc) da espécie humana. No entanto, existe a
impossibilidade metodológica de regulamentar aquilo que ainda não está materializado ou que
ainda é incipiente, na medida em que ainda não apresentou concretamente seus efeitos societais.
Do aparato regulatório existente - leis ambientais, de biosegurança, de patentes - ainda não se
sabe o que pode ser aproveitado para a regulação das nanos. Não há consenso sobre a
globalização ou regionalização das leis e instâncias de coordenação, devido às dificuldades de se
envolver diversos atores (seja sociedade civil, instituições políticas ou países, agências
multilaterais). Incertezas também pairam sobre as iniciativas de auto-regulamentação.
As ciências humanas e sociais em alguns momentos não acompanharam o ritmo de
desenvolvimento das tecnologias existentes e, em outros momentos, não tiveram o espaço
necessário para apresentar teorias explicativas e analíticas que dessem conta da nova realidade4.
Acredita-se que no caso das nanotecnologias ainda exista tempo para que essa reflexão seja
maior.
Dado o exposto, objetiva-se neste paper apresentar uma reflexão preliminar sobre a contribuição
das ciências humanas e sociais no debate sobre as nanotecnologias, buscando perceber em que
medida algumas de suas teorias contribuem para pensar essa nova tecnologia como algo que
envolve riscos ao meio ambiente natural e social, mas que também contribui para a solução de
problemas sócio-econômicos e que, portanto, demandam alto engajamento público e politização.
2. Nanotecnologia: o que, como e quando?
Epistemologicamente a palavra “nano” vem do latin “nanus” e é utilizada para representar coisas
por demais pequenas. Os cientistas se apropriaram desse prefixo para, através do que
denominaram escala nanométrica, representar partículas de magnitude demasiadamente
pequenas, numa atividade científica batizada de nanociência que tem como ferramenta e produto,
a nanotecnologia.
4
Como exemplo emblemático, destaca-se o desenvolvimento das armas nucleares, onde o próprio Einstein não previu a iminência e a
realidade de sua utilização para destruição em massa.
3
Um nanômetro (nm) equivale a bilionésima parte de um metro. Uma nanoestrutura que pode ser
representada, por exemplo, pela dimensão dezenas de mil vezes menor que a do diâmetro de um
fio de cabelo humano. Para termos uma noção mais clara, um átomo mede cerca de 2 décimos de
um nanômetro e um vírus cerca de 100 nanômetros. Assim, como nos esclarece Chaves (2007), a
nanociência e a nanotecnologia visam, respectivamente, a compreensão e o controle da matéria
na escala nanométrica, ou de forma mais abrangente, desde a escala do átomo até cerca de 100
nanômetros.
Dalcomuni (2006) define N&N como o entendimento, controle e exploração de materiais e
sistemas, cujas estruturas e componentes exibem propriedades e fenômenos físicos, químicos e
biológicos significativamente novos e/ou modificados a partir de sua nanoestrutura.
A novidade em relação às outras tecnologias revolucionárias é que, até a última revolução
tecnológica (da tecnologia da informação), a revolução partia de inovações criadas da dissociação
de elementos, uma construção de cima para baixo, ou de fora para dentro (tecnologia Top down),
como um artesão esculpindo sua obra. Já a nanociência parte de baixo para cima, construção de
tecnologias a partir de sua menor estrutura (tecnologia Botton Up)5, e o exemplo mais apropriado
para esse caso é a concepção e evolução da vida.
Quadro 01: Breve Cronologia da Nanotecnologia
1959
1966
1974
1981
1985
1986
1989
2000
2001
2001
2002
Conferência de Richard Feynman, na Reunião da Sociedade Americana de Física.
6
Viagem Fantástica (Fantastic Voyage), filme baseado no livro de Isaac Asimov
Norio Taniguchi cunha o termo nanotecnologia.
Trabalho de Gerd Binnnig e Heinrich Rohrer, criadores do microscópio eletrônico de
tunelamento (scanning tunneling microscope).
Descoberta dos fulerenos, por Robert Curl, Harold Kroto e Richard Smalley.
Publicação do livro de Eric Drexler, “Engines of Creation”.
Donald Eigler escreve o nome IBM com átomos de xenônio individuais.
Descoberta dos nanotubos de carbono, por Sumio Iijima, no Japão
Administração Clinton lança no California Institute of Techonology, a National
Nanotechnology Initiative.
Cees Dekker, biofísico holandês, demonstrou que os nanotubos poderiam ser usados
como transistores ou outros dispositivos eletrônicos.
Equipe da IBM (EUA) constrói rede de transistores usando nanotubos, mostrando
mais tarde o primeiro circuito lógico à base de nanotubos.
Chad Mirkin, químico da Northwestern University (EUA), desenvolve plataforma,
baseada em nanopartículas, para detecção de doenças contagiosas.
Fonte: Elaborado por Dalcomuni (2004) para apresentação no II Seminanosoma (Slide).
Foi Richard Feynman (Prêmio Nobel de Física) em 1959, na Reunião da Sociedade Americana de
Física, quem chamou atenção para as possibilidades existentes na escala nano, tendo esse
momento sido considerado como o marco histórico da evolução das nanotecnologias.
Em sua palestra intitulada “There's Plenty of Room at the Bottom”, Feynman alertou os cientistas
para as possibilidades de construção de novos materiais a partir do manuseio de átomos. Para
5
Para um melhor entendimento sobre essa questão ver, por exemplo, Regis (1997) e Brasil (2006).
O filme tem como roteiro uma equipe de especialistas que adentram o corpo humano à bordo de um nano-submarino nuclear com o
objetivo de salvar a vida de um imprescindível cientista. È o vislumbrar de uma nanomáquina.
6
4
Feynman, desde que respeitada as leis da natureza, seria possível manipular átomos, a base de
todas as coisas animadas e inanimadas, criando novos elementos não encontrados naturalmente
no ambiente e/ou reproduzindo os existentes. Schumpeter (1984) definiu inovação como: fazer
algo novo, ou fazer algo velho de forma diferente. Por esta definição, as nanotecnologias
aparecem com um conteúdo amplamente inovador.
Apesar das predições de Feynman, somente em 1981 foi possível falar em nascimento da
nanotecnologia e consolidação da nanociência enquanto campo de investigação profícuo. Foi
nesse ano que Gerd Binnnig e Heinrich Rohrer, terminaram a construção do microscópio
eletrônico de tunelamento (scanning tunneling microscope), que viria se tornar a base sólida dos
experimentos nanocientíficos ao possibilitar a manipulação dos átomos de forma individual.
Cabe ressaltar, que a ascensão das nanotecnologias não significa a aceleração dos processos de
miniaturização, que parte da idéia de redução daquilo que é grande, como aconteceu com os
processadores informáticos.
Ao contrário, a lógica da nanotecnologia está justamente em
combinar as menores partículas de possível manipulação na natureza a fim de criar estruturas
funcionais para a sociedade (uma analogia possível seria a utilização de areia para fabricação de
blocos e, consequentemente, prédios).
A possibilidade de manipular átomos de forma individualizada, suscita entre os cientistas a
possibilidade de usar nanotecnologias em todos os campos científicos (física, química e biologia)
e em suas diversas áreas (medicina, cosméticos, alimentos, novos materiais, energia, etc.), o que
mais uma vez ressalta o conteúdo eminentemente revolucionário desse empreendimento
tecnocientífico.
Para além de suas possibilidades experimentais e aplicações, objeto de investigação das ciências
naturais, as nanotecnologias inauguram um novo (ou talvez revisitado) problema para as ciências
humanas e sociais, qual seja, o impacto de uma nova tecnologia na sociedade.
Nos itens que se seguem, apresentamos alguns elementos que evidenciam o conteúdo
revolucionário das nanotecnologias e, na seqüência, a emergência de questões que põem em
evidência os riscos existentes, e que apontam para as incertezas associadas às novas
tecnologias. A partir destas considerações, buscaremos verificar em que medida alguns estudos
nas Ciências Sociais e Econômicas podem nos ajudar a interpretar, de forma mais adequada, os
rumos que estão sendo trilhados e que não deixam seus rastros visíveis.
3. Revolução Nanotecnológica: a iminência de um novo Kondratiev
3.1 Revoluções tecnocientíficas e rupturas
Dizer que a economia possui um comportamento cíclico não é uma mera suposição teórica. Uma
simples verificação do comportamento histórico dos dados revela essa tendência e mostra, mais
5
ainda, uma oscilação representada por grandes “picos” e “vales”, caracterizando momentos de
grande expansão econômica, acompanhados por períodos de grande recessão.
Durante a década de 1920, o soviético Nikolai Dmitrijewitsch Kondratiev apresentou um estudo
baseado em séries estatísticas no qual demonstrou a presença de ciclos longos ou ondas longas
de crescimento na história do capitalismo, duração de mais ou menos 50 anos. Seu argumento
era de que esses ciclos poderiam ser explicados unicamente por fatores endógenos ao sistema
capitalista e sua base explicativa estava no processo de acumulação de capital. Tal afirmação
inaugurou (a despeito de haver alguns estudos precedentes) um longo debate sobre a natureza e
a periodicidade dos grandes ciclos econômicos (ARAÚJO, 2001).
Seguindo a perspectiva de Kondratiev, os estudos de Schumpeter demonstraram a presença de
ciclos econômicos consubstanciados em processos de “destruição criativa”. Esse processo
explicava a dinâmica dos ciclos através de ondas de inovações que revolucionavam a estrutura
econômica vigente e, através de um processo concorrencial, a situação de equilíbrio era abalada.
Essas ondas, impulsionadas pela concorrência, fazem com que novos produtos, processos e
métodos de organização industrial se estabeleçam, em detrimento dos antigos.
O trabalho de Schumpeter destaca-se por deslocar os estudos econômicos, do plano estático para
o plano dinâmico. Para este autor, o desenvolvimento econômico passa então a ser visto como
uma mudança espontânea e descontínua na estrutura produtiva existente, sendo definido como
a realização de novas combinações produtivas (as inovações). Para Schumpeter, o aspecto
essencial a captar é que ao tratar do capitalismo, estamos tratando de um processo evolutivo.
Para ele o capitalismo é, por sua própria natureza, uma forma ou método de mudança econômica,
que nunca está e que nunca poderá estar num estado estacionário.
Figura 01: Representação de um ciclo Schumpeteriano
RECESSÃO
Queda dos
investimentos
Pico
Boom (prosperidade):
surgimento das inovações
busca crescente pelo lucro
extraordinário.
Depressão:
Término do processo
das inovações, crise,
diversas empresas,
produtos e processos
da inovação
Recuperação:
Vale
Fonte: Elaboração própria
de difusão
quebra de
desuso de
decorrentes
retomada dos investimentos
Vale
6
Assim, para Schumpeter, o impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina
capitalista decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte,
dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria.
A figura acima mostra que os ciclos na economia (para Schumpeter) possuem quatro fases:
prosperidade, recessão, depressão e recuperação. A prosperidade está ligada ao surgimento de
inovações radicais, seguida por uma onda de novas inovações incrementais, consubstanciando-se
numa espécie de paradigma produtivo. Tal paradigma atinge seu auge quando não é mais
possível obter novos produtos a partir do padrão tecnológico existente, surgindo daí a recessão. A
depressão está associada ao término do processo de difusão das inovações ensejando fusões,
aquisições e falências, é a deflagração da crise. Uma parte dessas quebras provém do desuso de
produtos e processos decorrentes da inovação, ou seja, destruição criativa. A recuperação
provém de uma nova inovação radical que vai dar novo fôlego ao ciclo produtivo7.
Shikida & Bacha (1988) lembram que os períodos de expansão e contração da economia não são,
para Schumpeter, infinitos. Ao contrário, ele prevê a possibilidade de crise a partir da
oligopolização do processo inovativo. Ao atribuir papel fundamental ao empreendedor8 e ao
perceber a internalização da atividade inovativa em grandes departamentos de P&D, Schumpeter
vislumbra a decadência da dinâmica do ciclo econômico.
Cabe ressaltar, que o tratamento dado por Schumpeter ao caráter cíclico da economia guarda
relação direta com a atividade científica. Para Schumpeter, a presença do empreendedor é
condição sine qua non para a revolução científica. A partir da evolução do capitalismo, o
empreendedor seria substituído pelos vultosos departamentos de P&D9.
Entre as décadas de 1970 e 1980, reconhecendo a importância das contribuições
Schumpeterianas, alguns trabalhos buscaram ampliar o escopo da análise de Schumpeter a fim
de explicar os ciclos. Dentre muitos, cabe destacar o trabalho seminal de Freeman e Perez
(1988), que cunharam o termo “paradigma tecnico-econômico”, referindo-se ao processo inovativo
que modifica não somente as estruturas econômicas vigentes, mas que, sobretudo, revoluciona
todo o aparato institucional estabelecido, mudando a forma do progresso tecnológico num sentido
amplo. Sua difusão abrange todo o sistema, envolvendo fatores sociais, políticos, ambientais,
culturais, formas organizacionais e níveis de produção da firma, qualidade e quantidade de força
de trabalho. Revoluciona também o padrão de distribuição de lucros e o padrão de investimento
nacional e internacional, mudando os custos relativos e, conseqüentemente, as vantagens
comparativas, estabelecendo um novo padrão de consumo e gerando novas incertezas.
7
A abordagem de Schumpeter possui uma formulação eminentemente econômica, porém, a importância desse autor reside no fato de
endogeneizar a atividade científica e tecnológica e nela, perceber elementos fundamentais que explicam mudanças nos processos
sociais.
8
O empreendedor para Schumpeter é um ser diferente, raro, com espírito investigativo e curiosidade aguçada, não necessariamente é
o capitalista mas, sobretudo, é o inovador.
9
A partir daí Schumpeter vislumbra a decadência do Capitalismo ao transformar a atividade científica num produto do mercado
7
Freemam e Perez propuseram uma taxonomia para as inovações, argumentando que o corpo
teórico keynesiano não dava conta de explicar a recessão dos anos 1980 e, mostraram que a
falha dessa perspectiva estava na falta de uma teorização acerca das condições das mudanças
tecnológicas em cada período de tempo. Para os autores, a chave explicativa estava nas
mudanças dos paradigmas técnico-econômicos.
Eles identificaram cinco ondas na história do capitalismo, cada uma com a presença de um
paradigma diferente, onde se pode identificar um fator-chave10 que, ao satisfazer três condições
próprias, permitirá que um novo paradigma tecnológico desloque o antigo. As três condições são:
custos relativos decrescentes, rápido incremento da oferta e aplicações penetrantes.
Quadro 02: Os cinco paradigmas técnico-econômicos de Freeman e Perez
FatorChave
Constelação
de Inovações
Inovações
tecnicamente
bem-sucedidas
Segmentos
motrizes
Ferro
Algodão
Carvão
Mecanização
da indústria e
transportes
através da
força da água
Tecelagem
Produtos de ferro
Roda d’agua
Ferro
Carvão
Mecanização
da indústria e
transportes
com o uso do
vapor
Eletrificação
da indústria,
do transporte
e das
residências
Moinho de
Arkwright’s
Cromford,
Processo de
mistura de
Henry cort
Ferrovia
LiverpoolManchester,
Navio a Vapor
Grande Oeste
Carnegie e
Bessenger Steel
Rail Plant
Estação elétrica
de Edinon -NY
Aço
Cobre
LigasMetálicas
Petróleo
Gasolina
Material
Sintético
Motorização
dos
transportes,
economia civil
e da guerra
Linha de
produção de
Ford
Processador de
óleo pesado de
Burton
Chips
Circuito
integrado
Informacionalização da
economia
IBM 1401 e 360
Micro Intel
Ferrovias e
equipamentos
ferroviários
Motores a vapor
Ferramentas
Equipamento
elétrico
Engenharia
pesada
Química pesada
Produtos de aço
Automóveis e
caminhões
Tratores e
Tanques
Motores a Diesel
Aviões
Refinarias
Computadores
Softwares
Equipamento de
telecom
Biotecnologia
Infraestrutura de
transporte e
comunicação
Mudanças
gerenciais e
organizacionais
Período
de
mudança
Sistemas fabris
Empreendedores
Pacerias
18151848
Ferrovias
Telégrafo
Navios a
vapor
Sociedades
anônimas
Subcontratação
de trabalhadores
18481873
Ferrovias de
aço
Navios de aço
Telefone
Profissionais
especializados
Taylorismo
Mega empresa
18951918
Rádio
Autopistas
Aeroportos
Linhas aéreas
Produção e
consumo em
massa
Fordismo
19411973
Infovias
Redes de
trabalho
internas, locais e
globais
19732000
Fonte: Freeman e Perez (1988), adaptado pelo autor.
O novo paradigma surge num mundo ainda impregnado pelo antigo e ele só se torna dominante
quando o fator-chave tem capacidade de atender às três condições citadas, tornando-se o eixo
central de um crescimento rápido e continuado do sistema de inovações técnicas, sociais e
gerenciais. Algumas das inovações vão estar diretamente ligadas à produção desse fator chave e
outras, à sua utilização.
Essas transformações demandam uma reacomodação do comportamento social e institucional em
todos os níveis e devem ser compatíveis com as diversas modificações que estiverem ocorrendo
10
O fator-chave é um insumo que serve de base para o desenvolvimento de novos produtos e processos
8
na economia. Assim, os ciclos seriam explicados pelos desajustes entre o nível econômico e
institucional e o novo ajustamento seria a fonte de um novo processo de crescimento que se
consubstanciaria numa nova onda longa.
Como mostram Freeman e Perez, o aspecto essencial das mudanças dos paradigmas técnicoeconômicos é que eles possuem efeitos penetrantes por toda a economia, com novos produtos,
serviços, sistemas e indústrias afetando, direta ou indiretamente, quase que igualmente todos os
setores da economia. Importante também notar que cada onda de inovações carrega em si a
exploração desmesurada de novos materiais. A seguir apresentamos nossa interpretação de
como as nanotecnologias aparecem como fator-chave para o paradigma das NBICs
(Nanotecnologia, Biotecnologia e Tecnologias da Informação).
3.2 O caráter revolucionário das nanotecnologias e os riscos associados
O quadro abaixo apresenta alguns exemplos de aplicações das nanotecnologias. Pode-se
perceber que suas possibilidades não se limitam ao desenvolvimento de uma única área
comercial, tampouco à de uma única área científica. Vejamos:
Quadro 03: Alguns exemplos de aplicações das nanotecnologias
ÁREA
Novos Materiais
Nanoeletrônica e
Tecnologia
computacional
Agricultura
Medicina
Segurança e
aeronáutica
Eletrônica
Meio ambiente
Automotiva
Energia
EXEMPLOS
Materiais leves, mais resistentes, mais maleáveis. Catalisadores mais eficientes,
ferramentas de corte mais duras, fluidos magnéticos inteligentes, etc. Novos
microscópios e instrumentos de medida, ferramentas para manipular a matéria em
nível atômico, bioestruturas, etc.
Nanofios, nanodiodos e nanotransitores, fotoisomerismo, computadores quânticos.
Aumento da eficiência no armazenamento de dados e velocidade de
processamento, além de uso reduzido de energia.
Aumento de eficiência nos negócios de mercado, entretenimento e defesa. Com a
tecnologia do Fotoisomerismo é possível armazenar o conteúdo de 300 DVD´s
Convencionais num cubo do tamanho de um dado. (CIÊNCIA HOJE, 2005)
Agricultura de precisão, Certificados de qualidade (língua eletrônica a base de
nanosensores), Desenvolvimento de revestimentos comestíveis em frutas através
de biopolímeros. Com os biopolímeros haverá Impactos nos sistemas
agroalimentares na medida em que aumentará a durabilidade dos alimentos, o que
aumenta a qualidade de produtos para exportação.
Terapia Fotodinâmica, Cosméticos – nano, aumento da velocidade dos
diagnósticos, medicina menos invasiva, redução de rejeições em transplantes.
Novos medicamentos baseados em nanoestruturas, kits de autodiagnóstico,
materiais para regeneração de ossos e tecidos, etc.
Detectores de agentes químicos e orgânicos, circuitos eletrônicos mais eficientes,
sistemas de observação miniaturizados, tecidos mais leves, confecção de coletes à
prova de balas, vidros blindados. Aviões equipados com nanosensores e
inteligência artificial à base de computação quântica.
OLEDs. As vantagens dos OLEDs, em comparação com os atuais displays de
cristais líquidos (LCDs), incluem baixo consumo de energia elétrica, mobilidade de
transporte, economia de espaço e preço baixo.
Nanoimãs hidrofóbicos que quando dispersos em uma mistura água/óleo
dispersam-se na fase óleo tornando-a magnética, facilitando sua remoção da água.
Materiais mais leves, pneus mais duráveis, plásticos não-inflamáveis e mais
baratos, etc.
Novos tipos de bateria, fotossíntese artificial, economia de energia ao utilizar
materiais mais leves e circuitos menores, etc.
Fonte: Elaborado com base no trabalho ROCO et.al. (1999) , entre outros.
9
Com Freeman e Perez vimos que, para um novo produto ser reconhecido como fator-chave, deve
satisfazer às três condições: custos relativos decrescentes, rápido incremento da oferta e
aplicações potenciais penetrantes. Porém, nesse momento, não nos parece possível verificar se
as nanotecnologias atendem a esses três requisitos, devido à amplitude desse insumo que inclui e
comporta todos os elementos da tabela periódica, além dos novos elementos que estão sendo
criados. Mas é justamente isso que faz os cientistas intuírem várias aplicações promissoras, além
das já existentes.
A convergência com outras áreas, como as tecnologias da informação e as biotecnologias, fazem
da N&N uma atividade científica extremamente profícua, que aparece como área emergente e
próspera para pesquisa e desenvolvimento (P&D).
No Brasil, e na maioria dos países, os estudos e pesquisas têm avançado de forma substancial
em todas as áreas de aplicação. Porém, a discussão sobre os possíveis reflexos dessa tecnologia
sobre a sociedade, ainda é muito incipiente. Como toda nova tecnologia, parece ser necessário
pensar, para além dos seus benefícios, nas implicações no mercado de trabalho, meio ambiente,
cultura, política. Verificamos que ainda é incipiente e embrionária a participação dos diversos
setores da sociedade, que ainda não vislumbrou o limiar11 de um novo processo de “destruição
criativa”12.
A participação dos vários atores tais como; cientistas sociais, associações de classe e sindicatos,
acadêmicos, sociedade civil, ONGs e população em geral; torna-se relevante para que a nova
tecnologia possa avançar de forma responsável, para que sejam maximizados os promissores
benefícios e para que os impactos negativos possam ser, não somente mitigados mas, sobretudo,
evitados.
Dalcomuni (2004) apresenta uma agenda de estudos ampla que emerge no âmbito da área de
N&N:
•
Incluir, de forma integrada, a dimensão econômica e social nas pesquisas e atividades em
N&N;
•
Construir abertura, divulgação e formas de participação pública no processo de
desenvolvimento da pesquisa nanotecnológica;
•
Criar base de conhecimento e infra-estrutura institucional para avaliar os impactos
científicos, tecnológicos, econômicos e sociais das nanotecnologias e suas implicações no
curto e longo prazo;
•
Estabelecer mecanismos para informar, educar e envolver o público sobre os impactos das
nanotecnologias visando ao monitoramento contínuo das oportunidades e riscos destas
tecnologias;
11
Evidentemente, a percepção sobre as possibilidades das nanotecnologias assume (ou não) diversos graus, porém, as evidências já
apontam no mínimo, para diversos “avanços” na estrutura produtiva dos países.
A falta de difusão da informação talvez seja a explicação mais adequada para explicar esse fato.
12
10
•
Educar e treinar novas gerações de cientistas e de trabalhadores em N&N; e
•
Estimular as associações profissionais a desenvolver fóruns de discussão e atividades de
educação continuada para informar, educar e envolver profissionais em N&N.
O conteúdo inovador das N&N suscita diversos temas e questões intrigantes, tais como: a) Quem,
o que, quando, como e por que financiar a nanotecnologia?; b) Como incluir a sociedade no
debate sobre os possíveis impactos à saúde e ao meio ambiente?; c) De que forma fazer o
rastreamento de objetos e de produtos realizados pelo emprego das nanotecnologias e como
conhecer suas conseqüências societais?; d) Poderão as nanotecnologias aumentar, ou até
mesmo perpetuar a distância entre países ricos e pobres na medida em que amplia o gap
tecnológico existente entre eles?; e) quais serão os possíveis impactos sobre o mercado de
trabalho?.
Não será possível responder à essas questões neste paper. Porém, acreditamos que os
elementos apresentados nos ajudam a visualizar a relevância da inclusão da nanotecnologia
como agenda de pesquisa para as ciências humanas e sociais, sobretudo quando se considera a
possibilidade de riscos (ambientais, agroalimentares, à saúde, entre outros).
Para as inovações emergirem, não só a disponibilidade da tecnologia e a viabilidade econômica
são necessárias, há que se ter também asseguradas as possibilidades institucionais, fazendo-se
necessária, por exemplo, a construção de instituições regulativas que orientem a definição de
estratégias de pesquisas e trajetórias de uso dos conhecimentos gerados.
O desenvolvimento tecnológico possui dois lados, não necessariamente antagônicos, mas muitas
vezes complementares. De um lado está a curiosidade científica, a motivação do pesquisador em
explicitar o novo, o invisível, materializar o imaginário. Só existe ciência porque existe o
desconhecimento sobre muitas coisas. Por outro lado, está a motivação econômica numa intensa
busca por lucros extraordinários13, que somente se dá através da diferenciação, e ser diferente é
ser inovador.
Essa motivação econômica pode ser, e na maioria das vezes é, totalmente deslocada de uma
agenda que contemple as prioridades para o bem estar da sociedade. A sociedade ainda paga
caro por não prever os impactos das revoluções industriais e tecnológicas (vide Chernobyl). Na
modernidade, relevante se faz a discussão antecipada sobre as conseqüências societais do
desenvolvimento científico e tecnológico que promovam, sobretudo, a informação. As tecnologias
atuais agem de forma diferente das tecnologias anteriores a ponto de marcarem uma ruptura com
a própria estrutura social14. Percebe-se, dessa forma, o papel que a academia, sobretudo as
ciência humanas e sociais, possui na promoção de um aprofundamento da discussão sobre
nanotecnologia, buscando responder de forma adequada aos vários questionamentos que
13
Na literatura econômica o lucro extraordinário refere-se àquele obtido através da inovação, que dá ao capitalista um poder de
monopólio.
Esse processo será mais bem explicitado no tópico que trata da contribuição das ciências sociais.
14
11
emergem. Isso justifica trabalhos que procurem entender o desenvolvimento tecnológico e suas
interações com as instituições e organizações sociais.
Nas próximas seções, buscamos uma primeira aproximação com algumas teorias que podem nos
ajudar a perceber o papel que, tanto as ciências sociais, como as ciências econômicas, podem
desempenhar num projeto de reflexão crítica e envolvimento social nas questões relacionadas às
novas tecnologias e, de forma especial, nas questões da nanotecnologia15.
4. As ciências humanas e sociais e a construção de um debate crítico
4.1 Contribuição seminal das Ciências Sociais
Para analisar as novas tecnologias e os possíveis impactos sobre a humanidade nos parece
necessário, inicialmente, fazer uma reflexão acerca da relação homem-natureza. Com esse
objetivo, vale à pena uma breve incursão ao trabalho de Morin (1977) que defende a
interdisciplinaridade16 no estudo dos problemas complexos. A contribuição de Morin também
passa pelo fornecimento de um viés metodológico para o entendimento da complexidade da
natureza humana, de sua diversidade de anseios e da forma como a sociedade percebe o
desconhecido.
A nanotecnologia pode ser vista como um problema complexo na medida em que ainda não está
no dia a dias das pessoas e, sobretudo, por suscitar rupturas nas bases social, econômica,
política e ambiental. Além disso, apresenta um alto grau de incerteza, sobretudo, devido ao fato
de que aparece como uma “tecnologia atômica” que inclui nanopartículas, nanobiotecnologia,
nanofabricação e fabricação molecular17. Toda incerteza enseja a complexidade.
As nanotecnologias apresentam-se como a mais recente incursão do homem em busca do
domínio do mundo natural. Moscovici (1975, p.16) nos lembra que a “natureza humana está na
busca por sua elevação acima da natureza e para além dela, assim, a sociedade nasce e se
conserva para construir em cada um de nós uma barreira protetora contra a incessante ameaça
da natureza”. Porém, o autor ressalta que, o preço pago pela humanidade para construir seu
universo próprio é muitas vezes a guerra, a doença, a loucura e lembra que, desse processo
surgem as artes, as ciências, a literatura, os mitos ou as religiões.
Na contribuição dada pelas teorias clássicas que tratam da humanização do animal homem,
Engels (1984), por exemplo, nos explica que os animais têm como única possibilidade, utilizar a
natureza como meio de sobrevivência e, dessa forma, acabam por modificá-la simplesmente pelo
15
Infelizmente, não houve possibilidade, dada as limitações desse trabalho, de se ampliar a discussão para o papel de algumas áreas
das ciências humanas mas, sugere-se, que a área do direito pode apresentar contribuições fundamentais para, por exemplo, pensar a
construção de um marco regulatório.
16
A interdisciplinaridade tem sido apontada em vários estudos como uma necessidade para as ciências, veja COMISSÃO
GULBENKIAN (1996) e WALLERSTEIN (1998).
17
Para um estudo mais sistemático sobre “Tecnologia Atômica” ver ETC Group (2004).
12
fato de estarem nela presentes. Já o homem, intervém na natureza e a obriga a servir-lhe,
dominando-a e, assim, se diferencia dos outros animais.
Nesse processo, o desenvolvimento técnico aparece como um estigma do fenômeno humano.
Com Leroi-Gourhan (1984), vemos que a antropogênese (formação do homem) coincide
simbioticamente com a tecnogênese (formação da técnica). Mauss (2003) ressalta que a primeira
ferramenta do homem foi seu próprio corpo. Para ele, o homem não pode ser definido,
antropológica e socialmente, sem a dimensão da técnica. A técnica é arte (tekhnè) de construção
da vida, transformação da natureza (artificialização da natureza), transformação do próprio
homem (desnaturalização do homem). Nesse sentido Leroi-Gourhan define o desenvolvimento
das sociedades humanas pelo aumento constante no nível de abstração: da garra à mão, da
linguagem oral para a linguagem escrita; até chegarmos ao nível das novas tecnologias que
permeiam nossa sociedade.
Mas, a emergência de novas tecnologias, por estar imersa num oceano de incertezas, faz
germinar no seio dessa sociedade, sensações incômodas que se consubstanciam em sensações
como: perigo, risco e vulnerabilidade. Sensações que aparecem mesmo antes de o homem
buscar sua independência da natureza, mas que têm seu grau elevado com a emergência de
tecnologias e se potencializa na sociedade moderna.
Giddens (1997) pensa a modernidade como sendo reflexiva e experimental. Ou seja, os indivíduos
ao buscarem dominar e transformar a natureza, acabam por receber de volta as conseqüências
dessa transformação. O resultado pode ser bom ou não, e isso vai depender da intensidade da
transformação e de sua reflexão.
A nanotecnologia, nesse contexto, aparece como uma transformação/intervenção profunda do
homem sobre a natureza e, diante disso, Giddens nos faz pensar que ela, a despeito de todas as
possibilidades sacramentais, envolve riscos e que sua reflexividade precisa ser pensada de forma
crítica.
Para tanto, vislumbramos como interpretação possível e profícua, para a análise dos riscos
ambientais a partir das nanotecnologias, a “Sociologia do Risco” de Ulrick Beck. Para Goldblatt
(1996, p.228) “a obra de Beck tem uma particular importância para qualquer pessoa interessada
na resposta da teoria social à degradação do ambiente e à política de ambiente”. Entendido
ambiente como o conjunto dos elementos que envolvem e permeiam a natureza e a sociedade.
Em uma obra seminal, Beck (1992)18 mostra como a sociedade do risco desenvolve-se no interior
da sociedade industrial, do auge de sua transformação ao declínio e seus resultados. Assim, os
processos de modernização e industrialização ocasionam o surgimento de ameaças e perigos que
vão alterar a rota de desenvolvimento da sociedade industrial. Para Goldblatt (1996), Beck associa
a penumbra, o risco e a insegurança à processos complementares de modernização reflexiva.
18
Beck, U. Risck Society. 1992.
13
A sociologia do risco nos permite pensar em que medida os riscos inerentes às nanotecnologias
se diferenciam dos demais riscos presentes em outros desenvolvimentos tecnológicos, desde a
revolução industrial. Em sua teorização, Beck chama atenção para como a produção e as
implicações dos riscos contemporâneos se distinguem das formas anteriores de perigo e risco,
seja em termos qualitativos ou quantitativos.
Analisando a trajetória da percepção de risco e perigo nas diferentes sociedades, Beck identifica
que no período pré-industrial o risco estava associado ao perigo natural (furacões, terremotos,
etc.) sendo, portanto, inevitáveis tendo em vista sua forma natural. Cabia àquela sociedade,
recorrer à proteção da autoridade sobrenatural/espiritual. Já na sociedade industrial clássica, os
riscos aparecem associados aos perigos impostos pelo capital em sua forma física (a máquina) ou
em sua relação social (trabalho), seja pelo perigo de acidentes de trabalho ou à insegurança do
desemprego. Nessas sociedades, recorre-se às instituições e leis a fim de se proteger dos riscos
e perigos (ex.: leis trabalhistas, de crimes ambientais, código de trânsito).
Mas, na sociedade moderna, os riscos são imprevisíveis, as incertezas são altas e dificultam
cálculos probabilísticos que permitam uma intervenção amenizadora através da regulação. Além
disso, nessa sociedade a atribuição de responsabilidades torna-se complexa tendo em vista que a
natureza do risco é global19. Assim, destacam-se as seguintes características da sociedade do
risco: a inexistência de limites espaciais ou sociais; a possibilidade de autodestruição; o fato de
sua transmissão ser muitas vezes invisível, além do fato de todos estarem expostos de forma
igual aos riscos. Na sociedade de risco, a posição social não fornece proteção suficiente para os
riscos globais20.
Diante dessas considerações, as nanotecnologias, mais do que qualquer outra, aparecem como
indutoras da possibilidade de risco. Beck também contribui para nossa análise mostrando que
diante dessa sociedade de risco, aumenta a importância dos que produzem, interpretam e
divulgam o conhecimento.
Ele propõe uma política diferencial, onde o poder político é exercido de diferentes formas, em
diferentes instituições, com papel contínuo do Estado e de instituições paraestatais em moldes
democráticos. Destaque para a participação da sociedade civil. Para o autor, o discurso e a
prática da ciência devem estar no centro da política da sociedade de risco. Além disso, o fato de
as sociedades de riscos serem transnacionais, demanda uma política para além do estadonação21.
Diante dessas observações, Beck lembra que os movimentos sociais tornam-se o meio pelo qual
pode haver uma aproximação entre ciência e sociedade. O que nos remete a atenção para a obra
19
Por exemplo, de quem seria a responsabilidade do aquecimento global?
Nessa sociedade, ninguém sai ileso, todos estão expostos a armas biológicas – por exemplo-, morando debaixo de um viaduto do
Rio de Janeiro, ou numa mansão na Califórnia.
21
Schnaiberg (2000), sob a perspectiva da sociologia ambiental, coloca o problema da regulação de atividades em nível global. Para
esse autor, a ausência de uma instituição global reguladora, faz com que as firmas busquem se localizar em países que possuam uma
legislação mais frouxa.
20
14
de Santos (2003), onde evidencia a necessidade de se politizar as novas tecnologias e discutir a
questão tecnológica em toda sua complexidade, incluindo diversos atores sociais. Para Santos,
“questões tecnológicas são sempre sócio-técnicas e devem ser encaradas pela sociedade como
de interesse público” (p.12).
Especificamente na politização das nanotecnologias, Identificamos alguns atores que tem
buscado promover o debate crítico e o engajamento público. Destacamos o papel que tem sido
desempenhado pelo ETC Group22, organização internacional da sociedade civil com sede em
Winnipeg, Canadá. A ação de grupo centra-se no acompanhamento de pesquisa básica,
educação e campanhas que envolvem a biodiversidade na agricultura, propriedade intelectual e
sistemas de informações comunitárias23.
No Brasil, destacamos as ações promovidas pela RENANOSOMA24 (Rede de Pesquisa em
Nanotecnologia, Sociedade e Meio-ambiente) coordenada pelo Dr. Paulo Roberto Martins.
Lembramos o projeto “Engajamento público em nanotecnologia” que tem como objetivo informar e
discutir nanotecnologia com os diversos públicos não-especialistas, como estudantes e
profissionais do ensino médio, profissionalizante e universitário, sindicatos, associações, etc. Além
disso, essa rede promove debates, fóruns e seminários que têm ajudado dar maior notoriedade a
emergência das nanotecnologias e seus possíveis impactos sobre ambiente e sociedade.
Martins (2005, p.131) identifica a possibilidade de “construção de um círculo libertário e solidário
das populações do hemisfério sul, mediante a reação em cadeia, dialética, de construção histórica
de uma cidadania radical, pensando de que forma deve-se promover o engajamento público no
problema da regulação das nanos”. O autor lembra que a maior parte dos recursos de P&D são
gastos por empresas e governo, apontando para uma maior dificuldade de outros setores da
sociedade (sindicatos, Ongs, etc) participar do debate sobre os rumos do progresso tecnológico.
A seguir, vislumbramos a possibilidade de contribuição das ciências econômicas a partir da
construção teórica Evolucionista/Neoschumpeteriana.
4.2 Vislumbrando uma interpretação a partir das Ciências Econômicas
A partir da possibilidade de uma tecnologia de futuro, emerge o entendimento de uma
oportunidade econômica. O mainstream do pensamento econômico não conseguiu lidar de forma
adequada com a questão da mudança técnica e suas implicações sócio-econômicas e ambientais
por prender-se demasiadamente na noção de lucro de monopólio. No entanto, enfoques
alternativos passaram a se desenvolver, por volta da década de 1970, nos Estados Unidos e
Inglaterra, ficando conhecida como corrente evolucionista/neoschumpeteriana.
22
Grupo de Ação na Erosão, Tecnologia e Concentração.
Ver: <www.etc.org>
24
Informações em << http://nanotecnologia.incubadora.fapesp.br/portal>>
23
15
Na abordagem Neoclássica da economia a empresa aparece como uma “caixa preta” que toma
decisões acerca de preços e de quantidades produzidas. A força de trabalho nesse caso é
basicamente um insumo necessário à produção, é integrante de uma função de produção que
combina capital e trabalho. O progresso técnico (entendido como nova tecnologia) é algo
exógeno, ou seja, as novas tecnologias estão disponíveis e podem ser incorporadas ao processo
produtivo dependendo da estrutura de lucros e custos das firmas.
Para contestar essa formulação do progresso técnico, Nathan Rosenberg publicou em 1982 um
texto intitulado “Inside the Black Box” que tinha como objetivo contribuir para elucidar a relação
entre ciência, progresso técnico e performance econômica; na trajetória da Ciência Econômica
esse tipo de abordagem ficou conhecido como “endogeneização” do conhecimento científico.
Nesse trabalho, Rosenberg chama atenção para o fato de que muitas vezes, o conhecimento
tecnológico adquirido e acumulado graças às experiências repetida várias vezes, ou por meio de
processos empíricos de tentativa e erro, prescinde do conhecimento científico. O autor lembra que
não raras vezes ocorreu progresso tecnológico, mesmo sem a presença de uma comprovação
científica (ou conhecimento científico prévio) sobre o fenômeno envolvido. Assim, a tecnologia
atua como um grande fornecedor de conhecimentos empíricos que, somente posteriormente, são
escrutinados pela sociedade científica.
Buscando desmistificar a idéia de que a Ciência sempre antecede a tecnologia, Rosenberg lembra
que muitos materiais utilizados nas indústrias levam tempo para se mostrarem eficientes ou não,
pois características como corrosão, contaminação, degradação, resistência sob pressão,
dificuldade de manutenção entre outras, demandam demasiado tempo para serem testadas.
Assim, impera o princípio do learning by doing e learning by using. É como se cada
estrangulamento observado num avanço técnico ensejasse uma verdadeira agenda científica
naquela área, isso reforça a forte ligação explicitada pelo autor entre as necessidades
tecnológicas apresentadas pela indústria e a agenda de pesquisa científica.
As observações de Rosenberg nos permitem pensar em que sentido a N&N segue essa lógica.
Parece-nos claro que a atividade científica tem como papel fundamental, fornecer as informações
necessárias para que a sociedade possa avaliar os riscos associados ao empreendimento
tecnológico proveniente da agenda científica. E, supondo que as nanotecnologias, dada sua
relação direta com o orgânico, tendo em vista suas aplicações biológicas e químicas, podem
trazes riscos incomensuráveis à sociedade, tem-se nessa abordagem indicativos interessantes de
que a motivação econômica pode suplantar, inicialmente, a necessidade de “verificação” das
novas tecnologias.
As nanotecnologias, a partir do desenvolvimento de novos materiais, suscitam a criação de novos
mercados para novos produtos, elaborados a partir de novos processos. Isso inaugura um
profundo processo concorrencial que, ao fim ao cabo, pode consubstanciar-se em uma destruição
16
criadora. Nesse sentido, a abordagem Evolucionista/Neoschumpeteriana, com ênfase nos papéis
da ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento sustentável, contribui para o debate25.
Nelson e Winter (1977), nos EUA, propuseram uma interpretação evolucionista da mudança
econômica que parte da identificação da racionalidade limitada e da presença de incerteza. Nesse
ambiente, as firmas adotam “rotinas” em sua ação (em substituição ao comportamento
otimizador). O progresso tecnológico é apresentado como resultado de um processo de interrelação entre busca e seleção. As inovações são introduzidas por firmas motivadas pelo lucro. As
direções possíveis dos processos de busca são condicionadas pela tecnologia (trajetória anterior)
e pela rentabilidade esperada.
A nanotecnologia apesar de já incorporada a alguns produtos e processos, ainda é tida como uma
tecnologia de futuro devido às suas possíveis implicações. Dessa forma, os trabalhos de Nelson e
Winter, podem ajudar a pensar de que forma essa tecnologia vai ser incorporada na dinâmica
industrial, como pode impactar as suas rotinas e, de maneira mais extensa, a organização
industrial. Também contribuem para se pensar como será o ambiente de seleção das empresas,
tendo em vista que para esses autores não somente o mercado é a instância de seleção, mas
também outros fatores como, por exemplo, o ambiente institucional. A regulação nesse sentido
aparece como uma forma de enviesar o ritmo de progresso técnico, chancelando novos produtos
e processos.
Ainda no enfoque evolucionista/neoschumpeteriano, aparece a discussão sobre paradigmas.
Atualmente, questiona-se sobre o potencial de aplicação das nanotecnologias e sobre as
possíveis trajetórias tecnológicas que poderão oferecer às empresas e, mais ainda, surgem
questões sobre a forma como a regulação poderá assumir um papel direcionador dessas
trajetórias. Essa reflexão pode ser analisada a partir do instrumental teórico proposto por Dosi e
Freeman & Perez.
Em Dosi (1982;1988) o ambiente institucional da firma aparece como um elemento que vai
determinar o progresso tecnológico no interior da empresa, fazendo-a assumir diferentes
trajetórias tecnológicas a partir do aparato regulatório e as oportunidades oferecidas pelo
mercado. Um paradigma tecnológico é definido como modelo ou padrão de solução para os
problemas técnico-econômicos selecionados, baseado em princípios e procedimentos derivados
das ciências naturais, conjuntamente com regras específicas que objetivam adquirir conhecimento
novo e resguardá-lo, sempre que for possível, contra rápida difusão dos competidores.
No contexto de competição Dosi (1988) ressalta que existe um grau de incerteza elevado que
permeia uma nova tecnologia, o que dificulta a previsão do ritmo e da direção das inovações,
assim, não se consegue saber com antecedência quais problemas surgirão e quais soluções
serão encontradas. Esse grau de incerteza pode afetar de forma decisiva a competitividade de
25
Para uma revisão sobre as contribuições Neoschumpeteriana, ver Possas (1989).
17
empresas e países, tendo em vista que podem adotar uma determinada trajetória tecnológica
equivocada, o que resultará em bancarrota.
O Grau de incerteza apontado por Dosi, pode ser traduzido como efeitos colaterais de uma nova
tecnologia que não são previstos e que podem se mostrar totalmente infrutíferos ao processo
sócio-econômico. Como exemplo emblemático tem-se o uso do amianto, onde a solução virou
problema.
Freeman & Perez (1988) ampliam o debate a partir do conceito de paradigma tecnico-econômico
e sistemas de inovação, que têm no ambiente institucional o ponto central da análise. O novo
paradigma tecnico-econômico aparece como um processo inovativo que modifica não somente as
estruturas econômicas vigentes, mas também todo o aparato institucional estabelecido.
Por fim, ressaltamos que o paradoxo entre visão social versus visão científica/tecnológica das
novas tecnologias, parece também poder ser pensado a partir do arcabouço teórico da Economia
das Convenções, que analisa a correlação de forças que está por detrás do processo de
regulamentação e regulação das novas tecnologias. Na academia, especula-se sobre as
convenções necessárias em nível internacional para se desenvolver a regulamentação
nanotecnológica tendo em vista que os riscos ao meio ambiente e à sociedade aparecem numa
agenda global.
5. Considerações finais: a tríplice aliança
Neste paper buscamos apresentar possibilidades teórico-analíticas para a interpretação da
sociedade contemporânea, marcada pela emergência de um paradigma caracterizado pela
convergência entre as tecnologias mais evolucionárias da sociedade moderna; quais sejam;
nanotecnologias, biotecnologias e tecnologias informação.
Inicialmente, definimos a nova tecnologia e refletimos sobre seu caráter revolucionário, onde
pudemos identificar um conteúdo eminentemente paradigmático que a coloca no núcleo das
transformações anunciadas para o futuro próximo.
Continuando, assumimos a tarefa de buscar no âmbito da teoria social e da teoria econômica
aquelas contribuições que nos pareciam dar pistas das implicações do atual fazer científico e
tecnológico, e que possibilitassem entender os riscos associados e as implicações em termos
estruturais. Sem encerrar as possibilidades, mas, sobretudo, abrindo-nos o olhar, a Sociologia do
risco e a Economia da inovação, apareceram como embriões de uma reflexão adequada aos
nossos objetivos. Aparecem como um ponto de partida para se pensar a promoção de uma
ciência crítica, menos cética e mais analítica.
As contribuições apontaram para a necessidade de formação de uma tríplice aliança, envolvendo
Estado, Empresa e Sociedade (cientistas e não cientistas) a fim e garantir as pesquisas (que
18
certamente podem contribuir para o bem estar social) concomitantemente com a segurança da
sociedade. Além disso, concluímos que a convergência de tecnologias demanda das ciências uma
maior interação e interdisciplinaridade que, como vimos, aparece como elemento essencial na
politização das novas tecnologias.
Acreditamos que, com uma configuração social mais densa e uma politização diferencial, cujo
elemento dominante seja a informação e o entendimento sobre o desenrolar das novas
tecnologias, reconhecendo avanços e problematizando riscos, estaremos em vias de participar de
uma sociedade cuja reflexividade seja menos danosa.
A tecnologia pode ser ao mesmo tempo, um obstáculo ou um instrumento para o desenvolvimento
sustentável. O direcionamento vai depender da forma como a sociedade perceber, planejar e
participar da disposição dos “átomos” que já se manipulam e se controlam em nossa sociedade.
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Nanotecnologia e Riscos Ambientais: uma Reflexão