Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Econômico, Economia Regional e Instituições
CARACTERIZAÇÃO PRODUTIVA E SOCIOECONÔMICA DE
MUNICIPIOS INTENSIVOS NA PRODUÇÃO LEITEIRA DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
Angélica Pott de Medeiros1
Bruna Márcia Machado Moraes2
Reisoli Bender Filho3
Resumo: A pecuária leiteira no Rio Grande do Sul foi introduzida pelos imigrantes europeus,
e desenvolvida com o surgimento de diversas indústrias processadoras de leite cru e
derivados. Com o passar dos anos houveram várias mudanças estruturais no setor lácteo,
havendo um aumento de produtividade no setor. Como essa atividade é principalmente
desenvolvida em pequenas propriedades, por não necessitar de grande extensão territorial, a
região noroeste do estado contempla nove dos dez maiores municípios produtores de leite do
Rio Grande do Sul. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica
produtiva e socioeconômica dos municípios mais intensivos em produção de leite do estado
do Rio Grande do Sul. Para isso, será realizado um levantamento dos principais índices
socioeconômicos, tamanho das propriedades, produção e produtividade, bem como proporção
da população rural e urbana de cada município. Como principais resultados indica-se que
apesar da proximidade dos municípios, apresentam produtividades diferentes, mesmo com
extensão territorial muito parecidos, e concentração considerável de residentes na zona rural.
Os municípios, em geral apresentam o IDH alto, e índice de Gini semelhantes. Além disso, o
PIB é composto de serviços, seguido da agropecuária e indústria.
Palavras-chave: Produção de leite; variáveis socioeconômicas; Rio Grande do Sul.
Abstract: The dairy livestock of Rio Grande do Sul was introduced in the state by the
Europeans immigrants and was developed due the advent of raw milk and milk byproducts
processing industries. Through the years, many structural changes have been witnessed in the
dairy sector resulting in productivity increase. As this activity is mainly performed in small
farms, for not requiring the use of big territorial areas, the northwest region of the state of Rio
Grande do Sul is home to nine of ten greatest cities that produce milk in the state. Thus this
current work has as a purpose to analyze the productive, social and economic dynamics of the
most intensive cities in the production of milk in the state of Rio Grande do Sul. In so doing,
social and economic main indexes, farms sizes, production and productivity as well as the
ratio of rural and urban population of every city will be collected. As a result, it has been
found that neighboring cities have showed different productivity, even though they have
similar territorial extension and high concentration of homes in rural areas. In a broad way,
the cities showed a high (HDI) index and a similar Gini index. Besides that, the GDP consists
of services followed by livestock and industry.
Keywords: Milk production ; socioeconomic variables; Rio Grande do Sul.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria, e-mail:
[email protected];
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria, e-mail:
[email protected];
3
Doutor em Economia aplicada pela Universidade Federal de Viçosa. Professor Adjunto da Universidade
Federal de Santa Maria, e-mail: [email protected].
1
JEL: R11, F63.
INTRODUÇÃO
A pecuária leiteira no Rio Grande do Sul foi introduzida com a chegada de imigrantes
europeus no período de colonização. A produção de leite e derivados começou a ser realizada
com fins comerciais com a chegada dos açorianos e outros imigrantes europeus na região sul
do Brasil, em meados do século XVIII, se expandindo mais tarde com a chegada de outros
imigrantes da Europa. Essa atividade ganhou importância principalmente na região norte e
noroeste do Rio Grande do Sul, que até então permanecia pouco povoada em relação às outras
regiões do estado. Com o surgimento desses vilarejos de imigrantes, a atividade leiteira foi
mais difundida por poder ser desenvolvida em pequenas extensões de terra (MARION
FILHO, REICHERT e SCHUMACHER, 2014).
Ao passar dos anos, segundo Finamore e Maroso (2004), houve o surgimento de várias
agroindústrias processadoras de leite e derivados no estado do Rio Grande do Sul,
estimulando o aumento da produção e investimentos na atividade leiteira. Além disso, com a
abertura comercial nos anos de 1990 e a configuração de um novo cenário no setor lácteo, os
produtores investiram em melhoramento genético, alimentação e instalações para o
desempenho da atividade se tornar mais lucrativo.
Esse novo cenário foi configurado a partir de uma desregulamentação do setor,
período em que o governo encerrou a atuação que exercia sobre a atividade leiteira, em que
fixava os preços bases a serem pagos ao produtor em todo o território nacional. Caso em que
deu-se início às mudanças significativas na competitividade da comercialização,
principalmente de leite cru, que servia de matéria-prima para a produção de derivados
(BREITENBACH E SOUZA, 2010).
Com o aumento da competitividade no setor, a atividade leiteira começou a ganhar
importância nas propriedades rurais do Rio Grande do Sul, principalmente naquelas com
menor extensão territorial, onde a atividade já era realizada para fins de subsistência. Segundo
Brand (2014), essa característica persistiu ao passar dos anos, e embora identifique-se
algumas propriedades grandes, as menores predominam na estrutura produtiva leiteira do Rio
Grande do Sul.
Atualmente, os municípios que produzem maior volume de leite estão localizados, em
grande maioria, na região noroeste do Rio Grande do Sul, sendo eles: Santo Cristo, Casca,
Ijuí, Marau, Ibirubá, Sananduva, Palmeira da Missões, Três de Maio, Augusto Pestana. E
2
também, na região sul do Rio Grande do Sul, está São Lourenço do Sul, que também faz parte
dos municípios que apresentam alta produção de leite (IBGE, 2015a).
A partir disso, o presente trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica produtiva e
socioeconômica dos municípios mais intensivos em produção de leite do estado do Rio
Grande do Sul. Para isso, será realizado um levantamento dos principais índices
socioeconômicos, tamanho das propriedades, produção e produtividade, bem como proporção
da população rural e urbana de cada município.
Embora no Rio Grande do Sul a atividade leiteira é realizada em sua grande parte em
propriedades menores, ainda é responsável por geração de emprego e renda no meio rural.
Além disso, apenas os dez municípios em análise produzem aproximadamente 11% da
produção total do estado, figurando uma contribuição importante para a economia gaúcha
(IBGE, 2015a).
Para atender o objetivo proposto, o artigo está estruturado em cinco seções. Além
desta introdução, o artigo conta com uma revisão de literatura sobre aspectos culturais e a
evolução da atividade leiteira no Rio Grande do Sul, na seção três será apresentada a
metodologia utilizada para a obtenção dos resultados, que serão discutidos na seção quatro; e
por fim, na seção cinco estão expostas as principais conclusões do trabalho.
2 ATIVIDADE LEITEIRA NO RIO GRANDE DO SUL
A inserção da atividade pecuária no Rio Grande do Sul foi iniciada com imigrantes
europeus no período colonial, em que esses animais eram criados para a produção de carne e
leite, e também para fornecer força de tração para os produtores rurais. Com o passar dos
anos, a atividade leiteira foi sendo desenvolvida aliada às demais atividades já praticadas nas
propriedades rurais. Porém, de forma menos expressiva do que a criação de pecuária de corte
(BEHLING et al., 2009).
Mais tarde, com a chegada dos açorianos e também de imigrantes italianos e alemães,
foi que a atividade leiteira foi sendo desenvolvida com mais ênfase nas propriedades já
instaladas na região Sul do Brasil. Além disso, foram se expandindo principalmente para a
região norte e nordeste do estado do Rio Grande do Sul, onde se especializaram na atividade
(FONSECA, 1980).
A partir da década de 1950, a produção de leite deixou de ser realizada apenas para
subsistência e passou a ter caráter comercial, período esse em que ocorreu a industrialização
3
no país. Até os anos de 1990, o comércio de leite cru era regulamentado pelo governo, que
fixava os preços pagos aos produtores em todo o país (BORTOLETO; WILKINSON, 2000).
Após esse período, o governo deixou de exercer controle sobre o setor, havendo
variações nos preços pagos aos produtores em diferentes regiões do Brasil, assim, o mercado
se ajustou livremente com a atuação de diversas empresas que atuavam nesse ramo, dentre
elas, multinacionais com grande participação de mercado. Além disso, a abertura comercial
nos anos de 1990 fez com que houvessem mais mudanças no setor, já que o mercado ficava
cada vez mais competitivo (JANK, 1999).
Após todas essas mudanças estruturais, os estados brasileiros vêm aumentando sua
competitividade no setor de lácteos, tanto em nível nacional, no mercado interno, até mesmo
no mercado externo. Esse é o caso da região sul, que segundo IBGE (2015) produz cerca de
30% da produção nacional, figurando segundo lugar no ranking brasileiro. Da região Sul, o
Rio Grande do Sul tem se destacado, já que possui maior extensão territorial, quando
comparado aos outros estados.
A estrutura produtiva do Rio Grande do Sul é baseada em pequenas propriedades
rurais, principalmente na região norte e noroeste, que possui um número expressivo de
propriedades caracterizadas como de agricultura familiar, com propriedades muito próximas
umas das outras facilitando a captação por parte das empresas. Já na região sul do estado,
predominam grandes propriedades com estrutura caracterizada como patronal. Embora exista
produção de leite nessa região, em grande parte se destaca a criação de gado de corte
(TRICHES, 2011).
Na Figura 1 podem ser visualizados os dez municípios que têm maior produção de
leite do estado do Rio Grande do Sul (em 2013). Vale ressaltar que dos dez municípios, nove
estão localizados na região noroeste do estado e apenas um na região sul. Juntos eles
representam 11% da produção total do estado, tendo como destaque os municípios de Santo
Cristo e Casca com aproximadamente 60.000.000 litros produzidos ao ano cada um.
4
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Figura 1 - Municípios intensivos em produção de leite no Rio Grande do Sul no ano de 2013.
Fonte: Elaborados pelos autores com base nos dados do IBGE (2015).
Na figura 1 estão expostos os municípios que apresentam o maior volume de leite
produzido no estado do Rio Grande do Sul. Juntos eles representam 11% da produção total do
estado, tendo como destaque os municípios de Santo Cristo e Casca com aproximadamente
60.000.000 litros produzidos ao ano cada um.
3 METODOLOGIA
Com o objetivo de analisar a estrutura produtiva e socioeconômica dos municípios
mais intensivos em produção de leite do estado do Rio Grande do Sul, o presente trabalho tem
carácter qualitativo, de cunho exploratório e descritivo. Segundo Gil (2008), a interpretação
dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.
Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado
são os focos principais de abordagem, não sendo necessários modelos matemáticos.
Por exploratório entende-se um estudo que tem por objetivo analisar algo ainda pouco
explorado na literatura. Esse tipo de investigação auxilia o pesquisador a formular hipóteses
ainda desconhecidas sobre o tema (RICHARDSON, 1999). Além disso, a presente pesquisa
também se classifica como descritiva, em que o objetivo principal é descrever fenômenos que
ocorrem com uma determinada população em estudo 9GIL, 2008).
Sendo assim, o trabalho reuniu vários dados dos municípios em análise para que fosse
possível identificar as principais características da estrutura produtiva em que se encontram.
Na Tabela 1 podem ser identificadas as fontes dos dados levantados.
5
Tabela 1 - Fonte de dados das variáveis utilizadas
Variável
Descrição
Período
Produção de leite
Em mil litros
2013
Vacas ordenhadas
Cabeças
2013
Produtividade
Litros/ano
2013
Concentração de estabelecimentos
Tamanho das propriedades
2006
Área territorial
Km²
2015
Distribuição dos residentes
Rural/Urbana
2010
IDH - Municipal
Renda
2010
IDH - Municipal
Longevidade
2010
IDH - Municipal
Educação
2010
Índice de GINI
Índice
2010
PIB per capita
R$
1998 - 2012
Valor Adicionado Bruto
Agropecuária, Indústria e Serviços 1998 - 2012
Fonte
IBGE
IBGE
Calculado
IBGE
IBGE
IBGE
PNUD
PNUD
PNUD
DataSus
FEE
FEE
Fonte: Elaborado pelos autores (2015).
Os dados divulgados pelo IBGE foram selecionados dos censos municipais e
agropecuário, por isso não são divulgados todos no mesmo ano. Na seção seguinte são
discutidos os principais resultados levantados a partir dos dados selecionados de cada
município em análise.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Aspectos socioeconômicos
Os municípios que se destacam na produção de leite no estado do Rio Grande do Sul,
são Santo Cristo, Casca, Ijuí, Marau, Ibirubá, Sananduva, Palmeira das Missões, Três de
Maio, Augusto Pestana e São Lourenço do Sul, os quais são responsáveis por
aproximadamente 11% da produção do estado em 2013, somente o município de Santo Cristo
produziu cerca de 60 milhões de litros, conforme Quadro 1.
Município
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Santo Cristo
Casca
Ijuí
Marau
Ibirubá
Sananduva
Palmeira das Missões
Três de Maio
Augusto Pestana
São Lourenço do Sul
Total
Produção
(mil litros)
59.943
59.400
52.000
50.918
50.621
45.900
44.300
42.245
42.000
41.843
489.170
6
4.508.518
11%
Rio Grande do Sul
Proporção (%)
Quadro 1 - Dez municípios do Rio Grande do Sul com maior produção de leite no ano de
2013.
Fonte: IBGE (2015a), adaptado pelos autores.
Contudo é válido levantar o tamanho do rebanho e a produtividade destes municípios
(Quadro 2), observa-se, que municípios mais bem colocados no ranking em relação à
produção, não necessariamente, possuem maior volume de vacas ordenhadas, sendo assim,
destaca-se a importância da produtividade do rebanho. Municípios como Casca e Marau são
destaques na produtividade de leite, onde cada vaca produziu 5.346,53 e 4.799,96 litros no
ano de 2013.
Segundo Milani et al. (2014), os produtores do Rio Grande do Sul investem cada vez
mais em alimentação, animais com genética apurada, além de investimentos em infraestrutura
que auxiliam em uma maior produtividade.
Sananduva
Desempenho
vacas ordenhadas
15.500
2º
Santo Cristo
15.275
4º
1º
3.924,25
São Lourenço do Sul
Ijuí
14.428
13.200
5º
7º
10º
3º
2.900,12
3.939,39
Palmeira das Missões
Ibirubá
Casca
13.080
11.255
11.110
8º
10º
11º
7º
5º
2º
3.386,85
4.497,64
5.346,53
Augusto Pestana
11.000
13º
9º
3.818,18
Marau
Três de Maio
10.608
10.486
14º
16
4º
8
4.799,96
4.028,70
Município
Vacas ordenhadas
Desempenho Produtividade
produção
vaca litros/ano
6º
2.961,29
Quadro 2 - Municípios estudados e seu tamanho do rebanho, desempenho quanto ao tamanho
do rebanho em relação ao estado, desempenho da quantidade produzida em relação aos
estados e produtividade - 2013.
Fonte: IBGE (2015a), adaptado pelos autores.
Entre esses dez municípios, nove concentram-se na mesorregião do Noroeste RioGrandense, apenas o município de São Lourenço do Sul está localizado na mesorregião do
Sudeste Rio-Grandense, conforme Figura 2.
7
Figura 2 - Localização dos municípios.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A mesorregião Noroeste Rio-Grandense possui a maior concentração de produtores de
leite do estado, essa tendência consolidou-se na última década, combinando o cultivo de soja,
milho e trigo com a pecuária leiteira, como forma de complementação da renda. Também, a
proximidade da agroindústria beneficiou a produção de leite e o que permitiu esse
deslocamento foi a introdução do leite com a tecnologia UHT, o que não obriga a instalação
das unidades produtoras próximas aos grandes centros consumidores. Aliado a isso, alterações
realizadas pelos produtores rurais em seus sistemas de produção fizeram com que aumentasse
a área destinada à atividade leiteira. Com a redução da área utilizada para o cultivo do trigo no
inverno, a pastagem de qualidade foi introduzida, servindo de nutrição ao gado leiteiro,
melhorando, dessa forma, a produtividade e evitando que essas áreas ficassem ociosas no
inverno (MARASCHIN, 2004; CASALI, 2012).
Oliveira (2010) também destaca que vários fatores corroboram com os resultados da
região noroeste do estado, entre eles a organização da pequena propriedade, que percebe no
leite uma alternativa de renda, e o interesse dos laticínios em se instalarem nessa região.
Confirmando tal argumento, verifica-se a concentração dos estabelecimentos agropecuários
em pequenas propriedades, dentre os municípios estudados, em média, 31% dos
8
estabelecimentos, possuem menos de dez hectares (ha), e 57% possuem entre 10 e 50 ha,
conforme pode ser conferido na Tabela 2.
Tabela 2 – Concentração dos estabelecimentos agropecuários conforme tamanho em hectares
- 2006.
10 a
50 a
100 a
Município
<10
< 50
< 100 < 200
Santo Cristo
38%
60%
1%
0%
Casca
27%
62%
9%
0%
Ijuí
36%
52%
8%
2%
Marau
24%
59%
10%
3%
Ibirubá
25%
58%
11%
4%
Sananduva
32%
58%
6%
2%
Palmeira das Missões
42%
36%
6%
5%
Três de Maio
35%
61%
4%
0%
Augusto Pestana
32%
57%
8%
2%
São Lourenço do Sul
22%
68%
6%
2%
31%
57%
7%
2%
Média
Área (ha)
200 a 500 a 1000 a 2500 e produtor
< 500 < 1000 < 2500 mais sem área
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
1%
1%
0%
0%
0%
0%
2%
0%
0%
0%
1%
2%
0%
0%
0%
0%
1%
0%
0%
0%
1%
6%
3%
1%
0%
2%
0%
0%
0%
0%
0%
1%
0%
0%
0%
0%
2%
1%
0%
0%
0%
1%
0%
0%
0%
1%
Fonte: IBGE (2015b), adaptado pelos autores.
Observa-se que o município de Palmeira das Missões possui a maior concentração em
estabelecimentos com menos de 10 ha, cerca de 42%, porém também possui propriedades
entre 1000 e 2500 ha (1%). Já em relação às propriedades entre 10 a 50 ha, São Lourenço do
Sul, possui a maior concentração (68%). Destaca-se que os municípios de São Lourenço do
Sul e Palmeira das Missões possuem as maiores áreas territoriais, sendo de 2.036,13 km² e
1.419,43 km² respectivamente (Quadro 3).
Município
Santo Cristo
Casca
Ijuí
Marau
Ibirubá
Sananduva
Palmeira das Missões
Três de Maio
Augusto Pestana
São Lourenço do Sul
Área territorial (Km²)
366,89
271,75
689,13
649,30
607,45
504,55
1.419,43
422,20
347,44
2.036,13
Quadro 3 - Área territorial dos municípios.
Fonte: IBGE (2015c), adaptado pelos autores.
9
Ainda, com a finalidade de verificar a distribuição dos residentes (Quadro 4), a
amostra estudada possui municípios que concentram mais de 40% da sua população na zona
rural, tais como: Santo Cristo, Casca, Augusto Pestana e São Lourenço do Sul.
Santo Cristo
Rural
Urbana
Total
% Rural
Casca
Rural
Urbana
Total
% Rural
Ijuí
Rural
Urbana
Total
% Rural
Marau
Rural
Urbana
Total
% Rural
Ibirubá
Rural
Urbana
Total
% Rural
Sananduva
6.596
7.782
14.378
3.561
5.090
8.651
Três de Maio
7.364
71.551
78.915
Rural
Urbana
Total
46% % Rural
Palmeira das Missões
Rural
Urbana
Total
41% % Rural
4.676
10.697
15.373
30%
4.497
29.831
34.328
13%
Rural
Urbana
Total
9% % Rural
4.764
18.962
23.726
Rural
Urbana
Total
13% % Rural
São Lourenço do Sul
3.967
Rural
15.343
Urbana
19.310
Total
21% % Rural
3.439
3.657
7.096
Augusto Pestana
4.807
31.557
36.364
20%
48%
18.875
24.236
43.111
44%
Quadro 4 - Distribuição dos residentes - 2010
Fonte: IBGE (2015d), adaptado pelos autores.
Em relação aos dados socioeconômicos, o Índice de Desenvolvimento Humano 4
(IDH), verificou-se que em nível municipal, a maioria dos municípios apresentou índice
considerado alto (maior que 0,7), com exceção de São Lourenço do Sul, que obteve índice de
0,687, considerado como médio (Quadro 5). Os indicadores individuais são semelhantes entre
si, mas o IDH Educação possui maior variação entre os municípios, e o IDH Longevidade
possui os maiores índices.
4
O índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é utilizado na classificação do grau de desenvolvimento, o qual
envolve a expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita, variando entre 0 e 1, onde quanto mais
próximo de 1, maior é o nível de desenvolvimento humano na região estimada (PNUD, 2000).
10
Verifica-se que os municípios localizados ao noroeste do estado, possuem um IDH
alto, e o município de São Lourenço do Sul possui um índice médio, tendo em vista que o Rio
Grande do Sul possui uma nítida desigualdade entre as regiões norte e sul do estado, onde a
metade norte é bastante desenvolvida e diversificada na indústria e na pecuária, e a metade
sul, ao contrário, é mais pobre, baseada no setor de serviços, agricultura, pecuária bovina e
indústria (FRIEDRICH, 2002).
Município
IDHM
2010
Santo Cristo
Casca
0,738
0,785
IDHM
Renda
2010
0,746
0,778
IDHM
Longevidade 2010
IDHM Educação Índice de
2010
Gini 2010
0,820
0,847
0,656
0,733
0,44
0,43
Ijuí
0,781
0,786
0,858
0,707
0,57
Marau
0,774
0,773
0,857
0,699
0,43
Ibirubá
0,765
0,786
0,848
0,671
0,49
Sananduva
0,747
0,764
0,843
0,647
0,44
Palmeira das
Missões
Três de Maio
0,737
0,722
0,831
0,667
0,53
0,759
0,756
0,834
0,694
0,51
Augusto Pestana
0,743
0,779
0,847
0,621
0,49
São Lourenço do
Sul
0,687
0,722
0,849
0,528
0,46
Quadro 5 - Índice de Desenvolvimento Humano e índice de Gini, 2010.
Fonte: PNUD (2015), DATASUS (2015), adaptado pelos autores.
Em relação ao Coeficiente de Gini 5 , apenas os municípios de Ijuí, Palmeira das
Missões e Três de Maio possuem o índice maior que 0,5. Os menores índices registrados
dentro da amostra, referem-se à Casca e a Marau. Já o estado do Rio Grande do Sul possui o
índice de 0,55, e o município que possui o menor índice é São José do Hortêncio com 0,28.
Apesar da metade sul do estado possuir maior concentração de riqueza, inibindo seu
crescimento (MENEZES E FEIJÓ, 2008), o município de São Lourenço do Sul apresenta um
índice de Gini semelhante aos demais municípios.
Os municípios estudados possuem sua economia relacionada à atividade pecuária,
porém, recentemente outras atividades diversificaram e estimularam a economia desses
municípios e a composição de seu PIB. A Tabela 3, demonstra a evolução do Produto Interno
Bruto (PIB) per capita, e do Valor adicionado bruto (VAB), que consiste na contribuição ao
PIB pelas diversas atividades econômicas (IBGE, 2015e).
5
O Coeficiente de Gini é comumente usado para calcular a distribuição de renda, também varia entre 0 e 1,
porém, 0 representa a completa igualdade e 1 a completa desigualdade.
11
Tabela 3 – Evolução do PIB per capita e do Valor Adicionado Bruto, em 1998 e 2012.
Município
Ano
2012
Santo Cristo
1998
2012
Casca
1998
2012
Ijuí
1998
2012
Marau
1998
2012
Ibirubá
1998
2012
Sananduva
1998
2012
Palmeira das
Missões
1998
2012
Três de Maio
1998
2012
Augusto Pestana
1998
2012
São Lourenço do Sul
1998
PIB per capita
R$
22.384
R$
6.624
R$
33.926
R$
7.017
R$
29.510
R$
4.229
R$
36.445
R$
15.343
R$
42.706
R$
6.401
R$
25.834
R$
6.901
R$
20.323
R$
5.702
R$
21.885
R$
5.684
R$
21.974
R$
5.867
R$
15.549
R$
4.867
Estrutura do Valor Adicionado Bruto (%)
Agropecuária Indústria
Serviços
29%
13%
58%
25%
5%
69%
32%
18%
50%
30%
11%
59%
4%
15%
82%
12%
15%
73%
12%
44%
44%
8%
60%
32%
10%
17%
73%
22%
4%
74%
26%
16%
58%
25%
10%
65%
18%
17%
64%
25%
2%
74%
12%
15%
73%
14%
11%
75%
29%
9%
62%
32%
4%
64%
29%
11%
60%
22%
8%
70%
Fonte: FEE (2015a, 2015b, 2015c, 2015d), adaptado pelos autores.
Observa-se que o município de Marau possui o maior PIB per capita da amostra, onde
seu VAB concentra-se na indústria e nos serviços (44%), porém apresentou aumento da
participação do setor agropecuário entre 1998 e 2012. A participação da agropecuária não
ultrapassa os 30% do VAB, em municípios como Santo Cristo, Augusto Pestana e São
Lourenço do Sul chega em 29%, tais municípios possuem essa composição semelhante,
mantendo cerca de 60% em serviços, e 10% na indústria.
CONCLUSÃO
Tendo em vista o objetivo de explorar a dinâmica produtiva e socioeconômica dos
municípios mais intensivos na produção de leite no estado do Rio Grande do Sul, verificou-se
que esses municípios são responsáveis por 11% da produção de leite do estado, os quais se
concentram em sua maioria no noroeste do estado, porém, apesar de serem próximos,
possuem produtividades diferentes, o que depende de diversos fatores, tais como:
investimento em genética, nutrição animal, manejo, entre outros. Essa região apresenta
12
municípios pequenos, os quais possuem em sua maioria pequenas propriedades, que utilizam
a pecuária leiteira como forma de complementação de renda. Também verifica-se que alguns
municípios possuem considerável concentração dos residentes na zona rural, fortificando a
mão de obra para as atividades ligadas a agropecuária.
Os municípios em sua maioria apresentam IDH alto, com exceção de São Lourenço do
Sul, o que se justifica pelo fato da localização do município no sul do estado. Já quanto ao
Índice de Gini, os municípios estudados apresentam índices semelhantes. Ainda, a economia é
relacionada na atividade pecuária, porém, nos últimos anos as atividades se tornaram
diversificadas, estimulando a economia e a composição do PIB. Atualmente destacam-se o
setor de serviços, seguido pela agropecuária e indústria. O estudo foi limitado quanto ao
período de tempo estudado, e aos índices abordados, para estudos futuros sugere-se a
ampliação dos fatores considerados e da evolução deles.
REFERÊNCIAS
BREITENBACH, R.; SOUZA, R. S.; Caracterização de Mercado e Estrutura de
Governança na Cadeia Produtiva do Leite na Região Noroeste do Rio Grande Do Sul.
Organizações Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 13, n. 1, p. 77-92, 2011.
CASALI, M. S. O sistema agroindustrial do leite do Rio Grande do Sul e a estrutura de
governança nas transações com leite em Cruz Alta – RS. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Sociais e Humanas, Programa de
Pós-Graduação em Administração, RS, 2012.
DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA DO SUS – DATASUS. Índice de Gini Da Renda
Domiciliar per capita - Rio Grande do Sul. Brasília, 2015. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ibge/censo/cnv/ginirs.def>. Acesso em: 20 set. 2015.
FINAMORE, E. B.; MAROSO, M. T. D. A dinâmica da cadeia de lácteos gaúcha no
período de 1990 a 2003: um enfoque no Corede Nordeste. Disponível em:
http://www.fee.tche.br/3eeg/Artigos/m01t01.pdf. Acesso em: ago. 2009.
FRIEDRICH, D. N. Análise do emprego setorial no Rio Grande do Sul baseado no
modelo insumo produto. Porto Alegre, 2002. Dissertação (Mestrado em Economia) –
UFRGS.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER –
FEE. PIB Municipal – Série Histórica com informações municipais (1999-2012). Porto
Alegre, 2015a. Disponível em: <http://www.fee.rs.gov.br/wpcontent/uploads/2014/12/20141219pib-municipal-serie-historica-1999-2012.xls>. Acesso em:
24 set. 2015.
13
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER –
FEE. Valor Adicionado Bruto da Agropecuária 1998/2012. Porto Alegre, 2015b.
Disponível em: < http://www.fee.rs.gov.br/index.php?page_id=1218&id=1757&serie=19851998&titulo=Valor%20Adicionado%20Bruto%20da%20Agropecu%C3%A1ria>. Acesso em:
24 set. 2015.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER –
FEE. Valor Adicionado Bruto da Indústria 1998/2012. Porto Alegre, 2015c. Disponível
em: < http://www.fee.rs.gov.br/indicadores/pib-rs/municipal/seriehistorica/vab/?id=1758&serie=19851998&titulo=Valor%20Adicionado%20Bruto%20da%20Ind%C3%BAstria>. Acesso em: 24
set. 2015.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER –
FEE. Valor Adicionado Bruto do Total dos Serviços 1998/2012. Porto Alegre, 2015d.
Disponível em: < http://www.fee.rs.gov.br/indicadores/pib-rs/municipal/seriehistorica/vab/?id=1760&serie=19851998&titulo=Valor%20Adicionado%20Bruto%20do%20Total%20dos%20Servi%C3%A7os>
. Acesso em: 24 set. 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo
Agropecuário 2006. Rio de Janeiro, 2015b. Disponível em: <
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ca/default.asp?o=2&i=P>. Acesso em: 20 set.
2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo
Demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2015d. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/cd/defaultcd2010.asp?o=4&i=P>. Acesso em: 20 set. 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades. Rio de
Janeiro, 2015c. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>. Acesso
em: 20 set. 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa
Pecuária Municipal - 2013. Rio de Janeiro, 2015a. Disponível em: <
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ppm/default.asp>. Acesso em: 20 set. 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Sistema de
Contas Nacionais. Rio de Janeiro, 2015e. Disponível em:
<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=ST44>. Acesso em: 24 set. 2015.
LIMA, G.G.; LUCCA, E.J.; TRENNEPHL, D. Expansão da cadeia produtiva do leite e seu
potencial de impacto no desenvolvimento da região Noroeste do Rio Grande do Sul. In:
Anais Eletrônicos, 7º Encontro de Economia Gaúcha, PUC – RS. Porto Alegre, 2014.
MARASCHIN, A. F. As Relações Entre Produtores de Leite e Cooperativas : Um Estudo
de Caso Na Bacia Leiteira de Santa Rosa-RS. Faculdade de Ciências Econômicas. Rio
Grande do Sul: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2004.
14
MARION FILHO, P.J.; REICHERT, H.; SHUMACHER, G. A Pecuária No Rio Grande Do
Sul: A Origem, A Evolução Recente Dos Rebanhos E A Produção De Leite. In: Anais
eletrônicos. 7º Encontro de Economia Gaúcha, PUC – RS. Porto Alegre, 2014.
MENEZES, G.; FEIJÓ, F. T. O contraste econômico entre as metades Sul e Norte do Rio
Grande do Sul: uma aplicação do modelo da base econômica. In: ENCONTRO DE
ECONOMIA GAÚCHA, 4, 2008, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: FEE, 2008. Disponível
em:<http://www.fee.tche.br/4-encontro-economia-gaucha/trabalhos/localizacao-sessao53.doc>. Acesso em: 26 set. 2015.
MILANI, R.; SPANEVELLO, R.S.; LAGO, A.; ZORZI, A.M. diversificação e perspectivas
de investimentos entre produtores de leite. IN: ENCONTRO DE ECONOMIA GAÚCHA,
2014, Porto Alegre. Anais... PUC-RS.
OLIVEIRA, A. de. O padrão tecnológico na produção de leite e o desenvolvimento rural:
uma análise baseada nos sistemas de produção do município de Ijuí (RS). 2010. 137p.
Dissertação (Mestrado). Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
– UNIJUÍ, Ijuí, 2010.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD. Atlas de
Desenvolvimento Humano. 2000. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/>. Acesso
em: 22 set. 2015.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD.
Ranking IDHM Municípios 2010. Brasília, 2015. Disponível em: <
http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDHM-Municipios-2010.aspx>. Acesso em:
20 set. 2015.
RICHARDSON, Roberto. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
1999.
TRICHES, E. Importância da atividade leiteira na agricultura familiar e uma análise na
Propriedade Ghion – Marau- RS. 2011. 63 p. Trabalho de Conclusão (Graduação).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, 2011.
15
Download

Caracterização produtiva e socioeconômica de municípios