A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM GUABIRUBA – SC
Fabiola Hermes Chesani1, Silvia Luci de Almeidias2, Daiane Fucks3, Raquel Pereira Jung4, Juliana
Elisa Buttendorff5
1
Universidade do Vale do Itajaí- Centro da Saúde-Curso de Fisioterapia-R. Uruguai,458-Centro-ItajaíCep88302-200 [email protected],
2
Universidade do Vale do Itajaí- Centro da Saúde-Curso de Fisioterapia-R. Uruguai,458-Centro-ItajaíCep88302-200 [email protected]
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Universidade do Vale do Itajaí- Centro da Saúde-Curso de Fisioterapia-R. Uruguai,458-Centro-ItajaíCep88302-200
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Universidade do Vale do Itajaí- Centro da Saúde-Curso de Fisioterapia-R. Uruguai,458-Centro-ItajaíCep88302-200 [email protected]
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Universidade do Vale do Itajaí- Centro da Saúde-Curso de Fisioterapia-R. Uruguai,458-Centro-ItajaíCep88302-200, [email protected]
Resumo: Ao longo da história o objetivo da clínica médica tem sido a doença em sua dimensão individual,
um modelo assistencial de forma curativa, hospitalocêntrica, fragmentado. A partir Movimento pela Reforma
Sanitária no Brasil a concepção de saúde muda para o da promoção á saúde ou a atenção primária. Este
trabalho propõe ao fisioterapeuta desenvolver ações educativas e preventivas voltadas para a comunidade
promovendo impacto na saúde da população. Desta ação comunitária 254 pessoas entre 5 a 70 anos na
cidade de Guabiruba-SC. As orientações mais informadas foram: o peso individual das mochilas das
crianças, orientações posturais, após exercícios respiratórios e de higiene brônquica, exercícios de
alongamento e relaxamento para a coluna e por último esclarecimento sobre a atuação da fisioterapia.A
ação comunitária foi muito válida em vários aspectos, na inserção da fisioterapia no sistema de atenção
básica, na redução dos fatores de risco, na diminuição de incidências, na melhora da qualidade de vida e
condições de bem-estar e na redução dos gastos em medicamentos e hospitalizações.
Palavras-chave: fisioterapia, atenção primária, ação comunitária.
Área do Conhecimento: Ciências da Saúde
Introdução
Ao longo da história o objetivo da clínica
médica tem sido a doença em sua dimensão
individual. Pois a formação tradicional toma o
saber como algo fragmentado, hierarquizado,
desembocando numa atuação técnico-reparadora,
compartimentada, que alija os usuários, as
famílias e populações da participação no seu
processo de saúde-doença [1].
O Movimento pela Reforma Sanitária no Brasil,
que se inicia no final dos anos 70, foi emblemático
na construção de um novo olhar sobre a
concepção de saúde e as políticas de saúde em
nosso país. A expressão legal dessas mudanças
se concretiza através da garantia da saúde como
direito universal e dever do estado, na constituição
de 1988. A concepção de saúde que permeia a
reforma sanitária é entendida como um processo
ligado às condições de vida. A partir deste
entendimento faz-se necessário uma mudança na
ótica das políticas de saúde até então vigentes,
que privilegiavam um modelo assistencial de
cunho curativo, hospitalecêntrico, fragmentado e
de baixa resolutividade, para o da promoção á
saúde ou a atenção primária [2].
Com
esta
nova
concepção
a
interdisciplinaridade torna-se fator importantíssimo
nas intervenções, visto que a complexidade das
causas de morbimortalidade não podem ser vistas
somente pelo ângulo de um ou dois profissionais
da saúde, então novas áreas da saúde passam a
engajar –se no programa de atenção primária. Em
2002 a legislação do Estatuto do Profissional
Sanitarista determina que a equipe de atenção
primária deve ter um fisioterapeuta. A fisioterapia é
a ciência do movimento em todas as suas formas
de expressão e potencialidades, visando o
restabelecimento máximo da capacidade funcional
do indivíduo. O fisioterapeuta é o profissional que
cuida da saúde da população com ênfase no
movimento e na função, prevenindo, educando,
tratando e recuperando disfunções para a
melhoria da qualidade de vida do indivíduo [3].
Historicamente a fisioterapia tinha suas ações
voltadas quase que exclusivamente para o
tratamento e reabilitação, tendo a doença como
enfoque principal. A partir da nova concepção de
saúde enquanto qualidade de vida e não mais
restrita a ausência de doença, o fisioterapeuta
inseriu-se no sistema de atenção básica numa
nova perspectiva de atuação na promoção da
saúde e prevenção de doenças e não só no
tratamento e reabilitação. Esta formação permite
aos profissionais ampliar seu olhar, seus saberes
e suas práticas para as necessidades da
IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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comunidade [4]. Este trabalho propõe ao
fisioterapeuta desenvolver ações educativas e
preventivas voltadas para a comunidade
promovendo impacto na saúde da população.
Materiais e Métodos
O presente estudo foi realizado na cidade de
Guabiruba – SC, no dia três de agosto de 2005.
Ocorreu no período matutino e vespertino. A
cidade é composta atualmente por 12.000
habitantes, e com predomínio da cultura
germânica. Cujas principais atividades econômicas
são as: facções, confecções, malharias, tinturarias
tecelagens e outras.
Na ação comunitária participaram vários
profissionais da área da saúde, como: orientações
odontológicas, psicológicas, fonoaudiológicas,
farmacêuticas, médicas, enfermagem, assistência
social e fisioterapeutica. Exames de visão,
audição, pressão arterial e glicemia também foram
oferecidas a população, assim como outras
atividades.
Na
fisioterapia
participaram
duas
profissionais.Todas as pessoas que participaram
das orientações fisioterapêuticas assinaram a
presença. A orientação exposta à população foi de
um folheto explicativo sobre as posturas corretas
adotadas no cotidiano, como: a forma de dormir,
carregar objetos, levantar objetos do chão, sentar,
levantar, calçar um sapato, colocar calças, varrer,
capinar; explicação verbal sobre o peso das
mochilas das crianças e a maneira correta de
carregá-las; exercícios de alongamento e
relaxamento para a coluna; orientação para a
população sobre exercícios respiratórios e formas
de higiene brônquica; orientações sobre o controle
ambiental, principalmente a fibra do algodão que é
a maior causadora de asma e rinite da região.E
também esclarecimento sobre o que vem ser a
fisioterapia, locais de atuação do profissional; e
para finalizar encaminhamentos para as clínicas
de referencia no município das pessoas que
necessitam de atendimento diário e de outros
recursos não disponíveis da ação. Os critérios de
exclusão
foram
às
pessoas
que
não
compreendiam a língua portuguesa.
Resultados
Participaram deste estudo 254 pessoas de
ambos os sexos e na faixa etária de 5 a 70
anos.Houve apenas um excluído porque falava
somente em alemão e não havia ninguém para
interpretá-lo.
Desses 254 participantes 188 eram do ensino
básico e fundamental. Os outros 65 eram adultos e
idosos.
As orientações mais informadas foram: em
primeiro lugar orientações sobre o peso individual
das mochilas, aonde as crianças vinham
espontaneamente perguntar até quantos kilos
poderiam carregar na mochila, em segundo lugar
orientações posturais do cotidiano, após exercícios
respiratórios e de higiene brônquica, exercícios de
alongamento e relaxamento para a coluna e por
último esclarecimento sobre a atuação da
fisioterapia. Houve somente 2 encaminhamentos
para atendimento em clínicas.
Discussão
Pouca coisa tem sido feita para enfrentar os
determinantes socioeconômicos, políticos e
culturais da doença, e como os investimentos em
saúde têm sido prioritariamente em assistência, os
gastos em saúde não têm revertido na melhoria
dessas condições.Várias pesquisas vêm sendo
feitas no Canadá e nos Estados Unidos e
comprovam isto, pois o Canadá gasta menos com
assistência que os Estados Unidos e investe mais
com ações para a melhoria da qualidade de vida,
tem tido melhores resultados que o seu país
vizinho [5].
A promoção da saúde e a prevenção de
doenças são enfoques complementares no
processo saúde-doença no plano coletivo. A
promoção da saúde busca modificar as condições
de vida para que sejam dignas e adequadas;
aponta para tomada de decisões para que sejam
predominantemente favoráveis à qualidade de
vida e á saúde; e orienta-se ao conjunto de ações
coletivas que possam favorecer a saúde e a
melhoria das condições de bem-estar. Já a
prevenção seu foco é a doença e os mecanismos
para atacá-la mediante o impacto sobre os fatores
mais íntimos que a geram ou precipitam [6].
A Carta de Otawa é um termo de referencia
básico e fundamental no desenvolvimento das
idéias de promoção de saúde em todo o mundo. A
Carta de Otawa define promoção de saúde como
o processo de capacitação da comunidade de
atuar na melhoria da sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação no
controle deste processo. Ainda assume que a
equidade em saúde é um dos focos da promoção
da saúde, cujas ações objetivam reduzir as
diferenças no estado de saúde da população e no
acesso a recursos diversos para uma vida mais
saudável. O documento aponta que os requisitos e
condições para a saúde são: educação, habitação,
alimentação, renda, ecossistema favorável,
recursos sustentável, justiça social e equidade [7].
Desde o início do século passado o
conhecimento científico está em constante
modificação. Em todas as ciências ocorrem
significativas
mudanças
e
rupturas
epistemológicas. A reabilitação é um processo de
tratamento no qual pode e deve atuar uma equipe
interdisciplinar e intersetorial, visando integrar o
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V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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indivíduo de forma atuante na sociedade. Assim é
necessário quebrar o paradigma do fisioterapeuta
ser um profissional reabilitador. No novo modelo
de fisioterapia, o profissional pode atuar em uma
equipe de reabilitação, mas jamais se limite a esta
atuação. É necessário que os profissionais
revejam seus papéis, seu objetivo e construam
uma nova práxis dentro do modelo de atenção á
saúde, um modelo mais humano, mais sistêmico,
mais condizente com as mudanças existentes no
país [8].
Através da construção desta nova práxis a
fisioterapia na ação comunitária de saúde enfocou
as orientações posturais, pois cerca de 80% das
pessoas civilizadas em todo o mundo tem ou
tiveram problemas de coluna. Isso se sucede
porque as pessoas passam a maior tempo em
máquinas, sentadas em posição incorretas,
levantando peso de modo inadequado ou
produzindo torções no tronco ou na cabeça
durante o expediente de trabalho muitas horas por
dia, durante muitas semanas, meses e anos [9].
Outros enfoques foram às orientações de algumas
técnicas e aparelhos de fisioterapia respiratória
com as pessoas com disfunções do sistema
respiratório, no aspecto de limpeza das vias
aéreas, padrões ventilatórios seletivos e
movimento respiratório diafragmático [10]. Estas
orientações ocorreram porque a principal atividade
econômica da cidade é a têxtil e as vias aéreas
são acometidas por infecções recorrentes devido à
inalação do pó eliminado pela fibra do algodão e
ao posicionamento adotado durante as atividades
nas máquinas têxteis.
A educação sanitária estabelece alguns
postulados que podem orientar a educação
sanitária com a finalidade de fomentar a
participação comunitária. Propõe dois princípios
básicos: é necessário conhecer o ser humano que
se expressa através de duas premissas: só
conhecendo o indivíduo e suas circunstancias é
possível uma ação eficiente e permanente em
saúde; e ninguém pode cuidar da saúde de outro
se este não quiser fazer por si mesmo [11].
Portanto é necessário conhecer a comunidade
onde se realizam as ações, suas crenças, seus
hábitos e papéis e suas circunstancias, ou seja, as
condições objetivas da situação atual que as
pessoas vivem.
Conclusão
Como o fisioterapeuta inseriu-se nesta nova
concepção de saúde a sua atuação deve ser
voltada para a prevenção e promoção da saúde e
não só no tratamento e reabilitação. Embora esta
premissa não revele a realidade nacional, casos
pontuais estão desenvolvendo ações direcionadas
para a atenção primária da população. Está
inserção está em construção com o apoio dos
gestores locais de saúde. Conseqüentemente
cada vez mais o fisioterapeuta conquista seu
espaço, tornando a fisioterapia mais acessível
para a população e colaborando para uma
assistência á saúde integral. Portanto esta ação
comunitária foi muito válida em vários aspectos, na
inserção da fisioterapia no sistema de atenção
básica, na redução dos fatores de risco ou fatores
causais de enfermidades específicas ou grupos de
enfermidades, na diminuição de incidências, na
melhora da qualidade de vida e condições de
bem-estar e na redução dos gastos em
medicamentos e hospitalizações.
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