VI Encontro Nacional da Anppas
18 a 21 de setembro de 2012
Belém – PA – Brasil
Capitalismo e ambiente: o mini-ciclo do aquecimento global
de 2006-2009 dentro da crise socioambiental em curso desde
os anos 1970
Guilherme Vieira Dias(IFF)
Sociólogo, Geógrafo, Mestre em Ciência Ambiental, professor de sociologia e da pós-graduação
em Educação do Campo, IFF
[email protected]
José Glauco Ribeiro Tostes(UENF)
Químico, Doutor em Química, professor titular do Centro de Ciências e Tecnologias-UENF
[email protected]
Marcelo Silva Sthel(UENF)
Físico, Doutor em Física, professor do CCT-UENF
[email protected]
Erminda da Conceição Guerreiro Couto(UESC)
Bióloga, Doutora em Zoologia, professora da UESC
[email protected]
O tema do presente trabalho é a análise do mini-ciclo do aquecimento global de 2006-2009 dentro da
crise socioambiental em curso desde os anos 1970. Há cerca de quarenta anos nasceu e se desenvolveu
- atingindo hoje dimensões planetárias – o "problema ou crise ambiental". Os países capitalistas centrais
ou "ricos" (a locomotiva do sistema mundial capitalista) mercê de um monumental desenvolvimento
econômico têm, reconhecidamente, um peso forte nas contribuições antrópicas de geração/ampliação
crescente do problema. Esse mesmo problema só pode ser entendido nos seus contornos atuais se
inserido numa matriz histórica maior: a trajetória de longo curso do sistema capitalista no século XX,
particularmente em suas duas grandes inflexões político-econômicas e respectivos desdobramentos: a)
a primeira inflexão se dá na crise de 29 com desdobramentos de seu enfrentamento que vão até fim dos
anos 1960, varrendo um período de cerca de 40 anos; b) a segunda a partir da nova crise nos anos 1970
(marcada pelo declínio do "Estado do Bem Estar Social" no Primeiro Mundo), de natureza
crescentemente socioambiental que se desdobra até os dias de hoje (trabalhamos recentemente –
Tostes, 2007; Dias, 2009; Dias, Tostes e Sthel,2011 – com essa última crise em termos de teorias
sistêmicas utilizadas por Wallerstein e Mészáros), novamente varrendo cerca de 40 anos. Pois bem, na
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parte final deste segundo segmento (b), é que se desdobra, na trajetória do sistema capitalista, o que
conjecturamos ser um "mini-ciclo do aquecimento global" (existem, além deste problema, ao menos
oito grandes problemas ambientais globais - Rockstrom, 2009). A hipótese central do trabalho é a
existência e desdobramentos do mini-ciclo do aquecimento global 2006-2009. Tal mini-ciclo insere-se na
crise socioambiental em curso desde os anos 1970 no sistema mundial capitalista. Metodologicamente,
partimos de duas unidades de análise (crítica) semelhantes, isto é, do sistema-mundo capitalista de
Wallerstein (com cerca de 500 anos de trajetória “completa”) e do sistema do capital de Mészáros (com
trajetória milenar, com ênfase no trecho capitalista), que integram, ambos os sistemas, a ciência da
complexidade de Prigogine. Selecionamos, para nossos objetivos de análise, o trecho histórico longo de
1929-2009 da trajetória sistêmica do capitalismo ao longo do século XX. Cremos que tal trecho forma
uma unidade coerente e bem delimitada historicamente em relação à emergência e desdobramentos do
que se denomina hoje de “crise ambiental”. Dentro de tal trecho maior, selecionamos dois intervalos
sucessivos, de cerca de 40 anos cada um: a) 1930-1970; b) 1970-2010. Finalmente, partindo do trecho
de 80 anos, selecionou-se um curto período histórico daquela trajetória sistêmica maior (mini-ciclo
2006-2009, subdividido em “fase ascendente”, 2006-2007, e “fase descendente”, 2008-2009), com um
exercício adicional de projeção de futuras tendências de retomada daquela “fase ascendente” até 2013.
Em termos de resultados do presente trabalho, destacamos de modo resumido que durante o biênio
2006-2007 o ambiente começou a ganhar um lugar central na agenda dos governos dos países
capitalistas "ricos" por meio do debate em torno do aquecimento global antrópico e dos Gases do Efeito
Estufa (GEE). Os governos de tais países começaram a reconhecer publicamente a possibilidade de
ocorrência de problemas econômicos graves na esfera produtiva do sistema capitalista advindos de tal
aquecimento global e a consequente necessidade de pesados investimentos (seria uma real
internalização dos custos ambientais provocados por tal sistema) para ao menos amenizar seus efeitos
economicamente deletérios. Eis alguns dos múltiplos indicadores desta fase ascendente do mini-ciclo: a
"conversão" do governo Bush a preocupações ambientais em 2006; o lançamento, na "hora certa", do
livro/filme "Uma Verdade Inconveniente" do ex-vice presidente Al Gore em meados 2006; o lançamento
do Relatório Stern (encomendado pelo governo britânico) no final de 2006; o IV Relatório do IPCC
(Painel inter-governamental de mudanças climáticas da ONU) ao longo de todo o primeiro semestre de
2007. Já no biênio 2008-2009 entramos na fase descendente do mini-ciclo com um crescente
"esquecimento" daqueles problemas do aquecimento global, uma vez que o enfrentamento da chamada
"crise financeira global" passou a dominar a agenda político-econômica dos "ricos" e dos grandes
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"emergentes” (BRIC's). O caso brasileiro é exemplar, com o fim da "Era Marina da Silva" (não por
coincidência) em maio de 2008. Em termos de reflexões sobre os resultados e como estímulo ao debate,
pode-se conjecturar sobre as parcas chances de retomada de algo parecido com a fase ascendente do
mencionado mini-ciclo em futuro próximo. Para 2012, entre outras coisas, as indicações mais prováveis
apontam para a derrocada, antes mesmo de 2013, do Protocolo de Kyoto. Assim, além da provável
entrada em 2013 sem acordos deste tipo acerca de limitações de GEE, teremos o V Relatório do IPCC.
Este último poderá ser um fator não de todo desprezível na mobilização de movimentos sociais em prol
da questão ambiental em 2013.
Referências
DIAS, G.V. Capital, complexidade e ambiente: um estudo da crise crescentemente socioambiental do
sistema capitalista (1929-2013). Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, UFF,
2009.
DIAS, G.V.; TOSTES, J.G.R.; STHEL, M.S. Crise estrutural do capitalismo nas análises sistêmicoprigogineanas de Immanuel Wallerstein e de István Mészáros: crise inexoravelmente terminal?
Comunicação. V Colóquio Brasileiro de Economia Política dos Sistemas-Mundo, Unicamp, 2011.
ROCKSTROM, J. (et.al.). A safe operating space for humanity. Nature, 2009.
TOSTES, J.G.R. Crise no capitalismo e ciência da complexidade. In: V COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E
ENGELS (CEMARX), 5º, Comunicação. Campinas: Universidade de Campinas (Unicamp), 2007. DVD.
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