I Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos de Animais
Uso dos Resíduos da Produção Animal como Fertilizante
11 a 13 de Março de 2009 – Florianópolis, SC – Brasil
EFEITO DO ESTERCO DE AVE POEDEIRA NO RENDIMENTO
DE GRÃOS DE TRIGO1
Figueroa, E.A.2; Escosteguy, P.A.V.3; Wiethölter, S.4
1
Trabalho realizado com apoio da Fapergs (Processo nº 0614463).
Pesquisador do INTA, Corrientes, Argentina, Mestrando em Produção Vegetal, Programa de PósGraduação em Agronomia (PPGAgro), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV),
Universidade de Passo Fundo (UPF), Br 285 Km 171, 99001-970, Passo Fundo-RS Brasil,
[email protected]
3
Professor do PPGAgro, FAMV, UPF, [email protected]
4
Pesquisador da Embrapa Trigo,Br 285 Km 294, 99001-970, Passo Fundo-RS,
[email protected]
2
Resumo
O uso do esterco de ave poedeira como fertilizante, em culturas produtoras de
grãos, como o trigo, tem sido crescente nas lavouras do Planalto do RS, embora
existam poucas informações sobre o efeito desse material nesta cultura. O objetivo
deste trabalho foi o de avaliar o efeito da aplicação do esterco de ave poedeira, em
quantidades equivalentes a: 2,8; 4,2; 5,6 e 11,2 t ha-1, sobre o rendimento de grãos
de trigo. O efeito destes tratamentos em fornecer nitrogênio foi comparado com o
fornecimento desse nutriente pela uréia e pelo solo testemunha (Sem fertilizante
nitrogenado). O experimento foi conduzido em um Latossolo Vermelho, em Passo
Fundo, RS. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro
repetições. Foi avaliado o rendimento de grãos e os componentes de rendimento da
cultura de trigo. Houve pouca diferença entre as quantidades aplicadas de esterco
sobre o rendimento de grãos. O componente do rendimento que mais contribuiu
para aumento do rendimento de grãos foi o número de grãos por espiga. A eficiência
do esterco de aves em proporcionar aumento do rendimento de grãos de trigo
decresceu com a aplicação das maiores doses deste material. A maior eficiência do
esterco em fornecer nitrogênio ao trigo foi verificada na dose de 2,8 t ha-1, sendo
esta eficiência equiparada a da uréia.
Palavras-chave: adubação, fertilizante orgânico, nitrogênio, resíduos animais.
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EFFECT OF POULTRY MANURE ON GRAIN YIELD OF WHEAT
Abstract
The utilization of poultry manure as fertilizer on grain crop such as wheat, has
increased in farms of Planalto region, located in Rio Grande do Sul state, although
there is little information about the effect of this material on this crop. The objective of
this study was to evaluate the effect of poultry manure application on the follow rates:
2.8, 4.2, 5.6, and 11.2 t ha-1, on the wheat grain yield. The effect of these treatments
as nitrogen source was compared to urea, besides a control (soil with no nitrogen
fertilizer). The experiment was carried out on a Red Latosol (Typic Haplortox), in
Passo Fundo, RS, Brazil. A completely randomized block design was used, with four
replications. Grain yield and yield components were evaluated. There was little
difference among the amounts of poultry manure applied as far as the grain yield.
The higher efficiency of poultry manure as far as the increase on wheat grain yields
was observed with the rate of 2.8 t ha-1, in relation to this nutrient supplied by urea.
The number of grains per spike was the yield component that influenced the most the
increase of grain yield. The efficiency of poultry manure to increase the wheat grain
yield tends to decrease with larger rates applied of this material.
Key-words: fertilization, organic fertilizer, nitrogen, animal waste.
Introdução
O uso de fertilizantes orgânicos tem aumentado nas lavouras do Rio Grande
do Sul (RS), em particular nas culturas de grãos, destacando-se o esterco de ave
poedeira. Atualmente, a avicultura, em particular a de postura, está em expansão no
RS. Segundo Moreng & Avens (1990), 100.000 poedeiras geram 12 t dia-1 de
esterco, sendo que o destino deste considerado um dos fatores que limitam a
expansão desta atividade, quando ela é realizada de forma intensiva. Por outro lado,
este esterco, assim como outro fertilizante orgânico, pode contribuir para o aumento
de macronutrientes do solo, como o nitrogênio, o cálcio, o potássio e o fósforo, da
CTC, da inativação de elementos tóxicos, como o alumínio, da estabilização de
micronutrientes, como o ferro e o manganês; da estrutura do solo, propiciando maior
infiltração e retenção de água no solo, maior aeração e a atividade e diversidade
microbianas (Simonete, 2001; Ceretta et al., 2003; Rocha et al., 2004). Embora
estes efeitos tem sido observados quando estes fertilizantes são aplicados em
quantidades elevadas no solo, eles têm sido associados ao aumento da capacidade
produtiva do solo. Entre os diferentes tipos de esterco animal, o de aves poedeiras é
um dos que concentram nutrientes em maior quantidade, pois contém as dejeções
líquidas e sólidas misturadas, de galinhas alimentadas com ração contendo alto teor
de proteína. A soma dos teores de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) do
esterco dessas aves é duas a três vezes maiores que o encontrado nas dejeções de
mamíferos ou de outros animais (Kiehl, 1985). O N do esterco de aves é
considerado de fácil degradação, pois este material apresenta baixa C:N,
disponibilizando rapidamente o N, entre outros nutrientes. Devido à quantidade
gerada ser crescente no RS, o uso deste tipo de esterco, como fonte de nutriente às
plantas e como condicionador do solo, tem sido proposto como forma de descarte
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deste material. Por outro lado, este uso deve ser recomendado com critérios
técnicos, para que a adubação seja eficiente em termos agronômico e não cause
contaminação ambiental (CQFS-RS/SC, 2004). A quantidade de esterco e outros
resíduos orgânicos a ser adicionada em determinada área depende, entre outros
fatores, da composição de nutrientes e do teor de matéria orgânica dos referidos
resíduos, classe textural e nível de fertilidade do solo, exigências nutricionais da
cultura explorada e condições climáticas regionais (Durigon et al., 2002). No caso do
esterco de aves poedeiras, estes aspectos ainda não são conhecidos, sendo poucos
os estudos relacionados à determinação de dosagens adequadas de esterco de
aves, em culturas de grãos cultivadas no RS. O objetivo deste trabalho foi o de
avaliar o efeito de doses de esterco de aves poedeiras sobre o rendimento de grãos
de trigo.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na área experimental da Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, da Universidade de Passo Fundo, em Passo
Fundo, RS. O solo da área experimental é um Latossolo Vermelho distrófico típico,
textura argilosa, sem limitações químicas e físicas para o desenvolvimento de trigo.
O esterco foi gerado por aves poedeiras da raça Hy-line, criadas em sistema de
confinamento. Ele foi armazenado durante cinco dias, nas esteiras coletoras de
esterco, situadas dentro do aviário, antes do transporte até a UPF. Uma amostra de
7 L, composta de cinco subamostras, foi coletada de uma pilha deste material, logo
após que ele foi descarregado na área experimental. Para a determinação dos
teores de água e de matéria seca, a amostra de esterco foi secada a 65°C e a
105°C, respectivamente, em estufa com circulação de ar, até peso constante. Os
macronutrientes foram extraídos desse material por digestão com H2O2+H2SO4 e
mistura de digestão, sendo o nitrogênio (N) determinado pelo método semimicro
Kjeldahl; o P por colorimetria; o K por fotometria de chama e o Ca e o Mg por
espectrofotometria de absorção atômica (EAA). Os micronutrientes foram extraídos
com digestão nitroperclórica (HNO3+HClO4) e determinados por EAA. Os atributos
físico-químicos do esterco de ave poedeira, utilizado no experimento (base seca),
foram os seguintes: pH = 8,78; condutividade elétrica = 7,33 mS/cm, umidade (65
ºC) = 64,4%, umidade (105 ºC) = 67,5%, carbono orgânico = 29,3%, P2O5 total =
3,5%, K2O total = 2,0%, Mg total = 1,6%, Ca total = 6,5%, S total = 0,3%, N total =
6,9%, N mineral = 0,6%, Densidade = 0,85 kg/dm3 e relação C:N = 20:3.
O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições.
Os tratamentos testados consistiram em: 1) testemunha, sem adubação
nitrogenada, mas com aplicação de P, K, Ca, Mg e S em quantidades equivalentes
ao aplicado com 5,6 t/ha de esterco; 2) fertilizante mineral com NPK no sulco de
semeadura, mais Mg, Ca e S e uréia (60 kg N/ha), em cobertura; nas quantidades
equivalentes ao aplicado com 5,6 t/ha de esterco; 3) 2,8 t/ha de esterco; 4) 4,2 t/ha
de esterco; 5) 5,6 t/ha de esterco e 6) 11,2 t/ha de esterco. O esterco foi aplicado
manualmente, em área total, sobre a superfície do solo, um dia antes da semeadura.
As dimensões das parcelas do experimento foram: 6 m de comprimento por 2,25 m
de largura. A área útil de colheita correspondeu a 7,8 m2 (4 m x 1,95 m), sendo esta
efetuada de forma manual. O cultivar de trigo foi o BRS Camboatá, sendo ajustada a
densidade de plantas para 300 sementes aptas/m2. Para a determinação dos
componentes do rendimento de trigo, foram colhidas as plantas presentes em um
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metro linear, na linha central das parcelas. Após, determinou-se o número de
grãos/espiga e realizada a contagem do número de espigas. O número de grãos/m2
foi obtido com a multiplicação do número de grãos/espiga pelo número de
espigas/m2. O peso de mil grãos foi avaliado nas amostras colhidas e secadas a 65
ºC. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparação de
médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
O rendimento de grão de trigo variou pouco entre os tratamentos. Os
rendimentos obtidos com as duas menores doses de esterco: 2,8 e 4,2 t/ha (4.249 e
4.071 kg/ha, respectivamente) não diferiram dos obtidos com a aplicação de uréia
(4.129 kg/ha), mas todos estes tratamentos proporcionaram maior rendimento que o
observado no solo testemunha (3.196 kg/ha). Por outro lado, o rendimento de grãos
obtido nas maiores doses de esterco (>4,2 t/ha) não diferiu do obtido na testemunha
(Tabela 1). Possivelmente, a pouca diferença no rendimento de grãos obtidos com
os tratamentos testados deva-se a elevada fertilidade do solo da área experimental,
além deste estar sendo manejado há vários anos sob o sistema de plantio direto,
tendo sido escarificado um ano antes da implantação do experimento. Além disso,
as condições climáticas, principalmente, a distribuição de chuva foi favorável ao
desenvolvimento da cultura de milho.
Como no tratamento com 2,8 t/ha de esterco, o rendimento de grãos foi
semelhante ao obtido com a aplicação de uréia (Tabela 1), isso indica que 80 kg de
N total adicionados na forma de esterco proporcionaram o mesmo rendimento obtido
com 80 kg de N adicionado na forma de uréia. Assim, a eficiência deste tratamento
foi equivalente a eficiência da uréia e maior que a indicada nas recomendações
técnicas, para a cama de frango ou outros resíduos, que é de 50 %, no primeiro
cultivo (CQFS-RS/SC, 2004). Dessa forma, persistem dúvidas quanto ao índice de
eficiência do esterco de ave poedeira, pois o índice de 50 %, sugerido pela
pesquisa, para outros resíduos é menor que o índice de 100 % obtido neste
experimento.
Dos componentes do rendimento avaliados, o número de grãos por espiga foi
o que acompanhou a variação observada no rendimento de grão dos tratamentos
(Tabela 1). Esse componente é o mais influenciado pela adubação nitrogenada,
quando o N é aplicado entre as etapas iniciais até a expansão da sétima folha
(Bredemeier e Mundstock, 2001). Ao contrário do número de grãos por espiga, o
valor de PH foi maior nos grãos provenientes da parcela testemunha (Tabela 1).
Possivelmente, isso se deve ao menor número de grãos observado na testemunha,
pois isso possibilita maior aproveitamento ou redistribuição de fotoassimilados,
aumentando o PH dos grãos. Assim, nos tratamentos com esterco e com a
aplicação de uréia, os fotoassimilados foram destinados a formar mais afilhos ou
mais grãos por área, decrescendo o PH.
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Conclusões
Nas condições em que este trabalho foi realizado, o esterco de ave poedeira
promoveu o aumento do rendimento da cultura de trigo, sendo este maior com a
aplicação da dose equivalente a 2,8 t/ha de esterco.
Literatura Citada
BREDEMEIER, C.; MUNDSTOCK, C.M. Estádios fenológicos do trigo para a
adubação nitrogenada em cobertura. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, 25:317-323, 2001.
CERETTA, C.A.; DURIGON, R.; BASSO, C.J.; BARCELLOS, L.A.R. & VIEIRA,
F.C.B. Características químicas de solo sob aplicação de esterco líquido de suínos
em pastagem natural. Pesq. Agropec. Bras., 38:729-735, 2003.
CQFS-RS/SC. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO. Manual de
adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Porto Alegre, S. Bras. C. Solo, 400p. 2004.
DURIGON, R.; CERETTA, C.A.; BASSO, C.J.; BARCELLOS, L.A. R.; PAVINATO,
P.S. Produção de forragem em pastagem natural com o uso de esterco líquido de
suínos. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, 26:983-992, 2002.
KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. Agronômica Ceres, São Paulo, 492 p. 1985.
MORENG, R.E.; AVENS, J.S. Ciência e produção de aves, aquecimento, criação,
alojamento, equipamento e produção de aves. São Paulo: Roca p. 143-178. 1990.
ROCHA, G.N.; GONÇALVES, J.L.M. & MOURA, I.M. Mudanças da fertilidade do
solo e crescimento de um povoamento de Eucalyptus grandis fertilizado com
biossólido. R. Bras. Ci. Solo, 28:623-639, 2004.
SIMONETE, M.A. Alterações nas propriedades químicas de um Argissolo adubado
com lodo de esgoto e desenvolvimento e acúmulo de nutrientes em plantas de
milho. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 2001. 89p. (Tese
de Doutorado)
TEDESCO, M.J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C.A.; BOHNEN, H.E VOLKWEISS, S.J.
Análises de solo, plantas e outros materiais. 2ed. Porto Alegre, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 174p. (Boletim técnico 5), 1995.
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Tabela 1. Efeito de diferentes doses de esterco de ave poedeira no rendimento de grãos (RG), no
peso do hectolítrico (PH), no número de espigas por área (NEA), no peso de mil grãos
(PMG), e no número de grãos por espiga (NGE) de trigo.
Tratamento
Nitrogênio
1
RG, Trigo
...........kg/ha..............
PH
kg/hL
NA
Espiga/m
2
NGE
g/1000 grãos
ns
c
3.196 b
85,6 a
Uréia
80
4.129 a
83,4 bc
553
31,0
31
2,8 t/ha
80
4.248 a
82,8 c
523
31,5
31
4,2 t/ha
120
4.071 a
84,5 abc
451
29,6
29
5,6 t/ha
160
3.800 ab
85,2 ab
518
28,5
28
11,2 t/há
320
3.735 ab
84,6 ab
494
31,9
32
7,3
9,0
16,9
4,4
4,8
ns
33,4
ns
0
2
401
PMG
Testemunha
C.V. (%)
1
2
24
ab
ab
ab
b
a
N total. Umidade = 13 %. não sisgnificativo (P>0,05). Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem
significativamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
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