Interação Genótipo por Ambiente no Rendimento de Grãos de Linhagens Promissoras de
Feijoeiro do Grupo Comercial Branco
Luiz Fernando Nogueira1, Vânia Moda-Cirino2
Resumo
O Brasil destaca-se como o maior produtor e consumidor mundial de feijão. Entretanto a produção de
feijão do Grupo Comercial branco é inexpressiva no país, sendo que toda a demanda é suprida por intermédio
das importações provenientes da Argentina e China. O cultivo de feijão branco constitui-se em alternativa para
aumentar a renda obtida por pequenos produtores, uma vez que é comercializado por preço muito superior ao
tipo carioca. O presente estudo teve como objetivo avaliar a interação genótipo por ambiente para a
característica rendimento de grãos em linhagens de feijoeiro do Grupo branco, desenvolvidas pelo programa de
melhoramento do IAPAR ou introduzidas de outras instituições de pesquisa. Para tanto foi conduzido um ensaio
na safra das águas 2011/2012 nas Estações Experimentais do IAPAR em Londrina, Guarapuava e Lapa e na
seca 2012 nas Estações Experimentais de Guarapuava, Lapa e Ponta Grossa. O delineamento experimental
utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições e 20 tratamentos, constituídos por 17 linhagens e três
cultivares utilizadas como testemunhas: IPR Colibri, IPR Garça e BRS Radiante. As parcelas foram compostas
por quatro linhas de 4m espaçadas 0,45m, considerando-se as duas linhas centrais como parcela útil. Nos
estádios de desenvolvimento adequados foram efetuadas avaliações de ciclo, reação às doenças, hábito de
crescimento e rendimento total de grãos por parcelas. O padrão comercial dos grãos também foi avaliado, de
acordo com os parâmetros número de sementes em 100g e massa de 1000 sementes. As análises de variância
individual e conjunta para todos os caracteres avaliados revelaram diferenças significativas entre os genótipos
estudados. A interação genótipo por ambientes também foi significativa a 1% de probabilidade, indicando que
os genótipos testados variaram em suas adaptações aos diferentes ambientes. Os parâmetros genéticos estimados
revelaram a presença de variabilidade genética para rendimento de grãos, indicando situação favorável à
seleção de genótipos mais promissores. A linhagem LP06-30 do Grupo Comercial Carioca e as linhagens SEL.
Garça, LP05-07, LP05-08, LP05-17 e LP06-01 destacaram-se das demais por apresentarem rendimento médio
superior àa testemunha IPR Garça. As linhagens que se destacaram serão registradas no RNC/MAPA, e
indicadas para o cultivo no Estado.
Introdução
O Brasil é o maior produtor mundial de feijão, seguido pela Índia, China, Myanmar, México e Estados
Unidos. A produção de feijão branco no país é insignificante, sendo a demanda suprida por meio de importações
da Argentina e esporadicamente da China. O cultivo de feijão branco constitui uma alternativa para aumentar a
renda obtida por agricultores, uma vez que estes são comercializados por preços muito superiores ao tipo
carioca. Para exportação, o grão deverá ter características que atendam às exigências do mercado consumidor.
Assim para o tipo branco, existem três classes principais: Great Northern, White Kidney e Navy Beans. Este
último tipo possui mercado mais restrito, sendo consumido principalmente pelo Reino Unido. Os cinco maiores
importadores de feijão são Japão, EUA, Índia, Itália e Reino Unido, sendo que o Brasil ocupa 12ª posição neste
ranking (FAO, 2008). O estudo tevecomo objetivo estimar a variabilidade genética para as características
associadas ao ciclo da cultura, bem como avaliar a adaptabilidade e estabilidade fenotípica para o rendimento de
grãos em linhagens e cultivares de feijoeiro do Grupo Branco, desenvolvidas pelo programa de melhoramento
do Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR ou introduzidos de outras instituições de pesquisas. Os genótipos
superiores serão registrados no Serviço Nacional de Registro de Cultivares – SNRC/MAPA.
1
Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC/CNPq/IAPAR e Graduando em Agronomia, Universidade Estadual de Londrina – UEL, e mail: [email protected]
2
Pesquisadora na Área de Melhoramento e Genética Vegetal, Instituto Agronômico do Paraná –IAPAR, e -mail:
[email protected]
Material e Métodos
Um ensaio foi conduzido para determinação do valor de cultivo e uso – VCU do Grupo Branco de
feijoeiro, em seis municípios no estado do Paraná, sendo três na safra das águas 2011/2012, e três na safra da
seca 2012. Na safra das águas, os ensaios foram instalados na Área Experimental do IAPAR em Londrina, Lapa
e Guarapuava e na safra da seca em Guarapuava, Lapa e Ponta Grossa.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições e parcelas
constituídas de quatro linhas de 4m espaçadas 0,50m, com densidade de semeadura de 12 plantas por metro. As
duas linhas centrais foram consideradas parcela útil, descartando-se 0,5m de cada extremidade. Os tratamentos
foram compostos por 17 linhagens e três testemunhas, as cultivares BRS Radiante, IPR Garça e IPR Colibri.
Nos estádios de desenvolvimento adequados, em todos os locais, foram efetuadas as seguintes
avaliações: reação às doenças, hábito de crescimento e porte da planta e rendimento total das parcelas,
transformadas em kg ha-1 e corrigidas para 13% de umidade.
Após a obtenção dos dados efetuou-se as análises de variância individuais para cada local, bem como o
teste de agrupamento de médias proposto por Scott e Knott, (1974). Posteriormente efetuou-se a análise
conjunta de variância para todos os locais e a calculou-se a estimava da estabilidade e adaptabilidade fenotípica,
pelo método proposto por Eberhart e Russell (1966).
Também avaliou-se a massa de 1000 sementes, bem como o número de grãos presentes em 100g,
comparado com o padrão estabelecido para cada grupo comercial, sendo que os materiais que não atingiram
esses padrões foram descartados, uma vez que esta característica é essencial para a aceitação dos materiais no
mercado internacional.
Resultados e Discussão
A análise de variância conjunta, de acordo com Vencovsky (1969) para rendimento de grãos,
transformado para kg ha-1 e corrigido para 13% de umidade, revelou diferenças significativas ao nível de 1% de
probabilidade para genótipos, ambientes e para a interação genótipos por ambientes, indicando a presença de
variabilidade genética para rendimento de grãos entre as linhagens avaliadas, diferenças entre os ambientes
estudados, bem como comportamento diferencial das linhagens frente aos ambientes estudados, justificando
assim, um estudo mais detalhado desta interação. Observou-se que a estimativa do coeficiente de variação
experimental (Cve (%)) foi um pouco elevada (17,81%), provavelmente em decorrência do caráter rendimento
de grãos ser muito influenciado pelo ambiente. Em consequência, as estimativas do coeficiente de variação
genética (CVg (%)) e do índice B (%) não foram altas, mas o efeito de genótipos foi altamente significativo,
evidenciando a possibilidade de sucesso na seleção de linhagens promissoras para a características rendimento
de grãos.
As estimativas dos parâmetros de adaptabilidade e estabilidade fenotípica, de acordo com a metodologia
proposta por Eberhart e Russell (1966) (Tabela 1), mostraram que 55% das linhagens avaliadas apresentaram
adaptabilidade ampla, uma vez que os coeficientes de regressão estimados foram estatisticamente iguais a um
(β1i = 1), tendendo a responder satisfatoriamente, com produtividades na mesma intensidade que a variação do
ambientes. Quanto à estabilidade, 15% das linhagens avaliadas mostraram baixa estabilidade, desvios de
regressão estatisticamente diferentes de zero (δij ≠ 0), demonstrando baixa previsibilidade de comportamento. O
coeficiente de determinação (R2i) obtido para a maioria das linhagens apresentou valores superiores a 90%,
indicando a adequação do modelo linear para explicar o comportamento das linhagens aos diferentes ambientes
estudados.
A maior média para rendimento de grãos (Tabela 1) foi obtida pela linhagem LP06-30. As linhagens
SEL. Garça, LP05-07, LP05-08, LP05-17 e LP06-01 apresentaram rendimento acima da média das três
testemunhas. As linhagens LP05-07, LP05-08 e LP05-17 apresentaram ampla adaptabilidade, com coeficiente
de regressão estimado, estatisticamente igual a um (β1i = 1). Já a linhagem LP06-01 mostrou-se adaptada a
ambientes favoráveis, com coeficiente de regressão estimado, estatisticamente maior que um (β1i >1), indicando
que a mesma responde em produtividade na mesma intensidade em que ocorre a melhoria do ambiente. Mas as
linhagens mostraram baixa previsibilidade de comportamento, com desvio de regressão estatisticamente
diferente de zero (δij ≠ 0). As linhagens L05-07, LP05-08 e LP06-01 apresentam boa probabilidade de
futuramente serem registradas para cultivo como novas cultivares, pois apresentaram bom rendimento e grãos
XI Reunião Sul Brasileira de Feijão
Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento
Universidade Estadual de Maringá
Maringá, 24 e 25 de julho de 2012
que se enquadram dentro do padrão “Great Northern”, uma das classes de feijão branco mais valorizada no
mercado internacional.
Tabela 1. Estimativas dos parâmetros de adaptabilidade e estabilidade fenotípica para rendimento em (kg ha-1),
por meio do coeficiente de regressão (β1i) e dos desvios de regressão (δij) estimados segundo a metodologia de
Eberhart e Russel (1966), em linhagens de feijoeiro do Grupo Branco, cultivadas em seis ambientes no estado
do Paraná, na safra das águas de 2011/2012 e safra da seca de 2012.
Genótipo
BRS Radiante
IPR Garça
IPR Colibri
LP 06-30
SEL. Garça
Crambery
LP 05-01
LP 06-03
LP 05-06
LP 05-07
LP 05-08
LP 05-17
LP 06-01
LPSIA 04-114
LPSIA 09-07
LPSIA 09-10
LPSIA 09-12
LPSIA 09-37
LPSIA 09-38
LPSIA 09-46
Média (kg ha-1)
2436,87
2181,73
2203,09
2635,95
2367,49
2239,87
1925,39
1984,97
2237,51
2351,46
2301,08
2292,52
2305,84
2150,76
2198,79
1960,22
1764,29
1888,91
2045,81
1934,54
β1i1
1,09ns
1,12*
0,76*
0,94ns
0,95ns
1,00ns
0,98ns
1,03ns
1,17*
1,04ns
1,08ns
1,02ns
1,14*
1,01ns
0,97ns
1,06ns
0,89*
0,88*
0,94ns
0,87*
δij 2
ns
108.674,07
14.192,08ns
553.675,17++
234.135,06+
18.956,08ns
57.572,94ns
94.656,05ns
1.810,02ns
60.745,34ns
197.722,44+
7.943,11ns
1.943,49ns
47.672,07ns
14.477,90ns
18.418,34ns
13.836,53ns
1.186,27ns
11.838,61ns
30.354,63ns
15.573,89ns
R2i (%)
92,21
98,72
58,75
82,50
98,61
93,80
91,20
97,73
95,28
86,97
98,28
97,68
95,67
98,45
96,08
98,58
96,93
95,78
94,98
95,40
1
**,*; estatisticamente diferente de um, pelo teste t, a 1 e 5% de probabilidade, respectivamente2 ++,+; significativamente
diferente de zero, pelo teste F, a 1 e 5% de probabilidade e ns não estatisticamente diferente de zero pelo teste F, ao nível de 1%
de probabilidade.
Referências
EBERHART SA, RUSSELL WA (1966) Stability parameters for comparing varieties. Crop Science, 6: 36-40.
1966.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. Year Book. Dísponivel em: <http://www.fao.org> Acesso
em: 21 de junho 2008.
SCOTT AJ, KNOTT M (1974) Acluster analysis method for grouping means in the analyses of variance.
Biometrics, 30: 507-512, 1974.
VENCOVSKY R (1969) Genética Quantitativa. In: KERIR, W. E. (Org.) Melhoramento e Genética.
São Paulo: Melhoramentos, p.17-37
XI Reunião Sul Brasileira de Feijão
Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento
Universidade Estadual de Maringá
Maringá, 24 e 25 de julho de 2012
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