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A PROMESSA DE PESSACH
A baderna contemporânea e a memória do resgate milagroso.
por Sara Yoheved Rigler
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Hoje em dia, a única coisa que me impede de entrar em desespero é me lembrar do êxodo do Egito.
A “crise” financeira global (um eufemismo da realidade indescritível de “depressão”, como um estojo de violino ocultando uma
arma mortal) está atingindo cada vez mais pessoas a cada mês. Ela suprimiu 651.000 empregos apenas no último mês.
O caderno de economia do New York Times interpreta como um ponto de interseção entre uma história de terror e o
Nostredame do fim dos dias: “Nas indústrias principais – de produção, serviços de finanças e varejo – as demissões se
aceleraram tão rapidamente nos últimos meses, levando a crer que muitas empresas estão renunciando setores inteiros de
negócios. „Estes empregos não estão sendo restituídos,‟ diz John E. Silvia, o economista de Wachovia em Charlotte, Carolina
do Norte… „Haverão menos lojas, menos fábricas, menos operações financeiras...‟ O ritmo atual de declínio é estonteante,‟
disse Robert Barbera, economista da empresa de pesquisa e negócios ITG. „Agora nós estamos caindo, nos aproximando de
uma taxa recorde do período pós-guerra e não há mudança na trajetória decadente.‟
Desde que a “crise” começou, cerca de 4,4 milhões de americanos perderam os seus empregos. Famílias jovens que eu
conheço calcularam que possuem economias suficientes para sobreviver por mais dois meses. No final deste período, elas se
mudarão para a casa dos seus pais idosos, que pagarão as contas do mercado? Os jovens que se esforçaram muito para
entrar em boas universidades agora se dão conta que eles não têm dinheiro suficiente para pagar as suas mensalidades.
Alguns parentes meus, com sessenta e poucos anos e seus sonhos de uma pensão confortável garantida repentinamente
perderam dois terços do seu fundo de pensão. “Eu terei que trabalhar até os 100 anos,” um primo meu me escreveu,
lamentando-se.
Aqui em Israel, mesmo depois da guerra de janeiro, os terroristas em Gaza continuam a lançar projéteis e mísseis nas cidades
do sul de Israel, mandando crianças e adultos traumatizados correrem para abrigos contra bombas várias vezes por dia.
Enquanto isto, o Irã está reabastecendo a reserva de armamento do Hamas em Gaza e o estoque do Hizbollah no Líbano. Na
semana passada, a agência de imprensa informou que 50.000 mísseis são intencionados para nós, em Israel.
Como os nossos ancestrais acordavam de manhã para
enfrentar outro dia de escravidão?
Tudo isto, obviamente, é de menor importância comparado com o que o Irã tem reservado para nós: uma extinção nuclear. Ao
mesmo tempo que o governo em Teerã forja o seu programa nuclear (a notícia mais recente é que o Irã possui urânio
suficiente para fazer uma bomba nuclear) e o Ahmadinejad promete aniquilar o Estado Judaico, nós, judeus em Israel,
sabemos que os povos do mundo não irão nos resgatar.
Ainda assim, rodeada de problemas irresolúveis, eu sou salva a cada dia pela mitzvá de lembrar do êxodo do Egito. A
referência ao êxodo é incorporada na nossa reza matinal diário. Portanto, antes de ler as notícias diárias desastrosas, antes
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de rezar pelos filhos das mães judias mantidos como prisioneiros por anos ou décadas pelos nossos inimigos árabes, eu devo
recordar o êxodo do Egito.
Se a nossa situação atual parece ser desesperadora, e a deles? Como os nossos antepassados acordavam de manhã para
enfrentar outro dia de escravidão? Como eles aguentaram a tortura, a humilhação, a escravidão despropositada ano após ano,
geração após geração?
O caso deles era realmente perdido. Um escravo jamais fugia do Egito. E mesmo se um único escravo hebreu
engenhosamente tramasse uma fuga e fosse bem-sucedido em escapar sorrateiramente dos portões do Egito, o que o
esperava do outro lado? Nada além de deserto! Nenhuma maneira de se sustentar. Nenhuma forma de transportar água
suficiente para percorrer o deserto à pé. Não se podia nem sonhar em escapar.
O Egito de três milênios e meio atrás era um império de magnitude. Em termos de poder e riqueza, ele superava os Estados
Unidos de hoje. Os seus projetos de construção estavam entre as maravilhas do mundo.
Os judeus hoje em dia possuem algo que os nossos
ancestrais no Egito careciam: a memória da nossa
redenção milagrosa.
Se Israel hoje em dia, um estado soberano com o melhor exército do Oriente Médio teme tomar qualquer passo (mesmo para
a sua própria sobrevivência) desaprovado pelos Estados Unidos, imagine como os nossos ancestrais escravizados devem ter
estremecido pelo poderio egípcio. Resistir ao domínio do faraó? Ganhar a liberdade da escravidão através de qualquer recurso
– diplomático ou militar? Opor-se inclusive aos soldados do faraó quando eles se apoderaram do seu filho recém-nascido para
atirá-lo no Nilo? Salvar os seus filhos do açoite do tirano? Poupar o seu bebê de ser atirado no concreto para fazer os tijolos do
dia?
Desesperador. Totalmente desesperador.
E, ainda assim, nestas profundidades de sofrimento, nesta fossa sem saída surge o resgate. Ninguém poderia imaginar isto,
muito menos esperá-lo. Um povo que nasceu na escravidão e passou todas as suas vidas sem uma gota de esperança
escutaram este homem Moisés, recém-chegado de Midian, anunciar que o Deus dos seus antepassados os resgataria da
escravidão. Um ano depois, eles estavam saindo do Egito de cabeça erguida, com o seu olhar vitorioso sobre os seus
opressores, os seus asnos carregados e os seus corações confiantes que Deus os sustentaria no deserto e os traria para a
sua terra. Resgate total.
Nós, judeus contemporâneos, afundados em problemas com o Irã, prestes de atirar uma bomba nuclear, intimidados por
multidões de árabes ansiando pela nossa destruição, possuímos algo maravilhoso que os nossos ancestrais no Egito
careciam: a memória do resgate milagroso.
As rezas de Shabat de manhã expressam: “Eu os resgatarei no final como na primeira vez.” Neste Pessach, vamos nos
alegrar não só com o resgate do passado, mas também com a esperança do futuro.
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Como os nossos ancestrais acordavam de manhã para enfrentar