ANÁLISE DA RENOVABILIDADE DOS RECURSOS FÍSICOS DA TERRA NA
REGIÃO ADMINISTRATIVA DE ARAÇATUBA
José Antonio Alves Neto
Professor Mestre do CEFET-SP
José Aquiles Baesso Grimoni
Professor Doutor da USP
Miguel Edgar Morales Udaeta
Professor Doutor da USP
Raphael Bandini Miller
Professor da ETEC-GV
O objetivo deste trabalho é estudar e avaliar no escopo da economia da energia os recursos
físicos da terra na Região Administrativa de Araçatuba (RAA). Como resultado tem-se que o
esgotamento dos recursos da terra na RAA causará um grande impacto na economia local,
que está sustentada pela exploração dos recursos da terra, sendo destacada a geração de
energia elétrica. Desses resultados conclui-se que a RAA pode se transformar numa região
formal de desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave
PIR – Recursos naturais; desenvolvimento sustentável; RAA; planejamento energético.
The aim of this research is to study and evaluate, considering the economy of energy, the physical
resources of the land in the Administrative Region of Araçatuba (RAA).
The results show that there is an exhaustion of the resources of the land in the RAA, causing a great
impact in the local economy, since it is supported by the exploration of the resources of the land, specially
the electrical power generation.
From those results it is concluded that the RAA can be changed into a formal region of sustainable
development.
Key-words: PIR (Integrated Resources Planning), natural resources, sustainable development,
RAA (Araçatuba Administrative Region), energy planning.
1. Introdução
Dentro do atual panorama de uso
sustentável e racional dos recursos da terra, e
tendo como foco um planejamento integrado de
recursos (PIR), temos aqui definidos diversos
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aspectos que são de suma importância no PIR e
que nos dão alternativas de exploração racional
e aproveitamento máximo de recursos,
objetivando o melhor desenvolvimento regional
e incentivando, por meio de novas opções, novos
investimentos.
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Análise da renovabilidade dos recursos físicos da terra na Região Administrativa de Araçatuba
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1.1. Região Administrativa de Araçatuba
Desde 1970, por sucessivas leis estaduais,
foram criadas e alteradas regiões administrativas
e regiões de governo, estabelecidas com o
objetivo de centralizar as atividades das
secretarias estaduais. As regiões que são dividas
em administrativas e metropolitanas, são as
seguintes:
- REGIÕES METROPOLITANAS: RM São
Paulo, RM Baixada Santista e RM Campinas;
- REGIÕES ADMINISTRATIVAS: Registro,
São José dos Campos, Sorocaba, Campinas,
Ribeirão Preto, Bauru, São José do Rio Preto,
Araçatuba, Presidente Prudente, Marília, Central
(Araraquara e São Carlos), Barretos e Franca.
Nosso foco de estudo é a Região
Administrativa de Araçatuba, que é composta
pelos seguintes municípios: Alto Alegre,
Andradina, Araçatuba, Auriflama, Avanhandava,
Barbosa, Bento de Abreu, Bilac, Birigüi, Braúna,
Brejo Alegre, Buritama, Castilho, Clementina,
Coroados, Gabriel Monteiro, Gastão Vidigal,
General Salgado, Glicério, Guaraçaí,
Guararapes, Guzolândia, Ilha Solteira, Itapura,
Lavínia, Lourdes, Luiziânia, Mirandópolis,
Murutinga do Sul, Nova Castilho, Nova
Independência, Nova Lusitânia, Penápolis,
Pereira Barreto, Piacatu, Rubiácea, Santo
Antônio do Aracangua, Santópolis do Aguapeí,
São João de Iracema, Sud Menucci, Suzanópolis,
Turiuba, Valparaíso.
A Região Administrativa de Araçatuba é
composta por 43 municípios 1, que ocupam
23.952 km² do território paulista, e se caracteriza
pela grande extensão territorial e esparsa
ocupação populacional: sua densidade
demográfica é de apenas 37,9 habitantes por km²,
bastante inferior à densidade estadual, de 160,7
habitantes por km². Sua taxa de urbanização foi,
em 2005, de 92,37%, também inferior ao
conjunto do Estado, de 93,65%. A maioria dos
municípios tem características rurais e possui
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população inferior a 10 mil habitantes. Birigüi e
Araçatuba são os municípios mais dinâmicos e
apresentam a maior proporção de área urbana
densamente povoada, embora Araçatuba seja
o único com mais de 100 mil habitantes.
A base da economia regional é a
agropecuária. A região é o principal centro
estadual de comercialização de bovinos e vem
se configurando, ainda, como uma fronteira de
expansão do cultivo de cana-de-açúcar, no
Estado de São Paulo. Nos últimos anos, tem-se
constituído um centro de negócios do mercado
sucro-alcooleira, abrangendo uma área de
influência que inclui parte dos Estados de Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Paraná.
A indústria sucro-alcooleira está localizada
principalmente nas proximidades do Rio Tietê.
São também representativas as indústrias
frigoríficas, de massas e polpas de frutas, de
processamento de leite em pó, de curtimento de
couro, calçadistas, de desidratação de ovos,
entre outras, concentradas, particularmente, em
Araçatuba, Birigüi, Penápolis e Andradina.
1.2. Usos da terra
Como principal base para o mapeamento
e usos da terra da Região Administrativa de
Araçatuba, será usado, neste tópico, o Manual
Técnico de Uso da Terra do IGBE (2006),
que tem por objetivo traçar uma linha básica para
o desenvolvimento de pesquisas que têm
necessidade de garantir a sua sustentabilidade
diante das questões ambientais, sociais e
econômicas a ele relacionadas e trazidas à tona
no debate sobre o desenvolvimento sustentável.
Assim a concepção téorico-metodológica e seus
procedimentos concorrem para a produção de
informações necessárias ao tratamento das
questões dirigidas ao desenvolvimento
sustentável que emergem das análises das formas
de apropriação do espaço.
Assim, os seguintes tópicos referem-se
especialmente à definição das áreas e coberturas
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terrestres, que mais à frente servirão de base
estrutural para o restante do trabalho.
1.2.1. Áreas antrópicas não-agrícolas
Estão associados todos os tipos de uso
da terra de natureza não-agrícola, tais como:
áreas urbanizadas, industriais, comerciais, redes
de comunicação e áreas de extração mineral:
áreas urbanizadas, comercial e serviços;
transportes, comunicações e utilidades;
industrial, complexo industrial e comercial;
extração mineral.
1.2.2. Áreas antrópicas agrícolas
A terra agrícola pode ser definida como
terra utilizada para a produção de alimentos,
fibras e outras commodities do agronegócio.
Inclui todas as terras cultivadas, caracterizadas
pelo delineamento de áreas cultivadas ou em
descanso, podendo também compreender áreas
alagadas. Podem-se constituir em zonas agrícolas
heterogêneas ou representar extensas áreas de
“plantations”: lavoura temporária; lavouras
alimentares para subsistência; lavouras
alimentares para comercialização; lavoura
permanente; sistema agroflorestal (SAF);
pastagem plantada; pecuária; silvicultura;
reflorestamento.
1.2.4. Águas
Incluem todas as classes de águas interior
e costeira, como cursos d’água e canais (rios,
riachos, canais e outros corpos d’água lineares),
corpos d’água naturalmente fechados, sem
movimento (lagos naturais regulados) e
reservatórios artificiais (represamentos artificiais
d’água construídos para irrigação, controle de
enchentes, fornecimento de água e geração de
energia elétrica), além das lagoas costeiras ou
lagunas, estuários e baías: corpo d’água;
aquacultura ou aqüicultura; captação de água
para abastecimento doméstico; captação de água
para abastecimento industrial; captação de água
para abastecimento agrícola; lazer e desporto;
pesca de subsistência; pesca industrial costeira;
pesca amadora; receptor de efluentes; represas
ou reservatórios; represamento para geração de
energia; transporte.
2. Os usos da terra na RA de Araçatuba
Neste tópico, será feita uma breve pesquisa
dos principais usos da terra na RA de Araçatuba,
focando as principais atividades desenvolvidas
na região, para, em seguida, desenvolvermos uma
análise da renovabilidade dos recursos da terra.
2.1. Áreas antrópicas não-agrícolas na RA
de Araçatuba
1.2.3. Áreas de vegetação natural
A vegetação natural compreende um
conjunto de estruturas florestal e campestre,
abrangendo desde florestas e campos originais
(primários) e alterados, até formações florestais
espontâneas secundárias, arbustivas, herbáceas
e/ou gramíneo-lenhosas, em diversos estágios
sucessionais de desenvolvimento, distribuídos
por diferentes ambientes e situações geográficas:
florestal; extrativismo vegetal; unidades de
conservação; terras indígenas; campestre.
Sinergia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 55-63, jan./jun. 2008
Com relação às atividades de mineração
na RA, não foram encontrados dados sobre
qualquer exploração mineral expressiva da
região, sendo assim tiramos como conclusão que
a exploração mineral na região é muito pequena,
sem relevância para o ambiente e a economia
da região.
Assim, os principais usos na RA estão
vinculados aos usos urbanos e todas as suas infraestruturas (transporte, energia, abastecimento,
etc). Um meio de termos uma base da ocupação
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regional é a densidade demográfica da região e
a ocupação, que é apresentada no Atlas da
Economia Paulista do SEADE, que mostra
não só a RA de Araçatuba, mas também um
panorama de todo o estado de São Paulo.
2.2. Áreas antrópicas agrícolas na RA de
Araçatuba
A região é marcada pela importância da
agropecuária, o que a impulsiona. A Região de
Araçatuba é responsável por cerca de 11,45% da
produção agropecuária do Estado. A produção
regional de carne bovina, leite e cana-de-açúcar
correspondem, respectivamente, a 16,7%, 15,5%
e 7,4% do total do Estado. Destaca-se ainda a
produção de abacaxi, que equivale a 83% do total
paulista.
Temos assim a base da economia regional
na produção agropecuária e em seus derivados,
assim como a grande base na manufutura/
industrialização do couro (subproduto
agropecuário), grandes partes dos impactos são
então referentes a uso da terra como,
principalmente, pastagens.
Não pode ser deixado de lado o destaque
à indústria sucroalcooleira que tem também uma
grande representatividade na economia local, e,
como é de senso comum, as plantações de canade-açucar têm uma grande impacto no solo,
sendo a região responsável por 8% do total da
produção do estado de São Paulo, com um total
de 246.676 há (safra 2004/2005, INEP).
Historicamente o país possui uma cultura
de cana-de-açucar pelas mais diversas regiões
do país, enquanto na RA de Araçatuba tivemos
até a década de 40 a predominância do café.
Na década de 50, a RA passa a liderar a
atividade da pecuária de corte e, como
conseqüência, em Araçatuba e Birigüi, formouse um importante pólo produtor de calçados e
artefatos de couro. Nos anos 70, expandiu-se
o cultivo de cana-de-açúcar e instalaram-se
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várias usinas e destilarias, em municípios da
região.
Fora a área dedicada à agropecuária e à
indústria sucroalcooleira, temos a produção de
culturas diversas com menor importância e menor
peso na economia da região, entre elas destacamse: laranja (1.132.570 pés em produção - 1 pé
ocupa aproximadamente 4m²), banana (1.446
he), feijão (8.738 he), milho (12.477 he), soja
(212 he) e mandioca (662 he).
2.3. Áreas de vegetação natural na RA de
Araçatuba
Com uma área de 23.952 km² (2.395.200
hectares), a RA de Araçatuba tem um pequeno
remanescente de floresta e um baixo índice de
reflorestamento, aspectos negativos em relação
à cobertura florestal que já foi quase que
totalmente dizimada. Se usarmos como
comparação a área da bacia do Alto Tietê (que
abrange a maior parte dos municípios da RA de
Araçatuba), temos uma percentual de 3,96% de
cobertura natural remanescente, enquanto no
estado a média é de 13,94%. Se considerarmos
os municípios da RA em 2006, o cenário não
teve mudanças, sendo alcançado um percentual
de apenas 3,98%.
Quanto ao reflorestamento, que é mais
presente em regiões que possuem indústrias
papeleiras e de mobiliário, na RA de Araçatuba
esta prática é quase inexistente (0,1%) e vem
decaindo em relação ao tempo.
Assim temos um fato bastante negativo em
relação à cobertura de vegetação natural na RA
de Araçatuba, onde a vegetação original é muito
pequena, e as práticas de reflorestamento desta
ou de outras espécies de vegetação têm
diminuído drasticamente, o que representa um
panorama contrário à tendência atual. Boa parte
do que existe hoje ou foi reflorestado se deve à
manutenção das matas ciliares com o objetivo
de preservação dos recursos hídricos da região.
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2.4. Águas na RA de Araçatuba
A região é caracterizada por seus recursos
hídricos e seu aproveitamento para a geração de
energia. Um dos aspectos é que se encontra em
três bacias hidrográficas (Alto Tietê, Aguaípe e São
José dos Dourados), mas a maior e mais relevante
parte está na bacia doAlto Tiête, cujos três principais
rios são: Paraná, Tietê e Piracicaba (hidrovia TietêParaná), que, além do grande volume de água,
proporciona a navegabilidade na região e o
transporte de cargas no curso destes rios.
A região destaca-se pelo uso dos recursos
hídricos na geração de energia, ou hidrogeração.
As UHEs são: Promissão, Nova Avanhadava,
Três Irmãos, Ilha Solteira e Jupiá (potência
instalada de 6413MW), e ainda possui PCH’s
que perfazem um total de 300MW, com um total
aproximado de Energia Assegurada de
23.500.000 GWh/ano.
Temos na região um dos maiores
complexos hidrelétricos do mundo e que é
responsável pela geração de 47% da energia
elétrica no Estado de São Paulo, sendo o
consumo de energia da região aproximado de
2.000 GWh, isto é, cerca de 2% do consumo
do Estado. Assim, a região é uma grande
exportadora de energia, o que gera vantagens
tanto para o abastecimento quanto para a
economia. Foram ainda obtidos dados que
apontam para um índice pluviométrico médio
entre 1.200 e 1.300 mm³ anuais na região.
Um fator importante em relação às águas
é a questão do abastecimento, dos quais os poços
subterrâneos e reservatórios são as principais
fontes, e é relevante lembrar que as represas da
região são utilizadas para fins de lazer e esporte,
o que agrega valor turístico à região e fornece
meios para atendimento às demandas da
população local.
Sinergia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 55-63, jan./jun. 2008
3. Renovabilidade dos recursos da terra na
RA de Araçatuba
Aqui será dado um panorama da
renovabilidade dos recursos apresentados no
item anterior (usos da terra na RA de Araçatuba),
e são baseados em dados encontrados e no
consenso comum de renovabilidade em razão
de todos os subtópicos que retrataram cada um
dos recursos.
3.1. Áreas antrópicas não-agrícolas na RA
de Araçatuba
Como visto nos usos da terra na RA,
temos que as principais preocupações são
referidas aos usos urbanos da terra. Um
problema em grandes cidades é a
impermeabilização do solo, que afeta os
reservatórios subterrâneos de água, mas na RA
não foi verificada a ocorrência deste, pois não
temos uma ocupação urbana tão intensa. Sendo
assim, o foco recai sobre a contaminação gerada
por resíduos residenciais e industriais.
Levando em conta a situação dos aterros
de São Paulo, enfocaremos a RA de Araçatuba,
onde a maior parte dos municípios da região possui
uma disposição adequada dos resíduos. Podemos
salientar inclusive que em Araçatuba 97% do lixo
possui um sistema de coleta adequada, e que 79%
ainda recebem um tratamento adequado na
disposição. Ainda neste contexto temos alguns
municípios com sistemas de coleta seletiva
implantada e outros com aproveitamento de biogás
proveniente de aterros.
Outro fator a se destacar são os acidentes
decorridos de atividades industriais e, como
notamos, mais ainda das atividades comerciais
que afetam diretamente o solo nas regiões
urbanas, podendo-se proliferar para lençóis e
mananciais.
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3.2. Áreas antrópicas agrícolas na RA de
Araçatuba
No que diz respeito à renovabilidade dos
recursos em relação às duas principais atividades
da região, ambas possuem o mesmo consenso
de que a renovabilidade e o uso sustentável são
possíveis, mas por questões financeiras nem
sempre são empregadas tais práticas, pois em
busca de melhores margens ou da viabilização
da produção são utilizadas técnicas arcaicas que
causam prejuízos.
Sendo este o foco, os principais impactos
na pecuária são referentes ao manejo do gado
em relação ao solo e à “cultura“ das pastagens,
que pode provocar erosão e degradação do solo
(perda de vigor e produtividade forrageira) sem
possibilidade de recuperação natural, sendo
assim necessária a intervenção humana, por meio
de troca da vegetação ou tratamento químico
dela. Estes problemas podem ser causados
principalmente pela má escolha da espécie
forrageira, má formação inicial, falta de
adubação, manejo inadequado, e todas são
passíveis de intervenção para amenizar ou
eliminar o problema.
A solução que apresenta maior
renovabilidade e sustentabilidade é o manejo
adequado, que evita a degradação. Como forma
de recuperação direta, a troca da vegetação
forrageira total com uso massivo de produtos
químicos para remoção da vegetação antiga, e
adubos para nova vegetação a ser colocada. Ou
recuperação indireta, que envolve a rotação de
culturas e assim maiores custos na produção final,
mas menores impactos ambientais em relação
ao solo.
Quanto aos usos do mercado
sucroalcooleiro, temos os impactos inerentes à
monocultura, que possuem diversas e diferentes
técnicas de manejo para solução deste problema.
Para aplicação na região, é necessária uma
análise detalhada do perfil de produção da
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região e a aplicação de um modelo de manejo.
Essas interações variam no tempo com o
desenvolvimento e a introdução de novas
tecnologias (reaproveitamento do vinhoto,
controle biológico da broca da cana, colheita
mecanizada de cana crua etc.) e no espaço
conforme os solos, o relevo, o clima e o uso das
terras. O estudo de um componente ou de uma
“flecha” de um subsistema não autoriza ninguém
a justificar ou condenar o sistema de cultivo ou a
produção da cana-de-açúcar em termos de
impactos ambientais. A avaliação do impacto
ambiental do sistema de produção da cana-deaçúcar não foi realizada de forma completa, ainda
que em caráter piloto.
A renovabilidade da cultura da cana está
principalmente vinculada à rotatividade de cultura
(lavoura temporária), à nutrição, à adubação, à
irrigação, aos cuidados com erosão e às novas
variedades de cana (pesquisa).
Nas duas atividades, um grande impacto
que pode ser identificado é a questão da erosão
no solo (principalmente na cana). A seguir temse um panorama da análise ambiental feita da
região em relação à qualidade do solo.
3.3. Áreas de vegetação natural na RA de
Araçatuba
A única solução de renovabilidade, para
os quase esgotados recursos de vegetação
natural na RA de Araçatuba, seria o
reflorestamento, ou o manejo de vegetação
natural para a utilização nas pastagens (sistema
silvipastoril). Assim como o reflorestamento
concorreria com a produção local, a única
maneira viável é a coexistência de ambas, e talvez
o incentivo governamental para o reflorestamento
e o manejo conjunto.
Não há uma expectativa de retomada
do reflorestamento, pois as regiões ciliares
estão preservadas ou reflorestadas devido a
interesses locais na produção de energia e
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Análise da renovabilidade dos recursos físicos da terra na Região Administrativa de Araçatuba
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manutenção dos mananciais.
Assim, apenas com ferramentas
governamentais, é possível a retomada do
reflorestamento e renovabilidade do que já quase
não existe. Logo, o trabalho a ser feito é de
recuperação e não manutenção.
3.4. Águas na RA de Araçatuba
Fazendo uma referência ao que foi visto no
item anterior, os recursos hídricos da RA possuem
uma renovabilidade garantida em relação ao índice
pluviométrico, sendo a principal preocupação a
respeito da poluição dos mananciais. O mapa de
risco de poluição nos mostra os da RA em relação
às reservas de água.
Podemos então referir a renovabilidade
quanto ao tratamento de esgotos e resíduos
industriais, ao tratamento do lixo (como visto,
boa parte das cidades possui coleta seletiva do
lixo urbano ou tratamento adequado), e à
fiscalização do uso de agrotóxicos em culturas
para evitar a contaminação de mananciais.
Destacamos que a cidade de Araçatuba
possui 100% do esgoto tratado, sendo uma
referência em relação a esta questão e, pela análise
da qualidade das águas da região, boa parte das
cidades tem um sistema eficaz de tratamento.
4. Conclusões
A partir de todos os dados colhidos no
decorrer deste trabalho, é clara a preocupação
com a renovabilidade dos recursos da terra na
Região Administrativa de Araçatuba, pois sua
economia depende exclusivamente destes
recursos, com um fraco perfil metropolitano,
tendo sua produção industrial dependente dos
recursos ali gerados a partir da terra.
Sendo assim, tanto para a produção
pecuária e sucroalcooleira, quanto para a
hidrogeração e para a manutenção da população
local, é imprescindível a preocupação com os
Sinergia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 55-63, jan./jun. 2008
recursos da terra. Motivo contrário a esta política
são os custos inerentes a tais procedimentos de
exploração sustentáveis que normalmente geram
um custo inicial maior, o que dificulta a rápida
disseminação destas políticas, que são tão
importantes quanto a maximização dos ganhos
de produção, pois só assim estes ganhos
perdurarão durante o tempo.
Aproveitando a vocação energética, que
oferece uma vasta rede elétrica interligando a
região, e o perfil agropecuário, principalmente
no que diz respeito ao mercado pecuário e
sucroalcoleiro, temos um forte incentivo para a
exploração da bioenergia em suas cadeias
diretamente ligadas a estes dois mercados que
utilizam vastamente os recursos da terra. Por sua
vez, o melhor aproveitamento de seus insumos
acaba por contribuir para a renovabilidade e uso
sustentável.
Uma ferramenta essencial para a aplicação
de tais práticas é a presença do estado, que por
meio de leis mais rígidas pode impor a
implantação de tais política, mas em contrapartida
gera descontentamentos na comunidade
produtora local, fato que, por sua expressão na
região, pode gerar impactos em nível estadual,
ou até nacional. Ou por meio de incentivos e
financiamentos a produtores sustentáveis e que
respeitem os princípios de renovabilidade dos
recursos que usam.
Um ponto negativo encontrado foi a
questão da vegetação natural, quase extinta, e
do reflorestamento que vem diminuindo, indo na
contramão das demais regiões do estado. Este é
um ponto em que uma solução imediata depende
exclusivamente da intervenção publica, pois não
há nenhum indício de usos locais que possibilitem
tais práticas imediatamente, mesmo na prática
silvipastoril, que não é aplicada na região.
Não foram encontrados dados sobre a
exploração mineral, utilização do subsolo como
depósito de gás natural ou carbono, e sobre as
bacias aéreas da região. Os dois últimos são
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assuntos novos e alvo de pesquisas, mas sem
aplicações consolidadas nacionalmente e sem
dados plausíveis sobre sua viabilidade nacional,
sendo merecedores de uma pesquisa mais
profunda e exclusiva, devido a sua importância
para um futuro próximo.
ESTUDO de viabilidade técnico-econômica de
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Sinergia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 55-63, jan./jun. 2008
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Análise de renovabilidade dos recursos físicos da terra na