DETECÇÃO DE RISCOS PSÍQUICOS EM BEBÊS DE BERÇÁRIOS DE CENTROS
MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE CURITIBA, ATRAVÉS DO
PROTOCOLO IRDI-18
DOSSENA, Angelini Lucca1
NASCIMENTO, Márcia Regina Aparecida do2
MARIOTTO, Rosa Maria Marini3
BERNARDINO, Leda Mariza Fischer4
A ida da criança ao centro de educação infantil pode ser considerada um momento de
ruptura do laço estabelecido entre o bebê e sua mãe. Neste momento de separação entra em cena
a figura do educador, que desempenhará a função até então exercida pela cuidadora natural, a
mãe. Portanto, orientadores e professores de creches infantis têm hoje lugar decisivo no
estabelecimento da prática de detecção e encaminhamento precoce diante das patologias da
primeira infância. Com base nestes fins, foi realizada uma pesquisa junto a uma amostra
estatisticamente significativa de Centros Municipais de Educação Infantil. Esta pesquisa se deu
com aplicação do Protocolo Clínico de Risco para o Desenvolvimento Infantil IRDI-18 (Kupfer
et alli, 2008).
Objetivos
Acadêmica do curso de Psicologia da PUCPR, pesquisadora voluntária da Linha de Pesquisa em Psicopatologia
Fundamental. [email protected]. Estrada da Graciosa, 3700 Alphaville Pinheiros, Pinhais PR – CEP 83327000.
1
Acadêmica do curso de psicologia da PUCPR, pesquisadora voluntária da Linha de Pesquisa em Psicopatologia
Fundamental. Má[email protected]. Rua Governador Jorge Lacerda, 456 Guabirotuba – CEP 81510-040
2
Professora da PUCPR, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento pelo IPUSP, Psicanalista, analista
membro da Associação Psicanalítica de Curitiba. [email protected]. Rua Imaculada Conceição, 1155 Bloco
CCBS – Departamento de Psicologia, Curitiba, PR – CEP 80 215-901
3
Professora titular da PUCPR, pós doutora em Tratamento e Prevenção Psicológica pela Université de Paris 7, Denis
Diderot. Psicanalista, analista membro da Associação Psicanalítica de Curitiba. [email protected]. Rua Imaculada
Conceição, 1155 Bloco CCBS – Departamento de Psicologia, Curitiba PR – CEP 80215-901.
4
Geral
- Desenvolver ações de prevenção em saúde mental junto a crianças de Berçário dos Centros
Municipais de Educação Infantil.
Específicos
- Detectar possíveis situações de risco psíquico nas crianças;
- Avaliar a qualidade da relação estabelecida entre os agentes educativos e os bebês no ambiente
do Berçário;
- Fornecer orientações à comunidade escolar;
- Realizar encaminhamentos para atendimento psicológico, sempre que necessário.
Metodologia
Os procedimentos constaram de contato com o Departamento de Educação Infantil para
apresentação do projeto e definição dos locais e da amostra a serem pesquisados, sendo
selecionados 9 dos 12 Centros de Educação Infantil do município de Curitiba com Berçário 1.
Entraram na pesquisa as crianças de até 8 meses, cujos pais e as educadoras assinaram os termos
de compromisso concordando com a participação das crianças. O projeto foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCPR.
Resultados
Dos 12 CMEIS que compuseram a amostra, foram selecionadas 09 unidades que
possuíam turmas de Berçário 01. Foram avaliadas 35 crianças na faixa etária de 4 a 18 meses
incompletos, de março a dezembro de 2009. Dos 35 protocolos aplicados, contendo cada um 18
indicadores, chegou-se a um total de 630 indicadores avaliados, sendo que 64 indicadores
obtiveram resposta Ausente (A) , ou seja, 10,1%. Indicando que a especificidade de creche
enquanto um espaço de cuidados maternos dá lugar ao escolar e à sua função social de entrada
em um meio público, comunitário num tempo mais precoce.
Análise dos Resultados por criança
Foram avaliadas então 35 crianças, sendo 20 de sexo masculino e 15 do sexo feminino.
Sendo que das 35 crianças avaliadas, 11 foram consideradas CASO, ou seja: apresentaram 2 ou
mais indicadores ausentes na relação com pelo menos uma das educadoras, sendo 31% da
amostra. Observa-se que se trata de um percentual alto, que excede a faixa de 12 a 29 % prevista
em estudos já realizados com populações de países em desenvolvimento segundo dados da OMS
(Giel e outros, 1981), do ponto de vista de riscos psíquicos. Deste total de casos, 6 crianças são
do sexo feminino (40% da amostra) e 5 crianças do sexo masculino (25 % da amostra).
Gráfico 1 - Representação gráfica dos indicadores ausentes organizados por faixa etária
Análise dos Resultados Gerais
Durante a realização da pesquisa, os indicadores não verificados que mais se destacaram
foram o (10), com 16 ocorrências, perfazendo 45,7% das respostas; os indicadores (13) e (16),
com 05 ocorrências cada (14,3%) e os indicadores (1) e (9) com 04 ocorrências cada um (11,4%).
Estes fatores se devem principalmente às particularidades das situações de pesquisa, pois
sugerem que nas ocasiões de aplicação do protocolo a possibilidade de verificação do indicador
não se apresentou.
Gráfico 2 – Demonstração dos Indicadores Ausentes que apareceram com maior freqüência na pesquisa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conjunto dos resultados analisados demonstra que as creches pesquisadas cumprem a
contento seu papel educativo no que se refere às regras sociais, mas seu papel de cuidados que
refletem uma educação para o surgimento de um sujeito, apresenta-se falho. Muitos dos bebês e
crianças pequenas não recebem atenção dirigida para suas manifestações próprias de linguagem,
nem a estimulação lúdica necessária para dar andamento à sua constituição subjetiva de modo
suficiente. Chamando a atenção para o fator verificado de que na creche, o papel de representante
do Outro cabe à educadora. Pois esta deve ser capaz de “sustentar, no lugar do Outro, um desejo e
uma presença capazes de permitir ao sujeito de aí se apoiar para se construir” (Crespin, 2005, p.
105).
A aplicação do IRDI no ambiente de creche confirma, portanto não só sua vocação
preditiva, já observada em pesquisa anteriores (Bernardino et alli, 2008; Mariotto, 2007, 2009),
como se revela também um instrumento de leitura da qualidade do desempenho do educador,
lançando um novo olhar ao seu trabalho e introduzir em seu ofício a possibilidade de reconhecer,
a criança como sujeito em constituição, auxiliando na análise do laço que um educador estabelece
com o bebê, e apostando que este instrumento sensibilize tanto a creche quanto sua equipe a
respeito dos aspectos psíquicos da subjetividade, reconhecendo que o exercício de sua função
participa como fundamental coordenada desta organização na pequena criança, conforme já
evidenciado no projeto piloto.
É importante lembrar que educar não é somente transmitir as regras da cultura e do
funcionamento social coletivo, educar é, antes, inscrever a criança nesta cultura e em um lugar
único a partir do qual ela montará sua identidade. Esta função – materna por excelência – deve
ser sustentada também no espaço comunitário da creche, para que a continuidade das referências
psíquicas necessárias ao reconhecimento desta identidade seja garantida.
REFERÊNCIAS:
CRESPIN, G. La prévention au quotidien: l’histoire de Julien. In : CRESPIN, G. (org.). Cahier
de Préaut, 2 : Psychanalyse et neurosciences face à la clinique de l’autisme et du bébé.
Paris : l’Harmattan, 2005.
GIEL et AL. Childhood mental disorders in primary health care: results of observations in four
developing countries. In Pediatrics, V. 68, N.5, November 1981.
KUPFER, M.C.; BERNARDINO, L. M. F; JERUSALINSKY, A.; ROCHA, P.S.; LERNER, R &
PESARO, M.E. “A pesquisa IRDI: resultados finais”. In: LERNER, R. & KUPFER, M. C.
( orgs). Psicanálise com crianças: clínica e pesquisa. São Paulo: Escuta, 2008.
MARIOTTO, R. M. M. Cuidar, educar e prevenir: as funções da creche no desenvolvimento e na
subjetividade de bebês. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo, Instituto de
Psicologia. São Paulo, 2007
__________. Cuidar, educar e prevenir: as funções da creche na subjetivação de bebês. São
Paulo, Escuta, 2009.
ORGANIZAÇÃO Mundial da Saúde – OMS (2001). Relatório Mundial da Saúde 2001: Saúde
Mental, nova concepção nova esperança. Lisboa: Direção Gral da Saúde, 2002.
ANEXO:
Indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil – IRDI 18
Nome da criança:____________________
Data de nascimento:____/_____/_____
Nome da Educadora:________________________________________________________
Indicadores (0 à 4 meses incompletos)
Data da observação
Observações
Data da observação
Observações
Indicadores (8 à 12 meses incompletos)
9 – A educadora percebe que alguns pedidos da criança
podem ser uma forma de chamar sua atenção.
10 – Durante os cuidados corporais, a criança busca
ativamente jogos e brincadeiras amorosas com a
educadora.
11 – Educadora e criança compartilham uma linguagem
particu1ar.
12 – A criança estranha pessoas desconhecidas a ela.
13 – A criança faz gracinhas.
14 – A criança aceita alimentação semi-sólida, sólida e
variada.
Data da observação
Observações
Indicadores (12 à 18 meses incompletos)
15 – A educadora alterna momentos de dedicação à
criança com outros interesses.
16 – A criança suporta bem leves ausências da educadora e
reage às ausências prolongadas.
17 – A educadora já não se sente mais obrigada a
satisfazer tudo que a criança pede.
18 – A educadora coloca pequenas regras de
Data da observação
Observações
1 – Quando a criança chora ou grita, a educadora sabe o
que ela quer
2 – A educadora fala com a criança num estilo
particularmente dirigido a ela (mamanhês)
3 – A criança reage ao mamanhês
4 – A educadora propõe algo à criança e aguarda a sua
resposta.
5- Há trocas de olhares entre a educadora e a criança.
Indicadores (4 à 8 meses incompletos)
6 – A criança utiliza sinais diferentes para expressar suas
diferentes necessidades.
7 – A criança reage (sorri, vocaliza) quando a educadora
ou outra pessoa está se dirigindo à ela.
8 – A criança procura ativamente o olhar da educadora.
comportamento para a criança.
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