Comunicação baseada em símbolos
em animais não-humanos
João Queiroz
Dept. Computação e Automação (UNICAMP)
Dept. Biologia (UFBA)
Chlorocebus aethiops
The big question

Vocalizations like vervet monkey
alarm calls may function as referential
signals, but how similar are they to
human words?


Cheney & Seyfarth
Words ...
Any word may appear in a variety of
guises: as sound-waves between a
mouth and an ear; as marks on the
page; and as things we have in our
brains.

Bickerton

Teste do WUG ...

Isto é um wug. Agora temos dois,
então são dois ___

Reagan: ‘Guerra nas estrelas’ propõe a
construção de mísseis anti-mísseis. O
soviéticos contra-atacam com mísseis
anti-anti mísseis. Sem problema: os
engenheiros do MIT contra-contra
atacam com mísseis anti-anti-anti
mísseis.
Organização e estrutura

regras de combinação morfológicas

unmicrowaveability
• Impossibilidade de serem esquentadas em forno de
microondas

composicionalidade semântica


catraca, copy and paste, princípio de
acoplamento
poética

palavras-valise: verbivocovisuais
• Souzandrade, Rosa, H.Campos
• Khliebnikov, Joyce, Cummings

Carroll-Campos

Jabberwocky

Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

...




Jaguadarte

Era briluz. As lesmosisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

...



Palavra
Entidade morfologicamente estruturada
morfemas
Entidade arbitrariamente associada a
um significado
Dicionário mental (listema)
menor unidade da memória lexical
O que deve ser examinado?
generatividade?
 simbolicidade?

Neurosemiótica comparada
etologia e neuroetologia
observação de campo
experimentos baseados em lesão e nas teses de
especialização e modularidade funcional
semiótica
tratamento não-dicotômico
“símbolo natural”
ação como significado e interpretação
evento como instanciação de símbolos
esquema lógico dos componentes ativos na
comunicação
mapa das relações de pressuposição, e de
maturação ontogenética, entre diversos
processos sígnicos observados na comunicação
Problemas
quais são as modalidades de semiose
observadas em comunicação animal,
especialmente em primatas não-humanos,
e quais são seus substratos neurais?
como funcionam, por que surgiram e para
que servem signos?
como a maturação filo e ontogenética de
processos simbólicos pode contribuir, em
termos adaptativos, para um aumento da
performance do organismo em diversas
direções?
Premissas
a linguagem humana é produto de
processos biológicos
todo fenômeno biológico é produto de
evolução
explicação para a emergêngia de
linguagem humana não pode evitar
um estudo comparativo, e as bases
neurobiológicas em animais nãohumanos
Folk / diádica -> linguicêntrico
noção naïve de signo, significado,
comunicação, representação
 diádico/dicotômico de extração
saussureana


língua vs fala, significante vs significado,
arbitrariedade vs motivação
• fenômeno:
•
•
•
•
sem
sem
sem
sem
sintaxe
convencionalidade
composicionalidade semântica
…
Linguicêntrico, por exemplo:

Para avançar na comparação entre os
sistemas de comunicação animal e a
comunicação por símbolos, que é
típico da linguagem humana, é útil
discutir, mesmo que sob forma
esquemática, o aspecto de
arbitrariedade específico do signo
linguístico.
J. Vauclair (1995)
Comunicação, o mainstream

“Ato mediante o qual um organismo
reage a outro” (Hocket).

fluxo de sinais [informação] inter-agentes
• mundo pré-dado
• independente do agente
• transparente
• estruturado

agentes
• processadores [seriais] de sinais
• cognitivismo
• input-algoritmo-output
• máquinas biológicas
Estudos

Controle

linguagem induzida
• Premack, Sauvage-Rumbaught

Campo

comunicação
• Strushaker, Marler
Reações instintivas?

anos 60-70

alarmes = volitivos
• estado afetivo do vocalizador-intérprete

Struhsaker 1967 (vervet monkeys)


alarmes distintos – predadores
Seyfarth-Cheney 1980

play-back (habituação, desabituação)
Macacos vervets
Encontrados nas planices do sub-Sahara africano, em grupos de 10-30 animais
com clara ordem de dominância; ocupam uma área média de 10 acres, que
defendem agressivamente contra a invasão de outros grupos; possuem uma dieta
baseada em relvas, folhas, frutas e sementes, e são vitimados por diversos tipos
de predação (mamíferos terrestres, aves de rapina, cobras).
Vervets: reações específicas
Algumas evidências
As vocalizações funcionam
referencialmente de um modo análogo
às palavras da linguagem, em que o
significado de um chamado deriva
primariamente das propriedades
acústicas do sinal, que pode funcionar
para denotar objetos ou eventos
externos ao emissor,
independentemente de pistas
contextuais complementares
 Rendall (et al. 1999)
Mais evidências
As respostas provocadas pelas gravações de
vários tipos de alarmes argumentava contra
a idéia de que os chamados eram sinais de
alerta geral. Os sons pareciam carregar
informações sobre a presença de tipos
específicos de perigo. Mais do que isso,
haviam evidências que os alarmes não
refletiam simplesmente o nível de medo ou
excitação do emissor.

Seyfarth & Cheney (1992:80)
Modelo de Peirce
‘Um signo pode ser definido como um meio para a
comunicação de uma Forma. [...] Como um meio,
o Signo está em uma relação essencialmente
triádica com o Objeto que o determina e com o
Interpretante que ele determina. Aquilo que é
comunicado a partir do Objeto, através do
Signo, para o Interpretante, é uma Forma;
vale dizer, não é nada como um existente
mas é um poder, é o fato que alguma coisa
aconteceria sob certas condições’ (Peirce
MS793: 1-3, 1905).
Relações triádicas



(I) o alarme (signo)
(ii) o predador (objeto)
(iii) a imagem mental do predador (interpretante),
resultando em um comportamento de fuga.
Se o predador está em uma relação triádica com o
alarme, produz um terceiro elemento, fuga, que
está para o predador através do alarme. Assim, o
alarme deve ser determinado pelo predador
relativamente a fuga, e deve determinar a fuga em
referência ao predador, de tal modo a produzir a
fuga a ser determinada pelo predador através da
mediação do alarme.
Significado -> ação do signo ->
comunicação
A ação do signo (semiose) é caracterizada
em termos de padrões de
comportamento que emergem da
cooperação intra/inter agentes em um
ato comunicativo.
•agentes situados
•contexto-dependente
Representação <-> categorias
• multimodalidades de comunicação
Significado -> ação do signo ->
comunicação
Os processos são triádicos; a variação
de dependência entre os termos S-O-I
determina sua natureza (icônico,
indexical, simbólico)
Relações de dependência entre os
termos:
comunicação objeto-dependente;comunicação
intérprete-dependente
Ícones, índices, e símbolos

relações de similaridade, contigüidade, e lei
entre Signo e Objeto (S/O), da tríade SignoObjeto-Interpretante (S/O/I).



semiose S-dependente (dependente das
propriedades de S) = icônica
semiose S/O-dependente (dependente de
correlação espaço-temporal S/O) =
indexical
semiose S/O/I-dependente (S/O
dependente da mediação de I) =
simbólica
Comunicação simbólica
Se o símbolo é um processo definido
como intérprete-dependente, que
efeitos devem estar associados à sua
produção?
Como investigar o aparecimento deste
processo em animais não-humanos?
Possíveis reações
AA
ES
CF
Avaliação
Semiose
1
sim
Sim
permanece
Falso
--
2
Sim
Sim
foge
Verdadeiro
ícone & índice
3
Não
Sim
permanece
Falso
--
4
Não
Sim
foge
Verdadeiro
Ícone
5
Sim
Não
permanece
Falso
--
6
Sim
Não
foge
verdadeiro?
índice? / símbolo?
7
Não
Não
permanece
verdadeiro
nenhuma interpretação
8
Não
Não
foge
Falso
nenhuma interpretação
Qual a natureza de uma relação triádica (S-O-I) capaz de
satisfazer esta descrição?
Símbolo ... signo de uma classe?
“Um símbolo não pode indicar qualquer coisa
particular; ele denota um tipo de coisa”
Um índice, por sua vez, é um signo relacionado
espaço-temporalmente com seu objeto, de modo
que devem existir, como eventos, signo e
objeto;“um índice é um signo que se refere ao
objeto que denota em virtude de ser realmente
afetado por este objeto”.
o alarme opera sem escaneamento:
signo de uma classe de objetos?
Relação intérprete-dependente

Se a relação signo-objeto não pode
prescindir de um interpretante:

ela é mediada por uma lei
• “uma regularidade do futuro indefinido”
• “uma ocorrência condicional futura de fatos”

convenção pelos usuários?
• arbitrariedade linguística
Símbolo ... para Peirce

“é constituído meramente, ou
principalmente, pelo fato de que é
usado ou entendido como tal, seja
natural ou convencional o hábito, e
sem observar os motivos que
originalmente governaram sua
seleção”.
Reação icônica
Reação indexical
Reação simbólica
Consequências
a definição e a descrição de diversas
modalidades semióticas (ícones, índices,
símbolos) intrinsecamente dependem do
modelo de semiose;
a noção de semiose não pode ser dissociada
de comunicação, e envolve uma relação
irredutível entre signo, objeto e
interpretante
um padrão de comportamento observado na
interação “vocalizador do signo” “intérprete do signo” permite inferir as
modalidades em um ato comunicativo.
Resultado
O usuário de um símbolo:
 um padrão especial de
comportamento é, no intérprete, uma
reação que não depende de
confirmação sobre o objeto do signo,
e no vocalizador do signo, a presença
de um intérprete, sem o qual ele não
vocaliza.
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Emergência de símbolos em criaturas artificiais virtuais