São Paulo joga 500 milhões de reais no lixo
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Cantareira
Elisabeth Grimberg (foto), integra a
Equipe Técnica do Instituto Polis, coordena a
área Ambiente Urbano. Atua com as questões
relacionadas à gestão socioambiental
sustentável de resíduos sólidos em âmbito
nacional e local. Coordena o Fórum Lixo e
Cidadania da Cidade de São Paulo e integra
a coordenação do Fórum Nacional Lixo e
Cidadania. Elizabeth concedeu entrevista ao
Jornal Cantareira na qual revelou a realidade
do lixo em São Paulo e mostrou que a coleta
seletiva custaria muito menos para os cofres
públicos. Na próxima edição publicaremos
a segunda parte desta importante e
reveladora entrevista
JOSÉ EDUARDO
Jornal Cantareira: Como
classificar o que é lixo?
Elisabeth Grimberg: Podemos dividir em três categorias: resíduos úmidos orgânicos (restos de alimentos, comidas, cascas,
folhagens, etc), que se coletados
separadamente já não se configuram como lixo. Resíduos inorgânicos secos, que são os plásticos,
papeis, papelão, vidros, metais que,
se limpos e coletados separadamente são passíveis de reciclagem. O que é chamado de lixo, cujo
termo técnico é ‘rejeito’. São os
produtos que uma vez usados não
são passíveis de reciclagem. Esses
como: papel higiênico, fraldas descartáveis, absorventes, pedaços de
porcelana, papel amanteigado, entre
outros, estes sim devem ser encaminhados para aterros sanitários.
Segundo, desconsidera os mais de
20 mil catadores de material reciclável que circulam pelas ruas da
cidade. Destaque-se que 80% do
material reciclável que chega na indústria da reciclagem vai pelas
mãos do catadores, esses dados são
do CEMPRE (Compromisso Empresarial pela Reciclagem).
JC. O que poderia ser feito
para mudar o sistema de coleta?
Elisabeth: De início implantar
o sistema de coleta seletiva de ‘alta
seletividade’, que não requer grande
infra-estrutura, pois, bastaria apenas
separar em três categorias de resíduos: os secos, sujos e úmidos.
Primeiro, precisaria criar um
programa para educar, orientar a
população. Segundo, definir claramente a infra-estrutura para descarte desses resíduos. Ora, a população já separa os materiais recicláveis secos, que são em torno de
30% do que se
produz, o restante é
É preciso
que é descartado,
coragem política ou seja 70%, sendo
para mexer nos a maior parte resíduos orgânicos que
interesses
poderiam ser coleeconômicos que tados e encaminhapara locais desestão por trás dos
centralizadas de
dessa lógica de compostagem ou
tratar os resíduos para os cinturões
verdes em vez de lecomo lixo
var para os aterros.
JC: Quanto se
produz de cada um
desses de resíduos?
Elisabeth: Dos
resíduos 60% são orgânicos que podem
ser utilizados na compostagem, ou seja,
decomposição biológica da matéria orgânica, que é usado
como fertilizantes
orgânicos ou podem
ser utilizados para
produção de energia. Entre 30 e 35% são os
resíduos sólidos, passíveis de
reciclagem. E, entre 5% e 10%
são então os rejeitos, que devem
ser descartados.
Vale lembrar que em média cada pessoa produz de 800 gramas
a 2 quilos de resíduos por dia.
JC: Pesquisa do IBGE, de
2007, mostra que em São Paulo
72% da população separa os resíduos para reciclagem. Por que
ainda grande parte vai para os
aterros?
Elisabeth: Em São Paulo, ao
escolher manter a coleta e destinação dos resíduos da forma convencional, a atual administração
desconsidera dois fatores: primeiro, é essa disposição de 72%
da população que já faz a separação e inverte a lógica da coleta
convencional e dialoga com os catadores de material reciclável.
JC: Do orçamento municipal, quanto seria preciso para
implantar uma política de coleta
seletiva?
Elisabeth: No orçamento municipal deste ano está desatinado
pouco mais de 939 milhões de reais
para todo o sistema de limpeza da
cidade, desde a varrição das ruas,
coleta domiciliar, etc. Desse total,
até o mês de agosto, foram destinados pouco mais de 500 milhões
de reais, 63,5% do total para a coleta domiciliar. Para coleta seletiva
é destinado apenas 0,7%.
Estamos realizando estudos para saber qual seria o valor dos investimentos para uma rede em torno
de 150 grupos e cooperativas de catadores que reúnem em torno de
três mil pessoas organizadas.
Se pensarmos numa lógica de
transferência gradual da coleta tradicional para a coleta seletiva, com
certeza diminuiria o volume do des-
carte e teríamos resultados muito
grandes com benefícios incalculáveis para meio ambiente e para a
população.
Cerca de 70% das moradias
em São Paulo ainda são horizontais, poderia muito bem se fazer
esse trabalho de internalizar o resíduo orgânico, ou seja, enterrar no
quintal, ou criar postos descentra-
Outubro de 2008
lizados de compostagem. Junto
com uma coleta seletiva organizada com os catadores, poderíamos então reduzir o descarte a
10% dos rejeitos.
Em termos de orçamento, cairia possivelmente pela metade, ou
seja, em torno de meio milhão de
reais. Portanto, uma política de coleta seletiva de resíduos tem um
custo muito menor do que a coleta
tradicional.
zação e pressão para fazer acontecer de fato a coleta seletiva, pois
uma coisa não é separada da outra.
Toda vez que passa na sua rua um
caminhão de lixo, junto com ele está
se escoando pelo ralo 500 milhões
de reais. Quando passa na rua um
catador de material reciclável ou o
caminhão da coleta seletiva abrese o orçamento para se gastar em
outras questões fundamentais da
cidade.
J.C. Quais entraves para a
implantação de uma política
pública de coleta seletiva?
Elisabeth: Falta vontade política. É preciso coragem política para mexer nos interesses econômicos que estão por trás dessa lógica de tratar os resíduos como lixo. Veja, um bilhão de reais não é
pouco dinheiro. Falta disposição de
se criar um processo democrático
participativo de se abrir a gestão
que envolve a concessão dos serviços de limpeza urbana.
Falta também à população uma
maior consciência de que estas coisas estão ligadas e é preciso organi-
J.C. Então podemos dizer
que a atual administração joga
no lixo meio bilhão de reais?
Elisabeth: Isso mesmo, 500
milhões de reais que poderiam ser
gastos em educação e saúde, saneamento ambiental, por exemplo,
são desperdiçados pela prefeitura.
É preciso ficar atentos, pois a
coleta seletiva veio para ficar. É
uma agenda que tem que ser resolvida, mais cedo ou mais tarde
o poder público vai ter de fazer,
pois a própria população vai pressionar cada vez mais e não vai
permitir que esse descaso com recursos públicos continue.
Incêndio destrói a Coopercose
A notícia do incêndio que destruiu a
COOPERCOSE, em Perus, há algumas semanas causou tristeza e indignação. Um projeto
de geração de renda que estava dando certo.
Fundado no ano 2000, fruto da luta contra mais
um aterro sanitário em Perus era uma alternativa de trabalho para 23 pessoas que tiravam o
sustento de suas famílias.
O desafio agora é reconstruir a Cooperativa.
Você pode ajudar na campanha de doações de
materiais, equipamentos e outros suplementos
para fazer a COOPERCOSE voltar a funcionar.
Para Messias Pereira de Morais da CARE
Brasil, que mantém escritório em Perus é muito
importante ajudar na reconstrução do espaço físico da cooperativa para que possam retornar
as atividades. “A COOPERCOSE é uma das
poucas cooperativas de reciclagem que desenvolve um trabalho de educação ambiental”.
A Paróquia São José Operário, de Perus,
iniciou campanha de materiais de construção
(blocos, cimento, areia e ferro) para reconstruir
as paredes. Informações pelo telefone: 3918
5725, com Luzia Maria Honorato.
Messias Pereira
Resíduo nosso de cada dia
O Instituo Polis tem se destacado na apresentação políticas
públicas e, também na apresentação de propostas concretas de atuação individual e coletiva. Veja a lista
de ações sustentáveis que cada
pessoa pode fazer.
Quanto ao consumo
* Dê preferência a produtos
recondicionáveis, retornáveis e
recicláveis que utilizem o mínimo de
embalagens. Ao fazer compras, leve a sua própria sacola para evitar o
consumo das sacolas plásticas
* Evite descartáveis. Troque por
xícaras ou copos permanentes
* Tenha uma alimentação equilibrada: frutas, verduras e legumes e
pouca gordura. Quando possível, dê
preferência a produtos orgânicos.
Enlatados e preparados, além de
conter conservantes, geram mais lixo
* Evite desperdício de energia.
Desligue os aparelhos das tomadas
quando não estiverem em uso, e
prefira lâmpadas fluorescentes, que
consomem 75% menos ener-gia.
Em caso de pilhas, utilize as recarregáveis. Para subir um ou dois andares, use as escadas
* Economize água. Não deixe
torneiras abertas mais que o necessário e conserte vazamentos
Quanto aos resíduos
* Participe da coleta seletiva
de recicláveis, doe vidros, papéis,
papelão, metais e plásticos para os
catadores e suas cooperativas
* Faça compostagem com os
resíduos orgânicos
* Reutilize alguns materiais para
utilidades ou decoração
* Recarregue pilhas usadas até
o limite antes de descartá-las. São
altamente contaminantes mesmo
quando vão para aterros sanitários
Atitudes diárias
* Cultive árvores, plantas e
flores. Além de trazer beleza aos
bairros, as plantas servem de abrigo e alimentos para a fauna local,
além de maior conforto ambiental
* Não impermeabilize o solo.
Dê preferência aos gramados e
deixe espaço para canteiros para
plantas. A infiltração da água no
solo ajuda a reduzir enchentes e
alimenta lençóis freáticos
* Prefira o transporte público.
Diminuir o número de carros nas
ruas contribui para a redução da
emissão de gases poluentes e
ajuda a desafogar o trânsito
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que é chamado