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ELAÇÕES PÚBLICAS
É preciso aparar as arestas
Superando barreiras, aprimora-se o relacionamento e proporciona-se às
organizações buscarem seus espaços para canalizar o fluxo crescente
de informações que uma sociedade democrática exige.
Boanerges Lopes*
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rádio. Reconhecidamente, a
literatura na área está incorporada aos projetos das principais
editoras. Ganhou espaço também
FOTO: DIVULGAÇÃO
consolidação das
atividades de assessoria de imprensa e de comunicação no Brasil é inquestionável.
Nos últimos cinco anos, 23 dos
maiores grupos empresariais
aumentaram em até 70% seus
investimentos na área. Dados
consolidados dão conta de que o
faturamento das dez maiores
empresas de assessoria atingiu
recentemente o patamar de R$
500 milhões. Em recente
pesquisa da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) junto
às empresas nacionais, constatou-se que a maioria investe
entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por
mês em projetos e ferramentas de
comunicação cada vez mais
diversificados. A Casa Branca –
sede oficial do governo americano – destina por ano U$ 3,5
bilhões com estratégias de comunicação, sendo U$ 1,5 bilhão
destinado ao relacionamento
com os meios.
O segmento, em expansão,
apresenta-se hoje como um dos
principais blocos de referência
para o exercício das práticas jornalísticas, ao lado dos meios
impressos, da TV e à frente do
situação específica, na qual é
praticamente realidade uma habilitação em assessoria de comunicação, somando-se às tradicionais relações públicas, jornalismo e publicidade, radialismo,
cinema e produção editorial.
Divergências e preconceitos
nas melhores livrarias do País.
Pelos mais de 500 cursos de
comunicação Brasil afora, os
estudos científicos se multiplicam. Em algumas instituições,
linhas de pesquisa em cursos de
pós-graduação estão definidas e
ganham a cada dia novos
pesquisadores. Em outras, em
que os projetos pedagógicos
estão sendo estruturados ou
modificados, o estímulo é pela
incorporação de disciplinas na
graduação. E a ousadia, com seus
riscos, também está presente em
Apesar de perspectivas bem
interessantes, ainda existem
divergências por parte de alguns
estudiosos do segmento de assessoria envolvendo suas origens e
desenvolvimento. Também se
sucedem problemas na utilização
equivocada de determinadas ferramentas, que acabam superpostas por falta de conhecimento
ou por procedimentos incorretos
de alguns profissionais. E aqueles que atuam como assessores
ainda enfrentam preconceitos
tanto por parte de alguns profissionais de redação quanto de
determinados dirigentes das
empresas nas quais atuam.
Muitas arestas ainda precisam
ser aparadas no difícil exercício
de conciliar as necessidades das
fontes e dos veículos de comunicação. Existem também problemas relacionados à legislação
brasileira, que ainda não regulamentou a função de assessor de
comunicação e permite que as
mais variadas interpretações
sejam estabelecidas, acirrando os
ânimos entre os profissionais e
estudantes, em diversas ocasiões
ao longo da história da comunicação no País.
Situações frequentes
É comum na realidade observarmos as seguintes situações,
registradas por autores e profissionais atuantes. Aí vão algumas: “Jornalistas? Um bando
de abutres. Só querem informações quando enfrentamos
dificuldades. Nunca acreditam
nos dados que fornecemos e distorcem o que ouvem. Despista
esse aí, diz que estou em
reunião ou viajando”; “Tem o
filho daquele amigo meu lá
do clube. O pai dele e o meu
eram sócios. Dá um emprego
para o garoto, põe o título no
cartão dele. Formado para quê?
Lei, que lei? Ora, invente um
cargo semelhante e vamos passar a coisas mais importantes”;
“Tô mandando convites para
toda a redação. Podem ir que é
‘boca livre’, mas vê se dá para
publicar pelo menos algumas
linhas sobre essa nova campanha promocional de roupas
super modernas. Se divulgar
alguma coisa, tem uma surpresa
para você”; ou “Oi, é para divulgar um cantor super legal que
está fazendo um showzinho
bacana na Zona Sul. Dá pra
fazer uma tremenda cobertura.
A que horas sai o fotógrafo?
Será que rende uma capa com
COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
foto colorida e um miolo no alto
de uma página ímpar?”.
Trechos de uma obra de
ficção?, perguntarão alguns.
Muito pelo contrário: exemplos
reais, que insistem em permanecer em pleno acender das
luzes do século 21. E que se
somam a algumas convicções: O
assessor trabalha pouco e ganha
muito, deve ser um veterano de
redação, é um profissional que
não deu certo nas redações, não é
fonte, quer somente publicar ou
veicular notícias boas, boicota o
profissional de redação e utiliza
ferramentas ultrapassadas como
o release. Estereótipos, preconceitos, tabus e mitos. Combatidos, nos últimos anos. Mas,
infelizmente, ainda presentes em
determinados cenários.
Preparo e técnica
Cotidiano atribulado, certamente. Reflexo também de
setores que se modificam e
exigem cada vez mais profissionalização e em que deve se
destacar o bom relacionamento:
cordial, sincero e transparente.
Um assessor deve ser atuante em
todas as fases do processo:
preparado para sugerir pautas e
conseguir ganchos e personagens, ágil nas respostas, atento à
qualidade do material enviado,
com pleno conhecimento do funcionamento da imprensa e do
assunto divulgado e consciente
do uso adequado das novas tecnologias, deixando de lado o
mero encaminhamento de informações e preocupado para que os
sites não fiquem desatualizados.
E um profissional de redação que
se insurja contra a ditadura do
relógio e não tenha medo de ser
furado. Saia do comodismo, não
tenha uma visão pré-estabelecida
e conteste as pautas parciais e
incompletas. Deixe de lado a
arrogância, a intransigência e
tenha o entendimento que órgãos
públicos podem proporcionar
bons assuntos.
Rompendo com situações
arcaicas e superando barreiras,
aprimora-se o relacionamento
e proporciona-se às organizações buscarem seus espaços
para canalizar o fluxo crescente
de informações que uma
sociedade democrática exige e
utiliza para se orientar em qualquer ramo de negócios.
As estruturas são cada vez
mais complexas e apontam para
uma perspectiva multidisciplinar, com convergência de
olhares e competências. Ao
mesmo tempo, reconhecem a
preservação de identidades distintas onde cada uma das áreas
que compõem a estrutura de
comunicação das empresas, bem
como as redações, reúnem suas
respectivas
atribuições
e
responsabilidades. E podem
contribuir para que o empresariado de médio e pequeno
porte – base econômica do País
–, as autoridades governamentais e os futuros formadores nas
universidades se conscientizem
e valorizem permanentemente a
comunicação em seus empreendimentos.
(*) Boanerges Lopes é jornalista e professor, doutor em comunicação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), autor de livros e coordenador da
cátedra de jornalismo da Universidade
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