RESENHA Avaliação psicológica: perspectiva internacional A OBRA: WECHSLER, Solange Muglia; GUZZO, Raquel Souza Lobo (org). Avaliação Psicológica: Perspectiva Internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. Organizada por duas profissionais envolvidas com o desenvolvimento científico da área de Avaliação Psicológica no Brasil, a obra inclui textos de autores participantes de dois seminários internacionais em avaliação psicológica, realizados nos anos de 1996 e 1997; tais seminários foram planejados pelo Laboratório de Avaliação e Medidas em Psicologia – LAMP situado na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. O livro traz contribuições de diversos autores na reflexão e esclarecimento da avaliação psicológica e suas aplicações em diferentes contextos. As organizadoras apontam a avaliação psicológica “como um processo de construção de um conhecimento sobre um fenômeno decorrente de uma escolha teórica e metodológica” (p. 9), assim enfatizam a importância do conhecimento sobre a avaliação psicológica na formação e atuação dos psicólogos, destacando a urgência das reflexões teóricas e da produção de tecnologia nessas duas vertentes. A obra foi dividida em dois capítulos principais: a primeira apresenta os aspectos teóricos e práticos da avaliação psicológica, e a segunda aborda propostas da avaliação psicológica em contextos específicos. Cada capítulo é composto de textos de diversos autores, esses textos estão descritos na língua inglesa ou espanhola ou portuguesa, de acordo com o local de origem do autor. O primeiro capítulo é aberto com um texto escrito por Maria Martina Casullo, a autora aborda um pouco da história da avaliação psicológica, descrevendo os principais trabalhos publicados que marcaram a história iniciando com artigo de J. M. Cattell, publicado em 1890, até o surgimento da avaliação psicológica de modo mais autônomo, destacando a origem dos termos psicodiagnóstico e avaliação psicológica. Em seguida, a autora conceitua a avaliação psicológica descrevendo seus modelos e campos de atuação; reRev. ciênc. hum, Taubaté, v. 10, n. 1, p. 79-81, jan./jun. 2004. laciona a avaliação psicológica com o desenvolvimento da psicologia; e aponta o papel da medida e das técnicas de avaliação na ciência psicológica. A autora finaliza o capítulo propondo os desafios atuais nas áreas de avaliação psicológica. O segundo texto, descrito por Leandro S. Almeida, envolve a necessidade de inovações na avaliação psicológica e, em especial, aos testes psicológicos. Deste modo, critica os testes psicológicos pela falta de reciclagem e evolução, apontando fatores responsáveis por essa imutabilidade, incluindo a pouca atenção dada aos estudos recentes da Psicologia Cognitiva. Traz a tona às necessidades emergentes de parâmetros técnicos e éticos na utilização dos testes, defendendo a utilização destes por psicólogos capacitados e responsabilizando-os como responsáveis pelo desenvolvimento científico da avaliação psicológica. Assim, o autor contribui com valiosas discussões, de modo claro e breve, sobre: os testes informatizados; o intercâmbio mundial dos instrumentos de avaliação; os avanços teóricos na Psicologia e das metodologias de análise nos instrumentos psicológicos e os parâmetros na interpretação dos testes. No terceiro texto deste primeiro capítulo, Gerardo Prieto Adánez apresenta os procedimentos necessários na construção dos testes psicométricos. Seguindo os padrões da Teoria Clássica dos Testes o autor ainda aponta que há pouca literatura sobre os procedimentos na construção dos itens, redação da instrução, entre outros. Este texto é muito útil para o pesquisador que está iniciando na construção de testes psicométricos, pois Adánez cita e descreve, de modo claro e objetivo, aspectos, decisões e operações importantes a serem cumpridos nesse processo. O texto seguinte, de autoria de Thomas Oakland, inclui aspectos relevantes dos testes psicológicos padronizados: importância de sua utilização e 79 os passos para desenvolver um teste. O autor preocupa-se em descrever, de modo didático, cada uma das etapas envolvidas na construção de testes psicológicos, o que é muito válido numa compreensão de cada uma destas, contribuindo assim, para o desenvolvimento das habilidades que o profissional da área necessita. O quinto texto é do mesmo autor - Thomas Oakland – desta vez enfatizando a prática da avaliação psicológica em crianças e jovens, considerando pontos emergentes da testagem psicológica. Primeiramente, o autor contextualiza historicamente as condições que caracterizaram e deram origem aos testes psicológicos na população de crianças e jovens. Num segundo momento, relata a importância do uso de testes na pesquisa psicológica. Posteriormente, aponta os países onde há literatura sobre o uso dos testes com crianças e jovens; e relata dados de uma pesquisa internacional, muito interessante, em 44 países refletindo sobre o crescimento dos testes psicológicos e educacionais. O autor preocupa-se ainda, com o futuro da testagem psicológica, relatando pontos de impacto no uso dos testes pelos profissionais causados por diversas condições, e suas possibilidades futuras. O último texto é o último do primeiro capítulo, descrito por Solange Wechsler, apresenta um guia de referência de procedimentos éticos na avaliação psicológica. A autora tenta suprir uma das lacunas da literatura nacional com esta proposta, o que é de grande utilidade para todos os profissionais psicólogos ou estudantes de psicologia. A autora opta por usar uma forma objetiva e direta de abordar a ética profissional nos seguintes aspectos: princípios gerais da avaliação psicológica, o uso de instrumentos psicológicos, a seleção de testes psicológicos, a aplicação de testes psicológicos, correção e interpretação de resultados de testes psicológicos, relato e devolução dos resultados da avaliação psicológica, princípios de construção dos testes psicológicos, e considerações gerais. No capítulo dois, o primeiro texto aborda a motivação, Isaac Garrido Gutiérrez introduz com um conceito do construto e sua utilidade enquanto um tema explicativo. Em seguida, situa a motivação no contexto da escola, partindo para uma definição de motivação escolar e da educação, destacando um modelo integrador da ação educativa e seus processos, e da ação do professor no desenvolvimento da motivação. O autor descreve as possibilidades de intervenção neste processo e em três tipos de motivaRev. ciênc. hum, Taubaté, v. 10, n. 1, p. 79-81, jan./jun. 2004. ções: motivação cognitivo-social, motivação intrínseca e a motivação extrínseca; destaca ainda a possibilidade na aplicação de técnicas motivacionais durante a fase da ação educativa. Trata-se de um capítulo extenso e muito rico para compreensão, nas aplicações e meios de avaliação da motivação no âmbito escolar. O próximo texto é de autoria de Maria Helena Cordeiro e Antonio Roazzi, e trata de uma pesquisa realizada em 45 crianças da 1º série de escolas públicas de Recife. Com este estudo os autores procuram levantar uma discussão sobre a avaliação da leitura e escrita na escola. Eles trazem uma valiosa e interessante discussão da dicotomia entre as medidas quantitativas e os aspectos qualitativos envolvidos no processo de aprendizagem de cada aluno, apontando a importância de cada uma delas. A partir desta discussão apresentam um programa de computador de Análise Multidimensional – POSAC – Partial Order Scalogram Analysis with Base-Co-ordinates – tal programa é parte da Teoria das Facetas, e foi utilizado pelos autores nos resultados das pesquisas. Eles argumentam que o POSAC é um grande auxílio na avaliação da aprendizagem escolar, pois considera uma análise quantitativa e qualitativa, ambas defendidas por eles. A pesquisa é inovadora, pois há a proposta de psicólogos escolares usarem outros meios de análise de dados na prática da avaliação, deixando de lado formas tradicionais. Além de toda preocupação que envolve a avaliação de um aluno como forma de tomada de decisão. O terceiro texto, do segundo capítulo, é de Maria Pérez Solis. A autora aborda as dificuldades de aprendizagem, iniciando com uma discussão de sua delimitação conceitual, apontando duas correntes atuais: a que predomina em países como os Estados Unidos, em que inclui as dificuldades de aprendizagem específicas; e a que predomina em países europeus: dificuldades de aprendizagem genérica. A autora descreve cada uma destas correntes segundo sua história e concepções. Posteriormente, propõe um modelo integrador de avaliação das dificuldades de aprendizagem, primeiramente citando diversos modelos da avaliação psicológica nas dificuldades de aprendizagem, para em seguida focar sua proposta no modelo integrador de avaliação psicopedagógica. O texto da autora é muito rico, ela contribui com um modelo de avaliação psicopedagógica descrevendo, claramente, todo este complexo processo. É uma contribuição inestimável para os profissionais da área. 80 O quarto texto, da autoria de Solange Múglia Wechsler, refere-se à avaliação da criatividade. A autora, estudiosa do tema, inicia com uma conceituação da criatividade trazendo à tona todo seu histórico, com os diversos estudiosos responsáveis pela sua origem e estruturação, em seguida descreve os enfoques de autores mais atuais, enfatizando a ampliação do conceito de criatividade, considerando seu estudo e avaliação numa abordagem multidimensional. Chegando na proposta de um modelo composto de três grandes conjuntos: habilidades cognitivas, área afetiva e estilos de criar. Num segundo momento a autora descreve as dimensões da criatividade, explicando cada uma delas. Num terceiro momento são enfocadas as possibilidades existentes na medida da criatividade, onde há uma discussão sobre os diversos procedimentos e métodos dentro de uma análise qualitativa e quantitativa; além da preocupação da autora com os parâmetros psicométricos. Por fim , há uma consideração do estágio científico atual para a avaliação da criatividade visando uma compreensão multidimensional. O texto é extenso é proporciona uma explicação detalhada ao que se propõe. Ana Muñoz-Sandoval e Richard W. Woodcock são responsáveis pela descrição de duas provas da bateria Woodcock-Muñoz: provas de habilidades cognitivas - revisada, e provas de aproveitamento revisada. De acordo com os autores, tal bateria é baseada num modelo de inteligência atualizado, e apontam como marco teórico a Teoria Gf-Gc: inteligência fluída e cristalizada, alguns dos aspectos da teoria são citados. As baterias são descritas, caracterizadas demonstrando suas utilidades; e o desenvolvimento de ambas é explicado pelos autores. É um bom texto para quem deseja ter um conhecimento maior sobre a bateria e manter-se atualizado na literatura internacional em relação à avaliação cognitiva. John Raven, autor do penúltimo texto do livro, defende a importância da utilização das Matrizes Progressivas de Raven como medida do funcionamento cognitivo. O artigo é extenso e indicado para quem deseja aprofundar os conhecimentos sobre esta escala, pois apresenta um sumário de evidências baseadas em diversas pesquisas transculturais de vários estudiosos. O autor apresenta os parâmetros psicométricos de validade de construto e validade preditiva da escala, além da discussão das curvas características dos itens por meio da Teoria de Resposta ao Item – TRI. O texto aborda ainda conceitos de inteligência e com- Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 10, n. 1, p. 79-81, jan./jun. 2004. petência, demonstrando as possibilidades e limitações na utilização das Matrizes Progressivas de Raven. O último texto é de autoria de Eleonora Vivas, onde discute e defende a necessidade de se compreender os transtornos alimentares, tais como bulimia e anorexia, dentro do contexto sócio-cultural, deste modo apresenta diversos estudos dentro desta perspectiva, ressaltando a avaliação e a metodologia deste tema. A autora contribui na construção para quem deseja realizar este tipo de estudo, e aponta para as dificuldades mais encontradas nestas pesquisas. O texto é encerrado com recomendações baseadas na própria experiência da autora e em dados de diversos autores na área de transtornos alimentares. Por se tratar de uma coletânea de diversos autores, a obra é indicada tanto para os profissionais quanto para os alunos de graduação que estão interessados na área de avaliação psicológica em diferentes contextos. Assim, os textos são úteis e de grande auxílio para aqueles que querem desenvolver pesquisas científicas dentro dos temas abordados, para professores de avaliação psicológica, ao tratar dos diversos contextos da avaliação psicológica e para a prática profissional do psicólogo, pois proporcionam embasamento científico para atuação. Dejenane Aparecida Pascoal Pereira é professora Colaboradora Assistente III do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté. TRAMITAÇÃO Artigo recebido em: 08/03/2004 Aceito para publicação em: 17/06/2004 81