4
O DISTRITAL | DOMINGO | 30 de maio a 5 de junho de 2010
cidade
■■ OPERAÇÃO SHAOLIN
Denúncias contra Agnelo
iniciam crise com Polícia Civil
Nota de esclarecimento assinada pelo pré-candidato petista ataca a Polícia Civil e o MP,
além de levantar dúvidas sobre a credibilidade de investigação das duas instituições
Thyago Arruda
»»Caio Barbieri
Reportagem local
U
ma nota oficial assinada
pelo diretório regional
do Partido dos Trabalhadores e pelo pré-candidato
petista ao Buriti, Agnelo Queiroz, despertou a fúria de representantes, principalmente da
Polícia Civil do Distrito Federal. O texto, divulgado no site
do partido, é uma resposta às
denúncias publicadas pela revista Época desta semana, sobre o
possível envolvimento de Agnelo em esquemas de corrupção e
de desvio de recursos públicos
do Ministério dos Esportes.
Em tom carregado, a nota
faz ataques à polícia e ao
Ministério Público e coloca
em xeque a credibilidade dos
agentes públicos ao conduzirem o processo de investigação
na batizada Operação Shaolin. “O que está em curso nos
intestinos da Polícia Civil do
Distrito Federal, e que conta
com a anuência de facção do
Ministério Público do Distrito
Federal, é um procedimento de
destruição de reputações que
Deputado federal Laerte Bessa (PSC-DF) afirmou que as declarações
petistas são “irresponsáveis” e “inconsequentes”
guarda similaridade a atos de
barbárie cometidos pelos fascistas”, afirma um trecho do
documento. De acordo com o
comunicado petista, a investigação tem finalidade política e
acusa as instituições de terem
sofrido poder de influência
de José Roberto Arruda, exgovernador do Distrito Federal
acusado de corrupção, mas que
teve o mandato cassado pela
Justiça Eleitoral por infidelidade partidária.
Em outra parte do texto,
Agnelo e os integrantes do
diretório petista afirmam que
a operação Shaolin “é um procedimento investigatório ilegal
e clandestino, produzido sob o
patrocínio de agentes públicos
incompetentes, mas domesticados e adestrados por interesses subalternos para alcançar
resultados manipulados, em
claro desafio à Constituição
Federal”. Ainda segundo a
nota, o objetivo da investigação
seria de interromper a ascensão de Agnelo Queiroz nas
pesquisas de intenção de voto
para governador.
As declarações petistas irritaram representantes das categorias policiais. Ex-diretor da
Polícia Civil do DF, o deputado
federal Laerte Bessa (PSC-DF)
afirmou que as declarações
petistas são “irresponsáveis”
e “inconsequentes”. “O précandidato petista precisa ter
cuidado com o que fala. Como
delegado, sei que todos os bandidos sempre criticam a polícia. Eles não gostam de polícia.
O comportamento do pré-candidato parece não estar muito
diferente dos meliantes”, ironizou o deputado federal Laerte Bessa (PSC-DF). Delegado
aposentado, Bessa condenou
a estratégia petista ao afirmar
que a Polícia Civil “jamais se
curvou para proteger políticos
desonestos, sejam eles de partidos de situação ou oposição”.
Outro parlamentar que se
incomodou com as declarações
do Partido dos Trabalhadores
foi o deputado federal Alberto
Fraga (DEM-DF). Mesmo sendo coronel da Polícia Militar,
Fraga disparou severas críticas
Thyago Arruda
Sindicatos reagem contra declarações petistas
Os dois sindicatos com maior representatividade da Polícia Civil do Distrito
Federal também rechaçaram as “acusações” feitas pelo pré-candidato petista ao
GDF. Em nota, o presidente do Sindicato
dos Policiais Civis, Wellington Luiz, afirma
que Agnelo acusa de forma detestável e
injustificável os servidores da instituição
policial. “A Polícia Civil do Distrito Federal sempre foi reconhecida por sua imparcialidade na
condução de investigações que
buscam a evidência da verdade
em seu bojo, doa a quem doer”,
afirma.
Wellington resume como
“erro estratégico” a forma com
Mauro Cezar, presidente do
Sindicato dos Delegados
que o candidato se refere ao Ministério
Público e à Polícia Civil. “Para tais enfermidades políticas, o silêncio e a humildade
ainda continuam sendo o melhor remédio”,
diz o texto. O presidente do Sinpol adiantou
que já fez uma consulta ao departamento
jurídico da entidade para procurar medidas
judiciais cabíveis para sanar a ferida aberta
com as acusações.
Presidente do Sindicato dos Delegados,
Mauro Cezar Lima rebateu o texto de Agnelo , o qual definiu como “leviano” e “infeliz”. “A polícia nunca usou as investigações
para prejudicar ou apoiar alguém do cenário
político. Criou-se uma crise desnecessária
contra a Polícia Civil, que sempre atuou de
forma independente e responsável. O investigador não pode e não vai escolher quem
será investigado”, afirmou. Mauro Cezar
afirma que há cinco anos tramita no Congresso Nacional o projeto da Lei Orgânica
da Polícia Civil que, entre outros pontos,
dará maior autonomia e liberdade de investigação aos policiais. “Por isso, defendo que
sejamos uma polícia de Estado e não uma
polícia de Governo”, sustenta.
Procurado pela reportagem, o pré-candidato petista ao Palácio do Buriti, Agnelo
Queiroz, passou praticamente o dia inteiro
sem atender as ligações no celular. Até o
fechamento desta edição, o petista não foi
localizado para comentar a repercussão da
nota divulgada no sábado. Dentro do PT,
o clima é de instabilidade. Alguns aliados
de Agnelo temem que a má repercussão
do caso resulte na inviabilidade eleitoral do petista para concorrer ao Buriti em
outubro.
5
O DISTRITAL | DOMINGO | 30 de maio a 5 de junho de 2010
cidade
Nota de
esclarecimento
“Sob o comando do ex-governador José Roberto Arruda, que foi
preso e renunciou ao mandato
em razão das graves denúncias
de corrupção que vieram à tona
nos últimos meses, uma facção
da Polícia Civil do Distrito Federal
urdiu um suposto inquérito de
investigação destinado a atingir a imagem pública de Agnelo
Queiroz, pré-candidato do PT ao
governo do DF.
Versões desse suposto inquérito, que na verdade é um procedimento investigatório ilegal e
clandestino, produzidas sob o
patrocínio de agentes públicos
incompetentes, mas domesticados e adestrados por interesses
subalternos para alcançar resultados manipulados, em claro
desafio à Constituição Federal,
começam a chegar à imprensa. O
objetivo é interromper a ascensão de Agnelo Queiroz nas pesquisas de intenção de voto para
governador.
A falsa investigação, escorada
em métodos fascistas, moveu-se
com desvio de finalidade ao forjar
premissas inverossímeis. Agnelo
Queiroz não foi investigado, nem
ouvido e, mais grave, sequer indiciado pelo fajuto inquérito. Mas
o objeto estava fabricado para
que surgisse como protagonista.
Trata-se da tentativa de rescaldar denúncias velhas, que não
estão amparadas nas auditorias
que o Tribunal de Contas da
União e a Corregedoria Geral
da União empreenderam na
gestão de Agnelo Queiroz no
Ministério dos Esportes, a fim
de tentar equiparar a biografia
política do pré-candidato do PT
e de seus aliados ao prontuário
policial ostentado por nossos
adversários.
O que está em curso nos intestinos da Polícia Civil do Distrito
Federal, e que conta com a anuência de facção do Ministério
Público do Distrito Federal, é um
procedimento de destruição de
reputações que guarda similaridade a atos de barbárie cometidos
pelos fascistas. Um governador
que foi preso e renunciou ao
mandato para não ser cassado,
seus sócios, asseclas, herdeiros e
criadores políticos creem-se capazes de manipular procedimentos
policiais, influenciar a imprensa e
dirigir decisões do Poder Judiciário
com o fim exclusivo de produzir
uma vitória eleitoral destinada a
lhes devolver o poder político na
capital da República. Não conseguirão. Não voltarão. Resistiremos lutando com todas as armas
legítimas da legalidade. Medidas
judiciais e administrativas, verdadeiras e legítimas, em ambientes
institucionais, serão movidas para
que se punam os agentes que
desconhecem as garantias constitucionais do Estado Democrático
de Direito.”
Agnelo Queiroz
ao comportamento do précandidato do PT ao GDF sobre
a reputaçao da PCDF. “Como
alguém que quer ser governador do Distrito Federal pode
tratar dessa forma uma
instituição séria como a
Polícia Civil, uma das mais
preparadas do Brasil? Esse é
o estilo PT. Quando a acusação envolve outros, é verdadeira. Quando se volta pra
eles próprios, eles tentam
desqualificar de qualquer
jeito. Isso é falta de vergonha na cara”, esbravejou.
Procurado
diversas
vezes pela reportagem, o
deputado Alírio Neto (PPS),
delegado da PCDF, não retornou as ligações até o fechamento desta edição. O deputado distrital Chico Leite (PT),
promotor de Justiça e defensor
da categoria, chegou a conversar com a reportagem e afirmou que ainda não havia tido
acesso à integra do documento.
Depois, não retornou as várias
tentativas de contato durante
todo o sábado.
ENTENDA O CASO
Na edição desta semana de Época, o ex-ministro Agnelo Queiroz (PT) é acusado de participação
em um golpe milionário envolvendo recursos do Ministério dos Esportes. Investigação deflagrada
pela Polícia Civil do Distrito Federal no início de abril, batizada de Operação Shaolin, prendeu cinco pessoas, apreendeu documentos e colheu depoimentos sobre o destino
de quase R$ 3 milhões repassados pelo ministério a duas
associações de kung fu de Brasília. Por causa dessa matéria, Agnelo e o PT soltaram nota de esclarecimento sobre a
reportagem.
A revista sustenta que “de acordo com a apuração
da polícia, empresas de fachada cobravam 17% do valor
das notas para emitir os papéis frios, sacar os recursos
depositados pelas associações em suas contas e devolver
o dinheiro para as ONGs”. Os investigadores afirmam que
o suplente de deputado distrital, João Dias (PCdoB), que
preside uma associação, desviou recursos para a compra de
Reprodução Revista Época
uma casa avaliada em R$ 850 mil para construir duas academias de ginástica e financiar sua campanha para deputado
distrital em 2006.
João Dias e seu assessor, Eduardo Pereira Tomaz, foram presos temporariamente durante a
Operação Shaolin. Um manuscrito encontrado na casa de Dias chamou a atenção dos policiais por
relacionar o número “300.000” ao nome “Agnelo”. O papel foi submetido à perícia, que identificou
João Dias como o autor do bilhete.
O relatório final da PCDF pede que seja feito um rastreamento dos telefones celulares usados
por Agnelo e pelos outros envolvidos e propõe que sejam pedidos os extratos telefônicos que contêm as chamadas geradas e recebidas pelas linhas usadas pelos suspeitos, inclusive Agnelo. Para a
revista, tanto o petista quanto João Dias negaram com veemência as acusações.
CURTAS
■■ PÓS-CRISE
Ministério Público propõe
acordo com Finatec
Para evitar a extinção após graves denúncias,
instituição ligada à Universidade de Brasília pode
ter conselho superior indicado por promotores
Depois de pedir a extinção da Fundação de Empreendimentos Científicos e
Tecnológicos (Finatec), o
Ministério Público do DF
propôs um acordo à direção da entidade. O MP quer
indicar os membros do conselho superior durante um
ano. A proposta foi apresentada pela procuradora Ana
Carolina Marques, em reunião com a nova presidente
da Finatec, a professora aposentada Júlia Issy Abrahão, e
o reitor José Geraldo de Sousa Junior.
A proposta de acordo
deve ser enviada até o final
desta semana. A procuradora chegou a aventar a possibilidade de a Finatec trocar
o seu quadro completo de
funcionários e os diretores.
Os indicados para o conselho superior seriam todos
professores da UnB. A troca
deve ocorrer em setembro,
quando se encerra o mandato
dos atuais conselheiros.
A Finatec é ligada à Universidade de Brasília e tem
o objetivo de promover e
apoiar o desenvolvimento
tecnológico e científico. No
““
A minha
preocupação é
manter a Finatec em
funcionamento. Ela
tem que dar apoio à
universidade
”
Júlia Issy Abrahão,
professora
ano passado, o MP denunciou que a verba da fundação era utilizada para gastos
desnecessários e que não
estavam ligados às atividades de pesquisa na UnB.
Segundo a denúncia, o
ex-reitor da UnB, Timothy
Mulholland, teria usado R$
470 mil para mobiliar o seu
apartamento particular com
verba da instituição. Outras
despesas também aparecem
na denúncia, como um gasto de R$ 199 com um abridor de latas, R$ 859 com um
saca-rolhas e quase R$ 1 mil
com três lixeiras. Segundo o
MP, os dirigentes da Finatec
usavam o dinheiro também
para pagar viagens, contas
em bares e em restaurantes. As contas de 2009 ainda
estão sob análise do Ministério Público. As contas de
2008 estão sendo discutidas
na Justiça.
A professora Júlia Issy
Abrahão diz que não vê
nenhum inconveniente em
aceitar o acordo proposto
pelo MP. “A minha preocupação é manter a Finatec em
funcionamento. Ela tem que
dar apoio à universidade”,
afirma.
Com informações da UnB
TRABALHO
Concurso para
professores
A Secretaria de Planejamento,
Orçamento e Gestão (Seplag) irá
publicar no Diário Oficial do DF da
próxima semana o edital do concurso público para 400 professores
Classe A da carreira Magistério da
Secretaria de Educação (SEDF). O
documento deve ser publicado na
sexta-feira (4).
O salário inicial para professores
de 40 horas do diurno é de R$
3.720,00. Para professores de 20
horas diurno ou noturno é de R$
1.381,00. Só não serão abertas
vagas para professores de Educação Física, História e Geografia. A
maioria das 400 vagas está destinada a professores de Atividades
– de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental – e de Música.
Ceilândia
Combate à invasão
A Secretaria da Ordem Pública e
Social (Seops), juntamente com
Subsecretaria de Defesa do Solo
e da Água (Sudesa), realizou, na
última semana, ação da forçatarefa de combate à invasão de
área pública. A ação aconteceu no
Setor Habitacional Sol Nascente,
em Ceilândia.
Ao todo, duas obras foram removidas e outras duas embargadas.
Uma construção foi retirada por
estar localizada em Área de Proteção Permanente (APP). A outra
fazia parte de um parcelamento
irregular de terra. As obras embargadas não possuíam licença para
construir.
Download

Lei aqui o que disseram os defensores da Polícia Civil em maio de