POLÍTICAS DE INCENTIVO À LEITURA:
INTERFACES DOS PROGRAMAS ADOTADOS NO BRASIL A
PARTIR DA DÉCADA DE 1990
Selma Martines Peres
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Palavras-chave: Leitura; políticas de incentivo à leitura; história da leitura.
Introdução
Pensar a leitura em uma nação com aproximadamente 190 milhões de
habitantes, dentre os quais milhões de analfabetos e iletrados, é sem dúvida um grande
desafio. Pesquisas têm apontado que é grande o número de brasileiros que não tem
assegurado o direito de aprender a ler e de ter acesso à leitura de livros e materiais
impressos ou virtuais. Assim, fazem-se necessárias políticas públicas de incentivo a
práticas de leitura efetivas e de qualidade.
Este estudo traz notas parciais de uma pesquisa em andamento que tem como
finalidade conhecer e analisar as políticas de incentivo à leitura a partir da década de
1990. Neste texto apresentam-se alguns apontamentos sobre o entendimento de leitura
e práticas de leitura. Em seguida aponta-se o conceito de políticas públicas que norteia
este estudo. Por fim, alguns resultados de avaliações em relação à leitura e a descrição
de programas e campanhas que fizeram parte das políticas de incentivo à leitura das
últimas décadas.
1. Leitura, práticas de leitura, livro: alguns apontamentos
Nos últimos anos muitos pesquisadores de diferentes áreas têm se dedicado ao
estudo da leitura no intuito de perceber as tensões existentes entre leitor e modos de ler.
Batista e Galvão (1999, p.26) salientam que
Muitos desses estudos, talvez a parcela mais significativa deles
focalizam, muitas vezes em uma ótica normativa, os processos de
formação de leitores, por meio de análise do ensino da leitura na
escola, sobressaindo-se, nesse grupo, aqueles que prescrevem a
leitura de obras literárias em geral e de literatura infanto-juvenil na
sala de aula, no esforço de formar alunos-leitores ou, em alguns
casos, de formar professores-leitores.
Contudo, Batista e Galvão afirmam que muitos estudos têm surgido em uma
perspectiva diferenciada, analisando o processo de produção de livros e revistas,
centrando-se nas estratégias de edição, buscando conhecer as diferentes edições de uma
mesma obra ou os protocolos de leitura de um livro que era dado a ler.
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Além disso, destacam-se, ainda, os estudos que “investigam os usos e as
apropriações dos livros e impressos” (1999, p.26), que analisam os processos de leitura
de grupos específicos de leitores, como, por exemplo, as mulheres. Há, também, os
estudos que adotam uma perspectiva histórica, sendo que alguns deles analisam os
espaços onde ocorria a leitura, tais como: a biblioteca e os gabinetes de leitura.
Batista e Galvão chamam atenção para os trabalhos que enfatizam a história do
ensino da leitura ou o processo de escolarização da leitura no Brasil e sua relação com
os movimentos educacionais. Outros trabalhos descritos pelos autores (1999, p. 26)
“buscam realizar a história da recepção e dos usos de obras literárias específicas (ou de
um autor específico), entre elas as dirigidas ao público infanto-juvenil”. Observam-se
estudos que tratam da censura de algumas obras ou por parte da Igreja ou por grupos
políticos que detém o poder. Há, também, aqueles que buscam, nos impressos e
materiais iconográficos, representações que possam retratar a leitura e os leitores de
épocas distintas. E há, ainda, estudos que buscam apreender os processos de letramento
de determinados grupos sociais em momentos diferentes da história. (BATISTA e
GALVÃO, 1999, p. 27).
Como se pode observar há diferentes ênfases no tratamento da temática leitura.
No Brasil, uma primeira tradição referente aos estudos da leitura tem um caráter
prescritivo desenvolvido sob a influência dos modelos funcionalista e positivista. Nessa
tradição, o ato de ler resumia-se a um conjunto de normas e procedimentos que eram
quantificáveis e controláveis para que a mensagem do texto fosse assimilada de forma
mais eficiente. A concepção de leitura nessa ótica é de um mecanismo de decodificação
da palavra escrita. A prática de leitura operacionalizada, especialmente pela escola,
efetivava-se em atividades repetitivas onde o aluno tinha o papel de assimilar o texto e,
ainda, reproduzir a resposta literal previamente estabelecida como correta pelo professor
e/ou livro didático.
Uma segunda tradição surge da tentativa de superar a tradição prescritiva a partir
da denúncia de uma crise da leitura. Desse modo, estudiosos da leitura, no final dos
anos 1970, denunciaram e diagnosticaram o fracasso na produção de hábitos de leitura;
a falta de tempo e de condições econômicas de alguns segmentos da sociedade para a
prática da leitura e a escola que apresentava um modo funcional e positivista de ensinar
a ler. Além, é claro, da falta de livros e mesmo de bibliotecas dentre tantos outros
problemas que acometiam a escola e a sociedade de forma geral.
A partir dessas denúncias, nos anos 1980, foi criada a Associação de Leitura do
Brasil (ALB). O Congresso de Leitura (COLE) ganhou notoriedade e surgiu a revista
Leitura: teoria e prática. Instâncias estas constituídas a partir de uma série de debates e
reflexões que objetivavam a democratização da leitura no Brasil. Ainda, envolvidos no
discurso da crise de leitura surgiram vários estudos que reivindicavam
a adoção de novos procedimentos de leitura, novas atitudes e
habilidades capazes de fazer frente às demandas sociais em relação à
democratização da sociedade e produção de cidadania. Tais estudos
reivindicam a vinculação do ato de ler aos atos de questionar,
conscientizar-se e libertar-se (MORAES, 1999, p. 44).
Nessa tradição, a leitura passa a ser tomada como um instrumento de
conhecimento e crítica. Dentro dessa perspectiva não há espaço para a sacralização dos
textos, ao contrário deve-se mostrar a estreita ligação entre texto e história. Nota-se que
nesse período em que a sociedade brasileira vivenciava um processo de
redemocratização requeria-se um leitor que tivesse uma postura crítica diante do texto,
assim como a sociedade também deveria ser percebida de maneira crítica. O ato de ler
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ultrapassa, portanto, o ato de decodificar o texto, dada a necessidade de relacioná-lo a
sujeitos, tempo, espaços e situações.
Neste cenário o tema leitura passa a ser investigado sob vários aspectos, dentre
eles:
1) o papel do professor no ensino e no desenvolvimento da leitura referindo-se à
formação de leitores críticosi;
2) o desenvolvimento do gosto pela leitura;
3) a exigência de habilidades teórico-metodológicas por parte do professor que
trabalha a leitura;
4) adoção de posicionamento político-pedagógico no intuito de garantir uma
perspectiva crítica acerca da realidade social e da leitura;
5) conduta de leitura do professor, ou seja, a história de leitura e as experiências
vivenciadas como leitor, as quais contribuem significativamente com sua concepção de
leitura e, ainda, podem orientá-lo em suas ações docentes.
Muitos destes estudos apontaram para um perfil de professor como um nãoleitor, como alguém que não gostava de ler, que não tinha hábito da leitura, que no seu
cotidiano distanciava-se dos livros, fato que acabou estabelecendo um ideal a ser
buscado. Tais abordagens sinalizaram, também, a falta de livros, a falta de alunosleitores, a falta de professores-leitores, a falta de bibliotecas, a falta de hábitos de leitura
como parte da realidade brasileira.
Contudo, outros campos de conhecimento possibilitaram interpretações que não
estão, necessariamente, fundamentadas na falta. A história cultural, por exemplo, vem
contribuindo com o conhecimento dos leitores e de suas práticas de leituras sob aspectos
ainda não investigados. Nesta abordagem se adota uma concepção de história voltada
para as experiências, lembranças e percepções no sentido de reconstruir o passado a
partir do olhar e da voz de pessoas comuns.
No campo da história da leitura, os estudos apontam para o inventário das
práticas de leitura. Nela busca-se compreender o modo como os leitores se aproximam
do texto, a maneira como fazem uso dele. Para isso, necessita-se das confidências dos
leitores acerca de suas estratégias, de suas táticas de leitura.
Tal panorama, ainda que traçado brevemente possibilita dizer que os estudos
sobre a leitura no Brasil vêm ganhando força por parte de diferentes grupos de
pesquisadores. Soma-se a isso, a idéia de que tais estudos não estão atrelados a uma
única perspectiva, mas que expressam, de certa forma, perspectivas heterogêneas de
análise.
2. Políticas de incentivo à leitura e livro a partir dos anos 1990: alguns exemplos
Tratar a temática políticas de incentivo à leitura pressupõe a adoção de um
conceito de política pública. Nesse estudo a concepção adotada aproxima-se do conceito
apresentado por Souza (2006). Segundo a autora, por mais que se busque não existe
uma única e melhor definição sobre o conceito de política pública.
Mead (1995) a define como um campo dentro do estudo da política
que analisa o governo à luz de grandes questões públicas e Lynn
(1980), como um conjunto de ações do governo que irão produzir
efeitos específicos. Peters (1986) segue o mesmo veio: política
pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente
ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos. Dye
(1984) sintetiza a definição de política pública como “o que o
governo escolhe fazer ou não fazer”. A definição mais conhecida
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continua sendo a de Laswell, ou seja, decisões e análises sobre
política implicam responder às seguintes questões: quem ganha o
quê, por quê e que diferença faz. (SOUZA, 2006, p. 24).
Nesse sentido, Souza enfatiza que ainda que existam abordagens diferentes,
geralmente as definições de políticas públicas apresentam uma visão holística em que o
todo é mais importante do que as partes. Além disso, ressalta que as políticas públicas
apontam para a análise dos governos. “[...] As políticas públicas repercutem na
economia e nas sociedades, daí por que qualquer teoria da política pública precisa
também explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e sociedade”
(SOUZA, 2006, p. 24).
Desta forma, refletir sobre as políticas públicas leva a análise de questões
referentes ao espaço dado por cada governo quando da definição e implementação
dessas políticas. Assim, analisar as políticas de incentivo à leitura a partir da década de
1990 implica relacionar as ações dos governos de Fernando Collor de Melo (19901992), Itamar Franco (1992-1995), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luís
Inácio Lula da Silva (2003-atual).
Em suma, entende-se política pública como
o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o
governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e,
quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações
(variável dependente). A formulação de políticas públicas constituise no estágio em que os governos democráticos traduzem seus
propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que
produzirão resultados ou mudanças no mundo real. (SOUZA, 2006,
p.26)
Mas, o que dizer das políticas públicas de incentivo à leitura? Qual é a situação
nacional em relação à leitura e suas práticas?
Nas últimas avaliações realizadas por agências nacionais e internacionais o
Brasil vem apresentando um resultado negativo em relação à questão da leitura.
Segundo o relatório do exame do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes
(PISA/2006), apresentado pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento
Econômico (OCDE), o Brasil piorou seu desempenho em leitura.
Este exame de leitura avalia as habilidades de ler e escrever, interpretar textos,
usar a escrita em situações cotidianas, opinar. Os estudantes brasileiros fizeram em
média 393 pontos em leitura, atingindo assim, apenas o nível 1 de aprendizagem, em
uma escala que vai e 1 a 6 (sendo que 1 é o pior resultado e 6 o melhor). Este resultado
coloca o país entre os últimos colocados num ranking entre 57 países. Vale destacar que
os melhores alunos brasileiros conseguiram aumentar 23 pontos se comparados aos
resultados do último exame (PISA/2003), enquanto que as piores notas caíram em 30
pontos.
De acordo com os dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(SAEB) de 2003, na prova de leitura realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), a média geral obtida pelos alunos da 4ª série (hoje
5° ano) do Ensino Fundamental foi 169,4 pontos (numa escala que vai até 500 pontos
para todas as séries da 4ª e 8ª do Ensino Fundamental e 3ª do Ensino Médio). Nessa
prova foi exigido dos alunos que reconhecessem o tema de um texto informativo mais
simples e que localizassem informações explícitas em textos narrativos mais longos e
em anúncios de classificados.
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Ainda que o resultado tenha sido comemorado pelas autoridades, em virtude da
pequena ascensão no percentual de desempenho de leitura dos alunos, que vinha
decaindo nos últimos examesii, os resultados ainda demarcam a precariedade do
desempenho de leitura dos estudantes brasileiros. Segundo dados do próprio INEP
dos alunos que freqüentam a 4ª série do ensino fundamental, 55%
apresentam níveis de desempenho escolar considerado crítico ou
muito crítico em leitura, de acordo com os resultados do Saeb 2003.
[...] Já o índice de alunos no nível “intermediário” passou de 36,2%
para 39,7%. Nesse estágio, os estudantes estão começando a
desenvolver as habilidades de leitura, mas ainda abaixo do exigido
para a 4ª série. Eles reconhecem o tema de um texto e os elementos
que constroem uma narrativa. Apenas 4,8% (mesmo índice do Saeb
de 2001) podem ser considerados leitores competentes e estão no
nível adequado. Eles conseguem estabelecer a relação de causa e
conseqüência em textos narrativos mais longos e distinguem efeitos
de humor mais sutis. (INEP, 2004)
Desse modo, frente a um cenário em que crianças, jovens e adultos lêem pouco
ou mal, em que faltam bibliotecas e espaços para a prática da leitura nos municípios e,
ainda, que as escolas dispõem de poucos livros para os alunos, algumas medidas vem
sendo tomadas nas últimas décadas resultando em políticas de incentivo a leitura e do
livro.
O Brasil tem hoje aproximadamente 97% da população entre 7 e 14 anos na
escola. Desta forma, o país tem uma oportunidade ímpar de formar uma geração que
aprenda e valorize as habilidades de leitura e escrita, que tenha uma visão crítica das
informações recebidas, assim como no exercício de construção de sentido para suas
práticas cotidianas. Nesse cenário, a escola assume um papel fundamental, enquanto
lócus de aprendizagem da leitura e da escrita e as políticas implementadas são de suma
importância para o desenvolvimento dessa geração.
Cabe ressaltar que a formação de leitores se inicia, geralmente, na escola, mas se
desenvolve, também, fora dela. A sociedade brasileira sofre as conseqüências de
históricos processos que excluíram e ainda excluem milhares de pessoas da educação
básica.
Assim, o sistema público de ensinoiii tem pautado o desenvolvimento de
políticas públicas voltadas para a promoção do livro e da formação de leitores. Dentre
as políticas implementadas pelo governo observa-se, por exemplo, o Plano Nacional do
Livro e Leitura (PNLL), cuja meta é a formação de leitores e o incentivo à leitura. O
PNLL foi instituído pela portaria interministerial n.º 1.442 de 10 de agosto de 2006, do
Ministério da Educação e da Cultura. O texto do PNLL expõe o interesse do Estado na
formação dos cidadãos, zelando pela educação e pela alfabetização através do fomento e
promoção da Leitura no País.
De acordo com o documento do PNLL, essa proposta centra-se numa visão
política a partir de dois grandes eixos, sendo eles: 1) o acesso ao livro; 2) formação de
leitores. Deste modo, há uma preocupação com a “formação continuada de profissionais
da escola e da biblioteca”, com a “produção e distribuição de materiais de orientação”;
em promover parcerias e “redes de leitura” e ainda, com a “ampliação e implementação
de bibliotecas escolares e dotação de acervos”(PNLL- HADDAD, dez/2006, p.8).
O PNLL traz como eixos estruturais: a democratização do acesso; o fomento à
leitura e à formação de mediadores; a valorização do livro e comunicação;
desenvolvimento da economia do livro. Nesse sentido, algumas iniciativas contribuíram
6
para a constituição do PNLL, tais como: o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD); o PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar); o fórum da Câmara
Setorial do Livro, Literatura e Leitura; o Projeto Fome de Livro (iniciativa do MEC/
Biblioteca Nacional); o PNLEM (Programa Nacional do Livro no Ensino Médio); o
Programa de Formação do Aluno e do Professor Leitor e o Vivaleitura; o Programa
Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER).
Desta maneira, é mister analisar e conhecer as políticas públicas de incentivo à
leitura, formação do leitor e do livro, implementadas nos últimos anos pelos órgãos
oficiais brasileiro, no intuito de conhecer como e por que o governo vem fazendo ou não
ações que poderão repercutir na vida dos cidadãos em relação a temática leitura.
Segue abaixo alguns programas, projetos e campanhas veiculadas nas últimas
décadas:
• PROLER
O PROLER foi lançado em 13 de maio de 1992, através do Decreto Presidencial n.
519, vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, com o propósito de incentivar o
interesse nacional pela leitura e escrita. Dentre os objetivos do PROLER destacam-se
ainda:
Promover políticas públicas que garantam o acesso ao livro e à
leitura, contribuindo para a formulação de uma Política Nacional de
Leitura;
Articular ações de incentivo à Leitura entre diversos setores da
sociedade;
Viabilizar a realização de pesquisas sobre livro, leitura e escrita;
Incrementar o Centro de Referência sobre leitura. (PROLER Fundação Biblioteca Nacional)
No que compete às diretrizes do PROLER a ênfase está na articulação entre
leitura e cultura a partir de uma compreensão contextualizada e valorização da esfera
pública voltada para o interesse da maioria da população leitora e não-leitora. Outra
diretriz apontada é quanto a “democratização do acesso à leitura, pela disponibilização
de material de leitura em bibliotecas escolares e públicas, em salas de aula e em salas de
leitura em locais públicos”. (PROLER - Fundação Biblioteca Nacional)
O documento tem como vertente a realização dessas diretrizes organizados em
três eixos, sendo eles: 1) Fomento e divulgação; 2) Formação Continuada de
Promotores de Leitura; 3) Pesquisa e Documentação.
O PROLER apresenta ainda ações no intuito de criar condições para a prática da
leitura no Brasil, respeitando-se as diversidades culturais e sociais:
Formação de uma rede nacional de incentivo à leitura;
Cursos de formação de promotores de leitura;
Assessoria para implementação de projetos de promoção da leitura;
Promoção de um Fórum Nacional da Leitura;
Implementação da política de incentivo à leitura na Casa da Leitura,
com cursos, palestras e outras atividades;
Criação da rede de referência e documentação em leitura;
Implantação de Bibliotecas Demonstrativas para crianças e
adolescentes;
Concurso anual "Os melhores programas de incentivo à leitura junto
a crianças e jovens de todo o Brasil";
Sistema de acompanhamento e avaliação. (PROLER – Fundação
Biblioteca Nacional)
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Vale destacar que o PROLER não tem a função de distribuição de livros, mas de
coordenar e disseminar idéias para dinamizar experiências relativas a leitura. Assim o
PROLER caracteriza-se como elemento potencializador para a troca de experiências
entre instituições e agentes formadores de recursos humanos preocupados em construir
uma sociedade leitora.
Soares (2000) analisa os resultados sobre a implementação do PROLER e PROLEITURA. Segundo a autora, as propostas apresentadas nos programas correspondem a
intenção de superação da caótica realidade em relação à leitura. Contudo, problemas de
caráter financeiro, relativos a verbas destinadas à execução das ações e o distanciamento
entre a coordenação central e agentes envolvidos na realização dos programas
comprometeram a qualidade e efetivação dos mesmos.
• PRÓ-LEITURA
Em 1992 foi criado o PRÓ-LEITURA que tem o objetivo de contribuir para a
formação continuada de professores, sendo uma de suas principais ações a formação de
mediadores de leitura no intuito de auxiliar no desenvolvimento das competências dos
alunos em relação à língua padrão.
Segundo Rosa e Oddone (2006), o PRÓ-LEITURA foi uma iniciativa da Secretaria
de Educação Básica (MEC) em parcerias com as secretarias de Educação dos estados,
universidades e, também, a embaixada da França. Atualmente, aparece no site do MEC
referência a política de formação de professores e alunos leitores com objetivo similar
ao PRÓ-LEITURA.
• PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escola
Em 1997, o Ministério da Educação e Desporto (MEC), via Portaria Ministerial nº
584 de 28 de abril de 1997, instituiu o Programa Nacional da Escola – PNBE. O art. 1º.
da Portaria dispõe sobre as características do PNBE, sendo: aquisição de obras de
diferentes áreas de conhecimento; produção e difusão de materiais para apoiar projetos
de capacitação e atualização de professores de ensino fundamental; produção e difusão
de materiais áudios-visuais de caráter educativo e científico.
O art.2º. do referido documento diz que o acervo básico da biblioteca da escola será
formado em três anos a partir de 1997. O art. 3º. aponta que o financiamento destinado a
realização do PNBE é oriundo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE).
Como se pode observar a ênfase dada neste programa destina-se a alunos e
professores de ensino fundamental, nível de ensino de caráter obrigatório e foco das
atenções pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Constata-se que os alunos do
ensino fundamental receberam mini-dicionários e livros didáticos gratuitos. Para
compor os acervos da biblioteca escolar foram entregues, em 1998, para 20 mil escolas
123 títulos. Em 1999, para 36 mil escolas um total de 109 títulos infanto-juvenis, sendo
quatro deles voltado para crianças com necessidades especiais. Em 2001 foram
distribuídos 30 títulos diferentes em seis coleções.
Desde sua implementação o PNBE vem se adequando a realidade o que gera
alterações em sua estruturação. Nesse sentido, além da construção de um acervo para as
bibliotecas das escolas públicas o Programa passou a integrar seis ações, sendo elas:
1. Literatura em minha casa 4ª. Série;
2. Literatura em minha casa 8ª. Série;
3. Palavra da gente – EJA
4. Biblioteca escolar
5. Biblioteca do professor
6. Casa da Leitura
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Segundo dados do MEC, em 2006, o PNBE já havia atendido 46.700 escolas,
aproximadamente 14 milhões de alunos matriculados nas escolas de ensino
fundamental.
• Campanha: “Quem lê viaja” (1997).
A campanha foi veiculada em 1997 tendo como públicos alvos adolescentes e
jovens entre 12 e 18 anos. O objetivo era promover e (re)despertar o gosto pela leitura.
Esta campanha contou com apoio de entidades públicas e privadas ligadas ao livro e
leitura. A idéia era mostrar o livro e a leitura como possibilidade de ampliar os
horizontes e a imaginação dos leitores.
• “Tempo de Leitura” (2001)
A Campanha Tempo de Leitura, a partir da slogan “Vamos fazer do Brasil um país
de leitores” foi lançada pelo governo federal em 2001. O objetivo da campanha foi de
incentivar os pais e responsáveis à prática da leitura compartilhada com as crianças. Via
incentivos fiscais estimulou o patrocínio da iniciativa privada para desenvolver projetos
dessa natureza. A campanha contou ainda com a participação de escritores, artistas,
professores, bibliotecários, alunos no desenvolvimento de oficinas de leitura.
• Campanha: “Viva Leitura” (2005)
Em 2005 foi lançada a campanha “Viva Leitura”. Regina Zilberman (s/d), no texto
“A leitura como bem público” critica as propagandas veiculadas por essa campanha.
Um exemplo dado é a propaganda em que aparece a atriz Cleo Pires segurando o livro
“o Convento”. A autora destaca que não existe a obra indicada, de modo que a ação da
leitora é falsa. Que a atriz não olha para o livro, mas para a câmara. Para esta autora este
tipo de publicidade não colabora para o fortalecimento de uma visão prospectiva de
leitura.
A campanha “Viva Leitura” envolveu 21 países da Europa e Américas. O objetivo
dos países participantes era a comemoração do Ano Ibero-Americano da Leitura – 2005,
no intuito de estimular e fomentar a prática da leitura.
Considerações Finais:
Muito se pode apontar em relação às políticas públicas de incentivo à leitura.
Pode-se falar em avanços que se configuram no crescimento do índice de leitura, ainda
que modesto, como mostra os dados recentes da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
– 2008. Além do pequeno avanço em relação aos índices de leitura outro fator
interessante relatado é o lugar de destaque da poesia em todas as análises, mesmo com
todas as dificuldades de publicação encontrado pelos poetas (CUNHA, 2008).
Assim, ao destacar o avanço geral em relação à leitura, constatado em pesquisas
recentes, há que se assinalar que esse crescimento não é resultado apenas da
implantação de políticas públicas, mas do empenho de todos agentes envolvidos:
autores, professores, ilustradores, livrarias, editoras, escolas, bibliotecas, pesquisadores
e gestores. Contudo, num país em que há milhões de pessoas iletradas a implementação
de políticas públicas para a leitura é fundamental para a garantir a democratização da
leitura, tomando-a como prática social.
Ademais, ainda que se fale em avanços é preciso reconhecer que há muito que se
fazer para chegar a níveis decentes de leitura do cidadão. Nesse sentido, a eficiência de
políticas públicas para a leitura perpassa pela continuidade de suas ações, assegurando o
direito de aprender a ler, acesso à leitura e democratização da leitura.
Nesse sentido, este estudo em andamento já sinaliza para avanços em relação à
práticas leitoras como a implementação de políticas nas últimas décadas em relação a
9
leitura. Contudo, esse movimento é ainda é insignificante frente ao grande público
potencial de leitores existente no Brasil.
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em:
i
Recentemente o jornal Folha de São Paulo, divulgou o debate acerca dos métodos de alfabetização,
sendo que de um lado encontram-se aqueles que defendem um método pautado na idéia de alfabetização e
de outro, aqueles que defendem uma idéia de letramento. Aqui, tal repercussão ganha interesse, pois o
objetivo de se debater o método está centrado na perspectiva de formar um leitor crítico e competente.
ii
No exame de leitura de 1995 a média foi de 188,3pontos; em 1997 caiu para 186,5 pontos;
em 1999 teve uma nova queda para 170,7 pontos; em 2001 a média atingiu de 165,1. (INEP,
2004)
iii
Não só os sistemas os governamentais, mas, também, não-governamentais tem investido em
ações de fomento a leitura, livro e formação de leitores. Contudo, aqui nos interessa as ações
propostas que se consubstanciam em políticas de Estado implementadas a partir dos anos 90.
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polticas de incentivo leitura- interfaces dos programas adotados no