FÓRUM OLÍMPICO 2000
O Movimento Olímpico
em face do novo milênio
Comunicações Orais e Pôsters
Alberto Reinaldo Reppold Filho
Nelson Schneider Todt
editores
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
___________________________________________________
REITORA
Wrana Maria Panizzi
VICE-REITOR
Nilton Rodrigues Paim
PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
José Carlos Ferraz Hennemann
PRÓ-REITORA DE PESQUISA
Maria da Graça Krieger
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO
Luiz Fernando Coelho de Souza
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Franz Rainer Semmelmann
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
Maria Alice Lahorgue
PRÓ-REITORIA DE RECURSOS HUMANOS
Maria Beatriz Galarraga
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
_______________________________
DIRETOR
Antônio Carlos Stringhini Guimarães
VICE-DIRETOR
Newton Fernando Furtuna
ESEF: Rua Felizardo, 750 – Jardim Botânico – Porto Alegre, RS
CEP 90690-200 – Fones: (51) 3316.5829 / 3316.5830 – Fax: (51) 3316.5811
FÓRUM OLÍMPICO 2000
_______________________
COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Alberto Reinaldo Reppold Filho
Prof. Alberto Ramos Bischoff
Profa. Janice Zarpellon Mazo
Prof. Nelson Schneider Todt
Prof. Ricardo Demétrio de Souza Petersen
Prof. Roberto Maluf de Mesquita
Prof. Vicente Molina Neto
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Alberto Reinaldo Reppold Filho
Prof. Adroaldo Gaya
Prof. Alberto Reinaldo Reppold Filho
Prof. Alexandre Velli Nunes
Prof. Carlos Balbinotti
Prof. Francisco Camargo Netto
Prof. Francisco Vargas Neto
Prof. Georgios Hatzidakis
Profª Jane da Silva Gonzalez
Profa. Janice Zarpellon Mazo
Prof. João Oliva
Prof. José Cícero Moraes
Prof. Lamartine Pereira da Costa
Prof. Luiz Fernando Kruel
Prof. Marcelo Cardoso
Prof. Mário Brauner
Prof. Otávio Tavares
Prof. Ricardo Demétrio de Souza Petersen
Prof. Vicente Molina Neto
SECRETARIA EXECUTIVA
Heloísa Perlott Carmona
Márcio Amaro Muller
_________________________
__________________________________
PALESTRANTES INTERNACIONAIS
Ingomar Weiler (Universidade de Graz, Áustria)
Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto, Portugal)
Margaret Costa (California State University, Estados Unidos)
PALESTRANTES NACIONAIS
Antônio Carlos Garcia de Viveiros (Presidente do INDESP)
Carlos Arthur Nuzman (Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro)
Lamartine DaCosta (Presidente da Academia Olímpica Brasileira)
Francisco Radler (LADETEC – Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Emerson Franchini (Universidade de São Paulo)
Gergios Hatzidakis (Universidade Bandeirante de São Paulo)
Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo)
Alberto Reppold Filho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Adroaldo Gaya (CENESP - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Emerson Franchini (Universidade de São Paulo)
Luis Onmura (Medalha de Bronze – Judô, 1984)
João Paulo Medina (Sport Club Internacional)
______________________________________________________
PROMOÇÃO
Academia Olímpica Brasileira
REALIZAÇÃO
Escola de Educação Física - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
LOCAL DE REALIZAÇÃO
Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Porto Alegre
DATA
2 a 4 de junho de 2000
______________________________________________________
PREFÁCIO
O Grupo de Estudos Olímpicos da Escola de Educação Física da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem a satisfação de apresentar, à
comunidade olímpica brasileira e ao público interessado em estudar e conhecer
assuntos relacionados ao Esporte Olímpico e ao Olimpismo, o livro O
Movimento Olímpico em Face do Novo Milênio.
Fazem parte da obra os trabalhos apresentados nas sessões de
comunicações orais e pôsteres apresentados no Fórum Olímpico realizado em
Porto Alegre, de 2 a 4 de junho de 2000. O evento teve por objetivo promover
o debate sobre aspectos significativos do Esporte Olímpico no Brasil e foi
organizado sob os auspícios da Academia Olímpica Brasileira, instituição
responsável pela propagação dos princípios Olímpicos no País.
O livro contém também ensaios apresentados em seminários organizados
pela Academia Olímpica Internacional e Academia Olímpica Britânica nos
anos de 1993 e 1997. Esses trabalhos foram incluídos no volume com o intuito
de tornar pública e preservar a memória da participação brasileira nesses
eventos.
Esperamos que a obra seja do agrado de todos e que a publicação do
material contribua para o crescimento de uma incipiente, porém promissora,
área de pesquisa conhecida no Brasil como Estudos Olímpicos.
Alberto Reinaldo Reppold Filho
Nelson Schneider Todt
Grupo de Estudos Olímpicos
ESEF-UFRGS
SUMÁRIO
Introdução
i
Comunicações Orais e Pôsters
1
Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação
de um modelo adaptado à realidade brasileira
Lamartine DaCosta - Arianne Carvalhedo
2
A redução dos níveis de ansiedade como meio de
desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
Maurício Bara Filho - Luiz Ribeiro – Renato Miranda –
Lamartine DaCosta
8
Projeto “Educação Olímpica na Escola” - O uso da
Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
Cristiano Belém
17
Niké: A apropriação de um Mito
Carlos Miranda - Mário Brauner
23
Estudo das variáveis antropométricas e motoras
que determinam a performance em atletas de
voleibol do sexo masculino
Gustavo da Silva – Daniel Garlipp – Marcelo Cardoso –
Adroaldo Gaya
31
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas
juvenis da modadidade de futsal
Adroaldo Gaya – Osvaldo Siqueira – Marcelo Cardoso –
Lisiane Torres
40
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade
de Basquetebol
Christiano Guedes
53
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o
resultado dos jogos em equipes de futsal
José Hernandez - Rogério Voser - Mariele Gomes
61
Etapas de uma abordagem pedagógica no
basquete adaptado
Lia Hoffmann – Cristiana Braiyer – Crissia Castro
72
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o
Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação
para Atletas da Categoria Juvenil Masculino
Claiton Henrique Lenz
76
Rendimento: Uma categoria do desporto como
significado positivo para os cegos, surdos,
cadeirantes e deficientes mentais
Cláudio Mandarino – Francisco Camargo Netto
87
Comportamento agressivo em Escolares de
1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de
Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da
Teoria dos Sistemas Ecológicos
Sandra Mayer
100
Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo
e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
Walter Osório
108
Implicações éticas das relações dos Atletas com
o treinamento esportivo
Ana de Almeida - Lamartine DaCosta
118
O Esporte no 3o Milênio
Luciana Peil
125
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta
de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000
Luciano Ferroni – Alexandre Nunes
131
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
Fernando Portela
137
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo:
Um texto endereçado aos alunos das graduações
Fernando Portela - Otávio Tavares
145
Fatores motivacionais que influem na aderência dos
programas de Iniciação Desportiva pela criança
Roberto Scalon
154
Fatores motivacionais que influem no abandono dos
programas de Iniciação Desportiva pela criança
Roberto Scalon
165
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com
velocidade linear durante corrida em esteira
Leonardo Tartaruga – Marcus Tartaruga - Leonardo Ribas –
Jefferson Loss - Luiz Kruel
177
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos
Jogos Olímpicos e sua Ausência em
Competições importantes
Silvio Telles - Antônio Soares
185
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para
Jovens Participantes – Um relato de experiência
Arianne Carvalhedo - Nelson Todt
193
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a
influência do nível socioeconômico e do gênero sexual
no cotidiano de jovens atletas
Lisiane Torres – Adroaldo Gaya
203
Doping X Olimpismo
Patrícia Torsani
216
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao
exercício entre adultos brasileiros e americanos
Adriana Truccolo - Eduardo De Rose
222
Comportamento em Situações de Competição de
Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos
Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
Marcio Turini – Lamartine DaCosta
234
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de
Iniciação ao Futsal
Rogério Voser – Ulf Klemt
244
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade
Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma
equipe de futebol infantil
Patrícia Weiduschadt - Valdelaine Mendes
253
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de
Santa Cruz do Sul
Gilmar Weis - Ursula Muller
262
Apresentações em Eventos Internacionais
275
Physical Education in Brazil: an historical overview
Alberto Reppold Filho
276
Olympism and the Pedagogical trends of
Physical Education in Brazil
Alberto Reppold Filho
284
Epistemological notes on the Theory of Sport
Alberto Reppold Filho
289
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do
Esporte na América do Sul
Alberto Reppold Filho
293
Programa
305
Programa do Fórum Olímpico 2000
306
INTRODUÇÃO – FÓRUM OLÍMPICO 2002
HISTÓRIA, ORGANIZAÇÃO E RESULTADOS
Em 1927, quando Pierre de Coubertin foi convidado pelo governo grego
para participar de uma cerimônia em sua homenagem, pelas ações que
promoveu para reviver os Jogos Olímpicos, ele já comentava com seu amigo
Ioannis Chrysafis, Diretor do Departamento de Educação Física da
Universidade de Atenas, sobre a criação de um centro para estudar as
tendências do Movimento Olímpico. Coubertin acreditava que o Movimento
Olímpico não devia desviar-se de seus objetivos educacionais, e um centro de
estudos auxiliaria na preservação e no progresso de seu trabalho.
Vários fatores, em especial a morte de Coubertin e o advento da II Guerra
Mundial, retardaram o estabelecimento de um centro de estudos. A idéia veio a
concretizar-se em 1949, quando, na Conferência do Comitê Olímpico
Internacional (COI) realizada em Roma, foi aprovada, por unanimidade, a
criação da Academia Olímpica Internacional (AOI). A abertura oficial,
contudo, ocorreu apenas em julho de 1961, após a superação de várias
dificuldades.
Desde a sua fundação, a AOI tem-se empenhado em estudar e discutir as
idéias de Coubertin e os caminhos e perspectivas do Movimento Olímpico. De
maneira a concretizar seus objetivos, a AOI instituiu encontros anuais que
ocorrem em suas instalações na cidade de Antiga Olímpia, próxima ao local
onde na antigüidade aconteciam os Jogos Olímpicos. Nesses eventos, que
congregam a comunidade olímpica internacional, acontecem cursos, palestras e
seminários.
A primeira participação significativa de um acadêmico brasileiro nesses
encontros aconteceu em 1991, quando o Professor Lamartine da Costa foi
convidado para palestrar na Sessão Principal. Desde então, a participação
brasileira tornou-se regular, com a indicação de representantes para as sessões
de jovens estudantes e seminários de pós-graduação.
A presença nesses eventos despertou o interesse da comunidade acadêmica
brasileira em investigar tópicos relacionados ao Esporte Olímpico e ao
Olimpismo. Alguns programas de pós-graduação criaram linhas e grupos de
pesquisa orientados para essa área. Os resultados têm sido promissores. Vários
trabalhos de mestrado e doutorado encontram-se em andamento. Outros, já
concluídos, trouxeram contribuições importantes à compreensão do
Olimpismo nas esferas nacional e internacional.
i
A Universidade Gama Filho, imbuída desse espírito, tomou a iniciativa de
organizar um encontro aberto à participação de diversos setores interessados
no Esporte Olímpico e no Olimpismo. Assim, de modo experimental, foi
realizada a primeira edição do Fórum Olímpico, na cidade do Rio de Janeiro,
em 1997. O evento teve dimensão nacional. Estiveram presentes cerca de 40
participantes, e foram apresentados 13 trabalhos, na maior parte por pessoas
do meio acadêmico.
É importante destacar que, paralelamente a essas iniciativas, o Comitê
Olímpico Brasileiro (COB) e o Governo Federal vinham envidando esforços
na mesma direção.
Ciente da necessidade de investigar aspectos relacionados ao Esporte
Olímpico no País, o COB realizou reuniões e encontros desde o início da
década de 90, com o intuito de estabelecer a Academia Olímpica Brasileira
(AOB). A idéia acabou concretizando-se em junho de 1998. A AOB foi criada
com o objetivo de difundir os princípios Olímpicos, incentivar a produção e a
propagação do conhecimento referente ao Olimpismo, e promover a formação
e o aperfeiçoamento de recursos humanos para diversos setores ligados ao
Esporte Olímpico. Para concretizar esses objetivos, mostrou-se de
fundamental importância o trabalho integrado e o intercâmbio permanente
entre pesquisadores e profissionais de diferentes áreas do esporte.
O Governo Federal, em parceria com instituições de ensino superior,
instituiu os Centros de Excelência Esportiva - CENESPs. Esses Centros
foram criados com o objetivo de fomentar a pesquisa científica sobre o esporte
e apoiar programas de avaliação de atletas e identificação de talentos. Várias
pesquisas encontram-se em andamento, e os resultados de outras têm sido
apresentados em congressos e publicações científicas.
Foi com o intuito de dar continuidade aos estudos e debates iniciados no
Rio de Janeiro, e criar um espaço onde os achados da investigação científica
produzida pelos programas de pós-graduação e CENESPs pudessem ser
articulados com as necessidades de atletas, técnicos e demais segmentos
esportivos, que a Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul tomou para si a responsabilidade de organizar o Fórum Olímpico
2000.
O Evento foi organizado pela Escola de Educação Física, em parceria com
a Academia Olímpica Brasileira, e contou com a participação de diversos
segmentos esportivos e acadêmicos.
ii
Foram convidadas as federações esportivas do Estado do Rio Grande do
Sul para discutirem a forma de realização do Evento. Estas receberam ampla
autonomia para organizarem seus fóruns esportivos específicos. Dessa forma,
o Fórum Olímpico contou com palestras, painéis, mesas-redondas, sessões de
comunicação oral e pôsteres e os fóruns esportivos específicos.
Com esse modelo de organização, procurou-se ampliar não apenas o
número de participantes no Evento mas, sobretudo, que mais segmentos da
comunidade olímpica brasileira estivessem representados. Procurou-se,
também, criar uma dinâmica que favorecesse a troca de idéias e informações
entre os diferentes segmentos e que estes pudessem debater tópicos relevantes
tanto no que se refere aos seus interesses específicos quanto aos interesses da
coletividade esportiva.
O Fórum Olímpico procurou congregar personalidades nacionais e
internacionais de reconhecido prestígio nos meios acadêmico, esportivo e
governamental. Nesse sentido, o Evento contou com a presença dos
Presidentes do Comitê Olímpico Brasileiro e do Instituto Nacional para o
Desenvolvimento do Esporte – INDESP, bem como de pesquisadores de
renome na área dos Estudos Olímpicos.
Nos fóruns esportivos específicos, ocorreram 14 painéis e mesas-redondas
tematizando as modalidades de atletismo, badminton, ginástica olímpica,
natação, judô, esgrima, ciclismo, canoagem, handebol, basquetebol, tênis,
triathlon, remo e esportes paraolímpicos. Nessa parte, expuseram suas idéias
dirigentes de Federações e Confederações Esportivas nacionais e
internacionais, técnicos de equipes e de seleções nacionais, atletas e ex-atletas
olímpicos, representantes de órgãos governamentais e sociedades esportivas,
num total de 39 apresentações.
Com relação à pesquisa científica, foram apresentados 21 trabalhos nas
sessões de comunicação oral e 10 na sessão de pôsteres, tendo participado
representantes de oito universidades brasileiras. Os trabalhos foram
organizados em áreas temáticas de maneira a evidenciar a diversidade de
interesses e a amplitude da produção científica relacionada ao esporte olímpico
no País. Dentre os temas tratados, encontram-se a estruturação da
performance esportiva; a validação de instrumentos de medida; a ansiedade, a
agressividade e a motivação no esporte; o crescimento e o desenvolvimento
nutricional; a prestação esportiva em atletas; os hábitos de vida; e a
metodologia do ensino dos esportes. Além disso, foram apresentados vários
trabalhos focalizando os aspectos históricos, éticos e sociológicos relacionados
iii
ao Esporte Olímpico e ao Olimpismo. A comissão científica contou com 21
professores de diferentes universidades brasileiras.
O Fórum Olímpico contou, ainda, como uma exposição sobre a História
do Esporte organizada em parceria com instituições ligadas à pesquisa, à
preservação e à divulgação da memória olímpica brasileira. Ocorreram,
também, lançamentos de livros ligados a diversas áreas do esporte. O número
de congressistas inscritos foi de 467. Estima-se que o Evento como um todo
tenha envolvido cerca de 570 pessoas.
Com base nos dados acima descritos e no índice de satisfação manifestado
pelos palestrantes e congressistas, acredita-se que os objetivos do Evento
tenham sido alcançados.
Evidentemente, a realização de um evento dessa natureza depende do
apoio de várias instituições. Nesse sentido, é importante que se registrem os
mais sinceros agradecimentos à Secretaria Nacional de Esporte (SNE) do
Ministério do Esporte e Turismo pelo suporte financeiro prestado ao Evento.
O apoio do Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Esporte –
INDESP foi fundamental na estruturação do Fórum nos moldes idealizados
pela Comissão Organizadora. Do ponto de vista da qualidade acadêmica, o
suporte do INDESP possibilitou a presença de pesquisadores de renome
nacional e internacional. Da mesma forma, permitiu a vinda de representantes
de outros setores da comunidade olímpica brasileira. Do ponto de vista
logístico, o Evento pôde ser realizado em um centro de convenções com
instalações de excelente qualidade e contou com o apoio técnico de empresas
especializadas nos setores de audiovisual, transporte e tradução. Regitramos,
também, o agradecimento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Comitê Olímpico
Brasileiro (COB), à Academia Olímpica Brasileira (AOI), às Federações
Esportivas do Rio Grande do Sul e à Fundação de Apoio da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS), que contribuíram de diversas
maneiras para a realização do Fórum Olímpico 2000.
Por fim, um especial agradecimento à direção, servidores e alunos da
ESEF-UFRGS que aceitaram o desafio de realizar este Evento.
Alberto Reinaldo Reppold Filho
Coordenador do Fórum Olímpico 2000
iv
COMUNICAÇÕES ORAIS E PÔSTERS
Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo
adaptado à realidade brasileira
Lamartine P. DaCosta - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Arianne Carvalhedo - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
Ao analisarmos a gênese dos Jogos Olímpicos da era moderna podemos
perceber que seu idealizador, o Barão Pierre de Coubertin, acreditava que o
esporte seria um importante veículo para a educação do homem. Não só a para
a educação do físico para a saúde como também da mente e do espírito para o
desenvolvimento de valores morais importantes para a construção de uma
sociedade mais pacífica. Sendo assim, elegeu alguns valores morais
supostamente universais – tais como cavalheirismo, respeito mútuo,
integridade, amizade, fair play, excelência, etc. – e atribuiu-lhes papéis na
prática esportiva. A partir desta visão e de seus preceitos surge então a
Educação Olímpica, ou seja, a transmissão de valores universais vinculados aos
ideais do Olimpismo através da prática de esportes tendo os Jogos Olímpicos
como pano de fundo. Contudo, não está provada a existência de um modelo
de Educação Olímpica que tenha atendido plenamente as necessidades locais,
mas apenas propostas idealizadas e distantes da experiência. Acreditando que
estes valores podem realmente ser trabalhados na prática esportiva e que existe
um enorme potencial disseminador no que se refere aos Jogos Olímpicos, a
presente investigação, ainda em fase de execução, apresenta-se como uma
proposta para validação de um modelo de Educação Olímpica para a realidade
brasileira. Para tal vem sendo utilizado um grupo de 17 escolares adolescentes
do sexo feminino praticantes de Ginástica Rítmica nos municípios de Angra
dos Reis e Paraty no Estado do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Educação Olímpica
Abstract
As we analyze the genesis of Modern Olympic Games we can clearly notice
that its idealistic founder, Baron Pierre de Coubertin, believed that sport could
be an important vehicle to the education of men. Not only to the education of
the body concerning the health aspect of it, but also the education of mind and
spirit so to develop important moral values for the construction of a more
peaceful society. Thus, he elected some supposedly universal moral values –
such as chivalry, mutual respect, integrity, friendship, fair play, excellence, etc.
– and gave them roles on the sports related activities. From this point of view
comes the Olympic Education, that is, the transmission of universal values
attached to the “philosophy” of Olimpism through sports practices having the
Olympic Games as the main scenario. However, it is not yet proved that there
2
Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira
has been an Olympic Education model that had fulfilled local necessities, but
only proposals idealized and distant from the real experience. The present
study, still under progress, is a proposal for the validation of an Olympic
Education model to the Brazilian reality, as we believe that these values can be
really taught through sports activities and that there is an enormous
disseminating potential for what is referred to the Olympic Games. For that
purpose, an all female group of 17 teenagers involved in Rhythmic Gymnastics
classes in Angra dos Reis and Paraty – Rio de Janeiro is being analyzed.
Key words: Olympic Education
Introdução
O tema da Educação Olímpica possui registros históricos relacionados a
Pierre de Coubertin, na França, desde 1897. Nesta concepção originária,
propunha-se reinventar os Jogos Olímpicos e os esportes em geral, dando-lhes
uma conotação de "aperfeiçoamento harmonioso do homem"3. Coubertin, no
desenvolver de tal concepção, almejava salvaguardar o ideal de educação
preconizado na Grécia Antiga, em que a harmonia de corpo e mente era de
importância essencial para a educação dos jovens. Atitudes a serem criadas nos
esportistas como de busca de excelência e de ética nas relações entre
adversários - o que hoje é chamado de fair play - foram objetivados por
Coubertain em termos de "filosofia de vida", como até hoje vigora na Carta
Olímpica7. Segundo alguns autores a principal tarefa da Educação Olímpica
visa ao desenvolvimento desses preceitos morais anteriormente citados
juntamente com a modéstia, sentimentos nobres, sabedoria, amizade,
integridade, coragem, respeito por valores humanos e diplomacia que são
pretensamente alcançados através da prática do esporte 5, 9, 10, 11, 17.
Novamente citando a Carta Olímpica, no tema da Educação Olímpica tal é
a sua importância que Pierre de Coubertin colocou-a como função primordial
dos Comitês Olímpicos Nacionais (CONs)7. Porém, embora a Educação
Olímpica e o "Olimpismo" que lhe dá fundamento - isto é, a doutrina
delineada por Coubertin no final do século passado - ainda sejam prestigiadas
nos dias presentes pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e seus
desdobramentos nacionais (CONs), não há uma consolidação operacional de
sua implantação e aperfeiçoamento. Esta particularidade tem sido expressa por
dissertações de mestrado e teses de doutorado da Universidade Gama Filho
que mantêm desde o inicio da década de 1990 uma linha de pesquisa sobre o
tema do Olimpismo1, 2, 12, 14 .
Esta situação, teoricamente, contrasta com o gigantesco potencial de
comunicação e de influência sócio-cultural manifestada pelos Jogos Olímpicos,
hoje um evento multicultural e de participação universal em termos de nações.
Assim sendo, a pesquisa que venho apresentar e ora em andamento parte da
3
Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira
percepção de que há viabilidade na proposta da Educação Olímpica, mas ainda
é insuficiente o conhecimento de sua efetiva operacionalização.
Em que pese essa deficiência há diversas iniciativas de Educação Olímpica
no Brasil e programas importantes em países avançados, tais como Canadá,
Alemanha, E.E.U.U., Austrália, Inglaterra, etc.. Contudo, não está disponível
ainda uma teoria nem roteiros práticos formais que garantam um pleno
exercício da educação idealizada por Coubertin.
Existe uma publicação do IOC, divulgada em 1995, que oferece bases para
a Educação Olímpica para todos os países filiados, independente de
peculiaridades culturais8. Esta proposta foi elaborada na expectativa de que
cada país e cada região produzissem sua versão própria da Educação
Olímpica4. Contudo, como dito anteriormente, apesar de algumas tentativas
isoladas, não é suficiente ainda o acervo de experiência e conhecimento no que
concerne à aplicabilidade desses modelos.
Portanto, a presente pesquisa se insere na expectativa de se ajustar o
modelo genérico do IOC a condições encontradas no Brasil e, se partindo daí,
sugerir um roteiro de implantação e aperfeiçoamento de Educação Olímpica.
Pressupostos da pesquisa
A aplicação de roteiros de Educação Olímpica em jovens escolares
brasileiros, diretamente envolvidos com a atividade física e desportiva,
apresenta-se como experimental, uma vez que não existe ainda uma teoria de
validade universal neste âmbito de conhecimento. Esta experimentação implica
em se ter um padrão de referência, o qual para o caso presente vem sendo
considerado o Manual de Educação Olímpica em vigor, editado em 1995 pelo
COI, além de alguns manuais criados pelos Comitês Olímpicos Nacionais dos
EE.UU.16 e Portugal13. Havendo o padrão de referência, os desvios de sua
aplicação na realidade local podem ter surgimento ao se acompanhar a prática
recomendada com as reações efetivas dos instruendos.
Objetivo da pesquisa
Observar a operacionalização do modelo de Educação Olímpica do COI
em vigor num grupo de escolares brasileiros, a fim de avaliar sua efetividade e
definir adaptações adequadas a condições locais mais pertinentes de serem
encontradas no país.
Sujeitos da investigação
Um grupo de 17 escolares, de idades entre 11 e 18 anos, alunas de
aperfeiçoamento e equipe do Projeto de Ginástica Rítmica da Cooperativa de
Empréstimo e Crédito Mútuo dos Empregados de Furnas (CECREMEF), nos
distritos de Praia Brava e Mambucaba, situados nos municípios de Angra dos
Reis e Paraty. Estes escolares, todos do sexo feminino, vêm passando por um
4
Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira
regime de 3 sessões de aulas por semana com duração de 2 horas por sessão,
em média. Essas alunas têm experiência mínima de 6 meses e máxima de 3
anos com esta modalidade esportiva.
Metodologia
A metodologia prevista para a pesquisa ora em andamento em suas linhas
gerais é a Analise de Comportamento Grupal (Group-Behavior Analysis)6.
Este processo metodológico é tradicional em problemas escolares em que se
experimentam mudanças de comportamento, sendo o instrumental de coleta
de dados definido por questionário, entrevista, registro direto de reações etc. 6
A abordagem metodológica, na opção escolhida, torna a pesquisa qualitativa e
quantitativa. Inicialmente a investigação será qualitativa, já que serão
escolhidos fatores passíveis de mudança, os quais deverão ser descritos
(valores que são trabalhados na prática dos exercícios, por exemplo),
tornando-se posteriormente quantitativa ao se mensurar mudanças durante a
aplicação do modelo do COI.
Inicialmente foram formuladas aulas teóricas ministradas às alunas sobre os
assuntos a serem analisados – fair play e excelência – com duração de 10
minutos por sessão de treinamento. Estas aulas têm como objetivo introduzir
os termos e suas significâncias básicas às participantes. Concomitantes a este
procedimento estão sendo registradas reações através de controle feito com
bloco de notas durante todas as sessões de treino.
Após a oitava exposição teórica será feito um pré-teste com cinco alunas
escolhidas de forma a representar o grupo em toda sua heterogeneidade. Este
tem a intenção de apenas verificar o grau de compreensão por parte das
escolares do conteúdo do questionário. Será desta forma então apresentado
um questionário-piloto e as alunas determinarão se estão compreendendo seu
conteúdo e através de entrevista elucidarão suas dúvidas. Após a análise deste
pré-teste e suas conseqüentes modificações, será aplicada a todas as alunas a
primeira avaliação através de questionário fechado. Neste será utilizado para
mensuração dos dados a escala de comportamento de Lickert.
Dando seqüência aos procedimentos metodológicos, seguir-se-á uma
análise dos dados encontrados no questionário e a partir desta elaborar-se-ão
questões elucidativas para uma futura entrevista. Paralelamente a isto, outras
doze aulas teóricas estarão ocorrendo, para que ao término destas seja aplicado
o questionário final, que terá as mesmas características do primeiro, porém
mais elaborado, extenso e validado. Como no primeiro momento de nosso
estudo, este questionário também terá como extensão uma entrevista
individual com as 17 participantes do estudo.
É importante salientar que, em se tratando de um estudo que objetiva
analisar mudanças de comportamento a partir de um modelo de Educação
Olímpica, este projeto vem priorizando o registro direto de comportamento,
5
Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira
obtido através de bloco de notas durante todo seu decorrer. As informações
resgatadas neste processo serão de importância fundamental na análise final de
dados.
Revisão de literatura
A base da coleta e revisão da literatura vem sendo estabelecida a partir de
publicações da Academia Olímpica Internacional, Comitês Olímpicos
Nacionais e de trabalhos já publicados com autores brasileiros, tal como se
encontra na coletânea "Estudos Olímpicos", Editora Gama Filho, 199915. O
manual do COI citado e ponto de partida da investigação é "Keep the Spirit
Alive"8.
Coleta de dados da investigação
Os dados estabelecidos pelos pressupostos da investigação e respectiva
metodologia estão sendo coletados durante o primeiro semestre letivo do ano
de 2000 junto ao grupo experimental, considerando-se o semestre seguinte à
coleta como destinado à análise dos dados. Assim dispondo-se, estima-se em
dois semestres a duração da investigação.
Referências Biblográficas
1. ABREU, N. Bases multiculturais do Olimpismo. In: TAVARES, O. &
DA COSTA, L. (ed.) Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama
Filho, 1999. p. 70-78.
2. CORREA GOMES, M. Solidariedade e honestidade: os fundamentos do
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7
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento
harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo
Maurício G. Bara Filho - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Luiz Scipião Ribeiro - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Renato Miranda - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Lamartine DaCosta - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
A filosofia do Olimpismo, idealizada pelo Barão de Coubertin, considera que o
desenvolvimento do homem deve ocorrer de maneira harmoniosa entre corpo
e mente. Este princípio pode ser transferido para o treinamento desportivo, no
qual torna-se fundamental o trabalho de aspectos físicos e psíquicos
conjugadamente. Com este intuito, o presente estudo objetivou analisar os
efeitos de uma técnica mental (relaxamento progressivo) sobre o controle dos
níveis de ansiedade-estado em nadadores durante um determinado período de
treinamentos, a fim de possibilitar um desenvolvimento harmonioso no
processo da prática esportiva competitiva. Vinte e três nadadores de ambos os
sexos foram divididos em Grupo Experimental (tratamento – relaxamento
progressivo) e Grupo de Controle (tratamento placebo) e durante sete semanas
foram submetidos a duas sessões semanais de 30 a 45 minutos do respectivo
tratamento. A análise inicial demonstrou não haver diferença estatisticamente
significativa (p > 0,05) na redução da ansiedade em ambos os grupos. Porém,
o teste do Qui-Quadrado apontou uma melhor evolução do Grupo
Experimental, indicando que o prolongamento do tratamento evoluiria a uma
diferença significativa, o que não ocorreu com o Grupo de Controle. Concluise, portanto, que a técnica de relaxamento progressivo é um meio eficaz na
redução da ansiedade-estado dos atletas, contribuindo para uma melhor
revolução do processo de treinamento desportivo, corroborando os princípios
do Olimpismo de equilíbrio corpo e mente em busca do desenvolvimento
harmonioso do ser humano através do esporte.
Palavras-chave: Olimpismo, ansiedade-estado, relaxamento progressivo, psicologia esportiva.
Abstract
The Olympism philosophy, conceived by Pierre de Coubertin, considers that
the man development must happen in a harmonious way between body and
mind. This principle can be used in the competitive sports field, where it is
necessary to work physical and psychological aspects together. Related to that,
the purpose of this study was to analyze the effects of a mental training
(progressive relaxation) in the control of state-anxiety levels in swimmers to
allow a harmonious development of training process as mentioned in
8
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
Olympism principles. Twenty three swimmers were divided in Experimental
Group (treatment – progressive relaxation) and Control Group (Placebo
Treatment) and during seven weeks were submitted to a 30 to 45 session twice
a week. At a first analysis, there was no significant statistical difference (p >
0,05) in both groups in anxiety reduction. However, the Chi-Square test
depicts a better evolution in the Experimental Group, indicating that a longer
treatment would lead to a statistical difference, what did not happen in the
Control Group. To sum up, the progressive relaxation is an effective way o
reduce state-anxiety in athletes, helping a better evolution of training process,
corroborating the Olympism principles of body and mind balanced towards
man harmonious development through sports.
Key words: Olympism, state-anxiety, progressive relaxation, sports psychology
O Olimpismo moderno foi concebido pelo Barão Pierre de Coubertin,
idealizador dos Jogos Olímpicos modernos, em 1894. Entre as crenças
filosóficas que o influenciaram no desenvolvimento do Olimpismo estava a
filosofia clássica grega com Platão e sua obra “A República” que enfatizava
uma educação de corpo e mente, porém de forma dualística (Carta Olímpica,
1997; Mechikoff, 1999)
Platão, contudo, observou que uma educação com maior ênfase na parte
mental do indivíduo tornava-o fraco e sem caráter. Ao mesmo tempo,
constatava que os atletas que só consideravam o treinamento da parte física,
ignorando os processos mentais, prejudicavam seus desenvolvimentos como
seres humanos (Mechikoff, 1999).
Sob esta filosofia, Coubertin considerava que o desenvolvimento do
homem deveria ser harmonioso entre corpo e mente, conceito este que refletiu
nos princípios 2 e 3 do Olimpismo mencionados a seguir:
Princípio nº 2
“Olimpismo é uma filosofia de vida, que exalta e combina num conjunto equilibrado, as
qualidades do corpo, espírito e mente...”.
Príncipio nº 3
“O objetivo do Olimpismo é colocar o esporte em todos os lugares a serviço do
desenvolvimento harmonioso do homem, com a visão de encorajar o desenvolvimento
de uma sociedade pacífica ...”.
(Carta Olímpica, 1997, p. 8)
Estes princípios podem ser transferidos para o processo de treinamento
desportivo que deve considerar o desenvolvimento tanto físico como psíquico
dos atletas, pois a performance desportiva está diretamente relacionada com
mecanismos psicológicos.
9
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
Uma condição psicofisiológica satisfatória é pré-requisito para qualquer
atividade física e, para que ocorra um desenvolvimento harmonioso, torna-se
necessário trabalhar capacidades como a motivação e a determinação de
objetivos, satisfação com o esforço físico e programas que auxiliem o controle
do estresse e a da ansiedade, tema do presente estudo, dentro de um programa
completo de treinamentos e competições (Bara Filho e Miranda, 1998; Kunath,
1990).
A ansiedade é um fator psicológico fundamental e importante para a
psicologia do esporte, estando relacionada com o equilíbrio psicofisiológico do
ser humano. É acompanhada por uma elevada reação do sistema nervoso
autônomo e por um aumento da atividade endócrina. (Brandão, 1995).
A ansiedade é definida por Levitt apud Cox (1994, p.101)1 como: “Um
sentimento subjetivo de apreensão e ativação fisiológica elevada” e divide-se em
ansiedade-traço e ansiedade-estado.
Denomina-se ansiedade-estado o estado emocional imediato, sendo o
componente mutável da ansiedade. Caracteriza-se por um sentimento
subjetivo, conscientemente percebido de apreensão e tensão, associados à
ativação do sistema nervoso autônomo e gerando reações psicofisiológicas
como taquicardia, “frio na barriga e arrepio na espinha” (Spilberger apud Cox,
1994; Weinberg e Gould, 1995; Wrisberg, 1994).
A ansiedade-traço é a parte da personalidade do indivíduo que possui uma
predisposição para perceber certas situações como ameaçadoras ou não, e para
responder a isto com aumento ou não da ansiedade-estado (Spilberger apud
Cox, 1994).
Um fator relevante na natação - modalidade esportiva que é objeto do
presente estudo - é o fato dos níveis de ansiedade se elevarem nos últimos
anos da adolescência, o que coincide com o momento de maior envolvimento
no processo de treinamento da maioria dos atletas nesse esporte. Isto
demonstra a necessidade e a importância de se estudar o fenômeno com a
população mencionada (Cattel apud Cratty, 1983).
A partir dos pressupostos teóricos mencionados anteriormente, a presente
pesquisa objetivou analisar os efeitos de uma técnica mental (relaxamento
progressivo) sobre o controle dos níveis de ansiedade-estado em nadadores
durante um determinado período de treinamentos, a fim de possibilitar um
desenvolvimento harmonioso do treinamento desportivo e do ser humano
como preconizado pelos princípios do Olimpismo.
Metodologia
Vinte e três nadadores, sendo 16 do sexo masculino e 07 do feminino com
média de idade de 16,6 anos e, aproximadamente, sete anos de treinamento
11
" subjective feeling of apprehension and heightened physiological arousal".
10
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
desportivo, que competiam por um clube da cidade de Juiz de Fora – MG,
foram divididos randomicamente em dois grupos. O Grupo Experimental
recebeu o tratamento com a técnica de relaxamento progressivo com o
objetivo de reduzir anasiedade-estado causada por treinamentos e competições
durante sete semanas com duas sessões semanais de 30 a 45 minutos. O
Grupo de Controle passou por um tratamento placebo durante o mesmo
período, porém com técnicas que não reduziriam a ansiedade-estado dos
atletas.
Três coletas de dados foram realizadas constituindo-se em pré, mid e póstestes e o instrumento utilizado foi o Questionário de Ansiedade-Estado de
Spielberger que era aplicado nos atletas antes dos treinamentos. Este teste
possui uma escala de pontos que varia de 20 (ansiedade mais baixa) a 80
(ansiedade mais alta) e mede como a pessoa está se sentindo no momento de
sua aplicação. Sua aplicabilidade concerne aos efeitos do exercício sobre o
estresse de acordo com proposições de Brown (1990).
A coleta de dados transcorreu dentro da fase de maior volume e
intensidade dos treinamentos até uma semana antes da competição alvo dos
atletas.
Como nenhum dos grupos sabia se integrava o Grupo Experimental ou o
de Controle, cabendo apenas ao pesquisador esse conhecimento, a pesquisa
pode ser caracterizada como simples cega (Stratton e Hayes, 1994).
Resultados
Numa análise estatística através dos testes “t” de Student e amostras
emparelhadas, observou-se não haver diferença estatisticamente significativa (p
> 0,05) na redução dos níveis de ansiedade-estado em ambos os grupos.
Para uma melhor compreensão desses resultados, decidiu-se por realizar
uma comparação entre os grupos nos estágios inicial (pré-teste) e final (pósteste) do tratamento. A variável em estudo, apesar de ser qualitativa, pode ser
grupada em categorias e analisadas pelo teste Qui-quadrado, a fim de comparar
os grupos experimentais (G.E.) e de controle (G.C.).
Ao dividir-se os dois grupos em duas categorias, limitados pela mediana do
G.C. (igual a 39 pontos), tem-se a seguinte disposição na Figura 1:
11
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
Figura 1 - Freqüências observadas nos grupos em relação à ansiedadeestado no pré-teste
Frequência
7
6
5
4
G.C.
3
G.E.
2
1
0
Ansiedade-estado(pontos
Observa-se na Figura 1 que, dividindo-se os dois grupos pela mediana, as
freqüências do G.E. se aproximam bastante das do G.C.. A partir disso,
aplicando o teste do Qui-quadrado, têm-se os seguintes resultados quanto às
freqüências previstas (Tabela 1).
Tabela 1 - Freqüências previstas nos grupos em relação à ansiedadeestado no pré-teste.
G.C.
G.E.
Geral
< 39
6,78
6,22
13
>39
5,22
4,78
10
Total
12
11
23
Pelos resultados obtidos na Tabela 1 e na Figura 1, depreende-se que não
existe diferença estatisticamente significativa no estágio inicial das medidas
(pré-teste) entre os grupos de controle e experimental. Para verificar-se a
efetividade do tratamento, realizou-se uma comparação do estágio final (pósteste) dos grupos em relação à variável ansiedade-estado (Figura 2).
12
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
Figura 2 - Freqüências observadas nos grupos em relação à ansiedadeestado no pós-teste.
Frequência
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
G.C.
G.E.
<39
>39
Ansiedade-estado (pontos
Observa-se uma mudança. O nível de ansiedade > 39 pontos baixou no
grupo experimental de 4 (quatro) para apenas 1 (um) elemento. Apesar de ser
um bom resultado, isso impede o prosseguimento utilizando o teste Quiquadrado.
Aplicou-se o teste exato de Fisher, uma vez que Pearson e outros autores
não recomendam a aplicação do teste do Qui-quadrado para células com
freqüência observada menor que 5 (cinco). O teste de Fisher revelou não haver
uma diferença estatisticamente significativa entre o pré e o pós-teste no grupo
experimental (p > 0,05).
Mesmo assim, pode-se evidenciar que o resultado do tratamento foi
bastante satisfatório no grupo experimental, enquanto o grupo de controle
pouco variou. E o teste de Fisher corrobora com a indicação de que houve
uma evolução do tratamento em relação à redução do nível de ansiedadeestado dos elementos amostrados.
A ansiedade-estado é uma variável não objetiva, o que necessita um
cuidado maior na análise dos resultados que indicando que:
• No grupo de controle não houve variação entre os estágios inicial (préteste) e final (pós-teste) do experimento. Isso ficou plenamente
evidenciado nos testes realizados ("t" de Student, amostras emparelhadas,
Qui-quadrado e exato de Fisher);
• No grupo experimental, apesar de ainda não haver uma diferença
estatisticamente significativa entre os pré e o pós-testes, nota-se que as
variáveis reduzidas ("t" de Student e Qui-quadrado) estão evoluindo de
13
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
forma crescente, ou seja, há fortes indicações de que o prolongamento do
tratamento irá revelar um estágio final significativamente menor que o
inicial para o nível de ansiedade-estado.
Esses resultados, estatisticamente analisados, corroboram a literatura sobre
o assunto que indica a necessidade de um trabalho de alguns meses para uma
maior efetividade da técnica de relaxamento progressivo (Cox, 1994).
Mesmo com um período reduzido de tratamento (sete semanas), pode-se
observar que houve indicações dos resultados obtidos na redução da
ansiedade-estado no grupo experimental.
A redução da ansiedade-estado, quando em níveis excessivos, aparece
como um dos principais problemas dos atletas, podendo prejudicar sua
performance. Esse processo pode ser revertido através de técnicas de
relaxamento, que efetivamente, reduzem a tensão e a ansiedade associadas ao
esporte (Cox, 1994; Gould e Udry, 1994; Weinberg e Gould, 1995).
Por isso, torna-se importante e essencial que o atleta aprenda e pratique
técnicas de relaxamento para reduzir o estresse causado pelo processo de
treinamento desportivo.
O presente estudo confirmou tal conhecimento, demonstrando para
técnicos e atletas que a ansiedade-estado pode ser reduzida a partir de um
trabalho com pouco tempo de duração (duas horas semanais), não alterando o
planejamento dos outros aspectos da performance (físico, técnico e tático).
Conclusões
A técnica de relaxamento demonstrou ser eficaz na redução dos níveis de
ansiedade-estado, porém para que esse tipo de tratamento tenha o efeito
desejado, ele deve ser realizado durante um período de tempo mais
prolongado, sugerindo-se, assim, que o treinamento psicológico deve ser
realizado durante o macrociclo anual de treinamentos e competições dos
atletas.
Um meio de preparação que venha influenciar positivas variáveis
psicológicas (ex. ansiedade-estado) como foi atingido com o relaxamento
progressivo, acarreta uma melhora na qualidade dos treinamentos, na relação
técnico-atletas-companheiros como, também, na motivação dos atletas perante
a prática desportiva.
Por essas razões, deve-se utilizar um programa de treinamento psicológico
desde o início da temporada de treinamentos para que a ansiedade provocada
por estes não se eleve a níveis excessivos, prejudicando os atletas em seus
treinamentos, competições e, por conseguinte, em seu dia-a-dia.
Isso se torna relevante, pois o fenômeno do esporte competitivo tem sua
importância crescendo significativamente na sociedade nos últimos anos,
necessitando cada vez mais de estudos científicos para possibilitar o melhor
14
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas –
Um princípio do Olimpismo
desenvolvimento esportivo harmonioso dos atletas sem, contudo, prejudicá-los
em suas vidas.
O presente estudo demonstrou que a inclusão de um trabalho psicológico
no processo de treinamento desportivo é eficaz na redução dos níveis de
ansiedade-estado dos atletas. Isto corrobora os pensamentos de Platão e
Coubertin nos princípios do Olimpismo sobre o equilíbrio entre corpo e
mente para um desenvolvimento harmonioso do ser humano.
Com esse equilíbrio, o esporte pode auxiliar o desenvolvimento dos
estados psicológicos dos atletas, contribuindo para que o indivíduo (cidadão)
melhor enfrente situações de vida que transcendem o meio-esportivo, dando
real significado à filosofia do Olimpismo.
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16
Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
Cristiano Mega Belém - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
O Projeto Educação Olímpica na Escola pela Internet tem o apoio da
Academia Olímpica Brasileira do COB e se propõe a difundir tópicos
elementares do Olimpismo: Fair Play, Símbolos e Cerimônias dos Jogos
Olímpicos, História e Tradições Olímpicas.
Abstract
The Olympic Education in Schools by Internet Project has the support of
Brazilian Olympic Academy – National Olympic Committee (COB) and has
the purpose of diffusion of Olympism’s mais elements: Fair Play, Symbols and
Ceremonies of Olympic Games, Olympic history and traditions.
Introdução
O Projeto Educação Olímpica na Escola foi criado para possibilitar o
ensino dos valores do Olimpismo aos jovens estudantes das escolas brasileiras.
O Programa de Educação Olímpica, em sua versão experimental, foi
desenvolvido para crianças do 2º ciclo do ensino fundamental (5ª a 8ª série) e
jovens do ensino médio profissionalizante.
Essa iniciativa tem como propósito gerar um modelo a ser oferecido a todos
os interessados no desenvolvimento da Educação Olímpica no país.
Para implantação, troca de informações e divulgação do material utilizado, o
Projeto foi disponibilizado na INTERNET desde out/98, nos seguintes
endereços:
www.pocos-net.com.br/olimpica
http://www.sportseducationline.esp.br/olimpic
.
Atualmente estamos atualizando o site, que está com novo layout, novos
conteúdos e recursos técnicos.
Justificativa
O Projeto Educação Olímpica na Escola tem como proposta básica a
apreensão de novos comportamentos e hábitos saudáveis na adolescência.
Sendo um Programa com características multidisciplinares promove a
interação da disciplina de educação física com outras disciplinas. Abaixo
apontamos algumas questões abordadas em um Programa de Educação
Olímpica.
Como a Educação Olímpica pode ajudar no Programa Escolar e aos
Jovens Estudantes?
17
Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
Promovendo experiências na população jovem, que os ajudem a viver o Espírito dos
Jogos Olímpicos onde quer que eles vivam, reafirmando suas tradições esportivas, heróis e
heroínas do esporte.
A proximidade dos Jogos Olímpicos de Sydney motiva os alunos pelo
conteúdo?
Sim, a mística da Olimpíada cria mais interesse e entusiasmo através da televisão, rádio e
jornais, motivando os jovens e estimulando sua imaginação, com relação a países e culturas
diferentes. Eventos especiais como os Jogos Olímpicos possibilitam criar uma série de tarefas
para sala de aula e promovem bons modelos para importantes mensagens educacionais como:
solidariedade, persistência, determinação, companheirismo, etc. Além disto os Jogos Olímpicos
podem tornar-se um foco para o estudo de povos e culturas nas disciplinas de Estudos
Sociais, resolução de problemas, usando a estatística esportiva em Matemática, textos e
reportagens em Comunicação e Expressão, símbolos e esculturas em Educação Artísticas,
línguas, etc.
A Educação Olímpica interage com outros conteúdos do Ensino
Fundamental e Médio?
Sim, a Educação Olímpica valoriza a interdisciplinaridade dos conteúdos componentes do
currículo do Ensino Fundamental e Médio, podendo representar uma alternativa pioneira em
nosso País e um modelo interessante de exercitar a multidisciplinaridade, sugerida na nova
Lei de Diretrizes e Base da Educação (Lei 9394/96).
Os tópicos estudados no Programa de Educação Olímpica são atuais?
Sim, algumas das maiores questões de nosso tempo, tais como: proteção ao meio ambiente, o
papel da mulher na sociedade, conflitos globais e resolução dos mesmos, racismo e
intolerância, promoção do fair play e ética, enfatizar a unidade de corpo e espírito, podem
tornar-se parte de um projeto de Estudos Olímpicos e um componente dinâmico para os
currículos escolares.
Desenvolvimento
ENSINO FUNDAMENTAL
No ensino fundamental o Projeto é desenvolvido através da realização de
atividades práticas e teóricas do Caderno de Atividades do Aluno do Manual de
Educação Olímpica na Escola, traduzido e adaptado do manual “KEEP THE
SPIRIT ALIVE - YOU AND OLYMPIC GAMES, IOC Commission for the
Internacional Olympic Academy and Olympic Education, 1995”, um guia da
academia Olímpica Internacional para promoção da Educação Olímpica entre
crianças e jovens de todo mundo.
18
Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
ENSINO MÉDIO
No ensino Médio Profissionalizante o Projeto está voltado às Escolas
Agrotécnicas Federais, e visa investigar os valores e fundamentos do Fair Play,
componente básico dos ideais do Olimpismo.
A primeira parte do Projeto junto ao Ensino Médio Profissionalizante já
foi realizada, e se constitui de uma investigação sobre os valores do Fair Play,
realizado no ano de 1998 e apresentada em forma de Painel no 5º Congresso
Mundial de Lazer e Tempo Livre - SP nov/98 , com o título “O ESPÍRITO
DESPORTIVO (Fair-Play) NAS ATIVIDADES FÍSICAS DE LAZER
PRATICADAS PELOS ALUNOS DO CURSO TÉCNICO EM
AGROPECUÁRIA DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE
MACHADO - MG", esta pesquisa foi orientada pelo Prof. Dr. Lamartine P.
da Costa, que posteriormente me orientaria no desenvolvimento e criação do
Projeto Educação Olímpica na Escola .
A segunda parte do Projeto frente ao Ensino Médio Profissionalizante,
consiste na investigação dos valores do Olimpismo nas Escolas Agrotécnicas
Federais, num total de 52 escolas espalhadas por todas as regiões brasileiras.
Nossa proposta de estudo tem como objetivo coletar informações via
questionário descritivo em pelo menos 3 escolas de cada região, a fim de
verificar quais as atitudes dos alunos frente a situações do seu cotidiano
esportivo e como diferentes grupos (serão investigados jovens de todas as regiões do
Brasil) reconhecem estes valores e se comportam diante deles, em situações
esportivas hipotéticas que serão apresentadas no questionário de investigação.
Material, Recursos e Métodos
ENSINO FUNDAMENTAL
No ensino fundamental o Projeto é desenvolvido através da realização de
atividades práticas e teóricas proposta no Caderno de Atividades do Aluno, este
caderno de atividades e foi dividido em módulos com temas associados ao
Olimpismo, esta divisão permite o professor de educação física escolher uma
atividade ou um tema pertinente ao conteúdo que esteja sendo estudado pelos
alunos dentro da programação anual escolar.
O Caderno de Atividades do Aluno parte integrante do Manual de Educação
Olímpica na Escola, é constituído por tópicos relacionados com o
conhecimento e aprendizagem dos Ideais do Olimpismo, 5 módulos
completam o Caderno de Atividades do Aluno .
Módulo1 - Espírito dos Jogos Olímpicos Modernos
Símbolos e Cerimônias : Bandeira, Fogo, Cerimonial
Anéis Olímpicos, Mascote ,Tocha Olímpica
Pierre de Coubertin e Comitê Olímpico Internacional
Carta Olímpica , Juramento Olímpico
19
Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
Módulo 2 - O Espírito dos Jogos Olímpicos da Antigüidade
Olímpia a cidade sagrada
Como os Jogos começaram
Os esportes nos Jogos Olímpicos da Antigüidade
Fatos Históricos e palavras Gregas
Módulo 3 - O Espírito do Esporte Olímpico
Os Jogos Olímpicos de Verão e Inverno
Esportes Olímpicos, Organização e Comitês
Grandes Momentos; os Heróis Olímpicos
Fair Play nos Esportes: A Concepção Global
Módulo 4- Jogos Olímpicos: O Espírito Universal
A Geografia dos Jogos: Cidades e Países que sediaram Jogos
Olímpicos
As Nações Olímpicas e os Comitês Olímpicos Nacionais
Desafio das Diferenças: Questões Olímpicas um Mundo de Desafios
Módulo 5 - O Espírito Íntimo: O Atleta Olímpico
Por trás do Atleta Olímpico: Treinamento, Determinação,
Persistência, Habilidade e Otimismo
Nossos Heróis e Heroínas Olímpicas
Corpo Humano e as Atividades Esportivas ; Coração, Planejamento,
Treinamento e Programa de Atividades Individual
Vencer e/ou Perder ... O que é importante? Resolvendo o Conflito
Este material pode ser copilado e reproduzido de acordo com as condições
de cada estabelecimento de ensino, na sua totalidade ou em partes, uma vez
que os módulos tratam de assuntos diferentes propondo atividades e tarefas
independentes em cada módulo, possibilitando uma maior flexibilidade na
elaboração do conteúdo disciplinar.
Sendo um Programa com características multidisciplinares, permite um
aumento de conhecimento nas diferentes áreas de domínio da aprendizagem:
Domínio afetivo (valores e Ideais Olímpicos), Domínio Psicomotor (atividades
físicas e esportivas), Domínio Cognitivo (história, culturas, símbolos, etc.), Domínio
Psicossocial (solidariedade, companheirismo).
ENSINO MÉDIO
No ensino Médio Profissionalizante o Projeto consiste na
investigação dos valores do Olimpismo nas Escolas Agrotécnicas Federais,
esta investigação será feita via questionário descritivo, que deverá ser
respondido pelos alunos participantes do estudo. Esta investigação tem como
20
Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
objetivo principal a verificação das atitudes e comportamentos dos jovens
alunos das Escolas Agrotécnicas diante de situações hipotéticas do seu
cotidiano esportivo.
Os valores fundamentais do Olimpismo investigado serão os seguintes:
honestidade, desportividade, solidariedade e companheirismo. As questões
estarão abordando o cotidiano escolar e esportivo dos alunos das Escolas
Agrotécnicas Federais, que na grande maioria das escolas espalhadas pelo
Brasil vivem num regime de internato, o que garante uma característica
singular a amostra em comparação as outras modalidades de ensino médio
técnico-profissionalizante existente no país.
As questões foram elaboradas através de um questionário fechado
sugerindo situações hipotéticas, mas bem conhecidas dos alunos no ambiente
escolar. As questões abordam o cotidiano dos alunos na escola, dentro de um
contexto de competição, aula e lazer.
Foram elaboradas 16 questões com 3 opções de resposta, uma
caracterizando a concordância, outra a discordância e outra a concordância
parcial com a questão (afirmações), também foram elaboradas 2 questões
objetivas no questionário para investigar quais as atividades mais praticadas
pelos alunos durante o tempo livre na escola .
Nesta fase do Projeto o apoio do MEC – Ministério da Educação, através
da Secretaria de Ensino Médio e Tecnológico - SEMTEC, na figura do ilustre
Secretário Prof. Rui Berger tem grande importância, pois irá possibilitar o
deslocamento a escolas regionais para divulgação do Projeto junto aos
professores de Educação Física das Escolas Agrotécnicas e a coleta de dados
junto a comunidade discente.
Apresentação e Avaliação parcial dos resultados
Não fugindo a proposta inicial do Projeto Educação Olímpica na Escola,
nesta fase utilizaremos a INTERNET para a apresentação e divulgação dos
resultados, a coleta de dados (resposta ao questionário) quando possível poderá ser
realizada no próprio site através do preenchimento do formulário de pesquisa
on-line. Todos os dados coletados e analisados na pesquisa estarão disponíveis
no SITE, estes resultados serão de grande importância para futuras
intervenções e para construção de um modelo no futuro.
Considerações Finais
A proposta aqui apresentada tem a preocupação de somar esforços para o
crescimento do jovem cidadão brasileiro, proporcionando a juventude uma
proposta Educacional pioneira e atual na qual as questões sociais, culturais e de
saúde caminham lado a lado para construirmos uma nação mais justa e
saudável. Quanto aos benefícios para o Governo Federal e o Comitê Olímpico
Brasileiro, o presente Projeto intenciona criar fundamentos pedagógicos para
21
Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil
disponibilizar o Programa de Educação Olímpica para todo o país, com um
mínimo de custos.
Referências Bibliográficas
KEEP THE SPIRIT ALIVE - YOU AND OLYMPIC GAMES, IOC
Commission for the Internacional Olympic Academy and Olympic Education,
1995.
EDUCATION PACK - BRITISH OLYMPIC ASSOCIATION, 1996
MAYORS´ OlympicKids FOR FITNESS, United States Olympic Committee,
1998.
ESTUDOS OLÍMPICOS: Programa de Pós-Graduação em Educação Física/
Editores: Otávio Tavares e Lamartine DaCosta, Rio de Janeiro, Ed. Gama
Filho, 1999.
CÓDIGO DE ÉTICA DESPORTIVA - Conselho da Europa, Oeiras,
Câmara Municipal de Oeiras - Portugal, 1996.
OLYMPIC CHARTER, Comitê Olímpico Internacional, Lausanne, COI,
1997.
GONÇALVES, Carlos, O PENSAMENTO DOS TREINADORES SOBRE
O ESPÍRITO DESPORTIVO NA FORMAÇÃO DOS JOVENS
PRATICANTES, Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1996.
22
Niké: A apropriação de um Mito
Carlos Fabre Miranda – Programa Especial de Treinamento - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Mário G. Brauner - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Resumo
Este estudo tem por objetivo buscar na literatura, elementos que permitam
uma melhor compreensão sobre a antiga deusa grega da vitória, a Niké.
Buscamos compreender o significado, a origem e a influência desta deusa, na
sociedade grega e suas relações com as atividades esportivas. Cabe aqui
salientar que esta deusa estava enraizada na cultura grega., e relacionada com o
sucesso obtido nos empreendimentos humanos, como as guerras
principalmente. A deusa Niké era um meio de comunicação que os gregos
criaram para ligar o sagrado e o mundano, entre os deuses, principalmente
Atena e Zeus e os mortais. Foram identificados os principais resquícios
arqueológicos ainda existentes sobre a Niké. Um dos exemplos é o Templo da
Niké em Atenas, erguido em 437-432 a.C. A Vitória Alada de Samotracia, que
esta no museu do Louvre e a Niké de Paionios que possuía um grande elo com
as Olimpíadas antigas, são obras que demostram a influência que esta deusa
tinha na sociedade da Grécia antiga. A importância deste trabalho se deve pois
a imagem da deusa Niké é utilizada pelo Comitê Olímpico Internacional, nas
medalhas esportivas. Desde a primeira Olimpíada em 1896, em Atenas, até o
evento de Sydney, neste ano, a Niké é utilizada. Este trabalho faz parte de um
estudo mais abrangente, onde a presente trabalho irá auxiliar a buscar respostas
para uma possível re-interpretação pela empresa de materiais esportivos a
Nike, do mito Niké. Buscamos estabelecer uma relação entre arte, religião,
cultura e esporte.
Palavras-chave: Niké, Mitologia Grega e Olimpíadas.
Abstract
This study is a literature research, looking for elements to be possible a better
compression of the meaning about the goodness Nike. We want to know the
meaning, the origin and the influence that this goodness had in Greek society,
and her relations with sports activities. Is opportunity told that Nike was
rooted in Greek culture, and has relation with success in human employees,
like principally in wars. The Nike goodness was a communication between the
mundane and the sacred, principally between the goods, like Zeus and Atena
and the mortals. We identified the principally archaeological vestige about the
Nike existence. One example is the Temple of Nike in Athens, that was
heedless in 437-432 BC. The Wingless Victory of Samotrace, that is in Louvre
Museum and the Nike of Paionios, who had a big link with the ancient
23
Niké: A apropriação de um Mito
Olympics Games, represented the influence for this goodness in society for
ancient Greece. The importance of this work is because the image of Nike is
use for the International Olympic Committee, in medals. Since Athens in 1896
to Sydney, they used Nike. This work is a part of a more abrangent study. This
present work will help to answer a question about a possible new
interpretation for the Nike Company of shoes with the myth Nike. We want to
do a relation between art, religion, culture and sports.
Key words: Nike, Greek Mythology and Olympic Games
Este trabalho tem como objetivo buscar compreender o significado, a
origem e a influência da antiga deusa grega da vitória, Niké, na sociedade grega
e suas relações com as atividades esportivas na antigüidade. A escrita desta
figura mitológica em grego era Níkn. Cabe aqui salientar que este trabalho faz
parte de um estudo que é mais abrangente, onde se pretende buscar a
existência de uma possível re-interpretação na atualidade pela empresa de
materiais esportivos Nike, do antigo mito grego da deusa Niké. Buscamos
recorrer nesta revisão da literatura disponível como forma de melhor
compreender o mito grego Niké, compreensão esta que julgamos importante
para futuros avanços da pesquisa. O mito no qual nos centramos no momento,
é de importância não somente no período antigo, mas tem uma grande
influência no esporte moderno, tendo participação no Movimento Olímpico
Internacional, e em diversas modalidades esportivas competitivas. É
importante a utilização de imagens que ilustram a relevância da divindade
Niké, nos esportes gregos da antigüidade.
O significado da Niké na Grécia Antiga
Segundo Carlos Prada1, Niké era a personificação que os Gregos fizeram
para a vitória, ou para as conquistas. Ela era conferida por Zeus e Atena, onde
estas divindades são freqüentemente vistas com pequenas Nikés em suas mãos.
Não há mitos ligados a sua origem, mas ela é uma deusa antiga, nascida antes
do Olimpo. Este autor coloca que Niké era irmã de Zelos, Cratos e Bia que
eram personagens da cultura grega próximos dos deuses do Olimpo. Zelos era
a personificação da emulação, ou seja, dos modelos. Cratos representava o
poder, e Bia se relacionava com a força.
Lurker (1997), em seu dicionário simbólico refere que esta deusa
condecorava os vencedores com coroa de louros, ramos de palmeira e venda,
que eram interpretados como símbolos de vitória e fama na Grécia antiga. No
período romano, a Niké grega, se transformou na deusa conhecida como
Vitória, que não precisa ser vista agora como um ser alado. Este autor
argumenta que as várias imagens da Niké são representadas de diferentes
O material referente a este autor foi retirado do site: www.hsa.brown.edu/~maicar/index.html
no dia 06/12/1999 às 22:00hs
1
24
Niké: A apropriação de um Mito
maneiras: como escrevendo sobre um escudo, ou de pé sobre o globo. Estas
imagens são transferidas na arte cristã, também em imagens de anjos. Este
autor cita Agostinho que em De civitate Dei IV, 17, coloca que Deus não envia
Vitória, mas um anjo. E aqui se evidencia que o cristianismo também teria
utilizado este antigo mito grego.
A deusa Niké é um importante meio de comunicação dos vencedores com
os deuses. Chamamos atenção para a antiga estátua, a Estátua de Zeus, feita
por Fídias, que se localizava no interior do templo em Olímpia. Yalouris
(1982), ilustra com uma reconstituição de como seria esta estátua, onde na mão
direita de Zeus existia uma Niké. Aqui fica evidente a relação que esta figura
mitológica possuía com os Jogos Olímpicos na antigüidade. No entanto Niké
estava inserida em um contexto maior que o esportivo, muito relacionada as
guerras da época.
Gombrich (1993) coloca que após os gregos derrotarem as invasões persas
em 480 a.C., sob o governo de Péricles, a democracia ateniense chegou ao seu
apogeu. Isto se refletiu na arte e na arquitetura, onde os templos da Acrópole,
que estavam destruídos, seriam agora construídos em mármore e com
esplendor e nobreza jamais vistos.
No apogeu grego, Péricles designou Fídias para modelar as figuras dos
deuses e Ictino para planejar o desenho dos templos. O artista Fídias deu
forma as figuras mitológicas gregas. As duas grandes obras de Fídias foram a
estátua de Zeus, já comentada e a Palas Atena, sendo esta construída entre 447
a.C. e 432 a.C., e com uma pequena Niké também em sua mão direita.
Gombrich coloca: “A arte de Fídias outorgava ao povo da Grécia uma nova concepção
do divino”.
Gombrich relata que a Palas Atena se localizava no interior do Partenon e
assim como a estátua de Zeus, foi saqueada e destruída. Estas obras eram
cobertas por ouro e outros materiais preciosos que foram saqueados. Nos
resta, no entanto, uma pequena cópia desta Atena, com o nome de Atena
Parthenos. A escultura original, construída entre 447 e 432 a.C., possuía onze
metros de altura e era feita em madeira. Suas dimensões transmitiam temor e
reverência. Uma cópia feita em mármore encontra-se atualmente no Museu
Arqueológico Nacional em Atenas.
Os Jogos Antigos
A conexão que os diversos jogos realizados na Grécia antiga possuíam com
cerimônias religiosas é bastante aceita na literatura esportiva. Yalouris (1982),
por exemplo, afirma que desde os primórdios da civilização grega os jogos
faziam parte dos cultos aos deuses. Sendo estes associados com festivais rurais
religiosos, conectados com a fertilidade da terra, além de cultos funerais.
Dentre as diversas atividades esportivas, os Jogos que se realizavam em
Olímpia, em homenagem ao deus dos deuses Zeus, possuíam um grande
25
Niké: A apropriação de um Mito
destaque. Os vencedores das diversas provas atléticas recebiam como prêmio
uma coroa de oliva silvestre e era a maior honra que um mortal poderia
alcançar. As Olimpíadas, como eram conhecidas, foram instituídas em 776
a.C., eram as mais importantes manifestações esportivas na antigüidade e
influenciavam a vida de toda a população.
Entretanto outros jogos também se realizavam para homenagear os deuses
gregos, Guttmann (1978), relaciona os principais jogos. Os Jogos Istimos que
tinham o pinheiro como material que dava origem a sua coroa de premiação e
eram em homenagem ao deus Netuno, estes jogos foram fundados em 582
a.C., em Corinto e se realizavam a cada dois anos. O louro era uma
característica dos Jogos Pistimos, realizados em Delfos a partir de 582 a.C., com
periodicidade de quatro anos, em homenagem ao deus Apolo. Nos Jogos de
Nemea, era a salsa o símbolo das premiações, eles se realizavam em Nemea,
com intervalo de dois anos, a partir de 573 a.C..
Um dos pontos comum entre os diversos Jogos da antigüidade eram os
prêmios, onde os vencedores recebiam uma coroa feita de algum vegetal
característico da região. Nos Jogos de Olímpia existem evidencias que os
prêmios eram simbolicamente entregues pela Niké. A evidências disto são as
representações da Niké na mão da Estátua de Zeus e a Niké de Paionios, que
será tratada em seguida.
Dentre as evidências existentes desta antiga deusa, este estudo se valeu de
exemplos de obras de arte, artefatos arqueológicos e do Templo na Acrópole
de Atenas, que auxiliarão para melhor compreender e ilustrar este fenômeno.
O Templo em Atenas
Entre 437 e 432 a.C., foi erguido um templo em homenagem à Niké na
Acrópoles de Atenas, onde diversas representações foram encontradas. Stewart
(1984) relatou a importante relação que este templo possui com a arte e cultura
ateniense. O Partenon, que é o templo central na Acrópole grega, teve iniciada
a sua construção, pouco antes, em 447 ou 446 a. C..
No templo da deusa Niké, existem diversas narrativas sobre a mitologia
grega. Entre elas estão: a guerra de Marathon, a guerra dos deuses com os
Gigantes (Gigantomachy), e a guerra das Amazonas (Amazonomachy). Muitas
destas passagens pela mitologia grega tem relação com a Niké. O fragmento do
templo mais conhecido é a “Niké Amarrando as Sandálias”, que era parte
integrante do parapeito do lado sul do templo. Atualmente esta obra esta no
Museu da Acrópoles2.
O Museu da Acrópolis pode ser acessado pelo site:
www.culture.gr/2/21/211/21101m/e211am01.html
2
26
Niké: A apropriação de um Mito
A Niké de Paionios
Segundo o casal de arqueologistas Yalouris e Yalouris (1994) esta escultura
da deusa é feita em mármore Pentelico tinha 2,11 metros de altura e foi
esculpida por Paionios de Mende em Chalkidike. A “Niké de Paionios” é uma
escultura que possui uma forte relação com as atividades esportivas, pois ela se
localizava no santuário antigo de Olímpia. Hoje este local é um sítio
arqueológico, pois lá se realizavam os Jogos Olímpicos da Antigüidade na
Grécia. Na época das antigas competições gregas esta estátua ficava no canto
sudoeste do templo de Zeus em uma base triangular de 8,81 metros de altura,
que combinado com a escultura totalizavam 10,92 m. A face da deusa, partes
do corpo e as assas infelizmente estão perdidas, mas resquícios desta obra de
arte são preservados.
Os autores colocam que esta estátua foi oferecida pelos Missenos e pelos
Naupactians devido a sua vitória sobre os Espartanos na guerra de
“Archidamean”, provavelmente em 421 a.C. Na sua inscrição se lê:
“Os Missenos e os Naupactians dedicam para Zeus Olímpico, um dízimo pela vitória
sobre os seus inimigos”.
Um pouco mais abaixo ainda se lê:
“Paionios de Mende fez esta tão bem quanto a acroteria acima do templo, pelos quais ele
ganhou um valor”.
O templo aqui referido é o templo de Zeus, que possui uma Niké sobre o
seu telhado. Segundo Yaluoris e Yaluoris a “Niké de Paionios” é um outro
exemplo do espírito competitivo e da sede de aclamação a qual tinha
penetrado na arte e na vida dos gregos tão profundamente. Esta Niké é a mais
antiga que se tem em dimensões monumentais, e marca um estágio decisivo na
história das esculturas da Grécia. Esta é uma obra na qual a deusa da vitória
está em pleno vôo, descendo do Olimpo para aclamar os vencedores, neste
caso de uma guerra. Não deixa de ser impressionante que de um cubo de
mármore de três metros cúbicos, surge esta tão bela obra, demonstrando a
habilidade do artista como descreve este autor:
“...transformar a solidez deste material na leveza de um sopro de vento”.
Na atualidade esta escultura foi reconstituída em gesso, onde pode se ter
uma idéia da magnitude e beleza da obra original. O local onde estava situada
esta obra possui uma forte ligação com esporte e com os Jogos Olímpicos,
pois Olímpia era peça central na cultura esportiva antiga. Os resquícios
arqueológicos desta antiga obra de arte estão atualmente no museu de Olímpia
na Grécia3.
O sentido ou razão e a necessidade de competir eram vividos diariamente
pelos gregos, e o prestígio nos jogos superavam os limites mundanos, em
busca de poder se comunicar com deus, através da vitória; ou seja, através da
mensageira dos deuses, que descia dos céus com seus atributos sagrados. A
3
O endereço eletrônico do Museu de Olímpia é: http://harpy.uccs.edu/greek/olympia2:html
27
Niké: A apropriação de um Mito
escultura da Niké foi erguida para celebrar e perpetuar o triunfo que se obteve,
não somente nos esportes, mas em vários aspectos da vida humana.
A Niké de Samotracia
A Niké de Samotracia é uma das mais conhecidas representações da Niké.
Exposta no Museu do Louvre em Paris4., no mesmo setor que a Vênus de
Milo, estas duas obras são grandes exemplos do período helênico grego. Esta
escultura da deusa vitória, também é conhecida como: “Vitória Alada de
Samotracia”. O nome Samotracia se refere a ilha ao norte do mar Egeu, onde a
escultura foi encontrada. Esculpida em mármore com três metros e vinte e
oito centímetros de altura, por volta do ano de190 a.C., é um ex-voto do povo
de Rodes por ter vencido uma guerra no início do segundo século a.C.,
segundo o autor Kurish5.
Esta estátua assim como a de Paionios, representa a deusa de asas abertas e
são exemplos monumentais da Niké. Samotracia esta representada na proa de
um barco, resistindo a uma tempestade, seus braços estão perdidos, assim
como sua cabeça. Mas é evidente que seu braço direito era elevado. A
exuberância do movimento e da beleza da obra é um patrimônio da cultura
grega para as gerações futuras.
A Niké nos dias de hoje
A imagem da deusa Niké é utilizada na atualidade para relacionar sucesso
esportivo e glória. Exemplos disto são as imagens que aparecem nas medalhas
olímpicas. Segundo Greensfelder (1998) a imagem da deusa Niké esta presente
desde as medalhas que foram entregues na primeira Olimpíada, realizada em
Atenas no ano de 1896. A partir dos Jogos Olímpicos de Amsterdã, em 1928,
teve início uma padronização das faces das medalhas, onde uma das faces das
medalhas mostra a Niké, segurando uma coroa de louros e uma palma, com o
Coliseu ao fundo. Esta face da medalha continua a ser utilizada até hoje, onde
os vencedores de Sydney neste ano em setembro irão receber suas medalhas
com estas imagens.
Outro exemplo é o troféu que muito nos orgulha quanto brasileiros, a taça
Jules Rimet que foi conquistada na Copa do Mundo de 1970, a qual ficou com
o Brasil após vencer três campeonatos mundiais de futebol, organizados pela
FIFA. Também importante é a marca da Federação Internacional de Atletismo
Amador (IAAF), que reproduz fielmente a deusa grega da vitória, sobre um
globo. O nome Niké segundo Katz (1997), inspirou o nome da empresa de
materiais esportivos Nike, tão popular na cultura mundial, e a qual com os
O Museu do Louvre pode ser acessado em: www.louvre.fr
Esta referência se encontra no site de Adam Kurish, cujo endereço eletrónico é:
www.kent.pvt.k12.ct.us/departments/General_Studies/2000/niké2.htm visitada na data de
07/03/2000 às 21:21hs
4
5
28
Niké: A apropriação de um Mito
resultados deste estudo pretendemos prosseguir investigando a relação entre a
empresa Nike e o mito Niké.
Considerações finais
Tendo este estudo o caráter de revisão bibliográfica, as conclusões são de
certo modo inacabadas, entretanto, com certeza este primeiro contato com o
assunto nos garante uma bagagem de conhecimentos que nos permitirão
avançar em novas questões. Como podemos constatar através dos autores
parece haver um consenso sobre a importância da deusa Niké e as raízes do
esporte antigo, além de termos nossa curiosidade despertada para a ligação da
deusa em emblemas esportivos na atualidade. O significado da deusa Niké
ultrapassa o contexto do esporte. Guerras e diversos triunfos se relacionavam
com a deusa, e inspiravam os artista a criar representações sobre este mito.
O Movimento Olímpico Internacional, desde a antigüidade, até os dias de
hoje mantém uma relação entre a Niké e os vencedores, mesmo tendo a oliva,
o louro e o pinheiro, se transformado em ouro, prata e bronze. Como
evidência desta relação, podemos constatar que as medalhas que os atletas do
mundo todo irão receber em Sydney, terão imagem da comunicação entre o
sagrado e o mundano, entre o céu e a terra. Esperamos que esta etapa
concluída do trabalho possa nos levar a uma continuidade que permita
estabelecer relações esporte, arte, religião e cultura também na atualidade.
Referências Bibliográficas
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New York: Columbia University Press, 1978. 198p.
YALOURIS, A.; YALOURIS, N.. Olympia: Guide to the Museum and the
Sanctuary. Athens: Ekdotike Athenon S. A., 1994. 182p.
YALOURIS, N. et al. The Olympic Games in Ancient Greece: Ancient
Olympia and the Olympic Games. Athens: Ekdotike Athenon S. A., 1982.
302p.
LURKER, M. Dicionário de Simbologia. 1 Ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
GOMBRICH, E. H.. A História da Arte. 15 Ed. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos Editora S.A., 1993. 518p
STEWART, A.. History, Myth, and Allegory in the Program of the Temple of
Athena Nike, Athens. Studies in History of Art. N.º 16. Pg.: 53-73.1984
29
Niké: A apropriação de um Mito
GREENSFELDER, J. VORONSTOV, O. LALLY, J. Olympic Medals, a
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KATZ, D.. Just do it: O espírito Nike no mundo dos negócios. 2. Ed. São
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em 30/01/200 às 21:40hs.
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Visitado em 09/04/2000 às 19:40hs
LOUVRE, Museu.www.louvre.fr Visitado em 30/01/2000 às 21:18hs.
KURISH, A.
www.kent.pvt.k12.ct.us/departments/General_Studies/2000/niké2.htm
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06/12/1999 às 22:00hs.
FIFA, Federação Internacional de Futebol Associado. www.fifa.com Visitado
em 02/03/2000 às 21:40hs.
IAAF, Federação Internacional de Atletismo Amador. www.iaaf.com Visitado
em 02/03/2000 às 22:10hs.
COI, Comitê Olímpico Internacional. www.olympic.org Visitado em
03/12/1999 às 14:07hs.
30
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a
performance em atletas de voleibol do sexo masculino*
Gustavo Marçal Gonçalves da Silva - PIBIC-CNPq/PRODESP - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Daniel Carlos Garlipp – PIBIC-CNPq/PRODESP – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Marcelo Francisco da Silva Cardoso - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre/RS
Adroaldo Cezar de Araujo Gaya – CNPq /PRODESP - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Resumo
O presente estudo tem por objetivo identificar indicadores de desempenho
desportivo, que permitam desenvolver parâmetros e metodologias para o
treinamento de jovens voleibolistas. A amostra é do tipo voluntária composta
por 39 atletas infanto-juvenis do sexo masculino, participantes do IV Jogos da
Juventude, com idades entre 15 e 17 anos, divididos em dois grupos conforme
classificação (grupo 1= 1° lugar da divisão A e grupo 2= 5° a 8° lugar da
divisão B). As variáveis antropométricas avaliadas foram: estatura, peso, altura
tronco-cefálica, envergadura, comprimento de membros inferiores, massa
gorda e massa magra. As variáveis de desempenho motor avaliadas foram:
resistência abdominal, agilidade, flexibilidade da coluna vertebral, força de
preensão manual, força explosiva de membros inferiores e velocidade de
deslocamento. Os procedimentos estatísticos realizados foram a ANOVA
unidimensional para identificar diferenças entre os valores médios dos grupos
em relação às variáveis antropométricas e de desempenho motor, e a Análise
da Função Discriminante para a identificação de possíveis indicadores sobre os
quais se possa separar maximalmente os grupos. Os resultados evidenciaram
que as variáveis de agilidade e envergadura foram as que mais contribuíram
para a discriminação dos grupos. Na matriz de classificação de Jackknife foram
classificados corretamente 82,1% dos atletas de acordo com seus grupos
originais.
Palavras-chave: modelação da performance – desempenho esportivo - voleibol.
Abstract
The present study has for objective to identify indicators of sport acting, that
allow to develop parameters and methodologies for the training of volleyball
youth players. The sample belongs to the voluntary type composed by 39
31
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
infanto-juvenile athletes of the masculine sex, participants of the IV Jogos da
Juventude, with ages between 15 and 17 years of age, divided in two groups
according to classification (group 1 = 1° place of the division A and group 2 =
5° to 8° place of the division B). The variables appraised in anthropometry
were: stature, weight, log-cephalic height, span, length of inferior members, fat
mass and thin mass (free fat mass). The evaluated variables of acting motor
were: abdominal resistance, agility, flexibility of the spine, hand grip force,
inferior members explosive forces and displacement speed in 10 meters. The
statistics procedures accomplished were the One Way ANOVA to find
differences among the groups in relation to the variables related to the
antrhopometry and acting motor, and Discriminanted Function Analysis for
the identification of possible indicators on which the groups can be separate
in a maximum way. The results evidenced that the agility and span variables
were the ones that more contributed to the discrimination of the groups. In
the matrix of classification of Jakknife they were classified 82,1% of the
athletes correctly in agreement with its original groups.
Key words: performance modelation - sport performance - volleyball.
1. Introdução
Tendo em vista as características específicas referentes as diversas
modalidades esportivas, sabe-se da importância de estudos que procuram
descrever e evidenciar as exigências físicas - antropométricas e motoras - de
práticas esportivas específicas.
Assim sendo, descrever, delimitar e ou modelar o estado de prontidão
desportiva para uma determinada modalidade constitui-se numa exigência
inerente a projetos de investigação na área da detecção, seleção e monitoração
do talento desportivo e em estudo de jovens atletas.
Neste âmbito, este estudo tem como objetivo geral identificar indicadores
de desempenho desportivo, que permitam desenvolver parâmetros e
metodologias para o treinamento de jovens voleibolistas do sexo masculino
visando a participação em desporto de rendimento, bem como para a detecção
de possíveis talentos desportivos.
Assim, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
a) Analisar comparativamente a estrutura hierárquica da performance
considerando variáveis de antropometria e de desempenho motor para a
prática de rendimento desportivo em jovens voleibolistas.
b) Identificar um conjunto de indicadores antropométricos e de
desempenho motor capazes de justificar as diferenças entre atletas de
diferentes níveis de performance no voleibol infanto-juvenil.
32
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
2. Materiais e métodos de abordagem
2.1. Amostra
A amostra foi composta por 39 atletas infanto-juvenis do sexo masculino,
participantes do IV Jogos da Juventude, com idades entre 15 e 17 anos,
divididos em dois grupos conforme classificação (grupo 1: 1° lugar da divisão
A e grupo 2: 5° a 8° lugar da divisão B). Os jogos foram organizados pelo
Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Instituto Nacional do Desenvolvimento
do Desporto (INDESP) e Governo do Estado do Rio Grande do Sul,
realizados em Porto Alegre em 1998. Os atletas foram convidados há participar
voluntariamente das avaliações propostas pelo Centro de Excelência
(CENESP-UFRGS). O estudo é do tipo ex-post-facto com abordagem descritiva
e comparativa.
2.2. Medidas Antropométricas
O protocolo utilizado foi o proposto pelo International Working Group on
Kinantrhopometry (IWGK), descrito por Ross & Marfell-Jones (1983) e por
Borms (1987). Os atletas foram medidos nas seguintes variáveis:
Estatura em cm: medida com a utilização de um estadiômetro com
precisão de leitura de 1 mm;
Altura tronco cefálica em cm (ATC): medida entre o vértex e a porção
mais inferior da bacia, estando o atleta sentado em um banco de 50 cm de
altura, com a utilização de um estadiômetro com precisão de leitura de 1
mm.
Comprimento de membros inferiores em cm (CMI): calculado através da
subtração entre a estatura e a altura tronco cefálica;
Envergadura em cm: foi utilizada uma régua metálica fixada
horizontalmente na parede, medida a distância entre os dois pontos
dactiloidais, estando o atleta com os braços abertos e paralelos ao solo;
Massa corporal em Kg (Peso): foi utilizada uma balança da marca Filizola
com precisão de até 100 gramas.
2.2.1. Composição Corporal
Foi utilizado o fracionamento da massa corporal em massa gorda e massa
magra de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985) para os atletas
juvenis. A partir do percentual de gordura é facilmente calculado o valor de
massa gorda (MG) e massa magra (MM). Para as dobra cutâneas (mm), os
locais de medidas utilizados para a avaliação da composição corporal foram os
da região tricipital e subescapular, determinadas em posição ortostática e em
repouso, utilizando a padronização estabelecida por Guedes (1994). As
medidas foram realizadas sempre do lado direito do avaliado, com uma
precisão mínima de 0,1 milímetro, mesmo que esta seja obtida por interpolação
da escala original do compasso. Realizou-se uma série de três medidas
33
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
sucessivas num mesmo local, considerando a média das três medidas como
sendo o valor adotado para este ponto. Entretanto, tendo ocorrido
discrepâncias superiores a 5% entre uma das medidas e as demais no mesmo
local, uma nova série de três medidas foi realizada.
2.3. Medidas de Desempenho Motor
Foram aplicados um conjunto de 7 testes motores conforme segue no
quadro abaixo:
Quadro 1 – Testes motores e seus respectivos objetivos
Testes
Objetivos
Teste Abdominal (Sit up’s)
Resistência de força dos músculos abdominais
10 x 5 metros
Agilidade
Preensão Manual (Hand Força estática de preensão manual
grip)
Sentar e Alcançar (Sit and Flexibilidade da coluna dorso-lombar e
reach)
elasticidade dos músculos ísquios-tibiais
Impulsão horizontal
Força explosiva de membros inferiores
Impulsão vertical
Força explosiva de membros inferiores
Corrida de 10m
Velocidade de deslocamento
Teste de Resistência de Força dos Músculos Abdominais (Sit Up’s)
Procedimento: realizado a partir de posição de decúbito dorsal, braços
cruzados sobre o peito, joelhos fletidos à noventa graus, pés apoiados no solo
pelo avaliador. Efetuar o maior número de flexões ininterruptas em um
minuto.
Materiais: colchonete de ginástica e cronômetro.
Teste de Agilidade (10 x 5 metros)
Procedimento: Correr o mais rápido possível, partindo da posição de pé, com
um dos pés mais avançado, imediatamente atrás da linha de partida. Corrida de
ida e volta, cruzando as linhas limítrofes dos cinco metros com os dois pés
realizando um total de dez percursos. Será considerado o tempo total de
realização do percurso (dez vezes cinco metros).
Materiais: cronômetro, fita métrica e marcações de duas linhas de 120 cm
paralelas no solo à distância de 5 m uma da outra.
Teste de Força Estática de Preensão Manual (Hand-grip)
Procedimento: Segurar o dinamômetro com a mão dominante, afastá-lo
levemente do corpo e fazer de forma progressiva e contínua, mantendo-a
durante aproximadamente dois segundos. Realizar duas tentativas,
considerando o melhor resultado em kgf.
34
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
Materiais: dinamômetro manual com punho adaptável.
Teste de Flexibilidade da Coluna Dorso-lombar e da Elasticidade dos
Músculos Ísquios-tibiais (Sit and Reach)
Procedimento: Sentado com os pés apoiados verticalmente na caixa de teste,
inclinar o corpo para a frente tentando alcançar o máximo possível a frente,
sem fletir os joelhos e com as mãos estendidas para frente. Tentar manter a
posição aproximadamente durante dois segundos, sem executar movimento de
balanço. Realizar duas tentativas registrando-se o melhor índice em
centímetros.
Materiais: caixa específica do teste de Sentar e Alcançar
Teste de Força Explosiva de Membros Inferiores (Impulsão Horizontal – IH)
Procedimento: Saltar a maior distância possível, partindo com os pés paralelos,
joelhos flexionados, sem realizar balanço de braços. Realizam-se três tentativas
e registra-se o melhor resultado.
Materiais: solo antiderrapante, fita métrica.
Teste de Força Explosiva de Membros (Inferiores Impulsão Vertical – IV)
Procedimento: Saltar a maior altura possível, partindo com os pés paralelos,
joelhos levemente flexionados, sem realizar balanço de braços. Realizam-se três
tentativas e registra-se o melhor resultado.
Material: Jump Meter.
Teste de Velocidade de Deslocamento (Corrida de 10m)
Procedimento: Duas linhas paralelas intermediárias são situadas a dois metros
da linha inicial e a um metro da linha final. O atleta se posiciona imediatamente
atrás da primeira linha e ao sinal do avaliador parte na maior velocidade
possível até alcançar a quarta linha. Todavia, o registro do tempo é efetuado
apenas entre a segunda e terceira linhas e considera-se a velocidade média para
realização do percurso.
Materiais: Pista plana e antiderrapante, cronômetro.
2.4. Procedimentos Estatísticos
Primeiramente foi realizada uma Análise de Variância (ANOVA)
unidimensional entre os dois grupos para identificar as possíveis diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos nas variáveis
antropométricas e motoras.
Posteriormente foi realizada uma Análise da Função Discriminante para
identificarmos um conjunto de indicadores ao longo dos quais é possível a
maximização de diferenças entre os grupos.
35
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
3. Resultados e discussão
A análise dos resultados possibilitou a identificação das variáveis que
evidenciam as diferenças entre os dois grupos estudados.
Tabela 1 – Resultados da ANOVA
G1
FATORES
Média
Medidas
Estatura
longitudinais ATC
CMI
Enverg.
Medida de
Peso
massa
Composição MG
Corporal
MM
Testes de
desempenho it up’s
motor
10 x 5 m
and grip
Sit and reach
IH
IV
10 m
189,42
90,11
99,44
197,04
77,05
G2
Desvio Erro
Padrão Padrão
8,37
2,79
3,03
1,01
6,16
2,05
9,55
3,18
7,35
2,32
Média
Sig.
183,28
86,83
96,58
190,18
72,34
Desvio
Padrão
6,14
2,95
4,58
6,78
8,61
Erro
Padrão
1,10
0,53
0,82
1,21
1,54
0,020*
0,006*
0,136
0,020*
0,129
14,62
63,87
52,44
3,38
4,70
7,53
1,12
1,56
2,51
13,86
58,48
47,51
5,02
5,16
7,64
0,90
0,92
1,41
0,675
0,008*
0,099
20,86
H 53,66
1,16
11,06
0,38
3,68
22,39
45,54
1,00
5,83
0,18
1,04
0,000*
0,005*
34,77
233,11
60,22
5,38
11,13
20,11
5,30
0,27
3,71
6,70
1,76
0,009
31,31
222,06
59,50
5,09
8,93
16,03
4,28
0,20
1,65
2,92
0,95
0,003
0,344
0,096
0,700
0,002*
S
* Diferença estatisticamente significativa (p<0,05)
Na tabela 1, verifica-se a importância das medidas longitudinais para este
esporte visto que a estatura, a altura tronco cefálica e a envergadura,
apresentaram diferença estatisticamente significativa a favor do grupo de
melhor performance.
Em relação à composição corporal, identificou-se diferença
estatisticamente significativa a favor do grupo de melhor performance quando
se verifica a massa magra.
Segundo Garganta et alli, 1993, levando-se em consideração a ausência de
contato direto com os adversários, a separação da quadra por uma rede elevada
e os gestos de ataque e defesa que dependem fundamentalmente do gesto
técnico, compreende-se a importância da estatura e conseqüentemente da
envergadura no voleibol.
A diferença quanto a massa livre de gordura indica a importância da
estrutura esquelético-muscular, característica nos esportes de potência
muscular.
Quanto as variáveis de desempenho motor, o grupo de melhor
performance apresentou diferenças estatisticamente significativas em relação
36
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
ao segundo grupo nos testes de agilidade, força de preensão manual e 10
metros. Estes resultados parecem estar de acordo com a exigência motora no
voleibol, uma modalidade desportiva na qual os deslocamentos caracterizam-se
curtos, realizados em alta velocidade e com constante mudança de direção,
evidenciando a importância da agilidade e da velocidade de deslocamento em
curtas distâncias.
Através da Análise da Função Discriminante, é possível determinar quais
das variáveis analisadas tem poder discriminatório e possibilitam uma correta
classificação dos indivíduos que justifique os diferentes níveis de performance.
Tabela 2 – Matriz de coeficientes estruturais
VARIÁVEL
FUNÇÃO
10 x 5m
0,667
MM
-0,628
Estatura
-0,537
Hand Grip
-0,534
Envergadura
-0,507
Peso
-0,499
ATC
-0,458
IH
-0,442
CMI
-0,388
10 metros
-0,353
MG
-0,237
IV
-0,226
Sit up’s
-0,213
Sit and reach
-0,156
Nos resultados da tabela 2, é importante ressaltar que todas as variáveis que
apresentaram valores acima de 0,30 são relevantes na definição do perfil do
jogador de voleibol desta categoria, segundo a matriz de coeficientes
estruturais.
Estes coeficientes são correlações que representam a contribuição relativa
de cada variável para a construção de uma combinação linear capaz de
distinguir os grupos (Função Discriminante).
Porém, a contribuição relativa das variáveis não expressa o poder
discriminante da função. Para este fim, utiliza-se o método discriminante
Stepwise que inclui e exclui variáveis na Função Discriminante visando
selecionar aquelas que maximizam a discriminação entre os grupos de acordo
com o critério estatístico Lambda de Wilks.
37
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
Tabela 3 – Valores de Lambda de Wilks e significância das variáveis
Passo
1
2
Variável Introduzida
10 x 5
Envergadura
Lambda de Wilks
0,669
0,474
Nível de Significância
0,001
0,000
A tabela 4 sumariza os passos na aplicação deste método. A variável
agilidade é a que mais poder tem de discriminar os dois grupos e, por isso, é a
primeira a ser introduzida no modelo. Embora o poder discriminatório da
variável envergadura é inferior, este ainda é significativo, incluindo-a na análise.
Os resultados demonstram a alta significância que estas duas variáveis tem
para discriminar os grupos quanto à performance. Cabe ressaltar que dos
resultados obtidos nesta última análise, não significa que as demais variáveis
analisadas não sejam importantes para a prática do voleibol. No entanto, para
discriminarmos estes dois grupos as diferenças capazes de predizer a
performance estão localizadas nas variáveis agilidade e envergadura.
Através da classificação de Jackknife, a AFD reclassifica os atletas de
acordo com o modelo matemático nos grupos previamente definidos,
classificando-os da seguinte forma:
Tabela 4 – Classificação de Jackknife
G1
G2
G1
7
2
77,8%
22,2%
G2
5
25
16,7%
83,3%
TOTAL
9
100%
31
100%
A Função Discriminante permite classificar corretamente 7 dos 10 atletas
(77,8%) no grupo de melhor performance e 26 dos 31 (83,3%) no grupo com
classificação inferior nos Jogos.
No resultado final foram classificados corretamente 82,1% dos atletas de
acordo com os seus grupos originais, o que permite considerar este índice
como plenamente adequado para a relevância deste estudo.
4. Conclusão
Em relação a ANOVA pôde-se identificar diferença estatisticamente
significativa a favor do grupo de melhor performance nas variáveis estatura,
altura tronco cefálica, envergadura, massa magra, agilidade, força estática de
preensão manual e velocidade de deslocamento.
Considerando a matriz dos coeficientes estruturais, observou-se a
relevância das variáveis agilidade, massa magra, estatura, força estática de
preensão manual, envergadura, massa corporal, altura tronco cefálica, impulsão
horizontal, comprimento de membros inferiores e velocidade de deslocamento
38
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em
atletas de voleibol do sexo masculino
para a construção de uma combinação linear capaz de distinguir os grupos
(Função Discriminante).
Utilizando a Análise da Função Discriminante através do método Stepwise,
destacaram-se a agilidade (10 x 5 metros) e a envergadura como as variáveis
que detem poder discriminatório para o rendimento de atletas de voleibol do
sexo masculino da faixa etária investigada. Estas duas variáveis maximizaram as
diferenças entre os grupos, permitindo classificar corretamente 82,1% dos
indivíduos, conforme os perfis previamente estabelecidos.
* Trabalho realizado na rede CENESP pela UFRGS; publicado na Revista da Faculdade de Educação Física da
Universidade do Amazonas, v. 2, n. 3-4, jan./dez. 2001.
5. Referências bibliográficas
BOILEAU, R.; LOHMAN, T.; SLAGHTER, M. (1985): Exercise and Body
Composition of Children and Youth. Scandinavian Journal of Sports Science. 7: 1721.
BORMS, J. (1987): Kinanthropometry – a Post Graduate Course. Instituto
Superior de Educação Física – Universidade Técnica de Lisboa.
GARGANTA, R.; MAIA, J.; JANEIRA, M.A. (1993): Estudo discriminatório
entre atletas de voleibol do sexo feminino com base em testes motores
específicos – A ciência do desporto, a cultura do homem. Universidade do Porto –
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física. Câmara Municipal
do Porto – Pelouro do Fomento Desportivo.
GAYA, A.; CARDOSO, M.; TORRES, L.; SIQUEIRA, O. (1997) : Os jovens
atletas brasileiros. Relatório do estudo de campo dos Jogos da Juventude de
1996. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Centro Indesp de
Excelência Esportiva.
GUEDES, D. P. (1994): Crescimento, composição corporal e desempenho
motor em crianças e adolescentes do município de Londrina (PR), Brasil. Tese
de Doutoramento, Universidade de São Paulo.
ROSS, .W.; MARFELL-JONES, M. (1983): Kinanthropometry . in Mcdougall,
J.; Wenger, H.; Green, H. (eds); Physiological Testing of the Elite Athlete. pp. 75115. Mouvement Publications, Inc. New York.
39
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da
modadidade de futsal
Adroaldo Gaya – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Osvaldo Donizete Siqueira – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Marcelo Cardoso - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Lisiane Torres – FAPERGS - Universidade de Santa Cruz do Sul /RS
Resumo
Considerando que a performance desportiva se edifica sobre um conjunto de
variáveis biológicas, psicológicas, sociológicas, somáticas e motoras, esta
investigação tem por objetivo descrever perfil sobre os hábitos de vida, fatores
motivacionais à prática desportiva, composição corporal e aptidão motora.
Foram investigados 47 atletas juvenis da modalidade de futsal, referente as 4
principais equipes do Rio Grande do Sul. Para descrição do perfil relativo as
variáveis de prestação desportiva utilizamos os seguintes instrumentos de
avaliação: Os hábitos de vida através do inventário EVIA adaptado para a
especificidade desta população por Gaya et alli 1997. Para a identificação dos
principais fatores motivacionais utilizamos questionário desenvolvido por
Gaya, A., Cardoso, M., 1998, A determinação da composição corporal foi
efetuado de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985) e a aptidão
motora através da bateria de testes do PRODESP. Os atletas evidenciaram em
seus resultados que na sua maioria, pertencem à classe média-alta e tem uma
freqüência de treino de quatro vezes por semana com duração média (em
horas) de cada sessão de treinamento é de duas horas. Os jovens
demonstraram uma tendência a valorizarem mais o fator motivacional ligado
ao rendimento desportivo. O perfil revelado pelos atletas em relação aos testes
motores demonstra um perfil único, pois os mesmos não apresentaram
diferenças estatisticamente significativas em relação as variáveis clubes e
posições.
Palavras-chave: perfil, futsal juvenil, prestação desportiva
Abstract
Considering that the sport performance is built on a group of biological,
psychological, sociological, somatic and motor variables, this investigation has
for objective to describe the profile about life habits, motivationals factors to
the sport practice, body composition and motor aptitude. Were investigated,
47 juvenile athletes of the futsal modality, referring the 4 main teams of Rio
Grande do Sul. For description of the profile related to the variables of sport
installment were used the following evaluation instruments: The life habits
through the inventory EVIA adapted for the specificalty of this population by
Gaya et alli 1997. For the identification of the main motivationals factors were
used the questionnaire developed by Gaya, A., Cardoso, M., 1998. The
40
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
determination of the body composition was made in agreement with the
proposals of Boileau et al. (1985) and the motor aptitude through the battery
of tests of PRODESP. The athletes evidenced in its results that in its majority,
it belong to the high average class has a frequency of training of four times a
week with medium duration (in hours) of each training section of two hours.
The youths demonstrated a tendency to value it more the motivational factor
linked to the sport revenue. The profile revealed by the athletes in relation to
the motors tests demonstrates an only profile, because the same ones didn't
present statistic significant differences in relation to the variable clubs and
positions.
Key words - profile, juvenile futsal, sport installment
Introdução
A investigação sobre a problemática da prospecção de talentos desportivos
tem alcançado relevância e atualidade devida a atenção dada aos estudos das
variáveis de prestação desportiva, Malina (1980) descreve a performance
desportiva e motora como um fenômeno expresso a três dimensões: orgânica,
motora e cultural, cuja expressão depende de um conjunto de predisposições e
de condições que não se distribuem igualmente por todos os indivíduos, nem
no mesmo indivíduo em diferentes fases de sua existência biológica.
No plano desportivo, e em particular no desporto de rendimento, a
definição de performance recorre à identificação e hierarquia dos fatores que a
regulam, de forma a promover a melhoria da qualidade do processo de treino,
especialmente aquele que é apresentado aos jovens no sentido de promover a
excelência da sua performance, Maia (1993).
Considerando que a performance desportiva se edifica sobre um conjunto
de variáveis biológicas, psicológicas, sociológicas, somáticas e motoras, esta
investigação vai discorrer:
(1) sobre o perfil sociológico - através do estudo sobre os hábitos de
vida dos jovens atletas;
(2) sobre o perfil psicológico - através do estudo dos fatores
motivacionais à prática desportiva;
(3) sobre o perfil somático - através da descrição de variáveis
referentes às dobras cutâneas, medidas longitudinais, perímetros e massa
corporal;
(4) sobre a aptidão motora - através de um conjunto de testes que
abrangem as principais capacidades condicionais e coordenativas.
Material e métodos
O presente estudo se caracteriza como ex post facto, com técnica de
abordagem do tipo descritivo-exploratório.
- Amostra
41
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
No período de 15 a 17 de julho de 1997, foi realizado na cidade de Pelotas
- Rio Grande do Sul -, um torneio seletivo de futsal categoria juvenil para
compor a equipe representativa do estado que participaria dos III Jogos da
Juventude a realizar-se em Goiania -Goiás -. Participaram as 4 principais
equipes do Rio Grande do Sul, representando a expressão mais evoluída desta
categoria no estado, Neste torneio participara 47 atletas do sexo masculino
com idade entre 14 a 17 anos:
Juventude Esporte Clube de Caxias do Sul, (n = 11)
Clube Brilhante de Pelotas, (n = 12)
Grêmio Náutico Gaúcho de Porto Alegre, (n = 9)
Seleção das equipes escolares do Rio Grande do Sul, (n = 15)
Todos os atletas foram submetidos às avaliações antropométricas, aptidão
física, responderam a um inventário sobre hábitos de vida e motivação para as
práticas desportivas.
- Instrumentos
Para descrição do perfil referente as variáveis de prestação desportiva
utilizamos os seguintes instrumentos de avaliação:
HÁBITOS DE VIDA
A avaliação dos hábitos de vida foi efetuada a partir do Inventário Estilo de
Vida para Jovens. Este instrumento baseou-se no Inventário EVIA proposto
por Sobral (1992) para crianças e jovens portuguesas, e, foi adaptado para a
especificidade desta população por Gaya et alli 1997.
MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA
Para a identificação dos principais fatores motivacionais utilizamos um
questionário de escala somativa ou aditiva com três níveis de respostas (nada
importante; pouco importante e muito importante) composta por 19 questões,
ver Gaya, A., Cardoso, M., 1998.
MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS
Todos os atletas das três equipes foram medidos quanto a estatura, peso
corporal, dobras cutâneas (tríceps, subescapular, peitoral, suprailiaca,
abdominal, coxa, panturrilha), o protocolo das medidas de espessuras das
dobras cutâneas, seguiu-se a padronização estabelecida por Guedes (1994).
O somatotipo foi calculado de acordo com o método proposto por Heath
& Carter (1966), para prescrever o tipo físico de atletas.
Para a determinação da composição corporal e o fracionamento da
massa corporal em dois compartimentos, massa magra e massa gorda, foi
efetuado de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985) para os atletas
juvenis.
A APTIDÃO MOTORA
42
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
Foi aplicado um conjunto de 10 testes motores conforme o quadro
seguinte.
Quadro 1 - Teste de aptidão motora e objetivos:
TESTES
SIT UP’S (60 SEG.)
OBJETIVOS
RESISTÊNCIA DOS MÚSCULOS
ABDOMINAIS
10 X 5 METROS
AGILIDADE
HAND GRIP
FORÇA ESTÁTICA DE PREENSÃO MANUAL
SIT AND REACH
MOBILIDADE DA COLUNA LOMBAR
TESTE DE COOPER -12 MIN. RESISTÊNCIA DE LONGA DURAÇÃO
IMPULSÃO HORIZONTAL
FORÇA EXPLOSIVA DE MEMBROS
INFERIORES
IMPULSÃO VERTICAL
FORÇA EXPLOSIVA DE MEMBROS
INFERIORES
CORRIDA DE 20 METROS
VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO
LANÇADOS
SLALON COM BOLA
HABILIDADE ESPECÍFICA
SHUTLE RUN COM BOLA
HABILIDADE ESPECÍFICA
-
Bateria de testes do PRODESP
Apresentação e discussão dos resultados
- Hábitos de Vida: a caracterização do cotidiano dos atletas
Apresentaremos, a seguir, os resultados obtidos nas cinco categorias do
inventário utilizado: indicadores sócio-econômicos (questões referentes ao
nível de escolaridade, tipo de estabelecimento de ensino e renda familiar),
caracterização do treino (freqüência semanal de treinos e tempo de duração
dos mesmos) e indicadores sócio-econômicos.
Em relação à renda familiar dos atletas, verificamos que grande parte da
amostra caracteriza-se como pertencente à classe média-alta, sendo 48,9% mais
de 15 salários, 28,9% de 10 a 15 salários, 15,6% de 5 a 10 salários e 6,7% até 5
salários. Salientamos o fato de que os dados obtidos indicam que esses atletas,
na sua maioria, não desenvolvem atividades laborais (87,2% dos participantes
declararam que não trabalham). Portanto, sua renda familiar é conseqüência
das atividades de seus pais/responsáveis.
No que se refere à escolaridade dos atletas, um elevado percentual de
participantes deste estudo (85,1%) afirmou estar cursando o segundo grau e,
em sua maior parte, em escolas privadas (78,3%) e, ainda, com grande
concentração no turno da manhã, como podemos observar na tabela 1:
43
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
Tabela 1. Caracterização da escolaridade:
Grau de instrução
Primeiro grau
Segundo grau
Faculdade
V.p.
12.8
85.1
2.1
Tipo de Escola
Municipal
Estadual
Privada
V.p.
4.3
17.4
78.3
Turno de Estudo
Manhã
Tarde
Noite
V.p.
89.4
6.4
4.3
V.p.= valores percentuais
Ressaltamos que estes dados confirmam uma tese encontrada em outras
pesquisas: a de que o envolvimento com as práticas esportivas sofre influências
do nível sócio-econômico de seus participantes. Estudos como os de Cauley e
colaboradores (1991), e Taks e colaboradores (1995), entre outros, indicam que
o esporte, longe de se caracterizar um espaço de fácil acesso, parece estar
restrito ao alcance daqueles que, economicamente, têm este privilégio.
Gaya e Torres (1996, e 1997), ao estudarem os hábitos de vida de escolares
dos municípios de Santa Cruz do Sul (RS) e de Porto Alegre (RS), verificaram
que, aproximadamente, 94% dos estudantes não praticam atividades esportivas
para além das aulas de educação física e aqueles que as praticam são
caracterizados como pertencentes às classes economicamente mais
privilegiadas. Estes autores, ao analisarem os hábitos de vida dos atletas
participantes dos Jogos da Juventude de 1996, realizados na cidade Curitiba
(PR), constataram que 70,5% dos participantes do referido evento são
pertencentes às classes A e B (critério ABIPEME, 1991).
Portanto, o nível sócio-econômico parece consubstanciar-se numa variável
interveniente nas práticas esportivas. Sendo assim, para que seja possível
concretizar o desenvolvimento de gerações olímpicas em nosso País, é preciso,
entre outros fatores, oportunizar o acesso de crianças e jovens à prática das
diferentes modalidades esportivas, independente das classes sociais a que
pertençam.
- Caracterização do Treino
Em média, os atletas afirmaram que treinam quatro vezes por semana,
sendo que a duração média de cada treino é de duas horas. Com relação à
freqüência semanal das sessões de treino, 23,4% dos atletas afirmaram que
treinam de 2 a 3 vezes por semana, enquanto que 36,2 % dos participantes
declararam treinar 4 vezes por semana. Este mesmo percentual (36,2%) foi
encontrado na freqüência de treino 5 vezes na semana.
A distribuição dos integrantes da amostra em relação à duração da sessões
de treino apresenta-se da seguinte forma: 23,4% realizam sessões de
treinamento com duração de 1h a 1h 50 min, enquanto que 76,0% participam
de treinos com a duração de 2h a 2h 50 min.
- Indicadores de saúde
44
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
Os resultados obtidos nesta categoria indicam que os atletas participantes deste
estudo mantêm hábitos saudáveis. Os percentuais obtidos revelam que grande
parte destes atletas não costuma consumir bebidas alcoólicas, medicamentos
ou cigarro (71,1%, 95,6% e 97,8%, respectivamente).
-
Perfil dos fatores motivacionais
Em relação ao perfil motivacional para a prática desportiva dos jogadores
de futsal, os resultados encontrados são apresentados no quadro abaixo.
Quadro 2 Perfil dos atletas de futsal em relação aos “Fatores de Motivação”:
Fatores motivacionais para a prática desportiva
Média
D.p.
Aspectos relativos à saúde
2,58
0,41
Amizade e o lazer
2,33
0,45
Rendimento desportivo
2,73
0,28
O quadro 2 refere-se aos valores de média e desvios padrão em cada fator
de motivação dos jogadores de futsal juvenil.
Os jovens demonstraram uma tendência a valorizarem mais o fator
motivacional ligado ao “rendimento desportivo”, evidenciando que os
principais motivos para se envolverem e permanecerem na prática desportiva
está relacionado à questões como: vencer, ser melhor no esporte, competir, ser
um atleta, desenvolver habilidades e ser jogador quando crescer.
O fator “aspectos relativos à saúde” foi o segundo a ter uma atribuição de
valor significativa, revelando que esses jovens também praticam desporto por
motivos referentes à saúde como: ter bom aspecto, manter o corpo em forma,
desenvolver a musculatura e manter a saúde.
Para os jogadores de futsal, o fator referente a “amizade e o lazer”, foram o
que recebeu a menor atribuição de valor. Os motivos de fazer novos amigos,
encontrar com os amigos, brincar e divertir-se, não são tão importantes como
os outros para o envolvimento e a participação desportiva.
- Perfil das medidas longitudinais e variáveis somáticas
O quadro abaixo se refere ao perfil das medidas longitudinais e variáveis
somáticas dos jogadores de futsal juvenil.
Quadro 3 - Perfil dos atletas de futsal em relação às Medidas Longitudinais:
Média
D.P.
Estatura
174,59
6,99
Envergadura
177,49
7,16
Altura tronco-cefálica
91,77
3,60
45
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
O quadro 3 refere-se ao perfil geral dos jogadores de futsal, apresentando
os valores de média e desvios padrão das medidas longitudinais referentes ao
crescimento. As medidas descritas no quadro demonstram que os atletas
possuem um perfil único, pois os mesmos não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas em relação as variáveis posição e clube.
Quadro 4 - Perfil dos atletas de futsal em relação as medidas somáticas:
Medidas somáticas
Média
D.P.
Peso
66,14
6,62
73,93
19,63
∑ Dobras Cutâneas
% Gordura
22,07
5,80
IMC
21,70
1,87
Massa Muscular (kg)
51,35
4,83
Somatotipo
Endo
3,52
1,13
Meso
4,25
1,03
Ecto
3,06
1,11
O quadro 4 apresenta índices médios e desvios padrão dos jogadores de
futsal relacionado à variáveis que descrevem o perfil somático. De modo geral,
por não termos constatado diferenças significativas nas comparações das
medidas somáticas entre as posições e clubes, com exceção ao componente
endomorfo e percentual de gordura onde o clube Brilhante apresentou índices
inferiores aos demais, podemos inferir que em relação à atletas de futsal da
categoria juvenil os índices apresentados configuram-se num perfil único.
- Perfil da aptidão motora
Quanto ao perfil das capacidades condicionais e coordenativas dos
jogadores de futsal encontramos os seguintes resultados, que são apresentados
no quadro abaixo.
Quadro 5 Perfil dos atletas de futsal em relação a “ Aptidão Motora ”:
Capacidades condicionais
Testes motores
média
D.p.
Dinamometria
34,74
4,89
Flexibilidade (sent. alcança)
32,81
6,79
Imp. Horizontal (salt. distân.)
217,3
16,02
Imp. Vertical (jump teste)
53,60
5,55
Cooper (12 min.)
2815,5
201,86
Resist. Abdominal (rep.1 min)
52,52
6,75
Velocidade (20 met.)
2,71
0,113
46
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
O quadro 5 refere-se ao perfil geral dos jogadores juvenis de futsal
apresentando os valores de média e desvio padrão em cada teste motor que
compõem as capacidades condicionais. Os testes motores descritos no quadro
demonstram um perfil único, pois os mesmos não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas em relação as variáveis clubes e posições.
Quadro 6 Perfil dos atletas de futsal em relação a “ Habilidades Motoras ”:
Capacidades Coordenativas
Teste de habilidades
Média
D.p.
Agilidade (10 X 5 m)
18,64
1,19
Habilidade com bola
18,55
2,59
S. Run ( 9,14 m)
11,16
0,47
O quadro 6 nos mostra o perfil geral dos jogadores de futsal juvenil em
relação aos valores de média e desvio padrão nos testes de habilidades, que
compõem as capacidades coordenativas.
Conclusões
Em síntese, considerando as informações obtidas pelo inventário Estilo de
Vida em Jovens Atletas, podemos delinear um perfil para esses atletas de futsal
com as seguintes principais características:
• Na sua maioria, os atletas pertencem à classe média-alta;
• Durante a semana, esses atletas possuem, em média, oito horas e meia de
sono diárias. As principais atividades por eles desenvolvidas no interior de
sua residência são: assistir televisão, escutar música, conversar com os
amigos e estudar. No exterior de sua moradia, durante a semana,
costumam conversar com os amigos e jogar bola;
• Aos finais de semana, os hábitos de sono são mais heterogêneos. As
atividades realizadas no interior da moradia não sofrem muita alteração.
Porém, os participantes deste estudo diversificam mais suas atividades no
exterior de suas moradias neste período semanal: atividades como
freqüentar shopping center e danceterias e passear de carro, são
adicionadas aos hábitos de conversar com amigos e jogar bola;
• Os materiais de esporte mais adquiridos por esses atletas são a bicicleta, a
bola de futebol e chuteiras;
• Os locais prediletos para a realização de práticas de lazer são o clube, a
cancha da escola e os parques/praças;
• A participação sócio-cultural destes atletas é restrita ao clube a que
pertencem;
• Em média, os participantes deste estudo treinam quatro vezes por semana
sendo que a duração média (em horas) de cada sessão de treinamento é de
duas horas;
47
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
•
O jogador de futsal não tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas,
fumo ou medicamentos. A ocorrência de alergias e de fraturas entre a
amostra estudada, apresentou-se relativamente baixa.
Quanto aos aspectos relacionados à motivação para a prática desportiva
podemos concluir que:
• Em relação ao fator “aspectos relativos à saúde”, podemos inferir que,
provavelmente os índices de motivação apresentado pelos jovens a este
fator esteja relacionado à um discurso dos técnicos e professores de
educação física, voltado para a aptidão física referenciado à saúde.
Também, a preocupação com a saúde e a aparência, é discurso
evidenciado pelos pais. Todavia, cabe ressaltar que embora a educação
física tenha esse discurso, no campo da ação concreta não se atinge tal
objetivo. No entanto, acreditamos que estes objetivos possam ser
concretizados, quando esta prática e realizada de maneira organizada e
sistemática.
• Em relação ao fator “rendimento desportivo”, as tendências evidenciadas
de valorização a este fator pelos jogadores de futsal, como o mais
significativo para prática desportiva pode estar ligado, as influências do
contexto da prática, incentivos e apoio dos pais e treinadores. No entanto,
são motivados principalmente pela realização pessoal, pela auto-afirmação
no grupo, auto-estima e pelo desafio que as situações da prática oferecem.
As aspirações de ser jogador quando crescerem, ser o melhor atleta, de
apresentar melhor rendimento e de demonstrar suas habilidade
demonstram sua motivação para envolverem-se e persistirem na pratica
do futsal.
• Em relação ao fator “amizade e o lazer”, os jovens apresentaram menor
grau de interesse por motivos relacionados às questões que compõem este
fator. Esta constatação nos parece muito consistente, visto que tanto o
ambiente de treino para a competição, bem como os objetivos a serem
perseguidos pelos praticantes de futsal priorizam a busca permanente pelo
aperfeiçoamento da performance, na procura da ocupação do espaço na
equipe, de status social, de ser reconhecido. Outros estudos realizados por
Gould, 1982; Gill, 1986; Serpa, 1992, com nadadores e jovens
participantes de programas desportivos, apresentam resultados
semelhantes aos encontrados em nosso estudo, as motivações mais
valorizadas eram em relação ao status, desenvolver habilidade, melhorar a
aptidão física, desafio.
No que tange as variáveis antropométricas, podemos inferir que os níveis
de adiposidade foram muito semelhantes, não evidenciando diferenças
significativas entre os clubes.
48
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal
Em relação ao somatotipo, os atletas de futsal comparados por posição não
apresentam diferenças significativas. Já quando comparados por clubes, o
componente de endomorfia do Clube Brilhante, mostrou índices inferiores aos
demais.
No que se refere às medidas longitudinais, sendo elas: estatura,
envergadura, altura tronco-cefálica, o grupo analisado, tanto em relação aos
clubes ou posições não diferiram.
Em relação às medidas de peso, massa corporal, índice de massa corporal,
não encontramos diferenças significativas no que se refere comparações por
posição e clubes.
Na análise das variáveis de aptidão física, podemos considerar que as
capacidades condicionais apresentaram:
• Resistência abdominal - encontramos diferença significativa na
comparação dos índices por clubes, a Seleção Escolar apresentou índices
inferiores aos demais clubes;
• Resistência aeróbia (Cooper) - a diferença encontrada ocorreu apenas na
comparação por posição, onde os goleiros mostraram índices mais baixos
que as demais posições;
• No que se refere aos demais testes: dinamometria, flexibilidade, impulsão
horizontal, impulsão vertical e velocidade 20 metros, independente da
posição ou clube, os atletas evidenciaram um perfil único. Já para as
capacidades coordenativas podemos dizer que: a habilidade com bola e
shutle run, demonstraram nas comparações dos índices por posição, que
os goleiros tiveram uma performance inferior na execução dos testes em
relação às outras posições, no entanto, o teste de agilidade não apresentou
diferenças na comparação por posição e clubes.
Em síntese, devemos considerar que embora seja evidente que o presente
perfil para o jogador de futsal juvenil possa configurar-se incompleto, é
importante ressaltar que os dados apresentados neste ensaio constituem-se em
indicadores precisos nos processos de planejamento, organização, avaliação e
controle de programas de treino.
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52
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
Christiano Guedes - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Resumo
O objetivo deste estudo foi verificar a fidedignidade dos testes motores na
modalidade de basquetebol. Os instrumentos criados estão divididos em três
protocolos dos quais compreendem testes relacionados a: agilidade na defesa,
velocidade de deslocamento na defesa e habilidade com bola. A amostra teve é
do tipo não probabilística intencional e consistiu de 9 atletas entre 16 e 18 anos
de idade, da categoria juvenil, do clube Grêmio Náutico União. Sendo uma
categoria homogênea, por realizarem a mesma carga de treinamento tanto
técnico quanto físico, todos foram submetidos a realização dos testes e retestes em um período de 14 dias de intervalo. Para avaliar a fidedignidade
utilizou-se o teste de correlação produto momento de Pearson para escala
intervalar, quando o teste utiliza escalas ordinais nos valemos da correlação de
Spearman. Os resultados apresentados foram: para o teste de agilidade na
defesa, a correlação foi de 0.93 e um índice de significância de 0.006; para o
teste de velocidade de deslocamento, o coeficiente de correlação foi de 0.92 e
um índice de significância de 0.00 e para o teste de habilidade com bola o
coeficiente de correlação foi de 0.79 e o índice de significância de
0.010.Concluimos que de forma geral, todos os testes apresentaram um índice
estatisticamente significativo, revelando a fidedignidade dos mesmos.
Unitermos: Validação – Testes de capacidade motora – Basquetebol
Abstract
The objective of this study went verify to effectiveness of the tests motors in
the basketball modality. The instruments servants are divided in three
protocols of the which understand related tests the: agility in the defense,
displacement speed in the defense and ability to deal with the ball. The sample
used in this study had na intencional non-probability and it consisted of 9
athletes between the age 16 and 18 years old from Grêmio Náutico União.
Being a homogeneous cathegory, for they had accomplish the same amont of
technician and physical training, , all of them have undergone a test and a
retest in a forthning period (14-day period).. To evaluate the effectiveness the
test of correlation test moment product Pearson it was used for scale
intervalar, when the test uses ordinal scales we used the Spearman correlation.
The presented results were: for the agility test in the defense, the correlation
was of 0.93 and an index of significância of 0.006; for the test of displacement
speed, the correlation coefficient was of 0.92 and an index of significância of
0.00 and for the ability test with ball the correlation coefficient was of 0.79 and
the
index
of
significância
of
0.010.
We
concluded
53
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
that in general all the test present na statistically significative index revealing its
efectiveness.
Introdução
É de grande importância para qualquer esporte a existência de testes
validados e fidedignos, na medida em que há maior possibilidade de um
processo mais adequado de avaliação tanto para a seleção e condução de
talentos desportivos quanto serve de referencial para elaboração de programas
de treinamento. No entanto, temos que ter com clareza a resposta para
seguinte indagação: Avaliar, por quê?
Inicialmente, há dois aspectos que devem considerar, o primeiro é obter,
através dos resultados, parâmetros que permitam conhecer o atleta, o seu nível
de habilidade, de performance de aptidão física entre outros. Enfim, tomar
conhecimento do estado inicial do atleta. O segundo seria em relação a
“reavaliação” na qual verificamos se a metodologia de treinamento está
adequado.
Não obstante, podemos, também, selecionar um provável talento esportivo
através da análise de diferentes variáveis que compõem a prática esportiva. A
análise de um conjunto de variáveis nos dará condições de apontar se este
atleta poderá ser um possível talento ou não. Não obstante, conduzir ou
acompanhar um atleta desde as categorias de base até a adulta, também nos
dará, subsídios para dizer se o atleta pode ser um possível talento ou não,
levando como um dos instrumentos de medida a reavaliação, pois, dentro de
um longo processo de condução do atleta, nos mostra a sua evolução.
No entanto, essa é uma pergunta que os técnicos deveriam se fazer antes
de iniciarem o planejamento das atividades no decorrer de um determinado
período. Porém, muitos não têm clareza o que e como avaliar, quais os
instrumentos de medição embora saibamos a importância de manter
regularmente um sistema de avaliação específica para a modalidade esportiva
praticada.
Segundo Mathews (1980), “uma criança é extremamente complexa em sua formação
e capacidade e, decididamente, única em muitos aspectos. Ela tem aptidões variáveis nas
numerosas habilidades físicas e mentais dela requeridas pela cultura que herdou e tem certas
limitações fisiológicas. Em algumas habilidades ela se distinguirá, em outras será carente”.
Nesta passagem, Mathews observa o quão é importante a elaboração de
um processo de avaliação sistemático. Toda avaliação tem por finalidade o
julgamento, estimativa, classificação e interpretação tão fundamentais ao
processo educacional total. Todavia, Mathews diferencia a “avaliação” da
“medição”. A “avaliação” é um processo contínuo lidando com objetivos
globais; ela é um termo mais abrangente do que a medição e refere-se
comumente à avaliação total da criança. Já, a “medição” é o principal veículo
para se obter informações, quer seja numa situação complexa ou simples.
54
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
Quanto maior a precisão na medição, maior fidelidade ou confiança o
investigador pode depositar nesses dados (Mathews, 1980).
Durante o processo educativo de nossos atletas devemos ter como
procedimento informativo de suas evoluções, o acompanhamento através de
testes e o registro de medições feitas dentro de uma certa freqüência.
Contudo, para fazermos essas medições e extrair informações precisas que
possam nos dar condição de elaborar um planejamento de treino do modo
mais adequado possível, é necessário a aplicação de testes cientificamente
validados, pois esses possuem três indicadores, confiabilidade, objetividade e
validade, expressando características de fulcral importância para a cientificidade
das medições. Passamos, então, a definir esses termos segundo Litwin (1985):
Validade: o teste mede aquilo que se pretende medir, digo, se o que ele
almeja medir está coerente com o objetivo do teste.
Confiabilidade: é a capacidade de um teste para demonstrar consistência e
estabilidade nos resultados. Por exemplo, quando é aplicado o teste e o re-teste
em um mesmo grupo de alunos e em condições semelhantes, devemos obter
resultados iguais ou similares. Se os resultados forem aproximados ou iguais,
podemos dizer que o teste é confiável.
Objetividade: é o grau de uniformidade com que vários indivíduos podem
aplicar o mesmo teste. A objetividade depende da clareza e precisão dos
instrumentos do teste.
Além desses indicadores, Litwin (1985) nos aponta outros elementos que
temos que levar em consideração, como:
Propósito do teste;
Os testes devem proporcionar meios de interpretar os resultados;
Possibilidade de administração, digo, praticidade de aplicação;
O teste deve ter uma dificuldade adaptada ao grupo, deve estar coerente
com a modalidade a ser medida;
Deve diferenciar níveis de habilidade;
O teste deve dar resultados precisos;
Deve proporcionar um número suficiente de repetições.
Dessa forma o objetivo deste trabalho é validar testes de capacidade
motora na modalidade de basquetebol na categoria Juvenil do Clube Grêmio
Náutico União.
Material e método
A amostra para o presente estudo foi do tipo não probabilística intencional que
consistiu de 09 atletas do Clube Grêmio Náutico União que compunham a
55
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
categoria Juvenil. A faixa etária compreendida entre os atletas era de 16 a 18
anos de idade que participam de competições municipais e regionais.
Para avaliar a fidedignidade dos instrumentos de medida referente às
capacidades motoras como, a agilidade dos jogadores na defesa, velocidade de
deslocamento do jogador na defesa e a habilidade com bola do jogador de
basquetebol, criamos 3 (três) protocolos.
Instrumentos de Avaliação:
Protocolo 1: AGILIDADE NA DEFESA
Objetivo: medir a agilidade dos jogadores de basquetebol na defesa.
Procedimento: realizar uma única vez o percurso, o mais rápido possível,
contornando os cones e alternando o tipo de deslocamento conforme as
mudanças de sentido e direção, conforme mostra a ilustração 1.
Tipos de Deslocamentos: conforme os trechos referenciados na ilustração 1,
há um tipo de deslocamento a ser feito e, estes são:
Trechos
1
Tipo de Deslocamento
Para frente
Observações
Pé direito à frente
2
3
4
5
Para frente
Lateral para direita
Para trás
Para trás
Pé esquerdo à frente
Pé esquerdo atrás
Pé direito atrás
Materiais Utilizados: cones, fita métrica, cronômetro e fita adesiva.
Distância dos Cones: ver ilustração 2.
Ilustração 1:
Ilustração 2:
Protocolo 2: VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO NA DEFESA
Objetivo: medir a velocidade de deslocamento na condição de defesa.
56
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
Procedimento: deslocar-se o mais rápido possível, em deslocamento lateral na
posição básica de marcação do basquetebol, com um dos pés mais avançado,
imediatamente atrás da linha de partida. Deslocamento lateral de ida e volta,
cruzando as linhas limítrofes com os 2 (dois) pés (5 metros), realizando um
total de 10 (dez) percursos de 5 (cinco) metros (10 vezes 5 metros).
Materiais Utilizados: cones, fita métrica, fita adesiva e cronômetro.
Protocolo 3: HABILIDADE COM BOLA
Objetivo: medir a habilidade com bola do jogador de basquetebol.
Procedimento: uma linha é traçada no solo à distância de 1,14 metros de um
conjunto de 9 (nove) cones colocados em linha com 1 (um) metro de distância
entre eles. O atleta conduzindo uma bola de basquete com as mãos deverá
realizar o percurso de ida e volta sendo registrado o número de “zig-zags” em
um tempo de 30 (trinta) segundos. Realizar o trajeto utilizando a troca de
direção e, respectivamente, a alternância das mãos no pique da bola. Se por
algum motivo a bola sair rolando, para perto ou longe, o teste deve ser
interrompido e reiniciado.
Materiais Utilizados: cones, bola de basquetebol, fita métrica, fita adesiva e
cronômetro.
Análise dos Resultados
Para avaliar a fidedignidade dos instrumentos de medida utilizamos o teste
de correlação de Pearson, para escalas intervalares e o teste de correlação de
Spearman para escalas ordinais. Considerando o “cut print” de 0.70 que
segundo Safrit é o adequado para testes de capacidade motora e aptidão física.
Já para descrever os resultados das variáveis utilizaremos a estatística de média
(m) e desvio padrão (DP). Para as análises inferenciais, apresentaremos o
coeficiente de correlação (r), assim como, a significância encontrada.
Na tabela 1, apresentamos os resultados dos testes do protocolo 1 que tem
como objetivo medir a agilidade do jogador de basquetebol na defesa.
Tabela 1: Resultados do Teste de Agilidade na Defesa:
Testes
Agilidade na defesa (teste)
Agilidade na defesa (re-teste)
Média
7.28
7.39
Desvio Padrão
0.46
0.41
R
0.93
P
0.006
N
9
9
Os índices da média apresentados são muito semelhantes tendo uma
dispersão dos resultados de 0.05 e um coeficiente de correlação de 0.93, um
índice acima do proposto por Flechmam, portanto, consideramos que este
teste é fidedigno para avaliar a agilidade do jogador de basquetebol na defesa.
Na tabela abaixo, apresentamos os resultados do teste de velocidade de
deslocamento do jogador de basquetebol na defesa, protocolo 2.
57
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
Tabela 2: Resultados do Teste de Velocidade de Deslocamento:
Desvio
R
P
Testes
Média
Padrão
Velocidade de
Deslocamento
19.24
1.06
0.92
0.00
(teste)
Velocidade de
Deslocamento
19.92
0.89
(re-teste)
N
9
9
Como no teste anterior, os índices da média apresentados são muito
próximos tendo uma variabilidade de 0.17 e um coeficiente de correlação de
0.92, um índice considerado bom.
Na tabela 3, apresentamos os resultados do teste de habilidade com bola
do jogador de basquetebol, protocolo 3.
Tabela 3: Resultados do Teste de Habilidade com Bola:
Testes
Média
Desvio Padrão
r
Habilidade
47.66
2.39
0.79
com Bola
(teste)
Habilidade
47.55
1.87
com Bola (reteste)
P
N
0.006
9
9
Neste teste, os índices da média apresentados são muito semelhantes tendo
uma variabilidade de 0.52 e um coeficiente de correlação de 0.79, um índice
estatisticamente significativo, revelando a fidedignidade do teste.
Conclusão
Considerando as limitações do nosso estudo e baseados nos resultados
encontrados concluímos que:
1º) o teste de agilidade na defesa, apresentou um índice estatisticamente
significativo, revelando a fidedignidade do teste.
2º) no teste de velocidade de deslocamento, também apresentou um
coeficiente de correlação acima dos parâmetros adotados por pesquisadores,
revelando que o teste apresenta um índice estatisticamente significativo;
3º) e o teste de habilidade com bola, apresentou um índice estatisticamente
significativo, revelando a fidedignidade do teste.
Esses achados favorecem a aplicação dos testes sendo que sugerem a
aplicação em uma amostra dividida em categorias de diferentes idades e sexo.
Sugerimos a posteriori, que novos estudos venham a ser realizados com o
58
Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol
intuito de desenvolver tabelas padrões objetivando a diferença de parâmetros
para futuras comparações.
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Anexo
Obs.: As ilustrações dos protocolos 2 e 3 podem ser adquiridos entrando em
contato com o autor do trabalho.
R. Coroados 830 - Bairro Assunção - Porto Alegre – RS – Cep: 91.900 – 580
60
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em
equipes de futsal
José Augusto E. Hernandez – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Rogério da Cunha Voser – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Mariele de Moraes Gomes - Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Resumo
Foram investigadas as relações entre coesão grupal, ansiedade pré-competitiva
e resultados dos jogos de Futsal. Uma hora e meia antes das partidas,
aproximadamente, 113 jogadores pertencentes a 10 equipes de sete diferentes
clubes responderam a dois instrumentos. Para ter acesso à ansiedade précompetitiva dos jogadores foi utilizado o CSAI-2, (Competitive State Anxiety
Inventory–2) de Martens e para investigar a coesão de grupo, o GEQ (Group
Environment Questionnare), baseado no modelo de coesão grupal de Carron,
Brawley e Widmeyer. Análises de variância revelaram que as equipes vitoriosas
nos jogos obtiveram maiores médias de coesão grupal em torno da tarefa e
menores médias de ansiedade cognitiva pré-competitiva. A Correlação de
Pearson confirmou a hipótese da existência de uma relação inversa entre
coesão em torno da tarefa e a ansiedade pré-competitiva dos jogadores. A
análise de regressão múltipla encontrou como preditores do resultado em
jogos de Futsal o fator atração pelo grupo tarefa, da coesão grupal, e o fator
somático, da ansiedade pré-competitiva. Em termos gerais, os resultados
confirmaram as expectativas corroborando os achados da pesquisa
internacional.
Palavras-chave: Psicologia do esporte, coesão grupal, ansiedade pré-competitiva.
Abstract
The present article is about the investigation concerning relationships among,
group cohesion, pre-competitive anxiety and scores of Futsal games. This
work consists of 113 players, pertaining to 10 teams of different clubs, that
answered to 2 instruments one hour and a half before the start of each game.
One of these instruments was the CSAI-2 of Martens (Competitive State Anxiety
Inventory–2) , aiming to asses pre- competitive anxiety, and the other was the
GEQ (Group Environment Questionnaire) based on Carron, Brawley and
Widmeyer. Results have shown that winning teams had higher average to their
task and lower average to asses pre-competitive cognitive anxiety,. The
multiple analysis of regression has found as indicatives of games results the
factor of attraction to the group task, to group cohesion; and the somatic
factor, to pre- competitive anxiety. In general the results has confirmed the
expectations , corroborating the findings of the international research.
Key words: Sport psychology, group cohesion, pre- competitive anxiety
61
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
A ansiedade tem sido foco de investigação desde o início dos estudos sobre
o psiquismo do indivíduo até os dias de hoje. Freud (1925) trouxe a
diferenciação entre ansiedade objetiva e ansiedade neurótica. A primeira está
relacionada ao perigo conhecido, real, proveniente de um objeto externo. A
segunda está relacionada a um perigo desconhecido, que necessita ser
descoberto, que provém de uma exigência pulsional, conforme identificado
através da análise.
Spielberger, Gorsuch e Lushene (1979, p.4), conceituaram a ansiedade em
dois termos: Estado de ansiedade e Traço de ansiedade. O primeiro conceito
é entendido como “um estado emocional transitório ou condição do
organismo humano que é caracterizado por sentimentos desagradáveis de
tensão e apreensão conscientemente percebidos, e por aumento na atividade
do sistema nervoso autônomo”.
A ansiedade divide-se em dois componentes: a cognitiva e a somática. A
perturbação cognitiva é caracterizada por pensamentos e dúvidas a respeito da
consecução da vitória. A perturbação somática se refere às diarréias, aumento
de pressão arterial, batimentos cardíacos aumentados, tensão muscular e
palidez facial (Lieber e Morris apud Moraes, 1998). Sarason apud Moraes (1998)
somou a estes componentes anteriormente definidos de ansiedade, a
autoconfiança. Definindo-a, como a preocupação com a própria auto-avaliação
e a percepção de resultados negativos que o sujeito apresenta frente a situações
de testes e exames.
A influência da ansiedade no rendimento depende de cada atleta, é
específica. É necessário que se diferencie uma reação de preocupação intensa,
daquela derivada da ativação e preparação para enfrentar um desafio ou uma
competição. Para a ansiedade aparecer, não necessita, exclusivamente, de uma
ameaça ao bem estar físico do sujeito, basta uma ameaça ao bem estar mental
do mesmo (Harris e Harris, 1987).
Com a ansiedade, o sujeito apresenta maior tendência para observar e
avaliar o nível do seu comportamento e qual o valor real que possui. Julga-se a
si próprio e compara-se com os outros. Estes tipos de preocupações autoreferenciais impossibilitam a concentração na competição ou na tarefa
(Frischknecht, 1990). O antídoto para a ansiedade é o significado, o qual se
refere à percepção de uma relação que faz sentido. A pessoa ansiosa não se dá
conta que a perturbação é essencialmente uma ausência de significado
(Lindegren, 1965).
Simon apud Severo (1994) examinou vários níveis de ansiedade em
diferentes tipos de esporte, categorizando-os ao longo de suas dimensões:
individuais, coletivos, de contato e sem contato. Os resultados desses estudos
revelaram que participantes de esportes individuais possuem maior nível de
ansiedade do que os de esportes coletivos. Nenhuma diferença foi encontrada
62
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
nos níveis de ansiedade entre participantes de esportes de contato e de sem
contato foi encontrada.
Moraes (1990) afirma que existe evidentemente uma relação entre
ansiedade e desempenho e que estes parecem variar de acordo com vários
outros fatores como tipo de esporte dificuldade da tarefa, traço de
personalidade do atleta, ambiente, torcida.
A sintomatologia da ansiedade produz efeitos negativos no rendimento do
desportista como a inibição de suas habilidades motrizes finas, a diminuição da
capacidade de tomada de decisão segundo Guzmán, Asmar e Ferreras (1995).
Existem muitas causas para o aparecimento da ansiedade antes da
competição, mas, em geral, elas se reduzem a dois fatores: a incerteza que os
indivíduos possuem acerca do resultado e a importância que o resultado
representa para os indivíduos (Martens, 1982).
Cartwright e Zander (1975) trazem que um grupo coeso seria aquele em
que seus membros se reúnem a trabalhar por um objetivo comum, no qual
todos aceitam a responsabilidade pelo trabalho coletivo. Festinger et al. (1975)
definiram a coesão como o campo total de forças que atuam sobre um mesmo
grupo para que permaneçam nele.
Grupo coeso é um grupo de indivíduos que pensam, sentem e atuam como
uma unidade (Tutko e Richards, 1984). A equipe como organização coesa, não
ocorre no início da formação do grupo de modo repentino, ela é construída
pela vontade comum de todos. A coesão não ocorre naturalmente, mas através
de um esforço reflexivo do grupo (Rioux e Chappuis,1979).
Weinberg e Gould (1996) trazem que, entre 1950 e 1970, muitas definições
de coesão de grupo foram propostas. O ponto em comum, em todas elas, era a
definição de duas dimensões básicas que as constituem: a coesão de tarefa e a
coesão social.
A coesão é “um processo dinâmico que está refletido na tendência de um
grupo para a confiança e unidade na busca de suas metas e objetivos”. Para
formular esse conceito, Carron, Widmeyer e Brawley (p. 245, 1985) realizaram
um estudo dos conceitos de coesão e construíram um questionário para medir
coesão grupal, o GEQ (Group Environment Questionaire). Eles consideram dois
problemas que têm sido muito discutidos quando se aborda a coesão de grupo:
a necessidade de distinguir entre o indivíduo e o grupo, e a necessidade de
distinguir entre tarefa e relações sociais dos grupos e seus membros. Além
disso, o modelo está dividido em duas categorias principais: as percepções de
um membro a respeito do grupo como um todo e as atrações pessoais de um
membro em relação ao grupo. Dessa forma, identificaram quatro conceitos:
integração grupal-tarefa, integração grupal-social, atração individual pelo
grupo-tarefa, atração individual pelo grupo-social. Colocam, ainda, que a
integração grupal representa a intimidade, similaridade e união dentro do
grupo como um todo. A atração individual pelo grupo representa as
63
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
motivações que influenciam o indivíduo a permanecer no grupo, ou seja, uma
mistura de sentimentos individuais dos membros a respeito do grupo, seu
envolvimento com seu papel pessoal e envolvimento com outros membros do
grupo. Os quatro conceitos do modelo estão correlacionados.
Para Gill (1986) a relação positiva entre coesão e desempenho aparece mais
freqüentemente em esportes que requerem uma interação e cooperação
extensa entre jogadores. A alta coesão social pode prejudicar o desempenho da
equipe, porque os membros do time podem sacrificar seus objetivos
individuais para manter padrões de amizade.
Ao escrever sobre as interações dentro da equipe, Cratty (1984, p. 78) traz
que grupinhos amigos (quem gosta de quem) numa equipe são usados como
medida da coesão grupal, baseando-se na crença de que, quanto mais amizades
mútuas tiver um grupo, mais feliz e coeso ele será. Porém, nem sempre a
freqüência de grupos de amigos é sinal de um desempenho melhor.
A relação entre coesão de tarefa e rendimento é positiva, pois em equipes
de basquete da NBA (EUA) o mau relacionamento entre os membros do
grupo não interferiu no empenho dos mesmos nos jogos (Weinberg e
Gould,1996).
Em um estudo de Carron e Prapavessis (1996), no qual os autores
verificaram o efeito da coesão na ansiedade pré-competitiva, encontrou-se que
a coesão estava relacionada às respostas de ansiedade pré-competitiva.
Especificamente, atletas com percepções mais altas de coesão de tarefa,
tiveram o fator cognitivo de ansiedade pré-competitiva mais baixa. Sendo que
nenhuma relação foi encontrada entre coesão social e a ansiedade estado
competitiva.
É importante registrar o estudo de Carron e Hausenblas (1996), o qual
buscou a relação entre coesão de grupo e deficiências do self (self-handicapping).
Dentre os diferentes conceitos de deficiências do self encontra-se a ansiedade.
Metodologia
Sujeitos:
A amostra foi composta por 113 jogadores de Futsal pertencentes a duas
categorias: 62 da juvenil e 52 da adulto. Os dados foram coletados em 10 times
de sete clubes. Cinco times eram da categoria juvenil e cinco da adulto.
Instrumentos:
CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory–2) de Martens (1990), que
serviram para medir o grau de ansiedade pré-competitiva dos jogadores. Ele é
constituído de vinte e sete itens, no qual cada conjunto de nove itens está
relacionado a um tipo de ansiedade: somática, cognitiva e de autoconfiança.
Sendo que os itens são medidos numa escala tipo Likert, limitada pelos
extremos nada (1) e completamente (4).
64
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
GEQ, (Group Environment Questionaire) de Carron, Widmeyer e Brawley
(1985) possui dezoito itens. Sendo que os itens são medidos numa escala do
tipo Likert, limitada pelos extremos descordo fortemente (1) e concordo
fortemente (5). Este instrumento acessa quatro manifestações de coesão: (a)
Atração individual pelo grupo – tarefa (ATG-T), (b) Atração Individual pelo
Grupo – Social (ATG –S), (C) Integração Grupo – Tarefa (GI-T), e Integração
grupo-Social (GI-S). O GI-T (cinco itens) e o GI-S (quatro itens) avaliam a
magnitude das percepções de um indivíduo no que se refere ao
comprometimento do grupo pela tarefa e ao comprometimento como unidade
social. O ATG-T (quatro itens) e o ATG-S (cinco itens) avaliam as percepções
individuais de cada membro referentes ao envolvimento de cada um com a
tarefa e com os colegas (social) bem como seus objetivos dentro do grupo.
Foram observados e anotados todos os resultados dos jogos de acordo
com o sucesso ou fracasso (variável categórica). Empates não foram
considerados.
Coleta de Dados:
A coleta foi realizada durante dois campeonatos de Futsal que ocorreu em
Porto Alegre e arredores. Os dois instrumentos (CSAI-2 e GEQ) foram
aplicados sempre uma hora e meia antes do início das partidas, quando os
jogadores já se encontravam no local do evento, de modo a não interromper
seus preparativos para o jogo.
Análise de Dados:
Os dados coletados foram analisados através do pacote estatístico SPSS
(Statistical Package of Social Sciences for Windows 7.52). Foi utilizado a técnica
estatística Coeficiente de Correlação de Pearson para verificar a relação entre
os fatores da coesão e da ansiedade pré-competitiva. A Análise de Variância foi
usada para comparar os grupos de vencedores e perdedores com relação à
ansiedade pré-competitiva e a coesão grupal. Por fim, foi usada a Análise de
Regressão Múltipla com o objetivo de identificar os melhores preditores da
variável resultado do jogo.
Resultados
A análise de Variância one-way para o fator resultado (vitória ou derrota) e
variável dependente coesão grupal apresentou os seguintes resultados:
Considerando as médias de coesão geral, não foram encontradas diferenças
estatísticas significativas entre os que venceram e os que perderam (p = 0,211)
e F(1, 112) = 1583. Considerando as médias da subescala Integração Grupo
Social de coesão grupal, não houve diferenças estatísticas significativas (p =
0,920) e F(1, 112) = 0,010 entre os que venceram e os que perderam.
Considerando as médias da subescala Integração Grupo Tarefa de coesão
65
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
grupal, não foram apuradas diferenças estatísticas significativas (p = 0,450)
entre os que obtiveram derrota e os que alcançaram a vitória F (1, 112) =
0,574. Considerando as médias da subescala Atração Grupo Social de coesão
grupal, também não houve diferenças estatísticas significativas apuradas (p =
0,884) entre os diferentes resultados F (1, 12) = 0,021. Considerando as médias
da subescala Atração Grupo Tarefa de coesão grupal, foram apuradas
diferenças estatísticas significativas (p = 0,019) entre os resultados F (1, 112) =
5705. Aqueles que venceram (m = 3,80) apresentaram média estatística
significativamente maior dos que perderam (m = 3,39).
A análise de Variância para o fator resultado (vitória ou derrota) e variável
dependente ansiedade pré-competitiva apresentou os seguintes resultados:
Considerando as médias de ansiedade geral, foram apuradas diferenças
estatísticas significativas entre os que venceram e os que perderam (p = 0,013)
e F (1, 112) = 6367. Aqueles que venceram (m = 1,56) apresentaram menor
média dos que perderam o jogo (m = 1,70). Considerando as médias do fator
autoconfiança de ansiedade pré-competitiva, não houve diferenças estatísticas
significativas (p = 0,207) e F (1, 112) = 1609 entre os que venceram e os que
perderam. Considerando as médias do fator ansiedade cognitiva, não foram
apuradas diferenças estatísticas significativas (p = 0,130) entre os que
obtiveram derrota e os que alcançaram a vitória F (1, 112) = 2331.
Considerando as médias do fator ansiedade somática, houve diferença
estatística significativa (p = 0,001) entre os resultados F (1,112) = 11103. Os
que ganharam (m = 1,51) apresentaram média estatística significativamente
menor dos que perderam (m = 1,72).
Correlação de Pearson foi conduzida para investigar a relação entre as
variáveis de coesão e as variáveis de ansiedade. Os resultados foram
significativos (p = 0,006) e (r = -0,25) para as variáveis ansiedade cognitiva e
integração grupo tarefa, apresentando uma correlação estatística
significativamente inversa, ou seja, quando uma aumentou a outra diminuiu. O
mesmo ocorreu entre ansiedade cognitiva e atração grupo tarefa, no qual (p =
0,007 e r = -0,25); ansiedade cognitiva e atração grupo social, em que (p =
0,002 e r = -0,21); e autoconfiança e integração grupo tarefa, no qual (p = 0,02
e r = -0,20).
O melhor preditor para a variável resultado foi a variável ansiedade
somática explicando 8% de variância compartilhada. O segundo melhor
modelo foi explicado com a inclusão da variável atração grupo tarefa que
contribuiu com mais 4% de variância explicado, elevando para 12% o total de
variância explicada.
Discussão
Dirigindo-se a atenção a relação coesão-desempenho, lembra-se que para
Weinberg e Gould (1996), a relação coesão social/rendimento não é
66
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
necessariamente positiva. O mau relacionamento entre os membros do grupo
pode não interferir no empenho dos mesmos nos jogos. Estas considerações
estão num mesmo sentido dos resultados aqui obtidos. Pois não houve
diferenças estatísticas significativas entre as médias dos dois fatores
representativos de coesão social: Integração Grupo Social e de Atração Grupo
Social, comparando-se com a vitória e derrota das equipes nos jogos. Portanto
a relação coesão social e desempenho não se apresentou significativa.
Os resultados também podem ser entendidos conforme Gill (1986), ao
afirmar que a alta coesão social (conceito de Carron, 1985) pode prejudicar o
desempenho da equipe, porque os membros do time podem sacrificar seus
objetivos individuais para manter padrões de amizade. Porém, se os indivíduos
estiverem comprometidos em alcançar um bom desempenho, suporte social e
o encorajamento individual, que ocorre no grupo, terão um efeito positivo no
desempenho.
A partir disso, podemos associar que se encontrarmos uma equipe
apresentando alto índice de coesão em torno da tarefa, o aparecimento de um
alto índice de coesão social poderá ter um efeito positivo sobre o desempenho.
De fato, aqueles que venceram apresentaram média estatística
significativamente maior para atração grupo tarefa dos que perderam. Este
resultado sugere que há uma relação entre coesão de tarefa e desempenho, pois
a maior média de Atração Grupo Tarefa relacionou-se ao resultado vitória.
Considerando que o fator Atração Grupo Tarefa significa a atração do grupo
em torno da tarefa e que Futsal é um esporte que requer extensa interação dos
jogadores, afirma-se que este dado confirma a consideração de Gill (1986), de
que podemos sugerir que a coesão, definida e medida como atração de grupo,
está positivamente relacionada com o sucesso em times que requerem extensa
interação.
Ao longo da história da psicologia desportiva, diferentes autores se
preocuparam somente com o fator atração de grupo ao conceituarem coesão
de grupo (Cartwright e Zander (1975); Festinger et al., (1950), entre outros.
Podemos compreender o que traz Gill (1986), acerca disto, salientando que a
maioria dos estudiosos sugere que a atração de grupo é uma chave para o
conceito de coesão e que muitos ainda tem um considerável atraso na
interpretação da coesão.
Não foram encontradas diferenças estatísticas significativas entre os que
venceram e os que perderam. Com isso lembra-se das afirmações de Weinberg
e Gould (1996), nas quais alegam que, a nível intuitivo, quanto maior é o nível
de coesão grupal maior é seu êxito. Apesar do fator atração grupo tarefa da
coesão apresentar relação com o desempenho, não necessariamente pode-se
concluir ou afirmar que a coesão apresenta relação com o desempenho do
grupo. Isso reafirma o entendimento que a coesão de grupo não se resume à
atração de grupo.
67
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
Os resultados também apresentaram uma correlação estatística
significativamente inversa para as seguintes variáveis: ansiedade cognitiva e
integração grupo tarefa; ansiedade cognitiva e atração grupo tarefa; ansiedade
cognitiva e atração grupo social; autoconfiança e integração grupo tarefa. Desta
forma, encontramos que quando a ansiedade cognitiva aumenta os fatores
integração grupo tarefa e atração grupo tarefa da coesão diminuem e viceversa. Especificamente, atletas com percepções mais altas de coesão de tarefa,
tiveram o fator cognitivo de ansiedade pré-competitiva mais baixa (Carron e
Prapavessis, 1996).
Podemos entender que estes sujeitos, à medida que estiveram mais
apreensivos, nervosos e preocupados, sentindo tensão, medo, apresentando
pensamentos catastróficos e comportamentos desorganizados, obtiveram sua
aproximação ao grupo, sua intimidade com os colegas, sua atração pelos
mesmos em torno dos objetivos da tarefa, diminuídos (Carron, Widmeyer e
Brawley, 1985; Balaguer , 1994).
A ansiedade-estado manifesta-se frente a uma situação que é percebida
pelo sujeito como extremamente ameaçadora. O que explica os índices
encontrados aqui de ansiedade. A intensidade da ansiedade será proporcional a
quantidade de ameaça que sofre o sujeito, que ela se manterá até que a situação
ameaçadora seja enfrentada ou alterada por algum determinante externo ou
interno ao sujeito. Ao colocarmos no lugar deste determinante externo, o
colega de grupo de um sujeito, nos direcionaremos para a idéia de que relação
intergrupal destes em torno da tarefa faz-se importante na ajuda do controle da
ansiedade realizada por este sujeito (Balaguer, 1994).
Carron e Prapavessis (1996) não encontraram nenhuma relação entre
coesão social e a ansiedade estado competitiva. Porém quanto a isso, os
resultados desta pesquisa apresentaram discordância, pois foi encontrado que
quando a ansiedade cognitiva aumenta, a atração grupo social diminui e viceversa, o que sugere a existência de uma relação inversa entre estas duas
variáveis.
Referente à relação inversa de autoconfiança e integração grupo tarefa.
Poderíamos associar que à medida que a autoconfiança, ou seja, que as
percepções negativas do indivíduo frente ao jogo, a preocupação desse com a
própria avaliação, definida por Sarason (apud Moraes, 1998), aumentassem, a
integração deste sujeito no grupo em busca de resultados diminuiria. Porém,
nenhuma revisão teórica foi encontrada neste trabalho, que confirmasse ou
não este resultado.
A Análise de Variância mostrou que aqueles que venceram, apresentaram
menor média de ansiedade geral dos que perderam o jogo. Podemos entender
que com a ansiedade o sujeito apresenta maior tendência para observar e
avaliar o nível do comportamento e o valor real que possui. Julgar a si próprio
68
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal
e comparar-se com os outros. Este tipo de preocupações auto-referenciais
impossibilita a concentração na competição/tarefa (Frischknecht, 1990).
O melhor preditor para a variável resultado, no presente estudo, foi a
variável ansiedade somática explicando 8% de variância compartilhada. O
segundo melhor modelo foi explicado com a inclusão da variável atração
grupo tarefa que contribuiu com mais 4% de variância explicado, elevando
para 12% o total de variância explicada.
Enfim, esses resultados reafirmam que alto nível de ansiedade é fator
interveniente no desempenho desportivo (Guzmán, Asmar e Ferrera, 1995).
Conclusão
Para realizar um bom trabalho psicológico com equipes desportivas devese atentar para os índices de ansiedade pré-competitiva e índices de coesão,
focalizando nas manifestações somáticas, cognitivas e de autoconfiança dos
jogadores; da mesma forma que para os níveis de atração e integração do
grupo dirigida à tarefa e dirigida às relações sociais do mesmo.
Por outro lado, a promoção da coesão de tarefa é que poderá ajudar na
conquista do sucesso dessa equipe.
Além disso, parte principal do controle de ansiedade consiste na
modificação da maneira de pensar do sujeito. E está relacionado com
ansiedade cognitiva do sujeito.
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Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado
Lia Teresinha Hoffmann – Desporto Adaptado AACETE - IPA/IMEC, Porto
Alegre/RS
Cristiana Suarez Braiyer - Desporto Adaptado da AACETE.
Crissia Andrea Hoffmann de Castro – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre/RS
O basquete em cadeira de rodas para deficientes físicos é um desporto tão
completo como o usual, em que a combinação de qualidades físicas, técnicas e
psicológicas, exigem coordenação, velocidade com um grande número de
gesto (passes e arremessos), bem como um referencial de situações nos quais
estão incluídos, o companheiro, o adversário, a bola, a quadra, a cesta entre
tantas coisas e mais a cadeira de rodas para o deficiente físico.
Da necessidade de avaliar a performance desportiva e o grau de habilidades
remanescentes na prática de basquete adaptado e, sendo escassa a literatura em
relação ao basquete em cadeira de rodas, utilizou-se como recursos os
procedimentos pedagógicos de vários desportos coletivos e adaptações do
basquete convencional, contemplando com a avaliação no manejo da cadeira
de rodas (velocidade, agilidade, coordenação) e também como facilitadores de
habilidades técnicas necessárias na prática do basquete para portadores de
deficiência física (destreza na condução da bola e força nos arremessos e
passes).
A partir de observações e práticas didáticas, foi desenvolvida uma
abordagem pedagógica baseada em 4 etapas que compreendem:
1ª Etapa: Avaliação funcional do portador de deficiência física, em
relação à performance músculo-articular e habilidades remanescentes.
Conforme o grau de limitação e da necessidade de auxílios de fixação torácica
e dos membros inferiores, realizando a estabilização e manutenção de sua
posição na cadeira de rodas.
2ª Etapa: Priorização de exercícios, movimentos e deslocamentos
que possibilitem ao portador de deficiência, manejar e deslocar com segurança,
agilidade e coordenação a cadeira de rodas.
3ª Etapa: Manuseio e desenvolvimento de habilidades com a bola de
basquete, em posição estática e dinâmica, com deslocamentos em linha reta e
em giros. Introdução de: funções de cada posição na quadra, movimentos de
ataque e defesa, construção de visão e esquema de jogo, domínio de jogo.
4ª Etapa: Desenvolvimento de habilidades táticas e técnicas, bem
como a interação e a conscientização de que o desempenho da equipe,
necessita do somatório dos esforços e capacidades individuais.
72
Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado
Na etapa inicial de avaliação e classificação funcional, na qual são
identificados os movimentos remanescentes, a mobilidade articular e estruturas
musculares preservadas pelos portadores de deficiência, observa-se o grau de
limitação e a necessidade de auxílios como faixas de fixar o tronco e os
membros inferiores na cadeira de rodas, mantendo uma postura estável e
equilibrada para praticar o basquete adaptado.
A partir das próximas etapas, o processo pedagógico do basquete adaptado
consiste numa gradual complexidade de vivências, associadas ao deslocamento
com a cadeira de rodas, exigindo habilidades motoras de manejo e condução,
velocidade, performance, destreza, coordenação e agilidade, que são obtidas
através de uma metodologia de testes.
Metodologia
Clientela
Local
Material
Os procedimentos são
Quadras de
Cadeiras de rodas, 10 cones,
aplicados em portadores
basquete e de
bolas de basquete
de deficiência física,
voleibol num
cronômetro, fichas e
congênita e /ou adquirida. ginásio de esportes. planilha de apontamentos.
1. Teste de manejo e condução:
Objetivo
Atividade
Pré- requisito
Realizar deslocamentos
Estar com domínio e
Propiciar e desenvolver
segurança de
habilidades no manejo e com comandos de inversão
condução da cadeira de para direita, esquerda, meia progressão na cadeira
volta e retorno ao ponto de de rodas específica
rodas.
partida.
para basquete.
2. Teste de velocidade:
Objetivo
Realizar a progressão da
cadeira de rodas em
movimento de
velocidade, reação e
impulsão de partida,
percorrendo 20m e
40m, devidamente
marcados na extensão
da quadra de basquete.
Atividade
Percurso de 20 m
- Em linha reta, desenvolver
velocidade, impulsionando a
cadeira , mantendo até seu
limite disponível, a flexão de
tronco.
Percurso de 40 m
- Idem ao anterior, com
reversão de direção aos 20m,
contornando o cone.
Pré- requisito
Ter noção de
como impulsionar
a cadeira com as
mãos, num
movimento
contínuo, rítmico e
simétrico, em linha
reta e contornando
obstáculos.
73
Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado
3. Performance:
Objetivo
Atividade
Pré- requisito
Utilizar, cruzando em zig-zag a
Associar os
Precisão em
dimensão da quadra de voleibol
movimentos de
manobras de
com os cones distribuídos, 5 nas deslocamento
velocidade, agilidade e
linhas laterais. Em velocidade,
coordenação na
com cadeira
realizar o deslocamento da cadeira,
impulsão e manejo da
de rodas,
driblando os cones e o companheiro
cadeira de rodas,
evitando
que vem em sentido contrário.
driblando obstáculos e o
colisões.
adversário.
4. Destreza:
Objetivo
Desenvolver
habilidades de
condução da bola de
basquete,
movimentando a
cadeira.
Atividade
Pré- requisito
Percurso - 20 m
Habilidade e domínio
Em linha reta, progressão da no quicar bola, com
cadeira de rodas com uma
cadeira imóvel, bem
mão, e a mão dominante
como deslocar a
quicando a bola de basquete. cadeira com a mão não
dominante.
5. Coordenação e Agilidade:
Objetivo
Atividade
Aquisição de
Percurso - 20 m
coordenação e agilidade
Em linha reta,
com domínio de fluência
contornando 5
nos movimentos
obstáculos, quicando a
combinados de manejar
bola de basquete com
cadeira, quicar a bola e
uma mão.
driblar de obstáculos.
Repetir o exercício
trocando a mão na
condução da bola.
Pré- requisito
Ter domínio do quicar
a bola com mão
direita/esquerda.
Condução da cadeira
de rodas tanto com
uma e outra mão,
obedecendo a um
percurso préestabelecido.
Os resultados obtidos na aplicação dos testes são significativamente
relevantes em relação ao rendimento das habilidades de domínio motor como
também a expectativa gerada, pelos alunos, na execução das atividades
propostas, as quais tornam-se um desafio pessoal em realizar o teste com a
respectiva mensuração do seu desempenho.
74
Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado
Conclusão
Ao realizar-se esta abordagem pedagógica com suas etapas e a aplicação
dos testes de habilidades motoras, há a possibilidade da elaboração de uma
melhor e mais adaptada metodologia de treinamento no basquete em cadeira
de rodas, observando-se as possibilidades e déficit de cada portador de
deficiência. E nestas vivências de erros e acertos, de menores e maiores
tempos reação, os quais serão os fatores de interiorização e fixação de novos
gestos em condições adequadas de aprendizagem para compreensão e domínio
do jogo e, a formação de uma equipe através da conscientização de que um
resultado favorável depende do esforço e capacidade de todos, gerando uma
interação social através do desporto adaptado.
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75
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
Claiton Henrique Lenz - Bolsista PET – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre/RS
Resumo
O presente artigo tem como objetivo fazer um estudo das valências físicas
relevantes para o basquetebol, caracterizando-as de acordo com a categoria
juvenil masculino (17 e 18 anos) e sugerindo um programa de avaliação para
este grupo. Foram encontradas como relevantes para o basquetebol as
seguintes valências físicas: destreza (habilidades motoras), resistência, força
(potência), velocidade e flexibilidade, além da importância da análise dos dados
antropométricos. No que se refere ao grupo estudado, estas valências físicas
não encontram-se ainda nos mesmos níveis de atletas adultos, sendo portanto
sugeridos testes específicos para esta faixa etária e modalidade esportiva.
Unitermos: Avaliação Física, Basquetebol, Testes
Abstract
This article has the purpose of studying the physical valences that are relevant
to basketball, matching them with the juvenil category (17 and 18 years old) and
suggesting an evaluation program to this group. The following physical
valences were found to be relevant to basketball: dexterity (motor habilities),
resistance, strength (power), velocity and flexibility. The analysis of the
antropometric data was also found to be important. These valences on the
studied group aren’t in the same level as they are on adult athletes. Thus,
specific tests are suggested to this age group and sport.
Dentro das exigências cada vez maiores do esporte de rendimento
encontra-se uma preocupação com o modo de avaliação dos resultados dos
treinamentos realizados. Muitas vezes, o que se alcança na competição não
pode ser tomado como parâmetro confiável, por envolver fatores que podem
fugir aos nossos domínios. Por isso, existe a necessidade de estudar muito bem
as características da modalidade esportiva em questão e da população que será
avaliada, permitindo que os testes sejam direcionados para os elementos mais
essenciais dos mesmos. No trabalho em questão, discutiremos as
características do jogo de basquetebol e dos atletas da categoria juvenil
masculino (17 e 18 anos), sugerindo testes específicos para avaliação dos
mesmos.
76
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
Breve caracterização do jogo de basquetebol
Segundo ALVAREZ (1987), a média de distância de deslocamentos em um
jogo de basquetebol fica em torno de 18 m para os pivôs, 12 m para os alas e 6
e 10 m para os armadores, em cada ataque. Sendo que o tempo médio em que
estas distâncias são percorridas fica entre 1,40 s e 2,40 s, podendo ser mais (nas
menores distâncias) e 3, 9 s e 6 s, podendo ser mais (nas maiores distâncias).
Outro fator que deve ser levado em conta é o número de saltos realizados
pelos jogadores durante uma partida, normalmente na disputa pelo rebote.
Segundo ALVAREZ (1987), os pivôs realizam uma média de 39 saltos por
partida, os alas 9 e os armadores 4. Apesar de os pivôs realizarem mais saltos,
o que nos levaria pensar que eles teriam mais força explosiva que os alas e
armadores, ALVAREZ (1987), não encontrou esta diferença, pois os alas e
armadores realizam um número muito maior de deslocamentos com alta
intensidade que os pivôs.
Segundo DIAS NETO (1996), a média de permanência de um jogador em
quadra é de 34,54 min.
Valências físicas importantes para o basquetebol e caracterização do
grupo
Segundo TRIGO (1986), o termo valência significa faculdade, fator de
ação, atitude, capacidade ou qualidade física. Este termo aparece sempre ligado
ao conceito de elementos constitutivos do valor físico ou da dimensão
biológica do homem. O treinamento de basquetebol envolve as seguintes
valências ou qualidades físicas: destreza (habilidades motoras), resistência,
força (potência), velocidade e flexibilidade. Além disso, deve-se dar uma
atenção especial aos dados antropométricos dos atletas (somatotipo, % de
gordura, etc.), pois serão bastante úteis no que se refere ao acompanhamento
da evolução dos atletas, refletindo diretamente os efeitos do treinamento.
Deve-se ter o cuidado de não analisar este grupo etário como se fosse um
grupo adulto, pois ainda não atingiu o estágio final de crescimento, apesar de
se encontrar bem próximo. Segundo WILMORE e COSTILL (1994), a altura
máxima ocorre aos 18 anos, sendo que a calcificação total dos ossos em torno
dos 22 anos. Entretanto, não são só estes fatores que estão envolvidos na
caracterização do grupo, elementos como: músculos, gordura corporal, sistema
nervoso, habilidades motoras, força, funções pulmonares e cardíacas estão
envolvidos e são distintos para esta idade.
Destreza (Habilidades Motoras) — Para LOMBAO (1986), este é um conceito
que está relacionado com praticamente todas as outras valências físicas
(resistência, força, velocidade e flexibilidade), pois elas vão refletir-se na
habilidade final do indivíduo. Já a habilidade pode ser definida como a
capacidade de realizar movimentos simples e complexos dirigidos para um
determinado objetivo, manifestando-se de forma diferente em cada esporte.
77
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
No basquete cada uma das novas situações cria novas decisões e novos
movimentos. A habilidade é uma qualidade que se cria num longo período de
tempo.
Para VILMORE e COSTILL (1990), a habilidade motora aumenta com a
idade até atingir um platô aos 18 anos, este aumento se deve ao
desenvolvimento dos sistemas neuromuscular e endócrino e pelo acréscimo
das atividades pelos indivíduos.
Resistência — Para LOMBAO (1986), a resistência pode ser dividida em
orgânica (aeróbica) e muscular (anaeróbica láctica). A primeira consiste na
capacidade de manter um esforço moderado durante muito tempo, é também
a base fundamental para poder suportar, não só grandes períodos de
competição como também esforços físicos de múltiplas repetições para a
aprendizagem da técnica, retardando o aparecimento da fadiga e encurtando o
tempo de recuperação.
A resistência muscular, para LOMBAO (1986), é a capacidade de manter o
maior tempo possível um esforço máximo (sem a utilização do oxigênio), sem
diminuição da efetividade no rendimento. Esta resistência permite ao jogador
de basquetebol manter um ritmo máximo de jogo durante toda a partida;
durante os treinamentos, realizar esforços de intensidade sub-máxima
numerosas vezes com total controle do sistema neuromuscular, o que favorece
a aprendizagem da técnica e da tática; realizar esforços de intensidade máxima
em períodos curtos de treinamento, inclusive num ritmo maior que de uma
partida.
As capacidades pulmonar e cardíaca aumentam com o desenvolvimento do
indivíduo, o mesmo ocorre com a capacidade aeróbica. No que se refere ao
VO2max (l.min-1), ocorre um aumento com a idade, pois além de estar
relacionado com o nível de exercícios está relacionado com a capacidade
pulmonar, tamanho de coração e volume sangüíneo. O pico ocorre entre os 17
e 21 anos, ocorrendo um decréscimo linear após, segundo VILMORE e
COSTILL (1990). Se formos avaliar o VO2max em ml(kg.min)-1 observaremos
que ocorrem poucas mudanças desde os 6 anos até a idade adulta. Por isso,
deve-se avaliar a capacidade aeróbica, em adolescentes, em l.min-1 pois assim
poderemos estabelecer se estes já atingiram o pico de VO2max.
No que se refere a resistência muscular, os valores esperados para o grupo
de 17 e 18 anos são bastante próximos aos valores esperados para adultos,
sendo que podem ser um pouco inferiores devido a aspectos relacionados a
maturação e que envolvem desenvolvimento da força, habilidade de
movimentos, etc.
Força (Potência) — Segundo SEMASHKO apud. BOKAREVA (1986),
força é a capacidade do indivíduo superar a resistência exterior ou opor-se a ela
através de seus esforços musculares. Segundo BOKAREVA (1986), a força
dos músculos depende da inervação do sistema nervoso central, das
78
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
particularidades dos processos bioquímicos, que ocorrem nos músculos
durante o trabalho e do grau de fadiga.
Para BOKAREVA (1986) e LOMBAO (1986), a força pode ser dividida
em: força máxima (absoluta), seria a força máxima desenvolvida pelo indivíduo
numa contração, sem considerarmos o seu peso; força rápida (explosiva), seria
a manifestação da força com a aceleração máxima em tempo mínimo;
resistência à força (relativa), seria a relação da força absoluta com o peso do
indivíduo.
No basquetebol, segundo LOMBAO (1986), os movimentos acíclicos
fazem com que os fatores determinantes da força sejam a força explosiva
(saltos, passes longos, tiros curtos) e a força relativa. Segundo BOKAREVA
(1986), para o basquete é importante o desenvolvimento nas pernas, nos
braços, antebraços e ombros, nas costas e nas articulações do joelho e nas
pernas.
Segundo WILMOR e COSTILL (1990), a força aumenta com a idade pois
aumenta junto com a massa muscular. As trocas hormonais que acompanham
a puberdade aumentam a força nos adolescentes, já que estas são responsáveis
pelo aumento da massa muscular. O pico ocorre normalmente entre os 20 e 30
anos.
Velocidade — Segundo TRIGO (1986), é a capacidade que permite atuar em
um mínimo de tempo. Desportivamente refere-se a rapidez para ver, atuar, ou
ambas as coisas simultaneamente. Está intimamente ligada a percepção, por
meio dos órgãos dos sentidos e a ação de determinados grupos musculares.
Nos esportes individuais, a velocidade é a relação entre o tempo gasto em
percorrer a distância e a distância em questão. Nos coletivos, particularmente
o que nos interessa, envolve as capacidades de arrancar e deter-se
bruscamente, de mudar de ritmo, de mudar de direção, de raciocinar ante
estímulos externos (geralmente auditivos e visuais), ou velocidade de reação, a
velocidade de coordenação para raciocinar adequada e rapidamente aos
problemas estabelecidos por companheiros, adversários e bola, a velocidade de
discernimento para decidir as opções relacionando companheiros, adversários
e a intuição e experiência pessoal que lhe permite estar no lugar e instante
precisos, relacionada com o cálculo certo de distâncias e tempos.
A velocidade de reação está vinculada ao tempo de percepção e a
velocidade da contração muscular. A primeira pode-se melhorar com a prática,
a segunda depende da condução do impulso nervoso e do aquecimento prévio,
a condição fisiológica geral e o grau de motivação. A velocidade de
deslocamento (também chamada velocidade de base ou velocidade pura), é
definida como a maior distância coberta na unidade de tempo. Esta velocidade
pode ser aperfeiçoada com o treinamento através da melhora da técnica de
corrida (economia de esforços e aproveitamento eficaz das alavancas ósseas),
automatização dos movimentos (eliminando a intervenção cortical) e
79
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
favorecimento da ação das alavancas (melhorando a flexibilidade e a potência
da musculatura agonista).
A velocidade máxima parece ser determinada geneticamente, WEINECK
(1991), e a sua manifestação definitiva ocorre muito cedo, sendo difícil
modifica-la posteriormente. A velocidade máxima (velocidade de corrida),
atinge seu pico máximo em torno dos 20 ou 22 anos para os homens. O
treinamento adequado pode melhorar esta capacidade dentro de certos limites,
mas não mudá-la substancialmente.
Os resultados esperados para o grupo de 17 e 18 anos são bastante
aproximados dos resultados adultos, sendo que nesta idade podem ser
treinados os aspectos coordenativos da corrida o que pode levar a uma
melhora nos resultados.
Flexibilidade — Para TRIGO (1986), flexibilidade é a capacidade de realizar
movimentos de grande amplitude com facilidade. Fundamenta-se em duas
características: mobilidade articular e elasticidade muscular. A primeira
depende dos elementos articulares (cartilagens, cápsulas, ligamentos, meniscos
e líquido sinovial), a segunda, é a propriedade mais importante do músculo,
que se alonga e contrai, recuperando posteriormente sua extensão normal.
Segundo TRIGO (1986), é nesta valência onde encontram-se as maiores
diferenças entre os atletas, pois a flexibilidade está condicionada a diversos
fatores, tais como: congênitos, idade, sexo, atividade prévia e treinamento.
No basquetebol esta é uma das qualidades de maior importância, isto nos é
mostrado por TRIGO (1986), principalmente nas articulações dos ombros,
cotovelos, punhos e quadris. O treinamento da flexibilidade possibilitará: uma
maior economia de esforço (pois a musculatura antagonista não irá impedir
indevidamente o deslocamento), aplicar o esforço da musculatura agonista
durante um percurso maior (o que assegurará um maior rendimento) e a
possibilidade de prevenir eventuais lesões (com base em uma maior amplitude
articular).
A flexibilidade dos ombros, cotovelos e punhos está relacionada aos
movimentos de arremesso, passe e drible, onde a musculatura antagonista deve
estar relaxada e ao posicionamento defensivo dos braços. Já as articulações dos
quadris são importantes para muitos dos movimentos realizados no basquete,
pois servem de centro de partida, elemento de transição de impulsos,
manutenção do equilíbrio, de postura correta e potência de muitos
movimentos.
Para HOLLMANN e HETTINGER (1980) apud. WEINECK (1991), a
flexibilidade é a única das valências físicas que atinge seu pico entre os 10 e 13
anos e depois torna a diminuir. Isto se deve às alterações, condicionadas ao
desenvolvimento, no âmbito do aparelho locomotor, na infância e juventude.
A diminuição da flexibilidade pode ocorrer devido ao grande crescimento da
altura, principalmente os ossos, o que não é acompanhado nos mesmos níveis
80
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
pelos músculos e ligamentos. Logo após esta fase de crescimento rápido, a
altura já está muito próxima da definitiva para a idade adulta, sendo que os
níveis de flexibilidade também acompanham estes níveis, continuando a
diminuir com o avanço da idade.
Dados antropométricos — Segundo MARINS e GIANNICHI (1998), a
antropometria representa um importante recurso de auxílio para uma análise
completa de um indivíduo, pois fornece informações ligadas ao crescimento,
desenvolvimento e envelhecimento. Além disso, a antropometria pode ser
considerada um componente de controle do treinamento, visto que alguns de
seus elementos (composição corporal) sofrem interferência direta de acordo
com o grau de treinamento.
Quanto à população objeto deste estudo, a altura e o peso máximos são
alcançados em torno dos 18 anos, além disso, os dois têm a mesma tendência
de crescimento durante toda a fase de maturação. O peso pode continuar
aumentando depois de o sujeito ter atingido a fase adulta, entretanto será
devido a outros fatores, tais como treinamento e alimentação. Também podem
ocorrer casos em que a altura dos indivíduos ainda esteja abaixo da sua altura
definitiva como adulto, levando-nos a ter alguma atenção neste item.
Em relação à gordura corporal, ela aumenta durante toda a vida e vai estar
relacionada a dieta, hábitos de atividade física e hereditariedade. Segundo
WILMORE e COSTILL (1994), no estágio entre 17 e 18 anos a porcentagem
encontra-se em torno de 15% em indivíduos normais.
O acompanhamento da composição corporal representa um meio
importante no controle de um treinamento para atletas, através dele pode-se
conhecer a quantidade de gordura corporal, peso ósseo e muscular.
Posteriormente, em posse destes dados, pode-se classificar a composição
corporal do indivíduo, o somatotipo, que segundo HEATH e CARTER
(1990), pode ser de três condições diferentes: endomorfia, mesomorfia e
ectomorfia.
No que se refere ao somatotipo, HEATH e CARTER (1990), classificam
os atletas de basquetebol como ecto-mosomorfos, ectomorfo-mesomorfos e
meso-ectomorfos. Isto ocorre porque os atletas de basquetebol são leves para
sua altura, atingindo valores maiores em ectomorfia. Alguns estudos
observaram que os armadores são maiores em mesomorfia (algumas vezes
acima de 6 e 7), sendo que os alas e pivôs são maiores em ectomorfia (algumas
vezes acima de 5 e 6).
Testes
Os testes sugeridos abaixo contemplam o que foi mostrado até agora,
abrangendo as valências físicas relevantes para o basquetebol e as
características do referido grupo, sendo encontrados na literatura em pesquisas
com atletas desta modalidade e em manuais de avaliação física. Este trabalho
81
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
não visa descrever exaustivamente os testes, procura apenas mostrá-los, sem
entrar numa discussão maior, mesmo porque o espaço aqui colocado não nos
permite tal debate.
Destreza (Habilidade Motora) — Teste AAPERHD1 de Basquetebol para Meninos
e Meninas: O objetivo deste teste é medir as quatro habilidades básicas do
basquetebol: o arremesso, o passe, o drible e o movimento defensivo. Para
tanto, o teste é dividido em quatro itens, cada um referente a uma destas
habilidades. Ao final destes testes poderá ter-se um diagnóstico tanto
individualmente quanto do grupo em relação a cada uma destas habilidades.
BARROW et. al. (1989), exibem alguns dados relativos a estes testes
realizados com alunos americanos, os autores trazem dados de jovens desde os
10 anos até os 18 (Universitários).
Resistência Aeróbica — Protocolo de Balke para Esteira: A resistência
aeróbica será medida através do teste de esteira de Balke, conforme encontra-se exemplo de
sua utilização em outras avaliações de atletas de basquetebol, COLEMAN et. al. (1974).
Este teste é específico para atletas e consiste em um teste de velocidade constante de 3,3 mph e
com aumentos constantes de inclinação de 1% para cada estágio de 1 min. O cálculo do
VO2max em ml(kg.min)-1 é obtido pela seguinte fórmula:
VO2max ml(kg.min)-1 = 14,909 + (1,444 x tempo de duração, em min)
WITHERS et. al. (1999), encontraram uma média de 58,5 ml(kg.min)-1 em
atletas de basquetebol australianos. VACCARO, et. al. (1980), encontraram
valores entre 48,40 e 67,79 ml(kg.min)-1. O valor em l.min-1 é encontrado com
o seguinte cálculo:
VO2max l.min-1 = (peso Kg x VO2max ml(kg.min)-1)/1000
Teste de Corrida de 40 s - Resistência Anaeróbica Láctica — O objetivo
do teste de corrida de 40 s de MATSUDO, 1979, apud. MARINS e
GIANNICHI, 1998, é determinar, indiretamente, a capacidade de resistência
anaeróbica láctica, sendo um teste bastante simples. O resultado será a
distância percorrida pelo executante com precisão de metro. MATSUDO
(1988), apud. MARINS e GIANNICHI (1998), apresentam alguns
resultados para escolares da rede pública de ensino na faixa etária de 17 e
18 anos, além do resultado de atletas de basquetebol de alto nível.
Força (Potência) — Teste de 1-Repetição Máxima (1-RM): Serão utilizados testes
de 1-RM nos exercícios de supino e agachamento, conforme PAULETTO (1994). Para os
dois testes, o indivíduo deverá indicar o valor estimado para uma repetição máxima. Se
realizar só uma repetição o teste estará encerrado, caso consiga mais, utiliza-se a tabela,
conforme PAULETTO (1994), para estimar o peso para 1-RM, isto será feito até que o
indivíduo realize apenas uma repetição. A força absoluta para membros superiores é igual ao
1
American Aliance for Health, Physical Education, Recreation, and Dance.
82
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
peso levantado em 1-RM no supino e a força absoluta para membros inferiores é igual ao
peso levantado em 1-RM no agachamento.
Sargent Jump (salto vertical) - Potência anaeróbica: Este teste consiste em medir a
diferença entre o alcance máximo de uma pessoa de pé com os braços
estendidos verticalmente e a altura que esta pessoa consegue pular e tocar
(muito semelhante ao rebote de basquetebol). O seu valor pode ser obtido pela
seguinte fórmula:
P = (raiz quadrada de 4,9 * peso) * (raiz quadrada de D)
Onde: P = potência em kg-m/s, D = marca do salto vertical.
WITHERS et. al. (1977), encontraram valores médios para atletas de
basquetebol australiano de 120,45 kg-metros/segundo.
Teste de 30 m — O teste consiste na utilização de dois cronômetros, uma
área de corrida de aproximadamente 45 m. Aconselha-se que sejam testados
dois executantes ao mesmo tempo. O resultado será o tempo gasto para
percorrer os 30 m computado em décimos de segundo. Alguns dados de testes
realizados com atletas de 17 e 18 anos búlgaros podem ser encontrados em
MARINS e GIANNICHI (1998).
Velocidade — Corrida de 50 metros (Johnson e Nelson, 1979): Este teste tem por
objetivo medir a velocidade de deslocamento. Consiste na utilização de dois
cronômetros, uma área de corrida com mais de 50 m. Aconselha-se que sejam
testados dois executantes ao mesmo tempo. O resultado será o tempo gasto
para percorrer os 50 m computado em décimos de segundo.
Testes antropométricos — Composição corporal (Técnica de Faulkener):
Inicialmente serão medidos todos os valores necessários para as técnicas em questão: altura
(cm), peso (kg), dobra cutânea tricipital, dobra cutânea subescapular, dobra cutânea
suprailíaca, dobra cutânea abdominal, dobra cutânea da panturrilha, diâmetro
biepicondiliano do úmero (cm), diâmetro biepicondiliano do fêmur (cm), perímetro do braço
(cm), perímetro da perna (cm).
Através da técnica de Faulkener será possível avaliarmos o percentual de
gordura corporal, o peso de gordura e a massa corporal magra. Para obtermos
o percentual de gordura utilizamos a seguinte fórmula:
% G = Σ DC x 0,153 + 5,783
Onde: % G = percentual de gordura, Σ DC = somatório das quatro
cutâneas (tricipital, subescapular, suprailíaca e abdominal).
O peso corporal de gordura é encontrado pela fórmula:
PG = %G x PCT / 100
Onde: PG = Peso corporal de gordura, PCT = Peso corporal total.
Encontrado o peso corporal de gordura, basta subtraí-lo do peso corporal
total para obter-se a massa corporal magra:
MCM = PCT – PG
Onde: MCM = Massa corporal magra
83
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
Somatotipo — Método Heath e Carter: Será utiliza esta técnica para fazermos a
classificação da composição corporal. Primeiramente, calcula-se a endomorfia, depois a
mosomorfia e por último a ectomorfia.
Endomorfia = - 0.7182 + 0,1451 (X) – 0,00068(X2) + 0,0000014 (X3)
Onde X* = soma das dobras tricipital, subescapular e suprailíaca.
X* corrigido: o somatório é multiplicado por 170,18 e dividido pela altura
do sujeito (cm).
Mesomorfia = 0,858U + 0,601F + 0,188B + 0,161P – 0,131H + 4,5
Onde: U = diâmetro biepicondiliano do úmero (cm), F = diâmetro
biepicondiliano do fêmur (cm), B = perímetro corrigido do braço (perímetro
do braço – dobra do tríceps/10), P = perímetro corrigido da perna (perímetro
da perna – dobra da panturrilha/10), H = estatura (cm).
Para calcular-se a ectomorfia, primeiro precisa-se calcular o índice ponderal
através da seguinte fórmula:
IP = estatura (cm)/raiz cúbica do peso
Onde: IP = índice ponderal.
Se o índice ponderal for maior do que 40,75 utiliza-se a seguinte fórmula:
Ectomorfia = (IP x 0,732) – 25,58
Se o índice ponderal for menor ou igual do que 40,75 utiliza-se a seguinte
fórmula:
Ectomorfia = (IP x 0,463) – 17,63
Flexibilidade — Goniometria: Na análise de flexibilidade dos atletas de
basquetebol será utilizada a técnica de goniometria, principalmente por ser bastante eficaz,
permitindo a análise das mais diversas articulações, e de razoável dificuldade no referente à
execução.
Segundo NORTIN e WHITE (1997), a goniometria pode ser usada para
determinar posição articular como sua quantidade total de movimento
possível. Os valores goniométricos podem, portanto, fornecer uma base para
determinar o grau de flexibilidade dos atletas, bem como suas eventuais
modificações com o treinamento.
No basquetebol, segundo TRIGO (1986), as articulações mais importantes
no que se refere à flexibilidade são: ombro, cotovelo, punho e quadril. No
ombro serão avaliados os movimentos de flexão, extensão, adução, abdução,
rotação lateral e rotação medial. No cotovelo e no punho serão analisados os
movimentos de flexão e extensão. No quadril serão analisados os movimentos
de flexão, extensão, adução e abdução.
Conclusão
Pelo exposto acima, podemos observar quais as valências físicas
importantes para o basquetebol e como estas distinguem-se para indivíduos na
faixa etária dos 17 e 18 anos não encontrando-se no mesmo nível de
indivíduos adultos. Portanto, os testes que serão realizados com esta população
84
Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol:
Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da
Categoria Juvenil Masculino
devem levar em conta os fatores mencionados, sendo específicos para os
mesmos.
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86
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
Cláudio Marques Mandarino – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Francisco Camargo Netto – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre/RS
Resumo
Este artigo trata de como o desporto e uma de suas categorias – o rendimento
-, pode ser entendido como um elemento positivo, porque produz um
conhecimento, em relação aos cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais.
Localizado no Festival Desportivo da V Semana Estadual da Pessoa
Portadora de Deficiência, traçamos um debate no campo acadêmico
envolvendo uma narrativa de acontecimentos. Como metodologia, adotamos a
descrição e a interpretação partindo do lugar de observadores participantes
num evento que envolveu estas populações.
Palavras-chave: Desporto Adaptado, Rendimento, Evento
Abstract
This article aims at the understanding of how sports and in particular one of
its categories - production - can be understood as a positive element in the
generation of knowledge in the case of disabled persons who are blind, deaf,
on a wheelchair, or mentally retarded. During the Sports Festival of the 5th
State Week for the Disabled Person, we carried out a debate in the academic
field involving a narrative of happenings. As methodology, we adopted the
description and interpretation from the viewpoint of participant observers in
an event that involved the above mentioned populations.
Key words – Adapted Sports, Efficiency, Event
Introdução
Uma das mudanças que temos observado nas políticas públicas voltadas
para as pessoas cegas, surdas, cadeirantes (as pessoas paralisadas, amputadas
ou les outres, serão identificadas neste trabalho como cadeirantes) e deficientes
mentais, refere-se a sua participação no desporto. Cada vez mais surgem
propostas neste sentido. Uma delas se fez presente na V Semana Estadual da
Pessoa Portadora de Deficiência que teve como propositor a Fundação de
Atendimento às Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades
(FADERS) com a colaboração do Departamento de Desporto do Estado do
Rio Grande do Sul. O seu tema era: “Atuando para Transformar”.
No período de 28 a 29 de agosto de 1999, realizou-se na cidade de Porto
Alegre o Festival Desportivo reunindo Atletas Cegos, Surdos, Cadeirantes e
Deficientes Mentais (ACSCDM) com a apresentação das suas melhores
87
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
performances. Uma população de 96 atletas esteve presente nestes dias. Este
artigo trata de como o desporto e uma de suas categorias – o rendimento -, é
entendido como um elemento positivo, porque produz um conhecimento, em
relação aos ACSCDM. O seu objetivo está em organizar um conhecimento
envolvendo uma narrativa de acontecimentos. Nesse sentido faremos uma
prática discursiva sobre os momentos desportivos dessa população.
Para tanto, iremos nos subsidiar de alguns educadores da educação física
que tem apresentado nas suas posições uma valorização dos momentos
desportivos. Estarão presentes também, olhares que tratam sobre o tema da
integração.
Para limparmos o nosso terreno fazemos o seguinte esclarecimento: um
discurso que evitaremos durante o artigo refere-se ao viés da saúde que
geralmente também é vinculado ao desporto. Na questão dos ACSCDM, ainda
é somado à reabilitação ou terapia. Sem desmerecermos esses elementos,
pensamos no desporto como uma prática, mimética (Elias, 1992) que tem um
valor de rendimento pessoal e coletivo que desloca o nosso olhar para outra
forma de análise. Nesse sentido percebemos em Santos (1998), uma síntese
bem elaborada sobre que pratica um desporto:
“a satisfação causada e buscada por quem pratica uma atividade desportiva
(...), a satisfação por uma jogada inesperada, pelo gol ou ponto ganho
seguem o capricho cultivado no interior de cada um e não podem ser
descritos sem perder a emoção do momento vivido”. (p. 94)
A valorização do desporto por este viés possibilita-nos a analisar o
rendimento naquilo em que ele se apresenta. Portanto, para seguir adiante
neste trabalho, iremos dividi-lo da seguinte forma: em primeiro apresentamos a
nossa posição sobre o rendimento e localizamos o evento desportivo; por
segundo a metodologia que adotamos; em terceiro, apresentamos os registros
das informações, seguidos das suas análises e conclusões.
O Rendimento e a sua Positividade
Abordar o rendimento coloca-nos em um espaço em que ele é muito
criticado por alguns professores da área da educação física. Nesse sentido,
estamos entrando num campo onde os discursos estão centrados em relações
de poder a favor ou contra esta categoria. No ponto em que nos localizamos,
entendemos que o rendimento desportivo, não é algo negativo, pois pensamos
que se fosse assim, teríamos que estender essa compreensão sobre outras áreas
que também exigem um rendimento, ou seja: a intelectual, a artística, a musical,
etc. Parece-nos que essas não têm recebido o mesmo tratamento de crítica
como acontece com o desporto. Nesse sentido seguimos a mesma trilha de
Gaya (2000) ao perceber o desporto como uma expressão da cultura assim
como o é a pintura, as artes plásticas e a música.
88
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
O rendimento é uma categoria central do desporto e nela podemos
compreender o seu fenômeno e sua natureza. (Santos, 1998; Gaya, 2000 ). A
nossa posição passa por esse entendimento, pois, para que o atleta possa
aprimorar a sua técnica individual e coletiva e melhorar a sua condição física,
para que a equipe atinja bons resultados é necessário que tenha havido um
rendimento.
O rendimento desportivo é positivo, pois produz um conhecimento sobre
cada um de nós, permite que se estabeleçam relações de um com o outro,
construindo nossos limites e possibilidades. Larrosa (1994) chama de relações
do sujeito consigo mesmo, as experiências de si, que não são nada mais do que
um complexo processo histórico de fabricação de sujeitos em que se
entrecruzam os discursos que definem aquilo que seja verdadeiro, e as práticas
que regulam o seu comportamento. Mais adiante destaca que:
“A experiência de si, historicamente constituída, é aquilo a respeito do qual
o sujeito se oferece, seu próprio ser quando se observa, se decifra, se
interpreta, se descreve, se julga, se narra, se domina, quando faz
determinadas coisas consigo mesmo, etc.”(p.43)
Essa positividade que o desportista se oferece, ou seja, produzir um
conhecimento sobre si mesmo, em relação às suas particularidades, exige de
nós, entender o fenômeno do rendimento a partir de uma perspectiva menos
preconceituosa.
Como um primeiro entendimento sobre o fenômeno desportivo, nos
reportamos a Barbanti (1979) ao destacar que:
“Condição é o grau de capacidade física, técnica, tática e psíquica que
determina um estado de rendimento. Assim, conhecemos a condição
técnica, a condição física, a condição tática, etc. Existe uma condição geral
que se caracteriza por um desenvolvimento amplo das qualidades físicas
básicas (força, velocidade, resistência), das qualidades motoras (habilidade,
destreza, mobilidade) e a condição especial que se refere às qualidades de
uma modalidade ou disciplina desportiva específica”. (p. 9-10)
Ao tratar do termo “Condição” tal como ele se apresenta no rendimento
desportivo, ele localiza o nosso olhar. Permite ao atleta conhecer a sua
dimensão desportiva através de relações que faz com o outro e consigo
mesmo. Nesse sentido, destacaremos, a seguir, duas idéias sobre a categoria
rendimento, para situar a nossa compreensão. Elas irão contribuir com a
posição que adotamos.
Ao destacarmos aquilo que corporalmente é necessário para que possamos
pensar no rendimento, entendemos, porém, que somente essa definição não é
suficiente para compreendê-la. Recorrendo a Santos (1998), percebemos que
no seu estudo, destaca que o rendimento desportivo deve considerar dois
elementos: o biológico e o cultural. O desafio que esse autor trouxe está
89
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
justamente em tentar compreender como os componentes biológicos e
culturais se articulam para produzir resultados desportivos, para que eles não
sejam resultados do acaso, em outras palavras, o acaso é um elemento
determinante e, portanto, indeterminado do rendimento. Mais adiante é
acrescentado que existe um desconforto para aqueles que esperam uma
precisão nessa resposta, pois não se pode produzir um/a atleta ou um/a
desportista da mesma forma que se produz uma máquina.
Em outro espaço de reflexão, Gaya, Balbinotti e Campos (1998:26),
comentam sobre o rendimento e a competição, destacando que um tem como
objetivo a ser perseguido a ética, e o outro, a forma objetiva e direta de
avaliação do próprio rendimento.
De alguma forma, esses referenciais nos dão pistas de que existe toda uma
positividade a partir destes campos de análise, pois eles produzem um
conhecimento, trazem para a margem um saber possível de ser identificado
pela sua própria ocorrência, o desporto.
É juntamente com essas compreensões que pensamos o desporto adaptado
para os ACSCDM. Dessa forma, faz-se necessário comentar a partir do nosso
ponto de vista o contorno que o Festival Desportivo tomou a partir daquilo
que nós consideramos relevante para este momento.
A Proposta do Evento
Para contextualizar o evento faremos, inicialmente, algumas considerações
sobre o logotipo utilizado na V Semana Estadual da Pessoa Portadora de
Deficiência (ANEXO-1). Nele, aparecem duas pessoas dentro de um círculo
como se estivessem no núcleo de um redemoinho. Os braços estão estendidos
à vertical e próximos aos pés um do outro e os seus corpos girando
lateralmente no sentido anti-horário e para dentro lembram, num primeiro
olhar, um símbolo da cultura oriental: o yin e o yang. Posterior a essa
impressão é possível dizer que eles estão interagindo entre si, sugerindo o tema
da integração.
A integração é um processo que tem como princípio garantir as mesmas
oportunidades a todas as pessoas. Quando pensamos nela em relação ao
desporto para os ACSCDM, ela nos remete para a acessibilidade, eliminação
das barreiras arquitetônicas, adaptações, entre outros.
Consideramos a integração como parte de uma luta de justiça e a igualdade
envolvem relações de poder e práticas cotidianas, tais como: o exercício da
cidadania. É nesse momento que a prática social dos envolvidos, reforçam
ações que afastem-se de uma retórica discursiva.
Temos claro que a perspectiva da integração representa uma lógica
diferente daquela que foi dada para a constituição da sociedade moderna. Ela é
entendida como uma das possibilidades de se propor políticas públicas aos
90
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
ACSCDM. A existência de eventos como este repercute diretamente nos
corpos desse sujeitos.
Nesta lógica de compreensão percebemos que no conteúdo do foulder do
evento é apresentado um entendimento sobre as ações que devem favorecer a
integração.
“A questão das ‘pessoas portadoras de deficiência, complexa que é, não será
equacionada a partir de ações setoriais ou isoladas. Em vez disso, está
diretamente vinculada à superação dos mais relevantes problemas de
desenvolvimento e justiça social em nosso país”. (FADERS, 1999)
Mais adiante é explicado, que a “V Semana Estadual da Pessoa
Portadora de Deficiência traz a marca da descontinuação das formas
tradicionais com que o Estado entende e trata essas questões, através de um
processo que faça a ruptura de visões centradas nos conceitos de
‘atendimento/assistência’ e, em seu lugar, instaure um novo paradigma,
norteado pelos conceitos de cidadania/direitos humanos”.
Esses pontos são importantes para que possamos entender o contexto em
que o Festival Desportivo ocorreu. Existe uma contemporaneidade na
proposta do evento que culmina com a parcela de responsabilidade que o
Estado assume. Aquilo que está por trás do tema escolhido, e, o logotipo é
uma proposta para que haja uma interação durante esses dois dias. Nesse
sentido, as possibilidades de rendimento de cada desportista seriam as de
oferecer um enunciado através da visibilidade a ser dada.
Metodologia Adotada
Localizamos a nossa metodologia como um estudo descritivo. Utilizamos a
técnica de observação como instrumento de coleta de dados. A nossa posição
foi de um participante do evento. Dessa forma, apresentamos um olhar
específico para os desportos realizados. As nuances deles caracterizam as suas
particularidades, e o que deixamos nos discursos que trazemos, expressa o
nosso lugar.
A idéia de escrever sobre esses jogos, diz respeito a uma posição que temos
adotado na passagem pelo Departamento de Desportos1. Nela procuramos
registrar os momentos desportivos em que os ACSCDM se fazem presentes.
Em uma sociedade como a nossa em que algumas diferenças não são
expostas no seu dia-a-dia, a oportunidade de observar as possibilidades
desportivas das pessoas que são cadeirantes, surdas, deficientes mentais,
Cláudio Marques Mandarino, autor deste artigo, participou do Festival Desportivo como
coordenador do evento, numa parceria entre o Departamento de Desportos da Secretaria de
Educação com a Fundação Estadual de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado, órgãos do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
1
91
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
assumem um significado importante em relação às ações que podem ser
propostas a elas.
Descrição e Análise do Evento
Ao tratamos da prática desportiva dos ACSCDM não basta somente reunilos pensando que ela irá acontecer. É necessário entender de que forma ela se
concretiza no seu próprio acontecimento.
Quando foi definido pela comissão organizadora, que no tema fosse dado
ênfase aos atletas de rendimento no desporto adaptado2, estava presente a idéia
de se romper com a visão de senso comum (não de bom senso) que muitas
vezes tem no seu imaginário a incapacidade dos ACSCDM em momentos
como esse. Estamos nos referindo àquela concepção de “superação”,
“exemplo de vida” que muitas vezes é utilizado por algumas pessoas. Mesmo
sendo um julgamento de valor, partiu-se do princípio de que as pessoas que
iriam assistir desportos adaptados onde estão presentes os cegos, surdos,
cadeirantes e deficientes mentais, observassem uma disputa com qualidade.
Esse foi um princípio para dar uma visão mais positiva sobre essas pessoas e
produzir um saber nesse contexto.
Em relação aos discursos que seguidamente organizam uma representação
sobre estes segmentos, observamos no jornal Zero Hora, uma reportagem
intitulada: “Deficientes demonstram esportes”, destacou que o esporte venceu
limitações no final de semana no Ginásio Tesourinha. Portadores de
deficiências auditivas, visuais, físicas e mentais estufaram as redes e
capricharam nas cestas(...) Mais do que competir, o objetivo da iniciativa era de
mostrar que as limitações físicas ou psíquicas não são obstáculos para a prática
de esportes.
Sobre o princípio de apresentar os melhores rendimentos desportivos,
percebemos que o número de pessoas que assistiram aos jogos, já estavam
envolvidas, de alguma forma, com essas populações. Mesmo que não
tenhamos ficado surpresos com a pouca circulação de pessoas, entendemos
que essa prática, como foi o Festival Desportivo estabeleceu uma relação de
poder quando tratou das possibilidades dos ACSCDM no desporto e uma
visibilidade que ofereceu um saber através do que foi proferido a seu respeito.
Uma prática discursiva que estabeleceu uma relação através de um evento que
tinha como propósito desconstruir algumas compreensões sobre essa
população, e que mesmo assim não avançaram em alguns meios de
comunicação.
Vásquez, Javier Hernandez, definiu o desporto adaptado, colocando que, cuando las personas
que pratican deporte con unas determinadas discapacidades modifican sus normas, pistas
deportivas o el entorno donde se realiza la actividad, este deporte toma la denominación de
deporte adaptado. Actividades Físicas Adaptadas: perspectiva interdisciplinar y bases conceptuales.
Revista APUNTS: Educación Fisica y Esportes. octubre de 1994. No38. p.9
2
92
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
Dessa forma, esse meio de comunicação, divulgou para todo o Estado do
Rio Grande do Sul a participação dos ACSCDM no Festival Desportivo. Se
por um lado, o discurso presente afastou-se daquilo que se pretendeu, ou seja,
desconstruir a visão de superação e limitações alcançadas, que sempre
acompanha este tipo de reportagem, por outro, deu um destaque apresentando
as possibilidades desta população no desporto adaptado. As seguir, então,
iremos nos aproximar da organização de cada um dos segmentos no festival
desportivo. O nosso olhar fará um outro tipo de representação.
Em relação aos Cegos foram praticados dois desportos: um deles foi o
futsal. Mesmo fazendo somente uma apresentação no evento ele nos
surpreendeu pela habilidade técnica e tática dos seus jogadores. Uma
particularidade desse desporto era o goleiro, pois, ali estava o único atleta
vidente. O outro desporto foi o golbol3. Neste, todos os atletas utilizavam
vendas nos olhos. Ele foi único em que houve a participação das mulheres.
Este ponto merece uma pequena atenção, pois ao gênero feminino não foi
reservada uma participação específica. Quando se pensou sobre a positividade
do rendimento, o olhar foi deslocado para um único gênero: o masculino. É
interessante fazer esse destaque, porque não foi pelo fato de estarem ausentes
que somente uma população estaria credenciada para dar conta da proposta do
evento. Portanto, a história do desporto adaptado, nesse momento, só pôde
ser contada e narrada através do olhar que foi dado para os atletas homens.
Isso pode ser interpretado pelas próprias relações de poder dentro do desporto
adaptado que fizeram com que eles estivessem organizados para esse
momento.
Uma ilustração para o que vem sendo apresentado pode ser vista através de
Mandarino (1998), quando, no seu artigo “Futsal para alunas com Deficiência
Mental”, ressaltou a importância de incluir as mulheres no calendário
desportivo da Associação Regional de Desportos de Deficientes Mentais
(ARDEM), “pois desta forma se estaria confrontando territórios antes
pertencentes somente à uma população, a masculina. A relação que fazemos
com o Festival Desportivo é que este também caminhe nesta direção em
eventos futuros”.
Durante o congresso técnico, um problema que surgiu e que entendemos
ser importante destacar neste momento, refere-se diretamente ao que estamos
nos propondo a discorrer, ou seja: a positividade do rendimento. O núcleo de
Hoffmann, Lia explica que utiliza-se uma bola com guizos no seu interior e trata-se de um
desporto em que participam duas equipes com 3 jogadores cada uma, tendo 3 suplentes por
equipe. Joga-se no solo de um ginásio, dentro de uma quadra retangular de 9 x 18 metros, dividida
em duas metades por uma linha central e um arco em cada extremidade de 9 m x 1,30 metros de
altura. O objetivo de cada equipe é fazer com que a bola cruze rodando a linha de gol contrária,
enquanto a outra equipe tenta impedir. Golbol. In: NETTO, Francisco Camargo; GONZALEZ,
Jane da Silva, coord. Desporto adaptado a portadores de deficiências: Futebol. Porto Alegre:
UFRGS,INDESP,1996. p 28.
3
93
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
atenção num certo momento foi deslocado para a classificação4 dos atletas, ou
seja, as funções musculares que ele possui e que lhe dão uma maior ou menor
habilidade quando jogam o basquetebol na cadeira de rodas. Isso, porque nem
todos eles tinham a sua pontuação, que é feita pela Associação Brasileira em
Cadeira de Rodas (ABRADECAR). No caso específico das equipes dos
cadeirantes, Associação Riograndense de Paralíticos e Amputados (ARPA),
União de Deficientes Físicos e Amputados (UDEFA), Centro Integrado dos
Portadores de Deficiência Física (CIDeF) e Centro de Deficientes de Santa
Cruz do Sul (CODESC), somente as duas primeiras tinham os seus atletas
classificados. Nesse momento, então, nos deparamos com um impasse, pois
não foi feita uma previsão de entrar em contato com classificadores desta
modalidade desportiva. A questão foi resolvida por um acordo entre os
coordenadores definindo por uma comissão para tratar da pontuação dos
atletas. Nela decidiu-se que o controle seria feito em relação às duas equipes
que tinham os seus jogadores já classificados.
A classificação para os, cadeirantes no desporto tem por objetivo, como
explica Mattos (1999), “assegurar um nível justo e adequado para o confronto
com todos os participantes, sendo que a classificação pode ser considerada
como a essência do desporto adaptado”. A mesma autora destaca que a
classificação funcional enfoca a capacidade do atleta em realizar determinada
prova.
Em relação aos Surdos, não houve uma categorização para classificar as
equipes, pois, não é o grau dela que irá determinar a qualidade técnica da
equipe, e sim a sua experiência no desporto. O que se fez necessário durante
todo o Festival Desportivo foi a presença de uma intérprete da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Na questão dos deficientes mentais, não houve a necessidade de se
preocupar com a classificação, pois todos pertenciam ao nível I. Nos jogos que
ocorreram durante o Festival Desportivo, três equipes se fizeram presentes, o
Centro Abrigado Zona Norte (CAZON), o Centro de Atendimento e
Desenvolvimento do Excepcional (CADE) e o Centro Ocupacional de Porto
Alegre (COPA). Nas Olimpíadas Nacionais das APAEs, ou Special Olympics,
as equipes são divididas em nível I e II, com menor e maior técnica,
respectivamente.
Como podemos perceber, os segmentos possuem as suas diferenças, que
são totalmente distintas entre si. Essas diferenças produzem uma variedade de
significados. Os quadros de relações que se estabelecem nos conduzem a
destacar cada um particularmente. O que pretendemos deixar registrado é que
as possibilidades de cada ACSCDM referem-se a um rendimento individual e a
4 Potrich e Diehl (1996:7) explicam que a classificação conferirá ao jogador uma pontuação que vai
de 1 a 4,5 pontos aumentando de 0,5 em 0,5 pontos e a equipe deve ter na quadra cinco jogadores
que juntos não deverão exceder a soma de 14 pontos.
94
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
forma como é utilizada a classificação serve para que a disputa do desporto se
torne mais justa.
Descrição e Análise dos Registros do Desporto Adaptado
Neste momento, objetiva-se direcionar o olhar específico para cada um dos
desportos realizados apresentando as particularidades de cada um, através de
alguns relatos. Deste modo será oferecida uma noção sobre a forma como
apresentamos um discurso a partir desse lugar. Um discurso que pretende
mostrar as possibilidades dos atletas, e o saber que é transmitido quando se
envolvem nessa prática. Nos próximos parágrafos os registros da prática
desportiva serão os focos de análise.
Os deficientes mentais reuniram-se com as suas instituições e realizaram
um torneio (triangular) que os envolveu durante o sábado. As plasticidades do
futsal nos permitem estabelecer relações sobre as suas possibilidades. Durante
o jogo, eles acertam e erram os passes, exercitam um fundamento desse
desporto de forma coletiva e individual. Nem sempre as suas jogadas e fintas
são bem sucedidas, e, mesmo assim este não é um fator de desestímulo. Esta
prática, as suas emoções, o seu rendimento, a disputa, possuem uma magia
contagiante que os estimulam.
Podíamos perceber que todos eles tinham conhecimento das regras desse
desporto. Disputavam a bola com uma voracidade almejando tentos sobre a
equipe oposta. Um jogador chamou-nos a atenção, pois a cada gol que fazia,
dedicava-os a um integrante de sua equipe ou a conhecidos seus, e da mesma
forma que os comemorava com toda a sua emoção, irritou-se, reclamou,
cometeu infrações quando no jogo seguinte a sua equipe foi vencida. Mesmo
assim, permaneceu até o fim do jogo, comemorou uma vitória e amargurou
uma derrota, tendo assim, uma experiência da relação consigo mesmo.
Larrosa (1994) contribui com o que foi descrito sobre o atleta deficiente
mental ao comentar sobre a experiência histórica e cultural do que deve ser
aprendido e transmitido, dizendo que:
“qualquer prática social, e o desporto é uma prática social (grifo nosso),
implica que os participantes tratem os outros participantes e a si mesmos de
um modo particular. Identificar quem são os participantes é fundamental
para a natureza dessa prática, portanto, aprender a participar no desporto é
ao mesmo tempo aprender o significado de ser um participante.
Aprendendo as regras e o significado do desporto, a pessoa aprende ao
mesmo tempo a ser um jogador e o que ser um jogador significa. (p. 45)
Em relação às emoções presentes no desporto, as posições de Elias (1992)
ilustram esses momentos, destacando que:
“o quadro desportivo, como muitas outras atividades de lazer, destina-se a
movimentar, a estimular as emoções, a evocar tensões sob a forma de uma
95
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
excitação controlada e bem equilibrada, sem riscos e tensões habitualmente
relacionados com o excitamento de outras situações da vida. Uma excitação
mimética que pode ser apreciada e que pode ter um efeito libertador,
catártico, mesmo se a ressonância emocional ligada ao desígnio imaginário
contiver, como habitualmente acontece, a elementos de ansiedade - ou
desespero”. (p. 79)
As emoções que o desporto proporciona não se dão de forma hierárquica.
Não existe uma emoção “normal” na qual eles devem alcançar. Os atletas
deficientes mentais mostram-nos o quanto a cultura desportiva, em que estão
envolvidos, possui um papel fundamental na sua formação, na experiência de
si.
Um outro olhar é deslocado para os surdos. No momento em que estão
jogando, os ruídos do ginásio, ocorrem por parte daqueles que estão assistindo
o futsal. Os sons emitidos pelos surdos estão num chute na bola, atrito dos
tênis com o piso. A nós, ouvintes, que estamos acostumados com as
reclamações, xingamentos que habitualmente ocorrem no futsal, esses se
deram com gestos e batidas com os pés no chão. É interessante de registrar a
disputa que houve entre as duas equipes. No sábado fizeram um jogo, e no
Domingo, outro. As emoções que diferenciam um do outro estão nos
resultados. No primeiro jogo, houve um empate em quatro gols, onde a
decisão foi para os pênaltis. A emoção que essa disputa envolveu pode ser
descrita pela forma como era disputado cada lance. Faltando cinco minutos,
uma equipe estava com a vantagem de um gol em tentos que foram suados
para adquiri-los e mesmo assim houve empate no final. Como haviam duas
instituições envolvidas (Sociedade de Surdos do Rio Grande do Sul e
Associação de Surdos de Guaíba (ASG), canalizaram-se as rivalidades nesse
confronto. As disputas ocorreram com mais vontade, os jogadores
esforçavam-se e não existia bola perdida, porém, o final foi simplificado na
tensão de cinco chutes a gol para cada equipe. Por 4x3 a ASG venceu a
partida. A segunda disputa não teve o mesmo significado porque cedo uma das
equipes abriu uma vantagem no marcador difícil de ser alcançada no decorrer
do jogo, portanto, desse momento em diante já havia um pré-anúncio sobre
quem seria o vencedor. No final 7x1, mostrou-se a derrota do dia anterior
sendo devolvida. Essas são situações que podem ser interpretadas através da
sociologia do desporto.
Elias (1992) comenta que:
“o desporto, de uma maneira geral, possui um caráter de um combate
mimético controlado e não violento. Uma fase de luta, ou conflito de
tensão e excitação, que pode ser exigente em termos de esforços físicos e de
técnica, mas pode também ser, em si mesmo, hilariante, uma libertação de
tensões e dificuldades da rotina exterior ao lazer e ao conflito de tensões,
quer seja pelo júbilo da vitória ou pelo desapontamento da derrota”. (p.83)
96
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
Uma particularidade que poderíamos fazer em relação a esta população,
refere-se a sua condição: surdo ou deficiente auditivo. Se não estamos
informados sobre quem está compondo as equipes, não iremos procurar uma
“normalidade” possível de ser observada (a partir de quem quer marcar uma
diferença), pois, o que ocorre é justamente o contrário. O rendimento que
apresentam quando praticam o seu desporto são fundamentais para que não se
busque algo exterior às suas possibilidades.
Ao contrário dos surdos, os cegos, no futsal, necessitam de um silêncio
fora da quadra para que nela possam identificar a direção da bola através do
seu guizo. Nesse desporto, a comunicação é constante, tanto entre si, como
também do técnico com os jogadores. Os chutes a gol, as jogadas ensaiadas e a
localização no espaço são determinantes para que a equipe tenha êxito.
Disputam a bola, utilizam as suas habilidades para protegê-la e quando estão
em posse dela concluem tentos em que o atleta vibra e grita comemorando a
façanha.
No golbol percebemos a que precisão das defesas, a força e a técnica dos
arremessos em direção ao gol, demonstravam um rendimento que envolve
uma noção de espaço acurada. Os sentidos envolvidos nesse desporto são
muito aguçados. A percepção cinestésica, tátil, e acústica são fundamentais
para que um melhor rendimento seja alcançado.
Gaya, Balbinotti e Campos (1998:24), ao escreverem sobre a natureza do
desporto, destacaram que “quando um atleta executa uma sofisticada ação
técnico-táctica, podemos perceber, de várias perspectivas, a manifestação
ímpar de um significado verdadeiramente corporal, verdadeiramente humano”.
Em relação aos cadeirantes, durante a prática do basquetebol fazemos a
seguinte descrição: Quando os atletas começam a movimentar-se dentro da
quadra, é estabelecida uma normalidade. As possibilidades desportivas
pertencem a esse contexto e as movimentações que ocorrem entre os
jogadores, apresentam jogadas complexas. A tática para se obter um melhor
rendimento exige de cada um e do coletivo, alterações nos lugares e posições
para que o espaço adequado a efetuar um arremesso seja conseguido. Para
quem assiste pela primeira vez uma partida de basquetebol em cadeira de
rodas, algumas impressões ficam registradas. Uma delas, refere-se à forma
como vamos nos envolvendo, pois rapidamente o nosso olhar concentra-se
nas possibilidades que o desporto oferece. A cada momento observa-se uma
jogada mais ousada e difícil. Ali várias habilidades são testadas. Cada um
explora as suas condições, para melhorar o seu rendimento. Executam remadas
quicando a bola. Existe uma plástica de movimentos com a cadeira que nos
sugere uma estética plural ao desporto. Fintas que exigem uma rapidez que às
vezes engana os nossos olhos. A simbiose da cadeira com o atleta é
determinante para o rendimento durante a partida. As características desse
desporto exigem uma complexidade de ações, e de alguma forma, elas
97
Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para
os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
registram na memória de quem executou e de quem observou as suas
condições de possibilidades.
É interessante resgatar aqui uma análise mais técnica que foi feita por
Potrich e Diehl (1996) em outro momento. Eles comentavam que:
“o jogador em cadeira de rodas, com a posse da bola, tem menos facilidade
nas situações de um para um em relação ao adversário, no entanto, tem
maior chance de proteger a bola devido às dimensões da cadeira,
aumentando o raio de ação e defesa e, conseqüentemente, tornando o jogo
mais defensivo. Durante o desenvolvimento do jogo, as jogadas sem bola
são mais acentuadas do que no basquete regular, por isso as estratégias para
ganhar espaço e formar jogadas devem concentrar-se mais nos espaços
entre os jogadores e a cesta do adversário”.(p.7)
Observar os cadeirantes praticando o basquetebol é perceber que a garantia
desse desporto ocorre através de uma prática social que eles possuem.
Portanto, no momento em que fizemos alguns registros sobre
determinados segmentos, entendemos que eles apresentam significados
próprios de quem vivencia o desporto. Os gestos, as movimentações, a relação
com o espaço, as habilidades necessárias, nos mostram a pluralidade estética
que os vários tipos de desportos adaptados exigem de seus atletas.
Conclusão
Neste artigo, procuramos refletir sobre o tripé ACSCDM, Rendimento e
Evento Desportivo. Ela se propôs a fazer uma reflexão sobre a narrativa desse
acontecimento. Nele foi possível, mesmo que de forma unilateral, apresentar
um recorte sobre uma ação que garantiu a participação dessa população.
Portanto, chegamos ao final deste artigo comentando que uma proposta
como esta que envolve uma política pública para os ACSCDM deve ser
estimulada nos mais variados espaços. O seu acontecimento, a narrativa e
interpretação feitas sobre o evento permitem que novas perspectivas de análise
possam juntar-se às posições aqui demarcadas sobre o desporto adaptado para
essa população. A própria elaboração desse texto, e a representação que ele
deixa, é fruto daquilo que o evento desportivo possibilitou.
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técnico. 13ª Olimpíada Nacional Rio de Janeiro - 19 – 24, 1996.
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99
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da
Teoria dos Sistemas Ecológicos
Sandra Mara Mayer – Universidade de Santa Cruz do Sul/RS
Resumo
Este estudo foi orientado pelo modelo pessoa-contexto descrito por
Bronfenbrenner (Krebs, 1997). O trabalho investigou o comportamento
agressivo em 357 escolares na faixa etária de 7 a 14 anos, de ambos os sexos,
nas escolas estaduais, municipais e particulares do Ensino Fundamental do
Município de Santa Cruz do Sul, do centro e da periferia. Para escolha das
informações, foi utilizada amostragem probabilística estratificada proporcional,
com aplicação de um questionário (Olweus, 1989), em que se procurou
conhecer a perspectiva dos alunos, expressa nas suas respostas. O questionário
engloba 32 questões organizadas em 4 blocos relativos a: dados sóciodemográficos; agressões sofridas; práticas agressivas. Verificou-se que 85% dos
alunos que sofreram agressões e que, quanto ao tipo de agressões sofridas foi
predominante a verbal. É o recreio, o momento de maior incidência das
agressões sofridas. Quanto as características dos agressores, observou-se que
estes são mais velhos. Verificou-se ainda, que quando os professores
cientificam-se das agressões, há a predominância de interferência em 73%, na
tentativa de impedir os atos agressivos, e a maioria deles conversa com os
agressores para interromper ou resolver as disputas. Também se constatou que
existe maior agressividade nas escolas do centro que da periferia. Como
conclusão pode-se dizer que agressividade no contexto escolar é uma realidade
em Santa Cruz do Sul, e propõe-se que se busque uma ação pedagógica-social.
A conclusão também aponta as raízes da agressão, que se estendem,
provavelmente, além do microssistema escola, para o que se justifica uma ação
integrada de todos os setores da sociedade, a fim de combater a agressividade
no contexto escolar.
Abstract
This study was orientated by the person and context model described by
Bronfenbrenner (Krebs, 1997). The work investigated the agressive behaviour
in 357 (three hundred fivety – seven) students from seven to fourteen years
old from brth genders (male and female) of state, municipal and private
schools in Santa Cruz do Sul, from the subrubs and downtown. To get the
data, a proportional stratified probability sample was used, with na inquiry
(Olweus,1989), searching for knowing the students perspective, expressed in
their answers. The inquiry has thirty-two questions organized into four
sections related to: socio-demographic data, sufferer agressions, agressive
100
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
practices. It was verified that 85% eigth-five percent of the students had
suffered agressions and, that the verbal aggression, was predominant amont
the aggression styles. And it is in the break time that the students suffered a
greater number of regardind to the aggressors, characteristics, it wass noted
these are the oldest. It was verified, also, that when teachers know about the
aggressions there is the predominance of interference in 73%, tying to stop the
aggressive acts, and the most of them talk to the aggressors to stop then or
solve the discussion. It was also noted that exists a greater aggressivity in
downtows schools than in suburb ones. As a conclusion it can be said that
aggressivit in school context is a reality in Santa Cruz do Sul, and it’s proposed
a search for a social-pedagogical act. The conclusion, also, points to the bases
of the aggression, that are probably, extended beyond the school microsystem,
for what it is justified na integrated action from all the society sections, aiming
to fight aggressivity in school context.
1. Introdução
1.1. O problema e sua importância
A pesquisa é produto do exercício no magistério, durante mais de quinze
anos, em que atuei no Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul, na Escola de
1º e 2º Graus Educar-se, em supervisão de estágio e como professora na
Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Durante esse período, através de
múltiplas observações, discussões, vivências, leituras e avaliações, surgiu uma
inquietação a respeito do aumento da agressividade em escolares, nas escolas
do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul. Indubitavelmente, a inquietação
levou-me para além da reflexão, culminando, dessa forma, nesta pesquisa, em
que apresento busca de caminhos para conhecer e, de alguma forma, indico
propostas para amenizar a agressividade no ambiente escolar.
A escola representa um contexto peculiar, de convivência de grupos, que,
ao longo do tempo, poderão vir a estabelecer “regras”, algumas explicitadas e
outras não, que influenciem nos comportamentos de seus pares. Enquanto
educadores é necessário que valorizemos as relações interpessoais que se
estabelecem entre os alunos, na escola. Nessa concepção, buscamos o
posicionamento de Krebs (1996), que atribui ao estudo do desenvolvimento
humano uma forma de entender todas as relações existentes entre o ser em
desenvolvimento e o contexto no qual ele está inserido.
2. Metodologia
2.1. Caracterização da pesquisa
Este estudo foi orientado pelo modelo pessoa/contexto, delineado por
Bronfenbrenner (Krebs,1997) e que se caracteriza como uma abordagem
dinâmica entre a criança em desenvolvimento e as relações com o contexto em
que ela está inserida. A teoria de Bronfenbrenner permite uma análise das
101
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
variações das características da criança em desenvolvimento e dos ambientes
(escola, família, professores e amigos) em que ela está inserida. Nesse aspecto
considerar-se-á, não somente as estruturas dos microssistemas, mas também a
rede social caracterizada pelos meso, exo e macrossistemas. Essa teoria vem
contribuir e caracterizar o ser humano em desenvolvimento como alguém
ativo em seu meio, em inter-relações que estabelece com todos os grupos dos
quais participa, direta ou indiretamente. Amplia-se a visão de homem e mundo,
ao levar-se em conta as dinâmicas que se estabelecem entre a pessoa e seu
contexto e as transformações daí decorrentes.
2.2. Sujeitos do estudo
Fizeram parte deste estudo 357 escolares do ensino fundamental, com faixa
etária de 7 a 14 anos (1ª à 8ª série), de ambos os sexos, das redes municipal,
estadual e particular do Município de Santa Cruz do Sul, localizadas no centro
e na periferia (zonas Rural e Urbana). As escolas foram estratificadas por tipo,
conforme a figura 5 (p. 85) sendo que o tipo de amostragem foi a
probabilística estratificada proporcional.
Os questionários foram aplicados de abril a novembro de 1999. Foi
aplicado o questionário em trinta (30) escolas, sendo que duas (2) eram
estaduais rurais; oito (8) eram estaduais urbanas; dez (10) eram municipais
rurais; oito (8), eram municipais urbanas e duas (2), eram particulares. O
número total de alunos, somando os selecionados na rede municipal, estadual e
particular, centro e periferia somou, é de dez mil, quinhentos e quinze alunos
(10.515). A amostra ficou em trezentos e cinqüenta e sete (357) alunos. O
questionário foi aplicado em dezoito (l8) alunos nas escolas estaduais rurais,
cento e quarenta e cinco (145) alunos na rede estadual urbana, onze (11) alunos
escolas nas municipais rurais, cento e trinta e cinco (135) alunos na rede
municipal urbana, e quarenta e oito (48) alunos nas escolas particulares.
Estratificação da população de alunos e escolas
Escola
Escolas estaduais rurais
Escolas estaduais urbanas
Escolas municipais rurais
Escolas municipais urbanas
Escolas particulares
TOTAL
Total alunos
333
4676
915
3745
846
1051
Alunos
selecionados
18
145
11
135
48
357
Escolas
selecionadas
02
08
10
08
02
30
2.3. Instrumentos de análise
Para o diagnóstico da agressividade nas escolas do Ensino Fundamental de
Santa Cruz do Sul, foi utilizada entrevista individual através de um questionário
102
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
(Olweus, 1989) para os alunos. O questionário engloba 32 questões,
organizadas em 4 blocos relativos a: dados de identificação, desenvolvimento
sócio-afetivo, sócio-demográfico, agressões sofridas; práticas agressivas.
Para etapa da coleta de dados, solicitou-se à Secretaria Municipal de
Educação e Cultura, à - 6ª DE – Delegacia de Educação de Santa Cruz do Sul
e para as direções as escolas particulares do município, permissão para o
estudo e para a aplicação do questionário, ocasião em que foram esclarecidos
os objetivos do estudo.
3. Apresentação dos dados e discussão dos resultados
A discussão apresenta a análise destes resultados, interpretados de acordo
com a orientação ecológica, em função dos objetivos propostos no presente
estudo.
Tabela 1 – Tipo de agressões sofridas
Xingar
Bater, chutar
Falar mal
Roubar
Ignorar
Outros
Não foi agredida
Total
de
alunos
(357)
70%
53%
24%
15%
9%
4%
15%
Centro
1ª a 4ª série 5ª a 8ª série
Periferia
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
M
F
M
F
M
F
M
F
73%
65%
28%
16%
6%
3%
14%
70%
54%
37%
20%
15%
4%
11%
68%
53%
8%
19%
5%
5%
19%
69%
55%
14%
8%
6%
5%
15%
86%
14%
0%
0%
0%
0%
14%
93%
0%
29%
0%
7%
0%
0%
0%
0%
33%
0%
0%
0%
67%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
100%
Observando a tabela 1, notamos, em primeiro lugar, que 85% dos alunos
sofreram algum tipo de agressão. Em todos os grupos, a forma mais freqüente
de agressão sofrida foi a verbal, com 70% do total de alunos entrevistados
(357). Meninos e meninas apresentam percentuais semelhantes de agressão
verbal em todos os grupos (1ª a 4ª série e 5ª a 8ª série tanto nas escolas de
centro quanto de periferia).
Nas escolas de centro, a segunda forma mais freqüente de agressão
verificada foi a física, com um percentual de 59,5% no grupo de 1ª a 4ª série e
54% no grupo de 5ª a 8ª série. Já nas escolas de periferia, notou-se que apenas
os meninos de 1ª a 4ª série tiveram incidência de agressão física (14%), os
outros grupos não relataram esse tipo de agressão. Verificou-se que, nas
escolas de periferia, a segunda resposta mais freqüente foi “falaram de mim,
contaram segredos”. O roubo foi outra forma de agressão relatada somente
nas escolas do centro. Foi verificado, ainda, que 15% dos alunos relataram não
terem sido agredidos, sendo que nas escolas de periferia, 67% dos meninos e
100% das meninas de 5ª a 8ª série afirmaram não terem sido agredidos.
103
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
Tabela 2 – Locais de agressão
Total
de
alunos
(357)
Recreio
57%
Corredores/escadas 29%
Salas de aula
20%
Cozinha
6%
Outros
6%
Não foi agredida
15%
Centro
1ª a 4ª série 5ª a 8ª série
Periferia
1ª a 4ª série 5ª a 8ª série
M
F
M
F
M
F
M
F
61%
25%
22%
9%
4%
11%
64%
31%
20%
10%
3%
10%
58%
35%
23%
2%
5%
16%
48%
35%
23%
0%
6%
17%
14%
0%
0%
0%
43%
29%
71%
7%
0%
0%
21%
7%
33%
0%
0%
0%
0%
67%
0%
0%
0%
0%
0%
100%
O local de maior incidência das agressões relatadas foi o recreio, com 57%
das respostas (tabela 2); a segunda resposta mais relatada foi relativa a
corredores e escadas da escola. Agressões nas salas de aula tiveram 20% de
incidência. Essa tendência média foi bem observada nas escolas de centro,
entretanto, na periferia, os meninos de 1ª a 4ª série informaram terem sido
agredidos em outros locais, não listados no questionário (43%).
Tabela 3 – Características dos agressores
Mais velhos
Da turma
Outra turma,
mesma série
Mais novos
Não foi agredido
Total
de
alunos
(357)
39%
35%
10%
Centro
1ª a 4ª série 5ª a 8ª série
Periferia
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
M
F
M
F
M
F
M
F
58%
27%
4%
41%
41%
9%
26%
40%
21%
23%
43%
11%
14%
14%
29%
57%
14%
7%
0%
33%
0%
0%
0%
0%
7%
16%
5%
12%
7%
11%
2%
15%
3%
22%
14%
29%
14%
7%
0%
0%
67% 100%
Quanto às características dos agressores (tabela 3), observamos que os
mesmos são mais velhos (39%) e/ou pertencentes à mesma turma (35%) dos
alunos que sofreram agressão. Apenas os meninos de 1ª a 4ª série tiveram
incidência maior de agressão por alunos de outra turma, mas da mesma série
(29%), em comparação com as outras respostas (14% em cada outra). Dos
alunos de escolas de periferia entrevistados, todos os que sofreram agressão
foram agredidos por colegas de turma (33%).
104
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
Tabela 4 – Interferência dos professores (falar com o agressor)
Falou
Não falou
Não soube
Não foi agredido
Total
de
alunos
(357)
34%
28%
13%
24%
Centro
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
Periferia
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
M
F
M
F
M
F
M
F
37%
30%
17%
15%
32%
29%
22%
17%
37%
29%
6%
27%
34%
25%
5%
35%
14%
43%
0%
43%
29%
21%
14%
36%
33%
0%
0%
67%
20%
0%
0%
80%
O mesmo percentual (34%) de professores que procuram impedir
agressões, também conversou com os agressores (tabela 4). 43% dos meninos
e 21% das meninas de 1ª a 4ª série das escolas de periferia afirmaram que os
professores não falaram com o agressor. Tendo em vista que a pergunta era
dirigida ao aluno caso este fosse um agressor, parece haver uma menor
interferência dos professores das escolas periféricas nas questões de agressão
entre os alunos.
Em 13% dos casos de agressão os professores não ficaram sabendo dos
fatos, sendo que um maior percentual de professores das escolas do centro em
relação aos da periferia, não ficou sabendo das agressões (19,5% nas escolas de
centro contra 14% nas de periferia, no grupo de 1ª a 4ª série, e 5,5% no centro
contra 0% na periferia, no grupo de 5ª a 8ª série). O fato de que, nas escolas da
periferia, apenas o grupo de meninas de 1ª a 4ª série relatou que os professores
não souberam das agressões causadas mostra que, além de serem as meninas
menos agressivas, quando o são, isso não chega ao conhecimento dos
professores um maior número de vezes em relação aos meninos.
4. Conclusão
A agressividade foi o foco central deste estudo que investigou o Perfil da
Agressividade em 357 escolares na faixa etária de 7 a 14 anos, de ambos os
sexos, nas escolas estaduais, municipais e particulares do Ensino Fundamental
do Município de Santa Cruz do Sul, do centro e da periferia. Cabe ressaltar a
evidente pertinência da Ecologia do desenvolvimento humano para a análise
proposta pela pesquisa, ratificando a necessidade de estudar-se não apenas a
criança em desenvolvimento, como também os ambientes dos quais ela
participa ativamente. Isso abre novas perspectivas, tanto para o estudo da
família quanto para o estudo da escola e, sobretudo, das pessoas que estão
legadas à criança nos diferentes contextos.
Os fundamentos desta pesquisa delineiam-se para alguns pontos essenciais,
em relação à freqüência e ao tipo de agressão, os resultados apontaram para
uma grande incidência de casos de agressividade entre escolares. Com isso,
podemos deduzir que o contexto escolar não está isento de atos de
agressividade entre alunos. Essa dedução leva à conclusão de que essa
105
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
agressividade entre escolares pode afetar negativamente o processo educativo
conduzido pela escola. Pode-se constatar aqui que, se a escola representa um
caminho que busca equacionar as contradições e reforçar a função formadora,
voltada para a aprendizagem escolar concebida como um instrumento de
formação cultural e de construção do sujeito ético, político e social, constitui
certamente um grande desafio para a sociedade e, em especial, para os
educandos e educadores. Porém o aspecto negativo da agressividade no
contexto escolar poderá comprometer o estabelecimento de relações
interpessoais cooperativas indispensáveis para a efetivação do processo
pedagógico.
Quanto às características dos agressores, os resultados apontaram que são
mais velhos e do mesmo sexo, dos agredidos sendo que os meninos agridem
mais que as meninas. Quanto à característica de a criança preferir parceiros da
mesma idade, essa interação social é um fenômeno com características
motivacionais próprias.
Os recreios, momentos de maior incidência de agressões, é parte
importante para o desenvolvimento, social e cognitivo, da criança. Destaca-se
aí a necessidade de uma organização dos espaços e tempos escolares para que
propiciem à criança um ambiente mais agradável, melhorando os vínculos
entre os alunos, proporcionando um ambiente capaz de propiciar condições de
estímulos positivos e também de elementos possibilitadores de integração
entre as crianças, minimizando aí a agressividade.
Acredita-se, portanto que agressividade no contexto escolar é uma realidade
em Santa Cruz do Sul, e que suas raízes, estendem-se além do microssistema
escola, o que justifica uma ação integrada de todos os setores da sociedade
para o combate à agressividade no contexto escolar, que sirva, também, como
apoio ao Desenvolvimento Regional dentro da sociedade, nos seus vários
segmentos. Por último, a pesquisa propõe que em cada escola houvesse um
projeto adaptado às suas realidades, estando esse projeto comprometido com
uma forte mobilização de pais, alunos e professores e, também, de uma
comunidade social que possa ajudar essas diversas iniciativas em benefício da
diminuição da agressividade escolar.
5. Referências Bibliográficas
BELEZA, T. Violência, Crime e sociedade. In: GOMES-PEDRO, J. (Ed.). Stress e
violência na criança e no jovem. Lisboa: Faculdade de Medicina, Universidade de
Lisboa, 1999. p. 335-347.
BRONFENBRENNER, U. The Ecology of Human Development: experiences by
nature and design. Cambridge: Harvard University Press, 1970.
106
Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do
Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos
KREBS, R. J. Urie Bronfenbrenner e a Ecologia do Desenvolvimento Humano. Santa
Maria: Casa Editorial, 1995.
___________. Teoria dos Sistemas Ecológicos: um paradigma para o desenvolvimento
infantil. Santa Maria: Casa Editoral, 1997.
KREBS, R. J., VIEIRA, L. F., VIEIRA, J. L. e BELTRAME, T. S.
Desenvolvimento Humano: uma emergente da ciência do movimento humano. Santa Maria:
Casa Editorial, 1996.
OLWEUS, D. Prevalence and incidence in the study of anti-social behavior:
definitions and measurement. In: KLEIN, M. (Ed.) Cross-national research in selfreported crime and delinquency. Dordrecht, The Netherlands: Luwer, 1989.
VASCONCELLOS, A. T. M. Stress da vida e destino da mente (Stress,
violência e educação). In: GOMES-PEDRO, J. (Ed.). Stress e violência na criança e
no jovem. Lisboa: Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 1999.
107
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
Walter Gomes Osório – Membro da Academia Olímpica Brasileira/SP
Resumo
Às vésperas do século 21, o aniversário de cem anos do ressurgimento dos
Jogos Olímpicos coincide com mudanças em escala global que estão afetando
cada aspecto do pensamento e das atividades do homem. Os Jogos Olímpicos
são afetados pelas mudanças globais em áreas importantes da economia e
política. Eles sofrem a influência da indústria do entretenimento e os esportes
profissionais são uma importante parte desta industria. Os ideais do
Olimpismo como uma filosofia de vida, onde a mistura de esporte e cultura
com arte e educação num todo equilibrado as qualidades de corpo, espírito e
mente, parecem ser utópicas. Os Jogos Olímpicos e os esportes profissionais,
nos dias de hoje, parecem ser controlados pelo poder do dinheiro. O
Olimpismo no final do século 20 está face à comercialização do esporte.
Patrocínios, promoções, contratos, marketing, gerenciamento, e aspectos
organizacionais são parte dos Jogos Olímpicos e dos esportes profissionais em
geral. São as prescrições do Olimpismo aplicáveis à realidade dos Jogos
Olímpicos de Sydney? O futuro do Olimpismo depende do equilíbrio entre o
comercialização e os ideais do Olimpismo. Nós não podemos retirar o
patrocínio e a comercialização do esporte hoje, mas nós podemos usar a
assistência financeira para promover os ideais do Olimpismo. A contribuição
da Academia Olímpica Internacional para promover os ideais do Olimpismo é
um bom exemplo.
Palavras-chave: Academia Olímpica Internacional, Olimpismo, Comercialização.
Abstract
On the eve of the 21st century, the centennial anniversary of the revival of the
Olympic Games coincides with the global scale changes that are affecting
every aspect of human thought and activity. The Olympic Games are affected
by the global changes in important areas of economy and politics. It suffers the
influence of the entertainment industry and the professional sports are an
important part of that industry. The ideals of the Olympism as a philosophy of
life, where blending sport and culture with art and education in a balanced
whole the human qualities of body, will and mind, seem to be utopian. The
Olympic Games and the professional sports nowadays seem to be ruled by the
power of money. The Olympism at the end of the 20th century is facing the
commercialisation in sport. Sponsorship, promotions, contracts, marketing,
management and organisational aspects are part of the Olympic Games and
professional sports in general. Are the humanistic prescriptions of the
108
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
Olympism applicable to the reality of the Olympic Games of Sydney ? The
future of Olympism depends on the equilibrium between comercialism and the
ideals of Olympism. We can’t take away sponsorship and commercialism from
sport today, but we can use the financial assistance to promote the ideals of
Olympism. The contribution of the International Olympic Academy to
promote the ideals of Olympism is a good example.
Key words: International Olympic Academy, Olympism, Comercialism.
Introdução
O esporte é objeto de estudos de diversas áreas do conhecimento, como
filosofia, sociologia, economia e outras. Os grandes eventos esportivos
tornaram-se grandes espetáculos de mídia e o esporte tornou-se um produto a
mais no mercado de entretenimento. O enfoque que pretendemos discutir
envolve o aparente antagonismo entre o ideal olímpico e o esporte espetáculo,
as idéias de Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin tendo como contrapartida a
realidade dos Jogos Olímpicos que vivenciamos na virada do século.
A primeira imagem que nos vem à mente quando pensamos em esporte é a
imagem dos grandes eventos, das grandes competições mundiais como os
Jogos Olímpicos e os Campeonatos Mundiais das diferentes modalidades. A
palavra esporte tem como referencial o esporte competitivo, de alto
rendimento, profissional. Simultaneamente tal esporte foi apropriado pela
mídia e pelo marketing esportivo, assumindo o papel de entretenimento do
espectador. Tal associação não ocorre ao acaso.
O homem passou a ser espectador e principalmente consumidor de
esportes, consumidor das transmissões esportivas e potencial consumidor de
toda uma gama de produtos associados ao evento. É interessante notar que a
grande maioria deles sequer tem algum tipo de relação direta com a prática
esportiva.
A idéia de esporte como forma de lazer passou a um segundo plano, assim
como a idéia de se trabalhar o esporte como meio de educação sequer é
percebida por pessoas que não tenham vínculo com a educação. Tornou-se
clara a grande dificuldade em se pensar e trabalhar o esporte com os ideais de
Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin.
Olimpismo e a busca de um ideal
Para que possamos iniciar qualquer discussão sobre Olimpismo devemos
nos referir aos Princípios Fundamentais da Carta Olímpica, que apresenta uma
definição oficial do que é o Olimpismo e seus objetivos. A idéia de que o
esporte deva ser um meio de formação, de educação do corpo, da mente e do
espírito pode ser encontrada no Princípio Fundamental n° 2:
“uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades de
corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e educação. O
109
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no
esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios
éticos fundamentais universais”(p.8).
A leitura de tais princípios nos faz refletir sobre o perfil encontrado no
chamado esporte olímpico hoje. Como princípio podemos afirmar que ele está
sendo, na prática posto em segundo plano, uma vez que os elementos
educacionais e culturais do esporte olímpico não são enfatizados nas
competições dos Jogos Olímpicos.
O distanciamento entre o ideal e o real, entre a teoria e a prática torna-se
mais visível ao nos reportarmos novamente aos Princípios Fundamentais da
Carta Olímpica e buscarmos pelos objetivos do Olimpismo (Princípio
Fundamental n° 3):
“...colocar em toda parte o esporte a serviço do desenvolvimento
harmonioso do homem, na perspectiva de encorajar o estabelecimento de
uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade
humana”(p.8).
Muitos estudiosos apresentam trabalhos e análises com diferentes
interpretações sobre os objetos de estudo Olimpismo e Jogos Olímpicos,
como Jim Parry, Jose Maria Cagigal, Hans Lenk, Jeffrey Segrave, Ommo
Grupe, Da Costa.
O Prof. Ms Otávio Tavares nos apresenta em Referenciais Teóricos Para o
Conceito de Olimpismo um estudo que apresenta uma síntese de valores,
aspirações e objetivos do Olimpismo observados nos textos produzidos pelos
citados autores a respeito do tema e dos Jogos Olímpicos. Tavares observa:
“Assim, a partir do exame da literatura consultada, elaboramos um
constructo de Olimpismo que se compõe pelo delineamento de três idéias
gerais: Internacionalismo, entendimento e respeito mútuo Desenvolvimento harmonioso, físico e intelectual - Fair Play”.
A primeira idéia, segundo Tavares, é objeto de muita discussão e de
interpretações contraditórias quando discute a idéia de melhoria das relações
internacionais através dos Jogos Olímpicos.
Seriam os Jogos Olímpicos capazes de contribuir para tais causas? Não
seria uma ingenuidade acreditar em tal poder? Se observarmos a óptica de
Coubertin e soubermos compreender quais eram os seus conceitos e idéias a
respeito do Olimpismo e dos Jogos, poderemos avaliar melhor a capacidade
dos Jogos em exercer uma função pedagógica. Como afirma Tavares:
“Na crença em sua ‘pedagogia esportiva’, os Jogos deveriam realizar ‘o
valor educacional do bom exemplo’, institucionalizando o livre encontro de
atletas do mundo num plano de igualdade e respeito mútuo e, assim, neste
110
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
contexto, ser ‘ um potente, ainda que indireto, fator de paz universal’
(Coubertin, in: Segrave, Ibid., p. 154)”.
Temos a contraposição da “pedagogia esportiva” de Coubertin orientando
os ideais do Olimpismo e o contexto geopolítico, com toda a sua influência
sobre os Jogos.
A segunda idéia, a respeito de um desenvolvimento harmonioso, físico e
intelectual, um vez mais nos defronta com uma visão educativa do esporte,
assim como uma concepção um tanto romântica dos Jogos Olímpicos.
O desenvolvimento equilibrado das potencialidades físicas, intelectuais e
culturais fundamenta a noção de Coubertin sobre Olimpismo, e seria capaz de
evitar que os Jogos fossem desvirtuados pela participação de atletas
transformados em “gladiadores de circo” (Grupe, Op.Cit., p 136). Alguma
semelhança com os atletas olímpicos contemporâneos?
O idealizado Olimpismo do Barão de Coubertin defrontado, uma vez mais
com o a realidade dos Jogos do final do século.
A terceira idéia, a do fair-play, é provavelmente uma das mais discutidas e
estudadas sempre que discutimos o papel e a importância do esporte na
sociedade, assim como as grandes competições esportivas.
Segundo Tavares, podemos desenvolver dois conceitos de fair-play, sendo
um deles de caráter formal e outro informal. O fair-play formal estaria ligado
ao cumprimento de regras e regulamentos das competições. Já o fair-play
informal estaria baseado em valores morais e éticos dos atletas. Um elemento
de grande subjetividade.
Embora os regulamentos e as normas das competições esportivas
procurem proporcionar um ambiente de competição justo e equânime para os
competidores, as maiores dificuldades encontradas pelos organizadores,
árbitros e mesmo atletas, demonstram a falta do chamado fair-play informal de
uma parcela dos competidores.
O fair-play informal poderia ser entendido como está expresso no Código
de ética Esportiva do Conselho da Europa (1996):
“Cobre as noções de amizade, de respeito pelo outro e de espírito
esportivo, representa um modo de pensar, e não simplesmente um
comportamento. O conceito abrange a problemática da luta contra a batota,
a arte de usar a astúcia dentro do respeito às regras, o doping, a violência
(tanto física quanto verbal), a desigualdade de oportunidades, a
comercialização e a corrupção” (p.20).
Ainda segundo Tavares:
“... na esfera olímpica, considerando a dupla dimensão do fair-play, o
esporte deve ser praticado dentro do respeito às regras, aos árbitros e aos
adversários, recusando vantagens injustificáveis e meios ilegítimos.
Portanto, demonstrar que a vitória só deve ser alcançada através da
111
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
honestidade e da justiça, aceitar a derrota, respeitar adversários e árbitros
torna-se uma obrigação moral do atleta olímpico. Assim, as relações
humanas e o respeito à dignidade humana devem estar acima da busca da
vitória a qualquer preço, dando um sentido ético à participação no esporte
olímpico”.
Uma vez mais temos um conceito sujeito a críticas no tocante à sua
aplicabilidade no atual contexto dos Jogos Olímpicos. Certamente é desejável
que os atletas olímpicos adotem tais comportamentos durante as competições,
mas é cada vez mais comum encontrarmos competidores que se utilizariam de
recursos proibidos e condenáveis para obterem a medalha de ouro. O
idealismo frente à realidade dos valores, ou da falta deles na sociedade
contemporânea, assim como no esporte profissional.
Os Jogos Olímpicos e a comercialização do Esporte
I - Os Primeiros Passos
Quando defrontamos os Princípios Fundamentais da Carta Olímpica, que
apresentam uma definição oficial do que é o Olimpismo e seus objetivos, com
a realidade das ultimas edições dos Jogos Olímpicos ficamos com impressão
de que a combinação de esporte, cultura e educação não se completa. Os
eventos esportivos dos Jogos Olímpicos Modernos são muito mais difundidos
e reconhecidos pela sociedade do que eventos culturais ou projetos de cunho
educacional (como as Academias Olímpicas Nacionais e a Academia Olímpica
Internacional) apoiados pelo COI.
Devemos acompanhar a evolução histórica dos Jogos Olímpicos para que
possamos ter uma melhor compreensão dos elementos que influenciaram a
transformação dos Jogos Olímpicos.
Desde o início dos Jogos Olímpicos da era moderna as competições
tiveram que conviver com outros interesses não relacionados ao esporte, mas
sim aos aspectos geopolíticos e econômicos em diferentes momentos
históricos.
O próprio Barão de Coubertin teve de enfrentar os problemas de se por
em prática aquilo que fora idealizado. O idealismo do Barão enfrentou as
dificuldades práticas, problemas com os custos dos jogos (aspecto econômico)
e no trato com as autoridades (aspecto político) dos países que se
candidataram para realizar os Jogos Olímpicos.
Segundo Lancellotti em Olimpíada 100 anos – A História Completa dos
Jogos, o Barão de Coubertin conseguiu realizar os Jogos de Atenas em 1896
graças à inestimável contribuição de um mecenas, um arquiteto bilionário
chamado Georgios Averoff. Segundo Lancellotti:
“... O arquiteto já havia financiado a construção de três escolas em Atenas,
Por que não salvaria também os Jogos? Averoff aceitou o encargo. No
recorde de dezoito meses, projetou e pessoalmente dirigiu a construção de
112
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
um novo estádio, o Panathinaikos, em Atenas, importou da Dinamarca o
velódromo do ciclismo e, ainda cedeu o equivalente a US$ 100 mil, uma
fortuna descomunal, naquela época, para a realização de outras obras” (p.4).
Mesmo com o apoio da monarquia grega, do rei George I e de seu filho
Constantino, o Barão teve de enfrentar a oposição do ministério civil grego, na
figura do premier Charilos Tricoupis. O dinheiro para a realização dos Jogos
deveria sair de algum lugar e os cofres públicos não poderiam arcar com
tamanha despesa.
Uma manobra política bem arquitetada acabou dando ao filho do rei
George I, Constantino, um esportista praticante, o poder para demitir o
premier Tricoupis e aprovar a realização dos jogos. A resistência dos políticos
de oposição foi vencida pela generosidade do mecenas Averoff, que com suas
“contribuições” aos renitentes oposicionistas conseguiu liberar o caminho para
a organização dos jogos em Atenas.
É interessante lembrar que o mecenas Averoff também foi generoso para
consigo mesmo, ao custear uma estátua de mármore em sua honra, em
tamanho natural, como um reconhecimento à contribuição de quem estava
pagando a conta da festa.
Podemos observar que, desde seu início, os Jogos Olímpicos sofreram
influências políticas e econômicas, reforçando a necessidade dos organizadores
em desenvolver as melhores relações possíveis com os detentores do poder,
tanto político quanto o econômico.
Com o a evolução dos Jogos Olímpicos ficou patente a necessidade do
apoio dos governos dos países candidatos a receber os Jogos, assim como a
importância da obtenção de recursos para a realização do evento.
Os governos não podem dispor do volume de recursos necessários para
arcar com todo o custo dos Jogos. Mesmo em países ricos como os Estados
Unidos, a dependência do dinheiro de grandes corporações é clara. Grande
parte do dinheiro que viabiliza o evento vem de grandes corporações que
investem no marketing esportivo.
II - Marketing Esportivo – Do Genial Sapateiro Alemão ao TOP.
Uma mudança importante no perfil dos Jogos Olímpicos ocorreu a partir
do final da segunda grande guerra mundial. Surge a figura de um
empreendedor no esporte internacional, um homem que daria os primeiros
passos para construir o que hoje conhecemos por esporte espetáculo e o
marketing esportivo. Não se tratava de um nobre francês, de um mecenas
grego, nem de um industrial norte americano. Estamos falando de um
“sapateiro”. Sim, um sapateiro alemão. Horst Dassler, filho de Adolf “Adi”
Dassler, o fundador da Adidas Alemã.
Ele reforçou a ideia criada pelo pai, Adolf, de que “os vencedores usam
Adidas”, e travou uma grande batalha com a Puma (pertencente ao tio
113
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
Rudolph Dassler) no jovem e promissor mercado de artigos esportivos. O
senhor Dassler foi um dos pioneiros.
O jovem alemão não era apenas um “sapateiro”, mas um homem de visão.
Horst não só aumentou o “império” da Adidas, como também criou uma
empresa de marketing esportivo, a ISL, para trabalhar com eventos esportivos.
Na época poucas foram as pessoas que perceberam as grandes oportunidades
de se ganhar dinheiro com o esporte.
Dassler se associou ao neozelandês Patrick Nally, um especialista em
relações públicas e marketing, a pessoa que faria a união entre comércio e
esporte, ficando a parte política com o próprio Horst. Para consolidar sua
posição (da Adidas) no mundo dos esportes, nada melhor do que estar junto
aos dirigentes responsáveis pelas modalidades e pelos eventos esportivos mais
importantes do mundo. O alemão tratou de estreitar seu relacionamento com
os presidentes do COI, Sr. Juan Antonio Samaranch, da FIFA, na época o Sr.
João Havelange, e da IAAF (Federação Internacional de Atletismo Amador),
na época o Sr. Primo Nebiolo.
Segundo Simson e Jennings, em Os Senhores dos Anéis, o alemão ajudou a
criar a base da estrutura sobre a qual estamos trabalhando com o esporte e os
eventos esportivos internacionais.
As grandes competições passaram a atrair o interesse de grandes
corporações, não somente de produtos e artigos esportivos, mas também de
empresas interessadas em associar a sua imagem e a de seus produtos aos
Jogos Olímpicos e aos seus ideais. Era o começo de um trabalho de marketing
que evoluiria, resultando em programas como o TOP – “The Olympic
Partnership Program” do COI.
O marketing esportivo assumiria papel de grande importância para o
desenvolvimento do esporte mundial, assim como das competições esportivas,
com conseqüências positivas, mas também gerando sérios problemas e
conflitos com os ideais do Olimpismo.
Os investimentos em marketing esportivo devem proporcionar retorno aos
patrocinadores. É pouco provável que encontremos um mecenas como o Sr.
Averoff nos dias de hoje. O melhor retorno possível está na associação do
patrocinador à imagem do vencedor, do campeão. A valorização da
competição e da participação dos atletas confronta-se com a necessidade da
vitória. Ideais olímpicos versus ideais comerciais. Um problema que vem
sendo abordado nas ultimas edições dos Jogos Olímpicos.
Conclusão
Em Os Senhores dos Anéis, Simson e Jennings discutem em 1992
problemas dos Jogos Olímpicos Modernos que estão novamente em pauta na
virada do século. Os ideais olímpicos, do Olimpismo estariam sendo
preservados e difundidos nos Jogos Olímpicos? O poder, o dinheiro e as
114
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
drogas não estariam destruindo os ideais do Olimpismo, os ideais do Barão de
Coubertin?
Como reflexo do contexto no qual está inserido, o esporte deste final de
século é um fenômeno global, sendo um instrumento, um meio de transmissão
de valores e de normas.
É precisamente tal capacidade que nos preocupa e requer maior atenção.
Que tipo de valores, que tipo de idéias, que tipo de normas devem ser
valorizadas e difundidas pelo esporte, através de seus eventos globais (Jogos
Olímpicos e Campeonatos Mundiais)?
A imagem mais difundida e valorizada em tais eventos é a do vencedor, a
do campeão olímpico, com poucas referências ao competidor (Carta
Olímpica). Está claro que vivemos numa sociedade altamente competitiva, na
qual só é extremamente valorizada a vitória.
Podemos seguir uma proposta baseada nos valores do Olimpismo,
trabalhar para que o esporte seja instrumento de valorização da ética, da moral,
da paz e da tolerância entre os povos.
O grande desafio dos dirigentes esportivos é encontrar um ponto de
equilíbrio entre os valores difundidos pelo Olimpismo e as características
encontradas no esporte de alto rendimento na virada do século, cujo objetivo
final é performance, é vencer e apresentar um grande espetáculo.
Certamente a busca da melhor performance é um objetivo de todos os
atletas, e consideramos legítima tal aspiração, a busca pela superação de seus
próprios limites. A grande questão é saber distinguir entre a busca de
superação dos limites individuais utilizando-se de meios legítimos, tendo como
referencial a melhoria de seus próprios resultados, e a busca da superação de
todos os limites, utilizando-se de quaisquer meios, inclusive os ilegítimos, sem
nenhuma noção de “fair play”, para alcançar a vitória a qualquer preço.
Seria ingenuidade de nossa parte imaginar a realização dos Jogos Olímpicos
nos moldes atuais sem a contribuição dos patrocinadores, uma vez que mesmo
em países ricos, os governos não podem custear com dinheiro público tal tipo
de evento.
Segundo afirmação do Sr. Pound (membro do COI e chefe da comissão de
marketing), no site do COI na Internet:
"Take away sponsorship and commercialism from sport today and what is
left? A large, sophisticated, finely-tuned engine developed over a period of
100
years-with
no
fuel."Richard
W.
Pound,
Q.C.
Vice President, IOC Executive Board and Chairman of Marketing Commission.
Não podemos negar a importância dos patrocinadores e da
comercialização do esporte. O esporte hoje, sem patrocinadores, é como um
sofisticado motor sem combustível. Devemos, isso sim, buscar tal participação
sem perdermos de vista os ideais do Olimpismo.
115
Jogos Olímpicos do Século XXI:
O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio
Sabemos que o esporte e o espetáculo esportivo são produtos. Ao tratar o
esporte e os eventos esportivos como produtos, os dirigentes passaram a ter a
preocupação com a comercialização dos mesmos. Um produto bem vendido
pode gerar ganhos que podem financiar, não somente o evento esportivo,
como o desenvolvimento do esporte como fator de educação dos povos e
difusão dos ideais do Olimpismo.
Uma interessante iniciativa que contribui para a difusão dos ideais do
Olimpismo é a da Solidariedade Olímpica, que se utiliza recursos obtidos junto
aos meios de comunicação que transmitem os Jogos Olímpicos para
desenvolver diversos programas de auxílio aos CONs, particularmente para
aqueles que não podem dispor de maiores recursos financeiros.
Os recursos da Solidariedade Olímpica, que no período de 1997 / 2000
somaram a quantia de US$ 121.900.000,00, são alocados em diversos
programas, incluindo aqueles relacionados aos CONs, dos quais oito
programas atendem a todos os CONs e quatro deles especialmente aos
Comitês Olímpicos Nacionais mais pobres.
A utilização de recursos advindos da comercialização dos direitos de
transmissão dos Jogos Olímpicos e dos patrocinadores do evento pode ser um
boa iniciativa na busca da valorização e divulgação dos ideais do Olimpismo.
Tais recursos podem financiar a democratização do acesso à informação,
melhorar a qualificação dos profissionais da área esportiva e facilitar o
intercâmbio de informações e experiências entre representantes de diversos
países. A busca do equilíbrio entre os interesses comerciais dos patrocinadores
com os ideais do Olimpismo.
Referências Bibliográficas
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CONSELHO DA EUROPA. Código de ética esportiva. Oeiras: Câmara Municipal
de Oeiras, 1996.
DACOSTA, L.P.Olympism and the Equilibrium of Man. Texto Apresentado no
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116
Jogos Olímpicos do Século XXI:
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TAVARES, O. Referenciais teóricos para o conceito de ‘Olimpismo’ . In: ESTUDOS
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SIMSON,V., JENNINGS, A. Os senhores dos anéis. Círculo do Livro, São Paulo,
1992.
117
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
Ana Flávia Paes Leme de Almeida - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RS
Lamartine Pereira DaCosta - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RS
Resumo
O aumento da participação no esporte tem intensificado sua importância
social, sociopolítica e mais recentemente econômica. O esporte hoje,
principalmente o de alto nível, atinge uma grande massa populacional, seja
diretamente (atletas, treinadores etc.), ou indiretamente (espectadores,
patrocinadores etc.). Conseqüentemente os ganhos com ele são cada vez mais
frutíferos, com fama, fortuna ou poder. Isto nos faz refletir, sob o ponto de
vista ético, as relações vividas pelo atleta. Através de revisão de literatura
técnica e leiga, o presente estudo tem o objetivo de verificar o estado atual
destas relações, assim como, a forma como o Movimento Olímpico e as
entidades relacionadas a ele têm influenciado nas mesmas.
Palavras-chave: Ética – Atleta – Movimento Olímpico
Abstract
The increase in sport’s participation has developed its social, political and,
more recently, economical importance. Nowadays, elite’ sports reach either
directly (athletes, coach, etc.) or indirectly (expectators, sponsors, etc.) a big
mass of the population. In consequence, there has been much more fruitful
gains to the one’s involved, like fame, power and fortune. From an ethical
point of view, one can reflect about the relations experience by the athletes of
our time. Through an analyses of wide range of literature, this study aims to
verify the present state of these relationships and how the Olympic Movement
and entities related have influenced on them.
Key words: Ethics – Athlete – Olympic Movement
Introdução
Citius, altius, fortius. Essas palavras em latim, que significam cada vez mais
longe, cada vez mais alto, cada vez mais forte, e que se transformaram no lema
dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896, nunca foram
levadas tão a sério como neste final de milênio. Auxiliados pela moderna
tecnologia, pelo desenvolvimento da medicina, pela evolução dos métodos e
materiais de treinamento e financiados por grandes patrocinadores, atletas dos
mais variados esportes estão progressivamente mais próximos de seus limites.
Mas parece que, apesar de todo o empenho do Movimento Olímpico para
modificar tal quadro, o atleta de alto nível tem sofrido constantemente danos,
às vezes irreparáveis, provenientes de patrocinadores mal intencionados,
abusivo poder dos meios de comunicação, treinadores equivocados, mau uso
118
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
da tecnologia e etc. Este é um diagnóstico preocupante sobre cujas
conseqüências ainda não se refletiu suficientemente. O presente trabalho de
revisão tem a intenção de verificar o estado atual da ética nas relações vividas
pelo atleta.
Enquanto tal, a delimitação escolhida para este estudo é referida a um
painel de informações técnicas e do conhecimento comum da mídia, para que
possa dar partida a pesquisas mais formalizadas.
Desenvolvimento
O esporte tem evoluído muito, seja pela tecnologia nele aplicada, seja pela
diversidade de atividades esportivas hoje existentes, seja pela quantidade de
pessoas que ele atinge. Segundo Bracht 1999, com o crescimento do valor
dado ao esporte tanto na esfera sociopolítica quanto na econômica, procurouse através da ciência, garantir o sucesso esportivo.
“O aumento da importância social do esporte, principalmente da
importância sociopolítica (e mais recentemente econômica), requisitou os
serviços da ciência, para eliminar o acaso, o imprevisto, e, assim garantir o
sucesso. Basta ver o incremento das investigações em torno do esporte e a
partir da sua inserção nos movimentos da Guerra Fria e, mais
recentemente, com a transformação do esporte num segmento
importantíssimo da economia mundial” (p.87).
Do ponto de vista econômico, há um aumento progressivo e, que merece
consideração, da atividade esportiva, como identifica Lovisolo (2000): “(...) o
crescimento da participação das rendas dos esportes no PIB é constante e
significativo nos últimos anos. A formação dos clubes-empresas reflete esta
importância” (p.29).
Os próprios meios de comunicação, em particular a televisão, têm
dedicado mais tempo à programação esportiva. A revista Veja publicou uma
reportagem que deixa bem claro este aspecto: “O esporte é, cada vez mais,
um chamariz de telespectadores. Estima-se que 20% do faturamento dos
canais venham deste segmento. Para se ter uma idéia, em 1997 a Globo
colocou no ar 234 eventos esportivos. No ano passado, este número pulou
para 329” (p.133).
Diante destas constatações, podemos perceber que o esporte,
principalmente o de alto nível, hoje, atinge uma grande massa populacional
(direta ou indiretamente) e desta forma ele pode ser a mola para o ganho de
fama, lucro e poder. Isto nos faz refletir, sob o ponto de vista ético, as relações
vividas pelo atleta.
O atleta se tornou o centro de critérios de adoção e interesse do
empreendimento esportivo de alto nível. E no processo de treinamento e
competições, que no qual há relações de interesse e trocas atleta/treinador,
atleta/instituições, atleta/patrocinadores, o atleta se encontra como
119
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
destinatário final do sistema. O exame dos destinatários sob o ponto de vista
da ética de aplicação de métodos e técnicas de treinamento é então, de
fundamental importância, uma vez que o foco sobre o método instrumentaliza
o atleta aviltando-o em sua integridade física social e mental.
O Movimento Olímpico tem enfocado seu trabalho em modificações a
serem feitas em prol da ética e das relações dos atletas de uma forma geral.
O objetivo do Movimento Olímpico por suas últimas proposições formais
é contribuir com o crescimento da paz e um mundo melhor através da
educação dos jovens pela prática do esporte sem qualquer tipo de
discriminação com entendimento mútuo do espírito de amizade, solidariedade
e fairplay. Em geral o Movimento Olímpico prega relações de dignidade, de
respeito e de conduta ética, embora na prática tais valores poucas vezes são
lembrados ou transformados em intervenções pouco apropriadas.
Respeito pelas pessoas que praticam os esportes olímpicos é permitir que
os participantes cresçam como atleta e como pessoa, respeitando seus direitos
de atletas e tratando-os de forma justa e ética durante todo processo de
treinamento. Isto tem tido o significado de ampliar o poder dos atletas nas
decisões que lhes possam atingir.
O Movimento Olímpico vê os Jogos Olímpicos como a atividade de maior
representação simbólica do Movimento, e com isso o esporte e os atletas são
permanentemente o seu foco. Para o Movimento Olímpico os atletas têm
muito a oferecer, porque eles vivem o Olimpismo na prática.
Porém, Lovisolo observa que quando nos situamos do ponto de vista da
intervenção, portanto, o treinamento:
“emerge um discurso valorativo, que critica o atleta por sacrificar tudo à
performance, ao desempenho, esquecendo ou sacrificando outros valores,
morais e intelectuais, na procura de mais força, altura e velocidade...canta-se
à potência e pretende-se elevar as possibilidades do corpo a seus limites.
Sob o ponto de vista fisiológico, usam-se indicadores de avaliação
específicos e diferentes dos presentes na fisiologia da normalidade...
convoca-se, para a aventura de fazer possível o impossível lidando com
incertezas e riscos e, mesmo, com a possibilidade de perder a saúde, quando
não a vida, nessa procura. Incita-se competir, a lutar, a superar-nos e a
superar os outros, a alcançar a glória, o reconhecimento público e
consideráveis retornos financeiros”.
Um exemplo prático deste relato do Lovisolo é o doping. Ele não apenas
aumenta os riscos de saúde, mas também destrói a integridade de quem
participa do esporte. O atleta que se dopa não compete em igualdade de
condições com seus adversários e está usando de meios ilícitos para se obter
vantagem na competição. O doping afeta todos os atletas, aqueles que são
honestos e os que não são. Um “campeão” que trapaceia não é um campeão.
O atleta que se dopa nunca terá a satisfação de testar seus reais limites numa
120
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
competição limpa com os outros. E ainda, o doping destrói a reputação e
integridade de uma vasta maioria de atletas que não se dopam.
Doping não é uma crise da medicina ou da ciência, mas uma crise de
valores éticos esportivos. A solução não é apenas punir e controlar duramente,
apesar destas atitudes serem necessárias, mas, sobretudo gerar mudanças nas
atitudes; concordar enfim que vencer trapaceando não é ser realmente um
vencedor.
Na questão do doping, com relação as repercussões das pesquisas nas
Ciências do Esporte, Bracht nos informa que na Alemanha já se pensa à
respeito: “A Sociedade Alemã de Ciência Desportiva, no Congresso de 1992
(Oldenburg), tomou posição a respeito da pesquisa em torno de substâncias
dopantes, dizendo que a comunidade científica precisa assumir a
responsabilidade política que a ela cabe nesses casos” (p.90).
Como não podia ser diferente, a instituição maior do esporte internacional
o Comitê Olímpico Internacional (COI), vem discutindo algumas destas
questões, que veremos a seguir.
O avanço e o investimento em pesquisas aplicadas ao esporte é grande.
Pesquisas no campo da Fisiologia do Esforço, na Psicologia esportiva, na
Biomecânica do Movimento, na Nutrição é crescente. E a partir dos
descobrimentos científicos feitos com elas, o atleta conta com um arsenal
tecnológico para a busca contínua da eficiência com menor esforço.
Neste contexto, podemos perceber que, as implicações éticas do trato
social existente dentro do processo de treinamento tem tido maior ênfase à
vista de uma ciência cada vez mais eficiente e atletas mais vulneráveis a seu
domínio. Lovisolo afirma que:
“Desenvolvem-se conhecimentos, teóricos e práticos, no campo da
fisiologia do esporte, da biomecânica e no de uma psicologia aplicada que
pretende, ao mesmo tempo, controlar os efeitos negativos do estresse e da
agressão mantendo alta a chama da motivação. Como produto, além de se
baterem recordes, consolidam-se conhecimentos teóricos e observações
práticas no campo específico da teoria do treinamento, que guia a
intervenção.”(p13)
É neste contexto de reflexões que Lovisolo é levado a falar do esporte
em relação a saúde: “(...) tornou-se cada vez mais difícil identificar a prática
do esporte olímpico ou profissional e mesmo amador, com saúde ou qualidade
de vida. A equação que vinculava esporte profissional ou competitivo e saúde
parece haver quebrado”(p.15).
Com o desenvolvimento constante da ciência aplicada ao esporte, hoje
temos conhecimento disponível para levar os atletas a pontos cada vez mais
elevados de performance. Além disso, geram-se crescentemente novas
tecnologias para incrementar tal desempenho. A utilização da tecnologia para o
121
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
treinamento é legítima enquanto importante ferramenta para buscarem-se
resultados mais satisfatórios. Mas há de se estabelecer limites para a utilização
da tecnologia, porque o poder da ciência hoje é incomensurável podendo
provocar prejuízos irreparáveis à vida e a saúde do atleta.
Consolida-se assim, a idéia de limites necessários para orientar o
treinamento como também estabelecer critérios na aplicação, o que leva a
preceitos de natureza ética.
Mas até onde vão estes limites? Como delimitar a aplicação de descobertas
científicas ao esporte?
No início de 1999, foi publicada uma reportagem no jornal O Globo que
se intitulava Os desafios do esporte no século 21. Em síntese, esta reportagem trazia
a discussão da tese de que o corpo humano não tem limites.
“No início do século, não se imaginava que, em pouco menos de cem anos,
os cientistas pudessem criar aquele que seria o atleta perfeito, com a ajuda
da engenharia genética. Apesar da questão ética sobre a fabricação de seres
humanos ainda ser discutida, dentro de algum tempo os engenheiros
poderão colher os genes com as virtudes dos melhores atletas do mundo,
implantar em uma pessoa e criar um ser capaz de transformar em pó
recordes hoje tidos como imbatíveis” (p.45).
Ainda na mesma reportagem algumas personalidades de nome como
Joaquim Cruz, ouro nos 800 metros nas Olimpíadas de Los Angeles em prata
em Seul, acredita que a força da mente (treinamento psicológico) poderá ser
responsável pela quebra de marcas hoje consideradas insuperáveis. Já para o
técnico Luiz Alberto de Oliveira responsável pela preparação de atletas de alto
nível, acredita que nem mesmo as mais modernas técnicas podem fazer o
homem superar os seus limites físicos e clínicos, que diz estar muito próximos.
Ele constata isto quando aumenta a carga de treino e o atleta sofre fratura por
estresse ou distende um músculo. Luiz comenta que, é aí que entram as drogas,
acredita que no final do século 21, teremos atletas biônicos. Outro atleta de
renome Ademar Ferreira da Silva, ganhador das medalhas de ouro nas
Olimpíadas de 1952, em Helsinque, e de 1956, em Melbourne, acredita que o
limite do homem está na ciência.
Mas até que ponto a ciência pode ajudar o homem a superar os desafios do
treinamento e a quebrar recordes sem prejudicar a saúde do atleta?
Conclusão
O que vemos hoje é uma quantidade importante de atletas com um
potencial incomum, mas ao mesmo tempo sujeitos à danos como contusões e
fraturas freqüentes, colocando inclusive a própria vida profissional em jogo.
Um exemplo bastante atual é do jogador de futebol brasileiro Ronaldinho.
Eleito o melhor jogador do mundo em 1997 e 1998, desde de 96 vem sofrendo
lesões sucessivas em seus dois joelhos. No último dia 12 de abril, o atleta
122
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
sofreu ruptura total do tendão rotuliano e segundo os médicos, está em risco a
sua volta aos campos de futebol. Mais do que isso foi uma declaração lida no
mesmo jornal O Globo do dia 14 de abril de 2000, em que dizia que a cúpula
do futebol anunciou planos de introduzir um calendário que permita aos
jogadores um tempo para se recuperar das contusões. Permita-me aqui fazer
um breve comentário: Não seria mais ético construir um calendário mais
flexível para reduzir as contusões por estresse físico, ao invés, de construir um
com a intenção de recuperar atletas contundidos?
Em dezembro de 1999, em Lausanne foi elaborado pela Comissão 2000
um Anteprojeto do Comitê Olímpico Internacional (COI), na sua 110ª Sessão,
visando a reforma daquela instituição maior do esporte. Neste documento
constam algumas recomendações que foram consideradas apropriadas em
termos de modificações na estrutura, regras e procedimentos do COI.
Neste projeto, a parte referida aos atletas conta com importantes
recomendações. Os atletas deverão ter uma organização adequada fornecendo
as melhores possibilidades para eles executarem suas tarefas, o que em termos
do COI corresponderá a organização de uma estrutura para o
desenvolvimento do trabalho da Comissão dos Atletas. A comunicação entre a
Comissão de Atletas do COI e outras comissões de atletas de diferentes níveis
- Federação Internacional de Esporte, Comitês Olímpicos Internacionais –
deverão ser pronunciadas e próximas. A Comissão de Atletas do COI e a
Associação Olímpica Mundial deverão cooperar juntamente para o
desenvolvimento do Movimento Olímpico visto que os dois representam os
atletas nos diferentes estágios de vida.
Os medalhistas olímpicos serão convidados a ter maior responsabilidade na
promoção do Olimpismo. E adicionalmente, a Comissão 2000 do COI apóia a
criação do Código do Movimento Olímpico Anti-Doping, que será
responsável pela educação preventiva, particularmente em atletas novos e
programas de reabilitação para atletas suspensos. Neste particular, a Comissão
citada deverá assegurar para os atletas igualdade de chances nas competições e
fairplay. Nesta visão, para estar qualificado para competir nos Jogos
Olímpicos, todo atleta deverá ter um passaporte que contenha todas as
informações precisas para tornar eficiente o controle de doping e monitorar a
saúde dos atletas. Desta forma, os esportes que não apoiarem o Movimento
Olímpico Anti-Doping serão excluídos nos Jogos Olímpicos.
A comissão do COI adverte que o atleta deve ser tratado como pessoa e
não como máquinas de performance. Eles devem possuir autonomia para
escolher seus próprios interesses e tomar decisões, não devem ser prejudicados
desnecessariamente (fisicamente ou mentalmente).
Ela é da opinião que o processo de reforma do COI ainda não chegou ao
fim com a implementação destas recomendações. Este processo é continuo
visto que o COI é afetado por numerosas e rápidas mudanças e tendências no
123
Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo
mundo, como a globalização, a mudança de valores e a revolução nas
comunicações. Evidentemente, tal reforma partiu de problemas institucionais
(comercialização excessiva, corrupção de dirigentes etc.), mas do ponto de
vista de destaque no perfil do atleta em suas relações sociais, há que se
conjugar com o problema científico do treinamento.
Estamos ainda, num início de processo de renovação do esporte olímpico e
dos esportes em geral. E, neste caso, o papel da ciência é de acompanhar e
avaliar. Neste propósito, insere-se a presente comunicação que pretendeu –
nos limites de suas possibilidades de acesso – estabelecer alguns pressupostos
de base.
Nestes termos, sugiro que novos estudos sobre as relações éticas no
contexto esportivo sejam feitos a fim de delimitar o papel das entidades e
pessoas relacionadas ao esporte e rever os direitos dos atletas como
profissional e ente humano. É igualmente importante que sejam feitos estudos
que identifiquem nos atletas seus valores, concepções e atitudes a respeito do
Olimpismo em seus múltiplos aspectos. Tavares (1998) apresentou um estudo
bastante interessante no qual identificava as atitudes dos atletas brasileiros que
participaram dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em relação aos valores
proclamados do Olimpismo.
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(in)feliz, Rio Grande do Sul, Ed. Unijuí, 1999.
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Mestrado). Rio de Janeiro: PPGEF/UGF, 1998.
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124
O Esporte no 3o Milênio
Luciana Marins Nogueira Peil - Universidade Federal de Pelotas/RS
Resumo
A passagem do Milênio e a chegada de um novo século são fatores que
aguçam, por assim dizer, a imaginação e a ansiedade da maioria das pessoas. A
perspectiva de mudanças nem sempre suaves, mas talvez necessárias, parece a
muitos amedrontar. À esta passagem, tão inquietante, ao 3o Milênio relaciono o
Esporte, foco de reflexão deste texto.Como será ou o que será o Esporte no 3o
Milênio? O Esporte é uma atividade que contempla ao mesmo tempo a
dimensão lúdica (o jogo), o sentido de superação (a competição, o agonismo),
o movimento humano e uma estrutura regulamentaria formal. Sendo este uma
criação cultural, ele encerra fatores presentes em cada um de nós. Justamente
por ter esta condição tão humana, o Esporte é sujeito às mais variadas
interpretações e utilizações. A passagem ao 3o Milênio enseja uma reflexão e
uma reavaliação de valores. Existe neste instante o ressurgimento do
sentimento de grupo, de tribo. Na prática do Esporte se pode identificar este
sentimento. Por isto o Esporte atrai à sua prática pura e simples. Ele
contempla nossa condição humana. O homem faz a cultura, a cultura faz o
Esporte. Façamos do Esporte no 3o Milênio, o que acharmos que ele deve ser.
Palavras-chave: Esporte, valores, cultura, pós-modernidade.
Abstract
The passage of the Millennium and the arrival of a new century are factors that
sharpen, so to speak, the imagination and the anxiety of most of the people.
The perspective of changes not always soft, but perhaps necessary, it seems
many to scare. To the this passage, so disturbing, to the 3o Millennium do I
relate the Sport, will focus of reflection of this text. How be or the one what
will the Sport be in the 3o Millennium? The Sport is an activity that
contemplates the dimension playful at the same time (the game), the surpass
sense (the competition, the agonismo), the human movement and a formal
regulatory structure. Being this a cultural creation, he contains present factors
in each one of us. Exactly for having this such human condition, the Sport it is
subject to the most varied interpretations and uses. The passage to the 3o
Millennium opportunity the reflection and a revaluattion of values. It exists in
this instant the resurgence of the group feeling, of tribe. In the practice of the
Sport it can identify this feeling. For this reason the Sport attracts to its pure
and simple practice. He contemplates our human condition. The man makes
the culture, the culture he makes the Sport. Let us do in the 3o Millennium of
the Sport, what think he should be.
Key words: Sport, values, culture, pos-modernity.
125
O Esporte no 3o Milênio
A passagem do Milênio e a chegada de um novo século são fatores que
aguçam, por assim dizer, a imaginação e a ansiedade da maioria das pessoas. A
perspectiva de mudanças nem sempre suaves, mas talvez necessárias, parece a
muitos amedrontar. À esta passagem, tão inquietante, ao 3o Milênio, relaciono
o Esporte, foco de reflexão deste trabalho. Como será ou o que será o Esporte
no século XXI?
Primeiramente, julgo necessário colocar o que entendo como Esporte, para
que o leitor fique claramente situado. Não falo de uma atividade física
qualquer, mas sim, de uma atividade que contempla ao mesmo tempo a
dimensão lúdica (o jogo), o sentido de superação (a competição, o agonísmo),
o movimento humano e uma estrutura regulamentaria formal. Entendo que as
três primeiras características são dimensões fundamentais tanto do Esporte
como da vida, sendo a última característica fundamental ao Esporte, não
obrigatória em outras instâncias da vida, mas obrigatória para que se considere
uma atividade física como Esporte. Talvez possamos à partir daí, começar a
entender porque o Esporte é tão atrativo e fascinante para a maioria das
pessoas. Ele encerra fatores presentes em cada um de nós, enquanto seres
humanos e criadores de cultura.
CAGIGAL (1985) coloca que o Esporte nasceu da canalização e
conseqüente ritualização em forma de jogo, da raiz competitiva que o homem
herdou da luta pela sobrevivência nos tempos imemoriais.
HUIZINGA (1996) menciona que o Esporte deriva da competição
originária nas atividades do homem desde o início dos tempos e que o sentido
agonístico que as animava, assegurava-as como jogo.
Existe, portanto, na prática do Esporte uma catarse, uma representação da
própria vida. O Esporte contempla toda nossa dimensão humana.
SEIRUL-LO (1992), nos fala dos valores básicos do Esporte enquanto
produto do próprio homem: o valor agonístico, o valor lúdico e o valor
erótico. O valor agonístico (termo de origem grega), trata da intencionalidade
competitiva, trata da luta contra algo ou alguém, que inclusive pode ser eu
mesma. Trata do sentido da luta pela superação, pela melhora, pela evolução.
A competição que pode ter o sentido do esforçar-se junto a alguém, o sentido
de questionar juntos. O valor lúdico (termo de origem latina), trata do jogo,
trata da brincadeira que não descarta as regras, mas que tampouco descarta o
prazer de jogar. Trata do que se faz porque se quer fazer, porque se gosta.
Trata do divertimento. O valor erótico, que não deve ser interpretado na
acepção sexual propriamente dita, trata do prazer de sentir o próprio corpo na
atividade esportiva, de vivenciá-lo. Trata do prazer do movimento como meu.
Não pretendo substituir o prazer sexual pelo prazer do Esporte, mas sim
salientar o prazer de se movimentar praticando Esporte. Não seria este um
prazer também? O valor erótico propõe que o Esporte pode ser fonte de
hedonismo, de prazer, valorizando a questão estética.
126
O Esporte no 3o Milênio
O Esporte nasceu da vida, nasceu do homem, nasceu da sociedade e como
nos lembra CAGIGAL (1981), existe nele um ancestralismo primitivo, uma
busca de êxtase que está em toda a festa. Ele diz que o Esporte é no fundo,
uma festa social. É uma atitude fundamentalmente festiva, entendendo-se esta,
como uma busca de sentir-se pleno, eufórico e vitalmente realizado. A
esportividade é esta atitude que nos fala em esforço, em busca da superação,
em seriedade com leveza e bom humor. É uma maneira de estar na vida, de
estar no mundo. A atitude esportiva revela a nossa condição humana e
pretende nos diferenciar bastante do animal.
Mas... Um momento... Este Esporte do qual estou falando é o Esporte que
se vê hoje em dia? Realmente não é. A crítica mais severa que se faz ao
Esporte é de que ele assumiu os valores capitalistas. Assumiu os valores do
lucro, do gerenciamento empresarial e do alto rendimento. Fala-se também da
vitória a qualquer preço e de que o segundo lugar nada vale. Na busca da
vitória, a ética se torna de caráter duvidoso, valendo a máxima de que os fins
justificam os meios. O doping é um bom exemplo desta distorção ética.
Com objetivo do lucro e do alto rendimento, o homem se tornou um
produto, uma mercadoria rentável e o Esporte, um meio de dominação. Vários
são os autores que denunciam estes aspectos: Jean-Marie BROHM, Ommo
GRUPE, Pierre BOURDIEU, Elenor KUNZ, Silvino SANTIN, etc.
O Agon, o Ludus e o Erótico conservam a própria identidade do Esporte.
O lúdico é o contra-ponto do sentido agonístico, mas a sociedade de hoje,
guiada por poderes econômicos, faz com que o Agon se sobreponha ao Ludus.
Portanto, a competição a qualquer preço, o uso de meios ilícitos, a seriedade
que não deixa espaço para a brincadeira e o prazer, a distorção ética, o uso do
ser humano como mercadoria, não são valores originais do Esporte, mas sim,
utilizações e interpretações do fenômeno por pessoas que visam interesses que
estão além do Esporte.
“O desporto é, assim, penetrado por fatores que, num primeiro momento,
são estranhos à sua essência original, mas que tendem e porfiam não apenas
numa pervesão desta, mas, sobretudo em criar e difundir entendimentos e
realidades divergentes e até opostas. Ou seja, o conflito instala-se ao nível
dos sujeitos, dos interesses, dos motivos e dos objetivos” (BENTO,
1989:32).
“Ocorre que o desporto, como qualquer acontecimento cultural, é sujeito a
direcionamento de acordo com intenções externas à manifestação,
ganhando sempre novos significados. Em outras palavras, o desporto é um
jogo de significado intrínseco, mas que se torna extrínseco de forma variada
no tempo e no espaço” (DACOSTA, 1996:46).
É necessário resgatar o Esporte na sua origem, bem como desmistificá-lo
como prejudicial aos interesses humanistas e denunciar sua má utilização por
interesses diversos. Para muitos, esta é uma postura ingênua e romântica.
127
O Esporte no 3o Milênio
Neste mundo calcado no racionalismo, julgo estar faltando a paixão. Julgo
estar faltando realmente acreditar em valores mais nobres. O cinismo impera.
Quem defende o Olimpismo, é tido como visionário. O fair-play é incentivado
pelos órgãos administrativos do Esporte, mas no interior dos vestiários e dos
gabinetes, conselhos são dados no sentido de burlar as regras de todas as
maneiras, mantendo-se é claro, as aparências. Acredito que a questão passe
realmente por uma reavaliação de valores. Reavaliação esta, presente na revisão
dos moldes da modernidade, que acontece neste final de século. A questão
passa pelo: “como devo agir?”, tão bem explorado por Bárbara FREITAG
(1992) em seu livro ITINERÁRIOS DE ANTÍGONA, o qual aborda
brilhantemente a moralidade e a ética. A questão, portanto, está colocada
indistintamente nas mãos de todos.
A passagem do Milênio enseja realmente uma reflexão e uma reavaliação
de valores. Esta atitude crítica, esta percepção diferente do que sempre se
disse, é o que se pode chamar de pós-modernidade. O pensamento pósmoderno nos fala através de autores como MAFFESOLI, MORIN e
BAUDRILLARD, no ressurgimento do sentimento de grupo. A sociedade
estaria recuperando estes valores. Existe um sentimento de se estar
separadamente juntos. Sentimento este que se pode constatar na rede da
INTERNET, na imagem que o satélite nos manda do outro lado do planeta
simultaneamente ao acontecimento, na facilidade das viagens aéreas,
etc...Existe uma rede invisível de ligações por afinidades de gostos,
sentimentos e necessidades. O indivíduo existe, mas não isolado. Ele está
ligado ao outro pela cultura, pela comunicação, pela moda e etc, a uma
comunidade, ou como diz MAFFESOLI (1987), a uma tribo.
Para compreender os novos modos de vida que renascem sob nossos
olhos, é necessário usar a alavanca metodológica que se chama perspectiva
orgânica do grupo. Nesta perspectiva, existe uma constante comunicação e
quando um membro é atingido, isto afeta todo o grupo. A pulsão comunitária,
a propensão mística e a perspectiva ecológica, que hoje se percebe, são
reveladoras do clima “holista” que sustenta o ressurgimento do solidarismo e
da organicidade de todas as coisas.
Este sentimento de se estar separadamente juntos, o sentimento da tribo, é
encontrado na prática do Esporte. Existe toda uma cumplicidade, afinidade e
compartilhar de sentimentos presentes no Esporte. Existe a identificação,
existe a organicidade, existe a comunidade, existe o grupo. Existe a necessidade
de se estar junto, de vivenciar com o outro para poder viver, para poder sentir.
Por isto o Esporte atrai à sua prática pura e simples. Existe uma busca da
humanidade neste sentido e a passagem ao próximo Milênio a isto leva. Este
compartilhar é inevitável, tanto dos maus acontecimentos quantos dos bons.
O Esporte pode ser melhor, nós podemos ser melhores. Deixe-me ansiar
por algo que está sempre a minha frente e não consigo alcançar! Deixe-me
128
O Esporte no 3o Milênio
sonhar com a utopia...O Esporte no 3o Milênio será o que nós quisermos que
ele seja. O homem faz a cultura, a cultura faz o Esporte. Não nos esquivemos,
portanto, da responsabilidade, negando o Esporte. Façamos dele no 3o
Milênio, o que acharmos que ele deve ser.
Referências Bibliográficas
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extremos. Campinas: Papirus, 1992.
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129
O Esporte no 3o Milênio
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130
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando
seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000.
Luciano Oliveira Ferroni – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre/RS
Alexandre Velí Nunes - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Resumo
Este artigo relata a experiência de recuperação pós-cirúrgica de um atleta de
Judô e seu retorno ao treinamento efetivo, de outubro à dezembro de 1999.
Inserida no Projeto de Preparação de Atletas de Alto Rendimento do Projeto
Bugre Lucena da Escola de Educação Física da UFRGS. Nesta experiência, foi
realizada a preparação física de um judoca que sofria luxações recidivantes, no
ombro direito. Em competição no Circuito Europeu no Torneio Cidade de
Paris 1998, ocorreu uma recidiva que foi a responsável pela decisão da cirurgia.
Retornando ao Brasil o atleta foi avaliado e constatado: Fratura e Lesão de
Banckart anterior e ântero-inferior da glenóide sendo encaminhado a cirurgia
em 15 de setembro de 1999 para recomposição dos ligamentos do ombro,
retornando às atividades físicas em 20 de outubro de 1999. Devido as
restrições médicas o atleta portava veupaux de verão e suporte específico
evitando executar movimentos com o braço direito. Todas as atividades foram
propostas observando a manutenção da posição do braço em flexão do
cotovelo à 90º junto ao corpo. A periodização foi baseada no modelo de Elhez
e outros (1985) com dois picos de performance objetivando as datas da
repescagem e seletiva das Olimpíadas, respectivamente, o primeiro pico em 25
de março e o segundo em 25 de junho 2000. O condicionamento específico foi
baseado no Teste de Sterkowicz (1995) e adaptado as necessidades do atleta
juntamente a exercícios gerais com o objetivo de desenvolvimento da
resistência muscular localizada de pernas, abdômen, dorsais, pescoço e trem
superior.
Introdução
Este é o relato de experiência do retorno ao treinamento efetivo de um
atleta de Judô após delicada cirurgia de recomposição dos ligamentos do
ombro direito. O atleta estava com o percentual de gordura acima do ideal e
condicionamento aeróbio prejudicado. A atividade aeróbia escolhida no
período de preparação básico foi o jogging, pelo baixo nível de impacto por ela
oferecida, reduzindo assim as chances de complicação na recuperação do
ombro submetido à cirurgia.
No planejamento do período de preparação básica programou-se
exercícios gerais com o objetivo de desenvolvimento da resistência muscular
131
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô
visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000.
localizada de pernas, abdominais, dorsais, pescoço e trem superior, que são
relatados com mais detalhe a seguir.
Relato de Experiência
Foram realizados no total vinte e um treinos no total, distribuídos durante
a semana, conforme a disponibilidade do atleta que é acadêmico de Engenharia
Civil da UFRGS. Os treinos tinham a duração de aproximadamente três horas
por dia divididos em: alongamentos específicos para os grupamentos
encurtados, trabalho técnico específico, fortalecimento abdominal (infra e
supra), lombar, flexão do cotovelo em suspensão na barra e alongamentos
gerais. Baseamo-nos nos exercícios utilizados pela Seleção Alemã para
realizarmos o trabalho de fortalecimento abdominal, lombar e de braços, tais
conhecimentos foram adquiridos e trazidos pelo orientador da disciplina em
um recente curso de especialização em Leipzig, Alemanha. Os exercícios
citados no parágrafo acima são realizados de forma dinâmica, mas em virtude
das limitações do atleta optamos pela realização de forma isométrica a fim de
corrermos o menor risco possível.
A fim de identificar possíveis desvios posturais, enfraquecimento e
encurtamentos musculares, o atleta foi submetido a uma avaliação postural. Os
resultados possibilitaram a aplicação de alongamentos e fortalecimentos
musculares objetivamente.
Para obtenção de melhores resultados, o atleta contou com o apoio de
profissionais de diversas áreas que assim formavam a equipe multidisciplinar,
composta pelo Cirurgião Dr. José Maria Alves Neto, a Fisioterapeuta Cláudia
Silveira Lima, Endocrinologista (responsável pela orientação nutricional) Dr.
Carlos Alberto Werutsky, Professoras Ilana Pinto Marques (musculação),
Luciana Reis (Trabalho de flexibilidade) e Acadêmico Marcelo Lunardi
Carreno (avaliação cineantropométrica).
Para avaliar a musculatura do reto abdominal, subdividimos em supra e
infra-abdominal. Utilizamo-nos deste artifício para aumentar o volume de
treino e diversificar a forma de trabalho, de maneira a estimular o atleta. Este
teste foi realizado em decúbito dorsal sendo estipulado um ângulo em que
tínhamos certeza que o reto abdominal era o motor primário, foi pedido ao
executante permanecesse o maior tempo possível naquela posição. Seguindo
padrão em que dividimos o reto abdominal para melhor estimulá-lo, o
próximo passo foi de testarmos a musculatura infra-abdominal também em
decúbito dorsal e segurando-se com o braço são, na perna do avaliador com
elevação simultânea de ambas as pernas em um determinado ângulo e também
foi pedido que ali as mantivesse o maior tempo possível. Na musculatura
lombar, o atleta foi colocou-se em decúbito ventral perpendicular à um plinto
na altura da crista ilíaca ântero-superior seguro pelos calcanhares ao espaldar,
assim como aos demais exercícios estipulamos um ângulo e pedido que ali o
mantivesse pelo maior tempo possível. Como já mencionamos o trabalho
132
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô
visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000.
aeróbio de base foi realizado na piscina sendo aplicado de Pesquisas de
Atividades Aquáticas. A realização do trabalho aeróbio específico foi uma
adaptação do teste Sterckowics (1995), o atleta começava na metade da área de
combate e deslocava-se até a extremidade lateral do Dojô onde havia um UKE
que recebia a aplicação da técnica, mas não era projetado pelo atleta em virtude
da limitação do mesmo em realizar o KUMIKATA com ambas mãos, do
outro lado da área de combate era realizado apenas a simulação da aplicação da
técnica por não dispormos de outro UKE, essa atividade tinha a duração de
quatro minutos para cada série. O volume inicial do treinamento aeróbio
específico, com a adaptação do Teste de Sterkowics (1995), foram quatro
séries no Treino 1, ampliado para cinco séries no Treino 3, sete séries no
Treino 7, oito séries no Treino 9, nove séries no Treino 10 e dez séries do
Treino 11 ao 21, sempre com armazenamento dos dados.
Para avaliar a evolução da função cardio-respiratória foi observada a FC;
FCinicial, FCfinal, FCreinício. Na monitorização da FC foi utilizado o
freqüêncímetro Polar modelo Advantage, o intervalo entre as séries também
foi utilizado como artifício de aumento e/ou redução da intensidade de
treinamento baseado na FCreinício 120 bpm.
Com base nos dados obtidos nos testes realizados na musculatura
abdominal (supra e infra – abdominal), lombar com sobrecarga de 5 Kg
(ambos de forma isométrica), a intensidade escolhida para começo de trabalho
foi 60%. O tempo máximo permanecido num ângulo de 30° a 40° foi
considerado 100% do teste. Seguindo o mesmo padrão de treino, realizamos
seis séries de ambos exercícios no Treino 1, no Treino 4 aumentamos a
intensidade com a redução do intervalo entre as séries. Utilizando o Princípio
da Transferência imediata de força para os ângulos 20° acima e 20° abaixo do
ângulo de contração isométrica, ampliamos para dez séries contra uma
resistência oferecida em ângulos diferentes, exercida pelo responsável em
aplicar o treino; o descrito acima foi aplicado para musculatura abdominal e
lombar. No Treino 8 séries foram ampliadas de dez para quinze séries nos
dois grupamentos musculares, aplicamos um teste novo, suspensão e
permanência na barra com flexão do cotovelo e o queixo acima da barra,
efetuada com o braço são, o tempo total de permanência neste posição foi
considerado 100%, a intensidade de trabalho foi 60%. Pela melhora rápida e
significativa, no Treino 9 retestamos a flexão do cotovelo, implementando uma
nova carga de trabalho, o ombro submetido a cirurgia foi liberado com
limitações e no Treino 14 testamos e partir de então começamos a executar
dez séries a 60% do tempo máximo em contração isométrica com ambos os
braços.
Após várias seções de treinamento em contração isométrica nos
grupamentos musculares já mencionados, no Treino 12 o atleta foi submetido
a novos testes a fim de obter valores para comparação com os dados obtidos
133
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô
visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000.
anteriormente. No treino seguinte à aplicação dos testes, começou fase do
trabalho dinâmico utilizando como principal parâmetro de avaliação o número
de repetições, sendo a intensidade de trabalho 70% do número de repetições.
A partir da liberação total para movimentação do ombro dada pelo seu
médico e sua fisioterapeuta, com cautela, implementamos quatro séries de
ataque na área de combate com duração de quatro minutos, aproximando-o ao
máximo da situação real de combate, utilizou-se a contagem do número de
ataques/minuto, servindo de parâmetro de avaliação nos treinos subseqüentes.
Resultados
Este estudo encerra a 1ª fase de treinamento da preparação física do atleta
Fabrício Lusa Cadore para a seletiva dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000.
Nos resultados dos testes iniciais comparados aos resultados dos testes
finais, do condicionamento físico específico, foi observada a melhora de 54
repetições, 4 séries com FCfinal 180 bpm no treino 1, para 68 repetições, 10
séries e FCfinal 153 bpm e redução do intervalo de repouso (ativo) de 1' para
45". O trabalho de fortalecimento muscular abdominal teve princípio com 6
séries de 21", em contração isométrica, findando com 4 séries de 30 repetições
em contração dinâmica, o trabalho de fortalecimento lombar começou com 5
séries de 19", em contração isométrica, findando com 4 séries de 21 repetições,
em contração dinâmica. O resultado mais significativo, está relacionado com
trabalho de flexão do braço em suspensão na barra, que começou com 10
séries de 4” no treino 8 passando para10 séries de 10” com ambos os braços.
Finalizando o trabalho, é esperado que o atleta obtenha êxito com
resultados positivos nas duas primeiras etapas e alcançando o objetivo
máximo: estar presente nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000.
Conclusão
Esta experiência permitiu um contato direto com um atleta de alto
rendimento da modalidade de Judô. Em um esporte como o Judô, a melhora
da performance depende de múltiplos fatores, no caso em questão fizemos
parte de uma equipe multidisciplinar de apoio que tinha por objetivo final
classificar o atleta na repescagem da seletiva para a Olimpíada de Sydney 2000.
Os profissionais envolvidos com o trabalho atuavam em suas áreas especificas,
sendo o nosso objetivo, a preparação física geral e aprimoramento da técnica
do atleta no período pós-cirurgia. Este trabalho contribuiu para a melhora de
performance do atleta, o que pode ser comprovado através dos resultados,
anteriormente apresentados. Podemos citar melhorias referentes a sua
capacidade aeróbica e resistência muscular localizada para membros superiores,
inferiores e musculatura do tronco. Ao final do trabalho, quando o atleta foi
liberado para treinamento sem restrições, ainda não sabíamos se ele atingiria
seu objetivo. Finalmente em 24 de março de 2000 durante a repescagem para
134
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô
visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000.
Sydney 2000 o atleta participou de seis combates, vencendo 4 por Ipon 1 por
Wazari e 1 por Yuko, classificando-se assim para a seletiva final que realizar-seá em 24 de junho próximo. Para um bom resultado do trabalho, foi necessário
embasamento teórico, retirado da literatura disponível e das experiências
anteriores. As dificuldades encontradas com falta de material, disponibilidade
de tempo do atleta e até mesmo motivação foram supridas com muito
empenho e versatilidade do grupo de trabalho como um todo.
É importante que se registre o valor deste tipo de experiência para um
acadêmico, principalmente pelo contato mantido com um atleta de nível
internacional e a experiência de fazer parte de uma equipe multidisciplinar
convivendo e aprendendo com os mestres e colegas num trabalho em
conjunto.
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135
Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô
visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000.
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136
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
Fernando Portela – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
Esse trabalho tem como objetivo identificar os valores universais inclusos nos
textos da Carta do ‘Fair Play’ elaborado pela Câmara Municipal D’Oeiras, em
Portugal. Procurou-se identificar esses valores, partindo do pressuposto de que
alguns dos valores do Olimpismo, encontrados por Parry (1998), também
seriam aqueles que supostamente integrariam os valores do ‘Fair Play’.
Utilizou-se fundamentações estabelecidas por Kant e Pegoraro na área da
filosofia, e por Tavares, Portela e DaCosta no campo do Olimpismo para a
construção do conteúdo teórico. Considera-se que, não obstante à atribuição
de valores na formulação de códigos éticos para o esporte, as variabilidades as
quais o ‘Fair Play’ está sujeito também deveriam ser observadas, bem como um
papel mais pronunciado dos atletas na elaboração destes. Recomenda-se que as
próximas tentativas em se formular códigos de ética no esporte prezem não só
pela atribuição de valores universais, mas que esses valores sejam atribuídos de
acordo com as resignificações do esporte no tempo, no espaço e na cultura.
Palavras-chave: Fair Play, valores.
Abstract
This work has as its aim to identify universal values that are included into the
texts of Fair Play charter elaboreted by Câmara Municipal D’Oeira, in
Portugal. We attempted to identify these values, starting from the assumption
that some of the values of Olimpism, found out by Parry (1988), were also the
same of Fair Play. We used theoretical presuposes established by Kant and
Pegoraro in the field of philosophy and by Tavares, Portela and DaCosta in
Olimpism area as main source of theory. Notwithstanding to the attribution of
universal values to the ‘Fair Play’ code, we consider the differences of culture,
in time and settings should be observed, as well as the role of the atheletes in
elaborating this code.
Key words: Fair Play, values.
Introdução
Nos últimos anos no Brasil testemunhou-se a promoção da idéia do ‘Fair
Play’ no esporte por alguns dos meios de comunicação de massa. Assistimos
episodicamente comentários nos quais aparece o enaltecimento da moral e da
ética esportiva; e continuamente deparamo-nos com declarações de
valorização do jogo limpo e da não-violência dentro dos espetáculos
esportivos. Entretanto, permeado por esses discursos, encontramos por vezes
137
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
certa incoerência, confusão ou desconhecimento a respeito de qual seria o
sentido básico do conceito do ‘Fair Play’.
Por uma via há aqueles que afirmam que o ‘Fair Play’ é o respeito às regras
do jogo, porém absolvem de culpa o jogador que consegue quebrá-las sem que
os árbitros percebam, sob o argumento que este é um jogador ‘esperto’ ou
‘malandro’, como se diz popularmente. Por outra via existem os que afirmam
que o ‘Fair Play’ é algo que vai além das regras, ou seja, não basta obedecer a
lei do jogo, há uma forma adequada de se jogar; contudo, variam de opinião
quanto a esta forma de jogar. Outros declaram que a profissionalização do
esporte impõe um código de moral particular. Já seus opositores entendem que
a moral no esporte deve ser universal.
Desta maneira, muitos outros conflitos poderiam ser destacados numa
variabilidade de situações que poderiam ser indicadas, como por exemplo:
modalidade esportiva, posição cultura ou sócio-econômica do praticante, idade
entre outros.
Destaquei o ‘Fair Play’ como objeto de estudo nesse trabalho por ser um
dos elementos constituintes do Movimento Olímpico e pela crescente
importância que a sociedade atual vem dando ao chamado código de valores
das pessoas.
Objetivo
Uma dificuldade comum em se construir conhecimentos a respeito do ‘Fair
Play’ no Brasil, repousa sobre o fato de existirem poucas publicações sobre o
assunto na língua portuguesa.
É nesse sentido, que proponho trazer a baila a Carta do ‘Fair Play’.
Documento esse, elaborado em língua portuguesa pela Câmara Municipal
D’Oeiras, em Portugal (versão já experimentada em perspectiva internacional
na prática de competições esportivas, conforme linguagem acessível aos
desportistas).
No contexto dessas últimas indicações, tracei como objetivo desse trabalho
identificar os valores que permeiam os textos do documento em voga, a fim de
sugerir uma referência inicial para as demandas de estudos na área do ‘Fair
Play’. Para tanto, utilizei como referência teórica postulações de Kant e
Pegoraro na filosofia e Portela, Tavares e DaCosta no campo do Olimpismo.
Problema
Segundo a Carta do ‘Fair Play’ elaborada pela Câmara Municipal D’Oeiras,
“A cada um, educadores, pais, treinadores, atletas, compete procurar promover
uma prática do desporto mais humana e mais formativa”. Então, assim sendo,
quais seriam os valores responsáveis por essa promoção e que estariam
inclusos nos textos?
138
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
Problematização
O esporte emergiu na sociedade moderna como uma instituição com
comportamentos padronizados que disseminam e transmitem valores sociais.
Por valores consideram-se aqueles ideais pelos quais vale a pena se esforçar
para realizar.
Dentre as dimensões do fenômeno esportivo encontramos uma das
manifestações de maior engajamento popular da era moderna  Os Jogos
Olímpicos. Estes representam o ápice de alguns dos esportes competitivos e
como tais podem influenciar positivamente ou negativamente seus
apreciadores. Esta ambivalência, entretanto, pode ser desequilibrada para o
lado positivo por meio de uma estratégia codificada denominada Ideal
Olímpico, ou Olimpismo.
O Olimpismo é um conjunto de valores universais, que servem como linha
diretriz para a formação dos princípios e comportamento dos atletas. Alguns
desses valores poderiam ser destacados como: igualdade, justiça, respeito,
racionalidade, entendimento mútuo, autonomia e excelência (PARRY,
1988:93).
Então, em tese, os valores que compõem o ‘Fair Play’ poderiam estar
contidos naqueles já descritos anteriormente, uma vez que o ‘Fair Play’ é parte
integrante do Olimpismo e do Movimento Olímpico, senão vejamos.
Justificativa
Em vista da incipiente posição do Brasil com relação à produção de
conhecimentos no campo do Olimpismo, é pertinente que se desenvolvam
estudos que abordem as várias entradas que o tema permite. As investigações
na área de valores são relevantes, na medida que levantam condições de
assimilação e reflexão para um desdobramento do significado do ‘Fair Play’.
Sobretudo no caso particular do Brasil, país em que conflitos ético-morais
estão sempre presentes, tal fundamentação passa a ser justificada perante a
possibilidade do ‘Fair Play’ constituir mais um código a ser rejeitado ou
desviado por simulação de seu cumprimento.
A Carta do ‘Fair play’
“Os educadores, os pais, os treinadores, os atletas, todos os participantes
desportivos, são convidados a mostrar que possuem ESPÍRITO DESPORTIVO,
cumprindo os dez artigos da Carta do Espírito Desportivo. A cada um, compete
procurar promover uma prática do desporto mais humana e mais formativa”.
MOSTRAR ESPÍRITO DESPORTIVO
ARTIGO 1
É antes de tudo respeitar escrupulosamente todos os regulamentos; significa nunca
procurar deliberadamente cometer uma infração aos regulamentos.
139
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
ARTIGO 2
É respeitar os árbitros do jogo. A presença de árbitros é absolutamente indispensável
na competição. Eles têm um papel difícil e ingrato a desempenhar. Eles merecem o
respeito de todos.
ARTIGO 3
É aceitar todas as decisões do árbitro, sem nunca pôr em causa a sua honestidade.
ARTIGO 4
É reconhecer com dignidade, na situação de vencidos, a superioridade do adversário.
ARTIGO 5
É aceitar a vitória com modéstia e sem ridicularizar ou diminuir o adversário.
ARTIGO 6
É saber reconhecer os bons resultados do adversário.
ARTIGO 7
É querer competir em igualdade de circunstâncias com o adversário. É contar apenas
com o seu talento e as suas capacidades para alcançar a vitória.
ARTIGO 8
É recusar ganhar por meios ilegais e/ou fraudulentos.
ARTIGO 9
Significa para os árbitros conhecer bem todas as regras e aplicá-las com
imparcialidade.
ARTIGO 10
É ser digno em todas as circunstâncias; é demonstrar controle sobre si próprio. É
recusar utilizar em qualquer situação a violência física ou verbal”.
Em face de este código, cumpre destacar que é comum encontrarmos uma
interdependência entre valores em um mesmo texto. Por esse motivo, a
revisão de alguns períodos e/ou palavras torna-se pertinente para a
identificação de tais valores.
No artigo 1 encontramos “respeitar escrupulosamente todos os
regulamentos”, isto é, aceitar conscientemente que todos são iguais perante a
lei, permitindo oportunidades e tratamentos similares, mantendo-se o
equilíbrio entre os competidores e evitando-se injustiças. Vê-se também a
palavra “deliberadamente”, que indica um exercício racional que culmina com
a administração da vontade e, conseqüentemente da liberdade individual.
O artigo 2 trata do respeito aos mediadores das contendas. Estes possuem
papel importante em restabelecer a igualdade, caso seja rompida, minimizando
os efeitos da injustiça.
O artigo 3 prescreve, “nunca por em causa a honestidade dos árbitros”.
Intenciona admitir que o ser humano é falível, porém não o faz
deliberadamente. Aponta para um exercício racional que se recomendaria aos
atletas em prol de um entendimento mútuo amplificado.
No artigo 4 a palavra “dignidade” pode sugerir uma pluralidade de
significados, entretanto ao “reconhecer com dignidade” a derrota, faz-nos
exercitar racionalmente a vontade de vencer, que por vezes leva atletas a
buscarem meios ilícitos, rompendo com a igualdade e a justiça.
De outra forma no artigo 5, em “aceitar a vitória com modéstia”, reflete-se
a intenção de mostrar que igualdade de fato e de direitos devem ser
140
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
respeitadas, pois “ridicularizar” ou “diminuir” o adversário fere a sua dignidade
podendo provocar animosidades. Vale lembrar que a situação de vencedor ou
vencido é temporária, e por isso recomenda-se que ao adversário conceda-se
os mesmos direitos que se desejam para si.
No artigo 6, “saber reconhecer os bons resultados do adversário” exprime
a condição racional de admitir que todos são capazes de obter bons resultados,
portanto todos são iguais. Igualmente, reconhecer o mérito de um terceiro
promove um desdobramento do entendimento mútuo, sob a forma da justiça.
No artigo 7 novamente aparece a categoria igualdade, trazendo
conseqüências para a justiça, somada à liberdade para escolher os meios para
competir.
O artigo 8 é uma repetição do artigo 7, apenas indicando quais os meios
para competir que os atletas deveriam escolher para uma competição justa e
igual.
No artigo 9 temos outra determinação aos mediadores das contendas, que
devem “conhecer bem todas as regras”, de modo que não cometam injustiças
por despreparo.
O artigo 10 sumariza todos os outros, enaltecendo a utilização da faculdade
racional para “controle sobre si próprio”, a fim de que se respeite os árbitros e
os adversários.
No contexto das interpretações anteriores, quatro valores universais
destacaram-se no interior dos textos: racionalidade, igualdade, entendimento
mútuo e justiça. Vejamos como eles poderiam ser interpretados num conjunto
inicial de pressupostos teóricos.
a) Racionalidade:
Tomando-se como pressuposto teórico inicial a formulação de bom para si
desenvolvida por Portela (1999), no qual por meio da racionalidade o
indivíduo busca o melhor para si, e que o melhor para si seria determinar uma
condição de equilíbrio e harmonia a ser usufruída por todos de um mesmo
grupo social. E, fundado na filosofia de Kant, na qual as teorias derivam
exclusivamente de princípios a priori, sugere-se que o Olimpismo busca na
razão prática a fundamentação de seus ideais. Assume-se aqui tal postura em
que pese ser uma das maiores e mais constantes críticas ao Movimento
Olímpico a de se apontar incoerências entre sua ideologia e suas práticas.
Por isso, reconhece-se que a tarefa de transformar princípios puros em
realidade é árdua, como em Kant: “porque o homem, afetado por tantas
inclinações, ainda que capaz de conceber a idéia de uma razão pura prática, não
pode facilmente torná-la eficaz in concreto no decurso de sua vida” (1937:25).
Mesmo assim, o criador do Olimpismo, Barão Pierre de Coubertin, propôs
que o esporte poderia ser o agente catalizador a restabelecer o equilíbrio entre
mente e corpo (In: TAVARES, 1998:7).
141
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
b) Igualdade:
Inicialmente, deveríamos distinguir a igualdade de fato, das relacionadas ao
tratamento e às oportunidades. Há bem pouco tempo atrás, por exemplo, os
organismos diretores do esporte internacional se reservavam o direito de tomar
todas as decisões sem ao menos consultar órgãos de representação dos atletas.
A partir do XII Congresso Olímpico em Paris em 1994, o Comitê Olímpico
Internacional (COI) passou a recomendar que aos atletas fossem dados papéis
ampliados dentro dos órgãos de direção das instituições esportivas, por meio
da criação das comissões de atletas. Os membros dessas comissões seriam
eleitos, caracterizando assim uma democracia representativa (TAVARES,
Op.Cit.:25-26).
Esta postulação identifica uma tentativa de se estabelecer explicitamente uma
maior equidade de fato entre aqueles que estão diretamente envolvidos com as
atividades esportivas, no que tange às discussões relativas ao esporte. Por
outro lado, deveríamos fazer a distinção entre igualdade de oportunidades e de
tratamento. Neste caso, poderíamos citar atletas que numa competição
recebem o mesmo tratamento, porém podem ter realizado treinamentos
distintos por falta da mesma oportunidade, por exemplo: tempo, saúde,
dinheiro e outros. Estes últimos recebem apoio de um órgão particular
vinculado ao COI, para a compensação de possíveis distorções.1
A partir de tais pressupostos podemos sugerir que o Olimpismo preocupase em minimizar as diferenças entre as desigualdades.
c) Entendimento mútuo:
Esta categoria passa pela liberdade como uma propriedade da vontade, a
feição de como Kant sugeriu: “eu sustento que a todo ser racional que possui
Este organismo é denominado Solidariedade Olímpica, e segundo a Carta Olímpica possui como
objetivos: 1) O objetivo da Solidariedade Olímpica é organizar ajuda aos Comitês Olímpicos
Nacionais reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional, em particular aqueles os quais tem
uma grande necessidade desta. Essa ajuda toma a forma de programas elaborados conjuntamente
pelo Comitê Olímpico Internacional e os Comitês Olímpicos Nacionais, com a assistência técnica
das Federações Internacionais, caso seja necessário. 2) Todos esses programas são administrados
pela Comissão da Solidariedade Olímpica, a qual é compartilhada pelo Presidente do Comitê
Olímpico Internacional.
Os objetivos dos programas adotados pela Solidariedade Olímpica são contribuir para: 1)
Promoção dos princípios fundamentais do Movimento Olímpico; 2) Desenvolvimento de
conhecimento técnico-esportivo de atletas e treinadores; 3) Melhorar, por meio de bolsas de
estudo, o nível técnico de atletas e treinadores; 4) Treinamento de administradores esportivos; 5)
Colaborar com as várias comissões do Comitê Olímpico Internacional, tanto quanto com as
organizações e entidades que perseguem esses objetivos, particularmente por meio da educação
Olímpica e a propagação do esporte; 6) Criação, onde necessário, simples, funcionais e
econômicas instalações esportivas em cooperação com as corporações nacional ou internacional;
7) Dar suporte à organização de competições nos níveis nacional, regional e continental sob a
autoridade ou patrocínio dos Comitês Olímpicos Nacionais; 8) Encorajar programas de
cooperação bilateral ou multilateral entre os Comitês Olímpicos Nacionais; 9) Impulsionar
governos e organizações internacionais a incluírem o esporte em Assistências Oficiais de
Desenvolvimento.
1
142
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
uma vontade, devemos atribui-lhe necessariamente também a idéia da
liberdade, debaixo da qual age” (1937:143).
Kant prossegue distinguindo as vontades, propondo o ser humano como
um objeto afetado pelos sentidos e ao mesmo tempo consciente de sua
inteligência, isto é, independente das impressões sensíveis no emprego da
razão. Identificam-se, assim sendo, as vontades sensível e inteligível.
Nestes termos, poderíamos conferir à vontade sensível a dimensão
psicológica do querer e à inteligível aquela voltada para a razão.
Uma vez que o entendimento mútuo pressupõe a existência de dois ou
mais indivíduos, seria difícil senão impossível afluir para uma vontade sensível
universal, pois desejos e apetites variam de pessoa para pessoa, enquanto
convergir para uma vontade inteligível tornar-se-ia algo realizável. Este parece
ser o intuito do Ideal Olímpico, ou seja, tornar possível a compreensão de
algumas das necessidades humanas por meio de um aforismo que possa ser
universalizado, como descrito na Carta Olímpica (1997):
O objetivo do Olimpismo é por em toda a parte o esporte a serviço do
desenvolvimento harmonioso do homem, com a perspectiva de encorajar o
estabelecimento de uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da
dignidade humana (p.8).2
d) Justiça:
Segundo Pegoraro (1997:97), a justiça é definida como “a primeira virtude
das instituições públicas do Estado, do direito, da economia e das relações
interpessoais. A justiça funda soberanamente e rege esplendidamente todo o
arco da ética pessoal e da convivência pública”. Fundamentado nesta definição,
pode-se confirmar o pressuposto seguinte: o Olimpismo tenta tratar o
indivíduo como ser que se realiza com os semelhantes e com a natureza
(DaCosta, 1997:41-56).
Considerações Finais
Como pudemos observar o documento elaborado pela Câmara Municipal
D’Oeiras fornece dados que nos permitem identificar valores que
pressupostamente permeiam o ideal do ‘Fair Play’.
No entanto, valores são produzidos culturalmente, e mesmo os
considerados universais possuem representações diferentes quando
deslocamos, nesse caso, o esporte pelo tempo, na cultura, no espaço, entre
outros, como sugeriu Tavares (1999:173-193).
Perder de foco as variabilidades a que está sujeito o ‘Fair Play’, pode
significar a perda da compreensão do real sentido em se instituir um código
2 The goal of Olympism is to place everywhere sport at the service of the harmonious
development of man, with a view to encouraging the establishment of a peaceful society
concerned with the preservation of human dignity.
143
A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais
ético para atletas.
Outrossim, apenas instituir um código de valores para nortear a conduta de
atletas, sem que esses participem da sua construção, pode torná-lo inócuo
como sugere Portela (1999).
No sentido das indicações anteriores, parece justo que as próximas
tentativas em se elaborar códigos éticos para atletas preze não só pela definição
de valores universais, mas que esses valores sejam atribuídos de acordo com as
suas resignificações no tempo, no espaço e na cultura.
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144
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado
aos alunos das graduações.
Fernando Portela - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Otávio Tavares - Universidade Federal do Espírito Santo/ES
Resumo
Essa comunicação é dedicada aos alunos que ingressaram ou estão ingressando
nos cursos de graduação e tem por objetivo dar subsídios, em linguagem
simples e acessível, àqueles que se interessarem por assuntos ligados ao
Movimento Olímpico. O fio condutor teórico do texto foi retirado dos
relatórios das sessões realizadas na Academia Olímpica Internacional, bem
como o marco teórico estabelecido por Tavares (1998), sobre Olimpismo. O
texto é iniciado com uma visão superficial dos Jogos Olímpicos da
Antigüidade, e abrange algumas das suas principais características. Uma
segunda parte se desdobra em dar indícios de como e por que o Barão Pierre
de Coubertin idealizou e restaurou os Jogos Olímpicos, criando um ideal por
detrás desse evento. O Olimpismo. Finaliza com considerações a respeito de
como vem se amplificando parte do processo de Educação Olímpica no Brasil,
sugerindo uma nova entrada para expandir o contingente de pesquisadores
envolvidos com o assunto.
Palavras-chave: Jogos Olímpicos da Antigüidade, Jogos Olímpicos da Era Moderna,
Olimpismo.
Abstract
This essay is dedicated to the students who are undergraduated and it has as
the main aim to give them some assistence by simple and easy speech, in order
to create attraction for the Olympic Movement issues. As theoretical basis,
reports from International Olympic Academy were used, as well as theoretical
foundations established by Tavares (1998) in the grounds of Olimpism. Text
begins with a superficial overview, that focus some characteristics of the
Ancient Olympic Games. Secondly, it gives evidences of how and how come
Pierre de Coubertin idealized and reestored the Olympic Games, creating the
ideal of Olimpism. Finally, it finishes with some considerations about how
some sort of the Olympic Education process in Brazil has being amplified and
suggests a new strategy to increase the effectives of researchers involved in this
issue.
Key words: Ancient Olympic Games, Modern Olympic Games, Olympism.
145
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
Introdução
Próximos ao final da última Olimpíada do século, parece inconteste que o
esporte tornou-se uma manifestação social de primeira grandeza. Os Jogos
Olímpicos da era moderna representam uma fatia importante do contexto
esportivo da modernidade, e como tal atestam o valor do esporte na sociedade
atual. Somente nos Jogos Olímpicos de verão em Atlanta em 1996, mais de 4
bilhões de pessoas assistiram instantaneamente às imagens transmitidas pelos
meios de comunicação e mais de 900 milhões de dólares foram arrecadados
pelo Comitê Olímpico Internacional apenas pela concessão dos direitos
televisivos do evento (LANDRY, 1998:171).
Não é coincidência também que, além do vulto econômico, os Jogos
Olímpicos são o maior evento cultural da humanidade na atualidade (ABREU,
1999:70-77), e que o interesse pelo tema vem crescendo em grandeza
geométrica no Brasil nos últimos anos.
A cristalização da demanda pelo tema Jogos Olímpicos, e assuntos
correlatos, tem sido manifestada por intermédio da criação de centros de
estudos Olímpicos em diversas Universidades, que buscam a formação de um
grupo de pesquisadores dotados de conhecimento para desenvolver pesquisas
na área.
Entretanto, apesar do crescente interesse, as informações circulantes sobre
o assunto ainda permanecem dentro de um elitismo acadêmico, muito por falta
de profissionais especializados em Olimpismo trabalhando nos diversos cursos
de graduação, e por vezes pela pouca acessibilidade da linguagem dos
documentos elaborados.
A ausência de textos dedicados à apresentação de temas Olímpicos aos
alunos recém ingressados nos cursos de graduação das universidades depõe a
favor desse elitismo, e dificulta o trabalho de se obter um entendimento mais
amplificado sobre o assunto.
A indicação anterior abre espaço para questionamentos, como por
exemplo: em face de uma declarada intenção de se disseminar a Educação
Olímpica no país, como dar conta de um hipotético paradoxo entre massificar
e elitizar o conhecimento acadêmico a respeito do Olimpismo. Talvez esse seja
mais um dos contrastes do ecletismo de Pierre de Coubertin (DACOSTA,
1999:50-69).
Dedicarei o texto desse artigo à massificação. Nesses termos, o objetivo
desta comunicação é apresentar de forma simples e em linguagem acessível
uma breve iniciação sobre Jogos Olímpicos e Olimpismo, de forma que se
permita a compreensão de informações básicas, por aqueles que entram em
contato com o tema pela primeira vez. Nesse propósito, particularmente
alunos das diversas áreas de graduação universitária.
146
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
Revisitando os Jogos Olímpicos da Antigüidade
Inicialmente é preciso fazer a distinção entre Jogos Olímpicos da
Antigüidade e Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Os Jogos Olímpicos da Antigüidade eram realizados de 4 em 4 anos em
Olímpia, na unidade política de Elis na antiga Grécia, e tem como marco inicial
a data de 776 A.C.. Essa data foi estabelecida a partir de achados
arqueológicos, os quais documentavam a vitória de um competidor na corrida
do stadium. Algumas evidências indicam, porém, que os Jogos da Antigüidade
podem datar de mais de 1000 anos a.C. (PALAEOLOGOS, 1962:136)
Esses Jogos tinham caráter religioso, particularmente uma homenagem ao
Deus Zeus, Deus de todos os Deuses em uma civilização politeísta. Eram
disputados apenas pelos vários povos, pulverizados por territórios que
conhecemos atualmente como sul da Europa, norte da África e Oriente Médio,
os quais formavam a nação grega.
O significado das leis morais, a despeito da ausência de qualquer lei escrita,
era tanta que todos os gregos as aceitavam. Um ponto de referência era a
adoração dos mesmos deuses pelos diferentes povos da nação grega.
Em Olímpia eles se reuniam em torno de uma mesma situação, falando a
mesma língua, com a mesma religião e as mesmas normas sociais morais, dessa
maneira formando uma unidade cultural (PALEOLOGOS, 1981:69-74), esses
fatores davam aos Jogos um caráter Helênico. Esse caráter Helênico somente
veio a se modificar com a participação de artistas persas, que lá foram para
entoar seus poemas. Isto ocorreu durante o reinado de Philip, o qual negociava
com os Persas a subjugação da Grécia (PALEOLOGOS, 1962:142).
Um ponto a ser destacado é o de que os competidores desses Jogos eram
considerados representantes legais de suas cidades e de suas famílias, e como
tais disputavam as provas atléticas em troca de reconhecimento, honra e glória.
A vitória em uma prova representava um feito heróico, que justificava o
erguimento de uma estátua em homenagem ao vencedor com as inscrições do
nome da sua família, nesse propósito o nome do pai, e da sua cidade de
origem, gravados nela.
Esse participante que era destacado para competir em Olímpia recebia um
salvo conduto que lhe permitia atravessar os territórios hostis sem que fosse
molestado. Isso porque apesar da língua, da religião e da ética em comum,
existiam guerras políticas entre os diversos estados e grupos. Esse contexto de
lutas foi responsável pela introdução de uma trégua sagrada durante os Jogos
denominada ekecheiria.
As condições da ekecheiria não foram totalmente esclarecidas por autores do
período, mas algumas fontes sugerem que: 1) durante o mês sagrado, todas as
guerras cessariam e a passagem para Elis seria livre à todos; 2) o tempo de
duração desta trégua era de 10 meses, devido a jornada, que em determinados
casos, era extremamente longa; 3) a cidade de Elis era neutra, sagrada e
147
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
inviolável. Essa condição proibia o porte de armas na cidade, sendo essa
violação severamente punida; 4) A trégua era válida para todos os estados
gregos e não somente para aqueles reinados que tinham assinado o acordo
(PALEOLOGOS, 1965:203-210).
Nesse contexto pode-se indicar a idéia habitualmente aceita, a qual durante
os Jogos Olímpicos da Antigüidade todas as batalhas e guerras eram
interrompidas, a fim de que os Jogos fossem realizados. Isso poderia ser
verdade, entretanto vale lembrar que naquela época devido às dificuldades de
locomoção por territórios muito extensos as batalhas eram tomadas com um
intervalo muito grande de anos, o que torna esta hipótese difícil de ser
comprovada.
Outro ponto a ser registrado é o do conteúdo moral com que os Jogos
eram realizados. O competidor submetia-se à códigos de conduta, os quais lhe
garantiam o direito de, caso vencesse, desfrutar da glória da vitória. Esse
código, denominado arete, ou seja, a perfeita conduta sob a forma da excelência
moral, física e intelectual impulsionava os atletas na direção de algo maior, um
status quase divino que combinava a perfeição física, mental, e moral chamado
kalos kagathos como compreende Tavares (1999): “A idéia de kalos Kagathos
pode ser compreendida como a concepção de um ser humano virtuoso e
harmoniosamente equilibrado entre físico e intelecto” (p:28).
A princípio os Jogos eram realizados em apenas 1 dia e apenas uma prova
existia, a corrida relativa a distância de 1 stadium. Somente a partir da 14th
edição dos Jogos Olímpicos da antigüidade é que a prova diaulos foi incluída,
representava 2 vezes a distância do stadium. Na 18th edição dos Jogos foram
incluídos o wrestling e o pentathlon. De acordo com o testemunho de Pausanias
os Jogos tinham a duração de apenas um dia até 77th edição. Em 688 A.C. um
segundo dia foi incluído e em 632 A.C. um terceiro também, assim como um
dia anterior destinado aos sacrifícios e um dia subseqüente para as cerimônias
de encerramento, totalizando 5 dias de festival sendo 3 destinados às pelejas
(PALEOLOGOS, 1962: 142).
Já o declínio dos Jogos se deveu à alguns fatores, entre eles às incursões
dos romanos, que não compreendiam a profundo significado das competições
ginásticas, wrestling e boxe.
Os romanos se exercitavam somente com fins militares e ridicularizaram as
competições gregas. Mesmo assim copiaram os Jogos, porém encararam estes
como espetáculos e batalhas de guerra. No hipódromo escravos atuavam e em
seguida eram mortos, César ofereceu 320 pares de dueladores, Pompeu abateu
500 leões. Os romanos pisaram nos costumes e na moral dos Jogos,
infringindo os regulamentos e transformando-os em um espetáculo sangrento
(Op.Cit., 1962:143).
Tanto foi modificado do ideal da moral atlética com o passar dos anos
durante o domínio romano, que os amantes da contemplação dos Jogos se
148
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
desinteressaram por tudo aquilo que representasse competições atléticas.
Então, por considerações políticas, em 394 d.C. o imperador Theodosius
extinguiu os Jogos da Antigüidade (Ibid, 1962:144).
Os Jogos Olímpicos da Era Moderna e o Olimpismo
Idealizados pelo Barão Pierre de Coubertin e realizados pela primeira vez
em 1896, os Jogos tinham como objetivo a concretização de uma reforma
social baseada no valor educacional do esporte, como interpreta Tavares
(1999).
“Para o Barão, os Jogos representavam a institucionalização da crença no
esporte como um empreendimento moral e social. Neste sentido, os Jogos
Olímpicos deveriam ser uma manifestação pedagógica dos valores que
atribuía à prática esportiva. Este conjunto de valores ele chamou de
Olimpismo.” (p:6)
Coubertin, estudioso da pedagogia, buscava fundamentos que o ajudassem
a executar uma reforma do sistema educacional na França. Sustentado por três
pilares básicos: um ensino sólido, atividades esportivas e a religião; mostrou-se
admirado pelo modelo inglês de educação, particularmente o da Rugby School,
onde Thomas Arnold introduzira com sucesso a educação moral por meio do
esporte.
Para o Barão o esporte necessitava ser mais do que um catalisador de
energia, era preciso dar ao esporte um valor moral e intelectual, tal como
aquele desenvolvido na antigüidade grega em seus Jogos Olímpicos.
Ele almejava uma educação para os jovens, não por meio de informações
secas e instruções servidas por professores pedantes, mas sim um tipo na qual,
somados o treinamento do corpo e o enobrecimento das suas mentes, os
jovens pudessem nutrir fé, construir corpos fortes, criar uma sólida e corajosa
personalidade e um caráter virtuoso (SZYMICZEK:1975,46).
Neste contexto, Coubertin vislumbrou a possibilidade de uma reforma
mais abrangente, em que jovens de todas as partes pudessem se beneficiar dos
efeitos de uma pedagogia esportiva que prezasse pela formação física, mental e
do caráter, como sugere Diem (1962:5): “Por que não deveria a França
restaurar essa glória (dos Jogos antigos), novamente?”
Contudo, apesar de se servir dos Jogos Olímpicos da Antigüidade como
inspiração, Pierre de Coubertin era um homem da modernidade e trabalhava
em função dessa.
Propôs a restauração dos Jogos, mas também incluiu elementos necessários
à sua realidade; a internacionalização dos Jogos, a inclusão de diferentes
competições e esportes, uma vez que em sua concepção todos os esportes
possuem o mesmo valor desde que praticados adequadamente, o
desenvolvimento da amizade e cooperação entre os povos, a recomendação
149
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
para uma paz mundial nos moldes culturais de cada nação, a abolição da
discriminação racial e a criação do Comitê Olímpico Internacional, o qual seria
o guardião dos ideais Olímpicos (SZYMICZEK, 1975:47).
Nestes termos Coubertin acabara de criar o Olimpismo que segundo a
Carta Olímpica é:
“Uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades de
corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e educação. O
Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no
esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios
éticos fundamentais universais”(p:8).
No entanto, o grau de abstração dessa definição de Olimpismo não
permite uma conceituação que vá além de uma intuição racional, na qual o
esporte deveria ser praticado por ser uma atividade boa para o ser humano.
De outra forma, há aqueles que contestam o Olimpismo como uma
filosofia de vida, nesse propósito DaCosta (1999:62), que entende o
Olimpismo como “uma das diversas versões do humanismo, uma posição
filosófica que, passados os anos, se tornou uma construção pluralística.”
Para tentar compreender o que seria o Olimpismo recorre-se ao marco
teórico elaborado por Tavares (1998) em que se pese as 3 categorias
distinguidas por ele.
a) Internacionalismo, entendimento e respeito mútuo: está ligada à
idéia de promoção da paz internacional por meio do esporte,
desde que se conceda aos jovens de todo o mundo a
oportunidade de conhecimento e relacionamento entre si. É um
valor que se fundamenta no desenvolvimento de relações de
amizade entre os participantes e entre os espectadores durante os
Jogos Olímpicos, em um ambiente de respeito às diferenças
culturais e exaltação da diversidade. Para isso ocorrer é preciso
que os atletas dos diferentes países do mundo possam ter a
chance de participar das competições esportivas dos Jogos e que
a estrutura física e organizacional do evento permita o contato e
o intercâmbio entre todas as delegações.
b) Desenvolvimento harmonioso, físico e intelectual: nessa
categoria o atleta Olímpico deve ser um cidadão que conjugue de
maneira ótima as capacidades físicas e o desenvolvimento
intelectual. Assim como os Jogos Olímpicos devem promover
não só as competições esportivas como também manifestações
artísticas, em um ambiente de perfeita integração entre cultura
física e cultura artística, dentro e fora da Vila Olímpica.
Estimular e valorizar não só as capacidades psicomotoras como
150
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
c)
também a capacidade intelectual dos competidores deve ser uma
característica do Movimento Olímpico.
Fair Play: ou, espírito esportivo é a categoria na qual o esporte
deve ser praticado dentro do respeito às regras, aos árbitros e aos
adversários, recusando vantagens injustificáveis e meios
ilegítimos. Portanto, demonstrar que a vitória só deve ser
alcançada através da honestidade e da justiça, aceitar a derrota
com dignidade, respeitar os adversários e árbitros tornam-se uma
obrigação moral do atleta Olímpico. Assim, as relações humanas
e o respeito à dignidade humana devem estar acima da busca da
vitória a qualquer preço, dando um sentido ético à participação
no esporte Olímpico.
Considerações Finais
Em termos de conteúdo teórico, os temas Jogos Olímpicos e Olimpismo
possuem infinitas possibilidades de discussão, o que é bom. No caso do Brasil
os estudos dedicados ao assunto ainda são escassos, contrariamente ao que
assistimos no cenário internacional, principalmente Europa e América do
Norte.
Este estágio do conhecimento poderá será superado a partir da tomada de
3 iniciativas básicas, conforme sugeriu Tavares (1999:8):
“A superação deste estágio da produção do conhecimento na área do
Olimpismo no Brasil passa necessariamente por três estágios. 1) a formação
de um grupo de pesquisadores dotados de conhecimentos e motivação para
desenvolver pesquisas na área; 2) a criação de uma linha de pesquisa que
oriente, aglutine e forneça um sentido de continuidade no trabalho
desenvolvido por estes pesquisadores (mainstream); 3) a formação de
literatura sobre o tema em português, referenciada às condições brasileiras e
seguida de um programa de publicação e/ou divulgação pela internet.”
Parece que as medidas cogitadas por Tavares têm sido levadas a cabo de
forma producente, tendo algumas universidades iniciado a formação de grupos
de pesquisadores por meio dos centros de estudos Olímpicos.
Igualmente, a Academia Olímpica Brasileira tem sido responsável pelo
desenvolvimento de uma linha de pesquisa dentro dos moldes do Movimento
Olímpico, mas que prestigia as condições de cultura do país, e também tem
incentivado a realização de fóruns, seminários e congressos, em parceria com
universidades, os quais permitem a constituição de literatura própria em língua
portuguesa e a sua devida divulgação.
Entretanto, considero que um outro estágio deveria ser incorporado aos
três já existentes. Difundir os conhecimentos adquiridos por este grupo de
especialistas, de forma tratável, às camadas iniciantes da formação acadêmica.
151
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações.
A realização desta tarefa poderia acarretar um ‘efeito dominó’, no qual
teríamos uma população muito maior de ‘pesquisadores’, com certeza num
nível bem menor de rigorosidade, contudo com poder para disseminar a
Educação Olímpica genuinamente.
Não se pretende com isso tornar o estudo das demandas Olímpicas num
circo, deseja-se construir um ‘exército de soldados’ competentes na divulgação
dos ideais Olímpicos, liderados por generais de alto gabarito.
Em analogia grosseira, haveria um nexo entre a atitude proposta e as
palavras de Coubertin, que considerava as oportunidades para os mais bemdotados inseparáveis das oportunidades para todos.
“Para que cem se beneficiem da cultura física, 50 devem praticar um
esporte. Para que 50 pratiquem um esporte, 20 devem se especializar. Para
que 20 se especializem, 5 devem ser capazes de performances fora do
comum. É impossível quebrar este círculo. Uma coisa segue a outra”
(Segrave, In:Tavares,1999:26).
Em contas finais, há que se abrir as portas a todos os níveis de
compreensão dos estudos Olímpicos.
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153
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de
Iniciação Desportiva pela criança
Roberto Mário Scalon – Universidade Luterana do Brasil – Canoas/RS
Resumo
O esporte no tempo mostra que tem se constituído num fator
importantíssimo para o desenvolvimento social e cultural de todos os povos
do mundo. Nos dias de hoje, segundo CRUZ (1989), ele é um dos fenômenos
mais importantes do século XX, envolvendo pessoas de toda as faixas etárias.
Se de um lado é fácil entender a motivação de um atleta profissional que
recebe um salário mensal, o mesmo não acontece com o tipo de motivação
que leva várias crianças a buscarem um programa de iniciação desportiva
(CRATTY, 1983). Foram utilizados como instrumento de medida o
Inventário da Motivação (GILL, 1983) adaptado e passou a ser denominado:
Instrumento dos Fatores da Motivação (IFM). O estudo caracteriza-se por
uma pesquisa descritiva comparativa e tem como objetivo investigar: a) os
fatores que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pelas
crianças em relação ao sexo; b) os fatores que influem na aderência dos
programas de iniciação desportiva pelas crianças em relação a idade; c) os
fatores que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pelas
crianças em relação às modalidades desportivas. A seleção da amostra
investigada foi do tipo Não Aleatória Intencional, composta por 119 crianças
de 09 a 12 anos de idade, voluntárias que participam nas diversas escolinhas
desportivas da Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo. As modalidades
investigadas foram: voleibol, basquetebol, handebol, punhobol, tênis, natação,
judô e patinação. Os resultados detectados pela preferência dos sujeitos
foram: “gosto de estar alegre e me divertir; ficar em forma, ser forte e sadio;
melhorar minhas habilidades; encontrar novos amigos; e participar de um
grupo esportivo”.
Palavras-chave: motivação, aderência, criança, esporte.
Abstract
Sports is an important agent toward the social and cultural development of the
peoples of the world. Nowadays, according to CRUZ (1989), sports is the
most important phenomenon of the twentieth century which involves people
of different ages. Although it seems easy to understand motivation of a
professional athlete that earns a salary, it is not same kind of motivation that
makes children to join sports introduction programs (CRATTY, 1983). The
measurement instrument used in the study was a Motivational Inventory
(GILL, 1983) which was adapted to the investigation and named Motivational
154
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
Factors Instrument (MFI). The study carried out was of a comparative
descriptive nature and had the objective to investigate a) the factors that
influence adherence to sports introduction programs by children in relation to
sex, b) the factors that influence adherence to sports introduction programs by
children in relation to age, c) the factors that influence adherence to sports
introduction programs by children in relation to the choice of sports activities.
The research studied the whole population composed of 119 children whose
ages ranged from 9 to 17 years old, volunteers that participated in the different
sports school at the Novo Hamburgo Gymnastics Club. The sports researched
were volleyball, basketball, handball, fistball (" punhobol"), tennis, swimming,
and skating. The results revealed that the subjects were interested in being
happy and have fun, being in shape, beiong strong and healthy, improving
his/her sports habilites, getting new friends, and paticipating in a sports group.
Key words: motivation, adherence, child sports.
Introdução
Definição do problema
Uma análise do esporte, no tempo, mostra que ele tem se constituído num
fator importantíssimo para o desenvolvimento social e cultural de todos os
povos do mundo, coexiste com o homem desde os tempos mais primitivos.
Nos dias de hoje, segundo CRUZ (1989), é um dos fenômenos sociais e
culturais mais importantes do século XX. Atualmente, uma parte importante
das pessoas em todo o mundo, pertencentes a todas as faixas etárias da
população, estão engajadas em programas esportivos (CRATTY, 1989). A
carga de treinamento a que são submetidas estas pessoas varia na razão do seu
nível de motivação para o esporte. Se de um lado parece mais fácil entender a
motivação para o treinamento esportivo de um atleta profissional, que recebe
um salário mensal de milhares de reais, não acontece o mesmo com o tipo de
motivação que leva muitas crianças a buscarem um programa de iniciação
esportiva (CRATTY, 1989). Alguns autores (SCARR,1966; BRAZELTON,
1973) referem-se às diferenças genéticas que podem predizer o posterior
envolvimento da criança em atividades esportivas. Por outro lado, ORLICK
(1972) enfatiza que as atitudes dos pais, referente aos esportes, são fatores
fundamentais na busca da prática desportiva pela criança. Embora alguns
autores (CAGIGAL, 1985; ROBERTS, 1986; MENÉNDEZ, 1991) ressaltem
a importância da prática do desporto na formação da personalidade das
crianças, deve-se reconhecer que muitas delas não se sentem atraídas pela
atividade desportiva e adotam um estilo de vida sedentária (CRATTY, 1989).
Portanto, a motivação constitui um campo fecundo de investigação
psicológica básica e sua aplicação de conhecimento vem sendo utilizada por
profissionais das atividades físicas e desportivas. A competência destes
profissionais não só demanda do domínio técnico, mas também da capacidade
155
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
para motivar, ajudar e a orientar adequadamente na prática esportiva. Seu êxito
profissional requer, portanto, a compreensão profunda dos fatores que a
afetam e dos procedimentos para proporcionar um clima adequado para os
indivíduos.
As pessoas têm muitos motivos para envolver-se em uma atividade física
ou esportiva, esses motivos às vezes se complementam e outras podem entrar
em conflito. Tanto as situações como as linhas da personalidade são fatores
que motivam as pessoas. Para aumentar a motivação deve-se mudar o trato
com a criança, como que ajustar-se às necessidades dos participantes. Os
líderes influenciam a motivação, tanto por vias diretas como indiretas.
Finalmente, as técnicas de modificação da conduta são úteis para mudar os
motivos não desejados e fortalecer os positivos (MARTÍNEZ, 1995).
Este estudo visa proporcionar subsídios às áreas de Educação Física e de
Psicologia Desportiva e especificamente à Iniciação Desportiva, procura-se
responder fundamentalmente ao seguinte questionamento:
Quais são os fatores motivacionais que influem na aderência de
programas de iniciação desportiva pelas crianças?
Justificativas
Quando se observam as crianças interagindo em um cenário esportivo livre
como, por exemplo, no pátio de uma escola, a importância de ser fisicamente
competente aos olhos das outras é fundamental para a aceitação pelos demais.
Este fato aumenta o interesse e a motivação para as atividades esportivas.
Evans (apud ROBERTS & TREASURE, 1992) provou que as crianças que
demonstram habilidades físicas são as mais populares. E conseqüentemente
recebem mais oportunidades para interagir com seus companheiros e assim
desenvolver ainda mais suas relações entre os mesmos.
Assim sendo, esta pesquisa pretende contribuir para estabelecer um
referencial de princípios, normas e condutas, que devem ser considerados na
complexidade do envolvimento da criança no esporte.
Pretende-se oferecer à comunidade esportiva, pais, atletas, técnicos,
dirigentes, professores, interessados em geral, subsídios, perspectivas e
recomendações de medidas pedagógicas, psicológicas e sociais pertinentes ao
treinamento e à participação da criança no desporto.
Objetivos
Objetivo Geral:
Analisar os fatores motivacionais que influem na aderência dos programas
de iniciação desportiva pelas crianças na faixa etária de 9 a 12 anos de idade.
Objetivos específicos:
156
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
a) identificar os fatores que influem na aderência aos programas de iniciação
desportiva pelas crianças, em relação ao sexo;
b) identificar os fatores que influem na aderência aos programas de iniciação
desportiva pelas crianças, em relação à idade;
c) identificar os fatores que influem na aderência aos programas de iniciação
desportiva pelas crianças, em relação às modalidades desportivas;
Revisão de Literatura
Desporto
Comenta-se muito sobre os efeitos educativos do desporto, mas se faz
muito pouco a este respeito. Entender a dinâmica da prática esportiva, como
mecanismo de regulação social, no processo de movimento humano, tem sido
um dos assuntos mais estudados e discutidos entre as pessoas que trabalham e
pesquisam o desporto.
Os fenômenos que interferem no processo de regulação social da prática
esportiva é muito complexo, vasto e importante no contexto social. Há
inúmeros mecanismos reguladores sociais, todos, sem exceção, importantes.
Conceitos
Telama (apud MENÉNDEZ, 1991, p. 1) diz:
“O desporto em si não educa os jovens. Seus efeitos pedagógicos
dependem da situação criada pela atividade desportiva e pela interação
social, determinada, na maioria das vezes, pelo treinador. Isto significa que a
forma e o método são muito mais importantes que o conteúdo, por
exemplo, o desporto praticado”.
O educativo das práticas desportivas não é o aprendizado de suas técnicas
ou táticas, nem sequer os benefícios físicos e psíquicos de uma boa preparação
física que sustenta seu rendimento. Na verdade, o que realmente educa, são as
condições em que se realizam essas atividades que permitem ao desportista
comprometer e mobilizar sua capacidade, de tal maneira que essa experiência
organize e configure seu próprio eu, consiga sua auto-estruturação e seja
consciente dela. Todavia, deve-se preocupar mais com a formação do homem,
com sua educação e não tanto com a formação do atleta. No momento em que
se atingir esse primeiro objetivo, certamente se conseguirá formar, no futuro,
um novo atleta (SEIRUL.LO,1992).
Para Le Boulch (apud SEIRUL.LO, 1992) um desporto é educativo,
quando permite o desenvolvimento de suas amplitudes motrizes e
psicomotrizes, em relação aos aspectos afetivos, cognitivos e sociais de sua
personalidade.
Como já se manifestaram Antonelli e Cagigal (apud MENÉNDEZ, 1991)
o desporto é jogo, é competição, é norma. Através das atividades desportivas,
157
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
a criança pode desenvolver a experiência de grupo, o autocontrole e valorizar
as relações interpessoais. Assim, a prática desportiva continuada e dirigida
pode permitir a aquisição de destrezas específicas, como também de outros
objetivos educativos, de hábitos e de valores em relação ao esforço, ao desejo
de superação à resistência, à frustração, à aceitação das normas e linha de seu
grupo, ao respeito e à solidariedade com os outros.
Segundo ROBERTS (1986), o desporto se vê como modelo antecipado da
sociedade, preparando a criança para que possa viver na mesma. O desporto
contribui no desenvolvimento da personalidade e é também um foco de
ensino da responsabilidade, conformidade, subordinação e modela os níveis de
aspiração, fomentando o esforço e a persistência.
Van Lierde (apud MENÉNDEZ, 1991) já apontava como primordial: o
desenvolvimento do espírito de equipe, respeito ao adversário, a educação, a
cooperação, a preparação do processo de aprendizagem social; tolerância,
responsabilidade, respeito aos demais, ajuda aos colegas, iniciativa, adaptação e
a preparação para assumir um lugar chave. O autor faz um comentário sobre o
41o Seminário de Professores Europeus realizado em Donaveschingen em
1988, que teve como tema: "Sem fair-play o desporto não é desporto", onde
confirmou que há instituições, separadas do Conselho da Europa, criadas com
o objetivo de estimular o "fair-play" e contra a violência e o próprio
desporto.Dessa forma um programa de iniciação desportiva deve ser lúdico e
educativo, onde o desporto é um meio intencional utilizado, tanto para o
desenvolvimento pessoal, quanto para a integração social da criança (GOULD
1987).
A criança no esporte
As experiências adquiridas pela criança no início das atividades desportivas
serão um ponto marcante para o resto da sua vida. Pois, é importante entender
as modificações emocionais que ocorrem na criança que pratica o esporte,
quando o sucesso ou o fracasso estarão ligados à vitória ou a derrota da sua
equipe. Poderiam as derrotas prejudicar emocionalmente as crianças? Somente
as vitórias proporcionam benefícios emocionais?
Há inúmeros fatores podem motivar as crianças para a prática do esporte
competitivo. Entre os mais importantes, segundo CRATTY (1989) estão: o
ambiente familiar, na figura do pai, o mais motivante; o professor de educação
física e o próprio treinador.
Segundo GOULD (1984) as motivações que definem as atividades
desportivas, parecem ser: melhorar as suas habilidades, passar bem, fazer
amigos, vencer, vivenciar emoções, desenvolver o físico e o bem estar. Assim,
o tipo de motivação, nesta idade, pode definir a orientação de jogar. Portanto,
o que interessa não é a vitória contra um adversário, mas sim o progresso
pessoal.
158
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
Por sua vez SCANLAN (1995) enfatiza que o principal fator pela procura
da prática esportiva continua sendo a busca da ludicidade, divertimento e
aprimoramento de suas habilidades motoras. A competição deveria ser
estimulada apenas para as crianças que demonstrassem esse tipo de interesse
dentro do esporte organizado. Para as crianças que não estão interessadas em
competir, propiciar outras formas de movimento, que possam atender seus
interesses e manter sua motivação.
Uma possível explicação é de que há falhas no aspecto educativo, quando
se conserva todo um espírito que valoriza a seleção, a vitória, e não respeita as
capacidades e as necessidades individuais. Muitas vezes, crianças são levadas a
competir, mesmo quando não estão preparadas e sem que haja um equilíbrio
entre os participantes, causando uma grande frustração entre as perdedoras em
relação ao desporto (ROBERTS, 1995).
Conclui-se que o equilíbrio entre o jogo de cooperação e/ou o jogo
competitivo que o motiva na busca pela vitória é de extrema importância para
a criança. Convém que o professor fale com as próprias crianças e faça esse
equilíbrio entre o lúdico e o agonístico do desporto (BRAUNER, 1994).
O próximo capítulo será um estudo baseado na psicologia desportiva, onde
se busca subsídios para desenvolver a investigação sobre os motivos que levam
a criança a buscar as atividades esportivas e o que a mantém na prática por um
longo ou curto tempo.
Motivação
O termo motivação denota os fatores e processos que levam as pessoas à
ação ou à inércia em diversas situações. De modo mais específico, o estudo
dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou
executar algumas tarefas, com maior empenho do que outras ou, ainda,
persistir numa atividade por longo período de tempo (CRATTY, 1983).
Conceitos
Segundo MARTÍNEZ & CHIRIVELLA (1995), as definições sobre
motivação são muito vagas, o termo utilizado se aplica em diferentes
significados e muitas vezes são contraditórios, o que dificulta a comunicação
entre os psicólogos, os treinadores e os desportistas.
Já BECKER JR. (1996), define a motivação como: um fator muito
importante na busca de qualquer objetivo, pelo ser humano. Os treinadores
reconhecem este fato como sendo principal, tanto nos treinamentos como nas
competições. Assim sendo, a motivação é um elemento básico para o atleta
seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de
treinamento.
159
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
Metodologia
Caracterização do Estudo
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva
comparativa. Através desta se objetiva analisar os fatores motivacionais que
influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pela criança, na
faixa etária de 9 a 12 anos de idade.
População e Amostra
A população foi constituída por crianças participantes dos programas de
iniciação desportiva, na cidade de Novo Hamburgo.
Foi selecionada, intencionalmente, a Sociedade Ginástica de Novo
Hamburgo (SGNH) por ser considerada o Clube que oferece o maior número
de modalidades esportivas às crianças da cidade.
Esta amostra envolveu todos os praticantes de 09 a 12 anos de idade, de
ambos os sexos, voluntários, inscritos nas diversas escolinhas desportivas da
SGNH, no total de 119 sujeitos. O objetivo foi verificar quais os fatores
motivacionais que levaram as crianças a ingressar nos programas de iniciação
esportiva.
Modalidades praticadas pelos sujeitos
Os sujeitos participantes da amostra praticavam as seguintes modalidades
esportivas na SGNH:
a) Desporto coletivo - voleibol, basquetebol, handebol, punhobol.
b) Desporto individual - tênis, natação, judô e patinação.
Instrumentos de medidas
Para a presente investigação foi realizada a entrevista estruturada e a semiestruturada:
Para investigar o grupo foi utilizado o Inventário de GILL (1983).
Composta originalmente por 32 questões, modificado e validado para o idioma
português pelo próprio investigador, ficando reduzido a 20 questões, o que
objetivou verificar os possíveis fatores motivacionais que levaram as crianças a
buscar as atividades desportivas, (anexo 3).
Plano piloto
Com o objetivo de testar a validade e a fidedignidade dos instrumentos de
medidas utilizou-se um plano piloto, obtendo-se dessa forma maior segurança
na aplicação da metodologia proposta para o estudo.
160
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
Inventário dos fatores da motivação
Para investigar o grupo “M” foi utilizado o Inventário dos Fatores
Motivacionais - IFM - composto por 20 questões para verificar os fatores que
concorrem para a motivação na busca pela prática de atividades esportivas.
Tratamento estatístico
Os dados aferidos pelo IFM foram tratados pelo pacote estatístico SPSS,
através da estatística descritiva com gráficos das médias, dos desvios-padrão,
bem como se utilizou a estatística inferência, a Análise de Variância e o teste F.
Resultados e discussão
Resultados da Investigação
Os resultados apresentados serviram para caracterizar a amostra na variável
estudada. A seguir, apresentar-se-ão dados dos fatores motivacionais que as
crianças consideram como mais significativos para participar das atividades
esportivas. Estes resultados foram analisados através da estatística descritiva
(média aritmética e desvio padrão) e inferêncial (análise de variância, teste “F”
e teste de Tukey).
Verificou-se que não existiram diferenças estatisticamente significativas, ao
nível de 5%. Notou-se que as pontuações médias obtidas nas dezenove
questões do Instrumento dos Fatores de Motivação (IFM), respondido por
119 crianças, das faixas etárias entre 9 e 12 anos. Como pode notar, as
questões que apresentaram as maiores pontuações foram: Gosto de estar
alegre, me divertir; ficar em forma, ser forte e sadio; melhorar as minhas
habilidades; encontrar novos amigos; modalidades coletivas enquanto
que na questão n° 13 – Gosto do esporte individual - obteve-se a menor
pontuação média, das categorias de motivação estudadas.
Sugestões
Com o intuito de maximizar o desporto fazem-se as seguintes sugestões:
- Estabelecer como meio de motivação para as crianças, objetivos e
desafios realistas e atingíveis, dentro do treinamento e da própria competição;
- Utilize no treinamento materiais e técnicas diversificadas e atividades
dinâmicas, para evitar a monotonia do trabalho;
- Evite frustrações, aborrecimentos e estresse constante através de maus
resultados. Faça competições com adversários da mesma categoria e faixa
etária;
- Desenvolva atividades lúdicas num ambiente alegre, isto favorece a
motivação do grupo;
- Para a criança ter sucesso no esporte é preciso associá-lo ao “esforço”, à
“garra”, à “luta”, à “determinação” e não somente ao resultado final da
competição;
161
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
- O esporte de rendimento deve ser estímulo apenas para as crianças que
têm esse interesse. Para as demais, deve-se propiciar outras formas de
atividades que possam atender os seus interesses;
- Proporcionar, na mesma intensidade, jogos de cooperação e de
rendimento, para que se tenha um equilíbrio entre o lúdico e o agonístico do
desporto;
- Amenizar um pouco o controle que se faz sobre os jovens esportistas em
relação à sua vida, dentro e fora do esporte, não os obrigando a levar um estilo
de vida muito diferente dos demais jovens;
- Novas pesquisas na área, controlando-se um maior número de variáveis,
tais como: modalidades desportivas, faixa etária, amostra, entre outras;
- Realizar novos estudos com ênfase na visão que tem os técnicos,
dirigentes e pais.
Unitermos
Motivação, aderência, criança e esporte.
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164
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de
Iniciação Desportiva pela criança
Roberto Mário Scalon – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Resumo
Através da observação assistemática de muitos anos constatou-se que um
enorme contingente de crianças inicia a participar das atividades esportivas
através dos programas de iniciação desportiva. Após um determinado tempo
começam a perder a motivação pela prática e passam a abandonar estas
atividades. Este estudo objetiva, através de um modelo teórico, detectar os
fatores motivacionais que os levam ao abandono “burnout” das atividades.
Revisando-se criticamente a literatura das teorias existentes, dos estudos
realizados com o tema, observou-se que normalmente o abandono ocorre
entre os 12 e 17 anos de idade em ambos os sexos. Investigou-se 221 expraticantes de 11 a 18 anos de idade. Utilizou-se um instrumento de medida
para avaliar o abandono no esporte denominado Instrumento dos Fatores do
Abandono (IFA). O estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva
comparativa e tem como objetivo investigar: a) os fatores que influem no
abandono dos programas de iniciação em relação ao sexo; b) os fatores que
influem no abandono dos programas de iniciação desportiva pelas crianças em
relação a idade; c) os fatores que influem no abandono dos programas de
iniciação desportiva pelas crianças em relação às modalidades desportivas. Os
resultados indicaram que 33,93% dos sujeitos abandonaram a pratica do
desporto, sendo 53,33% do sexo masculino e 46,67% do feminino. Os fatores
que mais contribuíram para o “burnout” foram: “relacionamento com o
técnico; falta de apoio do técnico; relacionamento com companheiros de
equipe; pressão e cobrança excessiva pelo técnico e não ser tão bom quanto
gostaria”.
Palavras-chave: motivação, abandono, criança, esporte.
Abstract
It can be observed through a systemic observation of many years that a great
number of children starts to participate in sports activities through sports
sports introduction programs. It can also be noticed that after a determined
period of time many of the children engaged in these kind of programs lose
motivation and quit the activities. This study has the purpose to find out,
through a theoretical framework, the motivational factors that make children
to withdraw from such activities. After a careful review of the related literature
it was observed that the activities withdrawal happens between the ages of 12
and 17 in both sexes. The sample of this study was composed of 221 sports
participants that quitted sports activities in the ages ranging from 11 to 18
165
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
years old. It was used an instrument to assess sport burnout called Burnout
Factor Instrument (BFI). This was a comparative descriptive study whose
objective was to investigate a) the factors that influence children withdrawal
from sports introduction programs in relation to sex, b) the factors that
influence children withdrawal from sports introduction programs in relation to
age, c) the factors that influence children withdrawal from sports introduction
programs in relation to the kind of sports chosen. The results indicated that of
the 33.93% of the subjects who quitted sports introduction programs, 53.33%
were male and 46.67% were female. The burnout factors observed in the
sample were the relationship with the coach, the lack of technical support, the
relationship with teammates, problems such as pressure and good results
demanded by the coach, and not be a good athlete as it was wanted.
Key words: motivation, quit (burnout), child sports.
Introdução
Através da observação assistemática de muitos anos constatou-se que um
enorme contingente de crianças iniciam a participar das atividades esportivas
através dos programas de iniciação desportiva. Após um determinado tempo
começam a perder a motivação pela prática e passam a abandonar estas
atividades. Este estudo objetiva, através de um modelo teórico, detectar os
fatores motivacionais que os levam ao abandono “burnout” das atividades.
Revisando-se criticamente a literatura das teorias existentes, dos estudos
realizados com o tema, observou-se que normalmente o abandono ocorre
entre os 12 e 17 anos de idade em ambos os sexos. Investigou-se 221 expraticantes de 11 a 18 anos de idade. Utilizou-se um instrumento de medida
para avaliar o abandono no esporte denominado Instrumento dos Fatores do
Abandono (IFA)
Assim como é fácil entender a grande motivação pela prática das atividades
esportivas, por outro lado, também existem crianças que apresentam, após
algum tempo, desinteresses e uma baixa radical da mesma, que leva a um
quadro chamado “burnout” (queima), caracterizado por intensos sentimentos
negativos, cujo desenlace provoca o abandono do esporte.
Este estudo visa proporcionar subsídios às áreas de Educação Física e de
Psicologia Desportiva, a fim de responder fundamentalmente ao seguinte
questionamento:
Quais os fatores motivacionais que influem no abandono de programas
de iniciação desportiva pelas crianças?
166
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
Objetivos
Objetivo Geral:
Analisar os fatores motivacionais que influem no abandono dos programas
de iniciação desportiva pelas crianças na faixa etária de 11 à 18 anos de idade.
Objetivos específicos:
a) identificar os fatores que influem no abandono aos programas de iniciação
desportiva pela criança, em relacionados ao sexo;
b) identificar os fatores que influem no abandono aos programas de iniciação
desportiva pela criança, relacionados à idade;
c) identificar os fatores que influem no abandono aos programas de iniciação
desportiva pela criança, relacionados às modalidades esportivas.
Revisão de Literatura
Conceito de Abandono
O quadro de abandono de uma atividade profissional foi chamada, pela
primeira vez, de “burnout” por Freudenberg em 1974 e conceituada por
Maslach & Jackson em 1981 e 1986 (apud GARCÉS y CANTON, 1995, p.3)
como: “uma síndrome tridimensional caracterizada pelo esgotamento
emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal”.
Felder (apud GARCÉS y CANTON, 1995, p.4) conceitua o “burnout” no
desportista como: “uma reação aos estressores da competição desportiva que
estaria caracterizada pelo esgotamento emocional, atitudes impessoais para
com os sujeitos do seu convívio e diminuição do rendimento desportivo”.
Weinberg (apud GOULD, 1995) caracterizou cada uma das dimensões da
seguinte forma:
- Esgotamento, tanto físico como emocional, que se manifesta em forma de
baixo conceito de si mesmo, falta de energia, de interesse e de confiança;
- Insensibilidade, que vem refletida nas respostas negativas para os outros;
- Sentimentos de baixa realização pessoal, baixa auto-estima, sensação de estar
falhando e depressão, que se faz visível a partir de uma baixa produtividade ou
de um decréscimo do nível de rendimento.
Loehr (apud GARCÉS y CANTON, 1995) numa outra intenção de
conceituar a síndrome, entende que a aparição da mesma, no desportista, é
fruto de três fases consecutivas:
a) Começa a diminuir o sentimento de entusiasmo e energia, já que as ilusões
que motivaram a iniciação no desporto não seguem acompanhadas dos
sentimentos positivos originais, ao cair dentro do sistema competitivo
estabelecido;
b) A falta de energia, que começa a manifestar-se provoca no desportista uma
série de bloqueios que o afetam no treinamento e na competição, o que
provoca angústia e abandonos;
167
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
c) Se a fase anterior se prolonga por demasiado tempo, aparecerá a perda de
confiança de auto-estima, depressão, alienação e abandono definitivo do
esporte.
Estudos demonstram que um grande número de crianças, que ingressam
no esporte, interrompem o seu envolvimento. Embora muitos voltem a
praticar, milhões ainda permanecem fora dos esportes. Estes dados
surpreendentes têm alarmado os estudiosos, especialmente sabendo-se que os
esportes infantis, quando conduzidos apropriadamente, têm efeitos benéficos
sobre àqueles que os praticam (MARTENS, 1978).
Hand (apud BECKER JR., 1996) enfatiza que crianças, desde os 10 anos
de idade, assinam contrato profissional no esporte (através de seus pais ou
responsáveis), sofrendo pressões inerentes às competições de alto nível.
Numa sociedade estruturada para a competição e para o resultado, a busca
incessante pela vitória nas atividades desportivas é constante. Quando esses
objetivos pessoais não são alcançados, podem provocar desejos de abandonar
o esporte, muitas vezes, de maneira precoce (OLIVEIRA, 1993).
Fatores que influem no abandono do esporte pela criança
DUDA (1989) verificou que tanto os meninos, como as meninas, preferem
ter êxitos no campo esportivo do que obter em sala de aula. Nos estudos
realizados por Roberts (apud OLIVEIRA, 1993) 80% das crianças americanas
matriculadas em programas de esporte abandonam os mesmos entre as idades
de 12 a 17 anos. Portanto, há um paradoxo. Apesar de desejar ter mais sucesso
na participação desportiva, do que nos seus estudos, a grande maioria das
crianças, no estudo de DUDA (1989) acaba abandonando o desporto após os
12 anos.
Cientistas esportivos, estudando as razões para os conflitos geradores de
“burnout” nos esportes infantis, chegaram a diferentes conclusões. Alguns
autores como Orlick; Orlick & Botterill; Pooley; Feigley (apud GOULD, 1987)
têm concluído que eles podem resultar de: a) uma ênfase excessiva na
competição; b) desgaste por demasiado treinamento; c) organização e instrução
inadequadas.
Outros, ainda, como Guppy & Mckay; Gould & Horn (apud GOULD,
1987) têm concluído que a maioria das crianças não interrompem o seu
envolvimento nos esportes, completamente, mas que o fazem por um curto
espaço de tempo ou abandonam um esporte para entrar em outro.
Dishman (apud FREITAS JR., 1994) afirma que aproximadamente 50%
das pessoas, abandonam os programas de atividade física após um período que
varia de 6 meses a um ano.
Já Robertson & Mutrie (apud FREITAS JR., 1994) vão além e revelam que
a taxa do abandono nos programas de atividades físicas alcança o índice de
168
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
70%. Esta alta taxa de abandono faz com que muitos estudiosos se preocupem
cada vez mais em motivar e estimular as pessoas para a prática esportiva.
Autores como Heyward e Gill (apud FREITAS JR., 1994) defendem a idéia
de que para reverter essa situação de abandono, é necessário que o profissional
crie nas pessoas uma atitude positiva em relação à atividade desportiva.
Estudos Descritivos sobre o Abandono do Esporte
Como principais causas para o abandono, GOULD (1984), refere-se a
excessiva ênfase pela vitória, a falta de sucesso, o envolvimento em outras
atividades e outros interesses - desconforto, derrota, situações
constrangedoras, falta de motivação, lesões e a forma de seleção para a
formação das principais equipes, também aparecem citadas de forma bastante
intensa.
Para ORLICK (1972) estudando 32 crianças entre 8 e 9 anos, que
abandonaram os esportes juvenis, a falta de participação, o medo do fracasso, a
desaprovação por colegas e o estresse psicológico foram os fatores básicos
para a decisão das crianças em abandonar os esportes competitivos.
Geralmente, quando ocorre este quadro é porque elas estão reagindo a um
ambiente negativo, criado pelos treinadores e pela própria estrutura dos
esportes.
Segundo Anshel (apud OLIVEIRA, 1993) o fato de promover
competições entre crianças de diferentes níveis, a falta de conhecimento de
suas capacidades e a falta de motivação interna são os fatores de maior
incidência encontrados entre os jovens, que abandonaram os programas
desportivos. Por outro lado, Siedentop & Ramy (apud OLIVEIRA, 1993)
mostraram que a persistência na motivação externa, através das premiações,
leva a criança a perceber o jogo como uma forma de trabalho. Assim, a
ausência de motivação interna torna-se predominantemente o maior motivo
que leva ao abandono.
Por sua vez, ROBERTS (1984) argumentou que a percepção de
competência, que todos desenvolvem através das experiências de êxito ou de
fracasso, no sentido de lucro, é o construto responsável, que determina a
percepção de estresse competitivo que decidirá a continuidade ou o abandono
do esporte.
Orlick e Botterill (apud GOULD, 1987) entrevistaram extensivamente 60
ex-participantes de esportes com idades entre 7 e 19 anos atletas de beisebol,
hockey sobre o gelo, futebol e natação. Os estudos revelaram que 40 das 60
crianças (67%) se retiraram por causa de demasiada pressão do programa. O
estudo mostra que 30 dessas 40 crianças interromperam sua participação por
causa da natureza competitiva do programa, citando sua falta de diversão, a
seriedade do esporte e a ênfase no vencer, como os principais motivos para o
abandono. Outras 10 crianças indicaram que se retiraram por causa das ações
169
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
dos treinadores, o que incluía coisas como deixar jogadores fora dos jogos,
críticas constantes aos jogadores e por exigir demais dos atletas.
Na investigação de Sapp e Haubenstricker (apud GOULD, 1987) com
1.183 atletas, de ambos os sexos, entre as idades de 11 e 18 anos e pais de 418
atletas entre 6 e 10 anos, os autores fizeram um levantamento tanto dos
motivos para a participação quanto dos motivos para o abandono dos
esportes. Esta pesquisa foi desenvolvida em várias modalidades esportivas:
golfe, futebol, tênis etc... 35% dos atletas e 24% dos pais indicaram que eles e
seus filhos não pensavam em participar da temporada seguinte. Dos atletas que
indicaram não participar, 64% disseram que estariam envolvidos em outras
atividades, 44% que estariam trabalhando e 34% citaram o desinteresse, como
os motivos principais para o abandono. Menos do que 15% citaram a falta de
participação, antipatia pelo treinador, lesões, custo e antipatia por colegas
como um fator importante.
Os estudos de Robertson (apud GOULD, 1987) envolveram a avaliação
das desistências em 405 meninos e 353 meninas com 12 anos de idade, exatletas. Os resultados revelaram que 51% dos meninos e 39% das meninas
interromperam por causa do programa esportivo em si. Argumentaram que
não tinha graça, que era entediante, violento ou ainda porque nunca jogavam...;
14% dos meninos e 17% das meninas citaram conflitos com a vida social (sem
tempo livre, vida social, conseguiu um emprego...) e 12% dos meninos e 10%
das meninas citaram outros conflitos esportivos como motivo principal para o
abandono.
Petlichkoff encontrou que os motivos que levam o atleta mais novo a
abandonar não são os mesmos dos atletas mais velhos, pois eles citaram
motivos diferentes. Assim, se descobriu que o abandono por parte dos atletas
mais jovens se deve mais a fatores sociais, como o encontro de novos amigos e
a conquista do reconhecimento (GOULD, 1987).
Por sua vez Fry, McClements & Sefton (apud GOULD, 1987) pesquisaram
entre 200 jovens de 8 a 16 anos e constataram que: 31% conflitos de interesse;
15% falta de habilidade; 14% antipatia pelo treinador; 10% violência no
esporte; 10% dificuldades organizacionais e 10% outros motivos. As crianças
mais novas (abaixo dos 9 anos) citaram o tédio ou a falta de divertimento e a
falta de habilidade, como os fatores mais importantes.
Um dos mais bem planejados estudos sobre o abandono foi realizado por
Robinson & Carron (apud GOULD, 1987). Uma variedade de fatores pessoal
e situacional foi selecionada. Incluíram a ansiedade competitiva, motivação
para realizações, auto-motivação, auto-estima, atitudes em relação à
competição etc... As variáveis foram avaliadas em 98 jogadores de futebol
americano e descobriu-se que aqueles que abandonaram se sentiam menos
participantes da equipe, se divertiam menos, sentiam-se menos apoiados por
seus pais, e mais freqüentemente se queixavam do treinador. A investigação
170
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
destes autores é importante porque ela sustenta a noção que o processo de
atrito nos esportes juvenis é um fenômeno complexo, influenciado por uma
infinidade de variáveis pessoais e situacionais.
Estresse
Para entender os processos emocionais e motivacionais humanos e, em
concreto, o fenômeno de “burnout”, necessitamos encontrar sua base
explicativa, e esta se encontra muito ligada aos processo de ansiedade,
especialmente com seu componente cognitivo. Neste sentido, GARCÉS Y
CANTON (1995, p.67) definem o estresse como: “o juízo cognitivo que a
pessoa realiza ao avaliar seus recursos pessoais e que são incapazes de dar
resposta às demandas por um acontecimento particularmente indesejável ou
difícil de evitar, e que conduz a uma emoção de medo”.
Fontes de estresse no esporte
Num levantamento de interesses de treinadores e psicólogos na área do
esporte, Gould (apud BECKER JR.,1996) verificou entre os desportistas
jovens, que um dentre os três assuntos mais importantes era o estresse
competitivo. Portanto, apesar dos inúmeros fatores que influenciam a criança
para a prática do desporto, muitas vezes há uma situação de estresse,
principalmente quando a competição é intensa e quando há uma cobrança
muito grande pela vitória. O medo de errar, de falhar na execução dos gestos
técnicos esportivos, ou de perder o jogo, se apresentam como fatores que
tendem a propiciar o estresse de competição (OLIVEIRA, 1993).
SCANLAN & SIMONS (1995) citam o estresse de competição como uma
reação emocional altamente negativa para uma criança, quando sua auto-estima
é ameaçada. O medo de errar é a causa mais comum da origem, que provoca o
estresse de competição. Tende a aumentar com a idade, sendo bastante visível
aos 12 anos, coincidindo com o período de maior índice de abandono das
práticas desportivas. O receio de errar é provocado, principalmente, em função
da importância que os adultos depositam sobre na vitória. Consideram
sucesso somente quando o resultado final do jogo for favorável e este passa a
ser o objetivo final.
Há inúmeras pesquisas que identificaram as fontes que provocam o
estresse e que podem influenciar na decisão da criança em abandonar o
esporte. ROBERTS (1986) cita os trabalhos de Scanlan e de Passer que
determinaram os seguintes elementos responsáveis pelo estresse competitivo
das crianças: a) crianças com alto nível de ansiedade competitiva; b) crianças
que apresentam uma baixa auto-estima; c) crianças com expectativas mais
baixas de realizar bem a tarefa; d) crianças que têm medo da avaliação do
treinador ou dos pais; e) crianças que percebem por parte dos pais uma
171
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
pressão maior; f) crianças que perdem seguidamente as competições. Nestes
casos, nota-se um maior nível de ansiedade nos ambientes esportivos.
Acredita-se, que um dos critérios mais importantes, que leva a criança a
abandonar ou a continuar na prática do desporto está diretamente ligado aos
resultados, vencer ou perder. Se ela ou sua equipe vencer, se sentirá
competente e gostará da experiência. Conseqüentemente, receberá pouco
estresse e provavelmente continuará na atividade desportiva. Por outro lado, se
ela ou sua equipe perder, se sentirá incompetente e a sua experiência será
desagradável. Essa criança torna-se forte candidata ao abandono das atividades
desportivas (ROBERTS, 1984).
A percepção que a criança tem, sobre a sua habilidade, é fundamental para
compreender sobre o seu estresse competitivo. Se as exigências desportivas
são consideradas maiores do que as habilidades que possui para realizá-las,
ocorre o estresse competitivo e poderá originar a ansiedade. Se a criança
percebe que sua habilidade é maior do que o desporto requer, poderá resultar
no seu aborrecimento. Portanto, as condutas dessas crianças mudarão de
acordo com suas percepções (WINTERSTEIN, 1992). Segundo ROBERTS
(1994) a criança com habilidade elevada percebe que não lhe é exigido o
suficiente, além de se aborrecer poderá tornar-se exibicionista.
A criança que percebe que as suas habilidades satisfazem as exigências do
jogo, se esforça e se diverte demonstrando-as, em especial após os 12 anos.
Estas são as crianças entusiastas que querem ter êxito e possivelmente
continuarão praticando o desporto.
Fases evolutivas do “burnout”
Para a aparição do “burnout”, Loher (apud BECKER JR., 1996) aponta três
fases evolutivas:
a) Os sentimentos de entusiasmo e de energia começam a diminuir;
b) A falta desta capacidade energética leva à angústia e abandonos
conjunturais;
c) Ao final se produz uma perda de confiança, de auto-estima, aparecimento de
depressão, alienação e abandono.
Os principais sintomas do “burnout”
Segundo Cherniss; Pinis, Aronson & Katry; Maslach & Jackson (apud
GARCÉS Y CANTON, 1995) os principais sintomas causados pelo “burnout”
são: atitudes negativas, insensibilização, culpa e diversos problemas associados
à fadiga, insônia, dores de cabeça, resfriados permanentes, problemas
digestivos, abuso do álcool e drogas, problemas de socialização e depressão.
172
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
Resultados e discussões
Observando o "burnout" entre jovens que praticam esporte, encontrou-se
que dos entrevistados, 108 rapazes (48,87%) e 113 moças (51,13%) deixaram
de freqüentar o clube. Destes, 75 adolescentes realmente pararam de praticar
desporto, os demais 134 responderam que já retornaram a praticar, no próprio
clube ou em outro local, mas enfim estão realizando uma atividade esportiva
regularmente.
Dos 75 entrevistados que responderam que não estão praticando esporte,
40 (53,33%) são rapazes e 35 (46,67%) moças. Como se pode observar, não
encontrou-se diferenças estatisticamente significativas, ao nível de 5%, no
número de casos "burnout" entre os rapazes e as meninas. Entre os rapazes 24
(60%) responderam que gostariam de retornar e somente 16 (40%) realmente
não pretendem retornar, e entre as meninas 20 (57,14%) responderam que
gostariam de retornar e apenas 15 (42,86%) não gostariam.
Outra informação levantada pelo instrumento foi que dos 221 expraticantes, 97 (43,89%) adolescentes não chegaram a competir e 124 (56,11%)
dos adolescentes competiram pelo clube.
Notou-se que muitos jovens freqüentaram mais de uma modalidade de
Iniciação Desportiva, totalizando 273 vagas ocupadas. Outros dados valiosos
foram levantados em relação ao número de participantes nos programas de
treinamento e posteriormente nas competições. Por esses dados pôde se
constatar que o esporte individual, principalmente a natação, foi a modalidade
em que mais participantes ingressaram nas escolinhas (100 crianças) e destes,
somente 13 atletas competiram. Portanto, foi a modalidade que apresentou a
maior porcentagem de abandono, ou seja, somente 13% dos participantes, que
ingressaram na iniciação da natação, chegaram a competir pela modalidade,
seguidos pelo voleibol, com 41 vagas ocupadas e o tênis, com 39 vagas
ocupadas.
Percebe-se que o alto índice de abandono ocorre nos 3 primeiros anos de
atividades esportivas. Portanto, no decorrer do trabalho vou tentar verificar
quais são as causas deste índice de abandono, principalmente nos primeiros
anos.
Conclusões e sugestões
Conclusões
Com base nos resultados obtidos com este estudo, que teve como objetivo
analisar os fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de
iniciação desportiva pelas crianças, na faixa etária de 9 a 12 anos de idade,
chegou-se às seguintes conclusões:
- Entre os 221 sujeitos investigados, no grupo caracterizado de abandono
burnout”da prática desportiva, na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo,
somente 75 realmente abandonaram as atividades esportivas;
173
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
- Na aplicação do Instrumento dos Fatores do Abandono, na Sociedade
Esportiva Ginástica de Novo Hamburgo, identificou-se a ordem dos fatores
que provocam o quadro do “ burnout”:
a - relacionamento com o técnico;
b - monotonia nos treinamento;
c - falta de apoio por parte do técnico;
d - relacionamento com companheiros da equipe;
e - não ser tão bom como gostaria;
f - pressão e cobrança excessiva por parte do técnico;
g - estresse da competição.
Sugestões
Com o intuito de minimizar o fenômeno de “burnout” fazem-se as seguintes
sugestões:
- Estabelecer como meio de motivação para as crianças, objetivos e desafios
realistas e atingíveis, dentro do treinamento e da própria competição;
- Utilize no treinamento materiais e técnicas diversificadas e atividades
dinâmicas, para evitar a monotonia do trabalho;
- Detecte entre seus atletas sintomas peculiares ao fenômeno do “burnout”;
- Evite frustrações, aborrecimentos e estresse constante através de maus
resultados. Faça competições com adversários da mesma categoria e faixa
etária;
- Desenvolva atividades lúdicas num ambiente alegre, isto favorece a
motivação do grupo;
- Para a criança ter sucesso no esporte é preciso associá-lo ao “esforço”, à
“garra”, à “luta”, à “determinação” e não somente ao resultado final da
competição;
- O esporte de rendimento deve ser estímulo apenas para as crianças que têm
esse interesse. Para as demais, deve-se propiciar outras formas de atividades
que possam atender os seus interesses;
- Proporcionar, na mesma intensidade, jogos de cooperação e de rendimento,
para que se tenha um equilíbrio entre o lúdico e o agonístico do desporto;
- Amenizar um pouco o controle que se faz sobre os jovens esportistas em
relação à sua vida, dentro e fora do esporte, não os obrigando a levar um estilo
de vida muito diferente dos demais jovens;
- Novas pesquisas na área, controlando-se um maior número de variáveis, tais
como: modalidades desportivas, faixa etária, amostra, entre outras;
- Realizar novos estudos com ênfase na visão que tem os técnicos, dirigentes e
pais.
Unitermos
Motivação, abandono, esporte, criança.
174
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança
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WINTERSTEIN, P. J. Motivação, educação física e esporte. Revista Paulista
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176
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear
durante corrida em esteira
Leonardo Alexandre Peyré Tartaruga – INDESP – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Marcus Peikriszwili Tartaruga; Leonardo Rossato Ribas - Sociedade Ginástica
Porto Alegre/SOGIPA
Jefferson Fagundes Loss - INDESP – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre/RS
Luiz Fernando Martins Kruel - INDESP – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre/RS
Resumo
A proposta deste estudo foi correlacionar parâmetros cinemáticos angulares
(velocidade e deslocamento angular) de segmentos inferiores com velocidade
horizontal de corrida, entre diferentes intensidades de corrida, através de
análise em retratos de fase, durante corrida em esteira. Sete rapazes, corredores
de meia-distância de nível nacional, foram solicitados para correr em
intensidades de esforço de trote, rodagem, ritmo de 5/10km, tiros de
400/800m e tiros de 100/200m. Três passadas completas foram gravadas em
vídeo. Empregou-se o método de análise de duas dimensões para analisar o
movimento dos segmentos inferiores. Foi utilizado o teste de Pearson
(P<0,05) para determinar a correlação entre as variáveis. Os coeficientes de
correlação (r) entre velocidade linear e velocidade angular de perna e coxa
foram respectivamente 0,90 e 0,91, enquanto que os valores encontrados de r
entre velocidade linear e amplitude de deslocamento angular em perna e coxa
foram 0,79 e 0,87 respectivamente. Os resultados revelam que todas as
variáveis angulares apresentaram um alto r positivo com velocidade horizontal,
isto é velocidade e deslocamento angular de perna e coxa são preditores da
performance em corredores de meia-distância.
Palavras-chave: corrida, meia-distância, cinemática, retratos de fase, correlação.
Abstract
The purpose of this study was to correlate angular kinematic parameters
(angular velocity and range of motion) of lower limb versus horizontal
velocity, among subjective effort intensities, through phase portrait analysis,
during treadmill running. Seven male middle-distance runners of national level
were requested to run in intensities of regenerative effort, long aerobic,
5/10km, 400/800m and 100/200m. Three complete running steps were
recorded. Two-dimensional analysis methods were employed to analyse the
lower limb movement. A Pearson Product Moment Correlation was used on
the data to determine any relationship between variables. The correlation
177
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira
coefficients between horizontal velocity and angular velocity of shank and
thigh were 0.90 and 0.91 respectively, while the correlation coefficients
between horizontal velocity and range of motion in shank and thigh were 0.79
and 0.87, respectively. All the correlations obtained a significant index equal to
or smaller than 0.0001. The results revealed that the range of motion and
angular velocity of shank and thigh are performance predicters to male middledistance runners.
Key words: running, middle-distance, kinematics, phase portraits, correlation.
Introdução
Experimentos conduzidos por Marey em 1880 demonstraram as primeiras
análises cinemáticas do movimento de corrida a partir de um sistema que
pudesse oferecer uma seqüência de quadros mais rápida do que nossos olhos
podem observar (Douard, 1995). A cinemática inserida como uma sub-área da
biomecânica têm no esporte um vasto campo de aplicação. De uma forma
geral, um dos principais objetivos da pesquisa relacionada à área da
biomecânica é a otimização dos movimentos humanos e a melhoria da
performance no esporte (Hatze, 1976). Dentre as formas de análise mais
utilizadas na biomecânica aplicada ao esporte têm-se os estudos de correlação,
nos quais verificam-se relações de dependência entre variáveis. Segundo
Zatziorsky apud Hay, Wilson & Dapena (1976), se um parâmetro biomecânico
apresenta uma alta correlação linear com a performance desportiva e se existe
uma relação lógica de causa e efeito entre as variáveis, pode-se sugerir, a
melhora da performance através do aperfeiçoamento da variável biomecânica.
Dentro dos diversos movimentos esportivos, a corrida é um objeto de
estudo que vem recebendo a atenção, da biomecânica esportiva, ao longo das
últimas décadas (Elliott & Blanksby, 1976; Nigg, et al., 1994; Wanck et al.,
1998; Tartaruga et al. 1999; Tartaruga et al. 2000 e Tartaruga et al. 2001). O
rendimento na modalidade de corrida é representado através do tempo
utilizado para percorrer a distância ou pela velocidade média da prova.
Partindo desta premissa, observa-se que a velocidade de corrida é caracterizada
pelo produto do comprimento de passada vezes a freqüência de passada. Para
Donati, (1995) atletas de rendimento alcançam sua máxima velocidade
adotando apenas uma relação específica entre comprimento e freqüência de
passada e qualquer alteração significativa no comprimento ou na freqüência de
passada pode causar uma redução na velocidade. Porém, investigações mais
minuciosas acerca da variação cinemática da corrida associada com o aumento
da velocidade linear, têm sido realizadas com objetivo de identificar as
variáveis mais significativas na eficiência da corrida.
Avaliando o comportamento de segmentos corporais relacionados com a
eficiência de corredores, Arnhold & McGrain (1985) afirmam que a amplitude
angular do segmento coxa é a variável que mais obtêm correlação com
178
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira
1800
160
1600
140
1400
120
1200
100
1000
80
800
60
600
40
400
20
200
0
Deslocamento Angular (º)
Velocidade Angular (º/s)
velocidade de corrida. Coh et al. (1998) complementam afirmando que de uma
forma geral, os parâmetros cinemáticos são muito mais importantes do que as
variáveis dinâmicas (força máxima no eixo X e Y, impulso na fase de
amortecimento, impulso na fase de propulsão, etc) para a predição da
velocidade horizontal de corrida.
Além disso, no estudo desenvolvido por Tartaruga et al. (1999), avaliou-se
a velocidade angular e deslocamento angular dos segmentos corporais perna e
coxa, em diferentes intensidades de esforço. Neste estudo, observou-se
prováveis comportamentos lineares entre variáveis cinemáticas angulares de
membros inferiores e velocidades de corrida (figura 01), porém sem uma
análise mais objetiva destas hipotéticas relações.
Figura 01 - Gráfico de velocidade e do deslocamento angular de segmentos
inferiores de corredores em diferentes intensidades de esforço (Tartaruga et al.,
1999).
O objetivo do presente estudo foi avaliar a relação de dependência da
velocidade linear contra variáveis angulares de membros inferiores na corrida
em esteira rolante.
vel.ang. perna
vel.ang. coxa
desloc. ang. perna
desloc. ang. coxa
0
trote
rodagem
5\10Km
400\800m
100\200m
Metodologia
Participaram deste estudo, 9 corredores de meia-distância (idade: 17,8 ± 2,6
anos; massa: 66,5 ± 2,5 kg; estatura: 1,77 ± 0,05 m). Os sujeitos são corredores
de elite estadual e nacional de provas de corrida de meia-distância do atletismo,
todos integrantes da equipe de atletismo da Sociedade Ginástica Porto Alegre
(SOGIPA) inscritos na Federação Atlética Rio-Grandense (FARG).
Quadro 1 - Protocolo desenvolvido por Wilder & Brennan (1993) e
modificado neste estudo.
# 10 min – Aquecimento (trote)
# 2 min – Ritmo de trote
# 2 min – Ritmo de rodagem
# 2 min – Ritmo de 5Km\10Km
# 1 min – 400m\800m
# 30 seg – 100m\200m
# 3 min – Recuperação (6.5Km/h)
Obs: Entre cada tiro há um intervalo ativo (vel=6.5 Km/h) de 30 s -1 min.
179
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira
A cinemática do movimento de corrida foi registrada por vídeo. A análise
bidimensional foi realizada com uma câmera fixa, distante 3,5 m da esteira,
ligada a um sistema de vídeo (Peak Performance vs 5.3), no plano sagital, com
uma velocidade de aquisição de dados de 60 quadros por segundo. Para um
melhor contraste dos marcadores a serem digitalizados, utilizou-se fitas
reflexivas nas articulações do tornozelo, joelho e quadril.
Cada indivíduo executava 10 minutos de corrida no chão para o
aquecimento, ao final destes 10 minutos, o corredor se dirigia para o teste, na
esteira rolante. O sujeito realizava, portanto o teste, baseado na escala de
sensação subjetiva, para corredores, desenvolvida por Wilder & Brennan
(1993), conforme Quadro 1.
A execução da filmagem foi após os momentos de estabilização do
corredor na determinada velocidade. Esta velocidade foi determinada
oralmente ou gestualmente pelo próprio corredor a partir de sua sensação
subjetiva ao esforço.
Decodificação dos Dados
Os dados de velocidade linear foram adquiridos a partir da velocidade da
esteira rolante (leitura digital).
Foram digitalizados três ciclos de passada para cada intensidade, onde
todas as curvas foram filtradas com um filtro de passa baixa Butterworth, e
freqüência de corte de 11Hz. Após os cálculos de coordenadas e parâmetros,
foi realizado os gráficos de retratos de fase. Em cada sujeito, foram calculados,
em três passadas contínuas, os valores médios de todas as variáveis angulares.
A estatística utilizada foi do tipo correlacional. A partir dos retratos de fase,
foram passados os dados de velocidade e deslocamento angular para o pacote
estatístico SPSS v. 8.0, para realizar o teste Produto Momento de Pearson
entre as variáveis cinemáticas angulares: deslocamento e velocidade angular
contra velocidade linear. O índice de significância adotado foi de 0,05.
Resultados e discussão
Os resultados de correlação entre velocidade linear e amplitude angular de
segmentos perna e coxa estão representados na figura 02.
Os dados de amplitude angular do segmento perna e coxa foram plotados
no eixo x e as respectivas velocidades de esteira no eixo y. Pode-se observar
que a amplitude angular obteve uma clara relação linear positiva com a
velocidade de corrida, isto é, na medida em que aumentou a amplitude angular
dos segmento inferiores, houve um acréscimo linear da velocidade de corrida.
Tanto a amplitude angular do segmento perna quanto a amplitude angular do
segmento coxa obtiveram coeficientes de correlação altos, com um nível de
significância igual a 0,0001. No segmento perna, em azul o r foi igual a 0,79, e
no segmento coxa em vermelho o r foi igual a 0,87.
180
velocidade de corr ida (Km/h)
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira
30
r = 0,79
20
r = 0,87
10
segmento perna
segmento c oxa
0
20
40
60
80
100
120
140
160
amplitude angular (graus)
Figura 02 - Correlação linear entre velocidade de corrida e amplitude angular
dos segmentos perna e coxa.
velocidade de cor rida (km/h)
Na Figura 03, determinou-se a velocidade angular no eixo x, enquanto que
a amplitude angular dos segmentos perna e coxa foram determinadas no eixo
y.
Em relação a velocidade angular dos segmentos inferiores analisados neste
estudo, podemos afirmar também uma clara relação linear positiva com a
velocidade de corrida. O segmento perna em azul e o segmento coxa em
vermelho, demonstraram r de 0,90 e 0,91, respectivamente. Com um nível de
significância de 0,0001.
30
r = 0,91
20
r = 0,90
10
segmento perna
0
400
segmento c oxa
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
velocidade angular (graus/segundo)
Figura 03 - Gráfico da correlação linear entre velocidade de corrida e
velocidade angular dos segmentos perna e coxa.
181
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira
O maior coeficiente de correlação encontrado neste estudo foi no
segmento coxa, diferente ao resultado de Arnhold & McGrain (1985), onde
estes afirmam que o deslocamento angular de coxa é a variável que tem maior
correlação com velocidade de corrida em esteira. Uma hipótese é de que esta
diferença se deu ao fato de os autores anteriormente mencionados terem
trabalhado apenas com variáveis de posição angular.
Entretanto, os resultados de nosso estudo corroboram com os resultados
de Coh et al. (1995) e Dillman apud Hall (1995) quando estes afirmam que a
velocidade angular de membros inferiores tem grande correlação linear
positiva com velocidade de corrida.
Uma observação significativa neste estudo foi o fato do levantamento de
novas variáveis para explicar e determinar as mudanças de velocidade. Por
outro lado é importante ressaltar a limitação do estudo referente ao fato dos
indivíduos executarem a corrida no ambiente de esteira rolante, determinando
diferenças mínimas nos padrões de comprimento de passada e freqüência de
passada em relação a corrida em terra, conforme estabelecido na literatura
(Elliot & Blanksby, 1976; Nigg, et al. 1995 e Wank et al., 1998), determinando
portanto, futuros estudos em terra para verificar se as correlações persistem na
corrida em terra. Outra observação importante de ser levantada é a limitação
do presente estudo em generalizar estes resultados para as provas específicas
de meio-fundo, pois apesar de poder-se afirmar a possibilidade de predição do
rendimento de corredores em uma amplitude de velocidades bastante grande
como as utilizadas neste estudo (8,9 km/h a 26,0 km/h), surge a dúvida se
estes parâmetros cinemáticos angulares também se correlacionam durante as
provas de meio-fundo especificamente.
Conclusão e sugestões
O objetivo deste estudo foi correlacionar velocidade linear contra variáveis
angulares de membros inferiores na corrida em esteira rolante.
Os resultados do presente sugerem que as variáveis cinemáticas angulares
deslocamento e velocidade são altamente correlacionáveis com velocidade
horizontal, portanto preditoras da performance de corrida dentro do espectro
de velocidades estudadas. Objetivando a otimização do treinamento da técnica
de corrida, parecem ser necessários estudos de caráter experimental a fim de
avaliar os efeitos da técnica sobre o rendimento de corredores.
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184
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua
Ausência em Competições importantes.
Silvio de Cassio Costa Telles - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Antônio Jorge Soares - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
Este trabalho em um primeiro momento tem como objetivo dar subsídios a
futuros estudos pertinentes a área que necessitem de dados a respeito das
participações Olímpicas do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos de
1920/Antuérpia, 1932/Los Angeles, 1952 Helsinque, 1960/Roma,
1964/Toquio, 1968/México, 1984/Los Angeles.
Em um segundo momento, através de entrevistas com ex-atletas integrantes de
equipes olímpicas de pólo aquático, verificamos a convergência de opiniões
sobre um dos possíveis motivos pelo qual as equipes brasileiras não se
classificam para competições internacionais importantes ou não fizeram
participações com resultados significativos.
Palavras-chave: Pólo Aquático - História do Esporte - Jogos Olímpicos
Abstract
The aim of this work is, at first, to provide material for further studies related
to the area that need data on the Brazilian olympic participation in the games
of 1920/Antwerp, 1932/Los Angeles, 1952 Helsinki, 1960/Rome, 1964/
Tokyo, 1968 /Mexico, 1984/Los Angeles.
Further on, by interviewing former athletes who were members of waterpolo
olympic teams, we could verify that the opinions , on why the Brazilian team
did not qualify for the important international competitions or did not achieve
great results on those, were very similar.
Key words : Water Polo - Sport History - Olympic Games
Introdução
O presente estudo tem por finalidade levantar dados e questões sobre a
trajetória do Pólo Aquático (PA) brasileiro. O PA é uma modalidade esportiva
que no Brasil conta com um número reduzido de adeptos, apesar de ter sido
introduzido em nosso país nas primeiras décadas deste século. É interessante,
do ponto de vista histórico e sociológico, entender como uma modalidade
esportiva que conta com pouca adesão, se mantém em nosso país ao longo de
quase um século quando outras surgidas no mesmo período desapareceram
sem deixar rastro em nossa cultura.
Não temos por intenção dar conta desta questão no escopo deste estudo,
entretanto, os levantamentos iniciais que estamos realizando parecem servir
como base para investimentos nesta direção.
185
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
O PA no cenário dos esportes institucionalizados é uma modalidade
esportiva integrada no calendário esportivo internacional. As principais
competições são as seguintes: quadrienalmente, os Jogos Olímpicos, os
Campeonatos Mundiais e os Campeonatos Pan-Americanos e bienalmente, a
Copa FINA (Copa realizada pela Federação internacional e Natação)1.
O Pólo Aquático (PA) foi o primeiro esporte coletivo a participar da
segunda edição dos Jogos Olímpicos modernos, realizados na cidade de Paris
em 1900. A participação do PA no início dos Jogos Olímpicos se deu,
possivelmente por causa de diversos fatores, como a institucionalização, a
organização, a estandardização das regras e quem sabe, em função das
articulações políticas entre os dirigentes dessa modalidade esportiva com o
comitê organizador dos Jogos.
No âmbito mundial, as seleções mais representativas nas principais
competições são: Hungria (atual campeã Mundial), Espanha (atual campeã
Olímpica), Itália, Iugoslávia, entre outras.
O PA brasileiro, ainda que tenha participado destas grandes competições,
não possui uma trajetória de sucesso, isto é, não figura entre as equipes mais
competitivas do mundo.
Nos Jogos Olímpicos participamoS das seguintes edições: Antuérpia
(1920), Los Angeles (1932), Helsinque (1952), Roma (1960), Tóquio (1964) e
México (1968) e Los Angeles (1984).Em 1984, nossa participação só aconteceu
em função do boicote do bloco socialista, desde então não mais participamos
de nenhuma edição dos Jogos. Pode-se dizer que este boicote é um dos
desdobramentos da Guerra Fria que utilizou o esporte como um dos seus
“palcos de batalha”. Cabe ressaltar, que embora tenhamos participado dessas
edições dos Jogos jamais conseguimos resultados satisfatórios ou próximos das
grandes seleções. De fato, o Brasil nessa modalidade esportiva possui mais
uma história de insucesso no cenário mundial do que de sucesso propriamente
dito. Entretanto, sua permanência ao longo do tempo, tendo seu apogeu entre
as décadas de 1960 e 19702 e a continua adesão de novas gerações, ainda que
1 Competição que reúne as oito seleções mais bem colocadas no Campeonato Mundial de Pólo
Aquático
2 Neste período considerado áureo, o pólo aquático brasileiro teve um número maior de
participações nos jogos olímpicos, conquistou o seu único título pan-americano e contava com a
presença de um jogador Húngaro naturalizado brasileiro chamado Aladar Szabo, que se constituiu
numa lenda dentro do pólo aquático nacional. Além de nesse período ter como presidente da
extinta Confederação Brasileira de Desportos(CBD), João Havelange ex-jogador de pólo aquático
do Fluminense F.C e da seleção Brasileira. Talvez por isso a mídia desse mais espaço ao pólo
aquático o que atraia mais a atenção da sociedade. 2 Competição que reúne as oito seleções mais
bem colocadas no Campeonato Mundial de Pólo Aquático
2 Neste período considerado áureo, o pólo aquático brasileiro teve um número maior de
participações nos jogos olímpicos, conquistou o seu único título pan-americano e contava com a
presença de um jogador Húngaro naturalizado brasileiro chamado Aladar Szabo, que se constituiu
numa lenda dentro do pólo aquático nacional. Além de nesse período ter como presidente da
186
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
modesta, a esse esporte, o torna um problema interessante no campo dos
estudos culturais sobre o esporte.
Nesses termos, o presente trabalho tem por objetivos (a) levantar dados
sobre as participações do PA brasileiro nos Jogos Olímpicos, catalogando seus
atletas e resultados; (b) mapear algumas representações e avaliações de exatletas sobre essa história de insucesso nas grandes competições mundiais.
Vamos esmiuçar um pouco mais a participação do PA brasileiro nos Jogos
Olímpicos, considerado como a mais importante competição ou pelo menos a
que possui mais prestígio e glamour.
O PA brasileiro nos Jogos Olímpicos
Embora o PA já tenha sido introduzido no programa nos Jogos Olímpicos
de Paris (1900), o Brasil só enviou pela primeira vez uma representação nos
Jogos de 1920 (Antuérpia). Cabe ressaltar que o PA foi o primeiro esporte
coletivo brasileiro a participar dos jogos, sendo que dos 24 atletas que
compunham a delegação brasileira 11 eram do PA. Representaram o Brasil
nessa campanha os seguintes atletas: Agostinho Sá, Abrahão Salituri, Orlando
Amêndola, Edgar Leite Ribeiro, Ademar Ferreira Serpa, Angelo Grammaro,
João Jório, Carlos Eulálio Lopes, Vitorino Ramos, Alcides de Barros Paiva,
Roberto Trompovski (técnico). A equipe teve uma participação modesta:
disputou três jogos, tendo obtido uma derrota uma vitória e um empate
ficando na sexta colocação. (perdeu para a Suíça por 7 a 3, empatou com a
Espanha em 1 a 1 e venceu a França por 5 a 1). Nesta edição a Inglaterra foi a
campeã. (Lancelloti, 1996).
A equipe brasileira tinha poucas condições de disputar com o mais
avançado PA europeu. Além disso, naquela época o período de viagem era
bastante dilatado e cansativo pois o percurso era feito de navio. A participação
brasileira foi importante pois possibilitou um contato inicial com o que existia
de mais avançado em termos táticos, técnicos e de treinamento físico na época.
Os brasileiros com isso puderam sentir a distância que possuíam em relação às
nações mais adiantadas esportivamente. Possivelmente nessa oportunidade
podem ter surgido os primeiros contatos e/ou pelo menos a idéia de trazer ao
Brasil algumas dessas equipes, talvez não por acaso uma equipe Belga tenha
vindo ao Brasil ainda na década de 20, trazendo grandes contribuições para o
intercâmbio do PA brasileiro.
Orlando Amêndola, atleta da seleção de 1920, iria posteriormente tornar-se
professor da cadeira de Desportos Aquáticos da Escola Nacional de Educação
Física e Desportos (ENEFD), a primeira Escola Superior de Educação Física
ligada a uma Universidade (a Universidade do Brasil), fundada em 1939.
extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange ex-jogador de pólo aquático
do Fluminense F.C e da seleção Brasileira. Talvez por isso a mídia desse mais espaço ao pólo
aquático o que atraia mais a atenção da sociedade.
187
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
Amêndola foi um dos grandes incentivadores da prática do PA no interior da
ENEFD.
Essa instituição era uma Escola-padrão no desenvolvimento da cultura
física e esportiva, por isso, deu grandes contribuições na difusão e
desenvolvimento de muitos esportes, inclusive do pólo-aquático. Em 1960,
por exemplo, o ENEFD organizou, a partir da iniciativa de Alencar de
Carvalho (também professor da cadeira), a I Campanha de Water-Polo onde
30 universitários que não tinham contato com o esporte tiveram a
oportunidade de conhecer melhor suas especificidades e regras. Na década de
80, a mesma instituição foi responsável pela formação do primeiro time de PA
feminino no Rio de Janeiro.
Após os Jogos da Antuérpia (1920) a equipe brasileira somente voltou a
participar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932). Os jogadores que
representaram o Brasil foram Luis Henrique da Silva, Mario de Lorenzo,
Jefferson Maurity de Souza, Salvador Amendola, Antonio Ferreira Jacobina,
Adhemar Serpa, Carlos Alberto Castelo Branco (técnico), Abrahão Salituri,
Alfredo Di Blasio, Pedro Theberge e Jorge Pessoa.
Mais uma vez tal participação valeu mais pela experiência do que pelos
resultados. O Brasil perdeu para os Estados Unidos de 6 a 1 e para a Alemanha
de 7 a 3. A seleção Húngara sagrou-se campeã.
Esta participação brasileira foi marcada pela nossa desclassificação em
função da agressão cometida pela equipe ao árbitro húngaro Bela Konjade
(COB, 1995). O árbitro quando inquirido sobre esse episódio afirmou que a
indignação dos jogadores brasileiros se deu em virtude do desconhecimento
das regras do esporte.
O PA brasileiro não enviou representantes aos Jogos de Berlim (1936),
nem Londres (1948), somente retornando nos Jogos de Helsinque (1952). As
equipes foram divididas em grupos, participando o Brasil do grupo D,
juntamente com a Bélgica, a Espanha e a África do Sul. A equipe brasileira foi
constituída por: José R. Haddock Lobo (técnico), Lúcio Cunha Figueiredo,
Henrique Sérgio Melman, Leo Rossi, João G. Filho. Havelange, Sérgio
Geraldo A. Rodrigues, Edson Perri, Samuel Scheimberg, Marvio Kelly dos
Santos, Douglas Arnald de Souza Lima, Claudino Caiado de Castro, Daniel
José Silli.
A seleção brasileira venceu Portugal por 6 a 2 na fase da repescagem.
Perdeu os outros jogos, mas já por um placar não tão dilatado, para a Espanha
3 a 2, para a Bélgica 3 a 1, para Espanha 6 a 4 e África do Sul 9 a 2, único
placar mais dilatado. Observa-se que a participação brasileira melhorou
significativamente em relação às participações passadas. A Hungria conquista
mais um campeonato.
A quarta participação brasileira foi nos Jogos de Roma (1960). A
competição foi novamente dividida em grupos. O Brasil ficou na grupo B,
188
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
junto com URSS, Alemanha e Argentina. Somente duas equipes se
classificariam para a próxima fase e embora o Brasil tenha empatado com a
Argentina em 2 a 2 no primeiro jogo, foi eliminado por ter sido derrotado pela
URSS por 8 a 2 e pela Alemanha por 6 a 3. A Itália conquista a medalha de
ouro. A equipe era formada por: Edson Perri (técnico), Luis Daniel, Everardo
Luiz Alves da L. Filho, Adhemar Grijó Filho, Henry John Romero Sanson,
Marvio Kelly dos Santos, Hilton de Almeida, João Gonçalves Filho, Paulo
Wilson Navarro de Andrade, Rolando Luiz Alvares de Cruz, Thomaz
Alterthum.
Em Tóquio (1964) a equipe brasileira voltaria a participar, figurando no
grupo C, juntamente com EUA, Iugoslávia e Holanda. A equipe foi formada
por: Luis Daniel, Osvaldo C. Filho, Rodiney Stuart Bell, Pedro Pinciroli Junior,
Marvio Kelly dos Santos, João Gonçalves Filho, Aladar Szabo, Adhemar Grijó
Filho, Ivo Kisselring Carotine, Ney Borges Nogueira, Paulo Kisselring
Carotine. A seleção foi inicialmente derrota pela Holanda por 3 a 2 e
posteriormente por placares mais dilatados para os EUA por 7 a 1 e pela
Iugoslávia por 8 a 0. A seleção Húngara volta a conquistar a medalha de ouro.
Cabe ressaltar, que grande parte dessa equipe sagrou-se Campeã Panamericana em São Paulo (1963) de maneira invicta, sendo essa até hoje nossa
única conquista em tal competição. Segundo os ex-atletas, essa vitória teve
como principal protagonista o jogador Húngaro, naturalizado brasileiro, Aladar
Szabo. Szabo foi o artilheiro da equipe brasileira com larga diferença em
relação aos seus companheiros.
No México em 1968, o PA brasileiro participou pela sexta vez dos Jogos
Olímpicos, com os seguintes jogadores: Aluisio Marcilli, Álvaro Roberto de
Ávila Pires, Arnaldo Marcilli, Cláudio Rinaldi Camara Lima, Fernando Antônio
S. Sandoval, Henrique Filelline, Ivo K. Carotine, João Gonçalves Filho, Marco
Antonio de Vicosa Jardim, Pedro Pinciroli Junior, Hilton de Almeida (técnico).
A equipe brasileira venceu a Grécia por 5 a 2 e o Egito por 5 a 3 ,
empatou em 6 a 6 com a Espanha e perdeu cinco jogos Estados Unidos 10 a
5, Cuba 9 a 5, Alemanha 10 a 5, Hungria 8 a 2, e URSS 8 a 2. A Iugoslávia
sagrou-se campeã.
A sétima e última participação olímpica do Brasil aconteceu em Los
Angeles (1984). Participaram da campanha: André Campos, Carlos Eduardo
Carvalho, Erik Tebbe Borges, Mário Sérgio Lotufo, Mário Eduardo Souto,
Orlando Amaral Chaves, Solon dos Santos, Silvio Manfredi, Paulo Francisco
Abreu, Hélio Frederico da Silva, Fernando Carsalade, Ricardo Márcio Tonieto,
Roberto Borelli, Edson Perri (técnico). A campanha da equipe brasileira foi de
cinco derrotas, Espanha 19 a 12, Estados Unidos 10 a 4, Itália 13 a 4, China
11 a 9, Japão 9 a 8 e de dois empates, 10 a 10 com o Canadá e 9 a 9 com a
Grécia. A Iugoslávia vence os EUA na final e conquista a medalha de ouro.
189
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
Passemos aos depoimentos e/ou racionalizações dos ex-atletas brasileiros
sobre essa história negativa do PA brasileiros nos Jogos Olímpicos.
Relatos de Ex-Atletas sobre a Ausência e maus resultados do PA em
Competições Importantes
Jorge Pessoa, goleiro reserva da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de
Los Angeles (1932), relata que as equipes brasileiras de PA não realizavam
intercâmbio (jogos amistosos) com as equipes européias de alto nível. Segundo
o entrevistado o padrão europeu era superior ao dos brasileiros. Quanto ao
conhecimento das regras do jogo bem como sua aplicação, os brasileiros
demonstravam desconhecimento. Esse fato, como descrito anteriormente,
teria auxiliado a gerar a agressão dos brasileiros contra o árbitro nos Jogos de
32.
Aluísio Marcilli, integrante da seleção em 1968 (México), menciona que
poucos Jogos amistosos realizou com equipes européias durante a sua
trajetória na seleção, salvo antes dos Jogos Olímpicos que por chegarem dias
antes tinham a oportunidade de treinar com algumas seleções. No aspecto
técnico/tático, Marcilli sentia-se muito abaixo dos jogadores das equipes ditas
de ponta como Hungria. Iugoslávia e URSS. Porém fisicamente jogava em
igualdade de condições com as principais seleções.
Mario Eduardo Souto e Solon dos Santos, ambos da equipe Olímpica de
1984, relatam os mesmos problemas: ausência de jogos amistosos, o que
segundo eles, fez uma diferença significativa, pois lhes faltava experiência em
determinados momentos da partida. Souto relata ainda, que de 1977 a 1991
(período em que atuou pela seleção brasileira de PA) a seleção Brasileira
somente jogou contra outras seleções dentro de campeonatos, nunca em jogos
amistosos.
Atualmente em entrevista com Ricardo Perrone atleta da Seleção Brasileira
que irá participar do Torneio Pré-Olímpico na Alemanha em maio do ano
corrente, relata em entrevista, que o pouco intercâmbio com as principais
equipes entre outros fatores, dificultam a conquista de uma vaga nas principais
competições mundiais.
Considerações Finais
Observe-se que os dados e as avaliações dos ex-atletas sobre a participação
do PA brasileiro nos Jogos Olímpicos traduz-se em uma história de insucesso
ou de experiências. Os ex-atletas apontam a falta de experiência acarretada
pelo pouco intercâmbio com as grandes equipes do cenário internacional,
como um dos principais fatores do insucesso. O interessante do ponto de vista
sociológico não é propriamente dito explicarmos o sucesso ou insucesso dos
países e suas seleções no campo esportivo. O que parece interessar é como as
explicações que surgem tanto no meio esportivo quanto nas esquinas, nas ruas
190
A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
e nos jornais auxiliam o processo de invenção de tradições ou identidades
coletivas e individuais.
No caso específico do PA brasileiro, acreditamos que estes dados
preliminarmente levantados gerem algumas questões para futuras pesquisas.
Por exemplo, como um esporte com um número reduzido de adeptos se
institucionaliza e renova os seus quadros de dirigentes e atletas no Brasil, já que
mantém suas atividades por quase cem anos em nosso país? Como permanece
vivo no cenário esportivo se não é um esporte que atrai a Mídia? Quais são os
mecanismos de socialização nesta modalidade esportiva? Tais questões
respondidas ajudariam a iniciar o processo de resgate do PA a um lugar de
destaque no hall dos esportes mais conhecidos e de relevância para a sociedade
no cenário esportivo Brasileiro.
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A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e
sua Ausência em Competições importantes.
RIO DE JANEIRO, Federação Aquática do Rio de janeiro, II Copa Sears Rio
Pólo Aquático , Rio de Janeiro ; FARJ, 1985.
RIO DE JANEIRO, Federação aquática do Rio de Janeiro, Farj Estatuto
1996, Rio de Janeiro; FARJ, 1996.
SMITH, James R, The World Encyclopedia of Water Polo 1904- 1986.
Editora by Jim Noris, 1980.
192
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens
Participantes – Um relato de experiência
Arianne Carvalhedo - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Nelson Schneider Todt - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre/RS
Resumo
Quando as palavras “Olimpíadas” e “Movimento Olímpico” ecoam nos
círculos de conversa entre amigos, nos campos esportivos ou mesmo nos
corredores das faculdades de Educação Física do Brasil, surgem logo nas
mentes as imagens vinculadas pela televisão da quebra de recordes, dos heróis
Olímpicos, das medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos. O que poucos
sabem é que por trás deste que se tornou o maior evento esportivo do planeta,
existe uma filosofia secular de busca pela integração dos povos, solidariedade,
paz e, principalmente, educação do homem através do esporte. Ainda que nos
encontremos no meio de professores de Educação Física, raras vezes nos
depararemos com profissionais que entendam a palavra Olimpismo em seus
mais profundos significados. Com a intenção de promover esta filosofia e
perpetuar os valores atrelados a mesma, o Comitê Olímpico Internacional
criou, em 1961, um centro para estudos e pesquisas relacionadas ao
Movimento Olímpico, uma instituição educacional, a Academia Olímpica
Internacional. Esta por sua vez vem, desde sua criação, promovendo eventos
de intercâmbio cultural para alcançar as metas supracitadas propostas por seu
idealizador. Um destes eventos – e um dos mais importantes deles – é a Sessão
Para Jovens Participantes que acontece todos os anos na sede da Academia em
Olímpia, na Grécia. Para este Encontro o Brasil vem enviando de forma
sistemática, desde 1990, dois representantes e este trabalho vêm como o relato
de nossa experiência como participantes da 39a Sessão Para Jovens
Participantes.
Palavras-chave: Academia Olímpica Internacional; Olimpismo; Sessão Para Jovens
Participantes.
Abstract
When the words “Olympiads” and “Olympic Movement” are heard among
groups of friends, in the sports fields and even in the corridors of the Physical
Education Colleges in Brazil, what immediately comes to mind is the
broadcasted images on television of records broken, Olympic heroes, and the
medals won in the Olympic Games. What few people know is that, underneath
this great event which is nowadays the biggest sport event in the world, lies a
century-old philosophy which aims at the integration of the world’s
communities, solidarity, peace and, most important of all, education of
193
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
mankind through sports. Even if we move in PE teaching circles, we will rarely
encounter professionals that understand the deep meanings of Olympism.
Intending to promote this philosophy and perpetuate the values attached to it,
the International Olympic Committee created, in 1961, an educational center
for studies and research on the Olympic Movement, the International Olympic
Academy (IOA). This center, since its creation, has promoted international
cultural events in order to fulfill the above mentioned goals proposed by its
idealistic founder. One of these events – and one of the most important ones –
is the International Session for Young Participants which takes place every
year at the IOA in Olympia, Greece. For this event, Brazil has regularly sent
two participants since 1990, and this paper comes as a report of our
experiences as participants in the 39th Session for Young Participants.
Key words: International Olympic Academy; Olympism; International Session for Young
Participants.
Introdução
Em junho de 1961, juntamente com a cerimônia de abertura do estádio do
sítio arqueológico de Olímpia, foi fundada a Academia Olímpica Internacional
(IOA). Com o intuito de preservar e permitir o progresso das idéias
inicialmente difundidas pelo Barão Pierre de Coubertin - principal personagem
na criação dos Jogos Olímpicos (JO) da Era Moderna e do seu conseqüente
Movimento Olímpico - o Comitê Olímpico Helênico (HOC) decidiu, sob os
auspícios do Comitê Olímpico Internacional (IOC), a partir do modelo dos
gymnasiums da antigüidade, modelar esta fundação a fim de promover os Ideais
Olímpicos através da educação.
Acreditando que o Movimento Olímpico, que é a expressão maior das
atividades ligadas à filosofia do Olimpismo, não poderia desviar-se de seus
objetivos educacionais, Pierre de Coubertin vislumbrou a criação de um centro
acadêmico onde fosse possível o estudo deste. Desta forma, proteger-se e
preservar-se-ia sua ideologia (filosofia). O Movimento Olímpico (MO) seria
então a matriz condutora de todas as discussões dirigidas neste centro e base
para todos os dados resguardados pela “academia”.
Desde sua criação, a Academia Olímpica Internacional vem buscando
contemplar este objetivo através de programas educacionais relacionados ao
MO. Durante estes eventos o conceito e a aplicação do Olimpismo é
intensamente revisto – assim como todos os assuntos relacionados a este – sob
um contexto de intercâmbio cultural e troca, de forma a propiciar um melhor
entendimento comum e universal sobre o MO e o Olimpismo.
Em sua primeira década de existência somente a Sessão para Jovens
Participantes era realizada de forma sistemática. Hoje, aproximadamente 40
diferentes eventos acontecem nas primícias da IOA. Dentre os que mais se
destacam estão o Seminário Internacional de Pós-Graduação para Estudantes
194
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
Selecionados, o Simpósio Internacional de Filosofia, o Congresso
Internacional de Fair Play, a Sessão Internacional para Jornalistas Esportivos, o
Encontro Internacional para Educadores e Diretores de Institutos Superiores
de Educação Física, dentre outros.
Resumindo o conceito e a importância da Academia Olímpica
Internacional, Lambis NIKOLAOU (membro do IOC e presidente do HOC)
escreveu: “A IOA constitui a expressão intelectual do Movimento Olímpico,
que representa um dos mais refinados aspectos da tradição intelectual
universal”.
A IOA, esta instituição eminentemente educacional, vem, ao longo de seus
quase 40 anos de existência, mantendo o compromisso com a proposta inicial
de Pierre de Coubertin. Superando barreiras atinge hoje esferas que nem seu
idealizador poderia imaginar. Seus objetivos foram ampliados tornando-se nos
dias atuais um centro de excelência do “pensamento Olímpico”. A Academia
busca atualmente não só experimentar, investigar e estudar o conceito de
Olimpismo, mas também implementar e discutir todos os aspectos
relacionados a este a partir da troca de idéias entre pessoas de diferentes
culturas melhorando assim a compreensão sobre o MO e Olimpismo.
Através de seus Encontros esta instituição estimula a continuidade da
produção pertencente à área do desporto, preparando uma capacidade
científica que venha a contribuir com a consolidação do Olimpismo. Além
disso, suas atividades oportunizam o treinamento de pessoas que serão os
“mensageiros” dos princípios e ideais do Olimpismo em seus respectivos
países.
A Sessão para Jovens Participantes e seus Objetivos
Realizada todos os anos desde a inauguração da Academia Olímpica
Internacional, tradicionalmente em junho ou julho e com duração aproximada
de 15 dias, a Sessão para Jovens Participantes tem como objetivo atuar como
um fórum internacional de troca de idéias e liberdade de expressão entre a
família Olímpica, intelectuais, cientistas, atletas, administradores esportivos,
educadores, artistas e jovens do mundo.
Este encontro é composto de, em média, 250 pessoas, dentre elas
participantes, palestrantes, membros do staff e coordenadores. Este número
reflete aproximadamente a participação de 90 países, dos mais variados pontos
do globo. A participação vem, contudo, aumentando ao longo dos anos, na
medida em que mais países vão estabelecendo relações com o COI e criando
suas Academias nacionais. Para que possamos entender melhor essa evolução
basta-nos olhar para o primeiro ano de sua realização, em 1961, quando se
reuniram apenas 30 estudantes de 24 países.
O programa educacional da Academia Olímpica Internacional é
estruturado de forma a atender pessoas dos mais diversos backgrounds e busca
195
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
estabelecer quatro metas para que sejam atingidas pelos estudantes, sendo pois
o aumento do conhecimento sobre o Movimento Olímpico, a instituição de
contatos e trocas com pessoas das mais diversas culturas, o encontro com
personalidades importantes ligadas ao Movimento Olímpico e a aprendizagem
da história grega, antiga e contemporânea.
O ponto alto deste Encontro recai sobre os grupos de discussão
organizados duas vezes ao dia. Estes grupos são divididos de forma que haja
um número equilibrado de homens e mulheres, ao menos um representante de
cada continente e nunca dois participantes de um mesmo país. São
apresentadas questões que variam de assuntos gerais sobre o Olimpismo a
tópicos específicos do tema do ano. Algumas destas perguntas são colocadas a
todos os grupos e outras a apenas um grupo. Assim, é possível obter uma
visão mais global das opiniões dos participantes e abordar um número maior
de questões.
O intuito deste processo de debates é que os participantes experienciem e
investiguem a fundo os muitos conceitos associados ao MO de forma crítica e
construtiva, aumentando seus conhecimentos interculturais.
De uma maneira geral, o maior e mais importante objetivo da Academia
Olímpica Internacional com esta Sessão para Jovens Participantes é motivar a
juventude do mundo a utilizar a experiência e o conhecimento adquirido na
IOA produtivamente, promovendo os Ideais Olímpicos em seus respectivos
países.
A Seleção
Os critérios para seleção dos participantes da Sessão são determinados
pelas Academias e/ou Comitês Olímpicos Nacionais, seguindo determinações
do Comitê Olímpico Internacional e Academia Olímpica Internacional. Estas
determinações são como segue:
1) Os participantes devem ter entre 20 e 35 anos de idade;
2) Os participantes devem ser fluentes em pelo menos uma das três línguas
oficiais da IOA (inglês, francês e/ou grego);
3) Os participantes devem ter interesse em assuntos Olímpicos;
4) Podem ser nomeados até 4 participantes por país.
A Academia Olímpica Brasileira (AOB), vem optando por selecionar
profissionais formados em educação física que, além de preencherem as
qualificações acima descritas, sejam atuantes no campo prático e envolvidos
diretamente com o universo acadêmico. Estes profissionais devem ter também
o compromisso acadêmico de retorno e propagação dos conhecimentos
adquiridos.
Esta opção da AOB reflete sua política de ênfase na produção acadêmica e
concentração de esforços na qualificação de seus membros, o que eleva nossa
196
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
recém criada Academia a um status acadêmico com repercussão em termos de
trabalhos efetivos que poucas outras tem conseguido.
Custos e Benefícios
O Comitê Olímpico Internacional, através da Solidariedade Olímpica,
responsabiliza-se pelo pagamento de 50% do valor total da passagem aérea de
até dois participantes por país (sendo eles um homem e uma mulher, nunca
ambos do mesmo sexo). Os custos referentes à taxa de participação, transporte
terrestre, alimentação, entrada nos sítios arqueológicos e museus e
hospedagem durante a realização do evento, cabem à Academia Olímpica
Internacional (também respeitando o máximo de dois participantes, de ambos
os sexos). No caso de qualquer participante adicional, os custos ficam ao
encargo da Academia e/ou Comitê Olímpico Nacional, que delegam ou não
aos seus participantes – como é o caso do Brasil.
A 39a Sessão Para Jovens Participantes
A 39a Sessão para Jovens Participantes ocorreu durante o período de 20 de
julho a 5 de agosto de 1999 em Atenas e Olímpia, na Grécia. O tema central
foi o Olimpismo com enfoque especial em “O Ideal e a Cultura Olímpica na
Era Global”.
Nos primeiros dias, com o intuito de proporcionar aos participantes um
melhor conhecimento da história e da cultura grega desde a antiguidade,
visitamos em Atenas o sítio arqueológico da Acrópole, o Estádio Panatenaico
(onde se realizaram os I Jogos Olímpicos da Era Moderna), o Parque Olímpico
e o Centro Atlético Olímpico (onde se realizará a abertura dos Jogos
Olímpicos de 2004).
Na Cerimônia de Abertura, tradicionalmente realizada no Monte Pnyx,
local onde nasceu a democracia grega e de onde se tem uma das mais belas
vistas da Acrópole, contamos com a presença de personagens ilustres do
Movimento Olímpico e do Governo Grego, como Sr. Nikos FILARETOS
(presidente da Academia Olímpica Internacional e membro do Comitê
Olímpico Internacional), Sr. Juan Antonio SAMARANCH (Presidente do
Comitê Olímpico Internacional), Sr. Andreas FOURAS (Subsecretário
Estadual de Esportes) e Sr. Dimitris AVRAMOPOULOS (Prefeito de Atenas).
Outras participações que valorizaram esta cerimônia foram a da Filarmônica
Ateniense e do Coro do Banco Comercial da Grécia. A grandiosidade do
evento de abertura nos revela a importância dada pelo povo grego ao
Movimento Olímpico.
Nos dois dias que seguiram aconteceram as visitas aos sítios arqueológicos
de Delphi e Olímpia além de seus respectivos museus.
Cabe ressaltar aqui que todas as visitas à museus, sítios arqueológicos, etc.,
promovidas pela IOA no decorrer dos 15 dias de Encontro, foram lideradas
197
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
por professores e arqueólogos que contavam-nos cada detalhe da história do
povo grego da antiguidade. Desta forma a IOA busca oportunizar um melhor
entendimento da história e importância dos JO na Grécia antiga e suas
conseqüentes repercussões na sociedade contemporânea.
Com a presença dos 5 membros do Colegiado da IOA, 14 palestrantes, 182
participantes oriundos de 89 países, 26 coordenadores, membros do staff e
convidados foi realizada no dia 23 de julho, na sede da Academia em Olímpia,
a Cerimônia de Abertura dos trabalhos. O ponto alto da Cerimônia foi a
homenagem à Pierre de Coubertin. Esta aconteceu, como tradicionalmente
ocorre, junto ao monumento que traz em seus pés o coração do educador
francês. É interessante lembrar que foi seguindo um desejo do Barão, que seu
coração foi enterrado na cidade onde os JO da antiguidade aconteciam,
próximo ao exato local de sua realização. Foi então a partir deste desejo que
estabeleceu-se na cidade de Olímpia a sede do “centro cultural de estudos
Olímpicos” que este educador tanto sonhou.
No dia seguinte começou então o primeiro ciclo de temas de discussão
com palestras de renomados professores da área. Foram elas:
• Contradições Culturais e sua Harmonização dentro do Movimento
Olímpico (FILARETOS, N.);
• Os Sítios Sagrados de Olímpia e Delos (YALOURIS, N.)
• Preparações para os Jogos Olímpicos de Sydney – Programas Culturais e
esportivos (ELPHINSTON, B.);
• Olimpismo no Campo da Educação: Pense Globalmente – Aja
Localmente (MÜLLER, N.);
• Iniciativas Globais em Educação Olímpica (BROWNLEE, H)
• Olimpismo e Educação Multicultural (TOUBA, T.);
• Globalização, Multiculturalismo e Olimpismo (PARRY, J.);
• Aspectos Educacionais dos Jogos Mundiais da Juventude
(RODICHENKO,V.).
As seguintes questões foram então levantadas para o 1º Ciclo de Debates
nos diferentes grupos de discussão:
• Qual a sua definição de Olimpismo?;
• O Ideal Olímpico é um veículo para civilização? Discuta de que formas
ele pode promover atividades culturais?;
• O que é relativo e o que é absoluto no Olimpismo?;
• Alguns dizem que os Jogos Olímpicos estão correndo perigo e que eles
precisam ser resgatados pelo Olimpismo, outros dizem que os Jogos são
fortes e que eles devem salvar o Olimpismo. Como você vê essa
discussão?;
• Discuta os principais objetivos da Educação Olímpica?;
198
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
•
•
•
•
•
•
•
•
Discuta as características principais dos JO da Antiguidade?;
Existe uma necessidade de se rever a definição de Olimpismo da Carta
Olímpica de modo a refletir a mudança dos Jogos e da sociedade? O que
deve ser mudado e o que deve ser mantido?;
Os Jogos Mundiais da Juventude são uma forma de se aplicar a Educação
Olímpica? Discuta a filosofia, os problemas e perspectivas desses Jogos;
Discuta de que formas a educação multicultural pode ser contemplada
através do Olimpismo;
Como você vê a relação entre o Olimpismo e os Jogos Olímpicos
modernos?;
De que formas você espera que os JO de Sydney sejam diferentes de seus
anteriores?;
Como podemos dividir melhor a filosofia do Olimpismo entre os milhões
de habitantes da terra?;
É possível a criação de uma estrutura global para Educação Olímpica e se
isto é possível, como você a criaria?
Estas questões foram respondidas pelos participantes, auxiliados por seus
coordenadores durante os cinco dias de ciclo. Em 28 de julho foram
apresentadas as conclusões desta primeira fase de discussões.
No dia 29 de julho iniciaram-se os trabalhos do segundo ciclo de palestras,
onde foram enfocados temas como a importância do programa cultural dentro
dos Jogos Olímpicos, os efeitos da globalização sobre o Movimento Olímpico,
multiculturalismo, etc. As questões levadas aos grupos de discussão foram as
seguintes:
• Qual a importância do programa cultural nos Jogos Olímpicos e qual a
importância especial do Festival de Artes das Olimpíadas de Sydney?;
• Discuta a globalização e o esporte e suas consequências sociais
(identidades, sociedades e civilização);
• Discuta os impactos sociais da globalização nos JO;
• Discuta multiculturalismo e a interpretação multidimensional do
Olimpismo transmitida às pessoas comuns através de filmes esportivos e
televisão;
• Quais são os problemas que resultam da globalização do esporte no MO?;
• Quais os impactos sofridos pela cidade, país e região que sedia os Jogos?;
• Como a IOA pode desenvolver ainda mais a formação multicultural?;
• Considere o doping na sociedade globalizada;
• Considere os aspectos locais e globais nos JO?
• Considere as manifestações culturais durante as Olimpíadas e faça
recomendações;
199
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
•
•
•
•
•
•
•
Quais são os aspectos positivos que surgem da globalização do esporte no
MO?;
Discuta os principais objetivos da Solidariedade Olímpica e sua função na
sociedade globalizada.
As palestras proferidas durante o 2o ciclo seguem:
Aspectos Locais e Globais dos JO (KANG, S.);
Eventos Culturais durante as Olimpíadas. Por que? (DURRY, J.);
Globalização e seu Impacto Econômico nos JO (PREUSS, H.);
Interpretações Multidimensionais do Olimpismo: No caso de Filmes
sobre Esportes (MASUMOTO, N.);
Solidariedade Olímpica (GIRARD-SAVOY, N.).
Como pudemos notar, durante o primeiro ciclo de debates as perguntas
são direcionadas para assuntos Olímpicos mais gerais, enquanto no segundo
estas são mais específicas ao tema do ano.
No dia 3 de agosto, após a apresentação das conclusões finais dos grupos
de discussão, aconteceu a Cerimônia de Encerramento.
A volta para Atenas foi ao dia 4 de agosto. Neste dia tivemos a
oportunidade de visitar (por iniciativa própria) o Museu Arqueológico
Nacional, certamente um dos maiores e mais importantes museus de Arte da
Grécia Antiga. No dia 5 de agosto os participantes começaram a regressar aos
seus países de origem.
É importante lembrar que durante todo o evento aconteceram atividades
de caráter social, cultural e esportivo, como exibição de pintura e artes,
projeção de filmes, competições esportivas, workshops de dança, literatura,
noites sociais, etc. Todos com intuito de integrar e apresentar a diversidade de
culturas aos participantes.
Aspectos Importantes
Como membros da Academia Nacional, nossa participação permitiu
representar em Olímpia as principais idéias que circulam no meio acadêmico
brasileiro, especialmente as que se referem aos temas olímpicos mais atuais,
além de relatar a forma como o esporte brasileiro se desenvolve.
Após nosso retorno, com o intuito de perpetuar o conhecimento absorvido
durante todo o período da Sessão, foi elaborado um relatório completo das
atividades do Encontro. Este pode ser encontrado no COB e aguarda para
breve publicação, assim como o resumo de todas as palestras conferidas na
Sessão.
Relevante, ainda, é o fato de que os resultados das palestras e discussões
são sempre editados num documento de conclusão final. Este documento
200
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência
representa, portanto as idéias e opiniões dos participantes, que recebem este
em suas casas aproximadamente um ano após sua participação na Sessão. Esta
iniciativa reflete a filosofia da Academia em respeitar e levar em consideração a
contribuição de todos na busca de programas educacionais que contenham
idéias universais e reflitam os Ideais Olímpicos. Vale ainda ressaltar que até
mesmo as idéias conflitantes dos participantes são apresentadas, para que se
mantenha com fidedignidade a opinião e pensamento de todos. Esse sumário é
então posteriormente apresentado por um representante da IOA em Sessão
Anual do Comitê Olímpico Internacional para consideração.
É importante destacar que neste Encontro os diversos participantes têm a
valiosa oportunidade de vivenciar fatores necessários para que alcancemos a
paz e que nos permitamos a coexistência entre povos distintos, respeitando
diferenças políticas, sociais e econômicas.
Considerações Finais
A delegação brasileira mostrou-se, mais uma vez, bastante competente na
área técnica, estando presente, pontualmente, em todos os eventos, palestras,
encontros, etc. A presença constante nas atividades e eventos culturais, assim
como a participação ativa nas discussões, com apresentação de propostas,
levantamento de questões, e principalmente ocupando a posição de secretários
nos grupos de discussão (posto delegado apenas à poucos participantes) nos dá
a tranqüilidade de que o nosso país foi bem representado.
A busca por um lugar entre os países de excelência no Movimento
Olímpico é, na nossa opinião, de imensa importância. E este lugar só será
ocupado se continuarmos a perseguir os objetivos inicialmente propostos por
Pierre de Coubertin quando vislumbrou a criação deste centro de estudos
culturais: a perpetuação dos valores do Olimpismo.
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GOMES, M., TAVARES, O. A contribuição da Academia Olímpica
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TAVARES, O. Referenciais teóricos para o conceito de “Olimpismo”. In:
TAVARES, O., DACOSTA, L. (Eds.). Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora
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202
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível
socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas*
Lisiane Torres – Universidade de Santa Cruz do Sul/RS
Adroaldo Gaya – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS
Resumo
As investigações sobre os estilos de vida constituem uma abordagem recente
nas ciências do desporto. Ultimamente, estudos sobre os hábitos de vida vêm
despertando o interesse da comunidade científica na medida em que se faz
necessário identificar os possíveis fatores de interferência no desempenho
desportivo. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é descrever o perfil dos
hábitos de vida em jovens atletas praticantes de desporto de rendimento, bem
como identificar os possíveis efeitos relacionados ao nível socioeconômico e
gênero sexual. O presente trabalho foi desenvolvido através do método de
abordagem ex post facto, com procedimentos do tipo diferencial. Para a coleta
de dados foi utilizado o questionário “Estilo de Vida na Infância e
Adolescência” Sobral, (1982), adaptado para o contexto brasileiro através de
um estudo preliminar realizado com vinte estudantes. A amostra, do tipo não
probabilística voluntária, envolveu 397 atletas (239 homens e 154 mulheres),
praticantes de desportos coletivos e participantes da etapa final dos Jogos da
Juventude/1996. Para a análise dos dados adotou-se estatística descritiva
(valores percentuais), e a estatística inferencial adotada foi o Qui-quadrado e a
Prova de Fischer, além da ANOVA do tipo ONEWAY e o teste post hoc de
DUNCAN. Os resultados obtidos indicam que o nível socioeconômico
mostrou ser uma variável importante na prática desportiva. Por outro lado,
gênero sexual exerce restrita influência no perfil dos hábitos de vidas destes
atletas, uma vez que as diferenças obtidas entre os gêneros foram pontuais.
Palavras-chave: hábitos de vida em jovens atletas, nível socioeconômico e práticas esportivas;
gênero sexual e práticas esportivas.
Abstract
Investigations about life styles are a modern approach in the science of sports.
Lately, studies about life habits are becoming more interesting to the scientific
community, since it’s becoming necessary to identify the possible factors of
interference on sports performance. In such context, the objective of this work
is to describe the profile of life habits of young athletes that are practicing high
performance sports, as well as to identify the possible effects related to the
social and economical level and sexual genre. This present work was developed
using the method ex post facto, with a differential type procedure. For
experimental data it was used the questionnaire “Estilo de Vida na infância e
Adolescência” (Life style in childhood and adolescence” (Sobral, 1982),
203
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
adapted for a Brazilian context through a preliminary work realized with
twenty students. The sample, a non-voluntary probabilistic type, involved 397
athletes (239 men and 154 women), all practicing collective sports with
participation at the final stage of the Youth Games/1996. For the analysis of
data it was adopted the descriptive statistics (percentage values) and the
followings tests to inferential statistics: Q- Square and the Fischer Proof; the
ANOVA of the ONEWAY type and the DUNCAN post hoc test. The results
obtained shows that the social and economical level to be an important
variable in sports performance. On the other side, the sexual genre is of
restrict influence on the profile of the life habits of these athletes, since the
differences obtained between genres were punctual.
Key words: life style of young athletes; social and economic level and sport: sexual genre and
sport.
Introdução
As investigações sobre hábitos de vida configuram-se numa abordagem
recente nas ciências do desporto. Tal fato talvez possa ser justificado pela
preocupação tradicional e ainda predominante, no âmbito da performance
desportiva, com variáveis de cunho quase que exclusivamente biológico.
Não obstante, principalmente nos estudos e investigações sobre a
problemática da prospecção de talentos desportivos, hoje, cada vez mais, é
dada a devida atenção ao estudo das variáveis sócio-culturais. Malina (1980),
por exemplo, descreve a performance desportiva e motora como um
fenômeno expresso a três dimensões: orgânica: motora e cultural, cuja
expressão depende de um conjunto de predisposições e de condições que não
se distribuem igualmente por todos os indivíduos, nem no mesmo indivíduo
em diferentes fases de sua existência biológica.
Para Sobral (1989,1992) o estudo dos hábitos de vida configura-se como
importante fator para análise do fenômeno da performance desportiva uma
vez que a conceitualização de performance desportiva, enquanto um
fenômeno bio-cultural implica no reconhecimento da influência de fatos
referentes às condições sócio-econômicas, à organização do cotidiano, às
atividades físicas habituais, entre outros, em sua manifestação.
Estudos como os realizados por Sallis e colaboradores (1992, 1995), Taks e
colaboradores (1995), Cauley e colaboradores (1991), Van Reusel (1981),
Grupta (1986), Black e Bredemeier (1988), Mao (1995), Mashiach e
Dunkelman (1981) apontam para prováveis efeitos do nível sócio-econômico
na performance desportiva.
Já os trabalhos apresentados por Thomas e Franch (1985), Sherif e Rattray
(1976); Sallis e colaboradores (1992); Lenko e Ewing (1980); Freedson e
Evenson (1991); Carolyn (1992) e Brustad (1993) referem que as diferenças de
gênero podem explicar, para além das determinantes biológicas, possíveis
204
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
diferenças nas habilidades motoras entre os sexos. E autores como Mckay
(1984), Colley (1986), Rosemberg (1995), Coakley e White (1992), Demo
(1995), Suh (1995) e Myotin (1995) destacam as dificuldades da participação
feminina no âmbito esportivo.
Com a perspectiva de conhecer melhor os fenômenos que envolvem as
práticas esportivas, configura-se como principal objetivo deste trabalho
descrever o perfil dos hábitos de vida de jovens atletas praticantes de desporto
de rendimento, bem como identificar os possíveis efeitos intervenientes do
nível sócio-econômico e do gênero sexual nas atividades cotidianas por eles
desenvolvidas.
Esperamos, com a realização desse estudo, colaborar no sentido de se fazer
conhecer melhor o cotidiano dos jovens atletas. Acreditamos que tais
informações podem tornar-se relevantes na perspectiva de que o
conhecimento da realidade de jovens submetidos a práticas esportivas de
rendimento consubstanciam-se em indicadores importantes para a
operacionalização de adequados programas de treinamento, bem como de
programas de iniciação esportiva.
Procedimentos Metodológicos
No contexto das investigações sobre o cotidiano de jovens atletas, a
indagação que se configura como o problema do presente estudo é a seguinte:
serão as variáveis nível sócio-econômico e gênero sexual suficientemente fortes
para influenciar na definição dos hábitos de vida em atletas na faixa etária entre
12 a 17 anos?
A hipótese orientadora traçada foi a seguinte: as freqüências relativas das
diversas dimensões concernentes ao perfil dos hábitos de vida de jovens atletas
são significativamente influenciadas pela intervenção das variáveis nível sócioeconômico e gênero sexual.
Conceitua-se operacionalmente a variável hábitos de vida considerando-a
como um conjunto de atividades cotidianas mais ou menos regulares dos
jovens atletas referentes principalmente à organização do cotidiano (hábitos de
sono, atividades realizadas no interior e no exterior da residência), participação
sócio-cultural (materiais de esporte disponíveis, locais utilizados para prática de
lazer e participação em grupos sociais) e participação em práticas desportivas
(organização dos programas de treino: freqüência e duração das sessões)
descritas a partir das respostas ao inventário Estilo de Vida na Infância e
Adolescência (EVIA), desenvolvido por Sobral (1992) e adaptado à realidade
brasileira por Torres (1995).
A variável nível sócio econômico foi definida pelo critério indicado pela
Associação Brasileira de Pesquisa de Mercado (ABIPEME), proposto por
Almeida e Wicherhauser (1991). Segundo esta associação, através da obtenção
205
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
de uma pontuação decorrente do nível de escolaridade dos pais e dos ítens de
conforto disponíveis podem ser definidas cinco classes sociais.
A população do estudo foi constituída por 1028 atletas participantes de
desportos coletivos dos III Jogos da Juventude, realizados em 1996 na cidade
de Curitiba, no estado do Paraná. Participaram da organização deste evento as
seguintes instituições: Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Instituto Nacional
de Desenvolvimento do Esporte (INDESP), Governo do Estado do Paraná e
Secretaria de Estado do Esporte e Turismo/Paraná Esporte.
A amostra, do tipo não probabilística voluntária, foi composta por 393
atletas, (o que corresponde a 38,22% da população), de ambos os sexos (60,8%
do sexo masculino e 39,2% do sexo feminino), com idades compreendidas
entre 12 e 17 anos, representantes de 19 estados brasileiros nas seguintes
modalidades esportivas: voleibol, basquetebol, futsal e handebol.
Adotamos, para a realização do presente estudo, o método de abordagem
Ex Post Facto, com procedimentos do tipo diferencial (Costa Pinto, 1990).
Para a coleta dos dados foi utilizado o inventário Estilo de Vida na Infância
e Adolescência -EVIA- (Sobral, 1992), adaptado para a realização deste estudo
pelos próprios investigadores através de um estudo piloto realizado com 20
estudantes com idade semelhantes a da amostra investigada.
Para a determinação da fidedignidade do inventário, tratando-se de um
instrumento que adota, alternadamente, escalas intervalares e nominais,
efetuamos um estudo de correlação entre teste e reteste com espaçamento de
10 dias. Deste modo, definimos os seguintes procedimentos: (a) correlação
linear de Pearson para itens em escala ordinal tendo sido obtido um r = 0,98;
(b) análise de contingência para itens em escala nominal tendo alcançado um
índice médio de 0,90; (c) atribuição de valores numéricos às escalas nominais e,
assumindo-as como tal aplicação do teste de correlação linear de Pearson para
todo o instrumento tendo sido atingido um r = 0,98; (d) aplicação da equação
de Bellack e colaboradores (1966)1, tendo sido consignado um índice médio de
98% de acordos.
Para a análise dos dados em escala nominal adotou-se estatística descritiva
referente a ocorrências em valores percentuais e, tratando-se de comparar
freqüências, a estatística inferencial adotada foi o Qui-quadrado e Prova de
Fischer2. Tratando-se de escalas binominais, quando houve diferenças entre
mais de dois grupos, utilizou-se ANOVA do tipo ONEWAY e o teste post hoc
de Duncan.
Equação de Bellack e colaboradores para determinação da consistência entre itens em relação a
teste e reteste de um instrumento de coleta de dados: % de acordos = (n° de acordos / n° de
acordos + n° de desacordos) x 100.
2 O teste de Fischer será usado quando vinte por cento das células na tabela de contingência
apresentarem valores de frequência esperada menor que 5.
1
206
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
Para a análise de dados em escala intervalar adotou-se estatística descritiva
referente aos valores de média e desvios padrão e, para a análise inferencial,
utilizou-se a ANOVA do tipo ONEWAY e o teste post hoc de Duncan.
Adotou-se, ad hoc, o índice de 0,05 com nível de significância para todas as
análises estatísticas inferenciais adotadas e os dados foram tratados pelo pacote
estatístico SPSS for Windows, versão 6.0.
Apresentação e discussão dos resultados
No que se refere ao perfil dos hábitos de vida dos jovens atletas, os dados
coletados indicam que, em relação ao nível sócio-econômico, um elevado
percentual dos participantes desse estudo pertencem às classes A e B,
conforme ilustra o gráfico 1:
Gráfico 1.Composição da amostra por nível sócio-econômico
classe C
23,1%
classe D
6,5%
classe A
19,4%
classe B
51,1%
De acordo com os dados de uma pesquisa realizada em agosto de 1997
(Pesquisa Cadê?/IBOPE), a maioria da população brasileira (62%) possui uma
renda familiar de até 5 salários mínimos (o que corresponde à classe E), 20%
dos brasileiros pertencem às classe D, 11% à classe C, 6% à classe B e 1% à
classe A. Ao compararmos, portanto, os dados do presente trabalho com os da
referida pesquisa, parece-nos que é confirmada a hipótese de que o
envolvimento com as práticas esportivas sofre influências do nível
socioeconômico. O fato de que, aproximadamente, 70% dos participantes dos
Jogos da Juventude/1996 são pertencentes às classes A e B, indica claramente
que, no Brasil, a prática do desporto encontra-se restrita a uma parcela da
população.
Parece-nos que uma outra seleção é realizada, a priori, daquela inerente ao
desporto de rendimento: a seleção econômica. Nesta perspectiva, entendemos
que é preciso o desenvolvimento de estratégias, por parte das instituições de
fomento ao esporte, com o objetivo de tornar o acesso às práticas esportivas
207
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
expandido para a maioria da população brasileira. Desta forma, talvez o
envolvimento de jovens atletas com o desporto de rendimento poderá ocorrer
independentemente das classes sociais a que pertençam.
No que se refere à organização do cotidiano, os dados coletados sugerem
uma média de horas de sono diário de 9h 25min (± 1h 22min). As atividades
realizadas no interior da moradia não apresentam muita diversificação. As
atividades com maiores percentuais de resposta foram assistir televisão (75%),
escutar música (80,5%), conversar com amigos (70,3%) e estudar/realizar
tarefas escolares (83,8%). Chamou-nos atenção o baixo percentual obtido
(24,7%) referente à realização de leituras de lazer. Tratando-se de atletas em
idade escolar, consideramos este fato digno de preocupação. Talvez a
realização de leituras esteja mais associada à realização de tarefas escolares e
não tenha o status, para esses estudantes, de atividade de lazer. De qualquer
modo, tratando-se da leitura enquanto forma de acesso a vários tipos de
conhecimento e um hábito desejável a ser adquirido no processo de
desenvolvimento humano, consideramos alarmantes os percentuais obtidos
neste item. Entendemos que as instituições de ensino, assim como as famílias
desses atletas, devem estar atentas a esta situação e fornecer os mais variados
incentivos com o objetivo de estimular a incorporação da leitura enquanto um
hábito na vida desses estudantes. Para além da frequência à escola e aos locais
de treinamento, as atividades realizadas no exterior da moradia resumem-se em
conversar com amigos (80%) e jogar bola (62,7%).
Em relação à participação sócio-cultural, observamos que o material de
esporte mais adquirido pelos participantes do estudo é a bicicleta (76,7%),
seguida da bola de futebol (46,2%) e da bola de voleibol (45,5%). Interessante
é o fato de que, embora a bicicleta seja um material bastante adquirido, um
percentual baixo de atletas costuma andar de bicicleta (25,1%). O pequeno
número de ciclovias, a quantidade de parques disponíveis que viabilizem a
prática do ciclismo, os altos índices de violência urbana, entre outros, podem
se consubstanciar como fatores que venham a inibir a prática do ciclismo
como atividade de lazer entre estes atletas. Por outro lado, estudiosos do
treinamento desportivo como, por exemplo, Matveev (1996) e Zakharov
(1992), destacam a importância da vivência de atividades esportivas
diversificadas até, aproximadamente, aos 14 anos de idade, no processo de
formação dos atletas. E, ao analisarmos os materiais de esporte adquiridos
pelos participantes do estudo, observamos a sua restrita variação. Tal fato
indica a relevância da escola e do clube no que se refere a oportunização e
incentivos à diversificação das práticas esportivas. Caso estas instituições não
tenham como princípio garantir a formação de um amplo repertório
desportivo para seus estudantes e atletas, temos uma situação bastante
preocupante no que se refere à qualidade do processo de formação destes
indivíduos. Por outro lado, a intenção de formar gerações olímpicas requer, na
208
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
realidade brasileira, uma democratização do desporto e uma pedagogia
desportiva que seja coerente aos processos de desenvolvimento humano.
Em relação aos locais utilizados para as práticas esportivas de lazer, a
quadra da escola, no turno oposto da aula, foi a opção de resposta com maior
percentual de ocorrência (34,1%). E, no que se refere à participação em grupos
sociais, a filiação a clubes e participação de atividades na escola, no turno
oposto às aulas, foram as opções de maiores ocorrências de respostas (61,2% e
20,5%, respectivamente). Novamente nos deparamos com o indicativo da
importância do clube e da instituição escolar no processo de formação desses
atletas. Essas instituições, ao realizarem eventos diferenciados tais como
workshops sobre temáticas diversificadas, excursões, festas, exposições artísticas,
entre outros, estarão oferecendo a esses jovens oportunidade de maior
diversificação de seus hábitos de lazer e de seu desenvolvimento sócio-cultural.
Os dados obtidos referente à participação em práticas esportiva indicam
que a média da freqüência semanal de treino é de 4, 57 (±1,46). A duração
média de cada sessão de treinamento é de 2h 30min (± 51min).
A variável nível sócio-econômico exerceu influências no perfil dos hábitos
de vida dos atletas no que se refere à realização de atividades específicas,
conforme ilustra a tabela 1. É de se salientar, entretanto, o fato de que o nível
sócio-econômico da maioria dos participantes deste estudo não corresponde
ao nível sócio-econômico de grande parte da população brasileira. Desta
forma, talvez outra seleção seja realizada, a priori, daquela inerente ao esporte
de rendimento: a seleção econômica. Sendo assim, o nível sócio-econômico
caracteriza-se como uma variável importante no que se refere à realização de
práticas esportivas de rendimento.
Quadro 1. Ocorrência de diferenças estatisticamente significativas dos hábitos
de vida de atletas nas diferentes classes sociais
Hábitos
Assistir Televisão
Realizar tarefas
Domésticas
Passear de carro
Grupos onde foram verificadas ocorrências de diferenças
estatisticamente significativas
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B e D
•
Atletas (sexo fem) das classes B e C com maiores
freqüências em relação às atletas da classe A (sexo fem);
•
Atletas (sexo fem) da classe C com maiores freqüências
em relaçâo às atletas da classe B (sexo fem);
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D;
•
Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) da classe D;
•
Atletas (sexo fem) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo fem) da classe C.
209
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
Possuir bola de
futebol
Possuir bola de
voleibol
Possuir bola de
Basquetebol
Possuir bola de
plástico
Possuir raquete de
tênis
Possuir skate
Utilizar o pátio de
casa para práticas de
lazer
Utilizar
campos/terrenos
baldios para as
práticas de lazer
Filiação a clubes
Esportivos e/ou
sociais
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B e C;
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D;
•
Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes C e D;
•
Atletas (sexo fem) da classe A com maiores freqüências
em relação às atletas (sexo fem) das classes C e D;
•
Atletas (sexo fem) da classe B com maiores freqüências
em relação às atletas (sexo fem) das classes C e D;
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D;
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D;
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D;
•
Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) da classe C.
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B e C;
•
Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) da classe C.
•
Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências
em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D;
•
Atletas (sexo masc) das classes C e D com maiores
freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes A e
B.
•
Atletas (sexo masc) das classes A e B com maiores
freqüências em relação aos atletas (sexo masc) da classe C.
No que se refere à variável gênero sexual, os dados coletados indicam que,
para amostra em questão, esta variável exerceu influências, principalmente, em
relação à aquisição de materiais de esporte e ao uso de locais específicos para
as práticas esportivas de lazer, conforme ilustra a tabela 2:
210
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
Quadro 2. Ocorrência de diferenças estatisticamente significativas dos hábitos
de vida de atletas de diferentes gêneros sexuais:
Hábitos
Assistir Televisão
Realizar tarefas
domésticas
Andar de
patins/roller
Possuir bola de
futebol
Possuir bola de
voleibol
Possuir chuteiras
Possuir patins
Utilizar a quadra da
escola, no turno
oposto às aulas, para
práticas de lazer
Utilizar
campos/terrenos
baldios para as
práticas de lazer
Filiação a clubes
esportivos e/ou
sociais
Grupos onde foram verificadas ocorrências de
estatisticamente significativas
•
Atletas (sexo masc) com maiores freqüências
às atletas (sexo fem) na classe B.
•
Atletas (sexo fem) com maiores freqüências
aos atletas (sexo masc) nas classes B e C;
•
Atletas (sexo fem) com maiores freqüências
aos atletas (sexo masc) na classe B.
•
Atletas (sexo masc) com maiores freqüências
às atletas (sexo fem) nas classes A,B e D;
•
Atletas (sexo fem) com maiores freqüências
aos atletas (sexo masc) na classe B.
•
Atletas (sexo masc) com maiores freqüências
às atletas (sexo fem) nas classes A,B, C e D;
•
Atletas (sexo fem) com maiores freqüências
aos atletas (sexo masc) nas classes A, B e C.
•
Atletas (sexo fem) com maiores freqüências
aos atletas (sexo masc) na classe B.
diferenças
em relação
em relação
em relação
em relação
em relação
em relação
em relação
em relação
•
Atletas (sexo masc) com maiores freqüências em relação
ás atletas (sexo fem) nas classes, C e D.
•
Atletas (sexo fem) com maiores freqüências em relação
aos atletas (sexo masc) nas classes B e C.
Considerações Finais
A análise realizada a partir dos dados coletados indica que o perfil dos
hábitos de vida dos atletas participantes deste estudo apresenta as seguintes
características principais: nível socioeconômico correspondente às classes A e
B; média de horas de sono diário de 9h 25min (± 1h 22min); pouca diversidade
na realização de atividades no interior e exterior da moradia (estudar, escutar
música, assistir televisão e conversar com amigos dentro da moradia; e jogar
bola e conversar com amigos no exterior da moradia); o material de esporte
mais adquirido é a bicicleta; o local predileto para a realização de práticas
esportivas de lazer é a quadra da escola, no turno oposto ao das aulas; a
participação sociocultural é restrita aos clubes e a média da freqüência semanal
211
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do
nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas
de treino é de 4,57 (± 1,46), sendo a duração média de cada sessão de treino 2h
30min (± 51 min).
Considerando a inferências realizadas e tendo como orientação a hipótese
geral deste estudo, conclui-se que o nível socioeconômico, apesar de exercer
poucas influências nos hábitos de vida dos participantes deste estudo,
configura-se como uma variável importante na prática esportiva na medida em
que o acesso ao esporte de rendimento apresenta-se restrito a uma parcela
economicamente privilegiada da população. Por outro lado, o gênero sexual
exerce restrita influência no perfil dos hábitos de vida destes atletas, tendo em
vista que as diferenças obtidas entre os gêneros foram pontuais.
* Artigo elaborado a partir da dissertação de mestrado de Lisiane Torres, apresentada no Programa
de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da EsEF/UFRGS, realizada sob
orientação do Dr. Adroaldo Gaya.
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215
Doping X Olimpismo
Doping X Olimpismo
Patrícia Torsani - Universidade Católica de Brasília/DF
Resumo
O Olimpismo tem por finalidade colocar “o esporte em todo lugar a serviço
do desenvolvimento harmonioso do homem” (DaCosta, 1999, p. 48). Tendo
como princípio o equilíbrio, a idéia de performance é posta de lado e “trazer o
homem à perfeição”, “ao melhoramento do homem” (Tavares, 1999, p. 28),
torna-se seu principal objetivo. Apesar da filosofia do Olimpismo ser bastante
educativa, de acordo com o presidente da AOI, Prof. Nikos Filaretos (1999), o
ser humano muitas vezes se desvincula dos valores morais e ao invés de
representar seu país na busca da glória através de um patriotismo saudável,
prefere enfrentar uma competição com seus corpos dopados. Esta atitude,
além de ir de encontro aos objetivos éticos e morais dos jogos olímpicos,
agride também a fisiologia humana, pondo em risco a própria saúde do atleta.
Palavras-chave: Olimpismo; Doping.
Abstract
Olympism has the finality of placing “sports everywhere as a service of a
harmonious self development” (DaCosta, 1999, p. 48). Having this as a
principle of equilibrium, the idea of performance is put aside and “bringing
man to perfection”, “to a self improvement” (Tavares, 1999, p. 28), becomes
its’ most important task. Even though the Olympism’s philosophy is very
educative, according to the IOA’s president, Prof. Nikos Filaretos (1999), the
human being usually desvinculates of moral values and instead of representing
its’ country to the glory’s achievement, tends to face a competition with its’
body doped. This attitude, not only goes against the moral and ethical values
of the olympic games, but also damages the human physiology, putting in risks
the atlete’s health.
Key words: Olympism; Doping.
Introdução
Desde a antigüidade a educação na Grécia era associada aos elementos
básicos da filosofia Olímpica. A preocupação com a saúde física, segundo Dr.
Theophile Touba (1999) ocupava um lugar de destaque e esta era adquirida e
mantida através de exercícios físicos.
O Olimpismo na atualidade não significa apenas um físico saudável. Ele é
“cultura, história, ecologia, qualidade de vida” (DeRose, 1999, p. 282). Ele
partilha do espírito de paz, amizade, cooperação, respeito mútuo e de
celebração (Panagiotopoulos, 1998, p. 100). A definição oficial de Olimpismo e
seus objetivos podem ser encontrados nos Princípios Fundamentais da Carta
216
Doping X Olimpismo
Olímpica (COI, 1997) e de acordo com o Princípio Fundamental nº2, o
Olimpismo é “uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as
qualidades de corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e
educação. O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer
encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito
aos princípios éticos fundamentais universais” (Tavares, 1999).
Na visão de Coubertin, um dos pilares básicos do Olimpismo é a questão
do fair-play, sinônimo de conduta ética, integridade intelectual e força física
(Tavares, 1999). Sem ele a prática desportiva pode sofrer violações de regras,
normas, assim como nos seus valores morais.
A História do Doping nos Jogos da Antigüidade
Apesar do termo doping ter surgido no dicionário inglês em 1879, o uso de
substâncias que tem o poder de potencializar a performance pode ser
observado no decorrer da história do esporte.
Segundo De Rose (1999), uma pintura do imperador Chinês SHENNUNG, de 2.700 a.C., é o primeiro documento que relata o uso de agentes de
doping.
Os jogos olímpicos da antigüidade eram realizados em Olímpia, de quatro
em quatro anos desde pelo menos 776 a.C.. Com o passar dos anos a
popularidade dos jogos crescia, os prêmios se tornavam cada vez mais valiosos
e o vencer passou a ser motivo de status e de muitas regalias. Neste contexto,
aproximadamente no ano 400 a.C. esta disputa atraiu a corrupção.
Competidores estavam dispostos a ingerir qualquer substância que os
possibilitassem uma melhora na performance, como por exemplo, extratos de
cogumelo e sementes de plantas.
Além de motivos políticos, um dos motivos que contribuiu para a
desagregação dos jogos foi o uso de drogas.
A História do Doping nos Jogos Olímpicos da Era Moderna
Em 1896 ocorreu a primeira Olimpíada Moderna, em Atenas.
Logo na virada do século o esporte retomou um lugar semelhante ao das
sociedades grega e romana. Neste momento houve a pressão nos atletas de que
eles deveriam ser o melhor e em conseqüência disto, o doping ressurgiu.
Pierre de Coubertin, em 1923, mencionou numa palestra que “... a
excessiva idolatração ao esporte levava à erronia crença de valores, brutalidade,
sobretreinamento e ao doping”.
Foi a partir dos anos 60 que o Conselho Europeu, composto por 21 nações
européias ocidentais, instituiu uma resolução contra o uso de algumas
substâncias no esporte. Em 1967 o Comitê Olímpico Internacional se
envolveu nas iniciativas internacionais antidoping logo após a morte do ciclista
Tommy Simpson enquanto participava do Tour de France.
217
Doping X Olimpismo
O primeiro teste foi realizado em 1968 nos Jogos do México, porém o
simples fato de haver um teste antidoping não garantiu a sua efetividade, pois
em pouco tempo os atletas aprenderam como driblar o sistema, assim como a
tecnologia inadequada da época se tornou um fator limitante.
Os testes atuais se tornaram mais sofisticados, portanto mais precisos. Os
testes passam por fases, e dependendo da busca, pode se tornar necessário à
utilização de métodos de análise mais avançado, como por exemplo, a
radioimunológica ou imunológica, cromatografia líquida e gasosa e métodos
associando duas técnicas, como cromatografia com espectometria (da massa),
cromatografia com detenção de emissão atômica.
Porque usar anabolizantes?
Há um grande número de fatores que contribuiria para que o atleta se
sentisse motivado a fazer uso do doping.
A droga em si poderia servir como estímulo pelo seu efeito no organismo,
pelo acesso fácil à droga ou pela dependência física já instalada.
Já o indivíduo poderia deixar-se influenciar pela insatisfação com o
progresso do treinamento ou da performance, por não considerar o uso um
problema ético ou por achar que todos utilizam deste mesmo recurso, por falta
de informação a respeito de seus efeitos colaterais, por falta de confiança em si
próprio.
Até mesmo o próprio ambiente poderia servir como um estímulo quando
o convívio com pessoas que o utilizam se torna comum; quando a pressão do
técnico, familiares, amigos, do público em geral e até da mídia se faz presente;
pelo prestígio, fama ou também pelo retorno financeiro.
Efeitos do anabolizante sobre o organismo
Os anabolizantes esteróides podem promover um aumento no volume
muscular esquelético e na sua força contanto que combinado a um treino
apropriado e a uma dieta rica em proteína. Ele também tem como efeito a
euforia e a redução da fadiga, proporcionando assim uma maior capacidade de
treinamento.
Apesar dos atletas geralmente obterem resultados desejáveis sejam eles por
motivos reais ou não, há vários efeitos colaterais possíveis, dentre eles estão:
taxa de LDL aumentada enquanto a de HDL reduzida, hipertensão arterial,
hipertrofia prostática, mudanças de comportamento, acne, ginecomastia, estria,
hipotrofia testicular, infarto no miocárdio, câncer de fígado, rupturas
tendíneas, infertilidade.
Em uma pesquisa realizada na Inglaterra, com a participação de atletas e
não-atletas, foi revelado que no caso dos atletas, eles aparentemente utilizam
os esteróides anabolizantes associados a agentes não-esteróides que contém
218
Doping X Olimpismo
propriedades anabólicas, tais como a insulina (57%), o hormônio do
crescimento (12%) e o clenbutarol (70%).
Substâncias e Métodos proibidos ou restritos
I. LISTA DAS SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS
1. Estimulantes (ex. cafeína, efedrina, anfetaminas, cocaína).
2. Narcóticos - natural ou sintético (ex. heroína, morfina).
3.1. Agentes Anabólicos: Esteróides Androgênicos (ex. testosterona, estanozol,
DHEA).
3.2. Agentes Anabólicos: Não-Esteróides–Beta2 Agonista (ex. medicamentos para
asma).*
4. Diuréticos.
5. Hormônio Peptídeo e glicoproteína e anlogos (ex. hCG, ACTH, EPO, hGH,
insulina).
* Há três exceções: Salbutamol, Salmeterol e Terbutaline, todos em forma de
inalação com prescrição médica reconhecida por uma autoridade.
II. MÉTODOS PROIBIDOS
1. Doping Sangüíneo.
2. Manipulação farmacológica, química ou física (ex. cateterização, substituição de
urina).
III. SUBSTÂNCIAS RESTRITAS
1. Álcool.
2. Beta bloqueador.
3. Corticosteróides.
4. Anestésico Local.
5. Cannabis Ativa
Conclusão
De acordo com os princípios básicos do Olimpismo que defende “... um
estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional
do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais”,
jamais deveria haver espaço para o doping nem tão pouco para qualquer
corrupção referentes às leis e idealizações do Olimpismo.
A beleza e a importância de tudo o que foi um dia defendido pelo Barão de
Coubertin tem sido de uma certa forma ignorado por pessoas que o próprio
presidente da Academia Olímpica Internacional – Nikos FILARETOS
defende como estarem fazendo do esporte “um espelho de todos os
fenômenos negativos de nossa sociedade”.
O problema do doping tem se tornado um problema social e é um assunto
importante da saúde pública. As escolas deveriam utilizar tanto o Profissional
de Educação Física quantos Professores de Ciências Biológicas como
219
Doping X Olimpismo
esclarecedores do malefício do doping, pois só assim, ao terem contato na
adolescência / durante treinamento, poderiam ter uma opinião formada a
respeito e assim reduziria a chance de se envolverem por falta de informação.
Os resultados obtidos pelos atletas através do uso de anabolizantes
poderiam der obtidos também na sua ausência, porém com muito mais esforço
e determinação por parte do atleta. O treinamento precisaria de uma maior
especificidade, o acompanhamento nutricional ininterrupto se faz obrigatório e
um acompanhamento psicológico proporcionaria um suporte nos momentos
em que geralmente o atleta se desmotiva e que se torna mais suscetível a se
envolver com o doping.
É sempre importante lembrar que até esta data não há evidência confiável
de que o doping ofereça um benefício, e sim, possivelmente qualquer melhora
na performance seja reflexo de um aumento na segurança pessoal e da
agressividade.
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220
Doping X Olimpismo
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In: TAVARES, Otávio, DACOSTA, Lamartine. Estudos Olímpicos. Rio de
Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. pp. 184-204.
221
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre
adultos brasileiros e americanos
Adriana Barni Truccolo – FAPERGS - Universidade Luterana do Brasil,
Canoas/RS
Eduardo Henrique De Rose – Associação Médica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre/RS
Resumo
O propósito desta investigação foi o de comparar as razões que levam
mulheres brasileiras a praticar atividade física com as razões que levam
mulheres americanas a aderirem ao exercício. A amostra foi composta de 164
indivíduos, sendo 37 brasileiros e 127 americanos. Os dois grupos eram
similares em idade (na faixa de 50 a 84 anos de idade), nível sócio-econômico,
e nível educacional. Um questionário, baseado na revisão de literatura, foi
especialmente construído para este estudo. Os dados foram analisados usando
o teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes. Foram
observadas diferenças significativas nas razões para aderência ao exercício
entre americanas e brasileiras, com um nível de significância de 5%.
Palavras-chave: Atividade física, envelhecimento, motivação.
Abstract
The purpose of this investigation was to identify the factors that determine an
active rather than a sedentary lifestyle among the aging population. It was also
object of discussion whether or not there were differences on the reasons for
exercise adherence among older Brazilian and American women. The sample
was comprised of 164 individuals, being 127 Americans and 37 Brazilians.
Both groups were similar in age (ranging from 50 to 84 years of age),
socioeconomic status, and educational level. A questionnaire, based on the
review of literature, was specially designed for this study. The resulting data
were analyzed using a “t” test for independent samples of unequal size. The
results indicated statistically significant differences on the reasons for exercise
adherence between Americans and Brazilians, at the .05 alpha level. The
knowledge of the motives that influence older adults to exercise will provide
health professionals the tools to design more effective and attractive exercise
programs specifically for this group.
Key words: Exercise adherence, older adults, aging.
Introdução
A atividade física regular tem sido considerada como um importante
componente de um estilo de vida saudável. Recentemente, esta opinião tem
sido reforçada por novas evidências científicas vinculando a atividade física
222
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
regular com uma série de benefícios físicos e psicológicos (Hayflick, 1996).
Pesquisas epidemiológicas têm demonstrado os efeitos da atividade física
regular em doenças cardiovasculares (Moore & Korzich, 1995), hipertensão
(Lombard, Lombard, & Winett, 1995), diabetes mellitus (ADA, 2000; De Rose,
1987), osteoporosis (Nóbrega et. al., 1999), câncer (Klonoff, Annechild, &
Landrine, 1994), obesidade (Halpen, A. & Mancini, M. C., 1999), ansiedade e
depressão (Mazzeo et. al, 1998). Segundo Sheldahl, Tristani, Hastings,
Wenzler, e Levandoski (1993), considerável atenção tem sido direcionada para
os potenciais benefícios da atividada física para adultos na faixa etária de 45 a
74 anos de idade, que são mais susceptíveis aos problemas acima mencionados.
A aderência à atividade física, ou seja, a adoção e permanência em uma
atividade física regular é difícil de ser mantida por muitos indivíduos. Embora
exista um crescimento do público consciente dos benefícios fisiológicos,
psicológicos, e sociais da atividade física, estimativas revelam que somente
22% dos adultos americanos estão engajados em algum tipo de atividade física
diariamente, por um tempo mínimo de 30 minutos; sendo que 54% dos
adultos americanos exercitam-se esparsamente, e 24% da população americana
é completamente sedentária (Pate et. al., 1995).
Em uma pesquisa realizada pelo Conselho Estadual do Idoso do RS (CEI)
(de 1994 a 1996), juntamente com quatorze universidades gaúchas, com a
intenção de traçar o perfil do idoso no estado do Rio Grande do Sul, foi
encontrado que dentre 7920 idosos entrevistados, faixa etária a partir dos
sessenta anos de idade, 50% não praticavam nenhuma atividade física regular; e
que a outra metade praticava atividade física irregularmente (Secretaria do
Trabalho, Cidadania e Assistência Social, CEI).
Estudos têm observado uma tendência dos indivíduos em diminuírem a
atividade física progressivamente com o passar dos anos. Comparando-se
adultos na faixa etária de 25 a 44 anos de idade com adultos na terceira idade
(65 - 74 anos de idade), os últimos exercitam-se com menor freqüência e
escolhem atividades que requerem uma menor demanda de energia absoluta
(Stephens & Caspersen, 1990).
A aderência e permanência de indivíduos em programas de exercício, uma
vez eles tenham iniciado tem sido freqüentemente estudada e pouco
compreendida pelos pesquisadores. Pesquisas têm demonstrado que 50% dos
americanos que iniciam um programa supervisionado de exercício irão desistir
deste programa nos primeiros 6 meses da atividade (Duncan & McAuley,
1993)
Torna-se, então, relevante o estudo das razões que motivam a outra metade
da população a aderir à atividade física regular. O conhecimento e a crença dos
benefícios que a atividade física promovem para a saúde podem motivar
inicialmente o indivíduo à atividade física (Sharpe & Connell, 1992). Contudo,
sentimentos de bem-estar e divertimento parecem ser razões mais fortes para a
223
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
aderência destes indivíduos em programas de atividade física (McMurdo &
Rennie, 1993).
Acredita-se que um estudo aprofundado das razões que levam esta camada
da população a manter-se ativa, irá fornecer os conhecimentos necessários para
que programas de atividade física sejam mais bem estruturados e direcionados
a este segmento da sociedade. Conseqüentemente, assegurando melhores
perspectivas de engajamento e continuidade pelos adultos na terceira idade em
uma atividade física regular.
Métodos e Procedimentos
Amostra
A amostra foi compreendida por 164 voluntários, sendo 37 brasileiros e
127 americanos, do sexo feminino, com faixa etária a partir dos cinqüenta anos
de idade, abaixo distribuídos (Tabela 1):
Tabela 1: Amostragem em números absolutos:
____________________________________________________________
Faixa Etária
Brasil (Porto Alegre) / Estados Unidos (Miami)
____________________________________________________________
Grupo 70-80 anos:
9
37
Grupo 60-69 anos:
11
29
Grupo 50-59 anos:
17
61
____________________________________________________________
Coleta de dados
Os indivíduos brasileiros que participaram desta amostra praticavam
atividade física em parques, academias de ginástica, clubes e academia de yoga.
Os indivíduos americanos que participaram deste estudo praticavam
atividade física na ilha de Key Biscayne (ciclovia, praia, clube de golfe, clube de
tênis), e no Health South Doctors’ Hospital, em Miami, FL.
Instrumento e Modelo
O instrumento utilizado foi um questionário desenvolvido pela autora
quando da elaboração de dissertação de mestrado na Universidade
Internacional da Florida (FIU), Miami, USA.
O modelo utilizado foi o modelo Causa-Comparação, também referido
como modelo “ex post facto”.
Procedimentos
Inicialmente foi realizado um teste piloto com o intuito de verificar se o
questionário era auto-explanatório e bem compreendido pelos voluntários.
224
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
Como nenhuma dúvida foi levantada concluiu-se que o instrumento é de fácil
compreensão.
Contatamos com voluntários nos lugares mencionados no item Coleta de
dados, e brevemente explicamos aos indivíduos a natureza e seriedade da
pesquisa.
Análise dos dados
O teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes foi
aplicado a fim de observar diferenças significativas entre as médias das razões
citadas para aderir à atividade física entre a amostra de Porto Alegre e a
amostra dos Estados Unidos.
Resultados e Discussão
Características sócio-demográficas
A maioria dos respondentes eram casados (64,86% brasileiros, 79,25%
americanos), de cor branca (97.30% brasileiros, 84.20% americanos), com um
bom nível educacional (43% dos brasileiros com nível superior completo e
44% dos americanos com nível superior completo), e com uma renda mensal
satisfatória.
Razões para aderência à atividade física
A Tabela 2 apresenta as médias, desvios padrões, teste “t” para amostras
independentes, de tamanhos diferentes, calculados a partir da avaliação dos
grupos em cada uma das razões para aderência à atividade física. O nível de
significância adotado foi de 5%.
Nota-se que as respostas das alternativas do tipo Likert medindo a
importância das razões para exercitar em uma escala de (5) “extremamente
importante” a (1) “sem nenhuma importância” entre o grupo de Porto Alegre
e o grupo dos Estados Unidos mostrou significativas diferenças em algumas
das razões. O controle do peso corporal foi uma razão significativamente
diferente, sendo mais importante para o grupo americano (ΧUSA = 4.04) do
que para o grupo brasileiro (ΧPOA = 3.30). Outras razões também
significativamente diferentes, porém mais importantes para a amostra brasileira
do que para a amostra americana foram: socialização (Χ POA = 3.72, Χ USA =
2.58), diminuição da ansiedade (Χ POA = 3.63, Χ USA = 3.21), diminuição da
depressão (Χ POA = 3.85, Χ USA = 3.12), alívio do stress (Χ POA = 4.18, Χ USA =
3.24), melhora no humor (Χ POA = 3.80, Χ USA = 2.92), apoio do cônjuge (Χ
POA = 4.08, Χ USA = 3.10), aprecia estar ao ar livre (Χ POA = 4.32, Χ USA =
3.56), e a razão ser divertido (Χ POA = 4.20, Χ USA = 3.57).
225
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
As razões igualmente importantes para os dois grupos, e, portanto, não
significativamente diferentes foram: melhora no condicionamento e saúde,
melhora na aparência, dormir melhor, e sentir-se melhor consigo mesma.
Tabela 2: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar:
____________________________________________________________
POA
USA
___________
__________
Razões p/ Exercitar
Χ
s
Χ
s
t
p
____________________________________________________________
Melhora Cond./Saúde
4.33 0.70
4.35
0.98
0.13
>0.05
Controle do Peso
3.30 1.84
4.04
1.13
2.18
<0.05*
Melhora na Aparência
3.95 0.97
3.72
1.23
-1.21
>0.05
Socialização
3.72 1.19
2.58
1.44
-4.75
<0.05*
Dormir Melhor
3.74 1.51
3.24
1.31
-1.67
>0.05
Ansiedade Diminuída
3.64 0.29
3.21
1.43
-3.07
<0.05*
Depressão Diminuída
3.85 0.53
3.12
1.41
-4.56
<0.05*
Aliviar o Stress
4.18 1.28
3.24
1.35
-3.76
<0.05*
Melhora no Humor
3.80 1.08
2.92
1.29
-4.19
<0.05*
Sinto Melhor Comigo
4.20 0.90
3.92
1.15
-1.56
>0.05
Apoio do Cônjuge
4.08 1.28
3.10
1.59
-3.37
<0.05*
Aprecia estar ar livre
4.32 1.02
3.56
1.45
3.45
<0.05*
É divertido
4.20 0.96
3.57
1.17
-3.32
<0.05*
____________________________________________________________
Nota: * = significativamente diferente
A Tabela 3 indica as médias e desvios padrões das razões para exercitar no
grupo de POA e no grupo dos USA na faixa etária de 50 a 59 anos de idade,
226
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
bem como teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes, a
um nível de significância de 5%. Como pode ser observado, houve significativa
diferença nas seguintes razões: controle do peso corporal (Χ POA = 3.60, Χ USA
= 4.19), mais importante para a amostra americana; socialização (Χ POA = 4.18,
Χ USA = 1.97), mais importante para a amostra brasileira; apoio do cônjuge (Χ
POA = 4.31, Χ USA = 3.29), mais importante para a amostra brasileira; e apreciar
estar ao ar livre (Χ POA = 4.06, Χ USA = 3.20), também mais importante para a
amostra brasileira.
A Tabela 4 mostra as médias, desvios padrões, teste “t” para amostras
independentes de tamanhos diferentes, a um nível de significância de 5%, das
razões para aderência ao exercício dos grupos brasileiro e americano na faixa
etária de 60 a 69 anos de idade.
Como visto na Tabela 4, as razões significativamente diferentes foram mais
importantes para o grupo de POA do que para o grupo dos USA, sendo as
seguintes: socialização (Χ POA = 4.18, Χ USA = 2.76), dormir melhor (ΧPOA =
3.64, ΧUSA = 2.70), diminuição da ansiedade (Χ POA = 3.70, ΧUSA = 2.53),
diminuição da depressão (ΧPOA =4.00, Χ USA = 2.90), meio de aliviar o stress
(ΧPOA = 4.00, ΧUSA = 2.95), aprecia estar ao ar livre (Χ POA = 4.60, ΧUSA =
3.60), e ser divertido (ΧPOA = 4.60, ΧUSA = 3.80).
Tabela 3: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar na Faixa
Etária de 50-59 anos de idade:
____________________________________________________________
POA
USA
___________
__________
Razões p/ Exercitar
Χ
s
Χ
s
t
p
____________________________________________________________
Melhora Cond./Saúde
4.41 0.81
4.33
0.98
0.35
>0.05
Controle do Peso
3.60 1.30
4.19
1.06
-0.20
<0.05*
Melhora na Aparência
4.18 1.00
3.97
1.18
0.72
>0.05
Socialização
4.18 0.90
1.97
2.14
5.29
<0.05*
Dormir Melhor
3.82 1.61
3.47
1.38
0.42
>0.05
Ansiedade Diminuída
3.65 1.88
2.69
2.27
1.23
>0.05
227
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
Depressão Diminuída
3.75 1.57
3.16
1.50
1.34
>0.05
Aliviar o Stress
4.00 1.37
3.30
1.42
1.79
>0.05
Melhora no Humor
3.63 1.31
3.07
1.39
1.49
>0.05
Sinto Melhor Comigo
4.29 1.00
3.85
1.07
1.57
>0.05
Apoio do Cônjuge
4.31 1.26
3.29
1.45
2.76
<0.05*
Aprecia estar ar livre
4.06 1.25
3.20
1.49
2.39
<0.05*
É divertido
3.82 1.14
3.29
1.32
1.60
>0.05
____________________________________________________________
Nota: * = significativamente diferente
Tabela 4: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar na Faixa
Etária de 60 - 69 anos de idade:
____________________________________________________________
POA
USA
___________
__________
Razões p/ Exercitar
Χ
s
Χ
s
t
p
____________________________________________________________
Melhora Cond./Saúde
3.64 1.90
4.10
1.40
-0.71
>0.05
Controle do Peso
3.90 0.99
3.74
1.44
0.35
>0.05
Melhora na Aparência
3.45 1.05
3.38
1.28
0.17
>0.05
Socialização
4.18 1.09
2.76
1.48
3.09
<0.05*
Dormir Melhor
3.64 1.27
2.70
1.17
2.04
<0.05*
Ansiedade Diminuída
3.70 1.34
2.53
1.30
2.25
<0.05*
Depressão Diminuída
4.00 1.33
2.90
1.21
2.20
<0.05*
Aliviar o Stress
4.00 1.15
2.95
1.34
2.28
<0.05*
228
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
Melhora no Humor
3.80 1.03
3.00
1.23
1.86
>0.05
Sinto Melhor Comigo
4.20 1.03
3.33
1.17
1.71
>0.05
Apoio do Cônjuge
3.86 1.34
3.38
1.78
0.75
>0.05
Aprecia estar ar livre
4.60 0.70
3.60
1.43
2.56
<0.05*
É divertido
4.60 0.52
3.80
1.06
2.76
<0.05*
____________________________________________________________
Nota: * = significativamente diferente
A Tabela 5 apresenta as médias, desvios padrões, teste “t” para amostras
independentes de tamanhos diferentes, a um nível de significância de 5%, das
razões para aderência ao exercício dos grupos brasileiro e americano na faixa
etária de 70 a 79 anos de idade. Como pode ser observado, houve diferença
significativa nas razões ansiedade diminuída (ΧPOA = 4.43, ΧUSA = 3.24),
depressão diminuída (ΧPOA = 4.14, ΧUSA = 3.16), meio de aliviar o stress
(ΧPOA = 4.14, ΧUSA = 3.14), apreciar estar ao ar livre (ΧPOA = 4.57, ΧUSA =
3.82), e a razão ser divertido (ΧPOA = 4.57, ΧUSA = 3.52). Analisando as
médias, podemos concluir que as razões para aderir ao exercício foram mais
importantes para a amostra brasileira do que para a amostra americana.
Tabela 5: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar na Faixa
Etária de 70 - 79 anos de idade:
____________________________________________________________
POA
USA
___________
__________
Razões p/ Exercitar
Χ
s
Χ
s
t
p
____________________________________________________________
Melhora Cond./Saúde
4.25 0.71
4.47
0.61
-0.79
>0.05
Controle do Peso
3.43 1.13
3.89
1.32
-1.00
>0.05
Melhora na Aparência
3.22 2.96
3.56
1.42
-0.30
>0.05
Socialização
3.17 1.59
3.00
2.32
0.24
>0.05
Dormir Melhor
3.43 1.27
3.44
1.59
0.02
>0.05
229
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
Ansiedade Diminuída
4.43 0.52
3.24
2.14
3.97
<0.05*
Depressão Diminuída
4.14 0.71
3.16
1.93
2.80
<0.05*
Aliviar o Stress
4.14 0.71
3.14
2.01
2.86
<0.05*
Melhora no Humor
4.00 0.58
3.38
1.95
1.94
>0.05
Sinto Melhor Comigo
4.29 0.44
3.86
1.50
1.62
>0.05
Apoio do Cônjuge
3.75 1.50
3.85
1.53
-0.13
>0.05
Aprecia estar ar livre
4.57 0.55
3.82
1.87
2.42
<0.05*
É divertido
4.57 0.80
3.52
1.94
2.84
<0.05*
____________________________________________________________
Nota: * = significativamente diferente
Conclusão
Atualmente, numerosas obras e artigos científicos têm sido publicados
chamando atenção para o efeito benéfico da atividade física para ajudar o
homem a envelhecer melhor; assegurando condições de bem estar físico,
psicológico e social. É crescente a importância da promoção da saúde nas
nossas sociedades, e as pessoas começam a entender o papel preventivo do
exercício.
O envelhecimento é um processo natural, vivenciado por todo ser
humano. Cabe ao indivíduo envelhecer com dignidade, sabedoria, cuidando do
seu corpo e da sua mente. A independência na velhice é algo extremamente
importante. Tarefas que à primeira vista parecem simples como se levantar de
uma poltrona, vestir-se, caminhar sem auxílio, tornam-se bastante difíceis para
uma pessoa inativa, sem força muscular ou coordenação motora.
Por isso a preocupação em desvendar os motivos que impulsionam adultos
na terceira idade a praticarem exercício é importante para o investigador. A
prescrição do exercício é um aspecto relevante que se encontra associado ao da
aderência aos programas. Se os promotores da saúde desejam que as pessoas
adiram e permaneçam nos programas propostos devem, também, promover
atividades que produzam alegria, satisfação e mantenha as pessoas interessadas.
Acredita-se que com o conhecimento destas razões tornar-se-á possível a
elaboração de programas de atividade física que sejam atraentes e eficazes,
conseguindo atingir um percentual de aderência mais elevado, por parte deste
segmento da população que é cada vez maior.
230
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício
entre adultos brasileiros e americanos
Neste estudo, foram determinadas as razões que impulsionam mulheres
brasileiras e mulheres americanas a adotarem um estilo de vida saudável. Os
resultados mostraram que os fatores mais importantes para mulheres, a partir
dos cinqüenta anos de idade, residentes em Porto Alegre, RS, aderirem ao
exercício são a melhora do condicionamento físico e da saúde, o fato de
apreciarem estar ao ar livre, ser divertido, aumento da auto-estima e alívio do
stress. Também se observou as principais causas para americanas, na mesma
faixa etária, residentes em Miami, FL, aderirem à atividade física regular. As
causas mencionadas foram a melhora do condicionamento físico e saúde, o
controle de peso, aumento da auto-estima, melhora na aparência e ser
divertido.
Mesmo sabendo dos benefícios do exercício não só para a saúde física
como também para a saúde mental, boa parte da população, e então nos
referimos a população em geral, de jovens, adultos, e idosos, é sedentária.
Nosso dever como profissionais da área da saúde é o de tentar reverter essa
realidade, conscientizando as pessoas a mudarem os hábitos, a entenderem o
quanto importante a atividade física é para o nosso corpo e para o nosso
espírito.
Como conclusão podemos afirmar que a atividade física, organizada em
programas sistemáticos, dirigidos a indivíduos com funcionamento psicológico
normal, tem efeitos francamente benéficos, sendo estes mais evidentes sobre
variáveis afetivo-emocionais tais como humor, ansiedade e depressão.
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233
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino
Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
Marcio Turini Constantino – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Lamartine Pereira DaCosta – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
O principal propósito deste estudo foi relacionar a opinião de alunos do
Ensino Médio sobre a Carta do Espírito Esportivo com suas percepções em
relação ao espírito esportivo em situações competitivas de jogo. O estudo
caracterizou-se como uma pesquisa descritiva. A população-alvo constitui-se
de 30 (trinta) alunos do Ensino Médio de uma Escola Técnica do Município
do Rio de Janeiro, do sexo masculino e do sexo feminino, da faixa etária dos
14 aos 17 anos. Como instrumento de medida utilizou-se dois questionários:
um sobre a Carta do Espírito Esportivo com seus dez códigos ou artigos e o
segundo sobre o espírito esportivo em situações competitivas de jogo. Com
base nos resultados pudemos chegar as seguintes conclusões: Houve
diferenças entre o discurso dos alunos e o comportamento que estes
assumiriam em situações competitivas de jogo. Existe fundamento na hipótese
de que a Carta sobre Espírito Esportivo não seja suficiente capaz de orientar o
comportamento e a atitude dos alunos em competições esportivas. A situação
indica outras estratégias de ensino que se acrescente à Carta para a melhor
realização destes propósitos. Sugere-se que em estudos sobre fair play se
considere como prioridade a hipótese de diferenças entre o discurso e prática
no fair play principalmente no âmbito escolar e que se leve em consideração a
questão cultural do grupo envolvido.
Abstract
The main purpose of this study was to survey in a group of high-school
students the impact , if any, from the Fair Play Charter, having as references
their perceptions in relation to sportive spirit in game’s competitive situations.
The methodological option was a descriptive and analytical research. The
experimental group was composed by 30 (thirty) high-school students of
Technical School of Rio de Janeiro, comprising both sexes with ages 14 to 17
years old. The instrument for collecting data was a questionnaires with two
versions: one focusing codes or articles from Fair Play Charter and the other
emphasizing the sportive spirit in competitive situations. The results suggest
that there is a meaningful difference between the discourse of students and the
behavior they assume in competitive situations. Also, many evidences give
support to the hypothesis that spirit sportive is not sufficiently capable to
orient behavior and attitude of students in sportive competition. This
conclusive assumption indicates furthermore other ways of teaching far
234
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
beyond the Fair Play Charter. Moreover, future studies on fair play theme may
give priority to the hypothesis of difference between the discourse and practice
facing codes and sportsmanship spirit. Again, adolescent and young students
are the preferred target group for these proposed studies, mainly when the
cultural background is taken into account.
1. Introdução
Em tese, é importante nos estudos sobre comportamento e espírito
esportivo verificar dados informativos que podem implicar e interferir no
comportamento esportivo do aluno. Ou seja, pode haver diferenças entre o
discurso e a ação do jogador que poderia comprometer muitas vezes a própria
intenção. Neste sentido parece importante a compreensão dos dados
referenciais que se vinculem à motivação e aos sentidos que possam ter a
prática esportiva.
Como nos diz Gomes (1999) “alguns comportamentos que aparecem
numa partida em ambiente competitivo são regulados não somente pela
concepção de jogador sobre o que é ético ou não, mas pela expectativa do
técnico, dos organizadores, ou mesmo da família” (p.220).
Desta forma, é importante nos estudos de cada país ou região com suas
diferenças culturais verificar se existem distinções nos discursos e na ação do
competidor, a fim de identificar referências culturais que possam estar
associadas ao comportamento na prática esportiva. Assim é possível que se
possa adquirir referências que sejam aplicáveis ao desenvolvimento e utilização
de estratégias de ensino relativas ao fair play.
O fair play, que na sua tradução quer dizer Jogo Limpo é um dos principais
valores presentes no Movimento Olímpico e modernamente é considerada a
ética que orienta as práticas esportivas competitivas. Embora o conceito de fair
play esteja sendo palco para inúmeras discussões, o mais relevante é destacar
que o fair play não é uma invenção da idade moderna, uma vez que aparece em
diferentes culturas e contextos sociais de diferentes períodos históricos (Caillé,
1994). É importante o entendimento do fair play como um elemento que tem a
sua gênese na Inglaterra e que adquiriu propagação através do Olimpismo. A
idéia geral de fair play como a atitude de um bom comportamento está
associada ao comportamento cavalheiresco que teve sua gênese na Inglaterra.
O cavalheirismo, um comportamento social europeu existente no século XIX,
significava o homem nobre, honrado e honesto (ethos cavalheiresco). Daí a forte
influência do modelo social inglês na formação do “fair play”. Nesse sentido
Tavares (1999) faz a seguinte observação:
Isto implica que na percepção de que o ‘fair play’, enquanto conjunto de
valores normativos do comportamento individual e coletivo no ambiente da
competição atlética reflete a formulação de um ambiente cultural específico.
Deste modo, ainda que o Olimpismo de um modo geral, e o ‘fair play’em
235
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
particular, tenham adquirido alguma expressão hipoteticamente universal, é
altamente recomendável que se examine a significância atual do ‘fair play’ a
partir de um cenário cultural multidimensional (p.178).
Com estes pressupostos foi realizada uma pesquisa com alunos do ensino
médio de uma Escola Técnica do Município do Rio de Janeiro, em que se
examinou a relação entre duas questões: a opinião dos alunos sobre a Carta do
Espírito Esportivo e a percepção dos alunos quanto ao espírito esportivo em situações
simuladas de jogo. Ao verificar essa relação buscou-se gerar hipóteses para
futuras pesquisas. Nestes termos, definiu-se uma investigação preliminar que
pudesse dar sentido à observação entre o discurso e a ação dos competidores,
algo claramente importante quanto ao fair play.
Os alunos foram instruídos quanto aos códigos do Espírito Esportivo
(Carta sobre o Espírito Esportivo). A partir daí a intenção foi a de verificar,
através da percepção dos alunos, qual o tipo de comportamento que estes
assumiriam em situações de competição, tendo em vista os conceitos
aprendidos nos códigos da Carta sobre o Espírito Esportivo. Assim sendo
foram elaboradas as seguintes questões a investigar: Há diferenças entre a opinião
dos alunos e o comportamento assumido em situações competitivas de jogo? É possível que os
conceitos e valores apresentados na Carta orientem o comportamento dos alunos? A Carta
pode ser um meio pedagógico de Educação do Espírito Esportivo?
2. Conceito de Espírito Esportivo (fair play)
Segundo a Câmara Municipal de Oeiras (1999) “o Espírito Esportivo,
constitui uma noção difícil de definir. Não é, contudo difícil de reconhecer
algumas dimensões da questão: lealdade, honestidade, aceitação das regras,
respeito pelos outros e por si próprio e igualdade de oportunidades” (p. 9).
O Espírito Esportivo que modernamente é entendido como fair play (ética
esportiva) é um dos objetivos da Educação Olímpica. Para um melhor
entendimento do conceito e significado de fair play Parry (1994) destaca três
fatores fundamentais:
É importante destacar três fatores fundamentais para entendermos o
conceito e os significados relacionados ao Fair Play: o primeiro considera o
Fair Play como uma virtude de aderência às regras, as quais todos tem o
dever de tolerar; o segundo, como um compromisso de competir em tal
espírito a ponto de levar as boas ações acima ou abaixo daquelas
estritamente caracterizadas pelas regras, embora não sejam deveres; o
terceiro, como uma atitude geral com relação ao esporte, e na própria vida,
envolvendo respeito pelos outros, modéstia na vitória, serenidade na
derrota e generosidade (p. 211).
Portela (1999) nos dá a sua contribuição dizendo, no seu ponto de vista, os
significados de fair play: “O fair play (ética esportiva), então, pode ser encarado
como a idéia de educar o homem para a reciprocidade, no caso, desenvolver o
236
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
conceito de semelhança entre os homens, fazendo-os identificarem-se no
outro, perceber a necessidade do oponente, entender que o vencedor e
vencido é questão de momento” (p. 228).
3. Conceito de Percepção
A percepção define-se como o processo de organizar e interpretar dados
sensoriais recebidos (sensações) para desenvolvermos a consciência do
ambiente que nos cerca e de nós mesmos. A percepção implica interpretação.
O comportamento do outro atinge a nossa percepção. Formamos um
conceito sobre o outro ou as coisas, que é influenciado por nossos
preconceitos, estratégias, valores e atitudes. Segundo Davidoff (1983):
Em geral, nossas expectativas provavelmente influenciam nossas
percepções de maneiras diversas. Nossa tendência é dar ênfase aos aspectos
dos dados de realidade que se acham em harmonia com nossas crenças. As
expectativas influenciam nossas ações que, por sua vez, afetam a conduta
das pessoas percebidas (p. 243).
As atitudes perceptivas, então, apresentam-se como uma maneira de se
interpretar o mundo e também situações de jogo, como foi proposto aos
alunos. É importante lembrar que essa percepção e interpretação das situações
de jogo tiveram a intenção de ser influenciada por um processo de educação na
transmissão e instrução dos códigos do Espírito Esportivo (Carta sobre o
Espírito Esportivo).
4. Método
4.1. Grupo Experimental
As duas questões foram analisadas através da aplicação de questionários
específicos. O questionário 1 - Carta sobre Espírito Esportivo; e o questionário 2 Percepção dos alunos quanto ao Espírito Esportivo em situações simuladas de jogo.
Responderam ao questionário 60 alunos com idades entre 14 e 17 anos,
sendo 21 rapazes e 39 moças. Os alunos pertenciam a duas turmas do Ensino
Médio de uma Escola Técnica do Rio de Janeiro.
4.2. Desenvolvimento do Questionário
No questionário 1 - Carta sobre o Espírito Esportivo - foram apresentados aos
alunos os dez artigos da Carta. Os alunos emitiram suas opiniões acerca de
cada um dos artigos da Carta. Para isto foi utilizada a escala lickert que
consistiu em determinar o grau de importância e entendimento dos alunos a
respeito do assunto.
É importante lembrar que antes da aplicação do questionário 1 os alunos
foram instruídos quanto ao conceito, a história e a evolução do fair play, a
importância e o significado da Carta.
237
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
No questionário 2 - Percepção dos alunos quanto ao Espírito Esportivo em situações
simuladas de jogo - foram apresentadas aos alunos dez situações de jogo em
competição. Em cada situação de jogo foram apresentadas duas alternativas de
comportamento diante da situação, e finalmente, uma delas foi sugerida aos
alunos que deveriam se posicionar diante da alternativa sugerida.
Cada uma das situações do questionário 2 (em anexo) correspondia a cada
um dos artigos da Carta sobre o Espírito Esportivo (questionário 1), na ordem
equivalente da pergunta 1 a pergunta 10. Os alunos não foram informados
sobre essa correspondência, além do que responderam aos questionários 1 e 2
em dias diferentes.
Considerou-se também como correspondência a resposta dadas pelos
alunos na escala lickert encontrado nos dois questionários com os seguintes
itens: É importante sim com certeza; Mais ou menos importante; Não entendo; Entendo
mas não sei o que dizer; Não é importante com certeza.
5. Resultados e Discussão
5.1. Relação entre a opinião dos alunos a respeito da Carta sobre o
Espírito Esportivo e a percepção dos alunos quanto ao Espírito
Esportivo em situações simuladas de jogo:
Pergunta 1:
No item é importante sim com certeza 78% dos alunos responderam no
questionário 1 e 23% no questionário 2, uma diferença de 55% de alunos a
mais no questionário 1 para o questionário 2. Estes dados demonstram uma
disposição muito mais conceitual do que prática em se respeitar o regulamento
do jogo, não cometendo infração aos regulamentos.
No item mais ou menos importante houve uma diferença de 7% a mais de
alunos no questionário 2. Uma maior quantidade de alunos (18%) não
entenderam a situação de jogo contra apenas cerca de 1% dos que não entenderam
o artigo 1 da Carta. Cerca de 1% entendeu, mas não soube o que dizer no
questionário 1 contra 3% no questionário 2. Já no item não é importante com
certeza a maioria dos alunos se concentrou no questionário 2 numa diferença de
30% em relação ao questionário 1. Percebe-se que, na situação de jogo, a
maioria dos alunos podem ser capazes de infringir o regulamento em favor da
vantagem no jogo. Nesta situação os alunos parecem não estar relacionados
preliminarmente com o conceito de honestidade no jogo esportivo. Assim no
questionário 1 a maioria dos alunos achou o código da Carta importante sim com
certeza, mas na situação simulada de jogo a maioria não achou importante com
certeza assumir o comportamento de espírito esportivo preconizado pelo
código. Este é um caso em que aparentemente o conceito mais amplo de fair
play pode não ter a aplicabilidade prática que se espera.
238
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
Pergunta 2:
Nesta questão 55% de alunos no questionário 1 responderam ser importante
sim com certeza respeitar os árbitro, sendo a sua presença absolutamente
indispensável na competição contra 21% no questionário 2.
Já 40% de alunos no questionário 2 responderam contra 38% no
questionário 1 no item é mais ou menos importante respeitar o árbitro e a sua
presença na partida. A maioria que teve certeza de respeitar o árbitro e a sua
presença com opinião ao artigo da Carta posicionou-se na dúvida ao aceitar o
árbitro e a sua presença quando lhes foi colocada uma situação de jogo. Assim
como na pergunta 1, também nesta pergunta, pode-se constatar uma maior
quantidade de alunos que mostrou não entender a situação de jogo (10%) do que
não entender o artigo da Carta (1%). O mesmo ocorreu com o item entendo, mas
não sei o que dizer. Uma diferença de 5% de alunos a mais respondeu que não é
importante com certeza, na situação de jogo, respeitar o árbitro e a sua presença.
Pergunta 3:
Na pergunta 3 responderam ser importante sim com certeza 26% na Carta
contra 16% na situação de jogo. E mais ou menos importante 45% na Carta contra
43% na situação de jogo. Novamente uma maior quantidade de alunos não
entende ou entende, mas não sabe o que dizer na situação de jogo do que no conceito
da Carta. E uma diferença de 4% a mais do questionário 1 para o questionário
2 acham que não é importante com certeza aceitar todas as decisões do árbitro. Os
alunos tendem a demonstrar maior importância ao conceito de respeitar ou
não respeitar o árbitro do que isto posta na situação de jogo.
Pergunta 4:
Na pergunta 4 temos no item é importante sim com certeza uma diferença de
20% a mais de alunos no questionário 1 em relação ao questionário 2. A
maioria dos alunos demonstrou, tanto conceitualmente como na percepção da
situação de jogo, espírito esportivo em reconhecer com dignidade, na situação
de vencidos, a superioridade do adversário. Um mesmo percentual de alunos,
31% respondeu no item mais ou menos importante. No item entendo, mas não sei o
que dizer houve pouca concentração, 3% no questionário 1 contra 5% no
questionário 2. Uma menor concentração de alunos também se verifica no
item não é importante com certeza, 5% no questionário 1, e 10% no questionário 2.
Pergunta 5:
Novamente a maioria dos alunos concentrando suas respostas no item é
importante sim com certeza, 75% no questionário 1, e 51% no questionário 2. Os
alunos estão inclinados a aceitar a vitória com modéstia, sem ridicularizar ou
diminuir o adversário. No item mais ou menos importante a maioria dos
alunos se concentrou na situação de jogo. O fato curioso desta pergunta é que
239
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
nenhum aluno respondeu não entender o artigo 5 da Carta do questionário 1, no
entanto 13% de alunos se posicionaram no item não entendo do questionário 2,
o que mostra que há aparentemente uma tendência do aluno não saber ou não
conseguir associar o conceito dos artigos nas situações de jogo. Nos últimos
itens houve menor concentração de alunos e as respostas dos questionários
foram aproximadas.
Pergunta 6:
Na pergunta 6, assim como na pergunta 5, as respostas da maioria dos
alunos convergiram claramente para o item é importante sim com certeza, 58% no
questionário 1, e 61% no questionário 2. A maioria dos alunos tendem a
demonstrar espírito esportivo em reconhecer os bons resultados do adversário.
Desta vez, uma pequena maioria de alunos, em diferença de 3%, disseram ser
importante sim com certeza na percepção da situação de jogo (questionário 2) do
que no conceito do artigo (questionário 1). Houve também um considerável
contingente de alunos que responderam ser mais ou menos importante reconhecer
os bons resultados do adversário, 28% no questionário 1, e 23% no
questionário 2. Não entenderam a situação de jogo 9% a mais de alunos do que
os que não entenderam o conceito do código da Carta. Um número de 3%
respondeu entender, mas não saber o que dizer tanto no conceito como na situação
de jogo. E, 8% no conceito contra 1% na situação de jogo disseram não ser
importante com certeza.
Pergunta 7
Percebe-se, na pergunta 7, um equilíbrio das respostas em todos os itens
dos questionários. E mais uma vez, a maioria das respostas dos alunos se
concentra no item é importante sim com certeza, 75% no questionário 1, e 70% no
questionário 2. Essa maioria dos alunos tende a afirmar que mostrariam
espírito esportivo competindo em igualdade de circunstâncias com o
adversário, contando apenas com seu talento e as suas capacidades para
alcançar a vitória. Assim, essa grande parte grupo tende a estar de acordo com
o princípio da igualdade. No item mais ou menos importante temos 18% no
questionário 1 e 16% no questionário 2. O restante dos alunos representando a
minoria se divide nos outros itens com pequenas diferenças percentuais entre
os questionários.
Pergunta 8:
Na pergunta 8, a grande concentração de respostas recai novamente sobre
o item é importante sim com certeza, 76% no questionário 1, e 63% no
questionário 2. A maioria dos alunos tendem a recusar ganhar por meios ilegais
ou fraudulentos. Uma diferença de 5% acha que é mais ou menos importante na
situação de jogo recusar ganhar por meios ilegais ou fraudulentos. Uma
240
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
maioria não entende na situação de jogo essa questão do que conceitualmente na
Carta. E uma pequena diferença de 2% se apresenta no questionário 2 para o 1
no item entendo mas não sei o que dizer e do questionário 1 para o 2 no item não é
importante com certeza.
Pergunta 9
Na pergunta 9, os dados repetem as últimas respostas apresentadas pelos
alunos , 81% no questionário 1, e 48% no questionário 2 concentraram-se no
item é importante sim com certeza. A maioria disse que é importante sim com certeza
mostrar espírito esportivo significando para os árbitros conhecer bem todas as
regras e aplicá-las com imparcialidade. Neste caso, os alunos se colocaram na
figura do árbitro para responder a essa questão. Os alunos têm o espaço na
Educação Física Escolar para experimentar essa situação no papel de árbitro
do jogo.
Mais uma vez atenta-se para o fato da diferença das respostas nos
questionários que foi uma diferença de quase o dobro do questionário 1 para o
questionário 2. Assim, na situação de jogo, apesar de ser a maioria, os alunos
não são na quantidade os mesmos que responderam conceitualmente
(questionário 1) que na figura do árbitro do jogo conheceriam bem todas as
regras aplicando-as com imparcialidade. Também uma larga diferença de 13%
de alunos responderam ser mais ou menos importante na situação de jogo do que
conceitualmente. Nenhum aluno diz não entender conceitualmente essa questão
do espírito esportivo, entretanto no questionário 2 (Percepção na situação de
jogo) 20% diz não entender. Uma porcentagem igual de 3% diz não entender nos
dois questionários. E uma pequena diferença de 2% diz que não é importante com
certeza na situação de jogo fazer uma arbitragem imparcial e correta dentro das
regras do jogo.
Pergunta 10:
A maioria dos alunos, 70%, responderam no questionário 1 que é importante
sim com certeza ser digno em todas as circunstâncias, demonstrando controle
sobre si próprio e recusando utilizar em qualquer situação a violência física e
verbal, e 38% responderam o mesmo no questionário 2. No item mais ou menos
importante 26% responderam no questionário 1 e 43% responderam no
questionário 2. Nenhum aluno demonstrou não entender este código da Carta, já
5% de alunos não entenderam a situação de jogo em que este código está
implícito. O mesmo acontece no item entendo, mas não sei o que dizer. E no item
não é importante com certeza se apresenta uma diferença de 3% do questionário 2
para o questionário 1.
241
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Resultados dos Questionários 1 e 2 (Q1 e Q2)
É importante
Mais ou
Entendo,
sim com
menos
Não entendo mas não sei o
certeza
importante
que dizer
Q1
Q2
Q1
Q2
Q1
Q2
Q1
Q2
Não é
importante
com certeza
Q1
Q2
78,33
23,33
16,66
23,33
1,66
18,33
1,66
3,33
1,66
55
21,66
38,33
40
1,66
10
1,66
20
3,33
31,66
8,33
26,66
16,66
45
43,33
5
8,33
5
15
20
16,66
55
35
31,66
31,66
5
18,33
3,33
5
5
10
75
51,66
15
26,66
0
13,33
3,33
3,33
6,66
5
58,33
61,66
28,33
23,33
1,66
10
3,33
3,33
8,33
1,66
75
70
18,33
16,66
1,66
6,66
1,66
1,66
3,33
5
76,66
63,33
11,66
16,66
1,66
10
1,66
3,33
8,33
6,66
23,33
0
20
3,33
3,33
3,33
5
43,33
0
5
0
6,66
3,33
6,66
81,66
48,33
70
38,33
10
26
6. Conclusão
Os dados analisados e interpretados puderam revelar que a opinião dos
alunos quanto a Carta sobre o Espírito Esportivo foi a de praticamente
concordar com os seus códigos. Então, os alunos tendem a dar um grau de
importância aos conceitos descritos na Carta. Quase o mesmo se observou nas
situações de jogo, pois os alunos responderam na sua maioria que assumiriam
um comportamento de espírito esportivo em situações competitivas
hipoteticamente propostas.
Foi possível estabelecer como hipótese que há uma tendência de haver
diferenças entre o discurso dos alunos representado por suas opiniões à Carta
sobre o Espírito Esportivo e o comportamento que assumiriam em situações
competitivas representado na percepção dos alunos quanto ao espírito
esportivo em situações simuladas de jogo. Isso foi evidenciado na comparação
das respostas dos dois questionários de acordo com a escala lickert.
Em ultima análise, há fundamento na hipótese de que a Carta sobre o
Espírito Esportivo não foi suficientemente capaz de orientar os alunos
investigados quanto as suas atitudes de valorização do espírito esportivo
preconizados pela Carta. Assim, a Carta sobre o Espírito Esportivo parece não
se apresentar para este grupo como um eficiente e suficiente meio de
Educação do Espírito Esportivo. A situação parece indicar outros meios de
estratégia que se acrescente à Carta para buscar a melhor realização destes
propósitos. Meios estes que possivelmente ultrapassem os limites conceituais
da Carta.
Assim disposto, a hipótese de diferença entre discurso e prática do fair play
deve constituir uma das principais prioridades de futuras pesquisas neste tema,
242
Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio
instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play)
principalmente quando referenciado ao âmbito escolar e, também, ao âmbito
cultural do grupo envolvido.
Unitermos
Espírito Esportivo; Fair Play; Situações de Competição; Ambiente Escolar.
Obs.: Os questionários utilizados nesta pesquisa podem ser solicitados para
consulta pelo e-mail: [email protected] .
Referências Bibliográficas
GOMES, Marta C. Solidariedade e Honestidade: os fundamentos do fair-play entre
adolescentes escolares. In TAVARES, Otávio; DA COSTA, Lamartine (Eds.)
Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999.
CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS. O Espírito Desportivo é importante.
Oeiras, 1999.
CAILLÉ, Alain. The Concept of Fair Play. Lausanne: IOC, 1994.
DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. São Paulo: Editora McGraw-Hill
Ltda, 1983.
PARRY, Jim. The moral and cultural dimensions of Olympism and their educacional
application. Olympia: International Olympic Academy, 1994.
PORTELA, Fernando. Contrapondo Teorias da Formação Ética e a Prática do Fair
Play. In TAVARES, Otávio; DA COSTA, Lamartine (Eds.) Estudos Olímpicos.
Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999.
TAVARES, Otávio. Algumas reflexões para uma rediscussão do Fair play. In
TAVARES, Otávio; DA COSTA, Lamartine (Eds.) Estudos Olímpicos. Rio
de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999b.
243
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de
Iniciação ao Futsal
Rogério da Cunha Voser – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Ulf Georg Klemt (Orientador) - Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS
Resumo
Este artigo refere-se aos resultados obtidos nas intervenções pedagógicas
utilizadas pelos professores em Programas de Iniciação ao Futsal. Esta análise
baseou-se nos dados referentes ao modelo de desporto adotado dentro das
diferentes instituições, nos conteúdos desenvolvidos durante as aulas e nos
componentes afetivos manifestados pelos professores. Os resultados destas
investigações indicam a existência de uma pedagogia que privilegia um modelo
de ensino tradicional, que promove o esporte através do treinamento dos
alunos, transformando-o em trabalho e não lazer, tendo em vista o mais alto
grau de desempenho.
Abstract
This article refers to results obtained from pedagogical interventions used by
the teachers in Programs of Initiation to Futsal. This analysis was based on
the data concerning the sports model adopted by different institutions; on the
contents developed during the classes and on the affective components
demonstrated by the teachers. The reults of these investigations indicate the
existence of pedagogy that patronizrs a pattern based on traditonal teaching,
which promotes the sports through the students' training, transforming it in
work and not in leisure, aiming at the highest degree of performence.
Introdução
A minha vivência esportiva como atleta, técnico e professor me trouxe
importantes reflexões. Esta vida dedicada ao esporte e seu ensino têm me
proporcionado muitas interrogações sobre o tema da Iniciação Esportiva,
especialmente no que se refere aos princípios pedagógicos dos professores.
Deste modo, procurando aprofundar os conhecimentos, investigou-se as
Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal na sua prática
de ensino. O presente estudo situado claramente na área da pedagogia do
esporte, pretende analisar as intervenções pedagógicas utilizadas pelo
professor. Este estudo é do tipo qualitativo e se caracteriza por uma pesquisa
descritiva exploratória. Foram utilizados para a coleta de dados três locais
previamente definidos: um Clube Social (POA); um Projeto de Extensão
(Canoas) e uma Escolinha Particular (POA). A escolha destes locais justificouse por abranger o universo diversificado de situações referentes ao local que
estão acontecendo, bem como aos fins propostos em cada programa de
244
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
iniciação. Todos locais dispunham de boas condições físicas e materiais.
Escolheu-se os professores de forma intencional, de acordo com suas
disponibilidades de tempo e com seus interesses em fornecer subsídios. As
sessões de aula observadas abrangeram a faixa etária dos sete aos doze anos,
independente do sexo. Os instrumentos utilizados na pesquisa constaram de
uma entrevista semi-estruturada e de observações feitas através de filmagens
que foram registradas e, posteriormente, analisadas.
Revisão de Literatura
A Pedagogia no Ensino do Esporte e suas Intervenções
Para orientar o processo de aprendizagem dos desportos, é importante se
ter em mente que a atividade esportiva por si só não educa; seus efeitos
educativos dependem da situação na qual se cria especialmente em relação aos
aspectos de interação social, ao clima afetivo-emocional e motivacional
existentes. Estas condições dependem de diversos fatores, entre os quais um
deles nos parece fundamental: a intervenção do educador.
As principais tendências pedagógicas que são expressas no âmbito da
educação formal, como nos fala BALBINOTTI (1997: p.86), podem ser
denominadas e definidas operacionalmente como reprodutivas e
construtivistas. A concepção reprodutivista é aquela que prioriza as
capacidades intelectuais, situando-as como primeiro e mais relevante objetivo
na formação do homem. Seus procedimentos didáticos enfatizam processos
normativos que visam uma rígida disciplina. A tônica desta concepção
educativa é uma exposição de conhecimentos por parte do professor, dirigidos
a educandos ouvintes e passivos; bem comportados e estáticos.
Para o mesmo autor, a concepção construtivista pressupõe estratégias de
intervenção pedagógica manifestadas através da integração entre educação
intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução; ou seja, o processo
de elaboração do conhecimento se dá a partir da participação e intervenção
ativa do indivíduo em todas as atividades de aprendizagem. A complexidade
do processo da construção do conhecimento exige que o professor exerça o
papel de agente estimulador destas relações de interação onde o indivíduo
passa a ser um agente ativo.
Para SHIGUNOV (1993), a prática pedagógica é um problema central da
ação educativa para todos os contextos sociais e fatores envolvidos, quer em
nível da intervenção pedagógica, ou do conteúdo, ou da relação.
A capacidade de intervenção pedagógica, como afirma Carreiro da Costa
em publicação de 1988, (citado por SHIGGUNOV 1993: p.16), “... é não só
uma realidade desejável como imprescindível, ela só ganha verdadeiro sentido
pedagógico quando exprime uma metodologia de ensino consentânea com as
características da atividade humana”. Com esta maneira de visualizar, não se
determinou o lado da intervenção, pois o próprio ensino também deverá
245
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
respeitar muitas das características que são próprias ao fenômeno da atividade
educativa.
Ao abordar a relação professor-aluno, para BORDENAVE e PEREIRA
(1983), o problema reside no fato de que não contamos ainda com suficiente
conhecimento de teoria e pesquisa para saber quais são as características
pessoais que mais influem sobre a aprendizagem, e de que maneira o fazem.
Enquanto não forem estudados e evidenciados os aspectos mais
preponderantes da intervenção pedagógica do professor, tanto nos aspectos
instrucionais como nos afetivos, devemos entender que a relação pedagógica
não será promovida, nem concretizada com toda a sua força formativa.
As novas tendências pedagógicas para a Educação Física Infantil, visam,
hoje, proporcionar à criança experimentar várias possibilidades de movimentos
corporais a partir de sua criatividade e autoconstrução. Nesta abordagem, a
criança participa intensamente das decisões de todo o processo educativo.
A educação a ser exercida pelo professor, segundo FINGER (1971), deverá
obedecer a uma pedagogia e a uma metodologia que além de permitir a solução
e a previsão de situações decorrentes da aprendizagem e da prática do jogo,
respeitem os interesses da idade.
Em função destas diferentes percepções de possibilidades pedagógicas,
delimita-se o marco teórico deste estudo, baseando-se em dois enfoques, sob
modelos de ensino desportivo, que são abordados a seguir.
Modelos de Ensino Desportivo
Embora se saiba que existem vários modelos de ensino, optou-se pela
análise daqueles que prevalecem nos programas de iniciação ao futsal e que
consideramos mais úteis para a presente investigação. Portanto, dando
seguimento aos objetivos de nosso estudo, decidimos utilizar a classificação de
HEINILA (apud BRAUNER, 1994) sobre o processo de ensino em educação
física. Tal classificação é utilizada posteriormente no Brasil por FERREIRA
(1984), onde a autora elabora e acrescenta indicadores e referenciais para um
esquema conceitual, denominado matriz analítica, a fim de realizar uma crítica
a realidade do ensino da educação física infantil.
Para esta autora, o modelo de reprodução em Educação Física é
caracterizado pela atitude acrítica, tanto da realidade interna constituída pelas
experiências que o aluno adquire, quanto das condições econômicas, sociais e
culturais que constituem a realidade externa. Nele, o esporte é valorizado
como paradigma ideal de educação, reproduzindo os padrões sociais da classe
dominante. Neste sentido, os objetivos educacionais servem para conservar e
reforçar as diferenças entre as classes sociais. O modelo de reprodução
também assume o esporte como foco do sistema de ensino e tem como fonte
de informação as técnicas, as habilidades esportivas e o conhecimento dos
mecanismos psico-fisiológicos do treinamento desportivo. Sua fonte de
246
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
normas e sanções provém da performance e das vitórias desportivas, das
competições e classificações por desempenho. O professor é visto como o
controlador de atividades, treinador e técnico, preocupado em fazer do aluno
um atleta em potencial, ou seja, seu objeto de treinamento. As metodologias
empregadas têm sua referência em modelos ideais de execução, predominando
procedimentos diretivos. Finalmente, o que diz respeito ao critério de
avaliação, há um predomínio de caráter somativo. Por outro lado, o modelo de
transformação é caracterizado pela atitude de reflexão da realidade,
modificando a percepção que o indivíduo tem de suas experiências e do
mundo que o cerca. Nesta perspectiva, a Educação Física é sempre processo,
realimentado pela prática consciente dos sujeitos sobre a realidade desportiva,
numa concepção dialética, favorecendo a aprendizagem e a avaliação dos
resultados. Deste ponto de vista, o professor explora situações de conflito que
levam o aluno a perceber a realidade de forma múltipla e a si mesmo como
agente desta realidade. Assim, o foco do ensino é o educando, capaz de
decifrar o mundo que o cerca. A perspectiva de transformação tem como
fonte de informação o conhecimento funcional da natureza do homem e como
fonte de normas e sanções um amplo processo de negociação com as crianças,
partindo de seus interesses, necessidades e motivações. Conseguiria-se deste
modo, articular um sistema de disciplina intrínseco ao processo. O professor,
dentro deste enfoque, é visto como um facilitador e orientador das atividades,
sempre preocupado em estimular uma participação maior e mais consciente
dos alunos em todos os níveis. As metodologias empregadas têm um caráter
mais ativo e estimulante; utilizam procedimentos diversificados, dirigidos a
motivar os diferentes níveis de aspiração dos alunos, com um predomínio dos
processos indiretos de ensino (iniciativa centrada no aluno). Finalmente, com
relação ao principal critério de avaliação, haverá uma ênfase sobre a avaliação
do tipo formativa, ou seja, a preocupação existente é a de possibilitar
informações qualitativas em relação ao domínio e não aos objetivos, dispondo
para ele a devida colaboração e participação crítica do próprio aluno.
Mais especificamente, no que se refere aos programas de iniciação
esportiva, BRAUNER (1994), desenvolveu seus estudos baseados nestes dois
modelos de prática pedagógica. Identifica o perfil do professor com espectro
diretivo, baseando suas ações numa prática completamente autoritária,
centralizadora, embora suas idéias expressas nas entrevistas mostrassem um
desejo de proporcionar ao aluno uma prática pedagógica aberta ao interesse do
aluno.
Os modelos citados por HEINILA e FERREIRA auxiliaram os estudos de
BRAUNER (1994) para detectar as ambigüidades entre as idéias e ações
educativas dos professores. Este estudo me traz grande inspiração a qual
marcam as pautas do trabalho que realizo e com o qual pretendo abrir os
horizontes pedagógicos. Neste sentido, a partir dos estudos de BRAUNER e
247
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
da confrontação da minha realidade, se estabelece um plano de estudo que
pretende, fundamentalmente, responder à seguinte pergunta:
Como se dão as intervenções pedagógicas em programas de iniciação
ao Futsal?
A Iniciação ao Futsal: Uma análise da realidade em escolinhas
desportivas.
A partir da análise descritiva da realidade da prática observada em três
Programas de Iniciação ao Futsal que compõe o universo do presente estudo,
buscou-se conhecer as condições existentes em cada instituição no que se
refere ao professor, seu modelo em forma de ensino, os seus conteúdos e sua
relação com os alunos. Apesar deste trabalho de cunho qualitativo necessitar
uma discussão com maior amplitude, optou-se somente por apresentar as
tabelas dos resultados obtidos e, posteriormente, nas considerações finais,
apresentar a interpretação dos dados obtidos de forma clara e sucinta que se
faz necessário.
O Professor
De acordo com os indicadores de idade, forma de ingresso, nível de
informação e de biografia desportiva, foi possível verificar que todos
professores foram convidados a desenvolver seus trabalhos por diversas
pessoas, colegas, coordenador de curso, sendo que em nenhum caso foi
necessário que o escolhido possuísse vasta experiência anterior bem como
nível de formação universitário. Isto nos leva a concluir que os requisitos
acadêmicos, ou de formação específica para o trato com crianças e com o
futsal não foram critérios importantes para o preenchimento da vaga. Por
outro lado, todos os professores se encaminham para a profissionalização, uma
vez que já são acadêmicos de Educação Física e que afirmaram ter buscado
atualização na área. Finalmente, outro ponto interessante foi o de que nenhum
dos professores foi atleta de futsal.
Modelos Educativos e Desportivos adotados, conteúdos e relação
Professor-Aluno
TABELA 1. Objetivos das práticas de iniciação ao futsal das diferentes instituições.
A
B
C
•
•
•
•
•
•
Sociabilizar, integrar e o respeito mútuo.
Trabalhar a criança como um todo.
Superar as dificuldades individuais; para uns o chute, outros o cabeceio etc.
Sociabilizar e formar equipes para levar a algum lugar, sair-se bem.
Sociabilizar, integrar, trabalhar o espírito de grupo.
Trabalhar o comportamento.
248
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
TABELA 2. PERCENTAGEM DE INTERVENÇÕES NA
CATEGORIA “ORGANIZAÇÃO DA AULA”
Intervenções
Total de intervenções
Organização
% Organização
A
261
112
42.9%
B
422
137
32.5%
C
412
183
44.4%
TABELA 3. PESO DE CADA INDICADOR NA CATEGORIA
“ORGANIZAÇÃO DA AULA”
Total
Indicadores
A
B
C
Freq.
%
Objetivos
0.9%
2.2%
1.1%
06
1.4%
Condicionantes
58%
70.1%
70.5%
290
67.1%
Demonstração
0.9%
5 .1%
3.8%
15
3.5%
Interrupção
35.7%
18.2%
24%
109
25.2%
Análise
4.5%
4.4%
0.6%
12
2.8%
% Total
100%
100%
100%
..
Total intervenções
112
137
183
432
100%
TABELA 4. PESO DE CADA INDICADOR NA CATEGORIA
“FORMA DE ENSINO”
Total
Indicadores
A
B
C
Freq.
%
Detalhes. Técnicos
85.3%
95.0%
97.4%
240
93.4%
Formula questões
3.3%
0%
2.6%
04
1.5%
Participação
9.8%
4.2%
0%
11
4.3%
Delega liderança
1.6%
0.8%
0%
02
0.8%
% Total
100%
100%
100%
....
....
Total intervenções.
61
119
77
257
100%
TABELA 5. PESO DE CADA INDICADOR NA
CATEGORIA “CONTEÚDO”
Total
Conteúdos
A
B
C
Freq.
Exercício Físico Técnico Tático 58.3%
77.8%
90.5%
33
Jogos
16.7%
22.2%
9.5%
06
Atividades Lúdicas
25%
. 0%
0%
03
% Total
100%
100%
100%
....
Total intervenções.
12
09
21
42
%
78.6%
14.3%
7.1%
....
100%
249
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
TABELA 6. DADOS GERAIS NA CATEGORIA
“INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNOS”
Total
Subdimensão
A
B
C
Freq.
Ânimo
34.2%
61.1%
26.7%
157
Censura
42.1%
37.6%
70.2%
183
Outros Comp.
23.7%
1.3%
3.1%
24
% Total
100%
100%
100%
....
Total intervenções
76
157
131
364
%
43.1%
50.3%
6.6%
....
100%
TABELA 7. PORCENTAGEM DE INTERVENÇÕES DO PROFESSOR NA
CATEGORIA “ÂNIMO”
Total
Indicadores
A
B
C
Freq.
%
Elogia a atuação dos alunos
73.1%
96.9%
94.3%
145
92.4%
Ajuda de ordem não técnica
26.9%
3.1%
5.7%
12
7.6%
% Total
100%
100%
100%
....
....
Total de Intervenções.
26
96
35
157
100%
TABELA 8. PORCENTAGEM DE INTERVENÇÕES DO PROFESSOR NA
CATEGORIA “CENSURA”
Total
Indicadores
A
B
C
Freq.
%
Crítica
96.9%
88.1%
95.5%
168
93.3%
Castigo
3.1%
11.9%
4.5%
12
6.7%
% Total
100%
100%
100%
....
....
Total de Intervenções.
32
59
89
180
100%
TABELA 9. PORCENTAGEM DE INTERVENÇÕES DO PROFESSOR NA
CATEGORIA “OUTROS COMPORTAMENTOS”
Total
Indicadores
A
B
C
Freq.
%
Observ. Silenciosamente
77.8%
0%
50%
16
66.7%
Escuta atentamente
22.2%
100%
50%
8
33.3%
% Total
100%
100%
100%
....
....
Total de Intervenções.
18
02
04
24
100%
250
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
Considerações Finais
Após concluídas as investigações e análises sobre as Intervenções
Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal, crê-se dispor de dados
significativamente importantes sobre a realidade educativa existente.
A combinação do suporte teórico que havia sido base do estudo com os
dados recolhidos e a experiência do próprio investigador no ensino e
treinamento do futsal permite a realização de inferências a respeito deste
estudo. Assim sendo, acredita-se que toda pesquisa, em seu final, deverá
responder a dois questionamentos básicos, eminentemente importantes:
“Quais foram os resultados da pesquisa?” e “ De que forma este estudo pode
contribuir para a evolução do conhecimento?”.
Sobre estes aspectos foi possível identificar que os requisitos acadêmicos,
formação específica para o trato com crianças e com o futsal não foram
critérios importantes para contratação destes professores; o que evidencia uma
despreocupação pelo perfil desejado por parte das instituições. Verificou-se
também que, apesar dos professores expressarem sua vontade de não estar
inseridos dentro de um modelo de desporto tradicional, suas práticas estão
centradas na competição, na seletividade e em mecanismos didáticopedagógicos, onde o professor segue detendo o conhecimento de tudo que vai
ser realizado.
Também foi possível verificar que, nos Programas de Iniciação ao Futsal,
prevalece uma metodologia diretiva, basicamente técnica, sem nenhum poder
reflexivo e crítico por parte da criança. Portanto, pode-se perceber mais uma
vez a evidência de um modelo de ensino desportivo tradicional.
A seguir, de forma mais simplificada, são expostos os dados e indícios que
referentes às conclusões feitas.
• Das três instituições, somente uma delas apresentou alguma tendência ao
Ensino Transformador.
• Os professores mantinham uma atitude controladora em relação às
atividades.
• As aulas foram estruturadas pelos professores, que por sua vez, sempre
estabeleceram e condicionaram as tarefas a serem executadas.
• Os professores interferiram muitas vezes para explicar, corrigir,
demonstrar e estabelecer normas.
• Tantos os objetivos como as análises das aulas foram indicadores
praticamente inexplorados dentro da organização da aula.
• As atividades apresentaram alto grau de ênfase nos detalhes técnicos.
• Os indicadores do modelo de ensino ativo, mais aberto, como formular
questionamentos, participação das atividades juntamente com os
alunos e delegar liderança obtiveram baixa incidência.
251
Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal
•
Apesar de se fazer presente em todas as aulas, o jogo apresentou sempre a
mesma dinâmica, onde o professor escolhia as equipes, cinco para cada
lado, definia as posições e, quando sobrava algum aluno, este ficava na
reserva, aguardando o momento do professor realizar a alteração.
Também é interessante ressaltar que o jogo obedecia às regras do
desporto federado e era sensivelmente condicionado na medida em que o
mesmo era narrado e controlado pelo professor.
• Os exercícios físicos, técnicos e táticos prevaleceram em detrimento
das atividades lúdicas e formas jogadas.
• As intervenções de censura foram mais evidenciadas que as de ânimo.
• Não existiu uma correlação entre o modelo de ensino adotado pelo
professor e sua relação afetiva e motivacional com os alunos.
Ao finalizar, é importante ressaltar que não tive a pretensão estanque e
ingênua de que estes achados poderão resolver todos os problemas que
envolvem os Programas de Iniciação ao Futsal. Acredito, sim, que este estudo
seja um marco inicial para que se busquem novas fórmulas frente aos enfoques
atuais para que se possa, de alguma forma, despontar a preocupação com o
contexto para educar.
Unitermos
Pedagogia do Desporto, Iniciação Desportiva, Futsal.
Referências Bibliográficas
BALBINOTTI, C. A. A. O Desporto de competição como um meio de
educação: uma proposta metodológica construtivista aplicada ao treinamento
de jovens tenistas. Revista Perfil. Porto Alegre, Ano I. nº 1, 1997. P.83-91.
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem.
Petrópolis: Vozes, 1983.
BRAUNER, M. R. G. El Profesorado en Los Programas de Iniciación al
Baloncesto: Análisis Empírico Y Propuesta Pedagógica. Barcelona: Univesitat
de Barcelona, 1994.
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252
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
Patrícia Weiduschadt - Universidade Federal de Pelotas/RS
Valdelaine da Rosa Mendes - Universidade Federal de Pelotas/RS
Resumo
O presente trabalho, em andamento, tem como objetivo analisar a questão do
estresse infantil na prática de atividades esportivas, sendo esta pesquisa de
abordagem qualitativa. O estudo parte da análise da inter-relação do esporte e
da criança e sua inserção no mundo e na sociedade. Esta análise está sendo
realizada a partir de observações de aulas de uma equipe de futebol de salão
num clube na cidade em Pelotas, com crianças de nove e dez anos e,
entrevistas com atletas, pais e técnico. Sendo assim esta pesquisa visa
esclarecer como as crianças respondem à situações de pressão e rendimento
em competições esportivas, e suas relações com o os pais, técnico e
companheiros. E também quais os riscos e benefícios que esta atividade
poderá lhe trazer no seu desenvolvimento. Parece importante abordar este
tema pois há poucos estudos na área do estresse no esporte, especialmente
com crianças. Por isso o trabalho pretende contribuir com subsídios para pais
e educadores e alertar o aparecimento do estresse nas crianças.
Palavras-chave: estresse, esporte, criança, sociedade.
Abstract
The present work, in process, has as objective to analyze the subject of the
infantile stress in the practice of sporting activities, being this research of
qualitative board. The study part of the analysis of the relation of the sport
and of the child and its insert in the world and in the society. This analysis is
being accomplished starting from observations of classes of a team of living
room soccer in a club in the city in Balls, with children of nine and ten years
and, interviews with athletes, parents and technician. Being this research seeks
like this to illuminate as the children they answer to pressure situations and
revenue in sporting competitions, and its relationships with the the parents,
technician and companions. It is also which the risks and benefits that this
activity can bring it in its development. It seems important to approach this
theme because there are few studies in the area of the stress in the sport,
especially with children. That the work intends to contribute with subsidies for
parents and educators and to alert the appearance of the stress in the children.
Key words: stress, sport, child, society.
253
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
Introdução
Ao analisarmos a questão do estresse infantil na atividade física,
especificamente nos esportes, poderemos considerá-lo como positivo ou
negativo na formação e desenvolvimento das crianças.
“Esporte é saúde”, diz o slogan publicitário, amplamente divulgado pelos
meios de comunicação, pois nesta concepção o esporte formaria o ser humano
no sentido físico e espiritual, no primeiro prevenindo doenças e no segundo
compensando o trabalho desgastante das pessoas.
Isto se estenderia às crianças, em que o esporte compensaria o seu
sedentarismo, devido aos espaços reduzidos de lazer ou também pela pressão
psicológica que ela sofreria pela escola em disciplinas eminentemente teóricas
ou pela sociedade em geral. Pois ao ter que responder adequadamente com
comportamentos rígidos, o esporte ajudaria extravasar suas emoções evitando
manifestações agressivas e ameaçadoras das crianças à sociedade.
Entretanto, podemos considerar a prática dos esportes como negativo,
quando ele passa a significar para a criança uma imposição dos seus familiares
e sociedade em geral, ou ainda mais uma pressão e cobrança nos resultados,
especialmente no esporte sistematizado e organizado em escolinhas.
Então o esporte poderia deixar de ser considerado benéfico, pois implica
nas crianças distúrbios emocionais e físicos que podem ser maléficos para a sua
formação.
O presente trabalho pretende levantar questões e abordar temas que
abrangem o estresse na prática desportiva infantil. É intenção do estudo
refletir sobre a questão do estresse sob os aspectos da interação social e
educacional.
Aspectos estes que influenciam as relações das crianças entre si e com o
mundo, e, sobretudo suas reações frente a todas as situações vivenciadas no
esporte e na vida.
O enfoque inicial do trabalho será o da análise das influências do mundo
contemporâneo nas práticas desportivas desenvolvidas nas escolinhas de
futebol.
Para tanto, precisamos levar em consideração os aspectos do advento da
sociedade mecanizada e industrializada, que muitas vezes vem sobrecarregando
as pessoas trazendo seus malefícios na forma de pressões, rendimentos e
cobranças, tornando o mundo cada vez mais competitivo.
E por isto não raras vezes atingindo às crianças de forma devastadora, pois
na maioria das vezes, elas é que têm maiores dificuldades em se adaptar a
situações novas. Como cita Granado (1988:85):
“O estresse infantil é semelhante ao dos adultos em muitos aspectos.
Poucas pessoas estão preparadas para ser submetidas a competição e a
ansiedade de forma contínua. O meio urbano é uma experiência
254
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
relativamente nova para o ser humano, cuja estrutura biológica ainda não
está plenamente adaptada para as pressões produzidas nesse ambiente.”
A partir destes pressupostos, a ênfase do estudo procurará nos levar às
causas e conseqüências das perturbações das crianças, suas dificuldades e
potencialidades ao se defrontarem com situações estressantes.
E como foi dito anteriormente, delimitaremos o estudo do estresse infantil
no esporte como atividade em si, e também como símbolo de competitividade
e sobrepujança (Kunz, 1991).
Pois no esporte sistematizado e organizado, especialmente nas escolinhas,
nos clubes ou ainda na escola, é que freqüentemente notamos os princípios de
rendimento, mas também a socialização e o trabalho em grupo.
Princípios estes que não raras vezes afetam o comportamento infantil,
acarretando aspectos positivos e negativos, os quais serão questionados e
problematizados neste estudo.
Neste estudo, estamos analisando a forma como as atividades esportivas
influenciam o comportamento infantil, a partir do acompanhamento de uma
escolinha de futebol.
Pois muitas vezes, a mídia que incentiva tanto os esportes, e em especial o
futebol no nosso país, acaba exacerbando a massificação deste na sociedade,
incutindo nas pessoas uma mentalidade de consumo, ou projeção satisfatória
comum. É relevante questionar a importância do acompanhamento dos pais
em competições e na prática das atividades esportivas, e como isto acaba
refletindo no comportamento infantil, bem como a concepção da pratica
desportiva e esporte destes sujeitos.
E ainda queremos problematizar a relação das crianças com o professor ou
o treinador, e suas influências na metodologia do trabalho adotado.
Seguindo as orientações de uma abordagem qualitativa, o trabalho será
desenvolvido até que os dados levantados aproximem as investigadoras da
resposta ao problema em questão neste estudo.
Aleatoriamente, foi escolhida uma turma de futebol de salão, que está
sendo acompanhada desde os primeiros dias de aula do mês de março de 2000.
Para analisar o grupo estão sendo utilizados os seguintes instrumentos:
observação e entrevistas do tipo semi-estruturada. As observações são
importantes segundo Triviños (1992:155): “pois satisfaz as necessidades principais da
pesquisa qualitativa, como, por exemplo, a relevância do sujeito”.
As observações estão sendo registradas no diário de campo através de
anotações e transcrição de informações obtidas através de filmagens. O diário
de campo será útil na coleta de dados, afim de retroalimentar a pesquisa, para
aprofundar a mesma e levantar hipóteses e reflexões do observado (Triviños,
1992).
255
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
Sendo assim vemos que este instrumento se presta perfeitamente na
pesquisa qualitativa, pois as reflexões não são mensuráveis, mas sim
questionadas e inseridas no contexto do estudo.
Então, ao verificarmos que há uma ausência de estudos sobre este tema,
sendo que também há uma carência de bibliografia específica na área do
estresse infantil na atividade física. E ainda como queremos dar preferência ao
enfoque social e educacional, e a maioria dos estudos referentes a este tema se
encontra na área da psicologia clinica, estamos realizando esta investigação.
Refletindo sobre todos estes fatores é o que nos motivou a adentrar neste
assunto, por ser muito pouco explorado e até as vezes ignorado pelos
estudiosos da área.
Pois os profissionais da área de Educação Física, que lidam com as crianças
utilizando os esportes ou atividades físicas em geral, normalmente não
possuem subsídios teóricos sobre esta questão.
Então se considerando todos estes fatores, é que se faz necessário estudar e
analisar estas questões, problematizando e aprofundando estes conhecimentos
a partir de observações e leituras sobre o comportamento infantil dentro dos
esportes e as reações das crianças frente ao estresse.
O Estresse no Mundo Atual
O estresse tem se transformado num dos temas mais preocupantes e
angustiantes atualmente. Muito se fala que o estresse seria um dos principais
causadores das doenças coronárias e também do aumento da violência urbana
bem como acidentes de trânsito e de trabalho.
Entretanto não podemos esquecer que o estresse nem sempre está ligado a
fatores negativos, já que conduz o homem a agir e tomar decisões. Tal
característica conhecida por reação de “luta ou fuga”, é facilmente identificável
no homem primitivo, fundamentalmente, pelas reações necessárias a
manutenção da espécie e conseqüente sobrevivência.
No período pós Revolução Industrial, é possível identificar uma mudança
no comportamento humano, relacionada as novas relações de trabalho e
processos de produção. As inovações sociais, políticas, econômicas e
tecnológicas geradas pela revolução incitam uma nova distribuição do tempo.
As atividades cotidianas passam a ter um novo caráter; as máquinas passam a
fazer parte do processo produtivo; conduzindo o homem a um processo de
adaptação e a um novo sistema de vida. Como assinala Bauck (1985, p.204)
“em verdade, nossa vida é essencialmente um contínuo processo de adaptação,
e podemos dizer que o segredo da saúde e da felicidade reside em nossa
capacidade de ajustamento às condições deste mundo”. O estresse só passa a
ser uma patologia quando ultrapassa os níveis de suportabilidade e deixa de
gerar prontidão e passa a causar mal estar.
256
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
Além das condições sociais, é preciso compreender também que o estresse,
a maneira que ele se manifesta, depende muitas vezes da personalidade
individual de cada indivíduo. Ou seja, há diversas maneiras de encararmos os
problemas que nos surgem, as situações podem ser mais ou menos estressantes
como é defendido por alguns autores: dependendo do ajustamento fisiológico
e psicológico de cada pessoa.
Diversas concepções para o estresse têm sido discutidas por diferentes
autores, entre elas: fisiológicas e psicológicas. As primeiras nos dizem que o
estresse está ligado a dois sistemas: sistema nervoso (caminho neural) e sistema
de glândulas endócrinas. As últimas, sustentadas especialmente por Freud,
revelam que o desencadeamento do estresse, na maioria das vezes, é resultante
da relação pais e filhos, conduzindo para a ansiedade, neuroses, medos e
depressões, fazendo o indivíduo criar uma defesa intrapsíquica (Samulski,
Chagas e Nitsch, 1996).
Nas concepções sociopsicológicas, mencionadas por Nitsch (1981) apud
Samulski, Chagas e Nitsch, (1996) o estresse é determinado, muitas vezes, pelo
comportamento social imposto pela sociedade, pela massificação e exigência
de rendimento, pelo individualismo, pela discriminação, pelo acesso ao
conhecimento e a informação. Esta concepção enfatiza que as relações sociais,
construídas neste mundo capitalista, mecanizado, automatizado e consumista,
vão contribuir no desencadeamento de situações estressantes negativas e
fundamentalmente, na superficialização das relações humanas.
A compreensão dos fenômenos sociais parece imprescindível num trabalho
que se propõe a estudar a prática desportiva e a manifestação do estresse no
mundo infantil, pois as pressões sociais são reproduzidas nos espaços de
trabalho, de educação e de lazer.
O Estresse e a Criança
A preocupação com a infância se deu a partir do século XVIII, com uma
visão essencialmente higienista, em que a classe médica através de seus
conhecimentos científicos se apropriou de seu “status” a fim de orientar as
famílias, penetrando na intimidade dos lares (Rago, 1997).
Esta preocupação em adentrar no universo infantil representa uma
preocupação constante em moralizar os hábitos da sociedade. Isto pode ser
evidenciado, antes mesmo da Revolução Industrial, em que a defesa do
trabalho e da educação infantil serviria para o adestramento e vigilância das
crianças, que confinadas em espaços disciplinadores como fábricas ou escolas,
fora da rua, estariam livres do ócio, de vícios e de condutas libertárias (Rago,
1997).
Nas primeiras décadas deste século a população se concentrava
fundamentalmente na zona rural, sendo recente a acentuada urbanização das
cidades. Nesse sentido, as crianças possuíam mais espaços para desenvolverem
257
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
suas atividades lúdicas e corporais. Paralelamente a urbanização surge o
problema da violência nas cidades.
Atualmente vivemos guiados por princípios de utilidade e produtividade, e
assim, não raras vezes, consideramos a criança inútil, pois ela não produz nada.
Pensamos na criança como um ser produtivo, como se a sua cultura corporal e
lúdica não tivesse importância (Alves, 1984).
E tudo isso nos remete a pensar que os nossos alunos ou filhos precisam
ser preparados para o futuro, este “futurismo” foi preconizado desde o início
do século com uma tendência de presentificação do futuro (Ribeiro, 1998), e
em slogans do tipo: “os pequenos são os grandes de amanhã” (Rago, 1997).
E com este pensamento a nossa preocupação é muitas vezes em
proporcionar às crianças uma educação que vise apenas o rendimento e a
performance sem se preocupar com a humanização e crescimento pessoal na
infância. As crianças acabam sofrendo todo tipo de dominação sendo muitas
vezes impedidas de desenvolverem o seu potencial criativo (Marcellino, 1996).
Isto nos faz pensar que não há exploração só do trabalho infantil, como é
visto freqüentemente nos países subdesenvolvidos, em que as crianças são
submetidas ainda a trabalhos forçados, monótonos, repetitivos e exploradas de
forma vergonhosa. Não respeitando sua faixa etária ela acaba se
desenvolvendo em estado desigual, em constante estresse, deixando sua
formação em busca da cidadania de lado (Neto, 1998).
Por outro lado, a capacidade criadora e o potencial infantil podem ser
aniquilados. Este aniquilamento foi sustentado por concepções moralistas e
higienistas do início do século, como cita Rago (1997:123):
“O poder médico recomendava o preenchimento das horas vagas com
leituras selecionadas e ginástica, medida preventiva contra os vôos da
imaginação e a prática oncista, característica dos jovens indolentes e fracos.
A moralização do corpo pela Educação Física e a higienização da alma por
atividades cientificamente orientadas e selecionadas afastariam, sobretudo
nos adolescentes, o perigo das deformações físicas e da corrupção moral.”
Esta orientação predominava na sociedade independente da classe social
que o infante se encontrava. Estes pressupostos influenciaram
significativamente o nosso sistema educacional vigente, que ainda possui
resquícios das épocas passadas.
Estes resquícios demonstram a ênfase também em tarefas que as crianças
teriam que desempenhar, comparando resultados, favorecendo assim a
competição exagerada.
Não queremos dizer que a competição seria a única responsável pelo
estresse, pois não podemos deixar de observar que a competição sempre
esteve presente na vida humana (Huizinga, 1996).
E ainda mais nas brincadeiras infantis, as quais sempre prevalece uma
disputa entre as crianças, sendo a análise de sua performance, muitas vezes, a
258
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
principal motivação delas, Thomaz (1983). Porém inexistiam as pressões e
cobranças de resultados, pois as crianças não eram medidas e nem julgadas
pelas suas atividades lúdicas, as brincadeiras e jogos eram um fim em si
mesmo, estas não teriam uma utilidade para as suas vidas num prisma do
mundo adulto, como agora na maioria das vezes as crianças estão submetidas.
A preocupação em oferecer as mais diversas atividades, como matricular as
crianças ao mesmo tempo em escolinhas de esportes, aulas de inglês,
computação, etc., constitui uma preocupação na atualidade. A oportunidade de
freqüentar diferentes cursos e aulas surge como uma possibilidade de tornar o
tempo fora da escola útil. Isto normalmente se dá de forma sistematizada com
o intuito de prepará-las para o futuro. Nesse sentido a infância é deixada de
lado.
O estresse pode afetar às crianças muitas vezes de forma tão avassaladora e
prejudicial nas suas vidas. Daí a importância em respeitar as características das
crianças, seus desejos, gostos, sem imposições.
O Estresse, a Criança e o Esporte
O esporte como fenômeno sistematizado e universal se deu no século
XIX, alguns autores o consideram em relação ao passado, mas inegavelmente
perdeu sua característica lúdica (Huizinga, 1993).
O esporte de alto nível hoje é um fenômeno mundial, o qual mobiliza um
grande número de pessoas, portanto é massificado e está centrado na exigência
da performance, rendimentos e ganhos milionários em sua publicidade e
organização.
As crianças que praticam esportes, nas escolas ou em clubes, são
influenciadas pela prática esportiva de alto nível, vinculada constantemente nos
meios de comunicação. Muitas vezes são submetidas a treinamentos rigorosos
e uma dose elevada de trabalho, com cobrança de pais e professores sobre sua
performance. Este dado tem sido constantemente mencionada pelo técnico1 da
equipe que está sendo analisada neste estudo. A participação dos pais nos
treinamentos dos filhos revela uma preocupação com o rendimento dos filhos,
bem como a sua participação ou não nas equipes principais do clube. Tal
inquietação gera nos filhos sentimentos de ansiedade, frustração e tristeza,
quando não alcançam aquilo que foi esperado pelos pais. Nas competições,
conforme tem relatado o técnico, tais atitudes são mais presentes, quando os
pais insatisfeitos com a performance dos filhos, passam a agredir o técnico e o
próprio filho.
As crianças muitas vezes não têm condições de responder a um trabalho
coletivo, ou em ter condições de suportar cargas além de seu limite corporal,
fisiológico ou psicológico.
1
Relatos do técnico em entrevistas realizadas no Clube.
259
O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea:
reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil
E também podem ser prejudicadas quando são obrigadas a ultrapassar seus
limites biológicos, com riscos de lesões corporais e orgânicas, favorecendo
assim o aparecimento do estresse, especialmente se a criança não possui
maturidade, pois o sucesso ou fracasso poderá ser marcante em sua vida
(Cratty, 1984).
Mas mesmo em crianças maiores, o estresse no esporte aparece de maneira
acentuada, influenciada na maioria das vezes por técnicos despreparados e pais
que insistem em pressionar seus filhos, não interessando prejudicar o seu
desenvolvimento pessoal.
É preciso ter cuidado em colocar a criança nestas situações como afirma
Samulski (1995) em que o treinamento deve ser conduzido sem a prescrição de
expectativa e rendimento, o treinador deve evitar cargas excessivas e exigências
psíquicas demasiadas na competição. Por outro lado, deve diferenciar bem as
medidas e programas do treinamento considerando as faixas etárias, os níveis
de treinamento e os níveis de rendimento e os sexos.
As vantagens do esporte para as crianças consistem no desenvolvimento
das disposições positivas da personalidade. Sobretudo no âmbito social, mas
também desvantagens que podem resumir-se nas seguintes afirmações: “Pouco
tempo para outras atividades, altas exigências, estresse emocional, impedindo o
desenvolvimento nas áreas escolares, recreativas e sociais”.
Então nota-se que as desvantagens podem acarretar diversos problemas
nas crianças, e a preocupação dos educadores e pais precisam ser redobradas a
fim de analisar as causas e conseqüências deste problema que afligem uma
parcela da população infantil.
*Autora do estudo e acadêmica do Curso de Graduação em Educação Física da Universidade
Federal de Pelotas.
**Orientadora do estudo e professora assistente da Escola Superior de Educação Física da
Universidade Federal de Pelotas.
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261
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de
Santa Cruz do Sul
Gilmar Fernando Weis - Universidade de Santa Cruz do Sul/RS
Ursula Muller - Universidade de Santa Cruz do Sul/RS
Resumo
O presente estudo avaliou o crescimento dos escolares de Santa Cruz do Sul
RS. As variáveis investigadas foram: a) massa corporal/estatura b)
estatura/idade por idade e sexo. A amostra do estudo foi composta por
25.822 crianças e adolescentes do sexo masculino e feminino, de 17 escolas das
zonas rural e urbana da Rede Municipal de Ensino de Santa Cruz do Sul
RS/Brasil a partir dos dados coletados pelos professores da Rede Pública
Municipal no Exame Biométrico realizado no período de 1993 a 1998. A
intenção é apresentar o perfil de crescimento das crianças da Rede Pública
Municipal de Santa Cruz do Sul comparando o com os índices do National
Center Health Statistics (NCHS).
Abstract
The present study estimate the levels of growth from Municipal schools of
Santa Cruz do Sul – RS. The comparatives investigated were: a) body weight;
b)height towards age and sex. The sample of the study was composed by
25.538 children and adolescents from 6 to 18 years old, male and female, from
22 schools in contryside areas and urban areas of the Santa Cruz do Sul
Municipal Education network from the datas colected by the Municipal Public
network teachers in the biometric exam done in the period from 1993 to 1998.
It´s intention is to present the Santa Cruz do Sul Municipal Public network
children´s growth profile in comprarisson to the Nacional Center Health
Statistics.
1. Introdução
Na atualidade muito se fala sobre a importância da prevenção para a
promoção da saúde. Saúde segundo a OMS não significa apenas a ausência de
doença, mas sim apresentação de um bem-estar físico, mental e social,
sentindo uma alegria de viver.
Pensando nisso, uma das ações preventivas realizadas pela Secretaria
Municipal de Educação de Santa Cruz do Sul foi a de incentivar a proposta do
Exame Biométrico e Postural realizados anualmente nas escolas municipais,
desde 1993. A cada ano, novas escolas da Rede Municipal incorporam-se ao
projeto. O exame biométrico e a avaliação postural são de simples aplicação e
baixos custos e, num primeiro momento, possibilitam acompanhar a realidade
nutricional e o perfil de crescimento das crianças em idade escolar no intuito
262
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
de encaminhar os casos de desnutrição e baixo crescimento a um especialista,
cabendo aos professores de Educação Física a prescrição de atividades mais
indicadas para cada caso detectado e orientações preventivas em relação à
saúde como: a) importância de incorporar atividades físicas para toda a vida; b)
adoção de hábitos alimentares saudáveis; c) proposição da necessidade de
ações políticas municipais voltadas para a solução de problemas referenciados
à saúde e à educação.
Para Marcondes (1994), a massa corporal e estatura são os índices mais
importantes para a avaliação do crescimento, embora a massa corporal seja
mais suscetível a alterações podendo aumentar ou diminuir, o que já acontece
com a estatura, o que a torna um indicador mais seguro.
A normalidade do estado nutricional será determinada pelo equilíbrio entre
o consumo ou ingesta alimentar com a necessidade ou gasto nutricional
(utilização biológica de nutrientes). Nesse caso, a criança com insuficiência de
consumo (carências nutricionais) apresentará: desnutrição protéico-calórica,
anemia ferroprico, hipovitaminose A, bócio endêmico, cárie dental, além de
outras carências nutricionais (Vasconcelos, 1995).
Por outro lado, excesso ou desequilíbrio no consumo de alimentos
poderão causar obesidade, o que por si só já é um quadro preocupante
principalmente se estiver associado a outras doenças como a diabete militus,
aterosclerose, hipertensão e outros (Vasconcelos op cit).
Percebe-se que a alimentação se constitui em fator fundamental, uma vez
que o crescimento das crianças é grandemente influenciado por carências
nutricionais e emocionais.
Além dos fatores citados anteriormente, os adultos têm papel fundamental
em relação aos hábitos de higiene e alimentares das crianças na ingesta de
gorduras saturadas, dieta desequilibrada principalmente em seus primeiros
anos de vida, uma vez que esses hábitos serão incorporados para a vida.
Ferreira (1999) cita ainda entre esses fatores os desastres ecológicos, o
subdesenvolvimento e a má distribuição dos alimentos.
Atualmente as grandes preocupações das autoridades de países
desenvolvidos e em desenvolvimento relacionada à saúde pública, uma vez que
são gastas somas milionárias com doenças da modernidade. Para Bouchard e
Shephard, 1994 e Paffenbarger et al.1994, apud Gaya, 1999, existem diversos
estudos epidemiológicos que comprovam a forte associação entre saúde e
atividade física, podendo se incluir aí a dieta. Entre essas doenças, pode-se
citar as cardiovasculares, a hipertensão arterial, a hipercolesterolemia a
hiperlipidemia, a obesidade e a diabete militus tipo II.
Prevenção é a melhor, mais barata e segura maneira de lidar com a questão
da saúde pública. De acordo com Ferreira (1999), é preciso investir em
saneamento básico que tem relação direta entre doenças infecciosas e nutrição.
É preciso que haja uma perfeita harmonia entre educação e programas
263
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
permanentes de educação em saúde, no sentido de que a população adote
atitudes preventivas em relação à dieta e às atividades físicas.
Cientes de que uma pesquisa não seria o suficiente para esgotar ou resolver
todos os problemas de ordem nutricional e de desenvolvimento infantil, o
presente artigo busca analisar os dados coletados de massa corporal e estatura
pelos professores da Rede Municipal em relação à massa corporal e à estatura
por sexo e idade, comparando-os com os índices apresentados pelos alunos do
Colégio Mauá (escola particular de Santa Cruz do Sul) e com o percentil 50 do
NCHS, aceitos e indicados pela OMS como padrão de referência mundial
comparativa para crescimento e desenvolvimento nutricional.
2. Objetivo Geral
O objetivo deste estudo é comparar e verificar se existe diferença
significativa entre o perfil de crescimento das crianças da RMSCS com a escola
particular (Colégio Mauá) e com o percentil 50 do NCHS.
3. Objetivos Específicos
3.1. Comparar dos índices de massa corporal e estatura entre as crianças do
sexo masculino e feminino da RMSCS, Colégio Mauá e percentil 50 do
NCHS;
3.2. Comparar a curva de estatura média para os dois sexos da população
investigada, RMSCS, Colégio Mauá e percentil 50 do NCHS;
3.3. Comparar a média da massa corporal para os dois sexos das populações
investigadas, RMSCS, Colégio Mauá e percentil 50 do NCHS.
4. Procedimentos Metodológicos
4.1. Sujeitos da pesquisa
A amostra é intencional, sendo constituída por 25.538 crianças do sexo
masculino e feminino com idade entre 6 e 18 anos da RMSCS, no período de
1993 a 1998.
Quadro 1 – Sujeitos da pesquisa
Idade
Sexo
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Masc
303
(1)
854
1.215 1.391 1.421 1.415 1.470 1.408 1.217 1.075
Fem
(2)
816
1.215 1.342 1.372 1.382 1.384 1.409 1.292 1.009
321
624 1670 2430
2673
2793
2797
2854
2817
2509
2084
16
17
18
Total
679
361 201 12.950
12
588
25.538
1288 672 327
alunos
609
311 126
264
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
4.2. Instrumentos e procedimentos de coleta de informações
A avaliação antropométrica nutricional foi realizada por meio das medidas
de massa corporal e estatura, levando em consideração a idade e o sexo. A
massa corporal foi medida em quilogramas (kg), com a utilização de balanças
de marca Prião e Filizola, com precisão de 500g. A estatura foi medida em
centímetros (cm) com a utilização da toesa. A idade foi computada em anos
completos.
Essas medidas vêm sendo coletadas pelos professores de Educação Física
da RMSCS, desde 1993, quando da implantação do exame biométrico e
avaliação postural nas escolas municipais de Santa Cruz do Sul (Weis e Müller,
1995). Os dados são registrados em fichas coletivas por turma. Após a coleta,
os dados são organizados no programa estatístico SPSS 8.0 for windows.
4.3. Tratamento das informações
A normatização da curva foi obtida através do teste de Box Plot para idade
e sexo (não foi possível obter uma curva normal porque os dados coletados
pelos professores foram arredondados principalmente no que se refere à massa
corporal).
Optou-se por uma análise através da estatística descritiva, utilizando a
ocorrência de freqüência em valores absolutos, média, mediana, desvio padrão
e padrão da média.
A curva de polinômio cubital foi a que apresentou um valor R.Square mais
elevado para todas as idades e medidas analisadas.
As curvas de crescimento e nível nutricional por idade e sexo foram
comparadas com a média de 50 percentil do NCHS e com os dados coletados
no Colégio Mauá.
Foi realizada uma análise de significância 0.05 por idade e sexo, através do
teste t de student para amostra única.
5. Apresentação e discussão dos resultados
a) Comparação da Curva de Crescimento entre crianças dos sexos masculino e
feminino da RMSCS, Colégio Mauá e com os índices do percentil 50 do
NCHS.
Percebe-se pelo Quadro 2, em vermelho, que as meninas da RMSCS
apresentam-se com uma estatura mais elevada dos 11 aos 14 anos e, no
Quadro 3, em vermelho, que o peso corporal das meninas é mais elevado dos
10 aos 14 anos. Por outro lado, se forem observados os índices apresentados
pelas Crianças do Colégio Mauá, a diferença apresentada entre os dois sexos
para estatura feminina superior é muito pequena nas idades entre os 11 e 13
anos, invertendo-se de forma significativa ao 14 anos, quando os meninos
apresentam-se com estatura média superior.
265
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
Já em relação ao peso corporal observado no Quadro 3, pode-se inferir que
as meninas do Colégio Mauá apresentam peso médio superior aos meninos.
Os índices apresentados na pesquisa de Brandt (1998) são de um estudo
longitudinal, em que a amostra é de 44 alunos, sendo, desse total, 23 do sexo
masculino e 21 do sexo feminino. Embora a amostra seja inferior aos dados
levantados nas crianças da RMSCS e da NCHS, os resultados se equivalem.
Segundo índices apresentados, as crianças norte-americanas - NCHS, do
sexo feminino, apresentam estatura superior à dos meninos nas idades entre 11
aos 13 anos Porém esses resultados se invertem aos 14 anos. Em relação ao
peso corporal, as meninas apresentam índices superiores nas idades de 11 aos
14 anos, mostrando pouca diferença entre as médias aos 14 anos.
Quadro 2: Estatura masculino e feminino
Idade
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Idade
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
P
0,595
0,210
0,021
0,122
0,196
0,000
0,000
0,000
0,020
0,000
0,000
0,000
0,000
SCS
115,56
119,76
124,19
128,68
133,49
138,71
143,52
148,91
154,24
160,97
164,89
168,64
170,18
DP
NCHS
6,47
116,10
6,91
121,70
7,07
127,00
7,34
132,20
7,54
137,50
7,92
143,30
8,26
149,70
8,90
156,50
9,71
163,10
9,59
169,00
8,80
173,50
8,38
176,20
6,86
176,80
MASCULINO
DP
4,9
5,1
5,4
5,7
6,1
6,7
7,6
8,3
8,5
8,1
7,1
6,5
6,6
CMauá
DP
147,20
153,40
160,30
168,90
6,1
6,0
6,3
7,1
SCS
115,27
119,34
123,53
128,23
133,87
139,86
145,16
150,65
155,32
157,67
159,14
160,12
159,77
DP
7,35
6,80
7,03
7,55
8,03
8,67
8,68
8,54
7,49
7,15
6,95
7,06
7,03
DP
4,9
5,5
6,0
6,5
6,8
7,0
6,8*
6,6
6,7*
6,8
6,7
6,4
6,0
CMauá
DP
0,103
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
147,90
154,40
160,50
164,00
6,4
7,1
7,3
6,9
P
NCHS
114,60
120,60
126,40
132,20
138,30
144,80
151,50
157,10
160,40
161,80
162,40
163,10
176,80
FEMININO
Estatura mais elevada por idade e
N
300
851
1220
1352
1432
1423
1487
1419
1228
1085
690
370
199
N
322
814
1222
1372
1412
1402
1392
1419
1300
1020
608
311
126
Estatura inferior por idade e sexo
266
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
Quadro 3: Peso corporal masculino e feminino
Idade
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
P
0,173
0,650
0,015
0,023
0,042
0,000
0,000
0,000
0,000
0,870
0,066
0,000
0,000
SCS
21,30
23,06
25,10
27,41
29,82
33,43
36,70
40,67
44,61
50,94
54,68
58,98
60,56
DP
3,54
4,05
4,75
5,59
5,90
7,20
8,19
9,56
9,82
11,42
11,45
11,96
8,94
NCHS
20,70
22,90
25,3
28,10
31,40
35,30
39,80
45,00
50,80
56,70
62,10
66,30
68,90
MASCULINO
DP
2,9
2,7
3,1
3,8
4,6
5,6
6,5
7,3
8,0
8,4
8,7
8,9
9,0
CMauá
DP
37,50
42,60
47,70
53,80
6,1
7,7
8,0
9,6
Idade
P
0,000
0,000
0,217
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,612
SCS
21,95
23,15
24,62
26,92
30,31
34,49
38,24
43,08
47,58
50,87
53,55
54,77
56,13
DP
7,74
4,63
4,94
5,63
6,84
8,35
9,18
10,24
9,72
9,99
10,61
9,76
10,38
NCHS
19,50
21,80
24,80
28,50
32,50
37,0
41,50
46,10
50,30
53,70
55,90
56,70
56,60
FEMININO
DP
2,2
2,7
3,4
4,4
5,3
6,3
7,0
7,7
8,0
8,2
8,0
7,7
7,2
CMauá
DP
39,50
44,80
51,10
54,30
8,9
9,4
9,2
8,8
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Peso corporal mais elevado por idade e sexo
N
2,99
8,43
1210
1339
1402
1416
1474
1413
1223
1084
690
371
199
N
322
805
1216
1356
1406
1397
1390
1417
1298
1015
608
312
126
Peso corporal inferior por idade e sexo
Os resultados obtidos com a realização do Exame Biométrico na RMSCS
mostram que a estatura das crianças do sexo feminino é mais elevada se
comparada com a das crianças do sexo masculino e estão de acordo com Tani
e Kokubun (1985) e Ferreira (1999) que colocam que a velocidade de
crescimento das crianças é mais elevada nos primeiros meses de vida,
reduzindo-se entre os 10 e 13 anos, quando haverá novo aumento, conhecido
por estirão, ocorrendo o pico de crescimento por volta de 11 anos em
meninas e de 14 anos em meninos.
Esses dados vêm comprovar que a maturação relacionada ao pico de
crescimento feminino ocorre antes do masculino (11 e 14 anos
respectivamente) em termos de estatura, influenciando no peso corporal,
267
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
invertendo-se, logo após (14 anos), essa situação. Deve-se
consideração, segundo Ferreira (1999), que após a Idade
transformações ocorridas nos meios de produção ocasionaram
mudanças no modus vivendi da população, trazendo benefícios por
malefícios por outro, dentre esses, falta de espaço para brincar.
levar em
Média as
profundas
um lado e
b) Comparação entre a média da estatura para o sexo masculino e feminino da
RMSCS, CM, com a curva de referência do percentil 50 do NCHS.
Gráfico 1- Estatura: masculino.
Curvas de Estatura
Masculino
190
180
170
160
Estatura (cm)
150
140
NCHS
130
SCS
120
110
6,00
CM
8,00
7,00
10,00
9,00
12,00
11,00
14,00
13,00
16,00
15,00
18,00
17,00
Idade
Gráfico 2- Estatura: feminino.
Curvas de Estatura
Feminino
180
Estatura (cm)
170
160
SCS
NCHS
150
140
MAUÁ
130
120
110
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Idade
Observa-se nos Gráficos 1 e 2 que as curvas de crescimento da RMESCS,
representadas pela linha pontilhada verde, apresentam-se inferiores para ambos
os sexos se comparadas com as curvas da NCHS. Nos mesmos gráficos podese observar que a curva de crescimento das crianças entre 11 e 14 de ambos os
268
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
sexos do Colégio Mauá, representadas pela linha tracejada azul, apresentam-se
superiores aos índices da NCHS.
Pela análise dos dados dos Gráficos 1 e 2 observa-se que os índices de
estatura apresentados pelas crianças da RMSCS estão de acordo com
pesquisas realizadas por estudiosos como Frisancho et al. 1975; Spurr, 1983;
Malina, 1994, e outros (apud Ferreira, 1999), que constataram que a
desnutrição leve-para-moderada pode ser associada ao atraso no crescimento
físico, maturação biológica, reduzida massa muscular e decréscimo na
capacidade de trabalho, variando no entanto segundo Malina 1984 (apud
Ferreira, 1999) de acordo com a intensidade e com o tempo de duração do
estresse nutricional.
Em se tratando de uma comunidade teoricamente mais carente, em função
de residirem em bairros na sua grande maioria de periferia e sabendo-se que o
aspecto econômico pode ser um dos fatores que intervém diretamente na vida
cotidiana das pessoas, isso pode estar interferindo direta ou indiretamente no
crescimento e no desenvolvimento da população estudada.
No Quadro 4 observa-se que não existe diferença significativa para as
crianças de 6 anos de ambos os sexos da RMSCS se comparadas aos índices da
NCHS. Já a partir dos 7 anos, os índices da NCHS apresentam-se superiores e
essa diferença é estatisticamente significativa, como pode ser observado no
Quadro 4.
Quadro 4: Estatura Corporal – Nível de Significância (ad hoc 0.05)
Idade
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
P
0,155
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
SCS
115,56
119,76
124,19
128,68
133,49
138,71
143,52
148,91
154,24
160,97
164,89
168,64
170,18
DP NCHS DP N IDADE
P
SCS DP NCHS DP
N
6,47 116,10 4,9 300
6
0,103 115,27 7,35 114,60 4,9 322
6,91 121,70 5,1 851
7
0,000 119,34 6,80 120,60 5,5 814
7,07 127,00 5,4 1220
8
0,000 123,53 7,03 126,40 6,0 1222
7,34 132,20 5,7 1352
9
0,000 128,23 7,55 132,20 6,5 1372
7,54 137,50 6,1 1432
10
0,000 133,87 8,03 138,30 6,8 1412
7,92 143,30 6,7 1423
11
0,000 139,86 8,67 144,80 7,0 1402
8,26 149,70 7,6 1487
12
0,000 145,16 8,68 151,50 6,8* 1392
8,90 156,50 8,3 1419
13
0,000 150,65 8,54 157,10 6,6 1419
9,71 163,10 8,5 1228
14
0,000 155,32 7,49 160,40 6,7* 1300
9,59 169,00 8,1 1085
15
0,000 157,67 7,15 161,80 6,8 1020
8,80 173,50 7,1 690
16
0,000 159,14 6,95 162,40 6,7 608
8,38 176,20 6,5 370
17
0,000 160,12 7,06 163,10 6,4 311
6,86 176,80 6,6 199
18
0,000 159,77 7,03 176,80 6,0 126
>
ESTATURA MASCULINO
ESTATURA FEMININO
0,05
Não existe diferença
Existe diferença
c) Comparação entre as médias de massa corporal para o sexo masculino e
feminino da RMSCS, Colégio Mauá (CM), com a curva de referência do
percentil 50 da NCHS.
269
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
Gráfico 3- Massa corporal masculino
C u rv a s d e P e s o
M a s c u lin o
70
60
50
40
P e 30
so
(K g 2 0
)
NC HS
SCS
10
6 ,0 0
CM
8 ,0 0
7 ,0 0
1 0 ,0 0
9 ,0 0
1 2 ,0 0
1 1 ,0 0
1 4 ,0 0
1 3 ,0 0
1 6 ,0 0
1 5 ,0 0
1 8 ,0 0
1 7 ,0 0
Id a d e
Gráfico 4 – Massa corporal feminino
Curvas de Peso Corporal
60
50
40
30
Pe
so
(K 20
g)
NCHS
SCS
10
6,00
CM
8,00
7,00
10,00
9,00
12,00
11,00
14,00
13,00
16,00
15,00
18,00
17,00
IDADE
A massa corporal das crianças da Rede Municipal de Ensino de Santa Cruz
do Sul, (RMSCS) representado pela linha pontilhada verde dos Gráficos 3 e 4,
nos mostra que os índices para o sexo masculino e feminino apresentam uma
curva inferior, se comparados com os índices da NCHS.
Os dados do exame biométrico coletados no estudo de Brandt (1998), em
relação a massa corporal/estatura, de crianças com idade entre 11 e 14 anos
numa escola particular (colégio Mauá), apresentaram índices superiores aos da
NCHS. Este índice demonstra grande diferença entre o perfil das curvas de
massa corporal e estatura apresentadas entre a RMSCS e o Colégio Mauá,
sendo que as mesmas foram comparadas com o percentil 50 da NCHS. Essa
constatação encontra respaldo em Marcondes (1994) que coloca que um dos
fatores determinantes do crescimento dos escolares é o fator sócio-economico
e cultural mais elevado, bem como a renda per capita, idade dos pais, número de
membros que compõem a família, condições de saneamento, escolaridade e
cultura dos pais.
270
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
Em pesquisa realizada pelo Instituto da Criança de São Paulo com 1010
crianças faveladas de zero a doze anos de idade, Marcondes cita:
“a devastação que as más condições sócio-econômicas de vida determinam
em relação ao crescimento das crianças. Os dados referentes à altura
revelam grave situação; sobretudo a partir dos dois anos de idade, a média
aritmética da estatura bordeja o limite inferior da normalidade e, por outro
lado, o limite inferior da população favelada mostra situação desalentadora.
A situação referente ao peso é mais animadora o que sugere baixa estatura
residual com eventual superação dos fenômenos da fase aguda da
desnutrição” ( 1994, p.286).
Observando o Quadro 5, verifica-se que a massa corporal das crianças da
RMSCS apresentam-se superiores aos 6 anos para o sexo masculino e 6 e 7
anos para o sexo feminino, se comparados com os índices da NCHS. Não
apresentam diferença significativa na massa corporal nas idades de 7 e 8 anos
para o sexo masculino e 8 e 18 anos para o sexo feminino. Entre os 9 e 18
anos para o sexo masculino e 9 aos 17 anos para o sexo feminino, os índices da
NCHS apresentaram-se superiores de forma significativa.
Quadro 5: Massa Corporal – Nível de Significância (ad hoc 0.05).
Idade
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
P
0,003
0,249
0,150
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
SCS DP NCHS
21,30 3,54 20,70
23,06 4,05 22,90
25,10 4,75
25,3
27,41 5,59 28,10
29,82 5,90 31,40
33,43 7,20 35,30
36,70 8,19 39,80
40,67 9,56 45,00
44,61 9,82 50,80
50,94 11,42 56,70
54,68 11,45 62,10
58,98 11,96 66,30
60,56 8,94 68,90
PESO MASCULINO
DP
2,90
2,70
3,10
3,80
4,60
5,60
6,50
7,30
8,0
8,4
8,7
8,9
9,0
N IDADE
P
SCS DP NCHS
2,99
6
0,000 21,95 7,74
19,50
8,43
7
0,000 23,15 4,63
21,80
1210
8
0,217 24,62 4,94 24,80
1339
9
0,000 26,92 5,63 28,50
1402
10
0,000 30,31 6,84 32,50
1416
11
0,000 34,49 8,35
37,0
1474
12
0,000 38,24 9,18
41,50
1413
13
0,000 43,08 10,24 46,10
1223
14
0,000 47,58 9,72 50,30
1084
15
0,000 50,87 9,99 53,70
690
16
0,000 53,55 10,61 55,90
371
17
0,001 54,77 9,76 56,70
199
18
0,612 56,13 10,38 56,60
PESO FEMININO
Não existe diferença significativa
DP
2,2
2,7
3,4
4,4
5,3
6,3
7,0
7,7
8,0
8,2
8,0
7,7
7,2
Existe diferença significativa
Prista (1995) sugere que os países de “terceiro mundo” evidenciam
características comuns decorrentes do relativo atraso econômico. Por outro
lado convergem em alguns problemas típicos de saúde e desenvolvimento,
segundo ele com incidência nos efeitos da malnutrição e das más condições
higiênico-sanitárias.
271
N
322
805
1216
1356
1406
1397
1390
1417
1298
1015
608
312
126
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
Por outro lado Bouchard (1988), apud Prista (1995), diz que estudos “no
âmbito genético têm evidenciado um grande dinamismo da adaptabilidade do
ser humano que não nos permite generalizações absolutas nas classificações
raciais”.
Apresentadas algumas questões polêmicas que envolvem metodologias
utilizadas nas pesquisas atuais, os autores do presente estudo não têm a
pretensão de buscar generalizações, uma vez que é intenção através de novas
pesquisas contemplar maior número de variáveis possíveis como nível sócioeconômico, além de aspectos culturais e étnicos para descrever essa população.
6. Considerações Finais
Atendendo aos objetivos propostos neste estudo podemos considerar que
existem similitudes e diferenças entre o perfil de crescimentos dos escolares do
estudo com os valores apresentados pelo grupo da escola particular, Colégio
Mauá e com os índices de referência apresentados pelo NCHS.
Entre os três grupos observados percebeu-se semelhanças quanto ao
período de estirão de crescimento para o sexo feminino entre os 10 a 14 anos,
nestas idades as meninas apresentaram-se mais altas e com maior massa
corporal. Esta observação confere com a literatura, que coloca, que as meninas
maturam mais cedo que os meninos.
O mesmo não se pode dizer sobre o perfil de crescimento para as variáveis
de estatura e massa corporal. Observando-se os gráficos, visualiza-se diferença
entre os três grupos estudados. Tomando-se por parâmetro o percentil 50 do
NCHS, verifica-se que as crianças da RMSC apresentam sua curva de estatura
e massa corporal abaixo dos valores de referência em quase todas as idades, o
contrário foi observados com o perfil da curva de crescimento das crianças do
Colégio Mauá, que se apresentam acima dos valores de referência para as duas
variáveis analisadas.
Quando realizado o teste t de student entre a RMSC e os índices de
referência, para as variáveis de massa corporal e estatura, podemos observar
que somente existe diferença significativa nas idades de 6, 7,8 e 18 anos.
Observando os valores nos quadros 2 e 3 podemos dizer que existe diferença
significativa entre os valores apresentados pelas crianças do Colégio Mauá com
os índices de referências para as duas variáveis estudadas.
Com isso podemos inferir que as condições peculiares destas populações
estudadas de alguma forma influenciaram o perfil de crescimento dessas
crianças.
Embora o Brasil seja considerado um país em desenvolvimento, não se
pode fazer generalizações quanto ao perfil de crescimento uma vez que a
população está dividida em classes sociais economicamente distintas.
272
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
Santa Cruz do Sul é considerada uma cidade com nível de analfabetismo
baixo e a arrecadação de impostos alta, o que poderia favorecer as condições
econômicas da população como um todo, o que no entanto não acontece.
Observa-se neste contexto uma forte tendência entre o nível sócioeconômico e a curva de crescimento, em que as crianças da RMSCS com
idades entre 6 a 18 anos de ambos os sexos apresentam aparentemente o nível
sócio econômico mais baixo, assim como as curvas de crescimento inferiores
se comparadas aos índices do NCHS.
Por outro lado, as crianças da escola particular Mauá, com idades entre 11 e
14 anos de ambos os sexos, que aparentemente apresentam um nível sócioeconômico mais favorecido, mostram valores superiores se comparados aos 50
percentis do NCHS, ad hoc 0.05 para níveis de significância, em termos de
curva de crescimento e nível nutricional.
Constatou-se pelo presente estudo, que, metodologicamente, não é
indicado agrupar populações com características distintas numa análise única
(escola pública x escola particular), uma vez que os resultados não
descreveriam de forma fidedigna da realidade.
Essas estimativas nos levam a pensar que seria necessário verificar nas
populações estudadas (escolas municipais), outras variáveis, como o nível
sócio-econômico, cultural e étnico, além de dividir a população estudada em
quadrantes, para verificar se a curva de crescimento e nível nutricional dos
quadrantes confere com a curva geral do perfil de crescimento e de
desenvolvimento.
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273
Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul
MARCONDES, Eduardo. Desenvolvimento da Criança: desenvolvimento
biológico do crescimento. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de
Pediatria:1994.
274
APRESENTAÇÕES EM EVENTOS INTERNACIONAIS
___
Physical Education in Brazil: an historical overview*
Alberto Reinaldo Reppold Filho - University of Rio Grande do Sul, Brazil
Introduction
One of the most important aspects in the investigations about physical
education, sport and Olympism in the last two decades has been the increasing
number of sociological, historical and anthropological studies. Even more
important is the fact that the traditional approaches based on somewhat naïve
and romantic views on sport and Olympism has given place to more critical
ones. The current investigations have pointed out many problematic aspects
about the impact of the Olympism in different cultures and societies. Research
also showed that sport is not a world of decency and fair play, as most people
traditionally believe. For the opposite, these studies pointed out that
corruption, drugs, political interests and commercialism have been part of the
everyday life in modern sport and Olympics.
During the last years, special attention was drawn on the different
interpretations of Olympism. In the seminars of the International Olympic
Academy, a number of papers were presented about this topic. Many
important questions came out from these meetings. One problem that raised
considerable concern was the adequacy to apply the principles of Olympism to
countries where the economic, social, cultural and political backgrounds are
rather different from those where it was shaped. As one of the aims of this
seminar is to examine problems related to cultural interpretation of Olympism
and Olympic education from the perspective of people living in different
countries, this paper presents an overview of the situation in Brazil.
It seemed important to address the problem from an historical perspective.
Such approach allows having a better understanding of the current situation of
physical education in this country. It also provides some empirical basis for
discussing the possibilities and limitations of Olympism and Olympic
education in countries with features similar to those of Brazil. The period
considered covers from the end of 18th century to the last decades of this
century. The study is based on a literature review and takes into consideration
works published in the last two decades. Most of them are Master dissertations
developed in Departments of Education and Physical Education in Brazilian
Universities. Certainly, a historical study involving a period of almost two
centuries does not allow going deep into the problems. In addition, there are
few studies on the history of physical education in Brazil. The task becomes
even more difficult when the focus is on Olympism. For this reason, the study
must be considered as a preliminary approach.
276
Physical Education in Brazil: an historical overview
The Emergence of Physical Education in Brazil
In Brazil, physical education had a long development since its origin in the
Colonial Period (1500-1822) until its consolidation in the middle of this
century. In the first two and a half centuries of Portuguese colonization,
education in Brazil was strongly influenced by the Jesuits. At this period
physical activities were in a very primitive form. The first educational program
was brought by the Jesuit Manoel de Nobrega and lasted up to 1570. This
consisted of Portuguese language, Christian doctrine, reading and writing,
singing and instrumental music, agriculture, professional learning and Latin
grammar. A second plan of studies based on the Ratio Studiorum was
introduced in 1570 and lasted until 1759. In both programs, there was no
indication of physical activities of any sort. Despite of that, recent studies
about the period have attempted to show that games and physical activities
were developed in Jesuit schools.
The specialized historiography presents as the first records of physical
education in Brazil some publications from the end of eighteenth century.
These publications related physical education to health and hygiene and were
connected to medical institutions. This conception of physical education was
named Hygienist.. It initially focused on the habits of the colonial agrarian elite.
The concern with health and hygiene during this period had much to do with
the rudimentary conditions imposed by the environment and work. This posed
several sorts of hazardous and diseases for both the landlord, white European,
and the black African slave. The habits of the late were considered as negative
patterns when compared to the habits of the elite family. In this polarized
society and austere atmosphere physical education was considered as a set of
hygienic norms to prevent death and disease among the members of the elite
families.
The concern about physical education in Brazilian schools dates back to
the beginning of nineteenth century when the country got its political
autonomy. The independence from Portugal in 1822 brought the necessity to
create a Constitution that fulfilled the needs and interests of the new nation. In
that period, the first official manifestation in favor of Physical Education came
up. In spite of this, the official beginning occurred only in 1851 with the
inclusion of gymnastics in the curriculum of primary schools in the City of the
Court. This was a positive step but it did not turn out as a significant
advancement. Since most provinces faced serious financial shortages as well as
lack of personnel to handle primary teaching, physical education as other
school subjects continued to be very poor. The report of the Empire Minister
published in 1883 showed that only four from the 292 schools of the City of
Court and provinces had gymnastics as subject matter. It also showed that
from the 10.427 students registered in these schools no more than 1,38 per
cent attended the classes. (Cantarino Filho, 1982).
277
Physical Education in Brazil: an historical overview
The Implementation of Physical Education in Brazil
The situation changed in the final decades of nineteenth century and first
decades of this one. The end of slavery, the coming of Republic and
industrialization helped to build a new economic, political and social order.
The economy moved from rural areas to urban centers provoking a rapid and
disorganized growth of the cities. The poor living conditions facilitate the
appearance and spread of several kinds of diseases and death mainly among
the poorest communities. The liberal and positivistic ideology that inspired the
emergent urban elite also helped to create a naturalistic conception of society.
According to Soares (1991), it was in this urban and Republican atmosphere
that the hygienist views presented in the discourse of leading groups during the
Colonial and Imperial period could be transformed into actions. Intending to
make feasible their family policy, they used physical education to develop
pedagogical actions in society. The aim was to create strong, harmonious and
healthy bodies in opposition to weak, flaccid and sick ones of the Colonial
times. The hygienist doctors were responsible for the broad acceptance of
physical education in Brazilian society and its inclusion in schools.
On the basis of this conception, physical education reached an important
position in the government of President Getúlio Vargas. It was included in a
broader political and economic project from 1930 to 1945. Physical education
was part of a program of national education with the aim to transmit the
official ideas of eugenics, nationalism and national integration. The most
radical part of the period was named Estado Novo (New State). It was marked
by non-liberal positions and the approximation of the Brazilian Government
to the ideology of National Socialism and Fascism. During Vargas
Government, several organizations to develop and control the activities related
to physical education were created. Some of the most important were: the
Division of Physical Education (1937), the National College of Physical
Education and Sports (1939), Sports National Council (1941), Brazilian
Association of University Sports (1941), as well as norms and legislation about
physical education in elementary and secondary schools.
The Consolidation of Physical Education in Brazil
After this period, a strong concern with physical education reappeared in
the educational policies of the Military Government in the 1970s and 1980s.
This period has been considered the most important to understand the current
situation of physical education and sport in Brazil. Many legal and financial
documents supporting the development of physical education in the country
were introduced at this time. Some of them were still valid until quite recently.
For this reason, it could be considered the period of the consolidation of
physical education in Brazil.
278
Physical Education in Brazil: an historical overview
An account of physical education in this period requires some previous
economical and political considerations. This will help to clarify the
circumstances in which physical education was involved as the part it played in
the government ideology.
Since the last decades of nineteenth century, the agrarian export model that
based Brazilian economy until the beginning of this century was being
gradually changed to an economic model based on industry. This new model
took shape after the 1930 as consequence of the coffee crisis, caused by the
world crisis of 1929. In this new economic context, the country had to
manufacture goods that were previously imported from Europe and North
America.
In the beginning, industrialization came up as an element of interest to
different social segments. As leaders of the process, the national entrepreneurs
want to increase their economic monopoly. The foreign entrepreneurs were
interested in making investments since the policy adopted by the Brazilian
government was profitable for them. The middle classes saw industrialization
as a way to ascend its pattern of life. The working class and leftist intellectuals
considered industrial development a necessary condition for national
independence.
In 1960, when industrialization in Brazil was strong, many conflicts
amongst these different interests came out. According Souza (1981) the critical
point of the situation was the economic stagnation and high inflation rate.
These conflicts created a political crisis that ended up in the 1964 coup d'état
by the military forces.
During the first years, the focus of attention was to stop the increasing
inflation and prepare the bases for the economic development. The Military
Government favored the entrance of foreign funds in order to foster the
modernization of the country. This economic model progressively took on the
characteristics of an associated-dependent capitalist economy.
The first plans of the Military Government did not pay attention to
physical education. They introduced, however, some important ideas that were
later included in the policies of this sector. The Decenial Plan 1967/1976
introduced the economical conception of education. It made an anticipation of
the human resources necessary to achieve an estimate BPI in 1976. The aim of
the education was to carry on the ideology of human capital to accelerate the
process of development. The same idea was presented in the Strategic Program of
Development 1968/1970. Parallel to the plans the government was already taken
measures to adapt education to its economic policy. Some examples are the
pass of new legislation (Lei 4.464/65) and MEC/USAID contracts signed
during 1965 and 1968. These measures conflicted with the claims of the
students taking to a crisis that ended with the reform of the Brazilian
universities in 1968. Within this political conflict, the Military Government put
279
Physical Education in Brazil: an historical overview
forward several strategies to prevent the organization and manifestation of the
political parties, labor and student associations and to exclude of the political
decisions large parts of population. Saviani (1987) named these strategies
authoritarian demobilization. According to some authors, physical education and
moral education were used as part of these strategies.
In 1971, the results of a survey sponsored by the government entitled
Diagnosis of Physical Education and Sports in Brazil was published. The survey was
done with the aim to develop a policy for the application of the financial
resources from the Sports Lottery. The publication presented quantitative
information about physical education in the beginning of 1970s. For the
primary schools, the results showed a very bad situation. From 22 States and
Capital District surveyed, physical education was in reasonable conditions only
in seven and in 16, it was considered poor or non-existent. In the secondary
schools, the picture was not different. The survey showed insufficient facilities,
low salaries and high number of students per teacher. Other information about
professional training, sport clubs, parks, athletes, national associations
completed the survey.
The conclusions presented in this document were used to subsidize the
National Policy of Physical Education and Sports. The contributions of physical
activities for the economic and social development were the following:
prevention towards diseases and more disposition for work, health
rehabilitation and therapy, adequate use of the free time and leisure, tourism
increment, development of specific technology, increment of the production
of sports material and circulation of goods. The most important aspect was to
fit the population with the aim to increase the production.
One of the most influential movements in Brazilian physical education
began in the late 1970s and early 1980s. This movement was named popular
physical education. It got its theoretical and methodological references in
leftist pedagogy and Marxist sociology. The aim of this movement was to
search for structural alterations in Brazilian society. Physical education took
clearly a political connotation in opposition to the Military Government. It is
important to mention that in those years Brazil was returning to democracy
after more than two decades of dictatorship. The social and political situation
running in the country helped to create discontentment with the model of
physical education proposed by the government. With more freedom to
criticize and organize their institutions physical educators started to examine
and redefine their functions and roles in society. Physical education, among
other social and educational practices, was considered a way to organize the
poor people. A lot of work in the slums was developed. Popular culture was
understood as an essential factor in this process since it worked an as strong
element towards the dominant ideological inculcation. Folk games were very
stimulated. The change of focus from the naturalistic to sociological
280
Physical Education in Brazil: an historical overview
approaches provoked by the emergency of this new movement has been
considered the turning point in Brazilian physical education and the main
reason for its current crises of identity.
Conclusion
In this short essay, we looked at some chief points in the history of
physical education in Brazil. As said before the study was based on a literature
review. The work pointed out that physical education has been present in the
ideology of leading groups since the Colonial times. At that time, it was a set of
norms to prevent the Colonial elite family from the diseases caused by the
primitive hygienic conditions. During the industrialization, Vargas
Government used physical education as an instrument to develop its eugenic
and nationalist ideology. In the Military Government, it appeared linked to the
political interests and capitalist economical development. Finally, in the early
1980s, a new movement coming from the leftist pedagogy and Marxist
sociology emerged and criticized these conceptions. These different
perspectives could not find one agreement about the role of physical education
in society and the best way to develop it in school. At this moment, it is
possible to say that physical education is undergoing a crisis of identity. None
of the mentioned perspectives presents Olympism or Olympic education as
part of their concern.
* Este trabalho foi apresentado no 1st International Seminar for Postgraduate Students of Physical
Education and History, realizado pela Academia Olímpica Internacional, na cidade de Antiga
Olímpia, Grécia, de 15 de maio a 1 de julho de 1993.
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283
Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil
Alberto Reinaldo Reppold Filho - University of Rio Grande do Sul, Brazil
Introduction
I would like to begin my presentation saying that is a great pleasure to
participate in the 1st International Seminar for Postgraduate Students of
Physical Education and History. I congratulate the International Olympic
Academy for the initiative to organize such a seminar and thank the
opportunity to study, learn and discuss physical education, sport and
Olympism with students from all over the world.
Human beings have the idea of transcendence and the capacity to
construct utopias. In this sense, the seminar has a very special meaning for me.
It represents the utopia that physical education, sport and Olympism can help
to build a different world where peace, understanding, freedom, justice and
equality are not formal concepts but positive facts. For this reason, I think we
should set as our purpose in this seminar not only to understand the current
situation of Olympism but also to point out its mistakes and try to find ways to
change its course.
The paper I am going to present gives a brief view of the pedagogical
trends of physical education in Brazil and draws attention to some of the
difficulties to apply Olympism and develop programs of Olympic education in
Brazilian schools.
Physical Education in Brazil: Preliminary Considerations
In 1983, Oliveira published a book titled “O que é educação física? (What
is physical education?). The study was a critical introduction to physical
education, in particular, the way it was conceived in Brazil. In this study, the
author asked questions about the nature and objectives of physical education
and pointed out many aspects related to its professional, academic and
educational identity.
In the same year, a second book of considerable relevance was published.
In that study, Medina (1983) presented a very critical view about Brazilian
physical education. The author claimed that the area was undergoing a crisis of
identity. He examined the professional practice and produced a classification
of the pedagogical trends of physical education in the country. According to
him, physical education was too much oriented towards the biological and
medical sciences. This led the author to direct strong criticism at the so-called
biological model of physical education and argue for a model that considers
the human being as a whole.
In the current discussions about physical education in Brazil, the works of
Oliveira and Medina are considered landmarks. They were the first to draw
284
Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil
attention to the problem of the identity of physical education in the country.
Since the publication of these books, several meetings and seminars have been
organized to discuss the role of physical education in society, particularly at
school level. Other studies have published critical views about the theories and
methodologies that have guided the production of knowledge in the area.
At the moment, Brazilian physical education aims to establish itself as an
academic discipline with its own subject of study and agenda of investigation; a
subject that is not the central point of any other science. In addition, it aims to
examine the principles that have been sustained scientific research and the
professional practice and test their adequacy to solve the problems that it has
been facing.
It is possible to say that that physical education is facing a period of deep
transformations in Brazil. In relation to school physical education, there are
currently several trends going into different directions. Besides the traditional
perspectives coming from the biological model mentioned above, there are
others linked to human and social sciences as well as to new approaches on
Biology and Physics. These trends could be exemplified in this way.
Pedagogical Trends of Physical Education in Brazil
The first pedagogical trend of physical education we would like to refer is
based on Piaget's theories. The works of Freire (1989, 1991) can exemplify it.
This perspective argues that that there is a strong relation between the
perceptible and intelligible dimensions of the human being. The human
movement is the place where it is possible to find the product of this relation.
The followers of this view attempt to develop methodologies and techniques
to approach this issue. For them, school physical education has the task to
improve the human perceptive and intellectual capability trough out
movement.
The second trend is a consequence of the approximation of physical
education to the current trends of Brazilian philosophy and sociology of
education. It is based on the works of Libaneo and Saviani. Among the
representatives of this view in Brazilian physical education are Carmo (1984)
and Ghiraldelli (1990). These authors develop a Marxist theory of physical
education. They use the historical materialism to analyze physical activities in
underdeveloped capitalist societies. In this perspective, physical education has
the aim to work together with other school subjects to make changes in
society.
Another perspective is linked to the study of motor development and coordination called theory of dynamic systems or ecological approach. It is based
on principles of several theories coming from the fields of Physics and
Biology. According Petersen (1991) this perspective sees movement as a fruit
of the interaction of various subsystems that emerge from auto organized
285
Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil
properties. The main purpose of school physical education is on motor
development and learning of motor skills.
Olympism in Brazil
As we know, Olympism is a historical dated phenomenon originated in
Europe in the end of last century. It has been gradually expanded to other
social and cultural environments, and taken a worldwide characteristic. In this
process, cultural, politic and economic factors were determinant for Olympism
to take on the dimension and importance it has today. However, Olympism
was not assimilated in the same way in all social and cultural environments.
In Brazil, although Olympic sports came into the country in the beginning
of this century, Olympism does not exist as a movement and very few people
know its meaning. In the academic community, Olympism is a theme that
brings up little interest. It is not a subject of scientific investigations,
publications or debates. In some professional training courses, it is part of the
discipline of history of physical education and sports. However, even in these
situations it is presented as a minor theme. Except for few separate cases, it is
viewed in a historically uncritical perspective and completely apart from its
current challenges.
In the specific case of Brazilian schools, as we saw above, none of the
current trends of physical education are either based on or concerned with
Olympism. Instead of these, some of them do make a point in deviating from
any element that can be identified with it.
Many raisons could be pointed out to explain such situation. Yet, two
could be considered the most important. In Brazil, Olympism is regard as a
form of ideological and politic manipulation and an element of the cultural
industry.
This seems to be true considering that nowadays the means of
communication have carried out a fundamental role in the globalization of
culture. Throughout the media, sport comes daily into people's lives all around
the world and has become an object of consume. It is possible to say that
sport has taken on merchandise features and used with the intent to transform
the spectator in consumer.
Similarly, if we analyze the development of sport, especially the Olympic
Games, it is difficult to deny that sport has been used to promote political
ideologies in several countries. In Brazil, because of the absence of democratic
background and the low education level of the population, physical education
and sport became powerful elements in the policies of authoritarian
governments and in the charges of the cultural industry.
286
Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil
Final Remarks
The strong links between Olympism and authoritarian political ideologies
as well as its close connection to cultural colonialism and commercialism put
serious difficulties for the introduction of Olympism and Olympic education
in Brazil, particularly in schools.
Although this criticism is correct, it is necessary to say that physical
education, sport and Olympism, as social and cultural phenomena, can also
hold a critic dimension. In this sense, it is important to deviate from the
concept that they are solely ideological apparatus of the State and elements of
the cultural industry. This approach takes away all their possible critical and
educational contents.
It is important to have in mind that Olympism is part of the contemporary
physical culture. It embodies a conception of life that includes a set of values
and the pedagogical propose to transmit them to the future generations
throughout sport. If we believe school is a place to (a) acquire systematized
knowledge to understand and have a critical view about our and other cultures;
(b) to build up a set of values such as justice, liberty, democracy, fraternity, and
so on; and (c) to develop intellectual and physical skills that enable the use of
the mind and body in a more refined way, then we have to consider the
possibility to include Olympism as part of its contents.
Of course, from the fact that some content is part of the contemporary
culture does not necessary follow that it must be taught in school. The criteria
to decide what is to be taught vary according to social decisions and in
conformity with the importance that each subject receives in a specific
historical and cultural context. There is no doubt, however, that sport and
Olympism if critically studied from a historical, socio-anthropological and
philosophical perspective can afford some interesting insights about ourselves
and the world we life.
* Este trabalho foi apresentado no 1st International Seminar for Postgraduate Students of Physical
Education and History, realizado pela Academia Olímpica Internacional, na cidade de Antiga
Olímpia, Grécia, de 15 de maio a 1 de julho de 1993.
Bibliography
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Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil
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Universidade do Porto. Vol. 1. pp. 379-391.
288
Epistemological notes on the Theory of Sport
Alberto Reinaldo Reppold Filho - University of Rio Grande do Sul, Brazil
I would like to begin my presentation saying that I am very glad to be in
Olympia again. In 1993, I had the opportunity to participate in the 1st
International Seminar for Postgraduates as a student. Parallel to the academic
activities I had the chance to make many friends and learn about other
cultures. To return to Olympia after these years brings back many nice
memories. For these reasons I would like to thank Professor Ingomar Weiler
for the invitation to participate in his lectures and Mr. Kostas Georgiadis,
Dean of the Academy, for making all the efforts to make possible my
participation.
I was asked to present some ideas about my topic of studies with the aim
to give continuity to the discussion started in the first afternoon meeting. My
presentation will be short leaving time for discussion. The topics to which I
am going to direct attention are related to the process of theory building in
disciplines that belong to the so called Sports Sciences, our concern in this
seminar. I will make use of the conceptual framework of the philosophy of
social sciences since it can help us to deal with the sort of problems we are
going to examine. One of the aims of this area of investigation is the critical
examination of the concepts and theories in disciplines such as sociology,
anthropology, history, economics, political science and some branches of
psychology, as for example, social psychology..
I would like to examine two problems that in my point of view are
connected with the discussion we had some days ago concerning the theories
about the origins of sport. The first one is related to the definition of sport. I
would formulate the question in the following way: “Is there any sense to
apply the term ‘sport’ to refer to activities such as boxing, pankration and others
performed by the Greeks in the Ancient Olympic Games?” The second point I
would like to pay attention is the evolutionist assumption that seems to
support the arguments presented by some scholars in relation to the origins of
sport. I would like to make this point because in my opinion it conflicts with
some current assumptions in the field of social anthropology.
Let me first look to the problem of the definition of sport. The definition
of sport has been one of the central concerns of philosophy of sport during
the last decades. Several scholars have attempted to establish a definition of
sport. The lack of a precise definition has been presented as a barrier for the
development of a theory of sport. This problem could be presented in the
following manner: “Is it possible to develop any theory of sport without a
proper definition of sport?”
289
Epistemological notes on the Theory of Sport
There is a general agreement that a definition has two main features:
intention and extension. The intention can be defined as the property or set of
properties that something must posses in order to belong to the class of things
covered by that definition. In other words, the intention of a definition is the
criterion of inclusion in the class. Let me give you an example to illustrate this
point. Suppose I ask you to go to the sports office and find a football ball. If
you have no idea of what a football ball is, you will not be able to find it.
Therefore, I have to give you some feature(s) of the football ball in order to
allow you to identify it as such. The extension of a definition can be defined as
the element or elements that belong to the class of things covered by that
definition.. It is important to mention that there is an inverse relation between
the intention and extension of a definition. If you ascribe to many features to
the intention, you reduce the members of the class, the extension. This also
works in the opposite way.
Having these properties of definitions in mind, I would like to move now
to two positions in relation to the definition of sport: essentialism and nonessentialism. I will not be able to elaborate in this point. However, I want to
mention that the essentialist position holds the idea that there is such thing as
an essence of sport. The essence of sport is understood as a property or set of
properties common to all those things we call sport and without which sport
stop to be what it is. The followers of this idea set as their task to find or
establish these properties.
The non-essentialists do not believe in such a thing as an essence of sport.
For them, we arbitrarily named some things sport and this word has been used
in several different contexts and with several meanings. Trying to find some
common feature among them is an illusory enterprise. They also argue that the
current attempts to define sport fail either because they are too broad or too
narrow. Either they include things that we do not usually consider sport, or
they exclude things that we usually consider sport.
Some scholars have attempted to solve the problem of the definition of
sport using the notion of “family resemblance” developed by Wittgenstein
(1995). This philosopher denied that all definitions must be explained by
specifying the necessary and sufficient conditions for the application of the
definiendum. For him, the members of the extension of a definition may be
united not by essential common characteristics, but by a network of
overlapping but discontinuous similarities. In other words, there must be
similarities between the adjacent members of a series and no similarities at all
between the members in the extremes.
290
Epistemological notes on the Theory of Sport
Fogelin (1972) illustrates this situation in the way below; the each type of
sport is represented by E and the their properties by the letters A to H.
E1
E2
E3
E4
E5
A
B
C
D
B
C
D
E
C
D
E
F
D
E
F
G
E
F
G
H
According to this figure, certain properties are common to more than one
sport (E2 and E3) while others have non-common properties at all (E1 and
E5).
I hope this short view gives you an idea about some of the current
positions and difficulties in relation to the definition of sport. I hope it also
shows the problem it poses for those who argue that a proper definition of
sport is a necessary condition for developing a theory of sport.
Before moving to the next part, it seems important to say that there are
other positions regarding the matter that would also deserve attention. There
are, for example, some authors who argue that a definition only achieve its full
meaning in the context of the theory it belongs. In this sense, any definition of
sport is theory-dependent. The lack of time, however, does not allow me to
look at them now. Maybe we can return to this point during the discussion.
Let me move now to the second point. I would like to put forward the
following thesis: “The current position in social anthropology puts difficulties
for the development of evolutionist theories about the emergence and
development of sport.”
The evolutionists would say that human societies pass for different stages
of evolution. A more advanced one follows each of the stages. This position is
based on the 19th century ideas of evolution set forward by the British
naturalist Charles Darwin.
Blanchard and Cheska (1985) in their famous book ‘The Anthropology of
Sport’ argue in favour of an evolutionist theory of sport. This position
becomes evident by the examination of the major idea presented in the book,
that is ‘the adaptive value of sport’. Sport would play some function in the
adaptation of human beings to the social and environmental changes.
This idea conflicts with some current positions in social anthropology. This
academic discipline is deeply rooted on a cultural relativism. I would define
cultural relativism as a doctrine that suggests a cultural system or any part of it
can only be evaluated on its own terms. In this respect, sports and games
would take distinctive forms and have distinctive significance in different
societies.
291
Epistemological notes on the Theory of Sport
This poses the problem of incommensurability. Because every culture is
based on their own set of values and beliefs they cannot be completely
understood using the set of values and beliefs of other cultures. Therefore,
what would be the criteria to compare such cultures and develop a general
theory of sport?
The problem with evolutionist accounts of sport is that they have to
develop a theory that embraces societies so geographically, temporal and
culturally distinct and remote from each other as the American natives, the
ancient Greeks, and the modern Europeans.
Well, I will stop here. I thank you for the attention and hope these
comments will help in our discussions on the theory of sport.
* Este ensaio foi apresentado no 5th International Postgraduate Seminar on Olympic Studies,
realizado pela Academia Olímpica Internacional, na cidade de Antiga Olímpia, Grécia, no período
de 1º de maio a 15 de junho de 1997.
Bibliography
BLANCHARD, K. and CHESKA, A.T. (1985) Anthropology of sport: an
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WITTGENSTEIN, L. (1995) Philosophical Investigations.. Oxford, Blackwell.
292
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América
do Sul
Alberto Reinaldo Reppold Filho - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre/RS
Introdução
Existem vários temas relacionados ao esporte na América do Sul que
podem ser de seu interesse. Uma apresentação, contudo, coloca limites e o
critério para decidir o que deve ou não ser incluído é, via de regra, uma questão
de escolha pessoal. As vezes aquilo que consideramos ser essencial torna-se
secundário quando olhando a partir de um outro ponto de vista. Espero que
minha escolha esteja de acordo com as suas expectativas e forneça uma visão
do desenvolvimento e perspectivas do esporte na América do Sul.
Na primeira parte da apresentação destacamos alguns problemas que
interferem do estudo do esporte na América do Sul. São feitas referências a
algumas das razões que tornam a caracterização precisa do esporte nesta região
uma tarefa difícil.
Na segunda parte fornecemos uma visão panorâmica na história dos jogos
e esportes na América do Sul. Abordamos de maneira breve três amplos
períodos. O primeiro focaliza os grupos indígenas na América PréColombiana. É dirigida atenção a algumas das questões que têm interessado os
pesquisadores, tais como: “Que que tipos de jogos praticavam as populações
indígenas?” “Quais eram as funções destes jogos?” “Assemelhavam-se os
jogos indígenas a alguma forma de jogo europeu?” O segundo período cobre
os jogos e passatempos da sociedade colonial e explora questões como: “Que
tipos de jogos foram introduzidos na região pelos europeus e africanos?” “Em
que extensão as interações das culturas européias, indígenas e africanas
produziram novas formas de jogos?” A terceira parte enfoca o período do
aparecimento e desenvolvimento do esporte moderno1 na América do Sul e
procura responder as seguintes questões: “Quando os esportes modernos
apareceram na região?” “Como eles se disseminaram?”
A parte final da apresentação concentra-se em assuntos atuais relacionados
ao esporte em países sul-americanos. São focalizados aspectos econômicos e
comerciais, políticas urbanas e participação de massa, esporte e currículo
escolar, formação profissional, programas de pós-graduação e pesquisa, e
Olimpismo e Educação Olímpica. Nesta parte, a atenção será dirigida para o
Brasil, uma vez que o conhecimento e experiência do palestrante concentramse naquele país.
Para o conceito de esporte moderno, ver A. Guttmann (1978) From ritual to record: the nature of
modern sports. New York, Columbia University Press.
1
293
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
1. Problemas que afetam a pesquisa sobre o esporte na América do Sul
Desde o período Pré-Colombiano, as populações que habitam as diferentes
regiões da América do Sul têm experimentado formas variadas de jogos e, mais
recentemente, esportes. Não obstante, a região não era até pouco tempo atrás
objeto de investigação sistemática da comunidade científica tanto em nível
local como internacional. Nas últimas décadas, esta situação mudou. O
interesse acadêmico na região tem aumentado de maneira acentuada. Isto pode
ser confirmado pelo número crescente de estudos históricos, sociológicos e
antropológicos publicados desde a segunda metade da década 80.
Entretanto, alguém que deseje realizar pesquisas na região enfrentará sérias
dificuldades. Por um lado, a maioria dos estudos relevantes produzidos em
universidades e centros de pesquisa sul-americanos não alcança a comunidade
internacional. Entre os principais fatores que contribuem para tal situação
encontra-se o idioma, uma vez que a maioria dos estudos publicados na
América do Sul é escrita em espanhol e português.
Por outro lado, uma parcela significativa das investigações feitas por
pesquisadores europeus, norte-americanos e de outros locais do planeta não
alcança a comunidade acadêmica da região. Isto em grande parte se deve a falta
de recursos financeiros. As universidades sul-americanas trabalham com
orçamentos reduzidos. Esta situação torna difícil a manutenção e atualização
das bibliotecas, o financiamento para a participação em congressos
internacionais e a organização de eventos científicos com a presença de
pesquisadores estrangeiros de renome. As comunidades acadêmicas locais
ficam assim impossibilitadas de manterem-se pare e passo com os
desenvolvimentos internacionais. É verdade que existem esforços
institucionais e pessoais para estabelecer vínculos mais sistemáticos e
duradouros entre as comunidades acadêmicas locais e internacionais. Estes,
entretanto, ainda estão restritos a algumas poucas universidades e
pesquisadores.
Além disso, existem problemas de comunicação em nível regional. As
publicações científicas, com raras exceções, são restritas ao público interno de
cada país, tornando o acesso difícil até mesmo para pesquisadores que vivem
na região. O mesmo pode ser dito sobre a localização de fontes primárias para
pesquisa. Existem poucos centros de documentação e o atual estado de
dispersão e deteriorização de documentos e materiais relevantes para a
pesquisa torna bastante difícil uma caracterização adequada dos esportes na
América do Sul.
2. Retrospectiva Histórica
Seguindo o caminho de pesquisadores contemporâneos, diria que a história
do esporte na América do Sul é a história da adoção e difusão do esporte
294
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
inventado e institucionalizado pelos europeus e norte-americanos1. Isto,
entretanto, é apenas uma parte da história, pois os jogos nativos e africanos
ainda desempenham papel relevante na vida de algumas comunidades locais.
Da mesma forma, vários jogos e esportes foram transformados ou adaptados
pelas comunidades locais. Um breve olhar em três amplos períodos da
experiência sul-americana com jogos e esportes ilustram estes pontos.
2.1. Jogos Indígenas no Período Pré-Colombiano
A visão comum, que as vezes temos, de uma população indígena estática
que se viu forçada a enfrentar dinâmicos e expansivos impérios europeus está
longe de ser verdade. A América Pré-Colombiana era um cenário bem mais
complexo. Havia uma diversidade de grupos étnicos, idiomas e religiões. Os
povos indígenas encontravam-se em diferentes estágios de desenvolvimento
social, econômico e tecnológico.
Alguns destes grupos, como o Incas, eram altamente desenvolvidos em
termos de estrutura política, econômica e social e dominaram vastos
territórios; enquanto outros eram povos semi-sedentários e nômades que
viviam fora dos limites destas sofisticadas sociedades e tinham pouco e as
vezes nenhum contato com tais desenvolvimentos.
As evidências sugerem que os jogos faziam parte da vida de muitos destes
povos, dos mais aos menos desenvolvidos. Os jogos de bola eram comuns
entre os Incas e Chimus. O Araucanas, um grupo semi-sedentário que vivia na
região onde é atualmente o Chile, praticava jogos com e sem tacos, varas, e
bastões.
Existem também descrições de competições que envolviam lutas e jogos de
bola entre o Yahgan, um pequeno grupo de caçadores e catadores que
habitaram as partes mais meridionais da América do Sul2. Os jogos que
envolviam apostas também eram uma prática difundida entre os grupos
indígenas.
As pesquisas recentes demonstram que existem similaridades em
concepção e formato entre vários jogos de bola praticados por indígenas tanto
no continente como nas ilhas do Pacífico e Caribe. Isto dá sustentação a
conjectura de uma origem comum destes jogos3.
Concluindo estas notas sobre os jogos no período pré-colombiano, é
importante destacar o trabalho do padre jesuíta francês, Joseph-François
Ver J. L. Arbena (1995) ‘Nationalism and sport in Latin America, 1859-1990: the paradox of
promoting and performing “European” sports’, The International Journal of the History of Sport, 12(2)
p. 221
2 Para mais informações sobre os jogos dos Yahgan, ver K. Blanchard and A. Cheska (1985) The
anthropology of sport. South Hadley, Mass. Bergin & Garvey. p. 146-150.
3 Ver W. Kramer-Mandeau (1992) ‘Tradition, transformation and taboo: European games and
festival in Latin America, 1500-1900’, The International Journal of the History of Sport, 9(1)63-82.
1
295
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
Lafitau, que em sua etnografia dos costumes dos índios americanos realizada
no século XVIII já sugeria semelhanças entre os festivais e jogos fúnebres
desses índios com os realizados pelos gregos antigos4.
2.2. Os Passatempos e Jogos Coloniais
A chegada dos europeus e africanos provocou profundas mudanças na vida
das populações indígenas. Os conquistadores portugueses e espanhóis
produziram alterações na estrutura econômica e social e impuseram uma forma
de religião com normas e valores estranhos aos das comunidades nativas. A
vinda de escravos africanos na segunda metade do século XVI adicionou mais
elementos a este cenário. Vindos de diferentes partes da África, trouxeram
uma variedade de idiomas, costumes e religiões. Entre outras coisas, os
africanos e europeus trouxeram várias formas de jogos e divertimentos. O
encontro de índios, africanos e europeus ofereceu também a possibilidade de
interação em termos de jogos e passatempos.
Durante os primeiros dois séculos da colonização, os europeus
transferiram seus jogos sem grandes alterações para a América do Sul. As
touradas, brigas de galo e jogos de tacos eram as atrações principais. Com a
diminuição da influência portuguesa e espanhola alguns destes jogos mudaram
de estrutura. As touradas, por exemplo, deram lugar a uma forma de rodeio no
Chile. A pelota basca, um tipo de jogo de bola, foi também modificado,
assumindo vários nomes e modos de jogar5.
Alguns jogos mudaram o significado e outros foram proscritos. Estas
modificações aconteceram principalmente nos festivais e jogos indígenas que
envolviam aspectos eróticos e combates como, por exemplo, as competições
que ocorriam durante as cerimônias religiosas em Acobamba, Peru. Nestes
eventos “grupos de homens batiam uns nos outros com tacos e, as mulheres
recolhiam o sangue e o enterraravam na terra para promover a fertilidade”6.
Finalmente, existem formas de jogos nativos que resistiram à influência
européia como, por exemplo, o tinku, um festival tradicional envolvendo lutas
de socos praticadas entre os índios bolivianos7. Os elementos africanos
também persistiram em especial na capoeira e no maculelê, mistura de luta e
Ver I. Weiler (1995) ‘Joseph-François Lafitau (1681-1746) and the beginning of comparative
Sport History: some notes on Ethnography and Ancient History’, The International Journal of the
History of Sport, 12(3)169-179.
5 Esta parte toma como referência principal o estudo de W. Kramer-Mandeau (1992) ‘Tradition,
transformation and taboo: European games and festival in Latin America, 1500-1900’, The
International Journal of the History of Sport, 9(1)63-82.
6 ibid., p. 73.
7 J. L. Arbena, (1993) ‘Sport and social change in Latin America’ in A. G. Ingham and J. W. Loy
(eds.) Sport in social development: traditions, transitions and transformations. Champaign, IL, Human
Kinetics. p. 107
4
296
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
dança bastante difundida no Brasil. Os elementos cultural e religioso
favoreceram a sobrevivência destes jogos.
2.3. O Esporte Moderno na América do Sul
2.3.1. A Emergência e os Primeiros Anos
É difícil precisar como e quando as primeiras formas de esporte moderno
apareceram nos países sul-americanos. No final do século XVIII, a presença
britânica na Argentina, Chile e Uruguai era tão intensa que estes países eram
considerados por alguns como parte informal do império8. Existem evidências
para apoiar o argumento de que o esporte começou com a chegada britânica e
desenvolveu-se sob a sua influência durante as primeiras décadas do século
passado.
Na Argentina, marinheiros britânicos já jogavam cricket e uma forma de
futebol na virada do século XIX. A primeira manifestação de esporte
organizado apareceu com a fundação de um clube de cricket por um
comerciante de Yorkshire em 1819. O futebol organizado também foi um
produto britânico, primeiro em Buenos Aires e, depois, expandiu-se pelo
interior por influência dos trabalhadores britânicos das estradas de ferro. Em
1867, o Buenos Aires Football Club, o primeiro time no país, foi formado do
britânico Buenos Aires Cricket Club. A primeira liga foi estabelecida em 1891 sob
a influência da comunidade britânica que vivia em Buenos Aires e arredores.
Os primeiros clubes de futebol eram quase exclusivamente para britânicos. O
primeiro presidente da Association Argentina Football League foi o escocês
Alexander Watson Hutton e, um dos clubes mais importantes começou a
partir da equipe de uma escola secundária inglesa. A fundação de clubes de
natação e golfe e a introdução de outros esportes como o rúgbi, pólo, boxe,
turfe, remo, squash e tênis de campo também se devem aos britânicos9.
No Uruguai e Chile, o aparecimento do esporte não foi diferente da
Argentina. Os britânicos foram responsáveis pela introdução do futebol e
cricket na primeira metade do século passado. Um clube de cricket foi
estabelecido em Montevideo em 1842 e outros clubes se seguiram.
No Brasil, o futebol foi apresentado às comunidades locais por Charles
Miller, um filho de ingleses nascido no Brasil, em 1894. Entretanto, existem
estudos afirmando que marinheiros já praticavam jogos deste tipo no país nas
décadas de 1860 e 187010.
8 Sobre a influência Britânica na emergência do esporte na América do Sul, ver H. Perkin (1989)
‘Teaching the nations how to play: sport and society in the British Empire and Commonwealth’,
The International Journal of the History of Sport, 6(2) p.148-149.
9 A. Guttmann (1994) Games and empires: modern sports and cultural imperialism. New York, Columbia
University Press. p. 57.
10 Ver T. Mason (1995) Passion of the people? Football in South America. London, Verso. p. 9.
297
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
2.3.2. Desenvolvimentos no Século XX
Na mudança do século, o esporte tinha se tornado um elemento comum na
paisagem urbana sul-americana e o seu perfil estava cada vez mais próximo do
modelo ocidental. O estabelecimento de organizações esportivas e de
legislação específica para o esporte estão entre os fatores que levaram ao
florescendo de atividades esportivas no continente. Isto também conduziu a
um desempenho significativo dos países sul-americanos no cenário esportivo
internacional.
Na Argentina, o boxe, o pólo e o futebol estavam bastante desenvolvidos.
No boxe, por exemplo, a Argentina dividiu as primeiras posições nos Jogos
Olímpicos com os Estados Unidos entre 1924 e 1952, ganhando um total de
20 medalhas (7 ouro, 7 prata e 6 bronze) contra 22 dos norte-americanos. Os
pugilistas argentinos obtiveram as primeiras colocações na categoria dos penas
de 1924 a 1936 e nos super-pesados de 1924 a 1948 e alcançaram as rodadas
finais em várias outras categorias11.
A influência norte-americana pode também ser observada nas atividades
desenvolvidas pela Associação Cristã de Moços (ACM) em vários países da
América do Sul. Esta associação fez bastante para promover o esporte e a
educação física no continente. O voleibol e basquetebol tornaram-se populares
em grande parte ao seu trabalho e, depois do futebol, são os esportes mais
difundidos. No Uruguai, por exemplo, a ACM estabeleceu-se em 1909. A
importância desta associação no desenvolvimento de esportes como o
basquetebol, pode ser notada pelos bons resultados que o país alcançou em
competições internacionais. Entre 1936 e 1964, o Uruguai obteve duas
medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos e em várias outras ocasiões ficou
entre as oito melhores equipes.
No Brasil, o esporte e a educação física foram objetos de grande interesse
de 1930 a 1945. O governo do Presidente Getúlio Vargas os incluiu em um
projeto político e econômico mais abrangente. A educação física e esporte
fizeram parte de um programa de educação nacional cuja meta era transmitir a
ideologia da eugenia e do nacionalismo. Neste período foram criadas várias
organizações para desenvolver e controlar estas atividades esportivas no país.
As mais importantes foram a Divisão de Educação Física (1937), a Escola
Nacional de Educação Física e Desportos (1939) e Conselho Nacional de
Desportos (1941). Além disso, foram aprovadas leis e regulamentos referentes
à educação física e esporte para as escolas primárias e secundárias.
Na década de 70, a preocupação com os esportes reapareceu nas políticas
do governo. O esporte e educação física tornaram-se mais uma vez assuntos
de interesse político. Neste período, foram introduzidas leis e destinados
11 Estas informações foram retiradas de D. Wallechinsky (1996) The complete book of the olympics.
London, Aurum Press. p. 275-310.
298
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
recursos orçamentários para apoiar o desenvolvimento do esporte amador,
profissional e escolar.
No final dos anos 70, teve início um movimento que influenciou setores da
educação física e esporte brasileiro. Este movimento estabeleceu uma crítica
aos modelos de educação física e esportes vigentes no país a partir dos
referencias teóricos e metodológicos das correntes de esquerda. Os seguidores
deste movimento viam o esporte como um instrumento para mudanças
políticas e sociais e dirigiram atenção às camadas mais carentes e
marginalizadas da população. Eram enfatizados os jogos e esportes populares
em razão dos fortes elementos culturais que os constituem e que eram chave
na visão do movimento.
3. Situação atual e perspectivas
Tendo esta breve retrospectiva histórica como pano de fundo, gostaria de
mover à parte final da apresentação. Como mencionado anteriormente,
pretendo nesta parte ressaltar alguns aspectos da situação atual e das
perspectivas do esporte na América do Sul.
3.1. Aspectos Econômicos e Comerciais e Participação de Massa
Os países sul-americanos foram integrados na economia global em
diferentes ritmos e caminhos. Os estudos indicam que a área do esporte seguiu
um padrão semelhante. O exame de documentos fornecidos por diferentes
fontes evidencia o grande volume de capital investido em atividades esportivas
e de lazer, como também o impacto das mesmas nas sociedades sulamericanas.
Segundo dados de revista brasileira, existem 15 mil academias e centros
esportivos espalhados pelo país. Em 1996, 200 milhões de reais foram gastos
em aparelhos esportivos importadas do E.U.A.. A indústria das academias
movimenta anualmente 2 bilhões de reais12.
Nas últimas décadas, os rodeios se tornaram a nova moda no Brasil.
Calcula-se que 24 milhões de pessoas assistiram os rodeios em 1995 e,
estimava-se que 1.200 rodeios teriam sido realizados no país ano passado. Este
lucrativo negócio foi calculado para gerar ao redor de 500 milhões de dólares13.
A importância crescente do esporte na vida da população sul-americana
também pode ser vista na extensa cobertura dada pela mídia a eventos
esportivos, ao aparecimento e crescente popularidade do esporte para
mulheres, idosos e pessoas com necessidades especiais, como também, pela
emergência de novas formas de esporte, em especial, os chamados radicais ou
de natureza.
12
13
Ver K. Pastore (1997) ‘Em busca do corpo desejado’, Veja, January 8, p. 71-72.
Ver M. Margolis (1996) ‘Bikinis and boots?’, Newsweek, June 17, p. 24.
299
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
Entretanto, as enormes desigualdades econômicas e sociais têm restringido
o acesso a eventos e instalações esportivas apenas às camadas sociais mais altas
da população. A maior parte da riqueza dos países concentra-se em certas
regiões e num número relativamente pequeno de pessoas. Isto inibe a
participação de massa e suscita questões sobre o papel do estado com relação
ao esporte.
Os governos de alguns países já haviam assumido a responsabilidade pela
formulação de políticas nacionais para o esporte várias décadas atrás. Mais
recentemente, com a rápida urbanização, as grandes cidades também
começaram a estabelecer políticas de esporte e lazer. Estudos recentes
realizados na cidade de Porto Alegre, Brasil, evidenciam alguns problemas
críticos relacionados a este setor em áreas metropolitanas. A população e os
movimentos sociais não colocam o esporte e lazer como tópicos importantes
na agenda de reivindicações junto ao poder público. Ao contrário, tendem a
dirigir atenção para outros problemas urbanos considerados mais prioritários
como educação, transporte e habitação.
3.2. Programas e Currículos Escolares
Na maioria dos países sul-americanos a educação física e os esportes são
partes integrantes do currículo escolar. Porém, a insuficiência de recursos para
a educação primária e secundária é responsável pelo baixo nível dos programas
escolares. A maioria das escolas não possui instalações e equipamentos
adequados, e em vários países é comum encontrar professores sem
qualificação atuando na área.
A falta de educação esportiva também é agravada pelo fato de que um
grande número de crianças e jovens estudantes têm que abandonar a escola
durante os primeiros anos de escolarização. A razão principal para isto é a má
situação econômica de suas famílias. No Brasil, por exemplo, mais do que
cinqüenta por cento das crianças e jovens abandonam a escola por necessidade
de encontrar trabalho para auxiliar na renda familiar. Como conseqüência, a
aprendizagem esportiva na América do Sul é mais um produto de processos
informais do que da educação escolar.
3.3. Formação Profissional, Programas de Pós-graduação e Pesquisa
Em geral, os países sul-americanos possuem programas de formação
profissional em educação física e esporte. Alguns deles existem a mais de
cinqüenta anos. No Brasil, existem atualmente mais de 130 departamentos de
educação física e ciências do esporte. Estes se encontram, na grande maioria,
localizados em instituições isoladas de ensino superior, com instalações
esportivas precárias, pessoal trabalhando em tempo parcial e nenhum interesse
em pesquisa. Muitos destes cursos enfocam apenas os aspectos técnicos da
prática do esporte, não provendo uma sólida formação científica e pedagógica.
300
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
Existem, porém, departamentos de educação física e ciências do esporte com
elevados padrões de formação. Estes se encontram em sua grande maioria
localizados na região centro-sul do país e fazem parte de universidades
públicas.
Os programas de pesquisa e pós-graduação eram escassos na região até
duas décadas atrás. No caso do Brasil, a qualificação para o ensino superior e a
investigação sistemática começaram com a criação dos primeiros programas de
pós-graduação em 1977. A pesquisa científica recebeu impulso com a
formação do primeiro programa de doutorado em 1989. Na atualidade,
existem oito cursos de mestrado e quatro programas de doutorado oferecidos
por departamentos de educação física e ciência de esporte. Até alguns anos
atrás, a maioria do pessoal recebia o treinamento acadêmico no exterior,
especialmente na América Norte e Europa, ou em departamentos de fisiologia,
medicina e educação no Brasil. Além disso, existem vários periódicos
científicos em circulação nacional publicados por universidades e sociedades
científicas. Um dos problemas principais do desenvolvimento científico no
país é a falta de apoio financeiro regular. As perspectivas não são promissoras
uma vez que o governo tem reduzido o orçamento das universidades.
3.4. Olimpismo e Educação Olímpica
Os países sul-americanos envolveram-se com o esporte olímpico em
diferentes períodos. O Chile, Uruguai, Brasil e Argentina integraram-se nas
primeiras décadas deste século, enquanto outros países iniciaram sua
participação entre 1945 e 1960.
Apesar do Brasil ter participado em várias edições dos Jogos Olímpicos, o
Olimpismo não existe no país enquanto movimento. Em que pesem os
esforços de várias pessoas, falharam até o momento as tentativas de criação da
Academia Olímpica Brasileira. Na América do Sul, o Brasil é o único país sem
uma instituição do gênero.
Na comunidade acadêmica, o Olimpismo ainda desperta pouco interesse,
não sendo objeto de investigações científicas, publicações e debates. Em
alguns cursos de ensino superior, o assunto faz parte da disciplina de História
de Educação Física e Esporte. Porém, mesmo nestes cursos, o Olimpismo é
apresentado como um tema secundário e, via de regra, estudado numa
perspectiva pouco crítica e distanciado de seus desafios atuais.
O Olimpismo também não faz parte do currículo das escolas primárias e
secundárias. Existem várias razões para justificar tal situação. Por um lado,
existem pessoas que não dão atenção ao assunto por considerar o Olimpismo
uma utopia do século passado, uma espécie de idealismo ultrapassado. Por
outro lado, existem pessoas que o condenam por considerá-lo uma forma de
comercialismo e imperialismo cultural. A julgar pela situação atual é possível
301
Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul
afirmar que, pelo menos em curto prazo, o Olimpismo tem poucas chances de
ser incluído no currículo escolar.
Conclusão
Ao apresentar esta visão panorâmica do esporte na América do Sul e
destacar alguns de seus elementos atuais, minha intenção foi fornecer uma
visão breve daquilo que em meu ponto de vista constitui uma parte importante
das indagações da comunidade acadêmica nesta área.
Entretanto, como sugeri no início da exposição, existem várias dificuldades
que necessitam ser ultrapassadas para que se possa estabelecer um perfil mais
preciso do esporte na região. Assim diria, para concluir, que estou de acordo
com aqueles que afirmam que as questões mais fundamentais acerca do
desenvolvimento e estado atual do esporte na América do Sul ainda estão por
serem respondidas.
* Este ensaio foi apresentado na reunião anual da Academia Olímpica Britânica. O encontro
ocorreu de 21 a 23 de março de 1997, na Universidade de Loughborough, no Reino Unido. A
versão original em inglês encontra-se publicada nos anais do evento.
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comparative Sport History: some notes on Ethnography and Ancient History,
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304
PROGRAMA
___________________________________________________
PROGRAMA DO FÓRUM OLÍMPICO 2000
Dia 2/6/2000 – Sexta-feira
09h00 – 12h00 Recepção dos Participantes e Entrega do Material
10h00 – 12h30 Sessões de Comunicação Oral
Sala 51 – AMRIGS
•
Estudo longitudinal e transversal do crescimento e desenvolvimento
nutricional das crianças da rede municipal de Santa Cruz do Sul
Gilmar Fernando Weis (Universidade de Santa Cuz do Sul)
Ursula Müller (Universidade de Santa Cuz do Sul)
•
Validação de instrumentos de medida na modalidade de basquetebol
Christiano Guedes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da
modalidade de futsal
Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Osvaldo Donizete Siqueira (Universidade Luterana do Brasil)
Marcelo Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Lisiane Torres (Universidade de Santa Cuz do Sul)
•
Estrutura da performance desportiva: Um estudo referenciado ao futsal na
categoria juvenil
Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Osvaldo Donizete Siqueira (Universidade Luterana do Brasil)
Marcelo Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Lisiane Torres (Universidade de Santa Cuz do Sul)
•
Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível
sócio-econômico e do gênero sexual no cotidiano de Jovens Atletas
Lisiane Torres (Universidade de Santa Cuz do Sul)
Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a
performance em atletas de voleibol do sexo masculino
Gustavo M. Gonçalves (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Daniel Carlos Garlipp (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Marcelo Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Metodologia alternativa no ensino de judô para iniciantes
Clarissa B. de Carvalho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
306
Sala 53 – AMRIGS
•
A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento
harmonioso dos atletas: um princípio do Olimpismo
Maurício G. Bara Filho (Universidade Gama Filho)
Luiz Scipião Ribeiro (Universidade Gama Filho)
Renato Miranda (Universidade Gama Filho)
Lamartine DaCosta (Universidade Gama Filho)
•
Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em
equipes de futsal
José Augusto E. Hernandez (Universidade Luterana do Brasil)
Rogério da Cunha Voser (Universidade Luterana do Brasil)
Roberto Mário Scalon (Universidade Luterana do Brasil)
Mariele de Moraes Gomes (Universidade Luterana do Brasil)
•
Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre
adultos brasileiros e americanos
Adriana Barni Truccolo (Universidade Luterana do Brasil)
Eduardo H. De Rose (Associação Médica do Rio Grande do Sul)
•
Comportamento agressivo em escolares do ensino fundamental de Santa
Cruz do Sul: uma abordagem através da teoria dos sistemas ecológicos
Sandra Mara Mayer (Universidade de Santa Cuz do Sul)
•
Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de
iniciação desportiva pela criança
Roberto Mário Scalon (Universidade Luterana do Brasil).
•
Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de
iniciação desportiva pela criança
Roberto Mário Scalon (Universidade Luterana do Brasil)
•
Rendimento: uma categoria do desporto como elemento positivo para os
cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais
Cláudio Mandarino (Universidade Luterana do Brasil)
Francisco C. Netto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Teatro – AMRIGS
•
A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para jovens participantes:
um relato de experiência
Arianne Carvalhedo (Universidade Gama Filho)
Nelson S. Todt (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
307
•
A importância do judô nos cursos de Educação Física
Cíntia Brasil Cardoso (Universidade do Vale dos Sinos)
Alexandre Velí Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Estudo de caso na recuperação pós-cirúrgica de atleta de judô visando
seletiva das olimpíadas de Sydney 2000
Luciano Ferroni (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Alexandre Velí Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
A participação do pólo-aquático brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua
ausência em competições importantes
Sílvio de Cassio Costa Telles (Universidade Gama Filho)
Antônio Jorge Soares (Universidade Gama Filho)
•
Comportamento em situações de competição de alunos do 2° Grau
instruídos quanto aos códigos do espírito esportivo (Fair Play)
Marcio Turini Constantino (Universidade Gama Filho)
•
Projeto “Educação Olímpica na Escola”: o uso da Internet para difundir a
Educação Olímpica no Brasil
Cristiano Mega Belém (Universidade Gama Filho)
•
Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: um texto endereçado aos
alunos das graduações
Fernando Portela (Universidade Gama Filho)
Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo)
12h30 Intervalo Almoço
14h00 – 15h00 Mesa Redonda – Teatro – AMRIGS
Academia Olímpica Brasileira: Desafios e Perspectivas para o Próximo Milênio
Lamartine DaCosta (Presidente da Academia Olímpica Brasileira)
Alberto Reinaldo Reppold Filho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Gergios Hatzidakis (Universidade Bandeirante de São Paulo)
Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo)
15h00 – 16h00 Abertura Oficial da Exposição Olímpica – Área de
Exposição AMRIGS
16h15 – 18h15 Fóruns Esportivos Específicos
Atletismo – Sala 51 - AMRIGS
Paulo Sérgio S. dos Santos (Presidente da Federação Atlética Riograndense)
Ivon Rocha Júnior (Universidade Federal de Santa Maria)
Luís Fernando Moraes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
José Aroldo Loureiro Gomes (Gerente de Esportes da SOGIPA)
308
Ginástica – Sala 53 - AMRIGS
Sigfried Fischer (Vice-Presidente da Federação Internacional de Ginástica)
Badminton – Ginásio - ESEF
Vera Lúcia Mastrascusa (Presidente da Federação Gaúcha de Badminton)
Raquel Federcini (Presidente da Federação Mineira de Badminton)
Alexandre Martins (Diretor Técnico da Federação Gaúcha de Badminton)
18h15 – 19h00 Sessão de Posters – Área de Exposição – AMRIGS
•
A Carta do Fair Play: identificando seus valores universais
Fernando Portela (Universidade Gama Filho)
•
Análise das intervenções pedagógicas em programas de iniciação ao Futsal
Rogério da Cunha Voser (Universidade Luterana do Brasil)
•
Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear
durante corrida em esteira
Leonardo P. Tartaruga (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Marcus P. Tartaruga (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Ana Carolina Larronda (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Leonardo Rossato Ribas (Sociedade Ginástica Porto Alegre)
Jefferson F. Loss (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Luiz Fernando Kruel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Estudo das valências físicas relevantes para o basquetebol: uma proposta
de programa de avaliação para atletas da categoria Juvenil Masculino
Claiton Henrique Lenz (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a
performance em atletas de voleibol do sexo masculino
Gustavo M. Gonçalves (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Daniel Carlos Garlipp (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Marcelo F. S. Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Adroaldo C. A. Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Etapas de uma abordagem pedagógica no Basquete adaptado
Lia Teresinha Hoffmann (Associação dos Amigos do CETE)
Cristiana Soarez Braiyer (Associação dos Amigos do CETE)
Crissia A. Hoffmann de Castro (Associação dos Amigos do CETE)
•
Jogos Olímpicos do Século XXI: o esporte espetáculo e o Olimpismo: a
busca do equilíbrio
Walter Gomes Osório
309
•
Niké: a apropriação de um mito
Carlos Fabre Miranda (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Mário G. Brauner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
•
Esporte no Terceiro Milênio
Luciana Marins Nogueira Peil (Universidade Federal de Pelotas)
•
Estresse e a prática desportiva na sociedade contemporânea: reflexões a
partir da análise de uma equipe de Futebol Infantil
Patrícia Weiduschadt (Universidade Federal de Pelotas)
Valdelaine da Rosa Mendes (Universidade Federal de Pelotas)
19h00 Sessão de Abertura do Congresso – Teatro - AMRIGS
19h30 Palestra de Abertura – Teatro - AMRIGS
Sydney 2000: O Projeto Olímpico Brasileiro
Carlos Arthur Nuzman (Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro)
Dia 3/6/2000 – Sábado
08h30 – 10h30 Fóruns Esportivos Específicos
Judô – Teatro - AMRIGS
Luís Alcides Ramires Maduro (Universidade Luterana do Brasil)
Eduardo Merino (Universidade Luterana do Brasil)
Emerson Franchini (Universidade de São Paulo)
Alexandre Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Esgrima – Sala 22 - AMRIGS
Arthur Cramer Ribeiro (Presidente da Confederação Brasileira de Esgrima)
Paraolímpicos – Sala 23 - AMRIGS
João Batista Carvalho Silva (Presidente Comitê Paraolímpico Brasileiro)
Alberto Martins Costa (Coordenador da Equipe Paraolímpica Brasileira)
Nilma Garcia Pettengill (INDESP)
Ruth Cidade (Presidente do SOBAMA)
Florismar Oliveira Thomaz (Dir. Departamento de Desportos da SE/RS)
Canoagem – Sala 53 - AMRIGS
Dércio Furlanetto Ramos (Presidente da FECERGS)
Márcio Tomazoni (Treinador da Seleção Gaúcha Júnior de Slalom)
Álvaro Acco Koslowski (Téc. Seleção Brasileira B Canoagem Velocidade)
Maurício Cramer (Pres. Dep. Médico da Conf. Brasileira de Canoagem)
310
Natação – LAPEX - ESEF
Antônio Carlos Mariante (Presidente da Fed. Gaúcha de Desp. Aquáticos)
Coaracy Nunes Filho (Presidente da Confed. Brasileira de Desp. Aquáticos)
Luis Fernado Kruel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Ciclismo – Sala do Pós-Graduação - ESEF
Marco Giovanar (Federação Gaúcha de Ciclismo)
Marcelo Ribeiro (Federação Gaúcha de Ciclismo)
10h30 Coffee Break
10h45 – 12h15 Palestra – Teatro – AMRIGS
A Participação do INDESP no Desenvolvimento do Esporte Olímpico Brasileiro
Antônio Carlos Garcia de Viveiros (Presidente do INDESP)
12h15 Intervalo Almoço
14h00 – 16h00 Fóruns Esportivos Específicos
Basquete – Teatro - AMRIGS
Antônio Carlos Barbosa (Técnico da Seleção Brasileira Adulta Feminino)
Roberto Mesquita (FIBA – Solidariedade Olímpica – Técnico de Basquete)
Tênis – Sala 22 - AMRIGS
Juarez Muller Dias (Universidade Federal de Santa Catarina)
Jorge Lacerda da Rosa (Federação Catarinense de Tênis)
Carlos Alves (Federação Catarinense de Tênis)
Triathlon – Sala 23 – AMRIGS
Luiz Goebel (Presidente da Federação Gaúcha de Triathlon)
Ricardo Assenato
Wilson Roberto Ribas de Matos (Treinador de Triathlon)
Roberto Melo de Lemos (Triatleta)
Remo – Sala 53 - AMRIGS
José Ricardo Contieri (Técnico G.N.União e Seleção Brasileira de Remo)
Handebol – Sala 109 - ESEF
Sílvio Rodrigues (Técnico da Seleção Brasileira Cadete Feminino)
Eduardo Fonseca (Técnico da Seleção Brasileira Juvenil Masculina)
16h00
Lançamento de Livros – Área de Exposição - AMRIGS
311
16h30 – 18h30 Painel – Teatro – AMRIGS
Jogos Olímpicos: Visões da História
Margaret Costa (California State University, Estados Unidos)
Ingomar Weiler (Universidade de Graz, Áustria)
Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo)
18h45 – 20h15 Painel – Teatro – AMRIGS
Controle de Doping no Esporte
Francisco Radler (LADETEC – Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Dia 4/6/2000 – Domingo
08h30 – 10h00 Painel – Teatro – AMRIGS
Passado, Presente e Futuro: Conversando com Atletas Olímpicos Brasileiros
Luis Onmura (Medalha de Bronze – Judô, 1984)
10:00 Coffee Break
10h15 – 12h15 Mesa Redonda – Teatro – AMRIGS
Identificação de Talentos Esportivos e Formação de Jovens Atletas
Adroaldo Gaya (CENESP - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
João Paulo Medina (Sport Club Internacional)
Emerson Franchini (Universidade de São Paulo)
12h15 Intervalo Almoço
14h00 – 16h00 Palestra – Teatro – AMRIGS
Ética e Movimento Olímpico
Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto, Portugal)
Lamartine DaCosta (Presidente da Academia Olímpica Brasileira)
16h00 Sessão de Encerramento – Teatro – AMRIGS
312
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Text - Uel