Falar por telefone com Guerreiro
Clarissa pensa que é melhor falar com Guerreiro por telefone e
combinar um encontro. Resolve isto depois da longa conversa
com a Poetisa no passeio que fizeram ao centro da cidade.
Clarissa e Relações de Família
Capítulo Oitavo
Namoro virtual é muito bom, é algo que aquece a alma, e tira a gente daquela
mesmice que a vida se transforma quando vivemos sozinhos. Mas, o namoro
virtual tem seus pontos negativos; estamos sempre duvidando de que o outro,
do outro lado é ele mesmo, que o assunto é sério ou só brincadeira.
Guerreiro
Há algum tempo Guerreiro tinha dado à Clarissa seu telefone privativo e dito que a
qualquer hora, ela poderia telefonar. Clarissa guardou pra si esta vontade, se torturou
entre o sim e não, e muitas vezes ela esteve com o telefona entre as mãos para ligar e
não ligou. Fez isto tantas vezes que decorou o número.
CLARISSA FALA COM A POETISA
“Amiga, acho que vou seguir seu conselho, transformar este namoro virtual
em algo real. Eu preciso tocar no Guerreiro, sentir que ele é gente e também
conhecer sua realidade com qualidades e defeitos. Que você acha?”
A POETISA somente acena com a cabeça, balançando de lá pra cá, como quem diz:
tudo certo, corra atrás de seus sonhos, porque eles não correrão atrás de você.
CLARISSA ENTÃO DISCA COM DEDOS FIRMES O TELEFONE. ESTÁ
DECIDIDA.
Trim... trim... trim.. trim ao quinto toque Clarissa vai desligar, quando ouve:
Guerreiro - Pronto, quem fala?
Clarissa - Eu sou Clarissa e você Guerreiro?
Silêncio - alguns segundo de mudez total.
Guerreiro (voz ansiosa) - Sim, sou eu Guerreiro. Que bom ouvir você. Fala mais,
qualquer coisa, quero me acostumar com sua voz. É a primeira vez que a ouço.
Sempre que ligo, talvez por ser tarde da noite, somente me atende esta secretária
eletrônica, que fala em inglês e não me diz nada. Tenho deixado recados.
Clarissa (risos) - Sim Guerreiro, sou eu Clarissa, falando agora com você. Vejo seus
toques na noite, mas me sinto amedrontada para falar, mas fico tão feliz com os
recados que me você me deixa, que mais pareço uma menina na adolescência.
Guerreiro (suspira) - Ah! Clarissa, que voz cantante você tem! Parece que ela me
embala agora, como se eu fosse uma criança. Fale mais, quero lhe ouvir... Fale
mais.. fale.. é tudo que eu quero.
Clarissa (voz insegura) - Para dizer a verdade, eu não sei o que lhe dizer. Estou
confusa, mas senti desde ontem um desejo imenso de primeiro ouvir sua voz e depois
ter você perto de mim para eu lhe tocar. Somente no toque, corpo a corpo é que vou
acreditar que você não é um ser virtual.
Guerreiro (fala alto) - O que diz? Você está disposta a me encontrar? Agora, quem
ficou intimidado sou eu. Você já ouviu aquela piada do Velho que viaja de avião
para encontrar a nova namorada? Eu estou como aquele velho, com as calças nas
mãos. Morrendo de medo de decepcionar você, ou me decepcionar.
Clarissa (doce suave) - Você não quer me encontrar? Sou tão humana quanto você.
Já nos dissemos no chat e eu lhe deixei claro, durante conversa séria, que sou uma
senhora de 56 anos, madura, viúva, solitária, vivendo sozinha numa chácara.
Mandei para você via e-mail uma foto minha e vi as suas no meio de muita gente,
mas dá para perceber o seu tipo alto, forte, interessante.
Clarissa, 45 anos
Guerreiro (zombeteiro) - Sim você me mandou uma foto sua da primeira
comunhão e não vale. Quero uma foto recente.
Clarissa (admirada-cheia de espanto) - Como foto da primeira comunhão? Naquela
foto eu estava com 45 anos, acho que foi a última foto que fiz, pelo menos não tinha
nenhuma outra fácil em meu computador.
Guerreiro (rindo demais)- Estou brincando, minha querida, sei que não é da
primeira comunhão, mas naquela foto você mais parece uma jovenzinha de olhar
distante e triste, do que uma senhora feita e já com tantos filhos.
Clarissa - Vou lhe mandar uma, aguarde no correio.
CLARISSA NÃO QUER PERDER O PIQUE DA CORAGEM DAQUELE DIA
Clarissa (exigente) - Como é Guerreiro, vai ou não vai querer me encontrar para
passarmos algumas horas juntos e nos conhecermos pessoalmente? Tem algum
impedimento? Você é casado?
Guerreiro (sério) - Sim, sim eu quero encontrar com você, pelo menos acabamos de
vez com esta ansiedade e este desejo por algo que nem temos a certeza se existe, ou
se existe, como é.
Guerreiro - Quanto a ser sou casado, você sabe que sim, mas meu casamento está
passando por um momento de rompimento, já que minha mulher acha melhor
viajar a negócios que ficar comigo e os filhos.
Clarissa (voz maternal)- Eu entendo. Entendo sim. Este é mais um motivo para nos
conhecermos e não ficarmos ao longo da vida destruindo o que está feito por
carregar uma ilusão idiota. Este nosso relacionamento é estranho, porque de fato
não somos mais adolescentes que sonham o impossível e se jogam de cabeça.
Guerreiro (sério) - Certo, Clarissa, mas eu gostaria de conversar com você, mais
algumas vezes ao telefone para então marcarmos uma data provável de nosso
encontro, pode ser?
Clarissa (firme) - Pode ser. Fico aguardando, mas quando quiser me ligar, ligue
mais cedo, porque não posso ficar acordada até muito tarde. Até outra hora então.
Guerreiro (suplicante)- Mas assim, até outra hora de forma seca? Sem um beijo de
despedida? Sem uma caricia? Fala pra mim algumas palavras daquelas que você
sabe tão bem dizer no chat?
Clarissa (horrorizada) - Oh Guerreiro, deixa de ser criança. O chat é algo no escuro,
sem voz e sem vulto, aqui estamos falando pessoalmente e eu não me atrevo. Mas se
você quer: beijinhos para você. Aguardo seus telefonemas.
Clarissa (ordenando) - Desliga, então.
Guerreiro (zombeteiro) - Não desligo. Desliga você.
Fogo que queima
CLARISSA SENTE SEU ROSTO EM FOGO E O CORPO TREMENDO, AS
MÃOS FRIAS, A BOCA SECA.
A Poetisa aparece na porta e pergunta: - Como foi? Deu tudo certo?
Clarissa - Não sei amiga, estou confusa. Ele quer mais um tempo para nos falar via
telefone e no chat. Está indeciso. O casamento dele de fato ainda não se acabou. E
ISTO É UM PROBLEMA SÉRIO, NÃO QUERO SER A RAZÃO, MAS TAMBÉM NÃO
QUERO SER A NÃO ESCOLHIDA.
Poetisa - Vai com calma. Sem ansiedades e também sem medos ou remorsos
prévios. Se ele estiver mesmo a fim de você virá ao seu encontro e você nem
precisará pedir outra vez. Acalme-se. Vamos tomar um café da tarde, debaixo
daquelas árvores.
Autora: Regina Celia, escrito em São Paulo, em 22 de setembro de 2015.
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