Nematoides
Sério problema para a agricultura brasileira
A semelhança de sintomas é uma das razões porque agricultores e técnicos têm tratado
infecção por nematoides como se fosse, por exemplo, irrigação ou adubação deficiente em
cultivos comerciais. A repetição de diagnósticos com essa imprecisão atrasa as ações de
controle e o resultado é a expansão das doenças causadas por esses vermes em variados
sistemas agrícolas, chegando ao ponto de, atualmente, serem apontados como causadores de
sérios problemas fitossanitários na agricultura brasileira.
De culturas típicas dos pequenos agricultores, como inhame, acerola, banana e goiaba, até as
commodities, a exemplo de soja, cana-de-açúcar, café e citros, nenhuma escapa aos
crescentes ataques desses microrganismos. Consequentemente, o produtor rural sofre com
aumentos nas perdas de produção e econômicas. A situação chegou a um ponto que a
Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) qualifica como “preocupante”.
Nos plantios nacionais de cana-de-açúcar, reduções médias de 30% da safra são atribuídas ao
ataque por fitonematoides. Em goiabeira, levantamento de 2009 apontou esse patógeno como
responsável por prejuízos da ordem de 112 milhões de reais e, até 2010, já tinha custado a
perda de 3.700 empregos nas áreas irrigadas do Submédio do Vale do Rio São Francisco.
Num estudo sobre perdas causadas por nematoides na agricultura mundial, foi estimado que,
em média, 12% a menos são colhidos por causa da ação danosa desses patógenos. Para
Ricardo Moreira de Souza, presidente da SBN e professor da Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), por serem organismos geralmente invisíveis a olho nu e
provocarem sintomas inespecíficos, semelhantes a outros de ordem fitotécnica (falta de água,
deficiência nutricional, fitotoxicidade etc.), os nematoides não confundem só os produtores.
Engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, com frequência, estão sujeitos a esse tipo de
erro. Às vezes, tal fato decorre do desconhecimento dos avanços científicos na geração de
tecnologias e formas de manejo das doenças causadas por nematoides.
Em certa medida, esta é uma questão relacionada à grade curricular das instituições de
ensino técnico e superior na área de Agronomia, principalmente. A pequena ou inexistente
carga horária destinada à disciplina que estuda os nematoides nas universidades e escolas
técnicas causa uma lacuna importante na formação dos estudantes, que tem sido evidenciada
nos diagnósticos tardios de ataques de nematoides por eles realizados quando passam a atuar
como profissionais.
Há poucas semanas, a SBN enviou carta aos diretores de 160 escolas de Agronomia, pleiteando
maior ênfase no estudo dos nematoides como forma de preparar recursos humanos aptos a
atuar nas áreas de prevenção, de contenção e de controle desses microrganismos. Esta é uma
medida que ajudará a dar maior visibilidade ao tema e tornar mais conhecido o modo como os
nematoides se instalam e afetam os cultivos. Com esses conhecimentos, medidas de manejo
poderão ser buscadas com mais propriedade pelos técnicos que assistem aos cultivos dos
pequenos, médios e grandes agricultores.
Em outra estratégia de implantação recente, a Sociedade tem estimulado, em âmbito
regional, reuniões da comunidade científica especializada nas investigações sobre nematoides
de plantas com o objetivo de promover maior interação entre tais profissionais e possibilitar
que discutam ações de interesse comum (demandas, projetos, parcerias), com foco dirigido à
produção de novos conhecimentos e tecnologias de controle.
O mais recente desses eventos, o II Encontro Regional da Sociedade Brasileira de Nematologia
/Nordeste, reuniu, na sede da Embrapa Semiárido, especialistas de universidades e
instituições de pesquisa da Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Minas Gerais. A Empresa
Satis, localizada em Araxá, MG, que tem atuação na região Nordeste, prestigiou o Encontro
com a participação de dois profissionais. Seu coordenador, José Mauro da Cunha e Castro,
pesquisador da Embrapa Semiárido, revelou que existe um grupo ativo na região realizando
estudos em culturas integradas a importantes cadeias agrícolas, a exemplo do algodão, soja,
cana-de-açúcar, café, videira, citros e melão. Do mesmo modo, os problemas causados pelos
nematoides são investigados em cultivos de grande significado para a agricultura familiar,
como goiaba, acerola, a banana, coco-da-baía, mamão e inhame.
Assim, diante do alcance de objetivos com a realização do II Encontro Regional da SBN, José
Mauro espera ter contribuído para uma maior integração dos pesquisadores da região
Nordeste sobre o tema ‘nematoides’. Aqueles causadores de doenças em plantas foram o foco
central do Encontro, mas nematoides marinhos também foram debatidos. Além disso, a SBN
espera, com esses Encontros, promover a integração de profissionais que trabalhem com
nematologia humana, nematoides parasitos de animais, como bovinos, caprinos e ovinos, e
aqueles de vida livre encontrados no solo e nas águas doces.
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