ID: 29776458
19-04-2010 | Mercados
Tiragem: 24452
Pág: VIII
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 26,33 x 37,09 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 3
ETF
Os fundos que estão a mudar
o mundo dos investidores
Os ‘exchange-traded funds’ estão a revolucionar a forma de investir nos mercados
e os pequenos investidores têm tudo a ganhar com estes instrumentos.
LUÍS LEITÃO
[email protected]
Muitos investidores acreditam que a gestão activa dos gestores de fundos de investimento possibilita alcançar resultados melhores que o seu índice de referência, sobretudo em períodos de maior turbulência. E, por essa razão, estão dispostos a pagar comissões de gestão mais elevadas que as exigidas pelos fundos
cotados, também conhecidos como ‘exchange-traded funds’ (ETF) que, por
apenas replicarem um índice de referência não podem oferecer nem mais nem
menos o que o mercado dá.
No entanto, segundo um estudo desenvolvido pela sociedade gestora Vanguard,
nas três das seis crises de mercado ocorridas desde 1970, a maioria dos gestores
activos não conseguiu bater o Dow Jones
Wilshire 5000, um índice que agrega cinco milhares de companhias norte-americanas. A Standard & Poor’s conclui
também que a maioria dos gestores de
fundos não consegue bater o mercado: de
acordo com o último relatório “Standard
& Poor’s Indices Versus Active Funds
Scorecard”, publicado em Agosto de
2009, 60% dos fundos de investimento
norte-americanos foram incapazes de
superar o seu “benchmark” nos últimos
cinco anos. Para John Bogle, apelidado
como o pai dos fundos de índice, estas
estatísticas não são novidade. Segundo as
estimativas do autor do livro “The Little
Book of Common Sense Investing: The
Only Way to Guarantee Your Fair Share of
CUIDADOS A TER COM ETF
COMISSÕES
No mercado de ETF a concorrência é
muita o que faz com que existe diferentes ETF a replicar o mesmo índice. Por isso, tome como referência a
comissão média dos ETF (0,45%) e,
em caso de “igualdade”, opte pelo
mais barato.
DIMENSÃO
Investir num fundo cotado que tenha
uma carteira de activos reduzida significa estar à procura de problemas.
Siga o princípio de “big is beautiful”:
quanto maior melhor.
LIQUIDEZ
A demasiada pormenorização na escolha de activos pode revelar-se pouco produtiva e até prejudicial para os
investidores pois a procura será bastante restrita e com isso a liquidez
será afectada podendo originar
“spreads” entre o preço de compra e
o preço de venda mais largos.
Stock Market Returns”, apenas 4 em 100
gestores de fundos de investimento são
capazes de bater o mercado.
Foi partindo deste pressuposto que Bogle
criou em 1975 o primeiro fundo de índices para investidores não-profissionais, o
Vanguard 500, que desde o seu lançamento conta já com uma rendibilidade de
11% ao ano. No entanto, foi a Nathan
Most a quem coube o papel de mentor do
primeiro ETF, o Standard & Poor’s Depositary Receipt, também conhecido por
‘spider’, devido ao seu código de negociação “SPY”, e actualmente com 76 mil
milhões de euros sob gestão, quase o triplo da capitalização bolsista do PSI 20.
VANTAGENS MUITO APELATIVAS
Segundo Carlos Almeida, directo do departamento de investimento do banco Best,
“há cada vez mais investidores particulares
a entrarem no mercado de ETF, dada a suas
vantagens e características”. Porém, na
Europa, 90% dos investidores que investem
em ETF ainda são institucionais enquanto
nos EUA a relação entre “pequenos e grandes investidores” é de 50%.
Pedro Fernandes, responsável pelos ETF
cotados nas bolsas da NYSE Euronext na
Europa, refere que as grandes mais-valias
dos ETF estão “na simplicidade, na transparência, na flexibilidade, na liquidez e nos
baixos custos que estes produtos oferecem”. Na prática, os fundos cotados oferecem aos investidores a possibilidade de ganharem exposição a um cabaz de activos
que podem ser acções, matérias-primas,
obrigações, moedas, etc. de uma forma
simples e flexível porque é negociado em
bolsa, e de uma forma transparente porque
o seu desempenho está directamente relacionado com as oscilações do índice subjacente. Ao nível da liquidez, Pedro Fernandes revela que os ETF cotados nas bolsas
europeias da NYSE Euronext não apresentam problemas de maior porque “em média, cada ETF tem dois criadores de mercados que são responsáveis por manter um
‘spread’ máximo e uma quantidade mínima desde a abertura da sessão até ao leilão
de fecho”. Para os pequenos investidores
também não deverá passar despercebido as
reduzidas comissões de gestão cobradas
pelos ETF face aos fundos de investimento,
que tendem a diminuir quanto maior e mais
genérico for o ETF e quanto menor for a
rendibilidade esperada da classe de activos
a que pertence. Segundo uma compilação
de dados feita pelo Morgan Stanley Investment Strategies e pela Lipper, em 2007,
enquanto que a média das comissões de
gestão dos fundos de investimento de acções ronda os 1,71%, a dos ETF que replicam índice accionistas fica-se pelos
0,49%. Uma diferença que no longo prazo
traduz-se numa diferença bastante significativa para a carteira dos investidores. ■
HISTÓRIA DOS ETF
1975
>> John Bogle cria o primeiro fundo de índices
para investidores não-profissionais, o
Vanguard 500. Desde o seu lançamento o
fundo conta com uma rendibilidade de 11% ao
ano.
1993
>> Nate Most oferece aos investidores o
primeiro ‘exchange-traded fund’ nos EUA, o
Standard & Poor’s Depositary Receipt,
também conhecido por ‘spider’, devido ao seu
código de negociação “SPY”.
2000
>> Os ETF começam a ser transaccionados
pela primeira vez nas praças europeias. As
bolsas de Frankfurt, Londres, Zurique e
Estocolmo foram as primeiras a receberem os
fundos cotados.
2001
>> São admitidos à negociação das bolsas do
grupo NYSE Euronext, do qual faz parte a
praça portuguesa, os primeiros ETF: o iShares
EuroStoxx 50 e o iShares Stoxx.
2004
>> A indústria de ETF alarga a sua oferta e
começa a oferecer fundos cotados que
permitem replicar a evolução dos preços das
matérias-primas, imobiliário e mercados
emergentes.
2008
>> Aparecimento dos ETF baseados em
“índices inteligentes” ou índices de estratégias
quantitativas. É também em 2008 que nasce
o primeiro ETF do principal índice português SPA ETF PSI 20, mas que acabou por ser
extinto em Maio de 2009.
TRÊS PERGUNTAS A...
CARLOS ALMEIDA
Direcção de investimentos do banco Best
“Os ETF não são apenas
concorrentes dos fundos
de investimento”
ID: 29776458
19-04-2010 | Mercados
Tiragem: 24452
Pág: IX
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 26,46 x 36,02 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 3
Daniel Acker/Bloomberg
>> O S G U R U S TA M B É M I N V E ST E M E M E T F
Na carteira dos maiores investidores do mundo os fundos
cotados estão a ganhar cada vez mais terreno. De acordo
com o GuruFocus.com, um sítio que acompanha os
portefólios de 39 gurus da bolsa, são quatro os ETF que têm
merecido as preferências desdes “superinvestidores”: SPDR
S&P 500, Spider Gold Shares, Market Vectores - Gold Miners
ETF e Select Sector SPDR Financial. Este último ETF, que
reflecte o desempenho do sector financeiro norte-americano,
apresentava, em Dezembro de 2009, um peso de 2,5% no
portefólio do investidor húngaro George Soros.
Cuidado
com os fundos
mascarados
de ETF
Os ETN são instrumentos
mais arriscados do que
podem parecer.
LUÍS LEITÃO
[email protected]
Muitas vezes confunde-se ‘exchangetraded notes’ (ETN) com ‘exchange-traded funds’ (ETF), achando que se trata do
mesmo instrumento. É verdade que ambos replicam a evolução de um activo e
até são negociados em bolsa, mas as parecenças terminam aí. Se os ETF são fundos de investimento abertos geridos por
um organismo de investimento colectivo,
os ETN são instrumentos de dívida sénior
de cupão zero emitidos por instituições
financeiras.
Na prática, os ETN não são mais do que
produtos estruturados cotados em bolsa
montados por uma sociedades gestora
que tem na sua estrutura obrigações do
emitente e instrumentos derivados sobre
Os ETN são uma espécie de
produtos estruturados cotados
em bolsa construídos por uma
sociedade gestora.
Seguindo uma estratégia centrada na
gestão passiva os ‘exchange-traded fund’
(ETF) dão aos investidores uma só coisa:
o mesmo que o mercado. Nem mais nem
menos. Para Carlos Almeida, este é só um
ponto dos ETF, que têm nas baixas
comissões de gestão, na transparência da
carteira e na flexibilidade de transacção
as suas mais-valias.
Qual a grande vantagem que os ETF
oferecem aos investidores?
São duas: a flexibilidade e a
transparência. São estes os dois grandes
atributos dos ETF. A flexibilidade de
comprar e vender as unidades de
participação do fundo, porque
comparativamente aos fundos de
investimento, um investidor entra no
próprio fundo a um preço que ele
conhece no momento exacto em que dá
a ordem de compra. E da mesma forma
que pretende sair desse mesmo ETF, o
investidor tem essa mesma flexibilidade
de definir a que preço pretende sair.
Relativamente à transparência, o
investidor tem a garantia de uma
transparência ao nível das comissões
cobradas e, acima de tudo,
do desempenho do próprio ETF e da
forma como ele está associado ao
activo subjacente por meio de uma
gestão passiva.
Qual o papel dos ETF na indústria da
gestão de activos?
Os ETF não são apenas e só concorrentes
aos fundos de investimentos. Em larga
medida, podem ser amplamente
complementares aos fundos de
investimento, através de um portefólio
diversificado em que o próprio investidor
pode ter uma carteira “core” centrada
num fundo de investimento e, numa
lógica de longo prazo, adquirir um
conjunto de ETF que ficarão em carteira
por 10 anos, por exemplo. Porque fruto
das comissões de gestão mais baixas
posso ter um melhor retorno ao fim de
uma década.
Quais são os cuidados que os investidores
deverão ter quando investem em ETF?
Conhecerem bem o ETF, qual a estratégia
e a forma como o ETF pretende replicar o
seu índice. Para investidores mais
sofisticados, é necessário ainda que
tenham em consideração a vantagem e os
riscos proporcionados pela alavancagem
de alguns ETF. ■
o activo subjacente. Esta diferença ao nível da forma jurídica traduz-se, por
exemplo, ao nível do risco. Se nos ETF
tradicionais o risco do seu investimento
advém apenas do desempenho do activo
subjacente, no caso dos ETN, além do risco do subjacente, os investidores deverão
contar ainda com o risco do crédito do
emitente e da contraparte. Isto significa
que o principal factor de risco que afecta
o valor do ETN é a notação de ‘rating’ do
emitente. Assim, caso o ‘rating’ do emitente do ETN sofra um corte por parte de
uma agência de notação de risco, o ETN
pode desvalorizar independentemente da
direcção do activo que replica.
O iPath Dow Jones-UBS Commodity Index Total Return é um dos maiores ETN
do mercado. De acordo com o sítio da sociedade gestora dos produtos (Barclays),
as maiores posições do ETN dividem-se
por bens agrícolas, metais preciosos e industriais e energia. À primeira vista pode
ficar-se com a ideia que o investidor detém um cabaz composto por estas matérias-primas. Porém, esta alocação é apenas uma medida de desempenho porque
o investidor não é nem será proprietário
destas ‘commodities’, apenas detém uma
promessa do Barclays que lhe pagará a
atribuição teórica do índice que replica
este cabaz de bens. Assim, se o Barclays
for à falência, o investidor não receberá
qualquer euro do seu investimento, porque um ETN é considerado um instrumento de dívida sem garantia por parte
do emitente do mesmo. Caso se tratasse
de um ETF e o emitente fechasse as portas, os activos que faziam parte do ETF
seriam vendidos ao preço de mercado e
distribuído o capital pelos investidores. ■
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