Debate: O Brasil está preparado para sediar as
Olimpíadas?
SIM - Geraldo Toledo
A escolha do Rio como sede dos Jogos de 2016 colocou o Brasil no seleto grupo de países
que sediaram os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo num intervalo de apenas dois anos. Os
outros foram México, Alemanha e Estados Unidos.
Segundo algumas reportagens aqui e no mundo, houve afirmativas de que o povo não
acreditava que o Brasil poderia fazer um belo trabalho e não poderia organizar um evento
de alto porte. Mas, depois dos Jogos Pan-americanos, muitas coisa mudou, inclusive as
pessoas. Elas mudaram de ideia: agora, o povo brasileiro quer, sim, virar sede da Copa do
Mundo e das Olimpíadas.
Sabemos que não nos faltam competência, imensa vontade, capacidade de realização e
uma inigualável improvisação. O que falta, e muito, é a prática de boa governança pelos
governos e instituições responsáveis pela realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, os
quais não atingiram valores morais e éticos que os habilitem a estar à frente de um
movimento desta envergadura.
É necessário analisar que todo o planejamento, contratação e execução destes
megaeventos estarão acontecendo em meio a uma enorme crise ética e moral envolvendo
os principais lideres políticos da nação em escândalos não raramente ligados a grandes
empresas. E, não menos importante lembrar que o Pan do Rio demonstrou de forma clara
que demagogia e frases de efeito não pagam a conta! Precisamos, portanto, estar de olho
no desenvolvimento destes projetos esportivos de grande importância.
A Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 devem melhorar as exportações
brasileiras em cerca de 30% no longo prazo, segundo estudo do banco britânico Barclays.
Essa constatação foi feita com base no histórico de países que já sediaram eventos
esportivos desta magnitude e, no quesito comércio, todos foram beneficiados.
De acordo com o analista Marcelo Salomon, do Barclays, o Governo brasileiro tem uma
oportunidade única nas mãos para acelerar os investimentos em infraestrutura a fim de
atender à demanda decorrente dos eventos que estão por vir.
O Rio já provou que tem capacidade para organizar tal evento. Minas Gerais vem se
preparando freneticamente para receber os jogos no Mineirão. Tudo indica que o restante
do país também não ficará para trás. Cidades como Barcelona, Atlanta e Sidney
conquistaram grandes ganhos e vitrine internacional graças a eventos semelhantes que eles
tão bem desenvolveram. A nação está em festa e o país preparado para brilhar. Se o Brasil
era o país do futuro, este momento chega com os esportes!
*Professor da PUC-MG
NÃO
José Aparecido Ribeiro*
“O Brasil não está preparado para sediar as Olimpíadas. Um passeio pelas periferias das
cidades brasileiras, usando de preferência o transporte público oficial - ônibus e trens
urbanos - seria suficiente para ver a precariedade dos serviços básicos necessários para o
nosso cotidiano, e que seriam o cartão de visitas para estrangeiros que conhecerão o Brasil
durante as Olimpíadas. A exceção vale apenas para a cidade de São Paulo, em parte
atendida pelo metrô. O Rio de Janeiro e o Brasil comemoraram um acontecimento histórico,
que colocará a cidade e o país, definitivamente, na vitrine e na memória do mundo, ao
sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Com razão, a euforia tomou conta de cidadãos comuns e
até do presidente da República, que derramou lágrimas quando foi anunciada oficialmente a
vitória do Rio.
Daqui, recolhido na minha insignificância, de olho na telinha, senti orgulho de ser brasileiro
naquele momento, e posso imaginar o que passou no coração daqueles que trabalharam
com afinco para esta vitória extraordinária. As declarações que se seguiram, de todas as
instâncias de Governo, dão conta de que serão investidos US$ 28 bilhões na preparação da
cidade para os Jogos Olímpicos, o que é extremamente positivo, visto que são obras que
qualificarão o Rio ainda mais para o turismo internacional.
Sobre este tema, vale dizer que o modelo de ônibus que atende às cidades brasileiras é
totalmente inadequado para 90% delas. Em apenas três das 26 capitais, o modelo de
carrocerias é adequado; inclusive, são produzidas em cidades próximas a elas, ou seja,
Joinville e Caxias do Sul, que possuem temperatura média anual de 23 graus. Já a
temperatura média de 90% das demais cidades brasileiras, inclusive e especialmente a
“Cidade Maravilhosa”, é acima de 28 graus, durante praticamente nove meses do ano, o
que, regra geral, eleva a temperatura dentro dos ônibus para 42 graus. Nenhum “gringo”
que esteja acostumado com transporte coletivo decente se sujeitará a isso... Este é o
primeiro gargalo para a cidade, mas não é o mais importante. Outro item que chama a
atenção e é cartão de visita nacional, mas não parece ser foco de atenções dos governos,
uma vez que não foi anunciado nenhum centavo para a sua eliminação, chama-se favelas.
Elas se multiplicam e servem para perpetuar o maior problema nacional, especialmente no
Rio, o que poderá atrapalhar a imagem do país. Estamos falando da violência, que cresce
exponencialmente, no mesmo ritmo das favelas, tornando qualquer ação de segurança
pública inócua, pois ambas andam de mãos dadas.
Há quatro anos, o Rio tinha 560 favelas; hoje, a cidade tem mais de mil e muito pouco ou
nada é feito para reverter esta vergonha nacional que é palco da violência, da exclusão e da
completa ausência do Estado brasileiro. São Paulo tem hoje mais de 1.600 favelas. No
Brasil, pasmem, são mais de dez mil.
Talvez mais importante do que as obras para os Jogos Olímpicos, seria o uso de parte das
verbas e das reservas nacionais para extinguir esta chaga que virou fato corriqueiro e até
aceitável pelo conjunto da sociedade, que não conhece o que é viver dentro de uma favela,
chegando até ao absurdo de romantizá-las.
Tenho a impressão de que US$3 bilhões apenas, dos US$ 28 bilhões que serão investidos,
já seriam suficientes para transformar todas as favelas do Rio em bairros com prédios
residenciais, dando a milhões de cidadãos cariocas dignidade e endereço, no mesmo lugar
onde eles vivem hoje à margem da verdadeira cidadania. E ao Brasil, respeito perante os
milhares de turistas que visitarão o Rio durante a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Vamos pensar no Complexo da Maré, na Rocinha, Dona Marta, Vidigal, Turano, Borel, Pavão
Pavãozinho etc, substituídos por prédios residenciais, ruas asfaltadas, praças, centros
comerciais, áreas de lazer, hospitais, escolas e infraestrutura mínima para o exercício pleno
da cidadania? Tudo isso no lugar da sujeira, da desorganização e do risco iminente do
tráfico e da violência. Por mais utópico que possa parecer, isto é possível e não seria por
falta de dinheiro, mas talvez por falta de sensibilidade política.
*Especialista em assuntos urbanos. Administrador, licenciado em filosofia, bacharel em
turismo
Postado em 18 de Outubro, 2009
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