COPPE/UFRJ ESTUDO DE UM SISTEMA ROBÓTICO MÓVEL TELEOPERADO PARA INSPEÇÃO DE INSTALAÇÕES NUCLEARES Annemary Avram Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador: Max Suell Dutra Rio de Janeiro Outubro de 2008 ESTUDO DE UM SISTEMA ROBÓTICO MÓVEL TELEOPERADO PARA INSPEÇÃO DE INSTALAÇÕES NUCLEARES Annemary Avram DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA. Aprovada por: ________________________________________________ Prof. Max Suell Dutra, Dr.-Ing. ________________________________________________ Prof. Jules Ghislain Slama, D.Sc. ________________________________________________ Prof. Felipe Maia Galvão França, PhD. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL OUTUBRO DE 2008 ii Avram, Annemary Estudo de um sistema robótico móvel teleoperado para inspeção de instalações nucleares / Annemary Avram. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2008. XVI, 117 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Max Suell Dutra Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Mecânica, 2008. Referencias Bibliográficas: p. 111-117. 1. Projeto de Máquinas. 2. Robótica. I. Dutra, Max Suell. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Mecânica. III. Titulo. iii DEDICATÓRIA Esse trabalho é dedicado á minha família. Em especial aos meus pais, Floarea e Gheorghe Avram e ao meu noivo, João Henrique. iv AGRADECIMENTOS A Deus que me deu a força de concluir este trabalho. Ao meu orientador, Prof. Dr.-Ing. Max Suell Dutra, pelo apoio oferecido, pelos ensinamentos, confiança e compreensão dispensados em todos os momentos que proporcionaram o desenvolvimento e a concretização desse trabalho. Um agradecimento especial por me fazer entender que ”há uma grande diferença entre saber o caminho e percorrê-lo”. Aos meus pais Floarea e Gheorghe Avram, pelo grande carinho, educação e apoio oferecidos durante todos os momentos da minha vida. Ao meu noivo João Henrique pela compreensão, a dedicação e o incentivo que me deu para atingir mais essa conquista. A todos os amigos e colegas do laboratório LabRob, especialmente para Ivan, Ricardo, Wairy, César, que me apoiaram durante esses anos de trabalho, “tocando no mesmo barco” e pela atmosfera boa de trabalho e de amizade que se encontra nesse grupo ...que é “fogoooo”. Obrigado as meus colegas Omar Lengerke e Hernan González (o pequenino) que com seu grande talento humano e intelectual, me brindaram seu apoio nas situações difíceis do meu mestrado e também agradeço a Gabriel Guerra. Aos membros da secretaria da Engenharia Mecânica e especial para Verinha e Maysa que me deram uma grande força espiritual e confiança necessária para concluir o projeto. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, COPPE, Programa de Engenharia Mecânica, PEM, pela ajuda financeira para realização desse projeto. Não tenho o menor jeito para discursos e agradecimentos, ainda mais numa língua diferente da língua materna, mais ...o sentimento esta lá ...guardado no meu coração e ficará para sempre na minha alma arquivado com carinho a amizade dos brasileiros, e uma imagem boa desse país maravilhoso que me adotou por esse tempo. Muito obrigada a todos vocês de coração! v Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ESTUDO DE UM SISTEMA ROBÓTICO MÓVEL TELEOPERADO PARA INSPEÇÃO DE INSTALAÇÕES NUCLEARES Annemary Avram Outubro/2008 Orientador: Max Suell Dutra Programa: Engenharia Mecânica Hoje em dia, os robôs representam uma realidade no nosso cotidiano, encontrandose em diversos ambientes desde nossas casas, no caso dos robôs domésticos até outras planetas do sistema solar. No caso de um ambiente perigoso para o ser humano, a presença de um sistema robótico é ainda mais necessária. Essa tese tem como objetivo a realização de um estudo de um sistema robótico que atua em um espaço hostil para o ser humano assim como é o ambiente nuclear, isto é, sujeito a radiação ionizante presente em um compartimento sob o reator. Para tanto foi realizada a análise das matérias menos sensíveis a radiação ionizante com a finalidade de projetar um sistema robótico que exposto a esse tipo de radiação sofrerá menos danos. Pelo fato que os componentes eletrônicos são altamente sensíveis a radiação, o sistema selecionado foi do tipo teleoperado utilizando assim menos componentes eletrônicos que um sistema autônomo. A comunicação entre o sistema robótico e o operador será realizada através de uma interface gráfica desenvolvida e apresentada nessa tese. Nesse trabalho é apresentado também o tipo de locomoção baseado em rodas com uma configuração do tipo triciclo. Ainda é apresentada a cinemática do sistema robótico e as conclusões. vi Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) STUDY OF A TELEOPERATED MOBILE ROBOT SYSTEM FOR NUCLEAR PLANT INSPECTION Annemary Avram October/2008 Advisors: Max Suell Dutra Department: Mechanical Engineering Today, the robots are a reality in our daily life, being in different environments from our homes (domestic robots) to other planets of the solar system. In the case of dangerous environments for humans, the presence of a robotic system is even more necessary. This thesis made a study of a robotic system that operates in an hostile area to humans, where the environment is nuclear, subject to ionizing radiation present in a compartment under the reactor. For this reason was held to analyze the material less sensitive to ionizing radiation in order to design a robotic system that exposed to this type of radiation will suffer less damage. Because the electronic components are highly sensitive to radiation, the system selected was a tele-operated using fewer electronic components so that an autonomous system. Communication between the robotic system and the operator will be achieved through a graphical user interface developed and presented in this thesis. This work is also displayed the type of locomotion based on wheels with a configuration of the type tricycle. Also presented is the kinematics of the robotic system and conclusions. vii SUMÁRIO ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................... XII ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................... XVI 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1 1.1 Robôs Móveis com Rodas .................................................................................. 2 1.2 Objetivo ............................................................................................................... 9 1.3 Organização da Dissertação ............................................................................ 10 2 NOÇÕES GERAIS DE FÍSICA NUCLEAR............................................... 13 2.1 Composição da Matéria ................................................................................... 13 2.1.1 Estrutura do Átomo .................................................................................... 13 2.1.2 Energia nuclear .......................................................................................... 14 2.1.3 Origem da Radiação................................................................................... 15 2.2 Grandezas e Unidades de Radiação Nuclear no SI ....................................... 16 2.2.1 EletronVolt (eV).......................................................................................... 16 2.2.2 Gray (Gy).................................................................................................... 16 2.2.3 Becquerel (Bq)............................................................................................ 16 2.2.4 Sievert (Sv).................................................................................................. 16 2.3 Tipos de Radiações ........................................................................................... 17 2.3.1 3 Radiações ionizantes .................................................................................. 17 INTERAÇÃO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES COM A MATERIA. ........ 26 3.1 Métodos Disponíveis para Aumentar a Vida Útil dos Componentes Eletrônicos de um Sistema Robótico........................................................................... 30 3.1.1 Método 1: evitar o uso de componentes eletrônicos .................................. 30 3.1.2 Método 2: sistema de tipo modular ............................................................ 30 viii 3.1.3 Método 3: monitorização do sistema robótico ........................................... 30 3.2 Técnicas para Projetar Sistemas Eletrônicos Tolerantes à Radiação ......... 31 3.3 Estudo dos Diversos Materiais Empregados em Sistema Robótico Submetido à Radiação Ionizante................................................................................. 31 3.3.1 3.4 Componentes mecânicos e eletromecânicos............................................... 33 Estudo do Comportamento dos Materiais Expostos À Radiação Gama..... 35 3.4.1 Materiais inorgânicos. ............................................................................... 35 3.4.2 Materiais orgânicos.................................................................................... 37 3.4.3 Materiais ópticos ........................................................................................ 41 3.4.4 Componentes eletrônicos............................................................................ 42 3.5 4 Seleção dos Materiais do Sistema Robótico ................................................... 45 TELE-OPERAÇÃO EM AMBIENTE NUCLEAR....................................... 48 4.1 Transparência da Tele-operação..................................................................... 51 4.2 Classificação dos Sistemas de Tele-operação em Função do Grau de Assistência do Computador com o Operador ............................................................ 51 4.3 Relação Homem–Máquina na Tele-operação ................................................ 52 4.3.1 Modelo Mestre-Escravo ............................................................................. 52 4.3.2 Modelo de Telepresença............................................................................. 53 4.3.3 Modelo Professor-Aluno ............................................................................ 54 4.3.4 Modelo Supervisor-Companheiro .............................................................. 54 4.4 Importância da tele-operação em plataformas nucleares............................. 54 4.4.1 Proteção dos trabalhadores ....................................................................... 55 4.4.2 Fatores econômicos.................................................................................... 56 4.5 Aplicações da Tele-operação em Ambientes Hostis....................................... 56 4.6 Protótipo do Projeto ......................................................................................... 57 5 INTERFACE GRÁFICA DO USUÁRIO..................................................... 59 ix 5.1 Importância da Interface ................................................................................. 59 5.1.1 Definição de interface ................................................................................ 60 5.1.2 Pré-requisitos da Projeção da Interface .................................................... 60 5.2 O Papel da Interface na Interação Homem-Máquina................................... 61 5.3 O Caráter Interdisciplinar da Interface......................................................... 62 5.4 Planejamento de construção da interface....................................................... 63 5.4.1 Influência do usuário no planejamento de projeção da interface.............. 63 5.4.2 Princípios de planejamento da interface.................................................... 64 5.4.3 Sugestões de projeto da interface............................................................... 70 5.4.4 Elementos para composição da interface................................................... 71 5.5 Implementação da interface gráfica ............................................................... 74 5.5.1 O desenvolvimento da interface ................................................................. 74 5.5.2 Primeiro nível, nível de informação ........................................................... 75 5.5.3 Segundo nível, nível de verificação:........................................................... 76 5.5.4 Terceiro nível, nível de comandos da interface.......................................... 77 5.5.5 Sub Módulo Descrição do veículo.............................................................. 79 5.5.6 Sub-Módulo Comandos da Interface.......................................................... 81 5.5.7 Seção 1 - Manipulação do vídeo ................................................................ 82 5.5.8 Seção 2 - Controle de movimento do veículo remoto................................. 82 5.5.9 Seção 3 - Anotação de texto ....................................................................... 82 5.5.10 Seção 4 - Iluminação .................................................................................. 83 5.5.11 Seção 5 - Informação sobre os botões........................................................ 83 5.5.12 Seção 6 - Apresentação da hora................................................................. 84 6 ESTUDO CINEMÁTICO DO ROBÔ MÓVEL............................................ 86 6.1 6.1.1 Graus de Liberdade e Sistemas Não-Holonômicos........................................ 88 Locomoção ................................................................................................. 89 6.2 Estudo da configuração tipo triciclo ............................................................... 90 6.3 Cinemática Direta............................................................................................. 98 x 7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS.......................................... 110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 111 xi ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.1 Representação esquemática da robótica como área interdisciplinar. ........................... 1 Figura 1.2 Robô Tortoise [3]......................................................................................................... 3 Figura 1.3 Robô Neptune [6][7]. ................................................................................................... 4 Figura 1.4 Robô Trikebot [8]. ....................................................................................................... 4 Figura 1.5 Robô Pluto [11]............................................................................................................ 4 Figura 1.6 Robô Mecanum [13]. ................................................................................................... 5 Figura 1.7 Robô 5dpo-2000 [13]................................................................................................... 5 Figura 1.8 Robô RoboX [16]......................................................................................................... 6 Figura 1.9 Robô MARVIN [20]. ................................................................................................... 6 Figura 1.10 (A) Veículo que recusa da luz (B) veículo atraído pela luz. ...................................... 7 Figura 1.11 Robô Khepera [24]..................................................................................................... 7 Figura 1.12 Robô Titan [25].......................................................................................................... 8 Figura 1.13 Robô Pneuman [26]. .................................................................................................. 8 Figura 1.14. O edifício do reator da Angra 1[33]........................................................................ 10 Figura 1.15 Representação esquemática da organização da tese. ............................................... 12 Figura 2.1 Representação de um átomo [33]............................................................................... 14 Figura 2.2 Representação do núcleo do átomo [33].................................................................... 14 Figura 2.3 Representação da estrutura nuclear do Hidrogênio, Helio, Lítio e Urânio [33]. ....... 15 Figura 2.4 Representação dos tipos de radiação nucleares [33].................................................. 15 Figura 2.5 Tipos de radiações. .................................................................................................... 17 Figura 2.6 Representação de um íon pelo fato que foi ejetado um elétron [33].......................... 18 Figura 2.7 Representação esquemática da capacidade de penetração das radiações alfa, beta, gama, raio-X e nêutron [33]. .............................................................................................. 19 Figura 2.8 Distribuição percentual da exposição do homem às fontes de radiação [32]. ........... 22 Figura 2.9 Métodos proteção contra uma fonte de radiação gama Distribuição. ........................ 24 Figura 2.10 Distribuição A diferença entre irradiação e contaminação [33]............................... 24 Figura 3.1 Representação esquemática da atenuação do feixe incidente da radiação usando um material para blindagem. .................................................................................................... 28 Figura 3.2 Representação da atenuação de uma feixe de radiação gama em um material de espessura x [32] .................................................................................................................. 28 Figura 3.3 Representação da atenuação do feixe incidente de radiação gama em um material de espessura x.......................................................................................................................... 29 Figura 3.4 Aplicação para o cálculo da espessura da blindagem para radiação gama. .............. 29 Figura 3.5: Representação esquemática de um cabo singelo de fibra ótica. ............................... 41 xii Figura 3.6: Estrutura MOS. ......................................................................................................... 43 Figura 3.7: Transmitância é a quantidade de luz que passa através de uma substância.............. 44 Figura 4.1 Esquema de comparação entre o sistema tele-operado e autônomo .......................... 48 Figura 4.2 Esquema geral de tele-operação................................................................................. 49 Figura 4.3 Representação esquemática de uma forma de tele-operação. .................................... 50 Figura 4.4 Representação esquemática da percepção do ambiente remoto em tele-operação. ... 50 Figura 4.5 Classificação dos sistemas robóticos com respeito à autonomia e evolução dos mesmos. .............................................................................................................................. 51 Figura 4.6 Representação esquemática do relacionamento homem-máquina na tele-operação.. 52 Figura 4.7 Representação de um manipulador tipo Mestre-Escravo [70]. .................................. 53 Figura 4.8 Representação esquemática das principais aplicações da tele-operação.................... 56 Figura 4.9 Representação esquemática da interface e dos módulos do projeto. ......................... 57 Figura 5.1 Representação esquemática da comunicação homem–máquina através de interface.61 Figura 5.2: Representação esquemática da interação operador humano–computador................ 62 Figura 5.3: Representação esquemática do caráter interdisciplinar da interface......................... 62 Figura 5.4: Representação esquemática dos princípios de planejamento da interface................ 65 Figura 5.5: Representação de um segmento de reta dividido em duas partes diferentes ............ 66 Figura 5.6 Representação do quadrado. ...................................................................................... 67 Figura 5.7 Retângulo de ouro e as divisões dele em outros retângulos perfeitos........................ 67 Figura 5.8 Representação da usabilidade da interface, conforme a Norma ISO 9241-11........... 69 Figura 5.9: Representação esquemática de algumas funções da interface. ................................. 70 Figura 5.10: Representação da diferença entre centro geométrico e centro ótico....................... 72 Figura 5.11: Representação esquemática do retângulo da visão. ................................................ 72 Figura 5.12. A representação esquemática da estrutura da interface. ......................................... 74 Figura 5.13. Apresentação da mensagem de início ..................................................................... 75 Figura 5.14. Apresentação da mensagem de verificação ............................................................ 76 Figura 5.15 Apresentação da mensagem com o botão ativo. ...................................................... 77 Figura 5.16. Apresentação dos componentes Label, Edit, Button............................................... 77 Figura 5.17. Apresentação do módulo com os comandos da interface ....................................... 78 Figura 5.18 Representação da imagem do MainMenu. ............................................................... 78 Figura 5.19 Apresentação do menu da interface ........................................................................ 79 Figura 5.20. Apresentação da imagem do componente PageControl.......................................... 79 Figura 5.21. Representação da imagem dos sub módulos da interface ....................................... 79 Figura 5.22. Representação da imagem do sub módulo Descrição do veículo. .......................... 80 Figura 5.23. Apresentação da imagem do módulo com informação sobre a câmera. ................. 80 Figura 5.24. Apresentação das seções do sub módulo “Comandos da Interface”....................... 81 Figura 5.25. Apresentação da imagem dos componentes do Guia Dialog................................. 83 xiii Figura 5.26 Apresentação da imagem do menu de informação .................................................. 84 Figura 5.27. Apresentação da imagem da explicação sobre captura de vídeo ............................ 84 Figura 5.28 Apresentação da imagem da mensagem de saída do programa. .............................. 85 Figura 6.1 Representação de um esquema com tipos de rodas. .................................................. 87 Figura 6.2 Representação do tipo de roda esférica...................................................................... 88 Figura 6.3 Representação das configurações cinemáticas típicas. .............................................. 88 Figura 6.4 Representação da configuração de triciclo do sistema robótico estudado. ................ 90 Figura 6.5 Representação da posição e orientação do sistema de eixos robô. ............................ 91 Figura 6.6 Representação do ângulo de orientação θ quando sistema de eixo robô tem uma rotação na frente de sistema de base................................................................................... 92 Figura 6.7 Representação do sistema de eixo robô qual é transladado e rodado em comparação com sistema de eixo base. .................................................................................................. 92 Figura 6.8 Representação da estrutura do triciclo. ...................................................................... 93 Figura 6.9 Representação geométrica do Centro Instantâneo de Rotação. ................................. 94 Figura 6.10 Representação geométrica da posição do CIR......................................................... 95 Figura 6.11 Representação esquemática da cinemática direta. ................................................... 98 Figura 6.12 Representação esquemática dos métodos para o calculo de integrais definidas. ..... 99 Figura 6.13 Representação esquemática da função f (x) que será integrada por polinômio de interpolação p1 ( x) . .......................................................................................................... 101 Figura 6.14 Representação esquemática da divisão do intervalo [a,b] em subintervalos de dimensão h........................................................................................................................ 102 Figura 6.15 Representação da trajetória em linha reta quando a direção se manter constante a variação do tempo............................................................................................................. 103 Figura 6.16 Representação da trajetória quando a velocidade é constante e o ângulo da direção igual a zero. ...................................................................................................................... 104 Figura 6.17 Representação da variação da velocidade da roda dianteira e o ângulo da direção alpha ................................................................................................................................. 104 Figura 6.18 Representação da variação das variáveis de posição x,y e a orientação do robô... 105 Figura 6.19 Representação da trajetória circular quando a direção se mantiver constante igual a um ângulo de 30 graus com a variação do tempo............................................................. 106 Figura 6.20 Representação da trajetória com uma velocidade constante e o ângulo da direção constante igual a 30 graus................................................................................................. 106 Figura 6.21 Representação da mudança das variáveis: velocidade da roda dianteira e ângulo da direção Alpha= π 6 ............................................................................................................. 107 Figura 6.22 Representação da mudança das variáveis. ............................................................. 107 xiv Figura 6.23 Representação da variação das variáveis. .............................................................. 108 Figura 6.24 Representação das variáveis. ................................................................................. 108 Figura 6.25 Representação da variação das variáveis. .............................................................. 109 xv ÍNDICE DE TABELAS Tabela 2.1 Grandezas e unidades radiológicas............................................................................ 17 Tabela 2.2 Velocidades das radiações ionizantes [37]. ............................................................... 19 Tabela 2.3 Alcance das partículas alfa em alumínio, chumbo, água e ar [37]. ........................... 20 Tabela 2.4 Alcance das partículas beta em alumínio [37]........................................................... 20 Tabela 2.5 Valores TVT para diferentes materiais considerando várias energias dos fótons [37]. ............................................................................................................................................ 21 Tabela 2.6 Limites radiológicos anuais adotados pela CNEN [33]............................................. 23 Tabela 3-1 Condições da câmera do reator, [41]......................................................................... 32 Tabela 3-2 Taxas de dose de radiação para uma área A.............................................................. 32 Tabela 3-3 Taxas de dose de radiação para uma área B.............................................................. 33 Tabela 3-4 Taxas de dose de radiação para uma área C.............................................................. 33 Tabela 3-5 Taxas de dose de radiação para uma área D.............................................................. 33 Tabela 3-6 Limites de radiação para sensores[ 37]. .................................................................... 35 Tabela 3-7: Valores limites de dose total de radiação em alguns metais. ................................... 35 Tabela 3-8: Valores limites de dose total de radiação para alguns tipos de cerâmica. ............... 36 Tabela 3-9: Taxas de transmissão da luz para diferentes tipos de vidro. .................................... 36 Tabela 3-10: Resistência à radiação em alguns polímeros [37] [52]........................................... 37 Tabela 3-11: Danos em camadas de proteção [37] [52]. ............................................................. 38 Tabela 3-12 Valor limite de radiação para alguns adesivos [77] [92]......................................... 39 Tabela 3-13: Valores limites de radiação gama para alguns lubrificantes [37] [52]................... 39 Tabela 3-14: Taxa de dose que ocasionam danos em conectores e interruptores. ...................... 40 Tabela 4.1 Limites da dose de radiação aceita por ano para cada trabalhador exposto à radiação ionizante na Espanha. ......................................................................................................... 55 Tabela 4.2 Limites primários anuais de dose equivalente conforme a Norma CNEN-NE-3.01. 55 xvi 1 INTRODUÇÃO A Robótica é uma área interdisciplinar (Figura 1.1), que envolve especialistas em vários domínios da engenharia (mecânica, elétrica e eletrônica), da ciência da computação (algoritmos e estrutura de dados, inteligência artificial, sistemas operacionais, visão computacional, otimização, processamento da informação, etc.), da matemática (modelagem matemática, parametrização das curvas, cálculo, etc.) e da biologia (estudo do movimento dos insetos, animais). Figura 1.1 Representação esquemática da robótica como área interdisciplinar. Uma parte importante e em continuo desenvolvimento da robótica constitui a robótica móvel (quando um robô tem a capacidade de se locomover por seus próprios meios ele é classificado como móvel) em função do tipo de movimento e ambiente do trabalho dos mesmos [1]. Existem tipos de robôs móveis terrestres, aéreos, subaquáticos e nano-robôs e que podem ser classificados em função do tipo do controle em: teleoperados (um operador define todos os movimentos que o robô deve executar), semiautônomos (o operador indica o comando a ser executado e o robô executa a instrução), autônomos (o robô executa suas tarefas tomando suas próprias decisões). O potencial de uso de robôs móveis em quase todas as atividades humanas observou-se a crescer a cada ano. O uso dos mesmos é realizar as tarefas especialmente perigosas como, por exemplo: manipulação de matérias no domínio nuclear, no combate ao fogo, operação e estudo em ambientes de explorações espaciais, atividades em águas profundas, em serviços domésticos, em tarefas de segurança e patrulhamento, entre 1 outras. Uma característica comum dos sistemas robóticos que realizam essas tarefas é a exigência de se locomover de uma posição para outra evitando obstáculos (se for necessário) e se posicionar de acordo com a tarefa a cumprir. Os robôs móveis têm que interagir com os ambientes complexos, com a finalidade de substituir o ser humano. A modelagem dos ambientes complexos está dada ao fato dos números de variáveis independentes necessárias. Quando o número de variáveis introduzidas para modelar o ambiente é grande e as possibilidades do robô de “sentir” o ambiente através de sensores são reduzidas, a tele-operação pode-se constituir em uma alternativa. Ao projetar um sistema robótico deve-se ter atenção em algumas considerações sobre: (i) a sua forma e tamanho, assim que o robô ao interagir com o meio que o rodeia não pode danificá-lo nem ser danificado. (ii) Quando se precisar da manutenção do robô, devem ser tomadas opções na fase de projeção, de modo a minimizar e facilitar as intervenções para a reparação e manutenção. (iii) Na forma ou modo de deslocamento, isto é, a configuração do seu sistema de locomoção incluindo motricidade e direção e que leva em conta o tipo de terreno em que o robô opera. (iv) Na coleção de sensores com os quais o robô obtém a informação do ambiente; e (v) a fonte de alimentação e autonomia energética. Na continuação são estudados alguns tipos de robôs móveis que foram estudados com objetivo de realizar uma base para futuras análises. 1.1 Robôs Móveis com Rodas Um robô móvel pode ser decomposto fisicamente em três partes: em um mecanismo para fazer o robô locomover-se pelo ambiente, em um ou mais computadores para controlar o robô e em uma coleção de sensores com os quais o robô obtém informação do ambiente. Nesse capitulo, são levadas em consideração algumas análises sobre os robôs terrestres com o objetivo de fazer uma escolha adequada para o projeto. Assim foram analisados trabalhos na área de robótica móvel focada em robôs com tipo de locomoção terrestre através de rodas. Com a finalidade de escolher uma configuração de locomoção adequada, foram analisados robôs com as configurações típicas como: triciclo, diferencial, síncrono, onidirecional e Ackerman [2]. 2 A configuração tipo triciclo é caracterizada por três rodas, duas posicionadas na parte traseira, sendo passivas e uma roda posicionada na parte dianteira do sistema robótico com a função de tração e direção. A configuração de triciclo foi apresentada pela primeira vez por W.Grey Walter. O robô Tortoise (Figura 1.2) é um dos primeiros robôs móveis, construído em 1948 e capaz de seguir uma fonte de luz. Do ponto de vista mecânico e eletrônico, era bastante simples: três rodas montadas em triciclo, sendo duas de propulsão e uma de direção, e atuadas por motores elétricos independentes para cada uma delas. Os "sentidos" eram bem primitivos: apenas um sensor de luz e um sensor de contato, montados externamente. A alimentação de energia era fornecida por uma bateria comum, montada na parte de trás. Um revestimento de plástico abrigava e protegia todo o conjunto [4] [5]. Figura 1.2 Robô Tortoise [3]. Na Universidade Carnegie-Mellon foram projetados a partir de 1982 quatro tipos de robôs móveis, começando com o robô Pluto, Neptune, Ilonator e Terragator [6]. O robô Neptune (Figura 1.3) é um triciclo com a roda da frente equipada para tração e direção e as duas rodas traseiras são passivas e é equipado com duas câmeras e vinte e quatro sensores de ultra-som distribuídos em sua volta. Outra configuração do triciclo é apresentada pelo robô Trikebot (Figura 1.4). Esse robô tem duas rodas passivas na traseira e a roda da frente é configurada com um motor para tração e um servo motor para direção, com uma câmera pan e tilt [8] [9]. 3 Figura 1.3 Robô Neptune [6][7]. Figura 1.4 Robô Trikebot [8]. No caso da configuração onidirecional, as rodas são orientadas e tracionadas de forma independente [10]. A configuração onidirecional foi implementada no robô Pluto da Universidade Carnegie-Mellon. O robô Pluto (Figura 1.5), tem três rodas motorizadas independentes com a finalidade de ter um movimento onidirecional e foi desenvolvido para o estudo dos problemas de controle e estabilização. Depois de vários estudos sobre o mesmo, o robô Pluto foi doado para o Museu de Computadores de Boston [6]. Figura 1.5 Robô Pluto [11]. 4 O robô Hermies III do Oak Ridge National Laboratory possui a configuração onidirecional constituída de duas rodas motorizadas e quatro rodas castor [2][12]. Outro robô com a configuração onidirecional é o robô Mecanum (Figura 1.6). Figura 1.6 Robô Mecanum [13]. O robô 5dpo-2000 (Figura 1.7) da Universidade do Porto – FEUP é um robô onidirecional feito para competir no concurso Robôcup Pádua 2003 [15]. Figura 1.7 Robô 5dpo-2000 [13]. No caso da configuração diferencial, a mesma consiste de duas rodas em um eixo comum, em que cada roda é controlada independentemente. Utiliza uma roda adicional, castor, para balanço [2]. Quando a estrutura típica é diferencial, teoricamente, o robô irá deslocar se para frente, alimentando ambos os motores com a mesma tensão constante. Da mesma forma, as curvas serão realizadas pelo mesmo princípio, isto é, adicionando uma tensão “extra” a um motor, fazendo com que o robô rode sobre si e complete a curva. O robô RoboX (Figura 1.8) desenvolvido no Autonomous System Lab, EPFL na Suíça [16][17] é um robô diferencial autônomo interativo, podendo 5 comunicar-se com o ser humano. O robô foi exibido no evento Swiss National Exhibition Expo.02. Figura 1.8 Robô RoboX [16]. Na Figura 1.9, o robô MARVIN (Mobile Autonomous Robot Vehicle for Indoor Navigation) é um robô móvel com a configuração diferencial desenvolvido pelo Grupo de Mecatrônica da Universidade Waikato, Nova Zelândia [18][19][21]. Figura 1.9 Robô MARVIN [20]. Outro veículo autônomo com a cinemática diferencial, baseado na idéia do Valentino Braitemberg [22][23], onde os veículos são utilizados para simular características psicológicas dos humanos como amar, repudiar e agredir, baseado apenas nas suas ações e reações. Descreve-se um jogo das experiências do pensamento em que os veículos cada vez mais complexos são construídos por componentes mecânicos e 6 eletrônicos simples. Na Figura 1.10(A) e (B) são apresentados simbolicamente dois desses veículos e uma fonte de luz. A estrutura é dotada com dois fotosensores e existe um motor associado a cada roda. Como se os dois motores fizessem movimentos em sentidos contrários, a estrutura vai girar. No caso do veículo da Figura 1.10(A) (veículo que se recusa à luz), como o sensor mais próximo da luz é o da direita, ele produz um sinal maior do que o sensor da esquerda. Visto que cada sensor está ligado ao motor da roda do mesmo lado, neste caso a roda direita vai andar mais depressa do que a esquerda. Conseqüentemente, o robô vai virando para a esquerda, afastando-se da luz. No caso do robô da Figura 1.10(B) (veículo que é atraído pela luz), as ligações entre os sensores e as rodas são invertidas. Aplicando o mesmo tipo de raciocínio, verifica-se que este robô se aproxima da luz. Figura 1.10 (A) Veículo que recusa da luz (B) veículo atraído pela luz. O robô Khepera da Figura 1.11 é um robô de forma circular que se move através de duas rodas fixas acionadas por motores independentes de corrente contínua. Dispõe de módulos de visão, telemetria, garra mecânica, sensores de infravermelho, que detectam a proximidade ao obstáculo. Figura 1.11 Robô Khepera [24]. 7 No caso da configuração do tipo Ackerman, em geral o tipo de direção dos automóveis, possui duas rodas de tração e duas de direção e geralmente é escolhida para veículos grandes que atuam em ambientes externos. Dois exemplos dessa configuração são apresentados a seguir: O primeiro se trata de uma transformação de uma cadeira de rodas para paraplégicos em um robô móvel capaz de se locomover no ambiente externo. Esse robô, chamado Titan Figura 1.12 tem a sua estrutura cinemática do Ackerman [25]. Figura 1.12 Robô Titan [25]. O robô Pneuman [26], Figura 1.13 desenvolvido no Laboratório Machine Intelligence da Universidade da Flórida, é um robô humanóide com quatro rodas que permite três modos de locomoção: diferencial, Ackerman e ”crab”. Figura 1.13 Robô Pneuman [26]. No caso da configuração síncrona, todas as rodas estão ligadas de forma que apontam para mesma direção, as rodas se movem de forma síncrona para andar reto ou girar. Uma configuração típica são três rodas dispostas em forma de um triângulo eqüilátero. Todas as rodas apontam para a mesma direção e giram na mesma proporção, isto é obtido através do uso de uma coleção complexa de cintos que mantêm as rodas fisicamente juntas. É controlada a direção em que as rodas apontam e a taxa em que as 8 rodas giram. Os robôs Rhino e Carmel usam esse tipo de configuração. O robô Rhino, [27] foi desenvolvido pela Real Word Interface e tem a configuração síncrona e é dotado com sensores de ultra-som de proximidade. O robô Carmel (Computer-Aided Robotics for Maintenance, Emergency, and Life support) tem a configuração síncrona [28][29][30]. Nestes tempos já é possível fabricar robôs que servem para grande área de operações, seja de limpeza, operação cirúrgica remotamente, ambientes hostil ao ser humano, etc. A disponibilidade de nova tecnologia permite a formação de novas idéias nas áreas de inteligência artificial, robótica, micro-máquinas e materiais inteligentes. Em conformidade com as pesquisas realizadas sobre a escolha da configuração cinemática, para esse trabalho foi aceita a opção do triciclo. As razões porque foi escolhida essa configuração em comparação com as outras são os seguintes: (i) o projeto de um robô com a configuração triciclo não requer suspensão devido a que a superfície do solo que se tem projetado trabalhar é plana (solo regular). (ii) No caso do triciclo não existe coordenação no sistema de direção, minimizando o custo devido ao número de componentes materiais. (iii) Oferece manobrabilidade, (iv) estabilidade em caso que os componentes pesados sejam colocados em posição baixa do sistema robótico e mantendo uma altura de tal forma que o centro de massa seja baixo, assim diminui as chances de capotar [13] [20]. (v) Outra razão de escolher a configuração de triciclo, é que no caso dessa configuração não existem distúrbios em caso do deslocamento em linha reta dado pela diferença de velocidade das rodas [9]. No caso de sistemas robóticos com quatro rodas, a movimentação em terrenos acidentados existe uma leve torção no chassi do mesmo. Uma única roda posicionada na frente acrescenta a habilidade de desviar de obstáculos. Conforme essas razões e devido às pesquisas feitas, o sistema robótico do presente trabalho foi escolhido com a configuração cinemática de triciclo. Em continuação é apresentado o objetivo da pesquisa e a organização dos capítulos do mesmo. 1.2 Objetivo O objetivo principal deste trabalho é o estudo conceitual de um robô móvel terrestre com rodas, que possa atuar em um ambiente hostil (com radiação nuclear) ao ser humano com objetivo de inspeção visual do ambiente. Para uma melhor visualização do ambiente do trabalho do sistema robótico será apresentado um exemplo do ambiente 9 do compartimento do reator da Angra 1, Figura 1.14. Para a realização deste trabalho, é necessário seguir os seguintes passos: escolha da estrutura cinemática, projeto da plataforma móvel, seleção dos módulos de “hardware”, escolha do dispositivo controlador adequado às necessidades do projeto, construção da interface de comando e montagem do conjunto. Figura 1.14. O edifício do reator da Angra 1[33] 1.3 Organização da Dissertação A dissertação desse trabalho encontra-se dividida em capítulos que são mostrados na Figura 1.15. No capítulo dois são apresentados alguns conceitos importantes ligados a noções de energia nuclear. No inicio do capítulo apresenta-se um curto histórico sobre a teoria atomista seguido de algumas noções gerais como o conceito de composição da matéria, estrutura atômica, energia nuclear. Para realizar uma base de conhecimento sobre grandezas e as unidades de radiação nuclear no SI (Sistema Internacional) as mesmas são apresentadas. Em seguida são explicados os tipos de radiações nucleares especificando-se as diferenças entre as radiações ionizantes e não ionizantes e quais são os tipos de radiações ionizantes. A seguir se apresentam os tipos de fontes de radiação natural e artificial, noções de proteção radiológica, detectores de radiação. No final desse capítulo, é explicada a diferença entre irradiação e contaminação e os efeitos biológicos da radiação ionizante no caso que ocorreu. 10 No capítulo três apresenta-se a forma que a radiação ionizante interage com a matéria atingida. As radiações ionizantes além de serem perigosas para o ser humano também são prejudiciais para os equipamentos. Adicionalmente, é feita uma analise sobre os efeitos das radiações ionizantes utilizados em sistemas robóticos. Seguidamente, se trata de alguns métodos disponíveis para aumentar a vida útil dos componentes eletrônicos de um sistema robótico e também as técnicas para projetar sistemas eletrônicos tolerantes à radiação. Apresenta-se uma análise sobre o comportamento do diversos materiais (metais, cerâmica, vidro, polímeros e plásticos, adesivos, lubrificantes) e componentes eletrônicos (resistores, capacitores, diodos, semicondutores, transistores, sensores de imagem CCD e CMOS, câmeras de vídeo, microprocessadores, memória) expostos a radiação ionizante. O capítulo quatro aborda a tele-operação como uma solução na necessidade de inspeção remota e operação em ambiente com radiação ionizante (ambiente hostil). É apresentado o que significa tele-operação e os modelos de relacionamento homemmáquina no caso de tele-operação (modelo mestre-escravo, tele-presença, modelo professor-aluno e modelo supervisor-companheiro). No final desse capítulo são apresentados os motivos e a necessidade de utilizar a tele-operação em ambientes hostis tal como o ambiente com radiação ionizante. O quinto capítulo tem como abordagem a interface gráfica homem-sistema robótico. É apresenta a definição da noção de interface gráfica, alguns pré-requisitos necessários na projeção da interface, o papel importante da interface no ato de comunicação homem-máquina. São levadas em consideração na projeção da interface gráfica a influência do usuário, apresentação e a interatividade, harmonia, ergonomia e a usabilidade da mesma. O final do capítulo quinto é atribuído ao desenvolvimento próprio-dito da interface gráfica deste trabalho com as explicações em vigor. O capítulo seis destina-se a apresentar a cinemática do robô móvel (configuração triciclo), os tipos de rodas que podem ser utilizadas na construção do sistema robótico e também as configurações cinemáticas clássicas como triciclo, diferencial, Ackerman, onidirecional e síncrono. Em seguida são explicadas as noções de grau de mobilidade e holonomia. O foco desse capítulo é a apresentação do esquema cinemático de triciclo do sistema robótico desenvolvido nesse trabalho. Finalmente, no capítulo sete são apresentadas às conclusões obtidas, os trabalhos futuros a serem realizados para um melhor estudo do problema, e as aplicações dos resultados obtidos para o desenvolvimento do projeto. 11 Figura 1.15 Representação esquemática da organização da tese. 12 2 NOÇÕES GERAIS DE FÍSICA NUCLEAR A tarefa do sistema robótico estudado é um ambiente hostil, em particular um ambiente de uma usina nuclear, por conseguinte é um ambiente com caráter especifico. Por este motivo no presente capítulo será apresentado, de maneira sintética, algumas noções básicas de física nuclear com a finalidade de compreensão do caráter especifico do ambiente. No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) é o órgão que regula e fiscaliza todas as etapas necessárias para a entrada em operação de uma instalação nuclear ou radioativa, desde a licença prévia para construção até a sua desativação. O operador da instalação precisa seguir normas técnicas estabelecidas pela CNEN e passa por fiscalizações, cujo objetivo é garantir o desempenho ótimo da instalação, dentro dos padrões de segurança. 2.1 Composição da Matéria As matérias existentes no universo são constituídas de átomos ou de suas combinações. As substâncias simples são constituídas de átomos e as combinações destas formam as moléculas das substâncias compostas. Os átomos se combinam de maneira que depende da sua natureza e das propriedades que as suas estruturas propiciam. [32]. 2.1.1 Estrutura do Átomo O átomo é constituído de um núcleo, onde fica concentrada a massa do átomo e minúsculas partículas que giram ao seu redor, denominadas elétrons, como pode ser observado na Figura 2.1. Os elétrons são partículas de carga negativa e massa muito pequena. 13 Figura 2.1 Representação de um átomo [33]. O núcleo do átomo é constituído de partículas de carga positiva, chamadas prótons, e de partículas de mesmo tamanho, mas sem carga, denominadas nêutrons de forma apresentada na Figura 2.2. Figura 2.2 Representação do núcleo do átomo [33]. Os prótons têm a tendência de se repelirem, porque têm a mesma carga (positiva). Como eles estão juntos no núcleo, comprova-se a existência de energia nos núcleos dos átomos, chamada a energia de ligação dos nucleons ou energia nuclear. 2.1.2 Energia nuclear Energia nuclear é a energia que o núcleo do átomo possui, mantendo prótons e nêutrons juntos, é a energia de ligação dos nucleons (partículas do núcleo) [34]. O elemento natural mais simples, o hidrogênio, possui apenas um próton. Um elemento dos mais complexos, é o urânio, tem 92 prótons, sendo o elemento químico natural mais “pesado” (isto é, com muitos prótons e nêutrons). Na Figura 2.3 é possível observar que a energia nuclear cresce junto com a complexidade do elemento. 14 Figura 2.3 Representação da estrutura nuclear do Hidrogênio, Helio, Lítio e Urânio [33]. 2.1.3 Origem da Radiação As radiações são produzidas por processos de restauração interna (para atingir a estabilidade) que ocorrem no núcleo ou nas camadas eletrônicas, ou pela interação de outras radiações ou partículas com o núcleo ou com o átomo [32]. Um núcleo energeticamente elevado (por ter excesso de partículas ou de carga) tende a estabilizarse, emitindo algumas radiações que podem ser em forma de partículas que tem massa, carga e velocidade (de tipo alfa e beta) ou em forma de ondas eletromagnéticas (de tipo gama) (Figura 2.4) [35]. Figura 2.4 Representação dos tipos de radiação nucleares [33]. 15 2.2 Grandezas e Unidades de Radiação Nuclear no SI 2.2.1 EletronVolt (eV) A energia da radiação é expressa em elétron-Volt (eV). Onde 1eV representa a energia cinética adquirida por um elétron ao ser acelerado por uma diferença de potencial elétrico de 1 Volt no vácuo [32]. 1MeV = 106 eV = 1, 602*10−13 Joule (2.1) 2.2.2 Gray (Gy) Expressa a relação entre a energia absorvida pelo material e a massa de volume de material atingido [32]. É um efeito da interação da radiação com a matéria e a transferência de energia. A radiação nem sempre é toda absorvida, devida à variedade de modos de interação e à natureza do material. 1 Gy = 1 J/Kg ou 1 Gy = 100 Rad (Rad é a unidade antiga de dose absorvida) 2.2.3 Becquerel (Bq) A atividade de uma amostra com átomos radioativos (ou fonte radioativa) é medida em Becquerel [33]. O Becquerel é o número de partículas ou fótons emitidos por segundo de uma fonte de radiação. 1 Bq= uma desintegração por segundo [36]. A relação do Bq com o Ci (unidade antiga) é: 1 Ci (Curie) = 3,7 *1010 Bq . 2.2.4 Sievert (Sv) Expressa os efeitos das interações entre radiação e corpo humano [32]. Esta unidade é usada para indicar o risco à saúde humana devido a radiações ionizantes. A 16 relação do Sv com o Rem (unidade antiga) é: 1 Sv (Sievert) = 100 Rem. Na Tabela 2.1 são apresentadas as grandezas e unidades descritas nesta seção. Tabela 2.1 Grandezas e unidades radiológicas. Nome Bequerel Gray Sievert EletronVolt Símbolo (SI) Bq 1Ci (Curie) =3,7*10 10 Bq (ou integrações/s) Gy 1 Gy= 1 J/Kg 1 Gy = 100 Rad (antigo) Sv 1 Sv = 100 Rem (antigo) eV 1 eV= 1,6*10 -19 Joule Grandeza Atividade da fonte de radiação. Dose absorvida. (absorção da radiação pelo material) Equivalente de dose. (absorção da radiação pelo corpo humano) Energia de radiação. 2.3 Tipos de Radiações As radiações se dividem em função da capacidade de ionização em: radiação não ionizante que pode ser de tipo: infravermelho, cósmica, ultravioleta e catódica e radiação ionizante que pode ser de tipo: alfa, beta, gama, raios-X e nêutron como é apresentado na Figura 2.5. Figura 2.5 Tipos de radiações. 2.3.1 Radiações ionizantes 17 A radiação ionizante é qualquer partícula ou radiação eletromagnética que, ao interagir com a matéria, “arranca” elétrons dos átomos ou de moléculas, transformandoos em íons (Figura 2.6). Assim, as partículas alfa, as partículas beta e a radiação gama, emitidas por fontes radioativas, bem como os raios X, emitidos pelos respectivos aparelhos, são radiações ionizantes [33][36]. Figura 2.6 Representação de um íon pelo fato que foi ejetado um elétron [33]. Na interação das radiações ionizantes com a matéria, as mesmas atravessam o material e essas radiações transferem energia para as partículas que forem encontradas em sua trajetória. Caso a energia transferida seja superior à energia de ligação do elétron com o restante da estrutura atômica, este é ejetado de sua órbita [33]. O átomo é momentaneamente transformado em um íon positivo. O elétron arrancado (íon negativo) desloca-se no meio, impulsionado pela energia cinética adquirida neste processo. Na Figura 2.7 pode-se notar a capacidade de penetração das radiações alfa, beta, gama, raios-X e nêutron, observando que as radiações eletromagnéticas do tipo X e gama, são as mais penetrantes (e dependendo de sua energia) podendo atravessar vários centímetros do tecido humano e até vários metros de blindagem de concreto. Enquanto as radiações betas são pouco penetrantes, em relação às anteriores (dependendo de sua energia) podem atravessar milímetros e até centímetros de tecido humano. Já, as partículas alfa possuem um poder de penetração menor. Mesmo radiações com 5 MeV, não conseguem atravessar a espessura de uma folha de papel. Entretanto, o seu poder de ionização é maior [36]. 18 Figura 2.7 Representação esquemática da capacidade de penetração das radiações alfa, beta, gama, raio-X e nêutron [33]. Para ter uma idéia da velocidade das radiações ionizantes em relação à energia delas, na Tabela 2.2 são apresentadas as velocidades das mesmas. Tabela 2.2 Velocidades das radiações ionizantes [37]. Tipo de Radiação Alfa Bata Gama Nêutron Raio X Energia (MeV) 1 1 qualquer 0,1 qualquer Velocidade (m/s) 7,0 * 10 6 2,8 * 10 8 3,0 * 10 8 1,4 * 10 7 3,0 * 10 8 A continuação é apresentada uma descrição curta sobre radiação alfa, beta, gama, raios-X e nêutron com a finalidade de entender as características das mesmas. Radiação Alfa [35] é o resultado dos processos de estabilização de um núcleo com excesso de energia são as radiações mais ionizantes, mas a sua penetração na matéria é pequena, não conseguindo atravessar uma simples folha de papel e percorrendo poucos centímetros no ar [33]. O alcance (a distância que uma partícula percorre antes de parar) sendo pequeno faz com que elas sejam facilmente blindadas. A maioria das partículas alfa é emitida com energia entre 3 e 7 (MeV) [32]. Na Tabela 2.3 se apresenta o alcance (µm) das partículas alfa em alumínio, chumbo, água e ar e se pode observar que uma folha fina de alumínio de 22 (µm) barra completamente um feixe de partículas alfa de 5 (MeV). 19 Tabela 2.3 Alcance das partículas alfa em alumínio, chumbo, água e ar [37]. Energia (MeV) 0,01 0,1 0,5 1 5 Alcance das partículas alfa (µm) Alumínio Chumbo Ägua Ar 0,1 0,05 0,2 240 0,6 0,4 1 1330 1,8 1,5 3 3310 3,3 2,5 5 5520 22 14 37 36700 Radiação Beta: é constituída de partículas emitidas por um núcleo (na busca de estabilidade do mesmo), quando existe no núcleo um excesso de nêutrons em relação ao numero de prótons [35]. Dependendo de sua energia, a maioria das partículas beta, pode percorrer poucos metros no ar e têm um poder ionizante bem menor do que as partículas alfa e maior penetração do que estas. Na Tabela 2.4 são apresentados os valores do alcance (µm) das partículas beta em alumínio. Tabela 2.4 Alcance das partículas beta em alumínio [37]. Energia (MeV) Alcance (µm) 0,01 0,06 0,1 5 0,5 60 1 160 5 940 Radiação Gama: geralmente, após a emissão de uma partícula alfa ou beta, o núcleo resultante desse processo (ainda com excesso de energia) procura estabilizar-se, emitindo esse excesso em forma de onda eletromagnética, da mesma natureza da luz e sem carga elétrica, denominada radiação gama [35]. A radiação gama e os raios-x são as radiações mais penetrantes, mas o seu poder de ionização é baixo em relação às partículas alfa e beta [33] [37]. A proteção contra os fótons (não possuem carga e nem massa) da radiação gama pode ser uma espessura grossa de material com um grande número atômico Z, como chumbo [37]. Um modo de se comparar a absorção de fótons em diferentes materiais é usar o valor de décima redução (TVT - Tenth Value Thickness), que representa a espessura de material que atenua a radiação para um décimo de seu valor inicial [37]. Na Tabela 2.4 apresenta-se o TVT em centímetros para diferentes materiais por várias energias dos fótons (radiação gama ou raios-X). Se pode observa que para uma radiação gama com energia de 0,05 (MeV) um material de 20 alumínio com a espessura de 21 cm atenua essa radiação ao um décimo do valor inicial da radiação. Tabela 2.5 Valores TVT para diferentes materiais considerando várias energias dos fótons [37]. Energia (MeV) 0,05 0,1 0,5 1 5 Alumínio 21 50 101 139 300 TVT(cm) Ferro Chumbo 1,6 0,25 8,1 0,37 35 13 49 29 93 47 Concreto 18 49 111 153 338 Raios-X: é radiação da mesma natureza da radiação gama (ondas eletromagnéticas), com características idênticas, só difere da radiação gama pela origem, ou seja, os raios-X não partem do núcleo do átomo [36] [37]. Toda energia nuclear é atômica, porque o núcleo pertence ao átomo, mas nem toda energia atômica é nuclear [38]. Um exemplo de energia atômica que não é nuclear é a energia das reações químicas. Nêutrons: Os nêutrons podem ser produzidos por dispositivos como, reatores nucleares e aceleradores de partículas e são classificados de acordo com sua energia[37] a) Lentos ou térmicos: 0,025 (eV) a 0,5 (eV) b) Intermediários ou epitérmicos: 0,5 (eV) a 10 (keV) c) Rápidos: 10 (keV) a 20 (Me V) Os nêutrons de grande energia (nêutrons rápidos) atravessam materiais mais densos sem perder muita energia. Os átomos de hidrogênio são capazes de causar grande redução de energia desses nêutrons, assim, os elementos que contem um número elevado de átomos de hidrogênio. Por exemplo, a água representa uma boa blindagem contra os nêutrons [37], alguns elementos químicos, como o boro (na forma de ácido bórico ou de metal) e o cádmio (em barras metálicas) têm a propriedade de absorver nêutrons [39]. Em compensação, quando os nêutrons perdem bastante energia transformam-se em nêutrons térmicos, que podem ser capturados por um núcleo, alterando a estrutura desse núcleo e tornando-o radioativo, capaz de emitir radiação gama de alta energia [33]. 21 A realização das análises sobre os tipos de radiações ionizantes foram realizadas com o objetivo de entender a natureza das mesmas e de que forma eles interagem com a matéria sabendo que no espaço do trabalho do sistema robótico existem estes tipos de radiações. As radiações ionizantes representam uma preocupação para o ser humano que está trabalhando em uma área de alto risco, exposto a este tipo de radiação, mas alem deste tipo de radiação, o ser humano está exposto à radiação natural. Estas fontes de radiação são apresentadas em seguir. Fontes de radiação natural e artificial: A radiação ambiental é composta tanto da radiação natural quanto da artificial. O ser humano sempre esteve exposto a radiações naturais (rádio e radônio existente no subsolo terrestre, elementos radioativos existentes no corpo humano como potássio-40, carbono-14 e rádio-226 e radiação cósmica) também expostos a radiação artificial (radiografias médicas, televisão, centrais nucleares). A exposição média por pessoa proveniente de fontes naturais é de 2,4 mSv por ano, podendo haver variação, dependendo da região onde o indivíduo resida [34]. Na Figura 2.8 é apresentada a distribuição percentual da exposição do homem às fontes de radiação, na mesma pode-se observar que a radiação natural representa 67,6% e somente 0,45% é devido a exposição ocupacional. Figura 2.8 Distribuição percentual da exposição do homem às fontes de radiação [32]. Uma vez que o ser humano está exposto à radiação natural de qualquer forma, no caso da exposição à radiação artificial (por motivo profissional) deve ser feita dentro 22 de alguns limites e sabendo os riscos decorrentes desse tipo de trabalho. No parágrafo a seguir são apresentados alguns limites de radiação aceitos pela CNEN. Radioproteção (Proteção Radiológica): A Proteção Radiológica ou Radioproteção tem como objetivos evitar ou reduzir os efeitos nocivos das radiações sobre o ser humano sejam elas de origem natural ou artificial. Na Tabela 2.6 são apresentados os limites radiológicos anuais de dose equivalente (quantidades de radiação) adotados pela CNEN, onde a dose equivalente efetiva deve ser de 20 mSv por ano em um período de cinco anos, sendo aceitável até 50 mSv em um único ano. São considerados indivíduos do público qualquer membro da população não exposto de maneira ocupacional à radiação e são consideradas extremidades: mãos, antebraços, pés e tornozelos. Tabela 2.6 Limites radiológicos anuais adotados pela CNEN [33]. Dose Equivalente Efetiva Para extremidades Trabalhador 50 (mSv) 500 (mSv) Público 1 (mSv) 50 (mSv) Existem métodos de proteção contra as radiações artificiais externas (radiações provenientes de fontes fora do corpo humano) que dependem de variáveis como: tempo, distância e blindagem [33] que são explicados em seguir: (i) Tempo: a dose absorvida por uma pessoa é diretamente proporcional ao tempo em que ela permanece exposta à radiação. Qualquer trabalho em uma área controlada deve ser cuidadosamente programado e realizado no menor tempo possível. (ii) Distância: para as fontes radioativas normalmente usadas na indústria (fontes “pontuais”) pode-se considerar que a dose de radiação é inversamente proporcional ao quadrado da distância, isto é, decresce com o quadrado da distância da fonte à pessoa. (iii) Blindagem: é o modo mais seguro de proteção contra as radiações ionizantes, uma vez que os dois métodos anteriores dependem de um controle administrativo contínuo dos trabalhadores. Na Figura 2.9 são apresentados os métodos possíveis utilizados para proteção contra radiação gama emitida de uma fonte, que são: manter-se pouco tempo junto à fonte e manter uma máxima distancia da mesma utilizando uma blindagem. 23 Figura 2.9 Métodos proteção contra uma fonte de radiação gama Distribuição. Mesmo utilizando todos os métodos de proteção contra radiação ionizante, existe a possibilidade de ocorrer o fenômeno de irradiação. Quando um indivíduo permanece em um campo de radiação ionizante (gerado de uma fonte externa) recebendo uma dose de radiação, sem que haja contato direto com a fonte, ocorre o fenômeno de irradiação durante a permanência neste campo [33]. Diferença entre irradiação e contaminação: No caso da contaminação, o material radioativo fica em contato com o indivíduo, a diferença apresentada visualmente na Figura 2.10. Quando um ser humano é irradiado para tratamento de um tumor, não fica radioativo ou os alimentos irradiados e produtos esterilizados por radiação também não ficam radioativos. Figura 2.10 Distribuição A diferença entre irradiação e contaminação [33]. A contaminação pode ser externa, quando o material se deposita sobre a pele e passa a irradiar o indivíduo ou interna, quando o material entra no corpo, via pulmão, intestino ou poros. Nesse caso, enquanto houver material radioativo no indivíduo, ele 24 está sendo irradiado e contaminado. Desde momento que o indivíduo sofreu o fenômeno de irradiação ou contaminação (dependendo de tipo de fonte, de tempo, de distancia) é gerada uma serie de efeitos biológicos por causa da exposição à radiação. Estes efeitos biológicos são provocados pelo fato que as radiações ionizantes reagem com os átomos que constituem a base das moléculas biológicas [33]. Os seres vivos são constituídos, principalmente, por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio, e nitrogênio e a água representam a substancia encontrada em maior quantidade na composição química de um ser vivo, participando de todas as reações metabólicas no organismo. Então em caso de exposição às radiações, as moléculas atingidas em maior parte serão as moléculas de água. Portanto a proteção contra a radiação ionizante deve ser resolvida com muita atenção pelos fatores responsáveis, qualquer atividade envolvendo radiação ou exposição a radiações deve ser justificada em relação a possíveis alternativas. Uma das alternativas possíveis representa a utilização de sistemas robóticos para realização de tarefas em áreas expostas à radiação ionizante, protegendo dessa maneira o ser humano. Mesmo utilizando sistemas robóticos como uma solução da realização das tarefas em ambiente com radiação ionizante, isto faz nascerem outras preocupações, os efeitos das radiações em matérias que compõem o sistema robótico. No capítulo seguinte se realiza uma análise sobre a influencia das radiações ionizantes em matérias. 25 3 INTERAÇÃO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES COM A MATERIA. Neste capítulo serão apresentados os tipos de materiais necessários para a construção de um sistema robótico móvel de inspeção visual exposto à radiação ionizante, já que estas, além de ser perigosa, para o ser humano, também são prejudiciais para os equipamentos eletrônicos. Dessa forma quando se projeta um sistema para uma área nuclear, os fatores principais que devem ser levados em consideração é aqueles que limitarão a vida útil e a confiabilidade do sistema, como são: o tipo de radiação, a dose de radiação absorvida pelo sistema [37], o tempo de exposição e a distância entre robô e a fonte de radiação. Como foi apresentada anteriormente, a radiação ionizante é caracterizada por seu poder de interagir com a matéria. Nessas interações, ocorre à transferência de energia da radiação para a matéria, provocando uma série de excitações e ionizações de átomos ao longo do seu percurso. Caso a energia transferida seja superior à energia de ligação do elétron com o restante da estrutura atômica, esse é ejetado de sua órbita. A exposição do ser humano numa área que contem radiação ionizante gera danos biológicos ao mesmo, mas também os materiais de um sistema robótico envolvidos nessa área são vulneráveis a este radiação e o sistema não toleram uma permanente exposição à radiação [40]. Descrição do ambiente nuclear: Os principais tipos de radiações ionizantes mais importantes para os projetistas de um equipamento robótico que deve realizar tarefas em uma área exposta a essas radiações são: gama, beta, alfa e nêutron [40]. A radiação de nêutrons influencia consideravelmente os dispositivos eletrônicos, mas o nível desse tipo de radiação é muito baixo fora do reator. Os nêutrons são encontrados geralmente dentro do reator e não constitui uma preocupação. O problema principal para o sistema robótico é considerado a radiação gama, essa radiação é penetrante, embora a radiação alfa tenha importância particular para as camadas das superfícies, pinturas e para os materiais isolantes dos cabos [41]. A radiação alfa e beta preocupam basicamente quando o material radioativo entra em contato direto com o equipamento robótico [42]. Para blindar as partículas alfa e beta utiliza-se material como acrílico, teflon, PVC, polietileno, segundo a [32]. 26 Efeitos da radiação em materiais utilizados nos sistemas robóticos: Os danos criados por radiação gama em robótica e sistemas eletrônicos são mais preocupantes para os projetistas de sistemas robóticos e por isso em seguir são efetuadas análises sobre os efeitos induzidos dessa radiação em matérias [40] [43] [44]. A radiação gama quebra as cadeias atômicas e por esse fato a estrutura dos materiais é seriamente afetada e preocupante. Entre esses materiais que sofrem o fenômeno de decomposição por motivo da influência da radiação gama são: teflon, óleos, graxas, colas e a lente ótica [42]. Principais interações da radiação gama com a matéria: Quando a radiação gama interage com algum material, ela cria dois efeitos, um de ionização e outro de deslocamento atômico [43][37], efeitos que retiram elétrons dos átomos do material e os elétrons tirados podem criar reações secundárias. As conseqüências imediatas ou de longo prazo produzidas pela ionização e pelo deslocamento atômico dependem fortemente do material [37]. O efeito da radiação nos materiais cria uma mudança gradual nas suas propriedades e não uma falha súbita. Blindagem contra radiação: A blindagem contra radiação ionizante é um método realizado pela introdução deliberada de material absorvedor entre a fonte de radiação e o objeto que será protegido com o objetivo de reduzir a intensidade da radiação [37]. Portanto, ela está relacionada com a interação da radiação ionizante com a matéria. A proteção pode parar toda a radiação ou não, dependendo do tipo de radiação e também do tipo e quantidade de material de proteção, da densidade e espessura do material usado para proteção. A escolha do material a ser empregado na blindagem depende de razões econômicas e de espaço disponível também. Os materiais mais comuns empregados em blindagens contra radiação gama são: o chumbo (Pb), porém o tungstênio (W) pode ser usado por um custo muito maior se for necessária uma blindagem com dimensões reduzidas [37]. O uso de blindagem contra radiação diminui o nível de degradação dos componentes expostos à radiação, aumentando a vida útil do sistema. Na Figura 3.1 é apresentada a forma de atenuação do feixe incidente da radiação usando um material absorvedor para blindagem. Assim é apresentada a noção de coeficiente de atenuação linear total, µ que caracteriza a feixe incidente da radiação que entra num material, com objetivo de ver qual é a atenuação do feixe quando percorre esse material. 27 Figura 3.1 Representação esquemática da atenuação do feixe incidente da radiação usando um material para blindagem. A radiação eletromagnética cede energia quando encontra a blindagem e vai perder fótons do feixe incidente, diminuindo o feixe emergente, esse processo é chamado atenuação. A atenuação é um processo exponencial (apresentado na Figura 3.2) em função da espessura do material da blindagem e é descrito de [32]: quando um feixe de radiação gama ou raios-X incide sobre um material de espessura x, Figura 3.3, parte do feixe é espalhada, parte é absorvida e uma fração atravessa o material sem interagir. A intensidade I do feixe emergente está associada à intensidade I0 do feixe incidente, pela relação (3.1). I = I ∗e − µ*x 0 (3.1) Onde: I → representa a intensidade do feixe emergente. I0 → representa a intensidade do feixe incidente. µ → representa o coeficiente de atenuação linear total (cm-1) x → representa espessura do material da blindagem. Figura 3.2 Representação da atenuação de uma feixe de radiação gama em um material de espessura x [32] 28 Figura 3.3 Representação da atenuação do feixe incidente de radiação gama em um material de espessura x Na Figura 3.4 é apresentado uma aplicação para cálculo da espessura do material de blindagem contra radiação gama. Assim, sabendo os valores da intensidade do feixe incidente, a densidade do material, o coeficiente de atenuação linear total e a intensidade desejada do feixe depois que a mesma passou do material, se calcula a espessura da blindagem, x. Figura 3.4 Aplicação para o cálculo da espessura da blindagem para radiação gama. Componentes tolerantes à radiação: A condição de um componente ser tolerante à radiação denota o fato que esse dispositivo é projetado por um processo específico que o faz resistente à radiação [37]. Os componentes tolerantes à radiação são oferecidos por um número limitado de fabricantes e são geralmente desenvolvidos para aplicações aeroespaciais ou militares. Os componentes tolerantes à radiação são testados, aprovados e garantidos pelos fabricantes, que certificam a resistência à 29 radiação de um dispositivo tolerante e não há nenhuma necessidade de testar os componentes porque as características já são disponíveis e garantidas. 3.1 Métodos Disponíveis para Aumentar a Vida Útil dos Componentes Eletrônicos de um Sistema Robótico. Os principais métodos para aumentar a vida útil dos componentes eletrônicos de sistemas robóticos que são expostos à radiação diferentes ao uso do método de blindagem. 3.1.1 Método 1: evitar o uso de componentes eletrônicos O modo mais fácil para fazer um sistema tolerante na radiação é evitar o uso de componentes eletrônicos em uma área com dose alta de radiação. As partes mecânicas podem ficar expostas à radiação, mas a eletrônica associada será protegida em uma área menos agressiva. A maioria dos robôs de intervenção usa um cabo umbilical que une o robô com a sua estação de controle, então a eletrônica embarcada é mantida a um mínimo porque o controle é alcançado na estação de controle, longe da radiação. Essa técnica não é compatível com a complexidade dos novos sistemas robóticos porque os mesmos usam mais sensores com eletrônica embarcada que é sensível a radiação [41]. 3.1.2 Método 2: sistema de tipo modular Os elementos sensíveis deveriam ser agrupados em módulos de mesma tolerância à radiação, projetando assim um sistema do tipo modular. 3.1.3 Método 3: monitorização do sistema robótico É necessário que o sistema robótico tenha a capacidade de diagnosticar e monitorar os tipos de radiações ionizantes existentes na área de operação do próprio robô, isso pode ser feito usando detectores de radiação embarcada. Os efeitos 30 produzidos pela interação da radiação com o detector permitem chegar a conclusões sobre a quantidade e propriedades da radiação detectada. 3.2 Técnicas para Projetar Sistemas Eletrônicos Tolerantes à Radiação Essa técnica consiste em achar os componentes mais sensíveis à radiação no projeto inicial e a sua posterior substituição. Para cada componente do circuito são medidas e analisadas as suas características durante exposição à radiação, depois é decidido se ele pode ser usado num circuito tolerante à radiação. Esse método requer um período longo de tempo para medir, analisar e tomar conclusões. Uma outra técnica é a irradiação do circuito original. Quando uma falha acontece durante a irradiação, o circuito será testado para descobrir a origem da falha e o elemento responsável. Esse componente é substituído e a irradiação continua até a próxima falha. Outra técnica é desenvolver um circuito tolerante à radiação usando um programa de simulação tal como Spice. Esse software simula cada elemento de um circuito e se leva em consideração a resposta do dispositivo em diferentes condições de temperatura e dose de radiação. Os simuladores de circuitos possibilitam uma análise mais rápida e segura do que a montagem física do circuito. 3.3 Estudo dos Diversos Materiais Empregados em Sistema Robótico Submetido à Radiação Ionizante Nesse parágrafo são apresentados os efeitos induzidos de radiação ionizante nos materiais expostos a esse tipo de radiação. Dessa forma na etapa de escolha dos materiais do sistema robótico é importante levar em consideração as condições existentes no espaço de trabalho do sistema que representa um caso especial por causa das temperaturas e níveis de radiação envolvidos, [41]. Na Tabela 3-1 é apresentado um exemplo de condições atmosféricas existentes no compartimento do reator. 31 Tabela 3-1 Condições da câmera do reator, [41]. Característica ambiente Valor Temperatura 0-50º C Tipos radiação α, β, γ , nêutron Pressão atmosférica ambiente Umidade 0-100 % RH Composição atmosférica 0-20 % oxigênio Taxa de dose 0-10 kGy/h Dose total 0-1 MGy Para os operadores humanos que trabalham em ambiente nuclear, a dose acumulada por ano deve ser menor que 20 mGy, a eletrônica análoga começa a se degradar a 10 Gy e os circuitos integrados tolerantes a radiação geralmente não podem ser usados acima de 10 kGy [45]. Em função da dose total (dose acumulada) e da taxa de dose (corresponde a variação de dose no tempo, expresso em Gy/h) de radiação, se pode delimitar áreas distintas de radiação no caso das aplicações tele-operadas típicas em plantas nucleares [45] [46]. Área A: área com taxa de dose <0.01 (Gy/h) e <10 (Gy) dose total. No caso de aplicações nessa área não são necessários componentes tolerantes à radiação. Nesse tipo de área normalmente são feitas atividades típicas de descontaminação e manutenção. Tabela 3-2 Taxas de dose de radiação para uma área A Área A Taxa de dose Gy/h <0.01 Dose total Gy <10 Área B: área com taxa de dose <10 (Gy/h) e <100 (Gy) de dose total. É requerida a tolerância à radiação nos componentes do sistema robótico. Nesse tipo de área normalmente são feitas atividades típicas de descontaminação e inspeção. 32 Tabela 3-3 Taxas de dose de radiação para uma área B Área B Taxa de dose Gy/h Dose total Gy <10 <100 Área C: área com taxa de dose <100 (Gy/h) e <1M (Gy) dose total.. Nessa área, a solução de componentes tolerantes à radiação não está mais disponível no mercado. Nesse tipo de área normalmente são feitas atividades como intervenções no recipiente de reator e trabalho na cela-quente. Tabela 3-4 Taxas de dose de radiação para uma área C Área C Dose total Gy Taxa de dose Gy/h <1000 <1M Área D: área com taxa de dose <100 (Gy/h) e <1M (Gy) dose total. Nessa área a eletrônica tolerante à radiação não está disponível. Aplicações típicas para essa área são: manutenção do reator e manipulação do material radioativo (elemento combustível irradiado). Tabela 3-5 Taxas de dose de radiação para uma área D Área D Taxa de dose Gy/h <10.000 Dose total Gy <1M Os resultados que serão apresentados a seguir representam uma estimativa dos efeitos da radiação gama em matérias e são baseados nas pesquisas de diversas fontes como [37][40][41][42][46][53], considerando o estudo das componentes do sistema robótico como subsistema mecânico e subsistema elétrico e eletrônico. 3.3.1 Componentes mecânicos e eletromecânicos Para analisar o impacto da radiação sobre o todo sistema é realizado um estudo sobre os componentes constituintes: 33 Motores: As partes metálicas dos motores não são problemáticas à radiação, mas os motores não são feitos exclusivamente de metais, eles também contêm combinações orgânicas como lubrificantes e elastômeros. Essas partes são sensíveis à radiação e os danos gerados por falha nesses componentes podem provocar danos ao motor [37]. A radiação induz diminuição do desempenho ou falha total de motores causada por influência da radiação em vários componentes: perda de isolamento nas bobinas do motor; o endurecimento do lubrificante nas caixas de engrenagem e nos rolamentos [41]. Rolamentos: Os rolamentos são resistentes à radiação e a escolha de um lubrificante tolerante à radiação é uma tarefa importante, já que os lubrificantes perdem a viscosidade depois de 10 kGy de dose total [37]. Os lubrificantes sintéticos são mais resistentes à radiação do que lubrificantes naturais, porém qualquer combinação que contém flúor sensibiliza o lubrificante à radiação. Sensores mecânicos: Mas esses tipos de sensores são inadequados para aplicações nucleares onde são preferidos os sensores passivos e robustos com eletrônica remota. Existe uma variedade de sensores mecânicos que medem deslocamento, pressão, aceleração, vibração, etc. Os sensores metálicos são muito resistentes, contanto que os isoladores e os conectores não sejam comprometidos. Os sensores piezelétricos também têm uma boa tolerância à radiação e podem operar sem falha até 100 kGy. Diversos sensores mecânicos também usam elementos de semicondutores, particularmente acelerômetros, sensores de pressão, já que contém semicondutores são sensíveis às radiações precisando proteção. Sensores de distância: em aplicações nucleares são preferidos aos sensores com eletrônica remota. Para medir a distância são considerados três tipos de sensores: eletromagnético para curta distância, ultra-som para grandes distâncias e grande cobertura angular e sensores óticos. No caso do sensor eletromagnético, a eletrônica pode ser remota, embutindo somente o componente passivo à radiação. Conforme os testes, usando um design adequado, a tolerância à radiação vai até 20 MGy e foi observada uma pequena descalibração. Sensores de ultra-som: os sensores de ultra-som são usados para muitas aplicações robóticas. Precisão ao redor de 99% pode ser alcançada, mas deve ser levada em consideração a influência dos parâmetros ambientais, tal como temperatura ou turbulência de ar, como também as reflexões indesejáveis. 34 Sensores ópticos: São resistentes à radiação ionizante e os piezelétricos têm uma boa tolerância à radiação e podem operar sem falha até 100 kGy [37]. No caso dos sensores de distancia, aqueles eletromagnéticos a tolerância à radiação vai até 20 MGy, os sensores de ultra-som têm tolerância à radiação gama de 10 MGy, segundo a [41] e no caso dos sensores óticos o problema é que as características da superfície podem afetar grandemente a medida. As radiações ionizantes degradam os emissores e receptores, isso afeta diretamente a calibração, fazendo com que a qualidade e o desempenho da medida sejam prejudicados. Na Tabela 3-6 são apresentados alguns limites de radiação para sensores. Tabela 3-6 Limites de radiação para sensores[ 37]. Tipo sensor Sensor ultra-som Sensor ótico Sensor tátil Sensor indutivo Dose total (MGy) 10 10 0,3 20 Taxa de dose (kGy/h) 10 10 0,3 10 3.4 Estudo do Comportamento dos Materiais Expostos À Radiação Gama 3.4.1 Materiais inorgânicos. Metais: A estrutura molecular dos metais é resistente à ação da radiação gama, mas a exposição dos mesmos a radiação gama gera calor que pode danificar indiretamente o sistema [37], [53]. Na Tabela 3-7 os valores limites de dose total de radiação nos metais mais usados são apresentados. Tabela 3-7: Valores limites de dose total de radiação em alguns metais. Metal Alumínio e suas ligas Inox série 300 Inox série 400 Ferro Níquel e suas ligas Valor limite (Gy) 5 * 1011 Gy 1 * 1011 Gy 5 * 1010 Gy 3 * 1010 Gy 1 * 1010 Gy 35 Cerâmica: É utilizada como revestimento para substituir os revestimentos de plástico ou como dielétrico em condensadores. A influência da radiação na cerâmica se manifesta pelo aumento do seu volume. Na Tabela 3-8 são apresentados os valores limites de dose total de radiação para alguns tipos de cerâmica. Tabela 3-8: Valores limites de dose total de radiação para alguns tipos de cerâmica. Nome da cerâmica Alumina Carboneto de silicone Mica Quartzo Valor limite (Gy) 5 * 1010 Gy 6 * 108 Gy 5 * 107 Gy 2* 107 Gy Vidro: Os vidros especiais destinados à proteção nuclear são os vidros ópticos que bloqueia a radiação e é resistente a ela. O vidro com chumbo (é o resultado de fórmulas que combinam silício e potássio com óxido de chumbo.) absorve radiação e fornece uma boa proteção à radiação nuclear [54], mas esses tipos de vidros atenuam a luz visível também. Qualquer escurecimento do vidro provocado pela radiação afeta a visão do operador e é indesejável. A introdução de menos 2,5% de óxido de cério IV (CeO2) na composição do vidro faz que o mesmo não obscureça, mas a introdução desse estabilizador junto com o chumbo gera uma tonalidade amarela no vidro que aumenta proporcional com a concentração de chumbo [37]. Uma solução será a colocação de vários vidros com chumbo uma em cima de outra, assim acrescenta a concentração de chumbo, mas não aquela de oxido de cério. Uma grande desvantagem da mistura do óxido de cério com o chumbo é o risco de descarga eletrostática. Assim, um vidro com chumbo exposto a radiação pode liberar sua carga eletrostática acumulada produzindo rachas que podem afetar a integridade do vidro. Na Tabela 3-9 são apresentados os valores da taxa de transmissão da luz em diversos tipos de vidro antes e depois da exposição dos mesmos à radiação. Tabela 3-9: Taxas de transmissão da luz para diferentes tipos de vidro. Material Vidro Taxa dose total (MGy) Transmissão Transmissão da luz depois de radiação para vários da luz antes comprimentos de onda de radiação 400 nm 500 nm 600 nm 700 nm 0% 3% 25 % 46 % Vidro óptico 10 98% Vidro de chumbo 50 94 % 0% 1% 11 % 21 % Quartzo 10 99 % 35 % 30 % 31 % 56 % Vycor 0,2 99 % 0% 0% 0% 1% Vycor protegido 5 99 % 24 % 24 % 36 % 61 % 36 3.4.2 Materiais orgânicos Polímeros e plásticos: Existe no mercado uma grande quantidade de tipos de polímeros, derivados de diferentes compostos químicos. Os tipos de polímeros mais utilizados atualmente são: polietileno, polipropileno, poliestireno, poliéster e poliuretano. Os danos em polímeros expostos à radiação gama resultam em: trincas, empolamento da superfície e diminuição da resistência mecânica [37] [53]. Alguns polímeros (Celulose, Poliamida) como o teflon são sensíveis à radiação gama. O teflon (PTFE: polytetrafluorethylene), por exemplo, é degradado depois 100 Gy. Por esse motivo o teflon não é utilizado em ambientes sujeitos à radiação gama[37]. Os polímeros de halogênio e fluoro carbonatos liberam substâncias químicas corrosivas como HCL (cloreto de hidrogênio) e HF (fluoreto de hidrogênio) quando são expostos à radiação, e esses gases afetam o polímero e a liberação dessas substâncias aumenta o nível de oxidação [37]. Os tipos desses polímeros são: PVC, PVDF, Teflon e Viton. Na Tabela 3-10 se apresenta a resistência à radiação de alguns polímeros. Tabela 3-10: Resistência à radiação em alguns polímeros [37] [52]. Resistência à radiação Polímero Fibra de vidro fenólico Epóxi Poliuretano (PU) Muito boa Poliestireno (PS) Carga mineral de poliéster Resina furânica Polivinil carbazol Polietileno (PE) Moderada Resina de melamina-formaldeído Resina anilina-formaldeíco Resina de silicone Metacrilato de metila Baixa Celulose Poliamida (PA) Teflon 37 Elastômeros: Os elastômeros apresentam tanto características de materiais sólidos como de líquidos, sendo assim considerados materiais viscos elásticos. As borrachas naturais e sintéticas raramente são utilizadas na forma pura. Para que possam ter aplicação prática, são introduzidos ingredientes, cuja escolha é baseada no conjunto de propriedades desejadas. Um elastômero é misturado a outro por as seguintes razões principais: Para melhorar as propriedades do elastômero original, melhorar o seu processamento e razão de custos. As propriedades mecânicas como resistência à tração, compressão e alongamento são afetadas pela radiação. A degradação provocada pela radiação depende da base do polímero e da concentração dos aditivos. Alguns aditivos como aminas e fenóis podem proteger o elastômero dos efeitos da radiação [37]. Os danos em elastômeros por causa da radiação se apresentam depois de uma dose total de 10 kGy. Camadas de proteção Às camadas orgânicas consistem em um filme fino de polímero, com dupla função: estética e de proteção contra corrosão. Eles são usados em ambientes com radiação para uma descontaminação mais fácil e as camadas orgânicas sofrem degradação por causa da radiação. A degradação das camadas de proteção pela radiação gama depende da composição e de fatores como: temperatura, tipo e preparação da superfície [37]. Na Tabela 3-11 são apresentados os danos criados em algumas camadas de proteção para diferentes superfícies. Tabela 3-11: Danos em camadas de proteção [37] [52]. Tipo polímero Superfície Taxa de dose Danos (Gy) Epóxi Aço 6,7* 10 6 Sem falha Furâno Concreto 9,4* 10 6 Sem falha Aço 8,4* 10 6 Sem falha Concreto 6,7* 10 6 Sem falha Aço 6,7* 10 6 Sem falha Concreto 8,7* 10 6 Empolamento Aço 8,7* 10 6 Rachaduras Alumínio 2,1* 10 6 Empolamento Concreto 1,1* 10 7 Estragos nas beiradas Silicone alquídico Estireno Vinila 38 Adesivos: A radiação danifica as substâncias químicas presentes nos adesivos e diminui o número de ligações existentes. A degradação dos adesivos expostos à radiação é acelerada por outros fatores como: vibrações, temperatura e uma concentração mais alta de oxigênio no ar [37] [53]. Na Tabela 3-12 é apresentada o valor limite de radiação para o surgimento de dano em alguns adesivos. Tabela 3-12 Valor limite de radiação para alguns adesivos [77] [92]. Adesivo Neoprene fenólico Epóxi fenólico, vinila fenólico, nylon fenólico Neoprene-nylon-fenólico Valor limite (Gy) 10 6 10 7 5* 10 5 Lubrificantes: Óleo e graxa são usados em mecanismos com função de reduzir a força de atrito, mas também resfriar e prevenir corrosão. Lubrificantes são materiais orgânicos feitos de óleo natural ou sintético e de aditivos. A concentração do aditivo controla as características do lubrificante, isto é, a viscosidade, condutividade térmica, calor específico, capacidade corrosiva, temperatura e estabilidade química. Esses parâmetros são afetados pela radiação porque a degradação química das moléculas orgânicas vai provocar um aumento na viscosidade que pode conduzir a uma polimerização e uma destruição do aditivo assim que as propriedades físicas serão modificadas. Os lubrificantes mais tolerantes à radiação são: polifenil, poliéter e alquila aromático. Na Tabela 3-13 os valores limites de radiação gama para alguns lubrificantes são apresentados. Tabela 3-13: Valores limites de radiação gama para alguns lubrificantes [37] [52]. Lubrificante Valor limite (Gy) Sem estragos significantes em lubrificante < 10 4 Fosfato aromático, silicone, alifático éster 10 4 a 10 5 Diester, Ester aromático 10 5 a 10 6 Óleo mineral 10 6 a 10 7 Polifenil, poliéter e alquila aromático 10 7 a 10 8 Não existe lubrificante tolerante à radiação > 10 8 39 Cabos: O isolamento de polímero flexível, como PVC (policloreto de vinila) e PE (polietileno), não é resistente à radiação, pois perde as propriedades elétricas e mecânicas [37] [52]. Os cabos tolerantes à radiação usam PEEK (poliéter-éter-cetona) e PI (poliimida) que não falhará até 70 MGy. Então, para uma melhor resistência à radiação são preferidas: a) Radox (poliolefina) b) PEEK que tem uma tolerância à radiação de 10 MGy de dose total e resiste a temperaturas de até 120º C c) Kapton (poliimida-PI) Esses cabos são normalmente mais rígidos e isso causa maior tensão nos conectores. Em robôs móveis a flexibilidade do cabo é importante e a integridade do mesmo deve ficar intacta mesmo após o contato com substâncias químicas corrosivas. Os cabos comercialmente disponíveis (excluindo Teflon) não apresentaria degradação significante até uma dose total de 1 MGy. Borrachas de poliuretano (PU) são resistentes até 50 MGy e são mais flexíveis [37] [52]. Conectores e interruptores: A sensibilidade dos conectores e interruptores à radiação é determinada em função de seus componentes poliméricos. Os plásticos e polímeros sofrem contrações, fissuras que alteram as suas propriedades mecânicas e de isolamento. A descontaminação do equipamento robótico é realizada após a sua utilização no ambiente contaminado pela radiação. Os conectores devem ser projetados para evitar a contaminação dos componentes internos do sistema e também serem de fácil descontaminação. Na Tabela 3-14 as taxas de dose para provocar dano em alguns conectores e interruptores são apresentadas. Tabela 3-14: Taxa de dose que ocasionam danos em conectores e interruptores. Componentes Taxa de dose para produzir dano de 25% (Gy) Conector poliestireno (PS) 6*10 7 Conector polietileno (PE) 9*10 5 Conector cerâmico 3*10 6 Conector melanina plástico 3*10 6 40 3.4.3 Materiais ópticos Fibras óticas são elementos de transmissão que utilizam sinais de luz codificados para transmitir os dados. A fibra ótica pode ser feita de plástico ou de vidro, revestida por um material com baixo índice de refração. Cabos singelos de fibra ótica (Figura 3.5) têm uma configuração similar aos cabos coaxiais comuns sem a blindagem metálica. O núcleo é a fibra propriamente dita que transmite os sinais óticos. A cobertura é também de vidro com índice de refração diferente. É envolvida por um revestimento de plástico, uma malha para reforço mecânico (nesse tipo) e uma capa externa. Figura 3.5: Representação esquemática de um cabo singelo de fibra ótica. O problema principal na aplicação de fibras ópticas em ambientes nucleares é a presença de ionização que induz uma atenuação óptica em fibra [37] [52] [53]. As operações remotas requerem várias transmissões de dados entre operador e um sistema robótico. A mobilidade e a manipulação do sistema robótico estarão prejudicadas se os cabos forem grossos com um grande número de condutores. Nesses casos é muito útil a substituição desses tipos de cabos por fibras ópticas. Em sistemas de comunicação por fibra óptica se exprima a atenuação em decibéis por unidade de comprimento, dB/km. As fibras ópticas com sílica são mais tolerantes à radiação sendo que esse tipo de tolerância à radiação para fibras ópticas pode mostrar uma atenuação de 0,1 dB/m após a sua exposição a 1 MGy [37]. Os cabos de fibra óptica com sílica são satisfatórios para operações de manutenção em ambientes nucleares. 41 3.4.4 Componentes eletrônicos. A princípio, em áreas com radiações ionizantes não é aconselhável a utilização de eletrônica embarcada [31] [37] [40-54]. Para robótica móvel, até mesmo, circuitos mais sofisticados ficam expostos à radiação, inclusive microprocessadores e memórias. Para aumentar a tolerância à radiação dos semicondutores CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor) são usados métodos de blindagem, reduzindo a intensidade das radiações ionizantes. A tolerância desses semicondutores é de 1 a 10 kGy e usando novas tecnologias denominadas SOI (Silicon On Insulador) ou GaAs (Gallium Arsenide), a tolerância à radiação pode ser aumentada até 1 MGy [37]. Resistores: Os resistores possuem alta tolerância à radiação, mas os resistores com filme de óxido podem falhar com apenas 10 Gy de exposição [37]. De acordo com os estudos realizados [31][37][40-54], os resistores com resistência alta são mais sensíveis à radiação do que os com baixa resistência. A radiação induz uma degradação química nos materiais do resistor que conduz a uma diminuição na resistência elétrica. Capacitores: Nos capacitores as superfícies condutoras não são afetadas pela radiação, mas o dano no dielétrico influencia o desempenho do capacitor. Os condensadores eletrólitos são os mais sensíveis a radiação e podem falhar perto de 100 Gy [37]. Os capacitores de vidro e cerâmico são os mais resistentes à radiação. Semicondutores: Os principais materiais semicondutores utilizados na eletrônica são o Germânio (Ge) e o Silício (Si), sendo este último o mais utilizado. A radiação gama influencia a característica eletrônica dos semicondutores [31][37][4054], e a temperatura tem um grande impacto nas características dos semicondutores. O aumento da temperatura é observado quando se expõe uma amostra à radiação. Uma taxa de dose de 3,6 kGy/h é equivalente a uma dissipação de 1 Watt [37] [52]. Diodo: Os diodos são naturalmente resistentes à radiação. Na maioria dos casos não se apresenta nenhuma mudança significativa das características dos diodos até 1 MGy [37] [52]. Transistores: Transistor bipolar: A tecnologia bipolar é conhecida por sua resistência à radiação freqüentemente maior que 10 kGy [37] [52]. Transistor de efeito de campo (FET): O FET pode ser dividido em duas categorias JFET e MOSFET. JFET é o Transistor de efeito de campo de junção (JFET = Junction Field Effect Transistors) apresentam uma tolerância à radiação maior até do que os dispositivos bipolares [37] 42 [52]. MOSFET é o Transistor de Efeito de Campo (FET) de porta isolada, ou simplesmente é denominado MOS é tem o semicondutor de óxido de metal. Tecnologia MOS: os dispositivos MOS (Metal Oxide Semiconductor) são muito sensíveis à radiação. A tolerância deles normalmente é menor que 100 Gy e a utilização deles é freqüentemente evitadas em ambientes com radiação [52] [55] [56]. A maioria dos danos em dispositivos de MOS acontece no isolador de SiO2. A estrutura MOS é apresentada nas Figura 3.6. . Figura 3.6: Estrutura MOS. Tecnologias CMOS/SOI e CMOS/SOS: Os semicondutores CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor) são mais influenciados pela radiação gama do que os dispositivos bipolares. Substituindo os dispositivos CMOS pelas contrapartes bipolares ou com JFET pode ser alcançado um aumento razoável da tolerância à radiação gama; a tolerância à radiação excede freqüentemente 1 MGy [37] [52]. SOI (Silicon On Insulator) e SOS (Silicon On Saphire) são duas tecnologias que foram adotadas para aumentar a tolerância da eletrônica à radiação. Um método de proteção usado para reduzir a dose de radiação de um dispositivo é usar folhas de chumbo, protegendo os componentes eletrônicos. Optoeletrônica: A optoeletrônica combina elementos de tecnologia ótica e eletrônica. O dano principal causado em vidro óptico por radiação ionizante é o escurecimento (ou perda da transmitância). Transmitância é a quantidade de luz que passa através de uma substância, Figura 3.7. 43 Figura 3.7: Transmitância é a quantidade de luz que passa através de uma substância. Transmitância T ( ) de um comprimento particular de onda ( ), é a relação entre a intensidade da radiação transmitida ( I ) e a intensidade da radiação incidente ( I0 ). T( )=I / I0 (3.2) Sensores de imagem: CCD e CMOS: Sensores CCD (Charge Coupled Device) são compostos por milhões de fotocélulas que coletam fótons, as partículas que compõem a luz, e os convertem em elétrons, produzindo uma carga elétrica que será posteriormente transformada em uma voltagem amplificada e, finalmente, digitalizada. Os sensores CCD são mais sensíveis à luz do que sensores CMOS, captando mais tonalidades, com melhor brilho e contraste [37]. As falhas típicas das máquinas fotográficas com sensor de imagem CCD acontecem depois de 100 Gy de dose total [57] [58]. Um efeito de “neve” degrada a qualidade da imagem. Uma taxa de dose de 1 kGy/h normalmente é o limite superior de utilidade para uma máquina fotográfica de CCD comercial. Sensores CMOS: O sensor de imagem CMOS é baseado na tecnologia Active Pixel Sensor (APS) [59] [60]. Um sensor APS-CMOS consiste em um conjunto de células básicas (pixels) dispostas em linhas e colunas (array), de circuitos lógicos de seleção para as linhas e colunas, circuitos amplificadores de saída (normalmente um por coluna), conversor A/D e de um circuito de sincronização e controle. Os sensores APS-CMOS também apresentam menor sensibilidade à radiação tornando-os indicados para uso espacial e em ambientes radiativos como centrais nucleares [59] [60]. 44 Câmeras de vídeo: A visão remota é uma característica fundamental em teleoperação, mas as câmeras de vídeo são sensíveis à radiação devido aos elementos óticos delas: lentes, sistemas como: pan-tilt, foco, zoom; sensores de imagem como: CCD; sistema de transporte da imagem como: prismas, periscópio, fibra óptica, cabos e circuitos internos. Numa câmera com CCD sem blindagem, a dose aceita é entre 10 e 100 Gy [37] [53]. Nas câmeras tolerantes à radiação com sensor CCD a resistência a radiação fica entre 100 Gy e 10 kGy. A qualidade da imagem tem tendência a se degradar progressivamente [61] [62]. Microprocessador: O microprocessador é freqüentemente a parte mais crítica de um sistema exposto à radiação. A maioria desses dispositivos usa tecnologia de MOS e é então muito sensível à radiação. A dose limite de dano para processadores é de 10 Gy a 500 Gy [77]. Memória: A Random Access Memory (RAM) utiliza a tecnologia MOS e é então sensível à radiação. A dose total de falha acontece tipicamente entre 50 Gy e 5 kGy. Memória RAM tolerante à radiação pode ser encontrada no mercado [37]. 3.5 Seleção dos Materiais do Sistema Robótico Mesmo utilizando sistemas robóticos como uma solução da realização das tarefas em ambiente com radiação ionizante, isto cria outras preocupações, os efeitos das radiações em matérias que compõem o sistema robótico. As analises efetuadas sobre as condições do ambiente de trabalho do sistema robótico, demonstram que é um ambiente hostil a ser humano. Portanto a utilização de um sistema robótico em lugar do operador humano é uma solução necessária e no mesmo tempo imposta pelo fato de risco que o individuo está exposto. Utilizando o sistema robótico como solução para efetuar a tarefa de inspeção visual dentro do compartimento do reator, impõe uma pesquisa e analise sobre os tipos de materiais utilizados no equipamento robótico, devido ao fato que a radiação ionizante degrada os materiais expostos a esse tipo de radiação. As conclusões das pesquisas sobre os materiais que podem ser escolhidos serão apresentadas a seguir. As radiações alfa e beta tem influência sobre as camadas das superfícies, pinturas e para os materiais isolantes dos cabos, quando o material radioativo entra em contato direto com o equipamento robótico e para blindar as partículas alfa e beta utiliza-se material como acrílico, teflon, PVC e polietileno. O alcance (a distância que 45 uma partícula percorre antes de parar) dessas radiações depende da energia e como já foi visto uma folha fina de alumínio de 22 (µm) barra completamente um faixa de partículas alfa de 5 (MeV) e uma faixa de radiação beta de mesma energia 5 (MeV) barrada de uma folha de alumínio de 940 (µm), por conseguinte as partículas alfa maior alcance do que as partículas beta. No caso das partículas gama a tarefa de escolha de mátrias resistentes a essa radiação é mais difícil devido ao fato que as radiações gama são mais penetrantes do que as radiações alfa e beta. Como solução contra a radiação gama pode ser utilizada como blindagem de um material absorvedor, utilizando componentes tolerantes (projetado por um processo que o faz ser resistente à radiação) a radiação e utilizar métodos para aumentar a vida útil dos componentes de sistemas robóticos (evitar o uso de eletrônica embarcada, agrupar em módulos os componentes de mesma tolerância à radiação, monitorizar as radiações usando detectores de radiação embarcada). A eletrônica análoga começa a se degradar a 10 Gy e os circuitos integrados tolerantes a radiação geralmente não podem ser usados acima de 10 kGy [45]. O funcionamento dos motores é indiretamente influenciado de radiação gama pelo fato que a mesma degrada o lubrificante e por causa da perda de isolamento nas bobinas do motor. Desde o ponto de visto dos sensores, os sensores eletromagnéticos tem-se uma tolerância à radiação até 20 MGy e os sensores de ultra-som têm tolerância à radiação gama de 10 MGy. A estrutura molecular dos metais é resistente à ação da radiação gama e pode ser escolhido um material de inox serie 300 que tem o valor de dose total de 1 * 1011 Gy. Para proteger a câmera de vídeo utilizada para observar o ambiente remoto, se utiliza vidro com chumbo que é vidro óptico que bloqueia a radiação. No caso dos polímeros e plásticos são aceitos desde o ponto de vista da tolerância a radiação gama os seguintes: fibra de vidro fenólico, epóxi, poliuretano (PU), Poliestireno (PS) e é aconselhável não utilizar: Metacrilato de metila, Celulose, Poliamida (PA), Teflon [54] [77]. No caso das camadas de proteção, as combinações entre superfície e o tipo de polímero utilizado podem ser os seguintes: epóxi com aço, furano com aço, já a vinila com alumínio da empolamento a uma taxa de dose de 2,1* 10 6(Gy). 46 Para os cabos, o isolamento de polímero flexível, como PVC (policloreto de vinila) e PE (polietileno), não é resistente à radiação e é aconselhável utilizar PEEK (poliéter-éter-cetona) e PI (poliimida), Radox (poliolefina) ou Kapton (poliimida-PI). O problema principal na aplicação de fibras ópticas em ambientes nucleares é a presença de ionização que induz uma atenuação óptica em fibra. Os cabos de fibra óptica com sílica é uma boa opção para operações em ambientes nucleares. No caso dos componentes eletrônicos é aconselhável não utilizar eletrônica embarcada, mas no caso que se utiliza deve ser colocada blindagem contra radiação gama. Os dispositivos MOS são muito sensíveis à radiação [92] [95] [96]. Substituindo os dispositivos CMOS pelas contrapartes bipolares ou com JFET pode ser alcançado um aumento razoável da tolerância à radiação gama; a tolerância à radiação excede freqüentemente 1 MGy [77]. Os sensores de imagem CCD são mais expostos aos danos devido a radiação gama do que os sensores de imagem CMOS [97-100]. Em tele-operação as câmeras vídeo são fundamentais, mas as mesmas são sensíveis à radiação devido aos elementos óticos delas, assim que para uma câmera com CCD sem blindagem, a dose aceita é entre 10 e 100 Gy [77] [93] enquanto nas câmeras tolerantes à radiação com o mesmo sensor de imagem a resistência a radiação fica entre 100 Gy e 10 kGy. As analises efetuadas demonstram que o ambiente é hostil ao ser humano, sendo hostil até para as matérias devido à radiação gama principalmente. Por esse razão a proteção do individuo contra radiação ionizante é solucionada utilizando um sistema robótico móvel tele-operado. E o estudo sobre a tele-operação será realizado no próximo capítulo. . 47 4 TELE-OPERAÇÃO EM AMBIENTE NUCLEAR As pesquisas feitas sobre os tipos de sistemas que podem atuar em ambientes hostis (com radiação, por exemplo) demonstram que o sistema de tipo tele-operado foi adotado em várias situações como, por exemplo, no estudo realizado no [46]. No caso do robô ROSA analisado em [64], do robô Rosie [65], Robicen III descrito na pesquisa [66], INGRID e NEATER analisados de [41], KAEROT/m2 descrito no [42], TELEMAN [40] e as pesquisas feitas em [37] [45] [53] demonstram que uma solução para realização de tarefas em ambientes com radiação ionizante é a tele-operação. Essas análises de pesquisa foram utilizadas posteriormente na escolha do tipo de sistema robótico tele-operado. A opção da tele-operação é feita devido ao fato que, dessa maneira são empregados no sistema robótico menos componentes sensíveis à radiação ionizante (especialmente eletrônicos), visto que no caso de um sistema autônomo, os componentes como sensores, processadores, memória, servo-motores são indispensáveis e exatamente esses componentes são sensíveis à radiação ionizante. Utilizando teleoperação, o número dos componentes do sistema robótico é menor, e, desta forma, o numero de danos é menor como é apresentado na Figura 4.1, baixando assim o custo do sistema. Figura 4.1 Esquema de comparação entre o sistema tele-operado e autônomo 48 A tele-operação é definida como o controle remoto do movimento realizado em um modo contínuo e direto de um operador sobre uma máquina tele-operada, que está situada a uma distância do operador com o propósito de executar diversas tarefas [67]. Inicialmente desenvolvida para a manipulação de materiais radioativos, a tele-operação permite que um operador exerça força e realize movimentos através de dados visuais. A distância pode variar entre dezenas de centímetros até milhões de quilômetros (no caso de aplicações espaciais). A Figura 4.2 apresenta um esquema geral de tele-operação, onde no ambiente local está localizado o operador humano que envia os comandos de movimento para o tele-operador, situado no ambiente remoto, com o objetivo de realizar uma ou mais tarefas. Figura 4.2 Esquema geral de tele-operação. A existência de ambientes impróprios à ação humana como centrais nucleares, levou ao desenvolvimento de sistemas remotos de operação utilizando robôs móveis ou veículos tele-operados para visualização e monitoramento de ambientes perigosos. A Tele-operação de um veículo simplesmente significa controlar os movimentos de um veículo a uma distância devido às condições ambientais difíceis ou hostis com o objetivo de reduzir os riscos de exposição do ser humano em ambientes perigosos. Na Figura 4.3 é apresentada uma possível forma de tele-operação em um ambiente com radiação ionizante. Um computador é utilizado na área não contaminada, protegida contra a radiação para enviar os comandos de movimento a um veículo remoto. A comunicação entre o operador e o veículo remoto se faz através de uma interface gráfica. O ambiente remoto pode ser visualizado pelo operador utilizando uma câmera de vídeo montada no veículo. 49 Figura 4.3 Representação esquemática de uma forma de tele-operação. Para operar efetivamente no ambiente remoto, o operador precisa de uma informação visual suficiente para ser capaz de interpretar a cena remota e realizar a tarefa de maneira efetiva e eficaz, porque a informação visual representa acesso primário do operador ao sistema remoto. As câmeras de vídeo estão presentes em qualquer modo de operação remoto como a principal fonte de percepção ambiental para o operador. A iluminação, Figura 4.4 é uma condição crítica para operações remotas. Dessa forma, uma boa iluminação contribui na diminuição do tempo de conclusão de cada tarefa e na fadiga do operador humano. Figura 4.4 Representação esquemática da percepção do ambiente remoto em tele-operação. No caso da tele-robótica, a ação de tele-operação é executada por um robô. Dessa forma, a tele-robótica representa uma combinação de tele-operação e controle automatizado. Um tele-robô é capaz de executar um maior número de tarefas do que um tele-operador ou do que um robô. Assim, usando a cooperação homem-robô, são aumentadas as vantagens e minimizadas as limitações de cada um deles. A tele-operação representa o primeiro nível na classificação dos sistemas robóticos com respeito à autonomia e à evolução dos mesmos. Como se pode observar 50 na Figura 4.5, os primeiros desenvolvimentos de robôs foram com o aspecto de teleoperação, posteriormente, junto com o crescimento tecnológico, surgiram os robôs semi-autônomos e depois os robôs autônomos. Primeiro nível Segundo nível Terceiro nível Teleoperado Semi-Autônomo Totalmente autônomo Figura 4.5 Classificação dos sistemas robóticos com respeito à autonomia e evolução dos mesmos. 4.1 Transparência da Tele-operação A “transparência” de um sistema tele-operado representa a capacidade do mesmo em apresentar ao operador humano a sensação de operar “diretamente” no ambiente remoto. Portanto, uma das metas principais em tele-operação é melhorar a “transparência” do sistema. Algumas características importantes para melhorar a “transparência” de um sistema tele-operado incluem: • Mobilidade da tele-operação, a qual depende da estrutura do veículo teleoperado. • A comunicação entre o operador humano e o veículo remoto. • Tempo de resposta entre um comando enviado e a realização do mesmo. • As extensões sensoriais do operador no ambiente remoto. 4.2 Classificação dos Sistemas de Tele-operação em Função do Grau de Assistência do Computador com o Operador Em função do grau de assistência do computador com o operador, os sistemas de tele-operação podem ser classificados segundo [68] como: • Controle manual sem auxílio computacional; • Controle manual com significativo auxílio ou transformação computacional; • Controle supervisor com predomínio do controle realizado pelo operador humano; • Controle supervisor com predomínio do controle realizado pelo computador; 51 • Controle completamente automático, onde os operadores humanos observam o processo sem intervenções. 4.3 Relação Homem–Máquina na Tele-operação Na Figura 4.6 são apresentados os níveis de relacionamento homem-máquina no caso de tele-operação [69]. Relação homem -maquina no caso de teleoperação Modelo MestreEscravo Modelo de Telepresença Modelo ProfessorAluno . Modelo SupervisorCompanheiro Figura 4.6 Representação esquemática do relacionamento homem-máquina na tele-operação. 4.3.1 Modelo Mestre-Escravo Este modelo descreve o sistema de tele-operação mais tradicional. Neste caso, o operador humano observa o ambiente de trabalho remoto através de um sistema de vídeo ou por trás de uma janela de vidro de proteção e manipula o braço robótico mestre por meio de um “console”, que controla o braço escravo no local remoto. Na Figura 4.7 se apresenta um tipo de manipulador Mestre-Escravo. 52 Figura 4.7 Representação de um manipulador tipo Mestre-Escravo [70]. O primeiro mecanismo mestre-escravo foi desenvolvido segundo [71] em 1945 por Raymond Goertz no Argonne National Laboratory, perto de Chicago onde Enrico Fermi desenvolveu o primeiro reator nuclear. Eram pantógrafos mecânicos utilizados na manipulação de materiais radioativos presentes numa “hot cell”. A sua manipulação era realizada por um operador humano no exterior da célula. Outra aplicação da teleoperação nas aplicações nucleares foi em 1979, com o acidente na usina nuclear Three Mile Island na Pensilvânia (EUA). Um veículo de reconhecimento remoto chamado de RRV, desenvolvido na Carnegie Mellon University, foi utilizado para inspecionar a estrutura dos prédios e retirar a água radioativa que vazou do reator. Câmeras instaladas no robô transmitiam aos operadores a sensação de estarem dentro da usina [72]. 4.3.2 Modelo de Telepresença A tele-presença consiste em um refinamento da tele-operação e se torna possível, além da tele-operação, e significa a sensação de estar em um ambiente distante do operador. A tele-presença garante a extensão dos sentidos dos seres humanos a locais remotos [72], podendo estes estar a metros ou milhares de quilômetros. A palavra “telepresença” é usada para designar a ligação entre o homem e um sistema robótico através de canais sensoriais via telecomunicações. O robô recebe as informações dos movimentos do homem e age de acordo com o estímulo, e vice-versa. Existem três fatores importantes que determinam o sentido de presença em um ambiente remoto segundo [73]: • A extensão de informação sensorial: idealmente o mesmo nível de informação de sensor que o operador teria se ele estivesse fisicamente no ambiente remoto. 53 • O controle do sensor: a habilidade para modificar a posição do dispositivo usado para sentir. • A habilidade para modificar o ambiente remoto: podendo mudar objetos no ambiente remoto ou a relação entre eles. No esforço por alcançar uma alta fidelidade de comunicação entre o mestre e o escravo, com a meta de prover um sistema transparente da interface homem-máquina, os sistemas de tele-presença utilizam “displays” montados na cabeça, sensores de movimento montados no corpo do operador, realimentação de força, entre outras tecnologias. A meta final desses sistemas é fazer o operador sentir que está presente no local de trabalho remoto, obtendo-se assim melhores condições de realização das tarefas. O cansaço provocado no operador devido ao volume e peso do equipamento reduz o uso desse sistema de tele-presença em utilizações práticas. 4.3.3 Modelo Professor-Aluno Dado que o aprendizado de sistemas computacionais é uma das áreas mais difíceis na inteligência artificial, o modelo professor-aluno define a função de professor ao operador humano e assume que o “aluno” robô possui inteligência suficiente para reconhecer e atuar em uma situação já aprendida, embora essas tecnologias ainda devam ser desenvolvidas e integradas para realizar esse modelo [69]. 4.3.4 Modelo Supervisor-Companheiro De acordo com esse modelo, um robô baseado em sensores não deve simplesmente repetir os movimentos do operador humano, como no modelo mestreescravo. Neste caso, o operador humano serve como um supervisor, ao invés de projetar-se no ambiente remoto. Com a companhia do operador humano, o sistema robótico incorpora capacidades computacionais, como precisão e capacidades sensoriais para a realização das tarefas [69]. 4.4 Importância da tele-operação em plataformas nucleares 54 Os danos induzidos pela radiação representam um problema de grande importância às aplicações nucleares. O primeiro manipulador mecânico mestre-escravo era tolerante aos danos provocados pela radiação ionizante, mas os robôs desenvolvidos com tecnologias como circuitos eletrônicos e sensores com o processamento embarcado são mais sensíveis à radiação. Entre as razões para o uso da tele-operação ou telerobótica têm-se: 4.4.1 Proteção dos trabalhadores Algumas reparações e manutenções regulares em plataformas nucleares envolvem riscos de irradiação e contaminação dos trabalhadores. A contaminação é considerada um acidente, um fenômeno que pode ser evitado, mas a irradiação é um fenômeno contínuo que afeta e influencia o operador na área de trabalho. Para a segurança do trabalhador em plantas nucleares, todos os países têm leis e normas que estabelecem o máximo da dose aceita por ano para cada trabalhador. Por exemplo, na Espanha os limites aceitos por ano são mostrados na Tabela 4.1. Tabela 4.1 Limites da dose de radiação aceita por ano para cada trabalhador exposto à radiação ionizante na Espanha. Partes do corpo humano Corpo inteiro Pele Extremidades Cristalino Limites aceitos 50 mSv /ano 500 mSv /ano 500 mSv /ano 150 mSv /ano No Brasil, conforme a Norma CNEN-NE-3.01, os limites primários anuais de dose equivalente são apresentados na Tabela 4.2. Tabela 4.2 Limites primários anuais de dose equivalente conforme a Norma CNEN-NE-3.01. Região Corpo inteiro Cristalino Extremidades Órgão ou tecido Trabalhadores 50 mSv 150 mSv 500 mSv 500 mSv Público 1 mSv 50 mSv 50 mSv 1 mSv/WT Nos Estados Unidos, conforme a NRC (Nuclear Regulatory Commission), um trabalhador em uma usina nuclear não pode receber mais de 50 mSv por ano de dose 55 total. Em 1987, segundo [74], indica-se que foi empregado um número maior de trabalhadores nas usinas nucleares, sendo que o custo associado aos trabalhadores expostos à radiação era de mais $500.000 dólares/ homem. 4.4.2 Fatores econômicos Conforme as leis estabelecidas, quando um trabalhador já recebeu a dose limite de radiação, o mesmo não pode executar trabalhos em áreas com radiação por um tempo estabelecido em função da radiação recebida. Por esse motivo, as manutenções de plantas nucleares ficam dispendiosas devido ao curto período de trabalho de cada operador, além dos custos de aprendizagem e de treinamento para cada futuro trabalhador, porque a manutenção periódica em plantas nucleares feita por operadores humanos implica numa boa preparação e segurança no trabalho. Devido a estas restrições, pode-se apreciar que as operações remotas realizadas com proteção adequada são necessárias para muitas tarefas em usinas nucleares. Portanto é aconselhável e obrigatório em certos casos o uso de tele-operação ou tele-robótica em plataformas nucleares para manutenção e reparo, com o propósito de proteger o ser humano contra a radiação. 4.5 Aplicações da Tele-operação em Ambientes Hostis Figura 4.8 Representação esquemática das principais aplicações da tele-operação. 56 As principais aplicações da tele-operação encontram-se entre sistemas impróprios à ação humana, como se ilustra na Figura 4.8. Manutenção com material nuclear, inspeção em ambiente nuclear, desativação de bombas e minas e inspeção subaquática são exemplos de ambiente com risco ao ser humano. O ser humano pode afetar o ambiente adversamente, por exemplo, em aplicações médicas e ambientes de componentes eletrônicos estéreis. Existem também ambientes onde é impossível a presença humana como, por exemplo, em nano-robótica e no espaço cósmico. Na maioria destas áreas, a presença humana de modo remoto ainda é necessária em diversas situações, porque mesmo com uma tecnologia avançado em tal ambiente complexo, a autonomia e a inteligência dos robôs não são suficientes. 4.6 Protótipo do Projeto O sistema de tele-operação permite que o usuário atue no ambiente remoto o sistema robótico móvel, através da interface gráfica configurada em um computador localizado em uma área protegida de radiação. Na Figura 4.9, é apresentado o funcionamento básico do sistema, e posteriormente, nos capítulos seguintes, será apresentada em detalhes todos os módulos do sistema de interface gráfica. Figura 4.9 Representação esquemática da interface e dos módulos do projeto. Nesse projeto será utilizado no ambiente local um computador para enviar os comandos de movimento para o sistema robótico remoto situado no ambiente remoto. O operador enviará os comandos através de uma interface gráfica feita em linguagem de programação Borland C++ Builder. A interface dispõe de botões: “Frente”, “Atrás”, 57 “Direita”, “Esquerda”, equivalentes ao tipo de movimento do veículo remoto, respectivamente: movimento para frente, trás, direita e esquerda. Os comandos de movimento enviados através da interface gráfica são transmitidos do software para o sistema físico usando a porta paralela do computador. Na porta paralela é conectado um módulo de rádio freqüência RT4-RR3 com o propósito de enviar os dados via ondas de rádio. Assim não existirão restrições no movimento causadas por fios ou cabos, mas também existe a desvantagem de perda de sinal. O ambiente remoto será observado usando uma câmera de vídeo que envia o sinal de vídeo, que será visualizado na interface gráfica. Para visualizar esse sinal de vídeo, a interface dispõe de um botão Start Vídeo para começar visualizar o vídeo e um botão Stop Vídeo para parar a visualização do vídeo. O subsistema de tele-operação permite que o usuário atue no ambiente remoto, através da movimentação do robô móvel. No próximo capítulo são apresentadas noções gerais sobre a interface gráfica e a implementação da interface em linguagem C++ Builder, para esse projeto. 58 5 INTERFACE GRÁFICA DO USUÁRIO Com a introdução da tecnologia de tele-operação usando o computador com objetivo de enviar comandos para sistema remoto foi possível o desenvolvimento de interfaces capazes de fornecer uma interação satisfatória entre homem e máquina, permitindo que novas aplicações possam ser realizadas. Nesse capítulo será apresentada a noção de interface gráfica devido a utilização da mesma com o objetivo de realizar tele-operação via computador e como uma ligação entre operador e veículo. 5.1 Importância da Interface A interface homem-máquina é um elemento imprescindível para a aceitação de um sistema interativo pelo usuário. O usuário muitas vezes prefere um sistema com uma interface “agradável” a uma que ofereça maior funcionalidade ou desempenho às custas de uma interface mais pobre, uma vez que a eficiência do usuário é influenciada pela interface [76]. A aproximação entre operador e veículo remoto ou máquina e a comunicação entre os mesmos se realiza através de um sistema que é capaz de traduzir os comandos gerados pelo operador para o sistema remoto e também deve ser capaz de transmitir o feedback do sistema remoto para o operador humano. Esse sistema é denominado interface. O sucesso da operação do sistema remoto depende muito do modo de representação do ambiente remoto para o usuário e das informações sobre o próprio sistema remoto enviado através da interface para o operador. A complexidade da interface cresce em função do numero e do tipo de informação que é trocada entre computador e operador. Em ação de tele-operação usando o computador para enviar os comandos, o homem precisa se comunicar com a máquina. A interação é promovida pela interface projetada e apresentada em um software que abre o sistema para o usuário. Então, a interface para a interação homem-máquina depende de “para quem” a interface foi projetada e “para que” é usada, ou seja, no processo de escolha, análise e modelagem de uma interface, é necessário que se tenha em mente os tipos de usuários que utilizarão a interface e o objetivo que se quer atingir. 59 5.1.1 Definição de interface O termo interface vem do inglês Human-Computer Interface e tem várias alternativas como: Interface Homem-Computador (IHC) ou Interação HomemComputador [77]: 1. CHI (computer human interaction/ interação homem-computador) 2. UCD (user center design/ design centrado no usuário) 3. MMI (man-machine interface/ interface homem-máquina) 4. HMI (human-machine interface/ interface humano-máquina) 5. OMI (operator-machine interface/ interface operador-máquina) 6. UID (user interface design/ design de interface do usuário) 7. HF (human-factors/ fatores humanos). A noção de interface é definida como “uma superfície de contato, de tradução, de articulação entre dois espaços, duas espécies, duas ordens de realidade diferentes: de um código para outro, do analógico para o digital, do mecânico para o humano. Tudo aquilo que é tradução, transformação, passagem, é da ordem da interface” [78]. Segundo definição apresentada pela IBM, interface é “um meio através do qual as pessoas e o computador se comunicam” [78][79]. 5.1.2 Pré-requisitos da Projeção da Interface Na projeção de uma interface as primeiras questões necessárias são [80]: 1. Quem são os usuários e como eles querem se relacionar com o sistema? 2. Que tarefas os usuários tentarão realizar no sistema a ser projetado? 3. O que eles necessitam do sistema e em que ordem para realizar suas tarefas, e como isto deve ser organizado? 4. Quais são as condições operacionais sob as quais o sistema será usado? 5. Que aspecto a interface deve apresentar e como isso deve se comportar? 60 A partir das respostas dessas questões o projetista de interface tem uma idéia da aparência da interface, quais são as aplicações às quais ela deve servir que tipos de usuários terão contato com a interface e as condições de trabalho. 5.2 O Papel da Interface na Interação Homem-Máquina A interface representa um canal de comunicação entre o operador humano e a máquina sendo um componente importante no controle e operação do robô móvel.. Para propiciar que haja uma comunicação homem-computador, é inserida entre ambos a interface, Figura 5.1, permitindo que o homem possa receber símbolos inteligíveis para si, dar ordens, digitar, ler, receber resultados e o computador possa receber informações, os dados de saída (output) e os dados de entrada (input), que lhe sejam “inteligíveis”, impulsos elétricos, ou seja, a interface representa a interligação entre o homem e o computador. Figura 5.1 Representação esquemática da comunicação homem–máquina através de interface. Como a interface homem–computador envolve dois sistemas completamente diferentes, para se achar um fator comum entre sistema humano extremamente complexo e computador, precisa-se de um conjunto de ciências para comunicar entre si e achar soluções. O processo de interação homem-máquina é realizado utilizando etapas de ação, [81], representando as intenções de ação do operador humano com o intuito de alcançar o objetivo proposto, pensando em uma seqüência de ações e executar posteriormente, utilizando a interface do sistema. Por outro lado, as ações são de percepção do resultado obtido do sistema, interpretação da mesma, e como último passo de avaliação, com o intuito de saber se o objetivo proposto foi alcançado com sucesso. Na Figura 5.2 é apresentado um esquema do modo de interação operador-sistema do computador. 61 Avaliação das interpretações Interpretação da percepção Percepção SISTEMA Objetivos do operador Operador humano Interface Intenção de agir Seqüência de ações Aplicação Execução da seqüência de ações Figura 5.2: Representação esquemática da interação operador humano–computador. O cérebro processa as informações, analisa os dados recém-chegados e buscam outros na memória visando compreendê-los, reconhecê-los, interpretá-los, fazer analogias. O intuito é de se tomar uma decisão e gerar uma resposta ao estímulo recebido. 5.3 O Caráter Interdisciplinar da Interface A área de Interface Homem-Computador é uma área interdisciplinar envolvendo outras áreas como: Ciência da Computação, Psicologia Cognitiva, Engenharia, Design, Ergonomia e Psicologia Social, como apresentam a Figura 5.3. Figura 5.3: Representação esquemática do caráter interdisciplinar da interface. 62 Através da interface é realizado o diálogo entre a máquina e o computador, e para esse diálogo ser “amigável” é necessário levar em consideração o fator humano, as características dos usuários da interface antes dessa ser projetada. O conceito de “amigável” refere-se ao fato da interface ter habilidade de reagir do modo que o usuário espera. Os fatores humanos considerados são principalmente: • A percepção humana • O nível de habilidade do usuário • O comportamento humano 5.4 Planejamento de construção da interface O mundo é percebido pelo homem através do sistema sensorial, então no planejamento de uma interface devem ser levados em consideração, principalmente, os sentidos visual, tátil e auditivo, além da habilidade e personalidade do usuário. 5.4.1 Influência do usuário no planejamento de projeção da interface O impacto visual do operador humano com a interface tem uma influência muito importante na realização da tarefa proposta a ser alcançada. Como a visão é “o órgão do sentido mais importante que o ser humano possui, tanto para o trabalho como para a vida diária, as suas características têm sido muito estudadas devido a sua importância no trabalho” [78]. O ato de ver não é apenas uma atividade do olho, é a percepção das formas e cores, através de uma atividade cerebral, denominado “sentido da visão”. A interface deve ter a qualidade de ser facilmente entendida de maneira que o usuário aprenda a utilizar o sistema com facilidade permitindo que ele se localize a qualquer momento na mesma e possua conhecimento suficiente de todas as ações permitidas e suas conseqüências, como também consiga facilmente informações adicionais. Uma dificuldade em se desenvolver uma interface gráfica reside no fato de que a mesma permite a manipulação direta de objetos com resposta ao usuário em tempo real. O operador humano deseja uma reação rápida da interface quando ele envia 63 o comando, de modo que quando o operador manipular localmente os botões da interface provocará ações concretas do equipamento ligado ao computador. Alan Cooper, o projetista da linguagem Visual Basic, afirmou que “o design da interface de um ambiente interativo começa com a estruturação do conteúdo e a definição do perfil dos usuários” [82]. Ele propõe a caracterização do perfil dos usuários através das premissas: 1. Quem a usará? 2. Como a interface se consulta? 3. Como se comunicará com o usuário? 4. Como a interface será usada? 5. Como estarão integradas as informações? 6. É fácil de ser aprendida a utilização? A projeção da interface não representa apenas as técnicas e processos usados para desenvolver produtos utilizáveis na interface, ela também coloca o usuário no centro do processo. Os usuários são classificados em três diferentes estilos, segundo a [78]: • Usuários que interagem pela primeira vez ou novatos • Usuários com nível intermediário de experiência • Usuários com alto nível de experiência e conhecimento Para conseguir satisfazer o pedido de cada grupo de usuários apresentados anteriormente a interface deve ter um caráter flexível, porque as necessidades de cada grupo são diferentes e uma situação difícil de ser resolvida pelo usuário novato pode ser óbvia para um usuário experiente. Cada grupo de usuário gera grupos diferentes de perguntas e então diferentes respostas e soluções em função de necessidades básicas de cada grupo são determinadas. Essas respostas determinam o planejamento da interface, influenciando a apresentação, estrutura e a interatividade. 5.4.2 Princípios de planejamento da interface 64 Apresentação, estrutura e interatividade da interface: De acordo com [82] a interface de um ambiente interativo baseia-se no tripé: apresentação, estrutura e interatividade apresentado na Figura 5.4. Figura 5.4: Representação esquemática dos princípios de planejamento da interface. Os três elementos do tripé: apresentação, estrutura e interatividade são interligados e um bom funcionamento de um deles influencia nos outros dois. No planejamento da interface leva-se em consideração o modo de apresentação da mesma para o usuário e utilizam-se imagens (reduzindo os objetos gráficos da interface até o extremo) para comunicar-se através do visual com um outro sistema (um hardware ou software) utilizando códigos. Os códigos, representando um elemento do tripé, a estrutura, são criados com o intuito de fazer o sistema reagir e então assegurar a interatividade. A construção da interface tendo sempre em visão a apresentação, a estrutura e a interatividade da mesma, tem como objetivo a realização de um ambiente interativo eficiente e sem dificuldades para o usuário atingir com facilidade e clareza os seus objetivos na utilização da interface. Harmonia em uma interface: Harmonia pode ser definida como uma colocação proporcionada das partes de um todo. É determinada por linha, tamanho e cor. “A harmonia descreve o efeito, visto ao nível do todo, da agradável interação entre as partes” [78]. A sensação de harmonia entre duas partes integrantes de um espaço é assegurada por uma relação chamada proporção de ouro. 65 Duas quantidades A e B (com A>B) , representadas graficamente por segmentos A A+ B A = [83] A B { de reta na Figura 5.5, estão em uma proporção de ouro se : B Figura 5.5: Representação de um segmento de reta dividido em duas partes diferentes Onde A pode se identificar como a maior parte do espaço total e B como a menor parte desse espaço. Então a relação pode ser escrita na forma: segmento total parte maior = (5.1) parte maior parte menor Para que um todo, dividido em partes desiguais, pareça harmonioso, é preciso que exista, entre a parte pequena e a maior, a mesma relação que entre a grande e o todo [78]. Geralmente a harmonia está associada à noção de simetria, mas as formas não simétricas também possuem um equilíbrio harmonioso que se tornou conhecido por noção de simetria dinâmica. No caso de planejamento de projeção de uma interface, levando em consideração a harmonia, pode-se utilizar a técnica denominada simetria dinâmica, conforme apresentado em [78]. Essa técnica é baseada na construção do retângulo de ouro que envolve a noção de proporção de ouro, definida anteriormente. O retângulo de ouro é o retângulo considerado retângulo-perfeito em que a razão entre o lado maior e o lado menor é o número Φ = 1+ 5 ≈ 1,68033 (número de ouro). 2 Conforme a mesma referência, a razão entre a largura e o comprimento do retângulo de ouro foi considerada a mais agradável à visão e foi adotada no projeto da interface. A construção do retângulo de ouro (ou dinâmico) é realizada usando um quadrado. A diagonal do mesmo está deslizando em um dos lados, assim resultara o “retângulo raiz de dois”. Em seguida, a diagonal desse retângulo obtida desliza e se obtém o “retângulo raiz de três” [78][83] como se apresenta na Figura 5.6. 66 Figura 5.6 Representação do quadrado. Ao construir um retângulo usando a proporção de ouro (o lado maior dividido pelo menor é igual a soma dos dois lados dividida pelo lado maior), faz-se um retângulo de ouro e, nele, descobre-se que cada vez que se retira um quadrado de um dos lados, o retângulo que sobra tem as mesmas propriedades, ou seja, é outro retângulo de ouro. Na Figura 5.7 é apresentado o retângulo de ouro e a divisão do mesmo em outros retângulos de ouro, que podem representar um modelo de harmonia no caso de uma divisão da interface na tela do computador. 8 13 1 1 2 5 3 Figura 5.7 Retângulo de ouro e as divisões dele em outros retângulos perfeitos Na Figura 5.7 se observa que juntando untando dois quadrados unitários, (cor vermelha), teremos um retângulo 2x1, sendo que o comprimento 2 é igual à soma dos lados dos quadrados anteriores. De novo anexamos outro quadrado (cor amarela) com comprimento igual a dois (sempre se escolha o maior dos lados do retângulo anterior) e teremos um retângulo 3x2. Continuamos a anexar quadrados com lados iguais ao maior dos comprimentos dos retângulos obtidos antes. A seqüência dos lados dos próximos quadrados será: 3,5,8,13,... Que é a seqüência de Fibonacci. 67 A proporção de ouro, utilizada no retângulo de ouro, representa a proporção mais agradável entre dois segmentos ou duas medidas, [83], e por essa razão foi utilizada nesse parágrafo sobre a harmonia de uma interface. Ergonomia: O termo ergonomia é proveniente do grego ergon (trabalho) e nomos (leis naturais), e sua definição [78], é a ciência da configuração de trabalho adaptada ao homem. A ergonomia foi oficialmente reconhecida em 1949, com interesse nos problemas de adaptação do trabalho ao homem. A mesma foi introduzida na interface na década de setenta, através dos estudos sobre a Interação Homem Computador (HCI). A ergonomia da interface se preocupa com os diálogos e ações através dos quais um usuário interage com o computador e auxilia na adaptação dos sistemas de comunicação visual, para que ocorra uma boa interação homem-computador. Com objetivo de garantir uma boa ergonomia, os projetistas de interface se preocupam em alcançar as seguintes metas: 1. Adaptação rápida com a interface 2. Desempenho rápido das tarefas 3. Baixo índice de erros 4. Fácil detenção da informação 5. Alto índice de satisfação do usuário Tendo em observação as metas de assegurar uma boa ergonomia, anteriormente mencionadas, é importante compor a interface de maneira comunicativa, funcional e interativa, preocupando-se com as tarefas que o usuário irá realizar na mesma (desde as mais simples, como ler), sem cometer erros ou sofrer reações adversas provenientes do mau uso. Usabilidade: Usabilidade é o termo utilizado para descrever a qualidade de uso de uma interface e proporciona, segundo a [82]: 1. Facilidade de aprendizado 2. Facilidade de lembrar como realizar uma tarefa após algum tempo 3. Rapidez no desenvolvimento de uma tarefa 4. Baixo índice de erros 5. Satisfação subjetiva do usuário 68 A usabilidade é um conceito que se refere à qualidade de interação entre os usuários e sistemas. A Norma ISO 9241-11 trata da especificação da usabilidade da interface, [78] é apresentada na Figura 5.8. Usuário interagindo em interface ergonômica Usuário interagindo em interface com problema de usabilidade Causas Utilidade Intuitividade Facilidade de uso Desinteresse pela lógica de utilização Falta de ferramentas lógicas Conseqüências Eficiência de uso Satisfação Bem estar Produtividade Aborrecimento Frustrações Estresse Abandono do sistema Figura 5.8 Representação da usabilidade da interface, conforme a Norma ISO 9241-11 O usuário interagindo em uma interface com boa usabilidade e ergonômica, tendo uma facilidade de uso, eficiência e capacidade de ser intuitiva é sujeito a conseqüências de satisfação, bem estar e boa produtividade. Por outro lado, o usuário interagindo em uma interface com problema de usabilidade, por causa de lógica na estrutura da interface, um grande número de erros, dificuldade de aprendizagem, lentidão entre comando enviado pelo operador e resposta, cria aborrecimento, estresse, fadiga física ou mental e até abandono da interface. Todas essas reações negativas para o ser humano reduzem o ritmo da atividade, a atenção e a rapidez de raciocínio, tornando o indivíduo menos produtivo e mais sujeito a cometer erros. Ou seja, a interface é um meio que quando não é bem planejado e projetado pode: 1. Frustrar e irritar 2. Dificultar a aprendizagem 3. Confundir as relações entre informações 4. Excluir possibilidades de ação efetiva instrumental ou comunicativa 69 5.4.3 Sugestões de projeto da interface São apresentadas esquematicamente algumas sugestões para o design de uma interface [81], pensando no fato que todas as partes integrantes do sistema operador – interface - computador, representadas por peças de quebra-cabeças têm que se encaixar de uma forma harmoniosa e perfeita em um só sistema. As funções da interfase gráfica são: SUGESTÕES DE DESIGN DE INTERFACE Oferecer visibilidade do estado do sistema Minimizar a carga do trabalho Fornecer atalhos para usuários experientes (flexibilidade) Prevenir e tratar os erros de forma adequada Manter o foco da tarefa Estabelecer um significado de códigos com o mundo real Oferecer controle e liberdade para o usuário Permitir fácil reversão de ações Oferecer ajuda e documentação adequada Figura 5.9: Representação esquemática de algumas funções da interface. Visibilidade do estado do sistema: permite que o operador humano esteja em permanente conhecimento da evolução do sistema, cada ação do mesmo deve ter uma resposta de retorno dessa. O usuário deve estar sempre no controle do processamento do sistema (como interromper, cancelar, suspender e continuar). Minimizar a carga de trabalho: As opções oferecidas pela interface devem ser bem apresentadas, visíveis, de forma que um operador, deixando de utilizar a interface por um determinado período de tempo, não precise começar na etapa de aprendizagem da interface. Oferecer controle e liberdade para o usuário: A interface deva oferecer uma alternativa de saída para o operador, caso o mesmo chegue a uma situação indesejável, 70 um “Exit door” com o objetivo de sair do estado indesejável para o estado anterior, sem gerar o bloqueio do sistema. Fornecer atalhos para usuários experientes (flexibilidade): A interface deve ter a qualidade de ser adaptável para os usuários com experiência, oferecer a possibilidade de atalhos para os mesmos ou de personalizá-la, modificando a funcionalidade do sistema de maneira inteligente. Prevenir e tratar os erros de forma adequada: refere-se a fato que cada mensagem de erro deve ser exprimida em uma linguagem bem clara, mais curta possível apontando a causa do erro, e oferecendo uma solução construtiva de remediar o mesmo. Permitir fácil reversão de ações: No momento em que o operador está tomando uma decisão errada, o mesmo pode voltar à situação anterior sem dificuldade. Manter o foco da tarefa refere-se ao fato de que a interface deve ser feita com um objetivo claro, sem abuso de mensagens inúteis que distrai a atenção do usuário. Estabelecer um significado de códigos com o mundo real: denomina o fato de que os símbolos, os ícones ou outra forma de manipulação no espaço da interface, devem seguir o sentido racional, isto é, uma representação convencional conhecida (por exemplo, o ícone representa Salvar e não outra coisa). Oferecer ajuda e documentação adequada: A interface deve ter uma maneira de ajudar o operador com facilidade, oferecendo uma documentação sobre os componentes da interface, a função deles e o modo de acesso aos mesmos. Todas essas componentes são interligadas, uma boa funcionalidade de um componente é condicionada a um bom funcionamento de um ou outro, funcionando no conjunto e todas configuram o sistema inteiro. 5.4.4 Elementos para composição da interface Todos os elementos visuais presentes em uma interface, a partir da estrutura criada, geram forças e tensões que permitem transmitir sensações, percebidos pelo observador, consciente ou inconscientemente, segundo [84]. Ponto de Atenção: Em uma composição existem sempre dois centros, ou seja, dois núcleos [85]: Centro geométrico: criado pelo cruzamento das diagonais da tela, 71 Centro visual perceptivo: situado sempre um pouco acima do centro geométrico, com o propósito de compensar o peso visual da base por meio de um intervalo espacial maior. O centro real da tela do computador não é o centro geométrico, determinado pela interseção das diagonais. Seu centro de visão está situado em cima daquele centro matemático, no centro ótico [79]. A diferença entre o centro geométrico e o centro ótico é apresentada na Figura 5.10. Figura 5.10: Representação da diferença entre centro geométrico e centro ótico. De acordo com a mesma referência, o ponto de atenção está situado no retângulo dado pelos pontos fortes de atenção, como se pode observar na Figura 5.11: Pontos de atenção Figura 5.11: Representação esquemática do retângulo da visão. Em uma interface gráfica, cada ponto, linha ou outro elemento visual presente na superfície tem sua função e expressão própria e pode gerar, a partir da relação com os 72 outros elementos à sua volta, uma composição. Alguns elementos estruturais, essenciais à composição de projeto visual gráfico são: ponto, linha, formas geométricas, contorno, direção, textura, cor, dimensão, contrastes, harmonia, agrupamento e simetria. Elementos gráficos: Ícones: Um ícone corresponde a um símbolo. É a representação concreta cuja expressão é uma imagem gráfica [82]. O ícone é um elemento fácil de usar, tendo a mesma interpretação em qualquer lugar e os ícones devem ser simples e claros para que possam evitar a possibilidade de erros de interpretação e é bom respeitar o mesmo estilo para todos os ícones em uma interface. Para evitar o não reconhecimento imediato de ícones é recomendada a utilização de texto. Textos: O texto, quando visto de uma distância, é reconhecido pelo cérebro como um padrão. Cada palavra tem uma forma reconhecida pelo cérebro e esta é uma das razões pela qual não é recomendada a utilização de textos completos em maiúsculas, pois o usuário gasta mais tempo para a leitura e necessita maior concentração. As sentenças das mensagens devem ter preferencialmente um conteúdo afirmativo positivo do que negativo e é preferível que cada sentença contenha uma única idéia. É recomendável utilizar tipografia Verdana (screen font), ou seja, tipografia recomendada para textos a serem lidos em monitores. Estas fontes têm como características a simplicidade das formas e fácil reconhecimento de cada letra, contrário à fonte itálica que não é recomendada devido a sua má definição na tela. A utilização de fundo de tela com texturas dificulta a leitura. Elementos gráficos visuais: Os gráficos e as imagens podem melhorar a estética de um ambiente interativo. Os mesmos são fortes elementos atrativos, portanto é indicado que o usuário tenha esse tipo de elemento na interface. Cor: A cor tem uma grande importância em uma interface. Uma inadequada combinação de cores pode deixar o usuário sem interesse. É bem conhecida a influência das cores sobre o psíquico dos seres humanos e uma boa combinação cria bem estar. Em geral, recomenda-se o uso de cores com discrição, no máximo cinco cores diferentes, incluindo o preto, o branco ou cinza e no mínimo duas cores diferentes. Assim, deve-se projetar o design de uma interface em preto e branco, e depois adicionar a cor. A cor aumenta o processamento cognitivo e visual de uma informação que funciona bem em preto e branco, pois ajuda a localizar classificar e associar imagens. 73 As cores dos textos devem, preferencialmente, apresentar contraste na cor do fundo da tela da interface. O contraste mais recomendado é o texto positivo, ou seja, texto em preto sobre fundo branco ou cores escuras sobre fundo claro, principalmente cores neutras. 5.5 Implementação da interface gráfica Como já foi apresentada, a interface é o link entre o operador humano e computador. Nesse projeto o método de controle de movimento de um veículo remoto se realiza através de tele-operação via computador. A razão da escolha desse tipo de operação foi explicada nos capítulos anteriores. 5.5.1 O desenvolvimento da interface A interface foi executada em linguagem de programação C++ Builder versão 6. O modelo da interface desenvolvido é composto de três níveis, estruturado em um modo vertical, como se apresenta na Figura 5.12. Figura 5.12. A representação esquemática da estrutura da interface. 74 Os níveis da estrutura da interface são: 1. O primeiro nível representa a parte de informação, com boas vindas e apresentando o tipo de aplicação para que é desenvolvido. 2. O segundo nível representa a parte de verificação do usuário e a senha. Esta é a parte de segurança. 3. O terceiro nível é de comandos da interface e é representada por dois submódulos: (i) um sub módulo de apresentação do veículo remoto e os componentes integrantes. (ii) um sub-módulo dos comandos da interface com objetos utilizados para manipulação do movimento do veículo remoto, com a captura de vídeo da câmera, a parte que assegura a iluminação. Os níveis que compõem a interface devem ser sucessivos passando pelo primeiro nível até o terceiro sem ter a permissão de ignorar e saltar nenhum nível. 5.5.2 Primeiro nível, nível de informação O programa da interface começa com uma saudação de boas vindas à utilização da interface e apresenta também para que sirva essa aplicação: “interface de um veículo remoto”, como se apresenta na Figura 5.13. Figura 5.13. Apresentação da mensagem de início Outra função desse primeiro nível da interface é encaminhar o usuário para o passo seguinte, informando o próximo passo que deve ser seguido, o passo de verificação. Desta maneira, o usuário sabe antes se ele tem direito de continuar a aplicação ou não, ficando informado de que no próximo passo o programa pedirá uma senha de verificação dos dados de acesso. 75 A mensagem exibida foi realizada utilizando uma função de mensagem de saída, MessageBox, que tem o seguinte formato geral: MessageBox (Nr, Mensagem,Titulo, Tipo): Onde: Nr. identifica se a mensagem será do tipo modal (o usuário tem que responder). Mensagem representa o texto propriamente dito, nesse caso, “Bem vindo à utilização da interface do veículo remoto, ROMIV !”. Título representa o título da mensagem, nesse caso, “Informação”, apertando o botão OK, o usuário passará ao nível dois da interface, que é representado pela verificação dos dados de acesso. 5.5.3 Segundo nível, nível de verificação: Neste módulo foi feito com o objetivo de proteção, pois o acesso aos comandos da interface (representados pelo modulo três) é permitido somente para os usuários que têm conhecimento da senha de entrada. A verificação consta em introduzir o nome no campo de Usuário e a senha nos campos correspondentes para ativar o acesso ao terceiro módulo, como se mostra na Figura 5.14. Figura 5.14. Apresentação da mensagem de verificação O botão de acesso para o modulo três fica ativo somente quando os dois campos, de Usuário e da Senha, são completos de modo correto, como se apresenta na Figura 5.15. 76 Figura 5.15 Apresentação da mensagem com o botão ativo. 5.5.4 Terceiro nível, nível de comandos da interface Na composição desse módulo, foram utilizados os componentes: Label, Edit e Button, como se apresenta na Figura 5.16 da janela de componentes denominada Guia Standard. Figura 5.16. Apresentação dos componentes Label, Edit, Button. O texto do componente Edit é completo nos campos referentes a um modo de “Password”, escondido da vista com objetivo de proteção, utilizando a propriedade PasswordCar do Label. Quando o botão OK fica ativo significa que o nome do Usuário e a Senha foram completados corretamente e assim o operador humano tem o direito e a possibilidade de ir para ao nível três do programa: a interface dos comandos. Na Figura 5.17 é apresentado o aspecto do módulo três da interface e os dois sub módulos: Descrição do veículo e Comandos da interface. 77 Figura 5.17. Apresentação do módulo com os comandos da interface O módulo três do programa de interface representa o foco da implementação da mesma. O módulo é organizado da seguinte maneira: • Um menu, que representa a parte explicativa dos comandos da interface. Nota: Esse módulo é ativo somente quando o módulo denominado Comandos da Interface é ativo. O menu é uma componente MainMenu da Guia Standard, como se apresenta na Figura 5.18. Figura 5.18 Representação da imagem do MainMenu. 78 A Figura 5.19 mostra como se apresenta o programa de interface, Figura 5.19 Apresentação do menu da interface Dois sub módulos, representados por componente PageControl da Guia Win32, como se apresenta na Figura 5.20. Figura 5.20. Apresentação da imagem do componente PageControl Na aplicação do programa esses dois sub módulos se apresentam como na Figura 5.21 Figura 5.21. Representação da imagem dos sub módulos da interface Em seguida serão apresentados os dois sub módulos, começando com: Descrição do veículo. 5.5.5 Sub Módulo Descrição do veículo Na Figura 5.22 se apresenta a imagem do sub módulo Descrição do veículo. 79 Figura 5.22. Representação da imagem do sub módulo Descrição do veículo. “Descrição do veículo” é um componente do tipo PageControl onde são incluídos uma imagem e um representante da componente Memo com o objetivo de mostrar um texto explicativo referente à imagem apresentada, a imagem do veículo. A imagem tem quatro partes ativas no sentido de que apertando em cima de alguma terá como resultado a abertura de outra janela de explicação sobre aquela parte, como se apresenta na Figura 5.23, no caso para a informação sobre a câmera de vídeo utilizada. Figura 5.23. Apresentação da imagem do módulo com informação sobre a câmera. 80 Da mesma maneira, apertando em cima da imagem, se consultam informações sobre outras partes do veículo como a parte eletrônica, a parte interna do veículo, e sobre a parte externa e rodas do veículo tele-operado. 5.5.6 Sub-Módulo Comandos da Interface A Figura 5.17 apresenta a imagem do sub-módulo “Comandos da Interface”. Na base desse módulo foi utilizado um componente do tipo PageControl, com denominação “Comandos da Interface”. O módulo é estruturado da seguinte forma, como se apresenta na Figura 5.24. - uma seção para manipulação do vídeo capturado pela câmera colocada em cima do veículo, representada pela Seção 1 da Figura 5.24. - uma seção para o controle do movimento do veículo remoto, representada pela Seção 2 da Figura 5.24. - uma seção de anotação de texto, representada pela Seção 3 da Figura 5.24. - uma seção responsável pela iluminação, representada pela Seção 4 da Figura 5.24. - uma seção de informação sobre os botões que aparecem em cada parte superior referida, representada pela Seção 5 da Figura 5.24. Figura 5.24. Apresentação das seções do sub módulo “Comandos da Interface”. 81 5.5.7 Seção 1 - Manipulação do vídeo A posição da janela de visualização do vídeo foi colocada de acordo com os estudos teóricos efetuados sobre o assunto interface com o usuário. Portanto, o ponto ótico é posicionado em quadrado denominado visual. Para capturar o vídeo de um dispositivo externo, como a câmera, foram utilizados do Guia VideoLab os componentes: VLDS Capture: utilizado para configurar a câmera para ser reconhecida pelo programa. VLDS VideoLogger: utilizado para escolher o arquivo onde o vídeo será guardado. VLDS ImageDisplay: utilizado para mostrar o vídeo capturado na tela do computador. São utilizados dois botões: Start Vídeo: com a tarefa de mostrar o vídeo no momento que o botão é apertado. Stop Vídeo: com a tarefa de parar a apresentação de vídeo, com o objetivo de analisar a imagem capturada. 5.5.8 Seção 2 - Controle de movimento do veículo remoto Essa seção é utilizada para o controle de movimento do veículo tele-operado. São utilizados 5 botões, que são componentes da Guia Standard: Frente: correspondente ao movimento do veículo para frente; Atrás: correspondente ao movimento do veículo para trás; Direita: correspondente ao movimento do veículo para direita; Esquerda: correspondente ao movimento do veículo para esquerda; STOP: com a tarefa de parar qualquer movimento. 5.5.9 Seção 3 - Anotação de texto O objetivo dessa seção é escrever, guardar e abrir arquivos tipo texto. O papel da mesma é importante durante a operação porque a qualquer momento pode surgir a 82 necessidade de anotar alguma observação sobre o espaço inspecionado ou sobre o comportamento do veículo. São utilizados os seguintes componentes: - um componente Memo, da Guia Standard para anotação do texto. - os componentes OpenDialog e SaveDialog, do Guia Dialog, como se apresenta na Figura 5.25, com o objetivo de abrir um arquivo texto e de respectivamente salvá-lo como um arquivo do tipo texto. Figura 5.25. Apresentação da imagem dos componentes do Guia Dialog. - dois botões Abrir Arquivo e Salvar Arquivo, da Guia Standard com o objetivo de realizar os eventos de abrir e salvar. 5.5.10 Seção 4 - Iluminação O objetivo dessa seção é assegurar a iluminação necessária durante a operação remota. A iluminação tem um papel importante durante a operação de inspeção visual e nesse caso é assegurada por dois dispositivos de luz dispostos dos lados direito e esquerdo da câmera. Esses são ativados nos eventos pelos botões Luz Direita e Luz Esquerda respectivamente, como apresentado na seção 4 na Figura 5.24. 5.5.11 Seção 5 - Informação sobre os botões Essa seção tem o objetivo de informar o papel de cada componente de cada seção. Como componente é utilizado um Memo da Guia Standard para apresentar a informação no formato de texto com propriedade de somente leitura (ReadOnly). Outro componente é o MainMenu da Guia Standard com o objetivo de apresentar o acesso para cada informação utilizando o formato de menu. 83 Exemplo: Apertando o item “Explicação Captura Vídeo” do menu apresentado na Figura 5.26, será acessado o texto de informação como na Figura 5.27. Figura 5.26 Apresentação da imagem do menu de informação Figura 5.27. Apresentação da imagem da explicação sobre captura de vídeo Daí por diante, apertar cada item do menu terá como conseqüência a apresentação de um texto de informação apropriado para cada situação. 5.5.12 Seção 6 - Apresentação da hora Nesta seção se apresenta a hora de começo da utilização da interface e a hora atual com o objetivo de mostrar a duração da operação. A desativação da interface é informada e realizada apertando o botão Stop Program. Como resultado do aperto do botão, surge a janela de questionamento apresentada na Figura 5.28. 84 Figura 5.28 Apresentação da imagem da mensagem de saída do programa. O usuário aceitando a ação de sair do programa aperta o botão Sim. Caso ele deseje voltar ao programa, aperta Não. Para garantir uma gráfica agradável foram utilizados outros componentes de linguagem C++ Builder que têm um papel secundar, mas importante para uma boa organização da interface. A interface foi desenvolvida em conformidade com as instruções teóricas adquiridas durante o período de estudo sobre interface com o usuário. No próximo capítulo será realizada a análise cinemática do sistema robótico com o objetivo de observar e monitorar o seu comportamento em diversas situações (dadas pelos diferentes valores do ângulo de direção da roda de frente e a velocidade da roda dianteira). Pode-se dizer que a simulação da cinemática no caso de um sistema teleoperado é redundante, uma vez que o sistema é controlado visualmente, mas foi realizada a simulação com o objetivo de observar o comportamento do sistema virtualmente antes de construção. 85 6 ESTUDO CINEMÁTICO DO ROBÔ MÓVEL Este capítulo aborda a modelagem matemática de um robô móvel com rodas, com estrutura cinemática de triciclo, incluindo a descrição dos tipos de rodas, introdução das definições relacionadas a sistema não holonômico e holonômico, locomoção e grau de liberdade. Esse tipo de configuração foi escolhido em cima de uma base de análises realizadas sobre os tipos de estruturas cinemáticas e explicadas no primeiro capitulo dessa dissertação. As razões de escolha da configuração tipo triciclo são os seguintes: Primeiramente a simplicidade do sistema desse tipo, sendo necessários dois motores, um para direção e outro para tração. Devido ao fato que a superfície é regular não requer suspensão, oferece boa manobrabilidade, estabilidade no caso em que os componentes do sistema são colocados de tal maneira que o centro de massa se mantenha mais baixo, assim diminuindo as chances de capotar [13] [20]. Não existem distúrbios em caso do deslocamento em linha reta dado pela diferença de velocidade das rodas [9]. Uma única roda posicionada na frente acrescenta a capacidade de se desviar de obstáculos. A cinemática é o ramo da física que procura descrever o movimento por meio da posição, velocidade e aceleração sem se preocupar com as forças que originam este movimento. Já o modelo dinâmico relaciona as forças generalizadas provida aos atuadores, considerando a energia aplicada ao sistema. Existem basicamente dois problemas fundamentais a serem resolvidos na cinemática do robô. O primeiro deles chamado problema cinemático direto e o segundo denominado problema cinemático inverso. A cinemática direta trata de como o robô móvel se movimenta sabendo a geometria do mesmo e a velocidade angular das rodas e a cinemática inversa tratam do cálculo da velocidade angular das rodas e o ângulo da direção conhecendo a posição e a velocidade angular do robô móvel [86] [87]. A cinemática dos corpos rígidos trata dos movimentos de translação e rotação, de maneira que no movimento de translação, todas as partes de um corpo sofrem o mesmo deslocamento linear, no movimento de rotação as partes de um corpo descrevem trajetórias circulares cujos centros situam-se sobre uma mesma reta (chamada de eixo de rotação). No movimento de rotação todas as partes de um corpo sofrem o mesmo deslocamento angular. 86 De igual forma, a locomoção do robô móvel está sendo realizadas por meio das rodas que são definidas em duas classes [88]: Rodas convencionais (fixas, orientadas no centro e orientadas fora do centro) e rodas suecas. Na Figura 6.1 é apresentada uma esquema dos tipos de rodas, segundo a [89] onde as rodas convencionais, cujas velocidades no ponto de contato das rodas com o solo são iguais a zero, são divididas em rodas fixas, para as quais, o centro da roda é um ponto fixo no chassi do robô, em rodas orientadas no centro, onde o movimento em relação ao sistema de referência é uma rotação em torno de um eixo vertical passando através do seu centro e, por ultimo, as rodas orientadas fora do centro (conhecida também por denominação de castor). A diferença entre as rodas convencionais fixas e as rodas orientadas está em um grau de liberdade adicional, que permite uma rotação no redor do eixo vertical que passa pelo centro da roda, permitindo a função de orientação da roda dianteira do robô [86]. A segunda classe de rodas levada em consideração é a classe das rodas suecas nas quais somente a componente da velocidade ao logo do movimento no ponto de contato da roda com o solo é admitido ser nula, diferentemente das rodas convencionais onde todas as componentes da velocidade do ponto de contato são consideradas iguais a zero, ao longo do movimento [89]. Um outro tipo de roda levado em consideração pela [86] [90], é a roda esférica (Figura 6.2) [90]. Figura 6.1 Representação de um esquema com tipos de rodas. 87 Figura 6.2 Representação do tipo de roda esférica. As rodas podem ser colocadas em diversas configurações em função de a finalidade da tarefa, condição do terreno e estabilidade. As configurações principais levadas em consideração pelo [42] e são apresentadas na Figura 6.3. Figura 6.3 Representação das configurações cinemáticas típicas. 6.1 Graus de Liberdade e Sistemas Não-Holonômicos Os graus de liberdade são definidos como o numero mínimo de coordenadas geométricas necessárias para descrever o sistema [91]. Na robótica móvel cada roda individual contribui ao movimento do robô, mas no mesmo tempo cria restrições (um exemplo de restrição pode ser de não existir deslizamento lateral). As rodas são levadas 88 em consideração na geometria do chassi do robô então por conseqüência as restrições das mesmas se juntam e forma a restrição do movimento do chassi do robô. As rodas convencionais têm dois graus de liberdade e as rodas suecas e esféricas têm três graus de liberdade [90]. Os robôs móveis têm uma estrutura planar e são caracterizados pela posição x, y de um ponto do robô e orientação θ do mesmo [90]. E segundo ao mesmo autor o robô móvel não holonômico possui as seguintes características: a configuração do robô é descrita por mais de três coordenadas (três valores são necessárias para descrever a posição e a orientação, e as outras são necessárias para descrever a geometria interna), o robô tem dois ou três graus de liberdade com singularidades. Um robô móvel holonômico tem as características seguintes: (i) a configuração é descrita por três coordenadas, (ii) a geometria interna não aparece em as equações cinemáticas, (iii) o robô tem três graus de liberdade sem singularidades, (iv) o robô pode mudar em um instante do tempo em uma combinação arbitraria e caracterizada por x, y e θ; e, (v) o robô pode acelerar em um instante do tempo em qualquer direção dada por x, y e θ. Os robôs não-holonômicos têm menos graus de liberdades do que os robôs holonômicos e por essa razão que eles não podem efetuar alguns movimentos. O planejamento de movimento dos robôs móveis com rodas, em geral, é objeto de restrições de rolamento que limitam as possíveis direções do movimento. Os robôs móveis não podem mover-se lateralmente, mas podem ir para frente ou para trás em trajetórias curvas. Por exemplo, um veículo é não-holonômico porque embora ele possa movimentar se fisicamente na lateral, não existe nenhum mecanismo para controlar este movimento. 6.1.1 Locomoção Os dispositivos de locomoção são de grande importância na caracterização de um robô móvel e envolve o modo de deslocamento no ambiente do trabalho. A locomoção, segundo a [86] depende dos seguintes fatores: i) estabilidade, que depende do número e geometria dos pontos de contato, do centro de gravidade e da inclinação do terreno, ii) características do contato, que depende da forma e tamanho do ponto de contato, do ângulo de contato, da fricção, e; iii) tipo de terreno, que depende da estrutura do terreno e tipo do ambiente. 89 6.2 Estudo da configuração tipo triciclo A seguir é realizada a descrição das características da estrutura sugerida e da cinemática da mesma. O robô móvel estudado se desloca sobre rodas, por esse motivo o comportamento das mesmas tem um papel importante no modelo cinemático, porém é realizado um estudo sobre as mesmas no começo deste capítulo, e também sobre os tipos de configurações cinemáticas com a finalidade de ser escolhida a configuração apropriada, em conformidade com a tarefa de ser realizada. Assim, na Figura 6.4 é mostrada a estrutura cinemática a ser estudado, que consiste em duas rodas traseiras passivas e uma roda dianteira com a função de orientação e tração, onde (1) e (2) representam as rodas traseiras e (3) representa a roda dianteira. Figura 6.4 Representação da configuração de triciclo do sistema robótico estudado. No sistema de locomoção do triciclo, a roda dianteira é de tipo convencional orientada no centro, que é utilizada tanto para tração quanto para mudar a direção do robô móvel. Na parte traseira do veículo se encontram duas rodas convencionais fixas. A manobrabilidade é maior do que na configuração Ackerman (do carro), por ter somente uma roda para direção, mas uma desvantagem dessa configuração é que por causa de ter somente uma roda pode causar uma instabilidade nos terrenos difíceis. É considerado que as rodas de atrás, durante o movimento, permanecem no plano horizontal e giram em torno do seu eixo horizontal, que permanece fixo em relação ao chassi do robô. A roda dianteira gira em torno do seu eixo horizontal, e gira também em torno do seu eixo vertical que passa pelo centro da roda, assegurando assim a função de orientação do robô. É considerado que o contato das rodas com o chão, se dá através de 90 um único ponto no plano, então é suposto para satisfazer o rolamento puro sem escorregamento. Isto significa que a velocidade do ponto de contato é igual a zero. Por tanto, as suas componentes, a velocidade paralela e a velocidade ortogonal ao plano da roda, são iguais a zero. Se considera que a origem do sistema de eixos robô (x, y) é posicionada no meio do eixo traseiro e na posição inicial a mesma coincide com a origem do sistema de eixos base (XB , YB ) do modo ilustrado na Figura 6.5. yB y x XB A parte traseira do veículo A parte frontal do veículo Figura 6.5 Representação da posição e orientação do sistema de eixos robô. Quando entre o sistema de eixo base e o sistema de eixo robô existe o ângulo θ de orientação inicial, como se apresenta na Figura 6.6, a matriz de rotação tem a forma apresentada na equação (6.1). 91 yB yθ x θ XB Figura 6.6 Representação do ângulo de orientação θ quando sistema de eixo robô tem uma rotação na frente de sistema de base. R( θ ,z)= ⎡ cos θ ⎢ sen θ ⎢ ⎢⎣ 0 − sen θ cos θ 0 0⎤ 0 ⎥⎥ 1 ⎥⎦ (6.1) No caso que o sistema de eixo robô e girado com o ângulo θ e transladado a distancia XB=x e YB=y no sistema de eixo base, como e apresentado em Figura 6.7, a transformação homogênea do ponto O, do sistema de eixo base (XB , YB ) para o ponto A(x,y), do sistema de eixo robô (x,y) é dada pela relação da equação (6.2). yθ yB x A (x,y) θ y B=y XB O X B=x Figura 6.7 Representação do sistema de eixo robô qual é transladado e rodado em comparação com sistema de eixo base. ⎡cos θ ⎢ senθ TOA= ⎢ ⎢ 0 ⎢ ⎣ 0 − senθ conθ 0 0 0 x⎤ 0 y ⎥⎥ 1 0⎥ ⎥ 0 1⎦ (6.2) 92 Com a finalidade de uma melhor visualização é utilizada somente a estrutura com rodas sem o corpo do veículo (Figura 6.8). yB yB y y θ x x A(x,y) XB θ XB O Figura 6.8 Representação da estrutura do triciclo. As coordenadas necessárias para descrever a posição do veículo são dadas de forma seguinte, apresentada na equação (6.3). ⎡x ⎤ ς = ⎢⎢ y ⎥⎥ ⎣⎢θ ⎦⎥ (6.3) Onde (x,y) representa a posição inicial do veículo e θ representa a orientação inicial do veículo. Quando a roda dianteira gira com um ângulo α, o robô vai mudar de orientação θ, seguir uma trajetória curva em um instante de tempo com o centro em um ponto denominado CIR e com a velocidade angular ωcarro(t). E esse ponto, segundo a [92] é o Centro Instantâneo de Rotação (CIR) e representa o ponto de intersecção instantânea entre as linhas que passam e são perpendiculares aos centros de rotação da cada roda, como se apresenta na Figura 6.9. 93 Figura 6.9 Representação geométrica do Centro Instantâneo de Rotação. O comportamento de movimentação de robô formalmente é o seguinte: no caso que o robô se movimenta em uma curva, então existe um centro dessa curva em um ponto (a um momento determinado de tempo), denominado CIR (ou Centro Instantâneo de Curvatura, ICC). É denominado centro instantâneo, porque ele é analisado em cada instante de tempo e a curva pode mudar em cada instante seguir então o centro dela também. Para que o robô, com estrutura triciclo, se movimente sem deslizamento é necessário que cada roda tenha um percurso circular em volta do ponto CIR e rodar com uma velocidade diferente das velocidades das outras rodas que dependem da posição da cada roda. No caso que o raio da curva (medido ao meio do robô até ponto CIR) é R e d representa a distância entre as rodas de atrás e da frente, de forma que é ilustrada na Figura 6.10, então a taxa de rotação ao redor do ponto CIR é obtida de forma a seguir: Utilizando a relação do Pitágoras no triangulo ABC de seguinte forma BC2 = AB2+AC2 = d2+R2, onde BC representa o raio de rotação, RCIR, e tem a expressão apresentada na equação (6.4). RCIR = 2 2 (d + R ) (6.4) 94 d α y y´ x y yB α B x´ x A (x,y) θ y 90−α 90 − θ θ 2 2 RCIR = (d + R ) θ α R C CIR y E X O CIR CIR x XB Figura 6.10 Representação geométrica da posição do CIR. Uma interpretação geométrica é que em cada instante o movimento do robô pode ser visto como uma rotação em torno do centro instantâneo de rotação (CIR), onde, α representa o ângulo de giro da roda frente para mudar a direção do robô, θ representa o ângulo de orientação do robô em reporto com o sistema de eixo global, R, representa o raio da curvatura e é a distância medida ao meio do robô até ponto do CIR (quando o raio da curvatura, R, é mínimo, o ângulo da direção, α, é máximo; e o raio de curvatura, R, é infinito quando o ângulo da direção α é igual a zero, nesse caso a trajetória do robô móvel é uma reta), A (x,y) representa o ponto situado no meio das rodas traseiras e (CIR x , CIR y ) representam as coordenadas do ponto CIR no sistema de eixo base. O raio da curvatura se obtém aplicando no triangulo ABC, a função tangente para o ângulo (equação (6.5)): tg ( π 2 −α) = R d (6.5) 95 De onde resulta que o raio de curvatura R depende somente da distancia entre as rodas traseiras até roda dianteira e de ângulo da direção α como se apresenta na equação (6.6) e tem uma singularidade quando o ângulo α= R = d* tg ( π 2 π 2 . −α) (6.6) No sistema de eixos de base, o ponto CIR tem as coordenadas CIR obtidas de forma que CIR x= x e CIR y x+EC. Utilizando o triangulo AEC resulta que EC= R * senθ e como CIR x= x+ R * senθ se pode obter a outra coordenada CIR y de forma: CIR y = y- R * cos θ . Em conclusão, o ponto CIR tem as coordenadas: (x+ R * senθ , y- R * cos θ ). No triangulo ABC utilizando a relação da equação (6.7). cos(90 − α ) = senα = resulta que (d 2 + R2 ) d (d 2 + R 2 ) , d = senα (6.7) No caso da configuração cinemática de tipo triciclo escolhida, a roda dianteira é engrenada pelo motor assegurando o sistema de tração do robô móvel. A velocidade da roda dianteira é conforme a relação da equação (6.8). V3 =V roda 3 = ω roda 3 * r (6.8) Onde, V3 representa a velocidade lineal da roda dianteira, ω roda 3 representa a velocidade angular da roda dianteira, r representa o raio da roda dianteira. Por outro lado, a velocidade da roda dianteira se pode escrever como a equação (6.9). V3 = ω Carro * RCIR (6.9) 96 Onde, ω Carro representa a velocidade angular do sistema móvel, RCIR representa o raio de curvatura do sistema móvel, que é distancia entre ponto CIR e a roda dianteira. Utilizando as equações (6.4) e (6.9), resulta que a velocidade lineal da roda dianteira V3 se pode escrever de forma da equação (6.10). V3 = ω Carro * 2 2 (d + R ) (6.10) Assim a velocidade angular do carro, ω Carro pode ser extraída da equação (6.10) de forma da equação (6.11). V3 ω Carro = (d 2 + R 2 ) = ω *r roda 3 (d 2 + R 2 ) (6.11) A velocidade angular do carro ω Carro pode ser expressa em função do ângulo da direção α da distancia d e da velocidade lineal V3 utilizando a equação (6.7) na (6.11) da seguinte forma: ω Carro = ω roda 3* r senα * V3 d (d 2 + R 2 ) (6.12) A roda dianteira está engrenada do motor, nesse caso a relação entre ω Motor e ω roda 3 é dada pela seguinte relação: ω Motor = n* ω roda 3 (6.13) Onde n representa o valor da caixa redução. A velocidade angular do carro varia em tempo de forma: ω Carro ≡ V3* dθ dθ = e utilizando a relação (6.12) resulta que dt dt senα . Descompondo a velocidade da roda dianteira V3 em direção ao x e y do d sistema robô resulta o sistema da equação (6.14). 97 ⎧ ⎪V = V * cosα 3 ⎪⎪ x ( ⎨Vy = 0 sem escoregamento ) ⎪• ⎪θ = dθ = ω carro = V3 * senα ⎪⎩ d dt (6.14) Descompondo a velocidade da roda dianteira V3 em direção ao sistema de eixo base resulta o sistema: ⎧• ⎪ x = V3 * cosα * cosθ ⎪• ⎨ y = V3 * cosα * senθ ⎪ • dθ senα ⎪θ = = ω carro = V3 * d dt ⎩ (6.15) 6.3 Cinemática Direta O problema cinemático direto: Sabendo os dados de entrada, como se apresenta na Figura 6.11, os dados de saída serão encontrados utilizando cinemática direta. Figura 6.11 Representação esquemática da cinemática direta. As variáveis de controle (dados de entrada): Estão determinadas pelo ângulo de giro roda frente α(t) e a velocidade angular do motor ω Motor (t). Conhecendo os dados iniciais de posição do robô (x,y), no tempo t=0, o ângulo inicial de orientação, θ, o ângulo da direção α e a velocidade angular do motor ω Motor , se pode calcular a posição do robô e a orientação do mesmo em qualquer momento de tempo t>t=0. A cinemática direta do triciclo é formulada de seguinte forma: no caso que a roda dianteira é 98 orientada com um ângulo α da direção direita representada pelo eixo que passa pela roda dianteira, e é perpendicular por eixo traseiro, o triciclo vai rodar com uma velocidade angular ω Carro em um ponto situado a uma distância R, na reta perpendicular e que passa pelo eixo traseiro [93]. O problema fica reduzido para integrar as equações do sistema (6.14). Integrando a terceira equação do sistema (6.14) resulta que: θ (t ) = ∫ V3 (t ) * senα (t ) dt d (6.16) Calculam-se as outras integrais da forma seguinte: t x(t) = ∫ V3 (t) * cosα (t ) * cos θ (t ) dt 0 t y(t) = ∫ V3 (t) * cosα (t ) * senθ (t )dt 0 (6.17) (6.18) Considerando que as equações (6.16) e (6.17) não podem ser integradas de forma analítica, será aplicada uma aproximação numérica da integral utilizando o método da regra do trapézio. Os métodos para o cálculo de integrais definidas são agrupados em quatro como se apresenta na Figura 6.12 [94][95]. Figura 6.12 Representação esquemática dos métodos para o calculo de integrais definidas. Método Analítico: este método consiste em se encontrar a solução analítica de: 99 b F ( x) , F ( x) = ∫ f ( x)dx (6.19) a Método Mecânico: tais métodos fazem uso de instrumentos que calculam a área delimitada pela curva. Método Gráfico: toma como base o desenho de y = f(x) no intervalo [a, b] que gera uma seqüência de iterados no gráfico até que se obtenha o resultado. Estes métodos são pouco empregados uma vez que não podem ser aplicados em sistemas computacionais. Método Numérico: tem grande apelo prático uma vez que podem ser embutidos em ambientes computacionais. As situações mais freqüentes onde se torna necessário calcular uma aproximação ao integral definido é quando a função primitiva não pode vir expressa em termos de funções elementares ou quando a expressão da primitiva é muito complexa ou quando a função integrada é conhecida apenas num conjunto discreto de pontos [96]. No caso do Método Numérico existem as seguintes regras de integração: Fórmulas Newton - Cotes, Fórmulas de Gauss, Fórmulas baseadas nos métodos de extrapolação do limite [95]. As Fórmulas Newtonianas são de aplicação mais simples quando temos a expressão de f(x) ou quando obtemos uma tabela de pontos dados experimentalmente. As fórmulas dadas pela interpolação de f(x) por polinômios de grau um, dois ou n podem ser aplicadas no intervalo [a, b] constituindo regras simples, ou em subdivisões [ xi , xi +1 ] do intervalo [a, b] formando regras compostas [95][97]. As Fórmulas Newton Cotes são os seguintes: Regra do retângulo, Regra do trapézio e Regra do Simpson. O método numérico de aproximação do valor da integral definido F ( x) , b F ( x) = ∫ f ( x)dx é baseado na substituição da função f ( x) por polinômio interpolador a b p n ( x) de grau n e posteriormente aproximar-se F ( x) por ∫p n ( x)dx [96]. Na regra dos a retângulos utiliza-se um polinômio interpolador de grau zero, na regra dos trapézios um polinômio de grau um, e um polinômio de grau dois na regra de Simpson. No caso da Regra do Trapézio estes pontos estão dispersos de forma simétrica, igualmente espaçada, e com um número finito de pontos, num intervalo [a, b]. Nesta 100 regra, a função f ( x) a ser integrada será aproximada por um polinômio de interpolação de ordem um, p1 ( x) como se apresenta na Figura 6.13 quando as extremidades do intervalo [ x0 , x1 ] são x0 =a e x1 =b. Figura 6.13 Representação esquemática da função f ( x ) que será integrada por polinômio de interpolação p1 ( x ) . Portanto, necessita-se de dois pontos para a interpolação, dois pontos fundamentais x0 =a e x1 =b. Esses pontos serão utilizados para determinar o polinômio de primeiro grau, p1 ( x) que representa uma linha reta de aproximação cortando f ( x) em dois pontos. Tem-se a expressão: b b a a ∫ f ( x)dx ≈ ∫ p ( x)dx 1 (6.20) A partir da expressão do polinômio de primeiro grau, p1 ( x) , que representa em fato a expressão de uma linha reta que passa pelos pontos [ a, f (a ) ] e [ b, f (b) ], da seguinte forma [95]: af (b) − bf (a ) ⎡ f (a) − f (b) ⎤ p1 ( x) = ⎢ x+ ⎥ a−b a−b ⎣ ⎦ (6.21) Resultando que: 101 p1 ( x) = f (a) x−b a−x + f (b) a−b a−b (6.22) Utilizando a aproximação lineal p1 ( x) da função f ( x) resulta que: b ∫ a b b a a f ( x)dx ≈ ∫ p1 ( x)dx = ∫ ( f (a ) b−a x−b a−x [ f (a) + f (b)] (6.23) )dx = + f (b) 2 a−b a−b Para melhorar o resultado, pode-se subdividir o intervalo [a,b] de integração em n subintervalos [ xi , xi +1 ] de dimensão h, onde cada um deles se aproxima de f ( x) por uma reta. Aplicando a regra do trapézio em cada sub-intervalo tem-se a regra do trapézio composta (Figura 6.14): Figura 6.14 Representação esquemática da divisão do intervalo [a,b] em subintervalos de dimensão h. Aplicando a Regra do Trapézio a cada subintervalo [ xi , xi +1 ] e sabendo que os pontos xi = x 0 + i ∗ h são igualmente espaçados de distancia h. No caso em que o intervalo [a, b] está dividido em n subintervalos, h = b−a e tem-se para a aproximação n da integral a expressão: 102 Resultando em: Utilizando uma ferramenta computacional Matlab para os cálculos das integrais usando a regra do Trapézio composta, tem se os gráficos para cada caso. Caso 1: Velocidade constante e ângulo da direção α = o. Nesse caso, o robô vai seguir uma trajetória reta porque a direção se manter constante com a variação do tempo, como se apresenta na Figura 6.15. y y x t0 x t1 Trajetória y y x x t2 tn tempo Figura 6.15 Representação da trajetória em linha reta quando a direção se manter constante a variação do tempo. As variáveis utilizadas no programa são: vs = 0,5 (velocidade constante da roda dianteira com valor igual a 0,5), alpha= 0 (ângulo da direção dado pela roda dianteira). A trajetória resulta na Figura 6.16, compondo a variável x e y em cada instante do tempo t0, t1,..., tn.utilizando a regra do trapézio. 103 Figura 6.16 Representação da trajetória quando a velocidade é constante e o ângulo da direção igual a zero. Na Figura 6.17 é apresentada a variação das variáveis: velocidade da roda dianteira vs=0,5 e o ângulo da direção alpha=0. Figura 6.17 Representação da variação da velocidade da roda dianteira e o ângulo da direção alpha Na Figura 6.18 é apresentada a variação das variáveis de posição x, y e a orientação do robô dado pela função theta. As variáveis x, y e theta são obtidas integrando o sistema: 104 ⎧• ⎪ x = V3 * cosα * cosθ ⎪• ⎨ y = V3 * cosα * senθ ⎪ • dθ senα ⎪θ = = ω carro = V3 * d dt ⎩ (6.24) • Onde, Alpha=0 e vs=0,5 ⇒ θ = 0 ⇒ θ = constante. Figura 6.18 Representação da variação das variáveis de posição x,y e a orientação do robô. Caso2: Velocidade constante e ângulo da direção α = π 6 . Nesse caso, o robô vai seguir uma trajetória circular, pois a direção se mantém constante igual a um ângulo de 30 graus com a variação do tempo, como mostra a Figura 6.19. 105 y vs Trajetória y y x α vs y α x x α vs x α vs Figura 6.19 Representação da trajetória circular quando a direção se mantiver constante igual a um ângulo de 30 graus com a variação do tempo. As variáveis utilizadas no programa são: vs = 0,5 (velocidade constante da roda dianteira com valor igual a 0,5), alpha= π 6 (ângulo da direção dado pela roda dianteira). A trajetória resultante está dada pela Figura 6.20, compondo da variável x e y em cada instante do tempo t0, t1,...,tn, utilizando a regra do trapézio. Figura 6.20 Representação da trajetória com uma velocidade constante e o ângulo da direção constante igual a 30 graus. Nas Figura 6.21 e Figura 6.22, são mostradas a variação das variáveis: velocidade da roda dianteira vs=0,5 e o ângulo da direção, para valores de Alpha= π 6 e • vs=0,5 ⇒ θ = constante ⇒ θ é uma equação linear. 106 Figura 6.21 Representação da mudança das variáveis: velocidade da roda dianteira e ângulo da direção Alpha= π 6 . Figura 6.22 Representação da mudança das variáveis. Caso 3: Velocidade vs=0,01*t (acelerando) e ângulo da direção alpha =0,1*sen (.4*t) (movimentando a roda dianteira para direita -esquerda). Nesse caso, o robô vai seguir uma trajetória senoidal, como se amostra na Figura 6.23. 107 Figura 6.23 Representação da variação das variáveis. A velocidade está crescendo em um modo linear e a direção dada pela função alpha é de forma senoidal, como se apresenta na Figura 6.24. Figura 6.24 Representação das variáveis. Nesse caso depois a integração do sistema (1), a variável x tem um crescimento parabólico, como se apresenta no Figura 6.25. 108 Figura 6.25 Representação da variação das variáveis. 109 7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS Na presente pesquisa pode ser levada em consideração que, para o projeto de sistemas robóticos móveis para ambientes hostis (efetuar tarefas em uma área com radiação ionizante) diversos estudos devem ser realizados na escolha dos materiais com a capacidade de resistir tempo prolongado, sem estragos profundos devido à ação das radiações ionizantes. Neste trabalho foi realizada uma pesquisa sobre um tipo de locomoção utilizada para o sistema robótico estudado, com a finalidade de efetuar tarefas de inspeção visual foi sugerido o tipo de locomoção através de rodas. Devido às análises sobre o tipo de configuração cinemática, a mesma foi eleita de tipo triciclo, decisão influenciada pela vantagem de controle e manobrabilidade, ficando sempre a vista o tipo de terreno e o objetivo da tarefa. A necessidade de inspeção aliada as condições hostis em um ambiente com radiação ionizante explicita a necessidade da tele-operação para a proteção do operador e melhoria da sua qualidade de vida. Assim que no presente trabalho foi projetado e construído um sistema de interface gráfica iterativa que permite a tele-presença do usuário no ambiente remoto, eliminando o risco de contaminação do operador humano. Neste projeto foi utilizada a concepção de comunicação sem fios (wireless), possibilitando por um lado o envio de comandos do usuário para a máquina e da imagem coletada no ambiente remoto no sentido inverso. O estudo deste tipo de sistemas em ambientes hostis gera uma necessidade de pesquisas e trabalhos futuros nesta área. Um primeiro ponto que pode ser abordado partindo-se dele é a implementação de novos recursos e estudos em visão artificial para o controle do movimento do sistema. Além disso, o sistema robótico pode ser projetado com sensores para medição de radiação transmitindo ao usuário o nível da radiação a que está submetido o sistema, assim a interface gráfica sofrerá alterações também. O estudo dos tipos de sensores utilizados para esses ambientes, como sensores de proximidade que podem ser adicionados ao sistema, aliados a escolha destes deve levar em consideração o ambiente hostil da radiação. 110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] MELLO, V., Simulação de um sistema de controle para robôs hexápodes, Dissertação M.Sc., Universidade Federal Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. [2] BORENSTEIN, J. et al., Where am I? Sensor and Methods for Mobile Robot Positioning, New Edition, The University of Mitchigan, 1996. [3] LEBOUTHILLIER, A., “W. 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