UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO
INTEGRADO ENTRE ORIENTADOR
EDUCACIONAL E OS DEMAIS
INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICOPEDAGÓGICA
POR ROSANA CARVALHO BOLLER
Orientadora
Profª. Maria Esther de Araújo Oliveira
NITERÓI
2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO
INTEGRADO ENTRE ORIENTADOR
EDUCACIONAL E OS DEMAIS
INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICOPEDAGÓGICA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Orientação Educacional.
Por Rosana Carvalho Boller
AGRADECIMENTOS
Aos amigos e companheiros do curso,
agradeço a todos pelo incentivo, pela
força e pela amizade que me foram
dedicados.
À
Simoninha,
minha
amiga,
pela
constante ajuda nas horas difíceis.
Aos
meus
ensinam.
alunos,
que
tanto
me
DEDICATÓRIA
Dedico
este trabalho aos meus pais,
Pedro e Nancy que com seu carinho,
incentivo,
exemplo
e
amor,
são
responsáveis pelo que hoje sou.
E aos meus filhos PE e Marcão, pelo
prazer
da
convivência
e
por
me
proporcionarem alegrias nos momentos
em que precisei de ânimo.
“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se em ver a vida
passar.
É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo
nada até o dia final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes, em casa
me esconder.
Prefiro ser feliz, embora, louco, que em conformidade viver.”
Martin Luther King
RESUMO
Esta monografia consiste numa análise sobre as diferentes funções
exercidas pelo do orientador educacional, ao longo dos anos, sua atuação
numa escola pública atual e a importância de haver um trabalho coletivo entre
os integrantes da equipe técnico-pedagógica para auxiliar na construção de
uma escola pública democrática, que trabalhe a favor dos alunos das classes
populares, tendo como objetivo a formação da cidadania do aluno e a
transformação social.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................……………... 8
I- O ORIENTADOR EDUCACIONAL E SUAS DIFERENTES FUNÇÕES……. 10
II - O DESAFIO DE SER ORIENTADOR EDUCACIONAL NUMA ESCOLA
PÚBLICA ATUAL…………………………………………………….......................16
2.1 - Conhecendo a escola pesquisada……………………………..……. 16
2.2 -A função do Orientador Educacional segundo o regimento escolar.20
III - O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A INTEGRAÇÃO ESCOLACOMUNIDADE……………………………………………………………………..... 23
IV - A UNIÃO FAZ A FORÇA: O QUE MUDA QUANDO O ORIENTADOR
EDUCACIONAL E OS DEMAIS INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICOPEDAGÓGICA TRABALHAM UNIDOS………………………………...……….... 32
CONCLUSÃO..................................……………………………………………..... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………....................... 39
ANEXOS…………………..………………………………………………….……… 41
INTRODUÇÃO
Tendo em vista as mudanças ocorridas em nossa sociedade, se faz
necessário investir num trabalho integrado no ambiente escolar, de forma a
atender integralmente o educando, formando-o para o exercício pleno de sua
cidadania.
O trabalho integrado entre os elementos da equipe técnico-pedagógica
de uma instituição de ensino facilita a gestão participativa, o planejamento
pedagógico integrado, assim como a integração escola-família-comunidade.
Ao refletir criticamente, sobre sua postura a orientação educacional
necessita fortalecer uma parceria entre o ambiente escolar e o extra-escolar do
aluno,
apontando caminhos possíveis ao redimensionamento das relações
pedagógicas em busca de um ensino de melhor qualidade. Para tal é preciso
se aliar a supervisores, coordenadores e todos os profissionais da escola, para
que, juntando forças, se resgatem a realidade onde o aluno está inserido,
efetivando assim a relação escola-comunidade, para a partir daí criar propostas
que construam e desenvolvam um novo projeto educacional.
Acreditando ser esse o caminho que melhor contribui para a realização
efetiva do trabalho do orientador educacional, esta monografia tem o objetivo de
analisar como se dá o trabalho integrado entre o orientador educacional e os
demais profissionais da equipe técnico-pedagógica, de uma escola pública
municipal que atende de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, no sentido de
preparar o aluno para se tornar sujeito de sua história através do exercício de
sua cidadania.
Para aprofundar a compreensão do trabalho observado e analisado
buscar-se-á interlocutores que instrumentalizem o desenvolvimento de um
diálogo
prático-teorico-prático.
Recorrer-se-á
à
interlocução
com
os
pensamentos de Regina Leite Garcia, Paulo Freire, Eny Maia, Nilda Alves,
Mirian P. S. Zippin Grispun, entre outros, para realização de um trabalho
descritivo, de base empírica, analisado a partir das interlocuções e de uma
pesquisa documental.
Com a presente monografia pretende-se contribuir para a reflexão de
professores, orientadores e demais profissionais da escola, sobre a importância
do trabalho integrado da equipe técnico-pedagógica para a construção de uma
escola pública democrática, de boa qualidade e que a serviço das classes
populares possa tornar-se um espaço efetivo de transformação social.
I - O ORIENTADOR EDUCACIONAL E SUAS
DIFERENTES FUNÇÕES
“A Orientação Educacional, no nosso país, percorreu um longo
caminho comprometido com a educação e com as ‘políticas’
vigentes. Todo o processo da Orientação manteve, sempre,
estreita relação com as tendências pedagógicas, sendo o seu
trabalho desenvolvido a partir do que dela se esperava nas
diversas concepções. A análise desta relação engloba diferentes
aspectos e significados da prática da Orientação e de suas
dimensões no cenário educacional, configurado pelos princípios e
propósitos daquelas concepções.”
Mírian P. S.. Zippin Grinspun (2003: 11)
Desde que foi criada, na década de 20, pelo engenheiro suíço Roberto
Mange a Orientação Educacional teve uma abordagem psicológica,
individualizada, voltada para resolução de problemas, seleção e orientação
profissional dos alunos.
De acordo com Grinspun (op. cit.), quando seu enfoque era psicológico,
a Orientação tinha seus objetivos muito claros, ao contrário, quando sua
abordagem passou a ter enfoques sociológicos seus objetivos deixaram de ser
claros.
Este serviço, inspirado por modelos europeus e americanos, foi imposto
às escolas, embasado num discurso liberal que entedia a escola como espaço
de democratização e promoção social.
A ideologia liberal entendia as desigualdades sociais como naturais, já
que a desigualdade vinha dos indivíduos, que tendo aptidões diferentes eram
responsáveis pelo próprio sucesso ou fracasso, esquecendo-se, assim, das
influências do contexto histórico-social.
Segundo Grinspun (op. cit.), o histórico da Orientação Educacional
divide-se em seis períodos: implementador, institucional, transformador,
disciplinador, questionador e orientador.
O Período Implementador foi da sua implementação ao ano de 1941 e,
como já vimos anteriormente, era associado à orientação profissional e tinha
ênfase nos trabalhos de seleção e escolha profissional.
O Período Institucional vai da instituição da Lei Orgânica do Ensino
Industrial de 1942 a 1960. Nesse período inicia-se uma exigência legal da
Orientação nas escolas e surgem os cursos de formação para o orientador.
Em 1945 criou-se na PUC de Campinas o primeiro curso de formação
de Orientadores Educacionais, mas o número de Orientadores formados foi
inferior a necessidade das escolas.
O Período Transformador vai da implementação da primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 4024/61, até 1970.
A LDB de 1961 divide a Orientação Educacional em duas modalidades: a
do ensino primário e a do ensino médio. Além de se preocupar com o papel do
Orientador Educacional a LDB também se preocupou com sua formação, que
precisava ser bem psicologizada para que ele acreditasse na ideologia da
igualdade e individualidade e servisse a classe dominante.
A lei 5.564 de 1968 provê sobre o exercício da profissão do orientador
educacional e confirma a função preventiva e sua linha psicológica.
A década de 60 foi um marco na história do Brasil, período de crise
econômica e instabilidade política. Os trabalhadores se organizavam e lutavam
por melhores salários, a inflação subia, os empresários pressionavam para
receber financiamentos.
Neste contexto, a escola tinha um importante papel, pois se acreditava
que a educação seria responsável pelo desenvolvimento do país, em
contrapartida era exigido de seus profissionais uma prática de acordo com o
sistema político vigente.
O Período Disciplinador vai de 1970 a 1980.
De acordo com Grinspun (op. cit.:19), nesse período, inspirado pelas
teorias pedagógicas de Althusser, Bourdier, Passeron, uma nova leitura passa a
ser feita e começa-se a compreender que o que acontece no contexto sócio
cultural do aluno interfere em sua vida escolar. Então “começa-se a questionar
o que faz esta escola e para que servem os serviços que estão sob sua
responsabilidade”. Nesse ínterim surge a lei que obriga a profissionalização dos
alunos do 2º grau.
Com a industrialização coube escola preparar a mão-de-obra adequada
e a Lei 5692/71 trouxe a obrigatoriedade da orientação e garantiu ao educando
a formação para o trabalho, atendendo à economia nacional e à população
carente que ao concluir o 2º grau já tinha uma profissão .
Em 1973 surge o
decreto que trata do exercício da profissão do
orientador, a lei n.º 72.846, que em seu primeiro artigo diz:
“Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao
educando individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de
1º e 2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso
de sua personalidade; ordenando integrando os elementos que
exercem influência em sua formação e preparando-o para o
exercício das opções básicas.”
Grinspun afirma ainda que:
“No final da década de 70 crescem as denúncias, grita-se contra
a falta de compromisso da escola e de seus reais protagonistas.
Tenta-se resgatar a importância da escolaridade para as
estratégias de vida das camadas populares, chamando a atenção
para a estrutura interna da escola como um dado significativo
para o desempenho dos alunos. A Orientação estava dentro da
escola e não se deu conta do seu papel.” (ibid.: 20)
Em conseqüência disso, surgiu um novo período.
O Período Questionador foi na década de 1980, nesse período muito
se questionou a Orientação Educacional, tanto sua teoria, quanto a sua prática,
o que trouxe grandes transformações para a escola e a orientação que passou
a ter uma atuação mais aberta, dinâmica e política.
Os estudos teóricos desta área passaram a ter uma dimensão mais
crítica e consciente do contexto político e social em que se vivia e o orientador
passou a desejar “trazer a realidade do aluno para dentro da escola e, portanto,
começar a discutir suas práticas, seus valores, a questão do aluno trabalhador,
enfim o seu ‘mundo lá fora’.”
(Grinspun, 2003: 21)
O Período Orientador iniciou-se em 1990, período este, de abordagem
sociológica, quando o
orientador passou a ser visto como colaborador do
processo pedagógico, auxiliando a formação do aluno enquanto cidadão crítico
capaz de participar conscientemente do mundo em que vive.
Nesse período instituiu-se a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, lei n.º 9394/96, que não é muito clara quanto à orientação
educacional, mas percebe-se sua presença em vários artigos, como, por
exemplo, nos artigos 36 e 39.
Nos princípios da educação escolar, artigo 36, 4º parágrafo, percebe-se
facilmente a presença da orientação educacional:
“A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a
habilitação profissional, poderão em educação profissional, ser
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou
em cooperação com instituições especializadas.”
Em seu artigo 64, a nova LDB coloca que o orientador educacional
poderá se formar em nível superior ou em pós-graduação, de acordo com a
instituição de ensino, mas garantindo uma formação de base comum nacional.
Acredita-se, portanto, que a nova LDB contemplou a Orientação
Educacional e sua relevância para a formação do aluno enquanto sujeito
consciente, crítico e participante.
Atualmente não cabe mais a Orientação trabalhar individualmente com
alunos problemáticos e desajustados,
cabe ao orientador uma atuação
dialógica, crítica, contextualizada, coletiva, comprometida com o cotidiano da
escola, dos alunos e de seus pares. Competindo a ele a realização de um
trabalho que engloba aspectos pessoais, políticos e sociais do cidadão.
É importante que se tenha conhecimento sobre a história da Orientação
Educacional no Brasil, para que se possa entender porque, ainda hoje, se tem
uma visão inadequada de que o orientador educacional deve trabalhar com
alunos problemáticos e indisciplinados para adequá-los a escola e a sociedade.
Tudo por que consciente ou inconscientemente a orientação educacional
sempre esteve a serviço de uma sociedade desigual, injusta e excludente.
Apenas por tudo isso, há que se ressignificar o trabalho do orientador
educacional nas escolas públicas atuais e o trabalho integrado entre o O. E. e
os demais profissionais da equipe técnico-pedagógica da escola é um
importante passo em direção a essa ressignificação.
II - O DESAFIO DE SER ORIENTADOR EDUCACIONAL
NUMA ESCOLA PÚBLICA ATUAL
Para se conhecer como se dá o trabalho do Orientador Educacional na
escola pesquisada, há que se conhecer primeiro a escola, seus projetos e seu
regimento.
2.1 - Conhecendo a escola pesquisada:
Esta pesquisa foi realizada em uma escola municipal de São Gonçalo,
Estado do Rio de Janeiro. O prédio e os funcionários são da prefeitura, mas a
maioria dos funcionários de apoio (auxiliares de serviços gerais, inspetores) é
cooperativados, ou seja, são contratados pelo período do governo vigente.
A escola, que chamaremos A, é uma escola do Ensino Fundamental,
situada na periferia urbana do município e atende a mais de mil alunos, sendo
grande parte deles oriundos das classes populares, em sua maioria filhos de
empregadas domésticas, pedreiros e biscateiros, a partir dos seis anos de
idade.
É dirigida por dois diretores (geral e adjunto), auxiliados por três
dirigentes de turno, um coordenador pedagógico geral e coordenadores de
área, dois orientadores educacionais e uma secretária, além dos professores e
dos funcionários do apoio administrativo e operacional.1
Os diretores foram indicados pela Secretaria Municipal de Educação,
mas o diretor geral já era professor da casa. A Equipe Pedagógica pressupõese que seja escolhida pela direção, e essas escolhas parecem ter um
componente político partidário, uns são escolhidos por competência, alguns por
coleguismo e outros por falta de opção para o cargo.
1 1
De acordo com o regimento escolar do município o apoio administrativo e operacional é formado por
inspetor de disciplinas, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de secretaria e manipulador de alimentos
(merendeira).
A escola funciona em três turnos:
1º turno de sete h. e 15 min. às 12 horas;
2º turno de 13 h. às 17 h. e 50min.;
3º turno das 18 h. às 22 h. e 30 min.
Cada turno parece uma escola diferente e as características dos
profissionais têm a cara de cada turno. Os profissionais do 1º turno são muito
trabalhadores e pouco questionadores. Os profissionais do 2º turno são mais
questionadores, mas trabalham um pouco menos, e os do turno da noite são
indiferentes.
Não há integração entre os turnos e a dificuldade de realização de
projetos integrados é visível. Existe também uma rivalidade ente os turnos.
A escola possui um grupo de professores questionadores, dispostos a
trabalhar pela melhoria da escola e que buscam visivelmente contribuir com
suas ações pedagógicas para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.
Como exemplo disso pode-se citar os projetos desenvolvidos pela
escola. São eles:
PROJETO “MÃOS DADAS” – (CLASSE DE REORIENTAÇÃO – 1º Ciclo do 1º
Segmento e Educação de Jovens e Adultos)
PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º ciclo do 1º Segmento do Ensino Fundamental.
OBJETIVO: Auxiliar os alunos a superar as dificuldades nos conteúdos que são
pré-requisitos para a etapa em que estão inseridos e que, consequentemente,
impedem seu desenvolvimento.
PROJETO: “NOSSO ALUNO É UM SUCESSO”
EQUIPE: Geografia
PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental
OBJETIVO: Proporcionar ao educando uma compreensão de sua identidade
enquanto cidadão e sua participação social, política e crítica.
PROJETO “VOCÊ CIDADÃO”
EQUIPE: Serviço de Orientação Educacional – 1º Turno.
PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental
OBJETIVO: Reconhecer o direito a uma vida digna como direito de todos.
PROJETO DE COMBATE A DENGUE
EQUIPE: Ciências, Matemática e Artes
PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental
OBJETIVO: Possibilitar o estabelecimento de relações entre diferentes
conteúdos, transformando as informações em conhecimento, através de uma
problemática social e ambiental.
PROJETO CULTURAL “O SABOR DA ARTE”
EQUIPE: Educação Artística, Português e História
PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental
OBJETIVO: Promover a socialização e o exercício da cidadania nas várias
manifestações artísticas no espaço escolar.
PROJETO INTERLER
EQUIPE: Sala de Leitura
PUBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental
OBJETIVO: Valorizar a leitura, inserindo-a no dia-a-dia, possibilitando, através
do contato com os textos apresentados, o autoconhecimento, o reconhecimento
dos limites, desejos, fontes de prazer, resistência às frustrações impostas pela
vida, lidar com os problemas que distanciam os objetivos do potencial a ser
desenvolvido, trazendo um mundo imaginário para um mundo real.
FESTIVAL DE MÚSICA HISTÓRICA
EQUIPE: História e Educação Artística.
PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental
OBJETIVO: Contribuir para que o aluno desenvolva a visão analítica, crítica e o
espírito social e político participativo, sendo capaz de avaliar a sua possibilidade
de participação no contexto histórico em que se insere.
PROJETO RITMO É MOVIMENTO
EQUIPE: Educação Artística, Educação Física e Inglês
PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental.
OBJETIVO: Compreender e utilizar de forma criativa o código lingüístico,
utilizando o movimento corporal, o ritmo, as cores e a música de forma
integrada.
PROJETO OLIMPÍADA MATEMÁTICA
EQUIPE: Matemática
PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental.
OBJETIVO: Desenvolver a concentração e o raciocínio através de atividades
lúdicas integrando os conteúdos disciplinares.
Apesar dos projetos supracitados, as ações escolares são práticas assistências,
assim sendo, não existe um planejamento efetivo e contínuo. O Regimento
Interno não foi estudado ou divulgado para o grupo,
o Projeto Político
Pedagógico ainda não está definido, o que oportuniza à ocorrência de atitudes
arbitrárias e não há nenhuma participação da escola como um todo.
2.2 - A função do Orientador Educacional segundo o regimento
escolar
O Regimento Escolar é o documento legal da Secretaria Municipal de
Educação que define as estruturas pedagógicas, administrativas e disciplinares
das escolas públicas municipais.
Segundo ele, em seu 33º artigo, são
competências do Orientador Educacional:
“I – Elaborar anualmente um plano de ação, discutindo-o com os
professores e direção da Unidade Escolar;
II – Atuar de forma integrada com a direção e a coordenação
pedagógica em todas as atividades docentes e discentes, a fim de
manter a unidade da filosofia educacional que perpassa a vida da
escola;
III – Participar da elaboração do projeto político-pedagógico da
escola, contribuindo para o aperfeiçoamento do trabalho
realizado pela escola;
IV – Planejar e coordenar o processo de sondagem de interesses,
aptidões e habilidades, visando despertar no educando a
compreensão do mundo social e produtivo;
V – Acompanhar o desenvolvimento do aluno no processo
ensino-aprendizagem, visando enriquecer suas relações pessoais,
com o meio ambiente e com a produção cultural, de forma a
contribuir com a construção de sua cidadania;
VI – Investigar e analisar a realidade vivificada pelo educando
em comunidade, para que os profissionais da escola possam
entender as circunstâncias que condicionam o comportamento do
aluno, elaborando e executando projetos semestrais;
VII – Atender individualmente aos alunos através de entrevistas,
sistematizando o processo de acompanhamento, orientando-os e
encaminhando-os a outros especialistas, segundo suas
características e necessidades pessoais;
VIII – Participar da organização das turmas;
IX – Participar de forma atuante das reuniões do conselho
escolar e do conselho de classe;
X – Convocar e atender aos pais e responsáveis, sempre que
necessário, visando à integração família / escola;
XI – Estimular e promover iniciativas de participação e
democratização das relações na escola;
XII – Participar das reuniões pedagógicas.”.
Assim como o espaço escolar o Regimento traz algumas contradições,
apesar de apontar para uma Orientação Educacional mais política, participativa
e coletiva, reza que O.E. deve elaborar o seu Plano de Ação e discuti-lo no
coletivo, mas este deve conter as suas ações, quando o ideal seria se pensar
um plano de ação para toda a equipe.
A despeito do que diz o Regimento Escolar, na prática, ainda se percebe
uma visão de que o orientador deve trabalhar com alunos problemas,
individualmente, buscando caminhos para melhor adaptá-lo a escola.
Sempre que há algum problema, alguma briga ou desacato mais grave
ao professor, é ao orientador que se recorre para conversar com o aluno, seus
responsáveis e solucionar a questão.
O trabalho desse profissional é de suma importância, enquanto
articulador de reflexões que busquem caminhos para a superação das
dificuldades. Não cabe a ele a ingenuidade de achar que sozinho dará conta de
resolver todos os problemas, pois a escola é um espaço de construção coletiva.
E a construção é coletiva no sentido pleno da palavra. O coletivo escolar
abrange todos que nela transitam: professores, alunos, diretores, orientadores,
coordenadores, pais, merendeiras, vigias e etc. E as decisões devem ser
tomadas com a participação de todos, que juntos devem procurar as respostas
às necessidades do cotidiano escolar.
No cotidiano da escola pesquisada, a coletividade já é comprometida,
pois é muito difícil a realização de reuniões onde estejam todos os integrantes
da equipe técnico-pedagógica, pois os profissionais têm horários diversificados
e raramente se encontram.
Há uma certa integração dos profissionais que trabalham no mesmo
turno, mas não entre toda a escola.
É necessário repensar a escola, afim de torná-la mais democrática, pois
é nela que devemos vivenciar a força do coletivo, desde a Educação Infantil. A
escola tem a obrigação de mostrar ao aluno que ele precisa mudar a sociedade
para melhor, tornando-o um cidadão consciente de seus direitos e deveres.
Para corroborar a necessidade de democratização da escola pode-se
recorrer a fala da professora Regina Leite Garcia, na Aula Magna de Abertura
do ano letivo de 2004, promovida pela Fundação Municipal de Educação de
Niterói, no Clube Canto do Rio em 3 de fevereiro:
“– A escola sintonizada com um projeto de sociedade
democrática, com a democratização social é aquela que busca a
transformação da sociedade, a reformulação da sociedade. E não
tem revolução sem que a escola dê sua contribuição, o
conhecimento é indispensável para se reformular a sociedade e é
lá, na escola, que isto se dá.”
É preciso, e até urgente, que se tenha na escola um orientador
educacional comprometido com a escola pública brasileira, que busque, junto a
seus pares, formas de tornar a escola mais digna, com um ensino de boa
qualidade, que seja contrária
a sociedade excludente e que busque a
superação do fracasso escolar.
É necessário pensar e repensar a escola afim de torná-la mais
democrática e para tal a comunidade deve participar da vida escolar.
É
obrigação social da escola acolher a comunidade.
E na escola pesquisada, será que existe algum trabalho que promova a
integração escola-comunidade?
III - O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A INTEGRAÇÃO
ESCOLA-COMUNIDADE
“…trazer os pais à escola constitui uma das atividades do
orientador. Ele faz com que eles participem do projeto dela de
diferentes formas, desde o planejamento do projeto pedagógico
até as decisões que a escola deve tomar.”
(Grinspun, 2001: 109)
É comum se ouvir professores reclamando pela falta de participação dos
pais na vida escolar de seus filhos, mas será que a escola está realmente
aberta a participação efetiva dos pais? Que tipo de participação é esta, que os
professores reclamam?
Na escola pesquisada os professores costumam reclamar que os pais
não vão as reuniões bimestrais, não auxiliam seus filhos nos exercícios e
trabalhos de casa e não costumam comparecer a escola quando são
convocados.
Mas apenas este tipo de participação não garante a construção de uma
escola democrática, é preciso que a comunidade participe das discussões, das
tomadas de decisão e do planejamento. Mas tal participação é impedida, pois a
comunidade , de modo geral, é vista de forma negativa pelos que trabalham na
escola, para eles a comunidade é carente economicamente, culturalmente e
afetivamente. Como podemos perceber a partir de depoimentos de professores,
da direção e dos demais funcionários, obtidos através de conversas informais:
“_ Devido à baixa escolaridade dos pais, eles não dão
importância à vida escolar dos filhos.
_ Esses pais não cobram que os filhos tenham um
comportamento adequado na escola, muito pelo contrário, tem
uns que ainda ensinam os filhos a desrespeitar a gente.
_ Às vezes a gente chama um responsável por mau
comportamento do aluno e quando ele chega aqui é pior do que
o aluno. Tem pai que ainda ameaça nos processar”.
Os alunos também são visto da mesma forma, acometidos pelas
mesmas carências, com o agravante de ainda serem vistos como
desinteressados, bagunceiros e agressivos.
Essa visão interfere efetivamente na relação escola-comunidade, pois os
sujeitos da escola acabam tendo uma postura paternalista, de imposição ou de
quem tem a obrigação de aturar o outro. É como se devido à condição sócioeconômica e cultural tornasse as pessoas incapazes de exercer plenamente
sua cidadania.
Para a verdadeira participação da escola é necessário haver a
democratização dos processos pedagógicos.
Ou seja, os agentes
educacionais, pais, alunos e comunidade devem ser incentivados a participar
das
decisões relativas aos conteúdos e à metodologia, pois o saber da
comunidade tem sua parcela de contribuição na fundamentação da construção
do projeto político-pedagógico verdadeiro, que atenda às necessidades daquela
realidade.
Um dos poucos momentos em que a escola se abre a comunidade são
as reuniões de pais. Mas essas reuniões que poderiam constituir-se em
momentos de diálogo, trocas e decisões conjuntas são tornadas, simplesmente
em momentos de se reclamar dos alunos, e o que é pior, na maioria das vezes
quem ouvem são os pais cujos filhos nem problema dão. Não é difícil ouvirmos
dos professores nas reuniões:
“- Infelizmente os pais que precisavam ouvir isso não estão
aqui…”
É raro, numa reunião de pais, haver um elogio a algum aluno, na maioria
das vezes o que se faz é falar mal dos alunos e das turmas, que segundo os
professores:
“- São bagunceiros e desinteressados.
Não fazem os deveres de casa.
Precisam ser mais responsáveis e estudar mais.”
E os pais cujos filhos não se enquadram nos rótulos acima, ou pensam
que eles também são assim ou precisam ousar perguntar:
“- E o meu filho, como é? – ou – Meu filho também é assim?”:
A visão depreciativa que a escola tem da comunidade acaba fazendo
com que as pessoas se sintam diminuídas ou que percebam o preconceito, no
entanto por um caminho ou por outro a comunidade acaba se afastando da
escola. E se isso acontece, é sinal de que o orientador educacional está
falhando, já que segundo Grinspun:
“O orientador educacional deve procurar se envolver com a
comunidade, resgatando sua realidade sócio-econômica e
cultural como meio de contribuir para a adequação curricular,
tendo em vista a transformação da escola e da sociedade. A
organização da escola deve contemplar, através de seu próprio
espaço físico, os interesses e necessidades da comunidade,
fazendo que ela seja participante do projeto político-pedagógico
que deseja desenvolver. A Orientação deve trabalhar com um
planejamento participativo, sempre voltado para uma concepção
crítica. Um diálogo entre as comunidades das disciplinas teóricas
e das disciplinas práticas permitirá a busca dessa concepção
crítica.” (Grinspun, 2001: 109)
Para que haja uma participação coletiva efetiva é preciso que todos
participem do planejamento à tomada de decisões, mas a escola não permite
essa participação, a participação é permitida apenas na realização de eventos,
como, por exemplo, nas festas escolares, o que demonstra a falta de um
planejamento que incorpore os pais, e a comunidade a rotina da escola.
A escola precisa convidar a comunidade a participar do seu cotidiano,
mas ao contrário, o que se tem é uma escola gradeada e de portões fechados
aos que pertence.
O discurso é de que é necessário e até importante a participação dos
pais ou da comunidade de modo geral, na escola, mas historicamente a
participação das classes populares em qualquer setor da sociedade é mínima.
A escola, por sua vez, enquanto integrante dessa sociedade, acaba reforçando
essa exclusão, quando não se abre a participação efetiva dos pais.
Conformados com esta não participação nas decisões sociais é natural
que os pais se tornem distantes e se sintam incapazes de opinar na construção
e desenvolvimento de um projeto educacional.
Mas as classes populares possuem um conhecimento construído
historicamente que precisa ser valorizado. A escola precisa valorizar o saber
popular enquanto um saber que está no mundo, um saber legítimo que contribui
para a formação da herança cultural.
A participação da comunidade no trabalho desenvolvido na escola faz
com que haja a descentralização do poder na escola, além de promover a
socialização do conhecimento e da garantia do direito de todos à participação.
Para que o projeto político-pedagógico tenha um desenvolvimento significativo
é preciso a participação da comunidade na instituição escolar, pode-se inclusive
dizer que se não há a participação da comunidade na escola essa escola não
possui um projeto político-pedagógico, ou se o tem, não é um projeto
comprometido com uma educação pública popular, democrática e de boa
qualidade.
A escola precisa descer do pedestal no qual tem se mantido e abrir
espaço para uma democratização nas relações escolares de modo que propicie
a participação coletiva da comunidade na qual está inserida e da comunidade
escolar de modo geral, a fim de darem
as diretrizes do trabalho que se
pretende realizar.
A construção de uma escola democrática é necessária e até urgente. A
grande dificuldade desta democracia está na maneira de ver a sociedade e
suas classes. Muitas vezes, a comunidade escolar não tem consciência do
valor da união.
Pais, alunos e funcionários não se percebem como
pertencentes a um mesmo grupo, que pode favorecer o seu sucesso ou seu
fracasso, e que, de uma maneira ou de outra, arcará com as conseqüências de
seus atos ou omissões.
Escola e comunidade têm interesses comuns: o desenvolvimento do
aluno. No entanto, temos uma sociedade que impede o pleno desenvolvimento
humano, por isso, escola e comunidade precisam estar unidas para lutarem
contra a sociedade excludente que está posta.
O momento histórico atual é de muitas mudanças e contradições que
impõe muitos desafios. Por isso a escola necessária às crianças das classes
populares é uma escola que se baseia no criticismo e no não conformismo,
contribuindo para a superação da alienação. Para
que se possa educar na
contramão da exploração social, deve-se trabalhar de forma contextualizada
com a realidade social para que o aluno possa refletir e transformar o meio em
que vive.
Para que isso ocorra à escola deve estar comprometida com a
formação moral do educando, formando-o para respeitar as idéias dos outros e
capacitando-o para dialogar e cooperar.
Nessa escola, as diferenças devem ser percebidas como algo positivo
que desenvolve, através do diálogo, a compreensão do outro e a solidariedade
na produção do saber, a diferença representa um desafio à convivência, pois
através do confronto de hipóteses se produz o saber e possibilita-se a
transformação social.
Repensar a escola que temos é o início da construção da escola que
queremos. A clareza da função social da escola e do sujeito que se pretende
formar é fundamental para realizar uma prática pedagógica competente e
comprometida socialmente com os interesses das classes trabalhadoras. A
escola que queremos deve oferecer, a todos, condições de exercer plenamente
a cidadania, através de uma educação de boa qualidade, educação essa que
deve preparar para valorizar os diferentes tipos de conhecimentos , que juntos
constróem o mundo e reinventam a vida.
Educar para a cidadania é dar condições para que cada um contribua na
comunidade com o que sabe e fazer da diversidade, a unidade, é desenvolver
a competência das boas relações onde a ética, o senso comum, a tolerância, o
perdão, a solidariedade são valorizados e vivenciados no cotidiano
O orientador educacional da escola que se almeja é um colaborador,
articulador de discussões e ações entre toda comunidade escolar, que busque
junto a seus pares promover um trabalho coletivo e criar condições dos
educadores reverem a sua atuação.
A escola, atualmente, encontra muitos desafios a serem superados,
como a repetência, evasão escolar , entre outros. Para trabalhar com crianças
oriundas das classes populares é preciso que o orientador educacional se
prepare para enfrentar tudo o que pode estar associado a ela, como violência,
pobreza, desorganização familiar, desemprego, bebida, roubo, droga,
prostituição, deficiência mental, desinteresses etc. Lembrando-se sempre que
essas crianças e seus familiares depositam na escola toda esperança de um
futuro melhor.
A repetência, junto à pobreza é uma das maiores causas da evasão
escolar. E apesar de ser sinalizadora da ineficiência do sistema escolar, ela é
vista pela comunidade escolar como algo natural, que faz parte do processo
educativo. Cabe ao orientador educacional promover junto aos alunos, pais e
professores debates e reflexões a fim de desmistificar essa naturalização da
repetência.
O maior índice de repetência está nas primeiras séries do ensino
fundamental e está relacionada à ineficácia no processo de alfabetização e a
falta de trabalhos que desenvolvam a auto-estima e autoconfiança do aluno.
A repetência só reforça nos alunos e familiares, das classes populares, a
idéia de que são incapazes de aprender, gerando as piores expectativas para o
futuro, além de tudo ainda representa um grande desperdício financeiro.
Na verdade, quem fracassa é a escola, que não consegue exercer
efetivamente uma ação educativa de respeito e acompanhamento do
desenvolvimento dos alunos e ao contrário os rotula como diferentes, inferiores
e incapazes.
Para reverter o quadro de repetência e evasão é preciso se repensar e
reestruturar a maneira como a escola avalia , aprendendo a lidar com as
diferenças individuais.
Para que essa transformação ocorra, a escola precisa de uma equipe
técnico-pedagógica que tenha como objetivo a construção de um projeto
pedagógico mais justo e coerente com as classes populares, pessoas que
garantam espaços para as discussões coletivas entre todos os envolvidos com
o processo ensino-aprendizagem: pais,
alunos, professores, funcionários,
conselho escolar, direção, e demais interessados no trabalho da escola.
Projeto este que aponte na direção da construção do conhecimento por parte
dos alunos, fazendo com que estes se debrucem sobre a realidade, tentando
entendê-la.
Na escola, que se quer humanizante, precisa-se de orientadores
educacionais e supervisores e coordenadores que invistam na articulação de
todo o processo pedagógico, que mobilizem os diferentes saberes existentes na
escola e fora dela e que possibilitem momentos de reflexão sobre as práticas
cotidianas, como ponto de partida para possíveis alternativas de mudanças.
Trabalhar com o coletivo não é uma tarefa fácil, já que muitas são as
diferenças encontradas entre os membros deste coletivo. Porém só o
engajamento do grupo com o projeto político-pedagógico e a consciência de
sua contribuição para a transformação e crescimento do sistema educacional
brasileiro, farão com que resultados sejam alcançados. Por isso, a relação
escola-família-comunidade se faz necessária, e até urgente, para que haja a
construção coletiva do trabalho a ser desenvolvido. Todos precisam sem
mobilizados para a discussão política da prática pedagógica.
Os homens precisam se unir para transformar o mundo. Neste sentido
não pode haver no grupo, um que domina, mas sujeitos iguais que lutam por
ideais comuns, que ouvem e são ouvidos, direcionando todo o trabalho para o
aluno que aprende.
Na busca por essa transformação, o orientador educacional precisa estar
engajado junto a todo o coletivo da escola, pois desempenha um papel
significativo na transformação da instituição escolar, a começar pela
participação no processo pedagógico, procurando desvelar o currículo oculto,
além de compreender o sentido político de tudo o que acontece na escola.
Entre tantas atribuições, cabe ao orientador educacional promover a
participação do povo na sociedade em que está inserido, para que possa
buscar uma sociedade mais justa e igualitária.
IV - A UNIÃO FAZ A FORÇA: O QUE MUDA QUANDO O
ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS DEMAIS
INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICO-PEDAGÓGICA
TRABALHAM UNIDOS
Como explicitado nos capítulos anteriores, na escola pesquisada não há
um trabalho integrado entre o orientador educacional e os demais profissionais
da equipe técnico-pedagógica, o que existem são propostas de trabalho
individuais que são, no máximo, compartilhadas com os integrantes do mesmo
turno.
O trabalho isolado de cada profissional, com suas ações individuais,
desvinculadas da escola como um todo, compromete a construção de um
espaço democrático na escola. A organização do Projeto Político Pedagógico
da escola é um exemplo de como a falta de ações coletivas compromete a
democratização da escola, pois o mesmo acabou sendo preparado por duas
profissionais que apenas recolheram as sugestões do grupo e redigiram o
documento.
É preciso que haja na escola a construção de um coletivo, é preciso que
os profissionais se mobilizem através de reuniões onde hajam discussões,
trocas, onde busquem um suporte teórico que os ajude a superar as
dificuldades encontradas no cotidiano escolar. Como nos Lembra Garcia (1997:
173) “mudanças coletivas só podem se dar no coletivo. E o espaço do coletivo
na escola são as reuniões pedagógicas.”
Com o trabalho integrado, a equipe técnico-pedagógica da escola pode
formar na escola um clima favorável às discussões coletivas, que devem
priorizar a melhoria da qualidade do trabalho pedagógico.
É preciso que se construa no coletivo um novo projeto pedagógico para a
escola, para que mudanças importantes possam acontecer. Não se pode
esperar que a mudança comece de cima e venha para a escola em forma de
receitas prontas a serem reproduzidas, como se isso fosse possível.
Para tornar a escola a favor da classe trabalhadora é preciso que se
discuta todos os processos discriminatórios -
como por exemplo, fila,
reprovação, evasão, divisão de turmas, etc. – para que se busque alternativas
mais democráticas para a educação.
Na construção desse coletivo o orientador educacional tem uma grande
responsabilidade, pois como articulador deve apoiar a todos e inseri-los nesse
coletivo, promovendo um clima de confiança, tornando as reuniões em
momentos de renovação de esperanças e busca de objetivos comuns.
Cabe a ele estimular a participação dos alunos, de maneira crítica, em
todo processo pedagógico, do planejamento a avaliação, além de favorecer a
organização do grêmio estudantil como forma de participação política no
espaço escolar.
O orientador educacional deve colaborar com a direção, coordenação e
supervisão nas tomadas de decisão, nas organizações de turmas e na
reorientação curricular da escola.
Junto aos professores deve colaborar e participar das reflexões sobre o
trabalho pedagógico, ajudando-os, se necessário, a ressignificá-la.
Como profissional das relações, deve valorizar o trabalho de todos os
profissionais, trazer os pais e a comunidade a participar da vida escolar, além
de agregar a realidade local ao contexto escolar.
Dizer que tudo isso cabe ao orientador educacional pode parecer
sobrecarregá-lo de responsabilidades, mas ele não é o único responsável, é
preciso que haja um esforço conjunto em prol da educação.
Como nos lembra Grinspun:
“Especialistas poderão contribuir para um novo momento da
escola, das Instituições agindo, coletivamente em prol de uma
transformação desejada.” (2003: 92)
A formação psicopedagógica, política e social, a experiência e o
comprometimento do orientador educacional, favorecem a sua busca por
parcerias e um melhor rendimento do seu trabalho.
“A orientação educacional deve ser vista como a área que pode
caminhar junto com todos que buscam uma educação de melhor
qualidade e, se possível, numa dimensão mais ampla de um
mundo melhor.” (Grinspun op. cit.: 93)
O trabalho da orientação deve estar atrelado ao dos demais profissionais
da equipe técnico-pedagógica da escola, pois a prática coletiva leva ao
desenvolvimento articulado do projeto político pedagógico, além de enriquecer
o ensino e aproximar a escola da comunidade.
Sabe-se que a escola não transforma a sociedade, mas sem ela a
transformação não se dá. Educar envolve acertar e errar. E nenhum orientador
tem a receita infalível para transformar a educação, mas pode com sua humilde
ação e reflexão, unida as ações e reflexões dos demais profissionais da escola
ajudar a transformar a escola. Como nos lembra Freire:
“A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia
da situação desumanizante e o anúncio de sua superação, no
fundo, o nosso sonho.
É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é
possível , que vamos programar nossa ação político-pedagógica,
não importa se o projeto como o qual nos comprometemos é de
alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se
de evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica.”
(FREIRE, 1996: 88)
O grande desafio da educação atual é repensá-la e transformá-la
enquanto ela se dá, de acordo com a demanda dos seus alunos e da
sociedade, criando formas de educar e ensinar coerentes com o momento
histórico que vivemos, pois só assim será possível a transformação.
É preciso, e até urgente, que a escola pesquisada reestruture a sua
organização, buscando integrar melhor seus funcionários, através de reuniões
que se desdobrem em momentos de reflexão sobre a prática e sobre o contexto
escolar, construindo na escola um coletivo político e socialmente comprometido
com uma educação a favor dos alunos e alunas das classes trabalhadoras.
Um coletivo que tenha a ética como alicerce, que valorize e respeite
todos os profissionais em sua especificidade, que busque unido melhorias tanto
das condições de trabalho, quanto do processo ensino-aprendizagem, ou seja,
um coletivo que torne a escola includente e comprometida com o sucesso dos
alunos.
CONCLUSÃO
O estudo desenvolvido nesta monografia buscou analisar como se dá o
trabalho do orientador educacional e dos demais integrantes da equipe técnicopedagógica em uma escola pública municipal.
A partir da observação pôde-se perceber que na escola pesquisada não
ocorre um trabalho integrado, o que compromete a democracia vivenciada no
espaço escolar, pois se os funcionários não são unidos em um objetivo comum,
não podem integrar a comunidade, a família e os alunos a vida escolar.
Investigando a escola observou-se que nem a construção do projeto
político pedagógico da escola constituiu-se num momento de reflexão, já que
não se deu coletivamente.
A união da equipe técnico-pedagógica da escola facilita a gestão
democrática, o planejamento pedagógico, e a integração escola-famíliacomunidade.
Atualmente não espera-se mais que o orientador educacional trabalhe
individualmente, cabe a ele uma atuação dialógica, crítica, contextualizada,
coletiva, comprometida com o cotidiano da escola, dos alunos e de seus pares.
Sendo seu trabalho de suma importância, enquanto articulador de reflexões que
busquem caminhos para a superação das dificuldades.
O coletivo escolar engloba todos que nela transitam: professores, alunos,
diretores, orientadores, coordenadores, pais, merendeiras, vigias e etc. E as
decisões devem ser tomadas com a participação de todos, que unidos devem
buscar soluções para os problemas que a escola enfrenta.
No momento histórico atual é fundamental a ação conjunta e o esforço
coletivo de todos os profissionais que atuam na escola, para que busquem
ações que contribuam para evitar a exclusão e humanizem as relações.
Sempre haverá exclusão em uma sociedade com estruturas econômicas,
políticas, sociais e culturais injustas e desiguais, mas planejando de acordo com
as especificidades das crianças das classes populares, para que se possa
desenvolver nelas habilidades e competências que lhes são necessárias para a
resolução dos problemas cotidianos, as preparando para buscar novos
conhecimentos e principalmente revendo a maneira como a escola avalia e
classifica os alunos, podemos tornar a escola includente e a favor das crianças
que dela necessitam.
É necessário repensar a escola, afim de torná-la mais democrática, pois
é nela que se deve vivenciar a força do coletivo. A escola tem a obrigação de
mostrar a todos que fazem parte do seu cotidiano que é preciso mudar a
sociedade para melhor, tornando-os cidadãos conscientes de seus direitos e
deveres.
É preciso, e até urgente, que se tenha na escola um orientador
educacional comprometido com a escola pública brasileira, que busque, junto a
seus pares, formas de tornar a escola mais digna, com um ensino de boa
qualidade, que seja contrária
a sociedade excludente e que busque a
superação do fracasso escolar.
A participação de todos no trabalho desenvolvido na escola oportuniza a
descentralização do poder e promove a socialização do conhecimento e da
garantia do direito de todos à participação.
Para que essa transformação ocorra, a escola precisa de uma equipe
técnico-pedagógica que tenha como objetivo a construção de um projeto
pedagógico mais democrático, ético, justo e coerente com as classes
populares, pessoas que garantam espaços para as discussões coletivas.
É certo que a escola não transforma a sociedade, mas possibilita a
transformação quando trabalha unida, tendo como objetivo a formação
pedagógica, política e social do aluno, enquanto cidadão consciente, crítico e
participativo.
Que seja essa a utopia da escola pública atual!!!
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13.
ANEXOS
INGRESSOS
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a importância do trabalho integrado entre orientador educacional e