Primeiro capítulo do livro Reflexões Políticas / A Crise / Escrito em 2003
QUEM SOMOS NÓS?
Existem duas teorias para a formação do mundo: uma religiosa e outra científica. A
primeira, a mais conhecida, o criacionismo: teoria da origem dos seres por criação, oposta à
evolução espontânea. Diz-nos ela, que o princípio era o verbo (a palavra, a sabedoria eterna) e o
verbo era Deus (o ser supremo, o espírito infinito e o arquiteto do universo, como dizem os
Maçons). E Deus criou o mundo durante seis dias descansando no sétimo (o gênesis, primeiro livro
bíblico, onde se narra a origem do universo e do homem).
E Deus criou o céu, a terra, o mar, os planetas e as estrelas. No planeta Terra, Deus criou o
homem e ainda não sabemos se criou vida também em outros planetas, muito embora, Jesus Cristo,
considerado o filho de Deus pelos cristãos, como nós também, hoje, nos consideramos tenha
declarado que "na casa do meu pai tem muitas moradas", referindo-se certamente ao cosmo, com
suas estrelas e planetas.
A segunda, a científica, nos diz que no princípio nada existia e toda matéria, toda energia
estava concentrada numa bola no tamanho de um limão. Um dia, segundo se calcula, há 15 bilhões
de anos, explodiu, dando origem ao Big-Bang (a grande explosão em inglês). A qual até hoje se
expande numa velocidade impressionante, inimaginável, que forma o universo conhecido, visível
(até onde os telescópios alcançam), com suas galáxias (cada um de bilhões de grandes sistemas de
estrelas, que constituem o universo, a exemplo da via-láctea, onde nos encontramos).
Apesar de tal teoria nos parecer completamente absurda, uma revolucionária descoberta da
física quântica, revelou que o nada também existe, uma vez que, numa visão humana de um
acompanhamento de laboratório, sobre uma corrida de elétrons, mostrou que estes simplesmente
desaparecem para voltar a aparecer.
"Tem natureza de onda - desaparecem aqui para aparecer ali, nada existindo entre um
ponto e outro. O mais admirável, senão assombroso, é que as partículas subatômicas, comportamse diferente quando os cientistas se debruçam sobre elas", nos diz o educador Eugênio Mussak
(Vs).
AGREGANDO VALORES
Vale perguntar seria esses campos vazios, preenchidos por nossos pensamentos, a exemplo
da intuição, como veremos melhor no capítulo das Oportunidades Perdidas?
A ocasião é propícia para apresentarmos um belo poema, do filósofo chinês do século V
a.C., Lao Tsé: "Trinta raios rodeiam um eixo, / Mas é onde os raios não raiam que a roda roda /
Vaza-se a vasa e se faz o vaso, / Mas é o vazio que perfaz a vasilha / Casam-se as paredes e se
encaixam as portas, / Mas é onde não há nada que se está em casa / Falam-se palavras e se
apalavram falas, / Mas é no silencio que mora a linguagem. / O ser faz a utilidade, / Mas é o nada
que perfaz o sentido".
Segundo os cientistas, depois daquela explosão, a terra em estado incandescente com o
passar desses bilhões de anos, foi esfriando, até tornar-se toda coberta de gelo. Depois, o sol
derreteu a água solidificada formando os oceanos e aparecendo os continentes.
Daí, ainda segundo eles, ocorreu o casamento do acaso com a necessidade, a sopa biológica,
que durante esse tempo fantástico, foi evoluindo, evoluindo, até surgir um ser unicelular (de uma
única célula), e a partir deste, a vida foi se desenvolvendo, até o aparecimento do homem.
Em outra descoberta mais recente, encontraram-se micróbios (seres unicelulares) em rochas
de grandes profundezas no subsolo da terra, - vivos -, sob temperaturas altíssimas, o que põe em
dúvida a sopa biológica, e fortalece a citação bíblica do surgimento do homem via argila, isto é, do
barro.
A maior descoberta, contudo, ocorreu no último século: a descoberta do homem sobre si
mesmo, quando se verificou que com a mudança interior dos nossos pensamentos podemos
modificar a nossa vida exterior num melhor relacionamento com o mundo e com os nossos
semelhantes.
Agregando valores como o riso, o abraço, o toque, a auto-estima, o perdão, o amor e
cooperação constante, o homem tem conseguido melhor se relacionar com seus semelhantes.
GREGÁRIOS E COOPERATIVOS
Apesar de toda evolução, ainda hoje, algumas perguntas nos afligem e as incertezas de suas
respostas se multiplicam em infinitas outras dúvidas para as quais não encontramos nenhuma
satisfação concreta.
Poderíamos destacar algumas dessas perguntas, como sejam: Quem somos nós? De onde
viemos? Para onde vamos? Existe Deus? Temos alma? Qual nosso objetivo nessa terra? Existe vida
em outros planetas? Temos companhia no universo em expansão?
Antes de qualquer resposta ou discussão sobre o assunto, vale mais, aqui acrescentar, que
um dia todos nós, pretos e brancos, ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e velhos, já fomos
espetaculares campeões.
Certamente numa noite agradabilíssima de muito amor. Exatamente quando o pai de cada
um de nós fez amor com a mãe de cada um de nós - e fomos concebidos. Naquele momento
delicioso, milhões de espermatozóides partiram em disparada para atingirem o óvulo em busca da
fecundação.
Como o universo, são números impressionantes, macros e micros, que só a ciência na sua
análise do tempo, e com o microscópio e o telescópio em desvendar o invisível, diminuto ou
longínquo, nos transmite esses conhecimentos que nos deixam perplexos e indecisos.
A dimensão infinita do universo aterroriza a alma humana, que prefere cantos seguros e
limitados da vida para sentir-se em paz, nos diz o astrólogo Oscar Quiroga. Contudo, o universo
continua infinito e essa realidade não é lá longe, mas íntima, nos certifica ele (Cb).
Assim, apenas nós, numa talvez preferência e gratidão divina, fomos os vencedores daquela
corrida alucinante de gozo e satisfação, e estamos aqui hoje para contar esta história, mostrando que
já nascemos fortes e vencedores – e como fortes e vencedores viemos preparados para conduzir
toda nossa vida, toda nossa existência.
Seria belíssimo se fosse assim. Na verdade não é! Na verdade, é muito mais belo ainda.
Como nos diz a psicóloga Inês Olivares, de que essa vitória pode estar ligada ao fato de que fomos
lentos, mas que revela um dos mais consagrados exemplos de cooperação. Para entrar no óvulo, nos
diz ela, é preciso que centenas de espermatozóides abram caminho com inúmeras tentativas (Vn).
E que os primeiros que tentam têm a sua cabeça destruída e morrem, abrindo caminho para
os que vêm mais atrás, que como numa corrida olímpica, ovacionados pela platéia que os assistem,
acabam de receber a passagem livre dos cooperados, para que apenas um – nós no caso - tenhamos
atingido o alvo (o óvulo)! Em vez de campeões, somos gregários e cooperativos do nascimento á
morte, resume ela. (Vn)
COMPROMETIMENTO
Somos cooperativos comprometidos com a união e a preservação da nossa espécie.
Embora sejamos também o animal maior predador da natureza, como nos advertem as placas
rodoviárias das BRs mineiras. Somos comprometidos com as gerações que nos sucedem, com a
nossa vida, a nossa família e com todos aqueles que nos encantam com seus gestos de carinho e
atenção valorizando a nossa auto-estima.
Existe um exemplo de comprometimento por demais autentico para entendermos o que é ser
cooperativo, e o que é ser comprometido. É o exemplo do hambúrguer: a galinha se envolve dando
o ovo, mas já o boi se compromete dando a carne, dando a vida.
Foi nesse clima de comprometimento e cooperação, que desde os nossos ancestrais, desde os
tempos da caverna, quando o homem descobriu o fogo, ele percebeu também que pelo processo
evolutivo, era dotado de inteligência superior, se distinguia dos outros animais, era político, e em
razão disso, precisava viver em comunidade, criando rotineiramente condições de associativismo.
No capítulo Qualidade de Vida, leremos uma pequena história sobre porcos espinhos, que
nos dará a visão exata desta necessidade.
Decorridos tanto tempo, merecemos, pois, evoluir ainda muito nesse campo, desenvolvendo
a nossa inteligência emocional e as nossas capacidades de relacionamento intrapessoal e
interpessoal.
Relacionamento, em toda nossa convivência do dia a dia, com nós mesmos, com nossos
familiares (pais, irmãos, mulher, filhos, parentes), amigos e companheiros, nossos empregados,
clientes ou colegas de profissão, credores e fornecedores, a sociedade, nossos eleitores e o povo em
geral, vocês leitores.
Inacreditável, que ainda hoje nos assuste - a figura de qualquer pessoa como um nosso
concorrente, um nosso antagônico, um nosso adversário, por não sabermos utilizar a força do amor
e não chegarmos a reconhecer, que vivemos num mercado ativo, gigante, globalizado, em expansão
como o universo, que jamais conseguiremos conquistá-lo totalmente.
Sempre haverá lugar para mais um. Como no dizer dos mais velhos, o sol nasceu para todos.
Desprezamos, todavia, as oportunidades de parceria que a vida, a família, o mercado,
seguidamente nos convida, e num conceito de tradicional egocentrismo, damos as costas para os
grandes benefícios que as ações coletivas nos proporcionam, como se não fossemos inteligentes.
VOCÊ É BURRO
Toda essa conseqüência ocorre, em razão da nossa educação sempre ter sido muito errada.
Milenarmente punitiva. Desde criancinha, nossos pais acreditavam e passaram para nós também
acreditar, que para se educar uma criança devemos primeiro, lhe mostrar os seus erros.
E com isso reforçamos os seus erros. Muitos de nós ouvimos e vivemos dizendo para nossos
filhos: “Você não vai ser nada na vida...”, “Você não serve para nada”, “Você é preguiçoso”, “Você
é burro!” A pessoa cresce com o sentimento de culpa aflorado e o sentimento de auto-estima
destruído.
“Essa coisa” instala-se no nosso subconsciente e toda nossa vida se torna um tormento de
fracassos e erros constantes.
Essa cultura punitiva nos leva a um grau maior de negativismo, egocentrismo, de ciumeira,
inveja, omissão, e principalmente, da falta de solidariedade humana. Punir, bater e reclamar, como
se isso resolvesse alguma coisa. Parece que desconhecemos a força do amor. O erro não é usado
como uma forma de aprendizado, mas tão somente de punição, de fracasso, quando errar é também,
uma pausa para o sucesso.
Exatamente o que explicou o maestro austríaco, Hebert von Karajan, nos dizendo de que
quem decide pode errar e quem não decide já errou.
Assim, num percentual de grande maioria, crescemos, atravessamos a fase pujante da
adolescência, abandonamos o emocionante e romântico estágio da juventude e nos deparamos
inseguros e ansiosos no limiar da fase adulta.
É ai que, saindo dos estudos, sonhos realizados, de canudo nas mãos, barrados na falta de
empregos, encontramos o esplendor da satisfação e deleite materiais, as vitrines da sociedade
consumista a nos convidar com produtos irresistíveis, a nos envolver de bem estar e prazeres
extasiantes, nos pedindo em troca, apenas dinheiro e mais dinheiro.
Nesse momento desperta-nos uma ambição desenfreada, criamos a esperteza, a cobiça, nos
entregamos à competitividade, irradiamos a ganância, ignoramos a disciplina, desprezamos a ética:
esse conjunto de valores constitutivos que nos levam a nos comportar de modo harmonioso;
esquecemos a empatia: essa educação de nos colocarmos no lugar do outro, para sabermos o que
sentiríamos se estivéssemos no lugar daquela pessoa; e o pior, omitimos a solidariedade humana:
esse comportamento mágico de saber amar e servir, sendo solidário para nunca ficar solitário.
Nessa confusão psicológica passamos a ter fascínio pela riqueza rápida, passamos a esquecer
quem somos nós, de onde viemos, para onde vamos, qual nossa participação na evolução da vida,
passamos a agredir a natureza, a agredir nossos semelhantes, a nos tornarmos os maiores predadores
da face da terra.
Excelente sobre o assunto foi a referência do grande líder negro e pastor protestante norte
americano, Martin Luter King, assassinado em 1968, de que aprendemos a voar como os pássaros, a
nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.
"NEGRO DE ALMA BRANCA"
É como se tivéssemos criado uma casta preconceituosa, onde irmãos da mesma espécie
humana, por serem negros, índios, orientais, judeus, pobres ou "gays", são discriminados e
perseguidos sem nenhum respeito ético ou de valorização à vida.
O racismo, de tradição infame, incorporou-se de tal forma no cotidiano das pessoas, que
apesar de mais de um século de abolida a escravidão no Brasil, talvez inconscientemente, ainda
hoje, fazemos citações do tipo "negro de alma branca", quando alguém de pele escura faz uma
transação elogiosa, ou "fulano é escuro", no caso oposto, quando alguém de pele clara faz uma
transação condenável. E por aí vai!
Entretanto, temos de admitir que já melhorou e melhorou muito. Hoje já se casam brancos
com negros sem grande curiosidade, vencendo a resistência de pura linhagem do início do século
XX quando um acontecimento dessa ordem era raríssimo e bastante censurado.
Muito significativa tornou-se a mudança de consciência e comportamento do negro,
mostrando a sua cara negra, com os negros se assumindo como tal. No Censo 2000, a população
que admitia ser negra, aumentou, caindo o número de pardos.
Acredita-se, mais que o crescimento demográfico, o orgulho da raça, estimulado por
movimentos e ações culturais, não é só visível apenas no cabelo assumido, no reforço dos traços, na
cor da pele, já está chegando às estatística, completa o jornalista Zuenir Ventura (Ép).
Quando observada em bloco, a população negra representa 45% do total da sociedade. O
quadro de discriminação se agrava quando se analisa os quase dois milhões de brasileiros com
maior renda, os negros são apenas 10%. Para entender o problema, o Jornalista Ricardo Mendonça,
nos diz que a distorção está na escolaridade (Vj).
Os negros estudam menos por causa da renda familiar, obrigando boa parte das crianças a
abandonar os estudos mais cedo para ajudar no orçamento da família. Isso leva estudiosos a
acreditar que a melhor maneira de reduzir a desigualdade é estabelecer cotas para negros na escola e
no mercado de trabalho, exemplo já vitorioso nos Estados Unidos, mas que aqui, está dando
confusão (Vj).
O correto mesmo é o governo oferecer condições dignas para todos, como declarado na lei
constitucional do país. Dinheiro para isso existe, é tão só mal administrado. O resto é demagogia.
A surpresa ficará por conta do que a ciência começa a provar, de que na miscigenação
brasileira, não há branco sem negro, nem negro sem branco, salvo, nas diferenças financeiras.
Como brasileiros somos uma mistura de caboclos ou mamelucos, mulatos ou pardos e cafuzos,
frutos sadios dos cruzamentos de branco com índio, branco com negro e negro com índio.
As estatísticas, contudo apontam para um quadro de melhoria no abismo entre negros e
brancos. Levantamento do IBGE dá conta que em cada grupo de 10 negros, quatro estão parados na
pirâmide social. Dos seis que estão se mexendo, cinco estão subindo.
Em 1990, 10% dos negros eram empregadores. Agora em 2002, os patrões negros
representavam 22% do total. Os avanços amenizam o problema, mas não escondem o fato que
continua existindo enormes desigualdades raciais no Brasil, que somada às desigualdades
educacionais, culturais e principalmente de renda, nos dá a sensação de estarmos vivendo em
estado de eterna crise (Vj).
Como se vivêssemos uma constante falta de amor, que é reproduzida na falta de tudo, tanto
de bens materiais, como a serenidade espiritual.
REFLEXOS DA FALTA DE AMOR
Em razão dos conflitos sociais e psicológicos que tomam conta da nossa vida, tornando-nos
pequenos marionetes nas mãos do sistema capitalista ou que outro sistema fosse, amplia-se toda
nossa angústia, toda nossa ansiedade.
Invade-nos uma revolta íntima, colocando todos esses sentimentos indesejáveis, como
nossos inseparáveis companheiros, nos forçando a viver e conviver seguidamente entre conflitos e
crises, como se tal situação, fosse ela própria uma bateria de realimentação de todos os problemas
que nos afligem.
Neste exato momento, as crises nos acordam para as coisas boas que não percebemos.
É fundamentado nessa concepção, que nos conflitos internos ou externos, na crise, devemos
criar oportunidades ou aproveitar as oportunidades que seguidamente nos aparecem, em vez de
sofrermos o perigo da indecisão, do medo, da inibição, do pessimismo, da espera, do deixar como
estar para ver como é que fica, da reclamação e do sentimento de culpa.
O fundador do reino da Arábia Saudita, Ibn Saud, deixou-nos uma pérola de aconselhamento
que servirá para todas as gerações, até mesmo para aquelas em permanente estágio de desânimo e
decepção. Disse-nos ele, que na sua juventude, encontrou Deus no deserto e Ele lhe revelou o
segredo do sucesso, mostrando-lhe que tudo é oportunidade, até mesmo um obstáculo.
Mas não seria igualmente mais falta de amor, toda situação de vexame que atormenta nossa
paz interior, nosso comportamento social, deixando-nos apáticos diante as oportunidades? Não seria
o modo de auto nos tratarmos que complica tudo?
Como nos diz o escritor José Carlos Flesch, seja lá qual foi a questão do conflito ou da
perda, trate-se com carinho e consideração como se estivesse conversando com uma pessoa muito
querida do seu relacionamento pessoal (Vn).
Manda-nos ele, trocar as perdas da nossas derrotas, pelo grande campeonato que é nossa
vida. E nos interroga: Você se elogia pelos seus feitos que são muitos ou se cobra por eventuais
derrotas? E aqueles empates arduamente conquistados de que lado ficam na sua contabilidade
emocional?
Responde-nos ele, que se trata, isso sim, de ser bondoso consigo mesmo e apontar as
próprias falhas com a mesma elegância e consideração com que alertamos outra pessoa quando
queremos que ela se sinta bem.
E continua nos fortalecendo, insistindo que a questão é tão somente, que as pessoas se amam
muito pouco. E, como ninguém dá o que não tem, dedicamos aos outros tão pouco amor quanto
dedicamos a nós mesmos.
Concluindo, que Cristo ensinou que devemos amar o próximo como a nós mesmos, e não
mais do que a nós mesmos. Aliás, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Temos é que respeitar
cada pessoa. Mas quanto mais gostar, maior o entrosamento e melhores as chances de bons
resultados (Vn).
RESPEITANDO E AMANDO
Já o Administrador Stephen Kanitz, que será um dos mais citados mensageiros deste livro,
escreveu que alguém, inadvertidamente, traduziu errado o hebraico. Que em vez do que Cristo
ensinou de "Amai-vos uns aos outros", a tradução correta deveria ter sido "Respeita-vos uns aos
outros" (Vj).
Ele não vê como alguém criado com preconceitos passe a amar seus concidadãos.
Recomenda que pelo menos ensinar nossos jovens a respeitar o negro, o oriental, o gay, é uma meta
mais factível do que amá-los. E que não deixa de ser um desastre a falta generalizada de respeito
mútuo que o mundo atravessa hoje.
Cita uma confissão do empresário Rolim Amaro, que nasceu pobre e que foi um dos homens
mais bem sucedidos do Brasil, de que o pior da pobreza não era a fome, o frio, nem as privações
materiais. Mas o desrespeito! O desrespeito dos mais ricos, dos funcionários públicos, da classe
média arrogante (Vj).
Tal depoimento fortalece a nossa convicção de que antes e além de amar, precisamos
inicialmente, durante e seguidamente respeitar os nossos semelhantes de classe menos afortunada, o que não deixa de ser a própria noção da prática de amar.
Perdoando as nossas possíveis falhas, admirando-nos como pessoas humanas, como
máquinas funcionais belíssimas, tanto biológica como espiritual, que mesmo na ausência de
oportunidades, têm os mesmos problemas, virtudes e aspirações, que todos nós temos, como se
fôssemos, como realmente somos, uma unicidade.
Motivo até de muitos suicídios, pela falta de competência em não se saber administrar as
próprias limitações ou explorar as potencialidades, de não procurar auto se tratar, se conhecer, se
respeitar, se amar, amando-se e respeitando como a cada pessoa que participa do nosso vínculo
social e além dele.
Cuidando do conforto físico e espiritual da nossa família, sem descuidar do nosso próprio
conforto, para ter a admiração dos que nos são caros e de todos que de longe silenciosamente
admiram a nossa maneira de ser.
No entanto, a maioria só faltar fundir a cabeça, buscando respostas para tantos problemas
que nos afligem no dia a dia das nossas vidas. Embora busquemos terapeutas, psicólogos,
curandeiros, cultos e religiões, aprofundamento da espiritualidade, a resposta para os nossos
problemas, para quem somos nós, está adormecida dentro de nós mesmos.
E é na nossa maneira pacífica de ser, na nossa disciplina de meditação, nesse diálogo com
nós mesmos, nessa busca da harmonia interior, com a valorização da auto-estima, sem o corre-corre
de derrubar o semelhante pela conquista de uma melhor posição social e financeira - é que
encontraremos a resposta de nossas dúvidas e dor.
O MAL USO DO PODER
Infelizmente, de novo, é segunda feira, e a labuta do dia a dia, não nos deixa assumir o
controle das nossas vidas. Somos levados como de roldão pelos reclames da sociedade consumista e
nos tornamos marionetes nos seus tentáculos. A ciranda se reinicia.
Agravando tal rotina, a ilusória e pouca aprazível classe política, torna-se um estorvo nessa
convivência. Nega-nos o básico, como saúde, educação e segurança. Devia ser o bem, mas prefere
ser o mal.
Recorrendo ao livro, Depois da Paixão Política, do espanhol Josep Ramoneda, ele escreve
que a crua advertência do político e historiador italiano de 15l3, Maquiavel (Niccolò Machiavelli),
ainda se impõe: a política é a luta pela conquista e manutenção do poder.
Preferem os políticos, copiar os pensamentos de Maquiavel, supremo pensador na arte de
sobreviver ao mundo da política, ao invés, de praticar os ensinamentos de amor e perdão de Jesus
Cristo, outro político, bem mais antigo, bem mais humano, e tão atual, que não conseguimos como
cristãos, ficar sem vivenciá-lo, citando-o ou exaltando-o, nos momentos de temor ou alegria, em
qualquer dia da nossa existência.
O propósito de Maquiavel não foi ser revolucionário nem radical, mas descrever situações
como elas eram e não como deveriam ser. Orienta-nos assim, o escritor de Maquiavel na
Administração, o anglo-americano Gerald R. Griffin, que ratifica, de que não é o uso do poder que é
mau, mas o mau uso do poder.
Ainda assim, muitos preferem serem políticos, e quando o desejam, estão ainda isentos
desses infortúnios morais. Trazem geralmente uma carga genética de boas intenções. E são bem
intencionados.
Quando chegam lá, o "vírus" da corrupção, que vamos conhecê-lo melhor nos capítulos da
Caminhada Lucrativa e do Clientelismo, deixa-os esquecer o que prometeram para fazerem o que
não deveriam fazer. E olha que estão sendo muito bem pagos para cometerem essas traições.
Dessa definição indesejável, de que nos pervertemos quando abraçamos a carreira política,
fica a essência da diversidade da vida a quem pertencemos e nos orgulhamos, e a qual, devemos
defender com unhas e dentes como a defenderam, sem êxito, os índios e guerreiros selvagens,
buscando proteger os poucos ecossistemas que a civilização ainda não conseguiu destruir.
Cada membro dessa gigantesca cadeia existencial, por mais insignificante que pareça,
desempenha um papel fundamental para o bem comum, nos disse o então diretor redacional, Almyr
Gajardoni, concluindo de que é essa biodiversidade que mantém equilibradas, no planeta, as
condições de sobrevivência de todos que se caracterizam por patas, rabos, antenas, asas, guelras,
folhas, raízes, cartões de crédito, carteiras de motorista ou registro no Cadastro de Pessoas Físicas
do Imposto de Renda (Si).
Ou seja, salvam-se todos, ou acaba não se salvando ninguém. Talvez aí, esteja a melhor
explicação de quem somos nós: políticos, gregários e cooperativos, dedicado aos negócios públicos,
construtores de uma unidade solidária que se chama evolução, em prol da perpetuação da espécie.
Como sobreviventes até aqui, de tantos malefícios pela vida, resta-nos vencer essa
instabilidade pantanosa que nos deixa ficar Desconfiando de Todos os Políticos, esperando que
para o bem geral, eles (os políticos) mudem o comportamento profissional ou o façamos mudar
(Final do capítulo).
*Revistas e jornais de circulação nacional: Vida Simples (Vs), Veja (Vj), Época (Ep),
Correio (Cb), Vencer (Vn), Super Interessante (Si)..
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