ISCTE-IUL, curso de Sociologia Teorias sociológicas II 2º semestre Teste integrado no esquema de avaliação periódica / Exame de primeira época 15 de Junho de 2009 Docentes: Pierre Guibentif e Marcelino Passos O presente enunciado destina-se tanto a estudantes que optaram pelo esquema de avaliação periódica como a estudantes que optaram pelo exame final. Atenção : Os estudantes deverão indicar a modalidade pela qual optaram, inserindo a menção “exame final” ou “teste” no campo “Tipo de prova” das folhas de exame. – Os que optaram pela avaliação periódica responderão a dois dos quatro seguintes blocos de perguntas. – Os que optaram pelo exame final responderão a três dos quatro seguintes blocos de perguntas. No cálculo da nota da prova, os blocos de perguntas terão todos o mesmo factor de ponderação. Os principais critérios de avaliação serão: pertinência das respostas em relação às perguntas; cuidado na leitura dos textos propostos (havendo naturalmente vantagem em basear as respostas tanto nas traduções propostas como nos textos originais); imaginação na escolha dos exemplos; conhecimento dos textos de onde os fragmentos são retirados e entendimento global das teorias propostas pelos autores destes textos (traduções de PG). Bom trabalho ! Teorias sociológicas 2 (2008-2009) – Enunciado teste-exame de 15 de Junho de 2009 – p. 2 Bloco de perguntas A: “Enquanto teoria de alcance intermédio, a teoria dos conjuntos de papéis (theory of role sets) parte de um conceito e das imagens associadas a este conceito, e gera uma série de problemas teóricos. Assim, a noção da base estrutural de potenciais perturbações do conjunto de papéis faz surgir uma dupla interrogação (a qual, como se terá podido verificar, não tem sido levantada na ausência da teoria): quais são os mecanismos, se existirem, que actuam para contrabalançar a instabilidade – que a teoria permite presumir – dos conjuntos de papéis, e, correlativamente, em que circunstâncias poderão estes mecanismos deixar de actuar, o que causará ineficiência, confusão e conflito? Como outras interrogações que derivaram historicamente da orientação geral da análise funcional, também estas não partem do pressuposto segundo o qual conjuntos de papéis operam invariavelmente de maneira substancialmente eficiente. Com efeito, esta teoria de alcance intermédio não está preocupada com a generalização histórica segundo a qual um certo grau de ordem social ou de conflitualidade prevalece na sociedade, mas com o problema analítico de identificar os mecanismos sociais que produzem um maior grau de ordem, ou menos conflitos, do que se verificaria se estes mecanismos não fossem chamados a intervir.” MERTON, Robert K. (1968), “On Sociological Theories of the Middle Range”, in: Social Theory and Social Structure, Glencoe, Free Press, 1968, cap. II, pp. 39-72, p. 45. Pergunta A-1: A quem se dirige mais especificamente a parte do fragmento que começa por “Como outras interrogações …” ? (25% da pontuação) Pergunta A-2: Quais poderão ser as “imagens” associadas ao conceito de “role-set” ? (25% da pontuação) Pergunta A-3: Quais funções da teoria no trabalho sociológico são evocadas neste fragmento? (50% da pontuação) Texto original: Teorias sociológicas 2 (2008-2009) – Enunciado teste-exame de 15 de Junho de 2009 – p. 3 Bloco de perguntas B: “Uma distribuição desigual de privilégios e direitos pode causar sentimentos de hostilidade, mas não causará necessariamente um conflito. (…) A probabilidade de sentimentos de hostilidade conduzirem a comportamentos conflituais dependerá em parte do grau de legitimidade que se reconhecerá à distribuição desigual de direitos. No sistema indiano clássico das castas, os conflitos entre castas eram poucos porque tanto as castas baixas como as castas altas aceitavam as distinções de castas. A legitimidade é a variável intermédia crucial, sem a qual não é possível fazer prognósticos sobre a probabilidade de sentimentos de hostilidade causados por uma distribuição desigual de privilégios e direitos conduzirem efectivamente a um conflito. (…) A partir do momento em que uma estrutura social deixa de ser considerada como legítima, indivíduos que se encontram em posições sociais objectivas similares poderão, pelo efeito do conflito, constituir-se em grupos dotados de uma consciência de si próprio, e prosseguindo interesses comuns.” (COSER, Lewis A., The Functions of Social Conflict, Glencoe / Londres, Free Press / MacMillan, 1956, p. 37) Pergunta B-1: Para que realidades concretas poderá remeter a expressão “estrutura social” ? (25% da pontuação) Pergunta B-2: Como poderá um grupo, enquanto grupo, ter uma “consciência de si próprio” (be self-conscious) ? (25% da pontuação) Pergunta B-3: No início do fragmento, o sistema indiano das castas funciona como exemplo de um contexto onde os sentimentos de hostilidade poderão ter dificuldade em traduzirem-se num conflito. Proponha um exemplo de um contexto histórico concreto onde os sentimentos de hostilidade se poderão mais facilmente traduzir num conflito (tipo de contexto ao qual alude o fim do fragmento citado) e justifique a sua resposta. (50% da pontuação) Texto original: Teorias sociológicas 2 (2008-2009) – Enunciado teste-exame de 15 de Junho de 2009 – p. 4 Bloco de perguntas C: “(Vale a pena definir melhor) o termo contacto. Refiro-me assim a todas as circunstâncias nas quais um indivíduo se encontra na presença da resposta de um outro, quer em co-presença física, por contacto telefónico ou por uma troca de cartas. Considero desta maneira como fazendo parte de um mesmo contacto todos os olhares e intercâmbios que têm lugar numa tal ocasião. Neste sentido, olhares trocados na rua, uma conversa, sorrisos progressivamente atenuados trocados no contexto de um momento de sociabilidade, o olhar de um conferencista para um membro da assistência: todo isto pode ser qualificado de contacto simples.” GOFFMAN, Erving (1983), “The Interaction Order”, American Sociological Review, 48, pp. 1-17, p. 6-7. Pergunta C-1: A expressão “em co-presença física, por contacto telefónico ou por uma troca de cartas” traduz uma certa experiência dos “meios de contacto” usuais numa determinada época. Será possível hoje acrescentar outros, e existirão, entre os eventuais novos meios de contacto e os aqui referidos, diferenças significativas? (25% da pontuação) Pergunta C-2: Considerando o estatuto do texto de onde é extraído este fragmento, qual a particularidade do exemplo “o olhar de um conferencista para um membro da assistência”? (25% da pontuação) Pergunta C-3: Os “contactos” aqui definidos são apresentados como fazendo parte, ao lado das “unidades ambulatórias”, dos “encontros conversacionais”, das “prestações em palco” e dos “eventos sociais de celebração”, das “unidades substantivas básicas” da interacção, ou ainda das “entidades básicas da interacção” (ibidem). Partindo do exemplo dos “contactos”, especifique a noção de “unidade / entidade básica de interacção”. (50% da pontuação) Texto original: Teorias sociológicas 2 (2008-2009) – Enunciado teste-exame de 15 de Junho de 2009 – p. 5 Bloco de perguntas D: “Se o comportamento linguístico bloqueia o desenvolvimento conceptual, se milita contra a abstracção e a mediação, se abdica face aos factos imediatos, então impede o reconhecimento dos factores atrás dos factos, e, desta maneira, impede o reconhecimento dos factos e do seu conteúdo histórico. No interior da sociedade e para esta, esta organização de um discurso funcional reveste importância vital; serve como veiculo de coordenação e subordinação. A linguagem funcional, unificada, é uma linguagem irreconciliavelmente anti-crítica e anti-dialéctica. Nesta linguagem, a racionalidade operacional e comportamental absorve os elementos transcendentes, negativos e oposicionistas da Razão. Discutirei estes elementos em termos de tensão entre o ‘ser’ e o ‘dever ser’, entre a essência e a aparência, entre a potencialidade e a actualidade – de intrusão do negativo nas determinações positivas da lógica. Esta tensão sustentada atravessa o universo bidimensional do discurso que constitui o universo do pensamento crítico e abstracto. As duas dimensões relacionam-se de maneira antagónica; a realidade participa nas duas, e os conceitos dialécticos desenvolvem as contradições reais. No seu próprio desenvolvimento, o pensamento dialéctico chegou a captar o carácter histórico das contradições e os processos da sua mediação como processos históricos. Assim, a ‘outra’ dimensão do pensamento revelou-se ser a dimensão histórica, a potencialidade como possibilidade histórica, a sua realização como evento histórico. A supressão desta dimensão no universo societal da racionalidade operacional é a supressão da história, e isto não é um problema académico, mas sim um problema político. É a supressão do próprio passado da sociedade – bem como do seu futuro, na medida em que este futuro invoca uma mudança qualitativa, uma negação do presente.” MARCUSE, Herbert (1964), One-Dimensional Man, London, Routledge & Kegan, 1991 (1a edição: 1964), p. 100-101. Pergunta D-1: Aprofunde a noção de “discurso funcional”, propondo um exemplo concreto. (50% da pontuação) Pergunta D-2: Defina a noção de “Homem unidimensional” a partir das duas dimensões identificadas no fragmento. (50% da pontuação). Teorias sociológicas 2 (2008-2009) – Enunciado teste-exame de 15 de Junho de 2009 – p. 6 Texto original: