ID: 57347269
06-01-2015
Tiragem: 34191
Pág: 12
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 10,56 x 30,61 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Doente morreu após
espera de várias
horas na urgência de
Santa Maria da Feira
Saúde
Sara Dias Oliveira
e Ana Dias Cordeiro
Família diz que doente
morreu pouco depois de ser
atendido, cinco horas após
ter dado entrada. Hospital
não confirma espera
Um homem morreu no domingo no
Serviço de Urgências do Hospital de
Santa Maria da Feira. A notícia divulgada pela SIC Notícias foi confirmada
pela directora do gabinete de relações públicas do Centro Hospitalar
de Entre o Douro e Vouga (CHEDV),
Sílvia Silva, que não esclareceu qual
a causa da morte do doente. “O hospital confirma a morte de um doente
no serviço de urgências. O conselho
de administração do CHEDV vai abrir
um processo de averiguações”, disse,
justificando não estar autorizada a
dar mais informações até estar concluído o inquérito: nem a hora a que
o doente deu entrada — e que a família diz ser 16h30 — nem a hora a que
morreu, que os mesmos familiares
dizem ter sido às 21h30.
“O utente em questão foi admitido no serviço de urgência do
hospital, tendo sido triado com a
prioridade amarela, de acordo com
o protocolo de triagem de Manchester”, informa o hospital em
comunicado. A pulseira amarela
é a terceira numa escala de prioridade com cinco cores. “Perante
o agravamento do seu estado de
saúde, foi feita nova triagem, tendo
então sido atribuída a cor laranja.
Nesta situação o utente foi imediatamente observado por um médico especialista de medicina interna”, acrescenta a nota do hospital.
Família admite queixa-crime
Já a família do homem de 57 anos pondera apresentar queixa-crime por negligência contra a unidade hospitalar
e contra os médicos que estavam ao
serviço nessa noite. Segundo Ângelo
Pereira, um dos sete irmãos da vítima, o hospital recusou-se a fazer a
autópsia. “Não querem autopsiá-lo,
querem que sejamos nós a pagar 1400
euros. Sabemos que podemos ir ao
Ministério Público e pedir que o nosso irmão seja autopsiado”, conta ao
PÚBLICO. “Sabemos que não é o dinheiro que o vai trazer de volta, mas
queremos saber as causas da morte e
por que não foi atendido”, acrescenta.
Hoje, a família voltará ao hospital
para apresentar queixa no livro de
reclamações e reunir-se-á com um
advogado para saber o que poderá
fazer nesta situação. O pedido de
autópsia é ponto assente e o funeral
deverá realizar-se amanhã. Ângelo
Pereira confessa que não percebe
por que motivo o irmão ficou cinco
horas à espera de ser atendido, com
vómitos e náuseas, e garante que
uma das médicas que estavam ao
serviço lhe disse que “achava muito
bem que fizéssemos a reclamação
porque não havia médicos suficientes para tantos doentes”.
A família tem testemunhas de outros doentes que estavam nas urgências naquela noite, alguns dos quais
se terão revoltado com a situação.
“Uma pessoa que vai para o hospital, que acaba por falecer, está cinco
horas à espera num corredor, não é
um animal que ali está. Chama-se um
médico, chama-se um enfermeiro,
chama-se uma médica, e ninguém
nos liga nenhuma. Como se pode
deixar uma pessoa cinco horas num
corredor?”, pergunta. Antes, Ângelo
Pereira, à SIC Notícias, já tinha explicado que uma das irmãs tentou,
várias vezes, sensibilizar médicos e
enfermeiros para a necessidade de o
doente, com vómitos, ser atendido.
Sem sucesso. “Só lhe diziam que tinha de esperar pela sua vez”, relatou.
Falta de recursos
humanos no
Hospital da Feira
tem merecido
a atenção dos
vários partidos
políticos
Também de acordo com a família, os vómitos recomeçaram pelas
21h. “Foi aí que os médicos vieram
buscá-lo. Um minuto ou dois depois,
veio uma médica dizer-nos que ele
tinha falecido, que tinham feito tudo
o que era possível, mas não conseguiram salvá-lo”, contou Ângelo Pereira.
O doente que morreu tinha 57
anos, era solteiro, tinha sido sapateiro, estava agora desempregado. Vivia
com a irmã mais velha e uma sobrinha. Não apresentava problemas de
saúde. Há cerca de 10 anos, tinha tido
indícios de um ligeiro AVC.
A situação da falta de recursos humanos no Hospital da Feira tem merecido a atenção de vários partidos
políticos, que já questionaram o Governo. No ano passado, a Ordem dos
Médicos revelou publicamente a falta
de 40 médicos em 14 especialidades
na unidade hospitalar que serve seis
concelhos.
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Doente morreu após espera de várias horas na urgência de Santa