CPV O cursinho que mais aprova na GV
50% das vagas da GV Direito ficaram para os alunos do CPV
REDAÇÃO
FGV – DIR – 02/novembro/2008
Observe atentamente as mensagens-estímulo que se seguem, pois são a base para o desenvolvimento da proposta de Redação.
Texto I
No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém estava vazia e nua; e as trevas cobriam a face do abismo; e o
espírito de Deus era levado por cima das águas.
Disse Deus: Faça-se a luz. E fez-se a luz. E viu Deus que a luz era boa; e dividiu a luz das trevas. E chamou à luz dia, e
às trevas, noite; e da tarde e da manhã se fez o dia primeiro.
Disse também Deus: Faça-se o firmamento no meio das águas, e separe umas águas das outras águas. E fez Deus o
firmamento, e dividiu as águas, que estavam por baixo do firmamento, das águas que estavam por cima do firmamento. Chamou
Deus ao firmamento céu; e da tarde e da manhã se fez o dia segundo.
Texto II (imagem)
Bíblia Sagrada. Tradução Pe Antonio Pereira de Figueiredo. EDELBRA
René Magritte. L’échelle de feu (Escala de Fogo), 1939. 27 x 34 cm.
Coleção Edward James Foundation, Chichester, Inglaterra.
In: Magritte – signos e imagenes. Barcelona: Editorial Blume, 1978. p. 236.
Texto IIITudo é teu, que enuncias. Toda forma
nasce uma segunda vez e torna
infinitamente a nascer. O pó das coisas
ainda é um nascer em que bailam mésons.
E a palavra, um ser
esquecido de quem o criou; flutua,
reparte-se em signos — Pedro, Minas Gerais, beneditino —
para incluir-se no semblante do mundo.
O nome é bem mais do que o nome: o além-da-coisa,
coisa livre de coisa, circulando.
E a terra, palavra espacial, tatuada de sonhos,
cálculos.
Carlos Drummond de Andrade. Origem – a palavra e a terra, parte V.
in Lição de Coisas. Poesia Completa e Prosa. Editora Nova Aguilar.
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cursinho que mais aprova na
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Texto IV
Ora, é preciso atribuir ao som da linguagem função idêntica à da imagem mítica, a mesma tendência para persistir. Também
a palavra, como o deus ou o demônio, não é para o homem uma criatura por ele próprio criada, mas se lhe apresenta como algo
existente e significativo por direito próprio, como uma realidade objetiva. Tão logo a faísca haja saltado, tão logo a tensão e a
emoção do momento tenham se descarregado na palavra ou na imagem mítica, enceta-se, em certa medida, uma peripécia do
espírito; sua excitação, enquanto simples estado subjetivo, extinguiu-se, desabrochou na conformação do mito ou da linguagem.
Ernst Cassirer. Linguagem e Mito. Tradução de J. Guinsburg e Miriam Schnaiderman. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972, p. 55.
PROPOSTA
Você deve valer-se dos textos, verbais e pictórico, oferecidos como mensagens-estímulo para elaborar sua Redação. Sugere-se,
mas não se obriga, que elas sejam lidas na seqüência em que ora aparecem: a primeira alegorizando a criação e a nomeação do
mundo sob o ponto de vista místico; as duas seguintes apresentando a disposição do homem feito artista a partir das coisas criadas;
e a última refletindo este processo conjugando mito e linguagem.
Elabore um texto dissertativo que tenha como eixo temático as mensagens-estímulo oferecidas. Sugere-se que esse eixo seja mito
e linguagem. Seja o mais coeso e coerente possível, discutindo, de maneira convincente, o raciocínio que vier a desenvolver. Dê
um título a seu texto que sintetize a tese por você defendida.
COMENTÁRIO do CPV
O tema Linguagem foi dado
no último Simulado CPV
A prova de redação da FGV / Direito 2009 solicitou que o candidato elaborasse uma dissertação cujo eixo temático fosse mito e linguagem.
Para isso, ele deveria basear-se na interpretação da coletânea, que apresentava as seguintes mensagens-estímulo:
• Texto I: fragmento da Bíblia Sagrada que alegorizava o processo da criação e da nomeação do mundo sob o ponto de vista místico;
• Texto II (imagem) e Texto III: uma tela de René Magritte e um poema de Carlos Drummond de Andrade que deveriam ser interpretados
como símbolos do trabalho artístico a partir das coisas criadas;
• Texto IV: um fragmento da obra Linguagem e Mito, de Ernst Cassirer, que suscita uma reflexão sobre a relação entre mito e linguagem.
Como o tema “linguagem” foi trabalhado em nosso último simulado (na turma de revisão FGV/ Direito), vamos nos valer da mesma
resolução, com algumas complementações:
O candidato deveria ressaltar que o homem — ser que fala e usa a palavra como a senha de entrada no mundo — ao estabelecer
uma relação arbitrária entre signo e significado, por meio da convenção das palavras, constrói a razão. A linguagem, portanto, é produto da
razão e só pode existir onde há racionalidade.
A linguagem é, assim, um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural, pois é ela que nos permite transcender a nossa
experiência. No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individuamos, o diferenciamos do resto que o cerca; ele
passa a existir para a nossa consciência. Com esse simples ato de nomear, distanciamo-nos da inteligência concreta/animal e entramos no mundo
simbólico. O nome é símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas que só têm existência no nosso pensamento.
O nome tem a capacidade de tornar presente para a nossa consciência o objeto que está longe de nós.
O nome, ou palavra, fixa na nossa memória, enquanto idéia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume de
uma noite de verão, o rosto de um amigo querido. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa consciência o
objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas: criamos, através da linguagem, um mundo estável de idéias que
nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Assim, é instaurada a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o homem deixa
de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida.
Por transcender a situação concreta, o fluir contínuo da vida, o mundo criado pela linguagem se apresenta mais estável e sofre mudanças mais
lentas do que o mundo natural. Pelas palavras, podemos transmitir o conhecimento acumulado por uma pessoa ou sociedade. Podemos passar
adiante esta construção da razão que se chama cultura.
O mito, por sua vez, constitui um meio de comunicação que se desenvolveu, paralelamente, à linguagem. Ambos são mecanismos de percepção
da realidade. Entretanto, o mito apresenta uma característica muito peculiar: ele não se refere a uma realidade objetiva. Ao contrário, remete a
uma realidade interna, abstrata, conceitual ou, até mesmo, emocional. Os mitos falam em uma linguagem de metáforas, de símbolos e narrativas
simbólicas que não estão presas à realidade objetiva. Assumem a função de explicar a “forma” do mundo, atribuindo lógica à história cultural,
à religião, à origem e, ao fazê-lo, cada parte deles infunde uma relação de significado e significância.
O mito é, portanto, uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. Assim como a linguagem,
constitui uma forma de percepção do mundo.
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