Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura
Os livros de que eles “gostam”
Ana Crelia Dias1
Começo essa minha reflexão rememorando a relação que a literatura
para crianças, em seus primórdios, estabeleceu com a instituição escolar,
dado seu caráter pedagógico. Não podemos deixar de reconhecer que o
surgimento do conceito de infância abriu portas para o “aparecimento” do
gênero literatura infantil; mas , por outro lado, essa emersão em paralelo
marca o texto para criança com o viés proposta didática de transmissão de
ensinamentos. Assim foi quase toda a literatura do século XIX direcionada
a esse público.
No Brasil, inicialmente, como em outros países, a publicação de
livros para crianças sofria restrições porque eram taxadas como irrelevantes
as publicações que tivessem função apenas lúdica, ou mesmo aquelas que
não privilegiassem a função maior: a pedagógica. Até o “redescobrimento”
desse gênero, caminhos vários foram seguidos, quase sempre conduzidos
pela matriz estrangeira, sem muitas ousadias, até Monteiro lobato. Do
autor de O Sítio do Picapau Amarelo aos dias de hoje, é difícil delinear um
painel histórico de nossa literatura infantil. É-nos permitido, apenas, tratar
alguns autores cuja competência e originalidade não deixam de respaldar
a firmação do gênero em nosso país. Lygia Bojunga, Bartolomeu Campos
Queirós, Sylvia Orthof, Tatyana Belinky, Ruth Rocha, Ana Maria Machado
seriam alguns nomes que, na contemporaneidade – época em que se situa
o cerne de nossa investigação – funcionam como ícones deste produção.
Esse estudo procura analisar como se dá a inserção na escola da
produção de três autoras que iniciaram sua produção na década de 70 do
século XX e ainda permanecem em constante processo de escrita: Ana
Maria Machado, Lygia Bojunga e Ruth Rocha. Durante dois anos, realizei
uma pesquisa com professores das redes pública e privada dos municípios
de Niterói e Rio de Janeiro para investigar como se dava a adoção dessas
1 Doutorado em Literatura Brasileira. Professora da Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. [email protected]
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autoras na escola. A pesquisa, contendo uma pergunta aberta e outras de
múltipla escolha, era simples e contemplava as seguintes questões: 1) Que
critérios regem a escolha dos livros que vocês adotam para os alunos? 2) O
que é mais importante para que um livro tenha boa aceitação do público?
Justifique sua resposta (você poderá escolher mais de uma resposta) a)
A história (enredo); b) A temática; c) A forma como a história é contada.
3) Estebeleça uma ordem decrescente, entre os nomes citados abaixo, que
indique um ranking das adoções de títulos dessas autoras já feitas por você.
Justifique sua resposta. a) Ana Maria Machado; b) Lygia Bojunga; c) Ruth
Rocha.
Como resultado geral da primeira questão, obtive grande número de
respostas que se aproximavam da ideia de que os livros adotados seguiam o
gosto e a realidade dos alunos, guardadas algumas observações acerca da
necessidade de inserir os clássicos entre as leituras. Na segunda questão,
os professores apontavam os três elementos como muito importantes para
o interesse dos alunos na leitura, justificando, muitas vezes, a história
(enredo) como um elemento que deveria conter várias tramas e trabalhar
com o humor; em relação à temática, a maioria apontava para a necessidade
de ser algo que se aproximasse da realidade dos alunos, para que houvesse
identificação leitor/leitura; a forma de apresentação da história era quase
unanimemente apontada como um indicador de variável problemática se a
narração muda de perspectiva e complexifica o relato dos fatos. No ranking
de autoras, obtive a seguinte sequência: em primeiro lugar, Ana Maria
Machado, seguida de Ruth Rocha e Lygia, respectivamente. A justificativa
para não aparecimento com frequência dos livros de Lygia Bojunga veio,
muitas vezes, com o indicador da dificuldade da temática apresentada pela
autora; outras vezes, com a observação de ser uma história complicada
para crianças.
Essa realidade apontada na pesquisa, de certa forma, dialoga com
dados de vendagem de livros pelas mesmas autoras: Ana Maria Machado
já passou dos 18 milhões de exemplares vendidos (sendo mais de 500.000
só de Bisa Bia, Bisa Bel); Ruth Rocha passou da marca de 10 milhões; Lygia
Bojunga, apesar de não apresentar números oficiais, estima-se que não
chegou aos 2 milhões – suspeita-se que grande parte tenha sido no exterior,
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dado o número de traduções de seus textos (dados fornecidos em bases não
oficiais por funcionária da Casa Lygia Bojunga).
A partir dessa pesquisa, propus-me, para esse encontro, a fazer uma
breve análise de algumas obras das referidas, tendo por base principalmente
os elementos indicados na pesquisa: enredo, narrador, temática e indicação
de faixa etária. Bisa Bia Bisa Bel , publicado em 1981, recebeu oito prêmios
– nacionais e internacionais. A história da menina Isabel, que descobre a
foto antiga da bisavó ainda menina e vive a atemporalidade da fotografia,
a ponto de incorporar ao seu cotidiano a figura daquela bisa que lhe é
grudada no corpo, é um emoldurado de experiências, flagradas no presente
em confronto com o passado, de modo a ressaltar como as histórias
individuais podem ser um retrato de uma época: Bisa Bia é a representante
de um momento em que as mulheres deveriam ser recatadas e submissas;
a bisneta Isabel é a representante da transgressão, de modo que associá-la
à figura da Emília de Lobato não é difícil:
- Não, meu amor, bisotê eram os cristais e espelhos
trabalhados, formando desenhos, hoje em dia não se usa
mais, é uma pena...
- Ai, Bisa Bia, o pessoal no seu tempo também complicava
demais, cada palavra esquisita, chega! E aposto que
precisava de um mundão de gente para lavar isso tudo,
e deixar limpo, ainda mais sem aspirador, detergente,
máquina de lavar, tudo isso... Só de pensar na trabalheira,
fico com vontade de sumir! Vamos lanchar! 2
Raul da ferrugem azul (1979) é outra obra em que uma criança
será personagem central em uma trama, cujo conflito não se estabelece
por meio de um confronto da infância com o mundo adulto, nem no âmbito
de governo. É nas relações pessoais, principalmente com os iguais, isto é,
de criança para criança, que as desterritorializações se concretizam. Raul
possui o típico comportamento que se torna alvo das implicâncias dos
2
MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia, Bisa Bel. Rio de Janeiro: Salamandra, 2007, p.29
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“líderes” na escola: é disciplinado, aquele que faz a ação dos bagunceiros
tornar-se ainda mais visível aos olhos do professor. Há códigos, éticos ou
não, que se estabelecem nesses grupos, e Raul orienta-se por um que o
impede de reagir às provocações de um amigo, por ser este menor que
ele. A atitude coerente a personagem central não é legível, entretanto, em
um contexto em que o código que prevalece é o do “bateu, levou”. Para as
crianças daquele grupo, as provocações deveriam ter resposta, precisavam
trazer conseqüências ao provocador.
− Agarra ele aí.
Raul agarrou. E ouviu:
− Dá uma surra nele.
Vontade bem que ele tinha. Mas em menino menor não
se bate. Nem quando ele é abusado, implicante, chato.
Também não tem essa de ir contando ao professor. O jeito
é esperar o outro crescer. E ir ouvindo:
− Pô, sei idiota, que é que você está esperando? Enche
ele de porrada.3
De olho nas penas é uma grande fábula do descobrimento da
América Latina pelos latinoamericanos. A narrativa que funde traços do
universo realista – a necessidade das fugas em um momento ditatorial –
ao universo maravilhoso segue caminhos que buscam construir uma face
do povo, oculta em muitas faces do imenso continente. É a história do
menino Miguel, nascido no exílio, que tinha “oito anos, dois pais e uns cinco
países pelo menos”. Apesar de ser uma temática que poderia apontar para
um encaminhamento dramático – exílio, perseguição política sofrida pelo
pai, nascimento no exílio – a narrativa encaminha-se muito mais para a
investigação, em clima de curiosidade que a perspectiva da criança diante
de todos os segredos de que se vê cercado. A viagem mítico-maravilhosa é
uma fábula de autoconhecimento e de conhecimento identitário coletivo. A
inserção no universo mítico não só prende a atenção do leitor como aponta
conhecimentos que servem como contraponto entre o mundo dito “civilizado”
3 MACHADO, Ana Maria. Raul da ferrugem azul. Rio de Janeiro: Salamandra; Brasília: INL,
1979, p.10
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e o tempo mítico, das origens.
O reizinho mandão, texto-ícone na trajetória de Ruth Rocha, abriu
caminhos para a escrita de outros que mais tarde comporiam a conhecida
tetralogia dos reis. Já o título da obra traz a característica que vai delinear
todo o percurso da personagem: o adjetivo “mandão” anuncia o tipo de
comportamento que se faz evidente à medida que se avança no texto.
A possível metamorfose final do reizinho retoma também o filão dos
contos de fadas, nos quais não é raro haver um personagem que, agindo
contra as forças do bem, ou simplesmente transgredindo uma norma, tem
suas feições transfiguradas em uma grotesca criatura. O diálogo claro aqui
é com o texto “Rei Sapo”, conto popular registrado pelos Irmãos Grimm,
e a metamorfose, como na narrativa parodiada, é a sanção que marca o
reizinho para que possa ser reconhecido, como adverte o narrador:
E há quem diga que quando o encanto se desfez
o reizinho virou sapo e anda por aí
pulando, coaxando e esperando
que alguma princesa dê um beijo nele
e ele vire rei de novo
Por isso, se você é uma princesa, vê lá, hein!
não vá beijar nenhum sapo por aí...
Porque os reizinhos mandões
podem aparecer em qualquer lugar.4
Sapo vira rei vira sapo , como anuncia o subtítulo (“Ou a volta do
Reizinho Mandão), trata da volta do reizinho mandão, e sua estrutura
aproxima-se à de uma paródia, e o texto-base, assim como em O reizinho
mandão, é novamente “Rei Sapo”. As personagens são caricaturas da
história original, uma vez que a narrativa tem início como se fora um mero
recontar do conto popular, idéia que se desfaz à medida que se avança
no texto. A metamorfose do sapo em rei funciona como o primeiro conflito
4
ROCHA, Ruth. O reizinho mandão. 3.ed. São Paulo: Pioneira, 1981, p. 30
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para a narrativa, pois, retomada a forma humana após o beijo da princesa
que com ele adquirira uma dívida, mais uma vez ele age cegamente e vê
suas estratégias de novo fracassarem. A comparação que faz do caráter de
impertinência do rei com a sua não-estrutura para governar remete ao fato
de ele não pertencer originariamente àquele estatuto, adquirido apenas
por meio de uma ascensão via matrimônio. A fala inicial do sapo já põe em
dúvida seu status de herdeiro do trono:
Vinha o sapo pela estrada
Avançando passo a passo.
Pula, pulando em seus pulos,
Recitando no compasso:
Meu pai foi rei!
Foi, não foi!
Meu pai foi rei!
Foi, não foi!5
Uma história de rabos presos, também de Ruth Rocha, é uma bemhumorada paródia política. Pelo relato de um narrador em primeira pessoa que,
mesmo não sendo caracterizado, identificamos como criança, conhecemos
a cidade de Egolândia, cujo nome já traduz a atitude de autocentralização
dos poderosos, e seus ilustres moradores : o vereador Romeu, seu Euler,
dona Eulália, seu Euclides, o prefeito Filisteu, coronel Eurico, o secretário de
obras Tadeu, o gerente de banco Irineu, a secretária de fazenda Neuza, o exprefeito Egomeu – todos, em seus nomes, remetem à mesma idéia do nome
da cidade : o egoísmo, o individualismo, a capacidade de beneficiar a si
próprio em detrimento do sofrimento de muitos. Ruth desconstrói a expressão
corriqueira, pois, se em sentido conotativo, tem significado conhecido por nós
e até explicado por Lauro, entretanto, para que seja dissipada a idéia de mal
imperando na situação, a autora utiliza o processo inverso – parte do sentido
conotativo para o denotativo. Tomada em sentido literal, a expressão “rabos
presos” tem a capacidade de, além de tornar visível a atitude camuflada das
pessoas, expor as mesmas ao ridículo da situação.
5 ROCHA, Ruth. Sapo vira rei vira sapo ou a volta do reizinho mandão. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1983, p.2.
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A casa da madrinha, de Lygia Bojunga, relata a história de Alexandre
e a dura luta de sua família pela sobrevivência em uma favela carioca. A
resposta a suas carências, em sua perspectiva, deveria ser encontrada
na casa de sua madrinha. No caminho dessa fusão do realismo com o
maravilhoso, Alexandre encontra um pavão mágico, uma menina de quem
fica amigo e atravessam a narrativa algumas histórias – a da professora e
a maleta; a da gata da capa. A crítica à escola tradicional materializa-se na
OSARTA, instituição modeladora do pensamento pela qual passa o pavão.
O meu amigo pintor foi editado originalmente em 1984 com o título
de Sete cartas e dois sonhos, com proposta de ser um diálogo com a obra da
artista plástica Tomie Othaka. Em 1986, sai a adaptação para o teatro, sob
o título O pintor (que ganhou prêmio Molière) e somente em 1987 sai sob a
forma de diário intitulado O meu amigo pintor. A história do menino e seu
encontro com a alegria e, paralelamente, o debruçar sobre a experiência
trágica da morte, constituem a temática dessa narrativa de tom intimista.
A aproximação da arte à morte aparece com contundência nessa obra da
autora como acontece também em Nós três, Corda bamba e O abraço, para
citar algumas.
A percepção do mundo inaugurada pela associação às cores,
perspectiva revelada pelo amigo pintor, vem trazer ao menino uma nova
forma de enxergar a realidade antes tão desprovida de graça. A morte
prematura do pintor impõe ao menino a autonomia de dar cor à existência e
essa experiência vem permeada de dor e aprendizado.
O abraço é uma narrativa que aborda as experiências amargas
que uma menina teve com o sexo. Esse é o fio condutor da narrativa. A
autora penetra no íntimo de sua personagem dando voz a seu medo e a
sua angústia, revelando as contradições que ela vivencia por “amar” e
“odiar” seu agressor. Ao abordar um assunto tão contundente – o estupro
–, Lygia Bojunga consegue emocionar o leitor. O fato narrado – o estupro
– assume um tom de confissão, próprio dos diários pessoais. A linguagem
utilizada para descrever os acontecimentos particulares de Cristina e suas
implicações sentimentais logo nos remete à maneira característica do tipo
de linguagem utilizada em diários pessoais: “Ontem foi o meu aniversário,
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eu fiz dezenove anos. Eu não sou muito festiva, sabe, mas quando o Jorge
– o Jorge é um amigão que eu tenho – quando ele me chamou pra eu ir á
festa, ele me garantiu que eu ia curtir:”6 Chama-nos a atenção também,
além da perspectiva narrativa, a apresentação do tempo. A “história-dentroda-história”, tão própria da escrita de Lygia. A narrativa é iniciada com a
noite de aniversário da Cristina que, em meio às festividades, encontra uma
convidada que parece ser sua amiga de infância, a Clarice, que desapareceu
desde os sete anos de idade. A partir disso, Cristina resgata seu passado,
através de flashs-backs. E Clarice passa a ser um ícone de suas lembranças
passadas.
Feitas essas breves análises, algumas considerações acerca de
certa preferência por obras de Ana Maria Machado e Ruth Rocha na escola,
em detrimento de Lygia Bojunga, merecem ser indicadas. Lygia Bojunga,
em dois dos textos analisados aqui, O meu amigo pintor e O abraço, trata de
temas com cuja densidade não é tão simples lidar. As reflexões acerca de
suicídio e estupro que emergem dos textos requerem olhar distanciado por
parte do professor e, portanto, desprovido de uma obrigação de “trabalhar
a obra” segundo alguma proposta pedagógica. É o indivíduo, o humano e
sua condição trágica que emergem dessas obras, acompanhados da dor
de existir. Assim, essa dupla distancia-se um pouco da indicação para a
categoria infantil. Não é de se espantar que os livros da autora que mais
aparecem nas listas de adoção sejam as novelas infantis, de que A casa da
madrinha é uma ilustre representante (nessa linha estão O sofá estampado,
Angélica e Os colegas). Ana Maria Machado e Ruth Rocha, mesmo quando
tratam de temas mais complexos, como o conflito de identidade em De olho
nas penas e Bisa Bia; ou ainda as questões políticas centrais do país, fazem-no
de modo mais leve, traduzindo às crianças os conceitos e encaminhamentos
desejados na narrativa. Isso acaba por conferir às obras, por vezes, um
caráter um pouco didático, devido às constantes explicações.
A construção da narrativa nas três autoras também parece dar o tom
do que é “difícil” e do que é “fácil”, segundo a perspectiva dos professores,
apontada na pesquisa. O foco narrativo, em Ruth Rocha e Ana Maria
6 BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2005, p. 7.
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Machado parece tender mais ao narrador da tradição oral. Aliás, muitos são
os escritores que hoje, na produção literária para crianças, buscam o resgate
da narrativa oral e, consequentemente, do narrador-contador, aquele que
tem o conhecimento do narrado e que conta como alguém experiente.
Enxerga a cena em sua amplitude e apresenta-a com conhecimento de
causa, fazendo, por vezes, intromissão na narrativa.
Na escrita de Lygia Bojunga, no entanto, a experiência teatral da
autora aparece de tal modo que poderíamos apresentar seus narradores ao
ideal de narrador de James: alguém discreto que, contando e mostrando de
maneira equilibrada, dá a impressão de que a história conta a si própria, de
preferência alocando-se na mente de uma personagem que funcione como
um refletor de suas ideias. A mudança de perspectiva na narrativa, o jogo
de narrar exposto e dividido com os personagens dá dramaticidade à cena e
confere aos fatos certa presentificação própria do teatro.
Uma das minhas conclusões até agora aponta para a necessidade
de os professores diminuírem a resistência em relação a uma outra linha
de literatura para crianças que não somente a de Ana Maria e Ruth Rocha.
Lygia Bojunga e sua forte carga dramática, assim como Bartolomeu Campos
de Queirós e sua intensidade lírica, para entrarem na escola, precisam de
professores conhecedores de literatura, que consigam ler com seus alunos,
para não priorizar somente a alegria, o humor e as possíveis lições. Até
mesmo porque toda reflexão pode levar a caminhos múltiplos.
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Bibliografia
BOJUNGA, Lygia. A casa da madrinha. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2011.
______. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2005.
______. O meu amigo pintor. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2004.
JAMES, Henri. The art of fiction and others essays. New York: Morris Robert, 1948
LEITE, Ligia Chiappini M. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1989.
LUBBOCK, Percy. A técnica da ficção. São Paulo: Cultrix/EdUSP, 1976.
MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia, Bisa Bel. Rio de Janeiro: Salamandra, 2007.
______.
De
olho
nas
penas.
Rio
de
Janeiro:
Salamandra,
1981.
______. Raul da ferrugem azul. Rio de Janeiro: Salamandra, ; Brasília: INL, 1979.
ROCHA, Ruth. O reizinho mandão. 3.ed. São Paulo: Pioneira, 1981.
______. Sapo vira rei vira sapo ou a volta do reizinho mandão. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1983.
______. Uma história de rabos presos. Rio de Janeiro: Salamandra, [s.d.].
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